Campos do Jordão

Grupamento Montado da Casa Militar em Campos do Jordão


O Regimento de Polícia Montada, “Cavalaria 9 de Julho”, da Polícia Militar do Estado de São Paulo é um Tradicional quartel da Cavalaria da Polícia Militar do Estado, unidade operacional responsável pelo policiamento montado.

Criado em 11 de outubro de 1892, o regimento tem o nome da data que marca a Revolução Constitucionalista de 1932. A denominação foi uma iniciativa, em 1955, do então governador Jânio Quadros.

Atualmente, possui 505 policiais militares em todo território do Estado de São Paulo. O Regimento, subordinado a uma Unidade do Choque, tem como principal missão o policiamento e atuação em grandes aglomerações de pessoas, como jogos de futebol, shows, manifestações e encontros culturais.

Além da sede do Regimento Polícia Montada, há 15 destacamentos sediados nas cidades de Avaré, Bauru, Campinas, Campos do Jordão, Guarujá, Itapetininga, Marília, Sorocaba, Rio Claro, Ribeirão Preto, São Bernardo do Campo, Mauá, Presidente Prudente, Santos e na Academia do Barro Branco (Capital), onde é empregado no policiamento ostensivo preventivo, somando mais de 14 operações Policiais realizadas, e mais de 1550 policiamentos em apoio a outras unidades da Polícia Militar inclusive fora da cidade de São Paulo.

A Operação Inverno em Campos do Jordão, nessa época do ano, o número de pessoal que se desloca para essa cidade é alto, por esse motivo é necessário também aumentar o policiamento para prover segurança e lazer a todos.

Hoje, a Polícia Militar do Estado de São Paulo possui 452 solípedes (cavalos e éguas), sendo 316 na Capital e Grande São Paulo e 136 no interior do Estado, todos da raça Brasileiro de Hipismo; são adquiridos com idades entre 3 a 6 anos e o tempo de atuação entre 22 a 25 anos de idade, variável conforme a disposição física do animal.

A cavalaria atua em operações especiais rurais e urbanas, controle de tumultos, no patrulhamento de áreas periféricas, parques públicos, estádios e em grandes eventos culturais e esportivos.

Os cavalos contam com assistência veterinária 24 horas por dia, todos os dias. Todos são submetidos a um acompanhamento nutricional recebendo uma ração balanceada à base de feno.

Os animais são higienizados diariamente e passam por vermifugação periódica. A sede também conta com um centro cirúrgico.

O Regimento de Polícia Montada também desenvolve atividades de fundo social, como o atendimento a pessoas com necessidades especiais em sessões de equoterapia, um método terapêutico que utiliza o cavalo dentro de uma abordagem nas áreas da saúde, educação e equitação, com foco no desenvolvimento biopsicossocial de pessoas portadoras de deficiência física, mental e sensorial.
O Destacamento de Polícia Montada de Campos do Jordão da Polícia Militar do Estado de São Paulo, foi criada em 1964.

A Polícia Militar Montada, com especial função de guardar o “Palácio Boa Vista de Campos do Jordão”, está alojada em prédio próprio, anexo ao Palácio Boa Vista (Quartel).

Iniciada a construção desse prédio, mesmo antes do término de sua cobertura, a obra foi interrompida por falta de verba e só concluída quase dois anos depois. Concluído o prédio, com suas dependências e 24 baias para os cavalos, surgiu o problema, onde arranjar os cavalos? A respeito disso o jornal “O Estado de São Paulo” em 28 de março de 1968 publicou o seguinte artigo: “_Polícia Montada não tem cavalos”.

Na época, o Cel. Raul Humaitá Villa Nova, comandante do Batalhão de Cavalaria da Polícia Militar, cedeu 08 cavalos para servir à Polícia Montada de Campos do Jordão. Notável Oficial de Cavalaria, exerceu função importante na Polícia Militar nos anos 1970. Foi secretário da Casa Militar de 1971 a 1974.

Em 2020, os cavalos garbosos do Grupamento Montado da Casa Militar locados em Campos do Jordão foram para uma nova casa. Os animais fizeram parte do BAEP - Batalhão de Ações Especiais de Polícia - de Taubaté, para auxiliar o corpo de elite da Região Metropolitana do Vale do Paraíba, área atendida pelo BAEP, nas áreas de interesse de segurança pública.

Os cavalos ficaram em um local construído especialmente para este fim, onde já existia um canil, mas na temporada de inverno, voltavam à Campos do Jordão, para o patrulhamento.

O Destacamento em Campos do Jordão é responsável pela guarda do Palácio da Boa Vista. A guarda se incumbe de proteger todo o patrimônio desse prédio do Estado, com suas dependências e sua área de 33,86 alqueires, constituída de parques de pinhão, pinus, matas, pomares, parque de cerejeiras ornamentais e de frutos, de pessegueiros, de jardins, gramados, etc., evitando o corte indiscriminado de árvores na busca de lenha.

A inspiração do uniforme foi organizada nos moldes da Real Polícia Montada do Canadá, a mais famosa organização de Polícia montada no mundo. Deve-se isto à divulgação quase lendária que ela conseguiu através do cinema e das historietas em quadrinhos.

O fardamento vistoso, o chapéu típico, de abas largas, o culote, os punhos, a gola, a túnica, tudo é vermelho. As botas pretas com esporas cromadas, são lustrosas e elegantes. O dólmã é azul-escuro. O cinto e as luvas são brancos. É um uniforme vistoso. A fabricação era da tradicional LD Ramenzoni no início dos anos 1960.

É o requinte, a tropa de cavalaria da Polícia Militar de Campos de Jordão que faz a guarda do Palácio da Boa Vista. Começa com os guardas da entrada, raríssima cobertura do Destacamento Montado.

O Destacamento de Campos do Jordão também é responsável pelo hasteamento das bandeiras.

Um ato cerimonial que envolve erguer uma bandeira em um mastro ou adriça, geralmente acompanhado de um protocolo específico. Essa prática é realizada em várias ocasiões, como eventos oficiais, comemorações, datas patrióticas e cerimônias militares.

O hasteamento de bandeiras é um símbolo de respeito, patriotismo e identidade nacional.

Algumas considerações importantes sobre o hasteamento de bandeiras incluem:

Etiqueta e protocolo: O hasteamento de bandeiras segue um protocolo específico que varia de acordo com o país e a ocasião. Isso pode incluir o momento do dia em que a bandeira é hasteada e arriada, a forma correta de dobrá-la quando é retirada do mastro, bem como outras diretrizes específicas relacionadas ao hasteamento.

Ordem de precedência: Em eventos em que múltiplas bandeiras são hasteadas, geralmente há uma ordem de precedência estabelecida. A bandeira nacional do país anfitrião geralmente ocupa a posição de destaque e é hasteada primeiro. As outras bandeiras podem ser hasteadas em uma ordem específica, dependendo do contexto e da autoridade.

Respeito e solenidade: O hasteamento de bandeiras é um ato solene e respeitoso. Durante a cerimônia, é comum que as pessoas fiquem em silêncio, mostrem respeito e prestem continência, quando apropriado. É importante tratar a bandeira com ênfase e não permitir que ela toque o chão durante o hasteamento ou o arriamento.

Hasteamento a meio mastro: Em ocasiões de luto nacional ou em memória de uma tragédia, a bandeira pode ser hasteada a meio mastro, como um sinal de respeito e luto. Essa prática é aceita em muitos países como uma forma de homenagear aqueles que faleceram.

 

Fontes de Pesquisa:

Revista “Revista AOPP”. Edição nº 20

Revista “O Cruzeiro”, de 05 de maio de 1970

RODRIGUES, Olavo. Veja Santos, 2ª edição, 1978. Ed. do autor - pág. 53 Supl.

CAMARGO, Fausto Bueno de Arruda. Campos do Jordão e Seu Palácio. Campos do Jordão. Editora Parma Ltda. 1982.

OLIVEIRA, Marlene de. Cerimonial, Protocolo e Etiqueta. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia – Paraná –  2011


Links:


https://www.guiacampos.com/arquivo-de-noticias/cavalos-da-cavalaria-da-policia-militar-de-campos-do-jordao-vao-embora-para-taubate/10069

https://ultimosegundo.ig.com.br/policia/2018-02-07/cavalaria-da-pm.html

http://www.correioindependente.com.br/regimento-de-policia-montada-cavalaria-9-de-julho-completa-126-anos/

http://www.novomilenio.inf.br/baixada/vias/1r007.htm

http://ventura-memriasdoventura.blogspot.com/2009/08/14-de-agosto-de-2009.html

 

 

CERTIDÃO DE TRANSCRIÇÃO - CAMPOS DO JORDÃO


Wilson Luiz Goulart, oficial Designado do Registro de Imóveis, Títulos e Documentos, Civil de Pessoa Jurídica da Comarca de São Bento do Sapucaí, Estado de são Paulo, atendendo a pedido de pessoa interessada, Certifica que revendo os livros de3ste registro, deles consta:

TRANSCRIÇÃO...................”32”

LIVRO.....................................3-A

FOLHA(S)................................15

DATA........................................13 de novembro de 1891

CIRCUNSCRIÇÃO.................São Bento do Sapucahy Mirim


DENOMINAÇÃO OU

RUA E NÚMERO......................Partes de terras na fazenda do “Natal” Campos do Jordão

TRANSCRIÇÃO ANTERIOR...........Nada consta.

 

CARACTERÍSTICAS E CONFRONTAÇÕES 

Uma casa velha denominada “Retiro do Fortalesa” ao lado direito do caminho que vae da Serra aos mesmos Campos; Uma dita assobradada com portas e janelas na frente, denominada “casa do padre” ao lado esquerdo do dito caminho antes de chegar a capella; Uma dita onde funciona o Hotel Embiry; Uma dita terra na continuação do Hotel que serve de venda; Uma dita denominada “casa do alto” com dependência para morada da (ilegível), paiol e mangueiras; Uma dita terra para baixo desta, denominada “Casa do Campeiro”; Uma dita grande com moinho, paioes, manjollo, cocheira e mais dependências no lugar denominado “Bahú”; Uma dita no mesmo lugar onde mora Dona Maria Candida de Godoy Correia; Uma dita terra com Paiol no lugar denominado Barrados”; Um engenho de serrar madeira movida a água; pastos, potreiros, vallos, mangueiras, arvoredos e derivações d’água. Os vallos são os seguintes: Um vallo que começa no rio Capivary e que sobre até o alto do Campo e d’ahi desce até a cachoeira da Fazenda Velha, e este vallo serve para fechar as terras que os primeiros transmittentes possuíam por compra com Francisco Manoel Raposo de Almeida; M<ais um vallo que serve de diviza e fecho das ditas terras, começando no alto do caminho do “Torto”, descendo d’um lado para as terras do marmelo e d’outro termina no córrego que alimenta o engenho de serra,  servindo este vallo de diviza com Antonio Costa Pinto e os vallos do alto do barradas; o vallo do alto da Boa Vista que por um lado desce para o campo da Boa Vista. Outro vallo que começa no “Rio Embiry” e sobre até o alto do morro de Embiry e desce até o córrego fronteira a casa do Rosinha e do alto Embiry segue um outro até a grota que divide com José Benedicto Marcondes Machado e vai até o Rio Capivary; mais um vallo aviventado pelos primeiros transmittentes que parte de uma casa coberta de palha e sobre servindo de divisa com o Doutor Júlio Pestana. Um potreiro fechado que serve para os bois do serviço do engenho de serra, como também que o vallo que serve de divisa com o Doutor Júlio Pestana, também serve de divisa com o Doutor Francisco Romeiro.

ADQUIRENTE................................Capitão JOAQUIM BERNARDES DE GOUVÊA e Doutor DOMINGOS JOSÉ NOGUEIRA JAGUARIBE, residentes na cidade de São Paulo.

TRANSMITENTE............................MATHEUS DA COSTA PINTO e sua mulher DONA FRANCISCA CORREIA PINTO e ANTONIO DA COSTA PINTO e sua mulher.

 

OFICIAL DE REGISTRO DE IMÓVEIS, TÍTULOS E DOCUMENTOS E CIVIL DE PESSOAS JURÍDICAS

COMARCA DE SÃO BENTO DO SAPUCAÍ – SP

 

TÍTULO...............Dona Anna Claudina Romeiro Pinto residentes neste termo.

                               Compra e Venda.

FORMA DO TÍTULO........Escriptura pública lavrada em 03 de novembro de 1891 pelo Tabelião Álvaro Pinto Rebello Pestana.

VALOR DO CONTRATO.........10:000$000 Dez contos de reis.

CONDIÇÕES..................O engenho de serrar madeira movido a água, os primeiros transmittentes cederam o uso a José Pinto Rebello Pestana, pelo tempo de seis anos que terminará em abril de 1897, revertendo no fim do prazo aos proprietários, hoje adquirentes, em estado de funcionar. Das terras que os primeiros transmittentes compraram, cederam a José Benedicto Alves machado, a trigésima parte, digo, trigésima segunda parte e fizeram doação de pedaços para continuação de casas aos seguintes cidadãos: Dr. Diogo de Mendonça Pinto, Felix Martins Corrêa, Salvador de Miranda, Marechal Franco de Lima Mattos, Angelo Francesvelle, representado por Emanoel Carneiro, Craveiro representado por Theodoro Camargo penteado e Manoel Galvão por seus sucessores, sendo tais doações constantes de escripturas públicas em São Bento do Sapucahy Mirim. Essas doações contem cláusulas que garantem o direito de propriedade do terreno aos adquirentes. Uma capella dedicada a Nossa Senhora da saúde, edificada pelos primeiros transmittentes, ficando a cargo dos adquirentes, zelar e administrar a capella para que sirva ao culto. Da parte de terras que os primeiros transmittentes vendem aos adquirentes, reservam para si a trigésima parte das mesmas terras, a casa onde mora Dona Maria Candida de Godoy Corrêa, os primeiros transmittentes cederam a gozo da mesma casa em quanto a mesma convier independente pagando de aluguel. O pagamento aos primeiros transmitentes foi feito por meio de ordens. Os segundos transmittentes venderam na forma que possuíam a décima parte de terras na referida fazenda de Natal, Campos do Jordão e receberam a importância de um conto de reis. As partes de terras são pro=indivizo.

AVERBAÇÕES................Nada consta.

Certifico e dou fé que é (são) reprodução(ões) autêntica(s) o(s) livro(s) a que se refere(m).

Certifico por fim, que nada mais consta nos assentamentos desta serventia, e que o imóvel objeto desta certidão integra agora a circunscrição do Oficial do registro de Imóveis de Campos do Jordão, SP.

São Bento do Sapucaí, SP, 13 de abril de 2022.

Eu, Allana Hayna Cézar Dias, Auxiliar, dei buscas e digitei. Eu, Jennifer Ribeiro Espíndola, Escrevente, conferi e assinei.

(Certidão de Transcrição adquirida no cartório de São Bento do Sapucaí por Luiz Fernando, no dia 13 de abril de 2022).   

RG do Imóvel de Campos do Jordão

Existia um decreto anteriormente, onde os imóveis eram descritos precariamente, que continha os dados do proprietário e o imóvel era figurado como um mero objeto daquele registro. Um documento precário com informações do imóvel incompletas e muitas vezes com informações erradas.

Esse registro feito de forma manuscrita em livros, era chamado de transcrição. Este modelo de registro evidenciava os dados pessoais dos proprietários, por este motivo as transcrições apresentavam descrição precária referente ao imóvel. A certidão a ser expedida era a transcrição, e o imóvel encontrava-se ali, transcrito. É a descrição do imóvel nos livros do cartório, o documento que existia para comprovar a propriedade de um imóvel antes da matrícula imobiliária e escritura pública existir.

Ainda existe imóveis com este documento, pois só existe a obrigatoriedade de abrir matricula quando ocorrer a transmissão da propriedade ou alguma alteração que exija constar descrito na matricula. O maior problema das transcrições é em relação a metragem dos imóveis muitas vezes feita a olho nu.

Uma certidão de transcrição de imóvel é como um RG do imóvel: uma ficha que contém todas as informações que identificam e tornam a propriedade única. Também registra quem são os proprietários atuais e se há restrições (ônus) registradas.

A transcrição de Imóvel no Cartório de Registro de Imóveis deu-se início através do Decreto 4.857 no ano de 1939. A mudança na lei para o cartório de Registro de Imóveis não excluiu a validade do sistema anterior, tampouco mudou a situação dos imóveis registrados no livro de transcrição. Se o título ingressou na vigência da atual Lei 6.015/73, o imóvel encontra-se matriculado. Então a certidão a ser expedida é a cópia da Matrícula.

A regulamentação para utilização do livro de Matrículas no cartório de Registro de Imóveis entrou em vigor no dia 31 de dezembro de 1975, chamado Lei dos Registros Públicos, estaria alterando algumas práticas cartorárias, inclusive na esfera do cartório de Registro de Imóveis.                                 


Campos do Jordão

Obras de memorialistas e historiadores destacam o sesmeiro Ignácio Caetano Vieira de Carvalho como um dos pioneiros na detenção das terras que viriam a constituir o território de Campos do Jordão. Tendo fundado a fazenda Bom Sucesso por volta de 1771 nas terras do vale, a propriedade que permaneceu sob as divisas de São Paulo foi vendida em 1825 para o Brigadeiro Manoel Rodrigues Jordão, ficando desde então conhecida como os “Campos do Jordão”.

Com o falecimento do Brigadeiro Jordão em 1827, sem sequer conhecer as terras da sua Fazenda Natal, embora sendo o maior proprietário das terras, herdaram os Campos do Jordão seus filhos Manoel Rodrigues Jordão, Amador Rodrigues de Lacerda Jordão, mais tarde Barão de S. João do Rio Claro, Coronel Silvério Rodrigues Jordão e Dr. Rafael Araújo Ribeiro, casado com a única filha do brigadeiro. Com a morte de Gertrudes Galvão de Oliveira Lacerda, viúva do Brigadeiro Jordão, cada filho vendeu a sua parte da Fazenda Natal.

O alferes Amador Rodrigues de Lacerda Jordão vendeu aos irmãos Antonio e José de Godoy Moreira, que formaram a Fazenda da Guarda.

O coronel Silvério Rodrigues Jordão vendeu, em 1855, ao Capitão Urbano Marcondes Machado e Domingos Marcondes Homem de Mello. Manoel Rodrigues Jordão alienou ao Banco do Brasil que, posteriormente, vendeu a Júlio Pinto Rabello Pestana, que formou a Fazenda Capivary.

Em 1874 tem-se a formação do primeiro povoado. No dia 29 de abril de 1874, Alexandre da Silva Villela, sucessor do Cap. Urbano Marcondes Machado, vendeu as suas terras à beira do rio Imbiri, a Matheus da Costa Pinto, fazendeiro de Pindamonhangaba, que aí construiu sua casa, montou uma venda e uma pousada para os “boiadeiros e viandantes”. Nascia o povoado, a célula mater da cidade de Campos do Jordão.

Foram abertas as primeiras picadas ligando Campos do Jordão a Pindamonhangaba, facilitando seu acesso. A Fazenda Natal do Brigadeiro Jordão dava, assim, origem a uma das mais famosas estâncias brasileiras.

Em 1891, chegou a Campos do Jordão o médico cearense Domingos José Nogueira Jaguaribe Filho, adquirindo terras, fixando residência e introduzindo melhoramentos.

O povo solicitou a mudança do nome da “Vila de São Mateus do Imbiri”, para Vila Jaguaribe.

A escolha pela compra de terras nos “Campos do Jordão” não se deu ao acaso.

A tuberculose já faz parte da realidade brasileira no século XIX e as propriedades terapêuticas do local eram reconhecidas, sobretudo pela classe médica.

Clemente Ferreira, estudante de medicina esteve em Campos do Jordão por volta de 1879 para realizar pesquisas sobre as propriedades terapêuticas do local.

Em 1881, já tinha divulgado nos jornais as suas descobertas:
Como se vê, temos hoje um esplêndido refúgio climatérico nos Campos do Jordão, que constituem um maravilhoso “sanatorium” das montanhas, uma extensão médica de primeira ordem. Consideramo-los como podendo servir de residência aos doentes, como formando uma verdadeira estação fixa de verão e de inverno, visto como a temperatura dos meses invernosos é muito suportável, por isso que a atmosfera contém muito pouco vapor d’água e não impressiona, desagradavelmente, o organismo (FERREIRA, 1891 apud PAULO FILHO, 1977, p.89).

As propriedades terapêuticas de Campos do Jordão foram observadas no século XIX não somente pelos médicos, mas também por Teodoro Fernandes Sampaio, geógrafo, historiador e engenheiro.[1]

Este, em 1893, realizou uma viagem a Campos do Jordão, cujos relatos foram encontrados no seu diário de viagem, publicado no século posterior na obra Viagem à Serra da Mantiqueira: Campos do Jordão e São Francisco dos Campos.

Nesses relatos Theodoro Sampaio exaltava a paisagem, o clima e as propriedades terapêuticas do local.

“O clima é ameníssimo. As manhãs estivais até são frias nestas regiões alpestres. E, entretanto, estes sítios tão aprazíveis, a dois passos das nossas cidades beira-mar, estes verdadeiros sanatórios para onde a população acossada das epidemias fugiria aos primeiros sinais do verão implacável, aí ficam abandonadas, desconhecidos mesmo daqueles que não trepidam, através de dificuldades sem conta, buscam a estranhas terras o que lhes não falta no pátrio território” (SAMPAIO, 1978, p.17).

O relato de Theodoro Sampaio é bastante significativo para a compreensão da conjuntura do século XIX. As viagens em busca de lugares onde o clima virtuoso, os sítios aprazíveis, permitiam “fugir” do calor e das epidemias faziam parte do imaginário social. Certamente, o autor se referia às viagens por curismo, realizadas por uma elite e, conforme indica, em terras estrangeiras onde as estâncias climáticas e hidrominerais já se encontravam consolidadas. O olhar do médico e do engenheiro mesmo que materializados sob diferentes formatos (uma tese médica e um diário de viagem) indicavam a necessidade de criar um território de saúde tal qual se via no exterior.

Embora pouco divulgado, a Vila de Domingos Jaguaribe recebeu alguns doentes para tratamento da tuberculose. Mas é com a entrada do século XX que se teve as principais mudanças que reconfiguram o povoado.
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O período marcado pela crise do café e o início da industrialização configuraram um cenário propício para o crescimento dos centros urbanos, sobretudo dos maiores, e, com isso, o agravamento das epidemias. As capitais paulista e carioca eram as que tinham maior predomínio da doença. Com a descoberta de Koch em 1882, as elites perderam sua imunidade social.

Nesta interpretação, o embasamento nas teorias europeias que ligavam pobreza à contaminação bacilar e a preocupação dos ricos e sadios para combater os pobres doentes levaram à constituição de um processo de reconhecimento da interdependência social, ou seja, para se manter saudável a elite deveria sanar os problemas da classe operária. É sobre a égide do temor de contágio que a elite, juntamente com o Estado, buscou soluções para o controle da moléstia.

Iniciou-se, portanto, uma filantropia higiênica. Não bastava recomendar à população que evitasse o contato com os doentes; era necessário sujeitá-los a um processo de saneamento moral e higiênico por intermédio de um programa de ação pública e privada. Dessa forma, algumas instituições filantrópicas foram criadas e responsabilizadas pelas políticas de controle da tuberculose.

Este movimento tornou-se mais forte com a fundação, em 1899, da Associação Paulista de Sanatórios Populares e, em agosto de 1900, da Liga Brasileira contra a Tuberculose que consolidava a preocupação médica e dos intelectuais em combater a enfermidade (JUNTOS, 2002). Cabe ressaltar que essas associações eram não governamentais, cabendo a um grupo de médicos e intelectuais do Estado de São Paulo a função do movimento social de combate à tuberculose.

Foi justamente Clemente Ferreira, um dos precursores das teorias climatéricas no Brasil, o responsável por sensibilizar a classe médica e a elite paulistana para a organização de uma entidade filantrópica de combate à tuberculose. Até 1903, Clemente Ferreira redigiu mais de cem artigos reforçando ao Governo do Estado de São Paulo a necessidade de patrocinar a instalação e funcionamento de uma ampla rede de sanatórios e, nesse período, Emílio Ribas (Diretor Sanitário do Estado de São Paulo) era um dos aliados do movimento filantrópico. Contudo, o apoio entre a entidade filantrópica e a diretoria sanitária paulista não durou por muito tempo (BERTOLLI FILHO, 1993).

Desde 1899, com a criação da Associação, Clemente Ferreira defendia a ideia de construir um sanatório popular em Campos do Jordão, o qual deveria ser financiado pelo governo estadual, mas ficar subordinado à Associação de Sanatórios Populares e não ao Serviço Sanitário. Emílio Ribas discordava de Clemente Ferreira e alegava que a administração desses estabelecimentos deveria estar a encargo do Serviço Sanitário, tal qual nos países europeus. Em virtude das tentativas frustradas de definir as áreas de influência da Liga e do Serviço Sanitário, Clemente Ferreira acabou desistindo do intento.

Apesar de reclamar da paternidade da ideia de instalação de um hospital em Campos do Jordão, o Dr. Ferreira abriu mão desta iniciativa, atribuindo ao Estado a tarefa de erguimento e administração do nosocômio.

E assim surgiu a estância climatérica de Campos do Jordão, erguida sobre parte das terras de Emílio Ribas, diretor do Serviço Sanitário do Estado de São Paulo no início do século XX.[2]

Campos do Jordão foi receptáculo de doentes advindos de diversas partes do país, concentrando sua maior demanda de tuberculosos provenientes das capitais paulista e carioca, dada a proximidade geográfica destes dois grandes centros industriais.

Após a construção da Estrada de Ferro de Campos do Jordão em 1915, e a decorrente facilidade de acesso ao núcleo urbano que se formava, vários sanatórios e pensões começaram a ser construídas naquele espaço.

Uma cidade-jardim, tal qual os modelos europeus de estância em que os preceitos de higiene e estética estavam presentes, foi engendrada no Vale do Paraíba, tornando-se um centro de atração de fluxos de investimentos, pessoas e instituições. Sua inspiração veio dos preceitos da estância de Davos Platz, na Suíça.

São duas classes de doentes que se estabeleceram em Campos do Jordão: por um lado teve-se um grande número de doentes de baixa renda, trabalhadores dos grandes centros urbanos. Por outro, também se teve uma elite industrial, que em razão do surto epidêmico presente nos centros de aglomeração urbana, não estava imune à doença. Dessa maneira, a estruturação do território contou com a multiplicação de sanatórios populares subsidiados, sobretudo, por doações de uma elite industrial para servir à massa trabalhadora (e também para afastar estes doentes dos grandes centros, evitando assim, maiores índices de propagação da doença). Além dos sanatórios públicos destinados às classes populares, havia também os sanatórios particulares, locais em que a estrutura se assemelhava a de hotéis, contando com uma bela vista para a paisagem montanhosa, quartos individuais com varanda e amplos jardins para caminhadas.

Nestes empreendimentos não apenas tuberculosos usufruíam do conforto oferecido pelos sanatórios, mas também aqueles que desejavam ter um tempo de repouso, de afastamento dos “ares maléficos” das capitais e aproveitá-lo para apreciar a natureza. Neste mesmo intuito, muitos empresários de renome das capitais paulista e carioca construíram nesta cidade suas “segundas-residências”, com o objetivo de ali estabelecerem suas “casas de veraneio” e em conjunto proporcionar maior conforto e discrição àqueles tuberculosos da alta sociedade que necessitavam de tratamento climatoterápico.

Iniciava-se aqui, uma dada organização e produção do espaço, em que estrategicamente havia uma divisão entre o núcleo da “alta sociedade” e o núcleo dos “doentes pobres”.

Mas também cabe observar que os “usos” dados aos diferentes espaços que começaram a se esquadrinhar por interesses e ações de alguns atores (médicos, políticos, proprietários de terras jordanenses, membros da elite industrial paulista e carioca), também nos revelam um desejo de modelar, condicionar e constituir uma nova função para a cidade, que não apenas a de tratamento para a saúde, mas igualmente a de vilegiatura.

Herdeiras de uma “imitação” das práticas aristocráticas, a apreciação da paisagem, a fruição do tempo livre em conjunto com o tratamento do corpo, configurou em um típico ritual da sociedade industrial. Inicialmente destinado àqueles que tinham as benesses do tempo livre, ou seja, a elite, as férias conjugavam os prazeres e sua ostentação e, as estâncias de saúde e, por que não dizer também de lazer, passaram a fazer parte desta prática.

É neste contexto de uma nova prática social, que determinou o uso do tempo livre para o consumo de espaços como Campos do Jordão com fins de recreio, que se realizou o ordenamento territorial. Melhoramentos foram realizados na estância vislumbrando, sobretudo, uma arquitetura urbana cuja estética era privilegiada. A união entre o natural e o construído conduzia a atuação da Cia de Melhoramentos de Campos do Jordão, de propriedade do Embaixador José Carlos de Macedo Soares, importante empresário, político e proprietário de longas extensões de terras jordanenses. Dessa forma, dentre fins da década de 1920 e ao longo da década de 1930 o território se reestruturou com a coexistência das funções da saúde e do lazer (este, por sua vez, materializado sob a forma de vilegiatura e a prática do veranismo).

Hotéis e pensões luxuosas se estabeleceram em Campos do Jordão e, em 1934, criou-se o município de Campos do Jordão emancipando-se de São Bento do Sapucaí. O fluxo de visitantes “não tuberculosos” começou a aumentar, o que de certa maneira preocupou os higienistas uma vez que “doentes” e “sãos” entravam em contato pelas vias e empreendimentos de entretenimento e hospedagem da estância.

Por outro lado, a “inibição” dos visitantes “sãos” que deixavam de frequentar a estância pelo temor do contágio, também preocupavam a um grupo de investidores (políticos e grandes industriais) que desejavam dar um novo uso a estância de saúde: o turismo. Seguindo a tendência de reprodução do capitalismo, onde segundo Harvey (1990) o lazer se converte em uma nova mercadoria a ser comercializada transformando-se em “capital circulante”, o uso turístico de Campos do Jordão passou a ser alvo de políticas.

Mas cabe destacar aqui, que nesse período o crescimento do turismo era realidade nacional. Os avanços trabalhistas da Constituição de 1934, dentre outros eventos, contribuíram com o desenvolvimento da atividade. É sob este ideal que o discurso “por uma cidade turística” se tornou primeiro plano nas discussões observadas em jornais do período e, sobretudo, nas políticas.

Adhemar de Barros, Interventor do Estado de São Paulo (e também proprietário de terras jordanenses e investidor do ramo hoteleiro), decretou em 1940 o zoneamento da estância, destinando áreas específicas ao tratamento de tuberculosos e áreas destinadas ao turismo, tendo também coordenado, via Governo do Estado de São Paulo, a construção do Grande Hotel em 1944 e exploração do Cassino que se encontrava em seu interior.

A partir da década de 1940, com os avanços na medicina e descoberta da “estreptomicina”, medicamento para tratamento da tuberculose, houve o declínio do tratamento sanatorial e, com isso, o turismo que já era a função considerada como “ideal” para a cidade, necessitou de maiores investimentos e planejamento, sendo que muitas destas ações também modelaram de forma diferenciada o espaço jordanense, e a partir de então, buscou-se um “desenvolvimento turístico”. Diversos sanatórios encerraram suas atividades, e a estrutura de muitos destes, passaram a ser aproveitadas por hotéis. Entre os anos de 1950 e 1960, uma nova conjuntura de desenvolvimento turístico se instalou. Políticos, empresários e sociedade em geral se organizaram para planejar a atividade em Campos do Jordão a fim de torná-la uma destinação de referência nacional.

Dentre as principais iniciativas que circunscrevem a este objetivo estão a organização do I Congresso Nacional de Turismo em 1953, sediado na cidade e que tinha por objetivo discutir sobre a necessidade de uma política nacional de turismo, e o lançamento da obra cinematográfica Floradas na Serra em 1954, romance cuja trama se passava em Campos do Jordão e ressaltava as belezas naturais e atrativos da cidade.

Na década de 1960, também se teve importantes fatos para o desenvolvimento turístico. Documentos do período (nos revelam que as iniciativas de planejamento na estância vislumbravam não apenas divulgar os atrativos, mas, além disso, criar uma “mentalidade turística”.[3] O termo próprio da época revelava uma necessidade dos empreendedores de “incutir” na sociedade um comportamento para promover o turismo enquanto atividade econômica. Iniciativa que foi estendida ao âmbito Estadual por meio da criação da Secretaria de Estado e Negócios do Turismo em 1965, que discriminava em suas atribuições: “criar condições para o desenvolvimento de uma mentalidade turística no Estado”.

Com o crescimento da atividade, em 1966 cria-se o Instituto Brasileiro de Turismo (IBRATUR), constituindo finalmente um órgão nacional de planejamento do turismo que manteria suas atividades por um período mais longínquo. Campos do Jordão acompanhou o crescimento da atividade no país, consolidando-se em 1978 como estância turística por meio da Lei Estadual nº 1.844.

[1] Entre 1892 e 1903 exerceu as funções de diretor e engenheiro-chefe do Saneamento do Estado de São Paulo e inspetor da empresa canadense The São Paulo Tramway Light and Power Company.
[2] O médico, natural de Pindamonhangaba cidade próxima a Campos do Jordão, era detentor de terras jordanenses. A ferrovia valoriza as propriedades do então Diretor. Além disso, sanatórios particulares são construídos sobre suas propriedades
[3] Atas da Câmara de Campos do Jordão e o periódico "A cidade de Campos do Jordão”.

Fonte:

Priscyla Christine Hammerl - POR UMA CIDADE TURÍSTICA: FORMAÇÃO E TRANSFORMAÇÃO TERRITORIAL DA ESTÂNCIA DE CAMPOS DO JORDÃO (SP) – (1911-1966).


                                                                      A Fundação de Campos do Jordão


Matheus da Costa Pinto é um português aclimado em Pindamonhangaba, onde vem a ser chefe de família pelo casamento com Francisca Corrêa.

Esta senhora, além do berço em que se criou e do qual recebeu esmerada educação, possuía bens que, adicionando-se aos do esposo, permitiriam execução do programa pré-traçado de formação de fazendas, nas alturas da Mantiqueira, cordilheira ao pé da qual se situa a Princesa do Norte (Pindamonhangaba).

E Matheus da Costa Pinto não encontraria terras melhores nem melhores negócios. Os negócios eram melhores porque os sucessores de Brigadeiro Jordão – Manoel Rodrigues Jordão – queriam dispor de suas desconhecidas terras. Terras melhores porque iguais às adquiridas, sobretudo consideradas sob o prisma climático, não as encontraria Matheus da Costa pinto naquelas redondezas.

Senhor das terras, em Campos do Jordão, com a família translada-se para elas e se põe em febril atividade para a execução dos meios adequados à sua vida organizada.

Instala, desde logo, três fazendas e vê, durante esse trabalho, confirmadas as notícias sobre a excelência do clima naquelas alturas e, por isso, não tardou em propagar as maravilhas que esses ares poderiam operar. Havia necessidade de que os sofredores da tuberculose, marcados de sentença até então inapelável de morte, soubessem que seu mal teria cura. Pelo menos um ou outro caso já se registrava de “doente do peito” sarar.

E Matheus da Costa Pinto, homem crente, homem bom, inicia a propaganda do clima de Campos do Jordão, dando começo àquilo que idealizara – a criação de um povoado, a fundação de uma cidade, nas terras que foram do Brigadeiro Jordão.

Pessoas de Minas Gerais, sem fundamento jurídico fizeram-se defensores das terras paulistas que julgavam suas, terras que viriam a constituir os municípios de São Bento do Sapucaí e Campos do Jordão. Fizeram-no por certo em nome de princípios que julgavam merecedores de defesa, pois eram quase todos de ordem política e administrativa e encontravam apoio por defenderem aquilo que julgavam pertencer ao território dessa ou daquela província.

Foi o caso de Ignácio Caetano Vieira de Carvalho que, em 1771, requereu à Coroa e dela obteve concessão de terras então “abandonadas” devido ao frio intenso e ao grande número de onças existentes, terras por onde Gaspar Vaz, nos primórdios do século XVIII, abria caminho de Pindamonhangaba ao rio Sapucaí, com o objetivo apenas de transportar ouro extraído das minas de Itajubá, caminho mais tarde fechado.

Ignácio Caetano, apoiado pelo Capitão Ignácio Marcondes do Amaral, de Pindamonhangaba, e estimulado pelos primeiros moradores das margens do Sapucaí, teve de enfrentar a pretensão de João da Costa Manso que patrocinava os interesses mineiros.

As disputas então travadas tomam vulto, pois envolviam nelas questões que procuravam dizer respeito aos limites das províncias de São Paulo e Minas gerais.

Conta-nos o desembargador Afonso José de Carvalho que a ojeriza entre os confrontantes, limitada a princípio a reclamações corteses, acirrou-se a partir de 1809, com aberturas de caminho que constituía verdadeira invasão de terras, pois partia de Minas gerais e tentava terminar junto às moradias paulistas.

Levado esse fato ao conhecimento do alferes Claro Monteiro do Amaral, de Pindamonhangaba, este, segundo se lê no trabalho referido do desembargador Afonso José de Carvalho, leva-o à apreciação do Capitão-Mor Ignácio Marcondes do Amaral e da vereança pindamonhangabense, resultando de tudo o aborto da tentativa de invasão, como o fechamento do caminho.

As lutas prosseguiram e Ignácio Caetano representa à vereança de Pindamonhangaba, reclamando contra a “ligeireza dos avançadores”, os mineiros. Providências são tomadas: edilidade, Juiz presidente, capitão-Mor, oficiais e Sargento-Mor sobem a serra e descem-na até às margens do rio Sapucaí-Mirim e solenemente tomam posse dos terrenos a baixo da Pedra do Embaú. Foi lavrada ata, a 16 de novembro de 1813, e tomadas as assinaturas de Manoel Marcondes de Oliveira Amaral, José Marcondes do Amaral, Domingos Vieira do Prado, Ignácio Bicudo de Siqueira, João Monteiro do Amaral, José Romeiro de Oliveira (integrante da Guarda de Honra do Príncipe regente), Francisco Salgado Silva, Ignácio Marcondes do Amaral e Pedro José Barbosa.

Prosseguem as lutas. Os mineiros se mostram inconformados e tentam ainda uma vez aumentar, a qualquer preço, o território de sua província, tanto que, diz-nos o desembargador Afonso José de Carvalho, a 27 de abril de 1814, Joaquim Carlos de Toledo, mais Salvador Joaquim Pereira romper com soada, estrondos e salvas e grandes alaridos as tranqueiras e tapumes” colocados pelos paulistas, põe ao chão a casa da guarda e expulsam, com ameaças de prisão caso voltem, os “defensores de estradas e saídas”. Ouçamos agora o próprio desembargador e historiador: “Até às nuvens subiu a cólera da vereança de Pindamonhangaba, à cuja frente se colocara o impertérrito Capitão-Mor. Respirando ambições de derrota, subiram os paulistas a serra, com estrépito, acompanhados de 86 homens d’armas; e, rompendo, por sua vez, as tranqueiras postas pelos de Minas, repuseram tudo no que dantes era, e se não prenderam o Cadete Joaquim Carlos de Toledo foi por este andar em patrulha pelas cercanias, na ocasião”.

Não veio logo a paz sobre essas tão ambicionadas terras, nem tão pouco logo cessaram as perlengas sobre as divisas das províncias..., mas tudo tem seu fim e os moradores de cá e de lá do território paulista, respeitando decisões superiores relativamente a limites, puderam viver em paz, colaborando eles afinal na prosperidade das duas províncias.

As lutas que se travaram, às vezes tão acirradas, entre habitantes de Minas gerais e de Pindamonhangaba, por causa, não propriamente de terras, mas de limites entre as províncias, foi uma espécie de escola em que se preparava o homem para a fundação de núcleos, de elementos de atração em torno dos quais famílias se fixassem.

Como Matheus da Costa Pinto que funda a povoação de São Matheus do Imbiri, povoação que rapidamente se desabrochou em Campos do Jordão, também José pereira Alves deixa Pindamonhangaba, cidade de seu domicílio e residência para, subindo a serra com sua família, fundar a cidade de São Bento do Sapucaí.

Após a morte de Manuel Rodrigues Jordão, seus herdeiros fragmentaram a terra, dando azo a que Matheus da Costa Pinto, homem rico e de visão, adquirisse uma grande parte. Fundou Matheus da Costa Pinto o povoado de São Matheus do Imbiri que teve algum progresso.

A cidade, que não é associação de indivíduos, mas de famílias, no passado, se criava principalmente por motivos religiosos ou motivos familiares.

Eram famílias sedentárias que se associavam para a defesa contra as conquistas de povos nômades. Ou era a religião que as reunia.

“Assim como o altar doméstico tinha agrupados em volta de si os membros duma família, assim a cidade era a reunião daqueles que tinham os mesmos deuses protetores e que cumpriam o ato religioso no mesmo altar”. “Uma vez que as famílias e as tribos convencionavam unir-se e ter um mesmo culto, fundava-se logo a cidade para ser o santuário do culto comum”. (Cidade Antiga F. Colange).

Nos tempos atuais (1971) as cidades se criam de várias outras maneiras, porém, o seu desenvolvimento está condicionado, entre outras coisas, às ações psicológicas. Realmente, a atração religiosa fez de aparecida uma cidade de capital importância para a população brasileira, quase inteiramente católica. É ela a sede da Padroeira do Brasil. No terreno da religião é a capital do país.

A preocupação da saúde, como fator psicológico, tem condicionado a criação e desenvolvimento de muitas cidades, mas, para que elas surjam, pela evolução natural terão início no pequeno aglomerado que se erigir por vários motivos, entre os quais a vontade e orientação de alguém, afeito, pelas suas ideias, a criar elementos de progresso para o bem do homem.

Não é o fundador de fazenda, simplesmente desejoso de possuir propriedade como agricultor ou pecuarista, mesmo que lute pela pacificação da posse contra seus turbadores, - o fundador, só por isso, de vila ou cidade se alguma vila ou cidade vier a surgir em terras que lhe pertenceram. Se só a propriedade de terras em tempos afastados ou propriedades em primeira mão bastasse para justificar o título e as glórias de fundador de cidade, dados ao ex-proprietário dessas terras, se nela cidade se erigisse, então as pessoas tidas como fundadoras de nossas cidades, todas elas, para só falar de nós, brasileiros, estão usurpando o título e as honras aos senhores de todas as terras do Brasil, - os indígenas, os silvícolas, os aborígenes.

Urge que alguém sinta entre seus ideais o de fundar uma cidade, o que não é comum. E pense e queira. E por querer, afaste o limite da abertura de sua bolsa e o dinheiro se gaste em coisas que aproveitem, no presente, aos poucos, aos raros que se congregarem e, no futuro, aos tantos que de seus bens se beneficiarem

Pense, queira e aja. Haja pensamento, vontade, ação...

Matheus da Costa Pinto é cidadão bem-posto no terreno econômico, acatado no meio social de Pindamonhangaba, cidade em que constitui família.

Português de nascimento, as viagens não o intimidam, antes pelo contrário o estimulam. Ele não teme o desconhecido, o inesperado, como não temeu os mares por ele transpostos.

Por isso se localiza ao redor dos picos do Imbiri, em terras adquiridas por compra e venda e que foram de herdeiros do Brigadeiro Jordão.

Sentindo que ali está a salvação de quantos se definham tuberculosos, pensa em propagar as miraculosas qualidades do clima nessas plagas reinante, num desejo de noticiar aos condenados pela tísica que o remédio existe para curar-lhe a doença.

Resolve dar corpo ao seu pensamento e age desde logo. Dá terras para os que querem construir e auxilia-os em tudo. Constrói igreja sob a invocação de N.S da Saúde e levanta escola – dois marcos imperecíveis de uma vontade hercúlea de quem se dispõe a levantar uma cidade.

E a povoação de São Matheus do Imbiri começa a transbordar-se. Os primeiros doentes curados depois de meses nos ares dessa bendita terra, com chegada, estada e saída sob a proteção de Matheus da Costa Pinto, cujas mãos abertas estiveram sempre prontas para o auxílio do próximo, - os primeiros doentes, curados, propagam as excelências do clima, o milagre das curas.

As palavras desses primeiros doentes restabelecidos à saúde têm a força prodigiosa das trombetas de Josué, pondo abaixo as muralhas da ignorância do pedaço privilegiado de nossa terra que são as terras de Campos do Jordão.

Não faltam médicos que, passando a conhecer os ares de Campos do Jordão, não procurem adquirir seus tratos de terra para futuros sanatórios, como fizeram os doutores Gustavo de Godoy, Francisco Marcondes Romeiro, Emílio Silva, Vitor Godinho.

Ausência de humidade e ventos, coisas comuns nas grandes altitudes, é básico fator de sua excelência. Não foi à toa que “Num congresso de Climatologia realizado em Paris, em 1957, foi o clima de Campos do Jordão classificado o melhor”.

E Matheus da Costa Pinto não quer outra coisa senão que a cura nessas terras se venha buscar, pela cura em si, na poupança de vidas.

Não o move interesses pequenos, não o move o dinheiro. Prova disso? Entre outras coisas que citaremos a seu tempo, a escola que ele instala para instrução gratuita das crianças e adultos do povoado de São Matheus, mantida por ele. É ele quem dá alimentos e material escolar às crianças. É ele quem paga o professor.
 
E essa escola não funcionou uns dias, uns meses, mas anos a fio, a partir de 1879.

A igreja de N. S. da Saúde, é ele quem a faz construir. É ele quem dota essa igreja do necessário para nela os ofícios religiosos se realizarem. E é ele quem providencia a vinda de sacerdotes para as missas e outros atos de religião.

Aos doentes sem recursos é Matheus da Costa Pinto quem dá asilo e assistência, material e moral, sem outro intuito senão o de exercitar um dos mandamentos de sua religião – o amor ao próximo.

De fato, é ele quem auxilia o transporte desses doentes, fornecendo-lhes cavalos e carros. Durante a estada, é ele quem lhes dá morada em casas que mandou construir.

A obra de Matheus da Costa Pinto é daquelas que se levantam para nunca mais caírem, que se alteiam para crescerem constantemente, porque ela se alicerçou no coração e se teceu de suas mais peregrinas virtudes. É obra que perdura e se avulta na projeção pelo tempo afora. Em certo momento de sua execução, quando já Campos do Jordão se tornam afamados até mesmo além fronteiras nacionais, pelo miraculoso de seu clima que cura a tuberculose, moléstia até então tida por incurável; quando é chegado o instante de Matheus da Costa Pinto receber a única paga ambicionada: a certeza de que tudo estava feito para a saúde se restabelecer e a vida se prolongar de quantos disso necessitassem, sem dependência de situações econômicas e financeiras; quando é chegado o instante em que os cientistas começam a preocupar-se com a descoberta dos ares de Campos do Jordão; quando o momento chega o Estado e quiçá a nação tornarem-se imperiosamente interessados em sua existência, eis que surge o vilão, aquele que veicula maledicência, sem conhecer ou fingindo desconhecer as fontes suspeitas que lhe enchem a mente de ataques àquele que grande parte da sua vida viveu-a criando esta terra, abençoada pelas vidas sem conta que tem poupado à humanidade e poupará através dos tempos.

São os espinhos que glorificam o homem de ação. Mas os que conheciam Matheus da Costa Pinto e lhe conheciam as obras, - não poderiam sopitar o grito de revolta em seu favor e contra as inventivas de um vilão. E mal os ataques se fazem as vozes dos moradores de Campos do Jordão opõem formal defesa., fornecendo ao acusador leviano as provas provadas de toda a obra de Matheus da Costa Pinto em contrapeso às suas inventivas soezes, injustas, maldosas.

Mal a pessoa de Matheus da Costa Pinto é alvejada, levianamente, e as vozes das pessoas mais gradas de Pindamonhangaba hipotecam a ele sua inteira solidariedade, rebatendo a vil acusação.

Mal se ergue a difamação suspeita, a injúria rasteira e as vozes também se erguem das ilustres e distintas pessoas de São Bento do Sapucaí e de Vassouras, veementes, protestando contra a vilania de tal ataque.

E que dizem os que estão em Campos do Jordão, por ocasião do soez ataque? Lemo-lo na edição de 23 de março de 1884, da Tribuna do Norte, semanário que se publica aos domingos, em Pindamonhangaba:

“Para dizer tudo em uma frase, a vida de V.Sa. tem sido longa prova de grandeza d’alma e da extrema bondade de seu coração até para com os seus mais pronunciados adversários. Quando se trata de favores ou benefícios V. Sa. Não faz distinção entre o rico e o pobre; entre o homem livre e o escravo; entre o amigo e o adversário; a todos estende paternal solicitude, presando-se de seu fino trato, amabilidades e generosidade; sendo franca, desinteressada e desvelada a hospitalidade em suas três casas das fazendas do Humaitá, Bahú e daqui, com todos os transeuntes”.“Não tecemos panegírico e vontade, como a vontade a maledicência urdiu falsidades que o desagradassem”.

Essas palavras fulminam a malévola intenção daquele que quis tisnar o benemérito fundador de Campos do Jordão. Mais, leiamos mais este trecho, o relativo a enfermos:

De então para cá numerosas hão sido as vítimas das afecções pulmonares que a sua caridosa hospitalidade há acolhido, por vezes até no seio de sua exma. Família. Desses enfermos uns recuperaram a saúde, outros em estado desesperador infelizmente sucumbiram e alguns nos próprios braços de V. As.; entre os enfermos ocorre-nos os finados dr. Avelino de Freitas, de Niterói; o pardo Luiz, escravo do sr. José Francisco Marcondes Machado. Antonio Pereira Souza Guimarães, português; Antonio Carlos de Almeida, do Maranhão; Francisco Corrêa leite, de Pindamonhangaba; e José Gonçalves Guimarães, português”.“Também é geralmente aqui sabido que o hotel deste retiro tem hospedado por longo tempo e muito frequentemente hóspedes por dias a pessoas tanto doentes como sadias, e tanto das relações de V.Sa. com os desconhecidos e desvalidos, com ordem de não lhes apresentar a conta das despesas, por correrem elas a seu cargo”. Este acolhimento que tenta ocultar, o que não é fácil em casa pública, os abaixo assinados não têm a mesma razão de calar”.

Matheus da Costa Pinto, ao lado da escola quer mantém durante anos, com todas as despesas feitas por sua própria conta, inclusive casa e ordenado do professor, escola para as crianças e para os adultos; ao lado da banda musical que organiza para alegria dos moradores de S. Matheus; e ao lado da igreja que erige e mantém, manda construir um vasto prédio para hotel e algumas casas de alvenaria e telhas e outras pequenas tudo para que os enfermos “contassem com moradia aqui a seu cômodo e nas condições higiênicas requeridas” – e tudo isento de outro intuito que não fosse o de beneficiar os enfermos de tuberculose pulmonar, para os quais se achava a cura tão ambicionada por todos e sobretudo, pelo mundo médico e científico. Isso mesmo afirma o protesto assinado por moradores de Campos do Jordão e publicado em Pindamonhangaba, na “Tribuna do Norte” de 23 de março de 1884:

“V.Sa. (dizem eles) nunca teve hotel; desde o começo o prédio achou-se entregue a outros para que por conta e interesse próprio montassem essa empresa lucrativa, sendo-lhe mister por vezes superar dificuldades para conseguir quem se prestasse a torna-la a si, e até servir de fiador a compras de objetos preciosos ao estabelecimento. Os lucros, pois couberam a tais empresários. Para protege-los, o prédio nunca lhes foi alugado”.

Das casas que se alugavam no estio, menos as pequenas que “são e sempre foram habitadas por pessoas pobres e sem pagamento alguém” – diz o manifesto – nunca Matheus da Costa Pinto auferiu lucros, pois na expressão de seus signatários: “Supomos indubitável que os capitais a elas aplicados “geralmente não alcançam os juros da lei”.

E quem são essas pessoas? São o dr. Diogo Mendonça Pinto, Joaquim Gomes leitão, José Abelhos Fortes Bustamante, José Benedito Marcondes Romeiro, José Benedito Marcondes Machado, Antonio Públio da Granja Mendonça, Manoel Hortense Vargas, Manoel Rodrigues Barcellos, Jeremias e Ignácio Gonçalves de Oliveira – nomes todos por quem lê qualquer página de História de campos do Jordão. E quando o afirmam? Março de 1884.

Desse manifesto constam palavras de um grande médico, de um facultativo que se tornou imortal pela luta que moveu contra a tuberculose. É o dr. Clemente Ferreira. Leiamo-lo. É um trecho da tese com que disputou o título de doutro em medicina:

“É sobretudo ao benemérito sr. Matheus da Costa Pinto, importante fazendeiro, que se devem os melhoramentos e progressos dessa esplêndida localidade. Incansável e cuidadoso ele se tem empenhado com afã na constituição de casas pitorescas que em grande número se oferecem agora ao agasalho e à acomodação de tantas pessoas que lá vão buscar lenitivo aos seus males. Cheio de entusiasmo pelos Campos o sr. Matheus dedica a sua vida ao engrandecimento e renome do lugar e envida os seus esforços todos para que a confortabilidade desejável caiba ao doente, garantindo mesmo de proporcionar-lhes passatempos e distrações agradáveis que possam amenizar a vida aos que aborrecem os recessos agrestes”.

Em Pindamonhangaba, “Tribuna do Norte” de 30 de 03.1884 e “Diário de São Paulo” de 29.04.1884, revoltada, a população se levanta para protestar contra a vil acusação assacada à pessoa do fundador de Campos do Jordão. São vozes do sr. Manuel Marcondes de Moura e Costa, vice-presidente da Província; do vigário da paróquia – cônego Tobias da Costa Rezende; do Barão da Palmeira, do Barão de Itapeva, do Barão de Romeiro; dos médicos drs. Eugênio Marcondes Homem de Mello, Francisco Marcondes Romeiro, José Vieira Marcondes, Manuel Ribeiro Marcondes Machado, Gustavo de Oliveira Godoy, Marinonio de Brito, dos advogados drs. João Marcondes Moura Romeiro, João Ribeiro Marcondes Machado, José Marques de Oliveira Ivahy – promotor público Gregório José de Oliveira Costa, Matheus Marcondes Moura Romeiro, Emílio Paulo de Godoy; e vereadores, coletores de rendas, farmacêuticos, delegado de polícia, comerciantes, fazendeiros, funcionários públicos federais, estaduais, municipais, escrivão, enfim, centenas de pessoas representativas de todas as camadas sociais – vozes que se levantam publicamente, revoltadas, para o prestígio da verdade.

E o fez igualmente o povo de São bento do Sapucaí, através de suas mais representativas pessoas, para afirmar, através de publicação na “Tribuna do Norte” de 02 d março de 1884”que o digam os pobres enfermos, desvalidos, sem recursos, aos quais acolheis e tratais sem outro interesse que não o de fazer bem; que o atestem as numerosas propriedades ai construídas com o único fim de dar importância ao lugar, o prova finalmente, a escola por vós longo tempo sustada e onde os filhos da pobreza recebem utilíssimo ensino...”.

A sociedade sapucaiense sintetiza toda a sua manifestação de revolta nestas palavras:

“É na própria acusação que está o mais eloquente testemunho das vossas altas virtudes: a ingratidão foi sempre a sombra do benefício, como o verdadeiro merecimento o constante alvo de perseguições que, no desprezo da opinião pública encontra o merecido castigo”.

Quem o diz?

Os representantes dos poderes civil, municipal, policial e mais diretamente da população desta cidade (“Tribuna do Norte” de Pindamonhangaba, em 03 .03.1884 e “Diário de São Paulo” em 30 de abril:

José Antonio de Freitas Guimarães – presidente da Câmara Municipal e delegado de polícia... e professores, agente do Correio, suplentes de delegado, secretário da Câmara, vigário, vereadores em sua unanimidade, procurador dos poderes municipais, suplentes do juiz municipal, juiz de paz e seus suplentes, fazendeiros, comerciantes.

Matheus da Costa Pinto adquire terras que foram do Brigadeiro Jordão e, a 29 de abril de 1874, pelo que inicia em construções obedecendo a um plano preestabelecido, lança os fundamentos da povoação que se chamaria S. Matheus do Imbiri.

Que não foi um simples agricultor ou homem de negócios com fazendas, a despeito de ter adquirido terras para a criação de 3 delas – Humaitá, Bahu e S. Matheus do Imbiri – está no fato de facilitar por todos os meios o crescimento da povoação que fundara, dando terras para a construção de casas, auxiliando seus edificadores.

Matheus da Costa Pinto não foi comerciante. Nunca teve armazém ou venda.

Construiu prédio para hotel, instalou-o, mas nunca o explorou, fazendo dele empresa lucrativa, que sua finalidade com tais gestos era a propaganda de Campos do Jordão, como lugar de cura de doentes afetados de tuberculose pulmonar.

Nesse sentido são as palavras de seus contemporâneos – únicos que podem dizer ou falar sobre o início de São Matheus do Imbiri e de seu fundador.

Ouçamo-los:

“... Nuca teve hotel; desde o começo o prédio achou-se entregue a outros para que, por conta e interesse próprio, montassem essa empresa lucrativa”.

E continuam esses moradores de campos do Jordão, em 1884: “Os lucros pois, couberam a tais empresários. Para protegê-los o prédio nunca lhe foi alugado”.

Quando a população aumenta de São Matheus do Imbiri, cuida logo seu fundador de criar escola. Em 1878(Tribuna do Norte 23.03.1884) instala-se a escola de primeiras letras, regida pelo professor José Francisco da Costa e, dizem os jornais da época (Tribuna do Norte, de 23.04.1884):

“Com admissão gratuita de alunos, fornecendo a estes os utensílios precisos; e ao professor casa, mobília e ordenado”.

Após três anos, retira-se esse professor, sendo substituído por Fortunato de Paula Campos, o qual ficou apenas durante um ano. Em 1884 instala-se nova escola, a cargo do prof. José Gomes Coutinho, sendo que funciona de dia para a infância, e à noite para adultos, anexando-se a ela aula especial para criação de uma banda de música – e isso tudo por conta de Matheus da Costa Pinto.

Em 1884, o espírito clarividente desse fundador de cidade já realiza a educação de adultos, educação que em 1947 tem seu incremento no país, cabendo a nós, como representantes do Governo do estado de São Paulo, assinar convênio com o Governo da República também, como então diretor geral do Departamento da Educação, a instalação das primeiras centenas de escolas por todo o território de S. Paulo.

Em 1885 o prof. Antonio Porfírio da Silva é removido para são Matheus do Imbiri, a pedido seu, porque, segundo seu próprio depoimento, foi informado de que ali “teria as maiores facilidades para residência e instalação de muita escola”.

E 54 anos após sua estada, que foi de 1885 a 1887, isto é, em carta de 08 de fevereiro de 1941, dirigida à nora de Matheus da Costa Pinto, diz esse professor:

“De fato, ali estive em exercício de 1885 a 1887, tendo casa, sala para escola e todas as possibilidades fornecidas pelo proprietário da fazenda. Além de que não foram poupadas atenções e carinhoso acolhimento desde o dia de minha chegada até a data de minha remoção. Devo assinalar que foi esse um dos períodos mais felizes de minha existência – por ter conhecido e desfrutado a benevolência da família Costa Pinto”.

Não bastava instrução. Além do desenvolvimento intelectual necessário era o conforto para o espírito. Ao lado da escola lá, a igreja se exige para uma povoação em crescimento. E, Matheus da Costa Pinto, por sua própria conta, edifica a capela de V.S. da Saúde. Quem o afirma é o dr. Diogo de Mendonça Pinto, primeiro signatário do manifesto de que já lemos alguns trechos, publicado em 1884. E afirma-o com estas palavras: “Para conforto dos doentes e socorros espirituais da igreja, V. As.

Erigiu uma capela com considerável dispêndio, por insuficiência dos donativos agenciados pelo 1º abaixo assinado”, que foi o próprio dr. Diogo de Mendonça Pinto.

Também esse fato é registrado por Condelac Chaves de Andrade, em seu “Álbum Almanaque” – Histórico de campos do Jordão, publicado em 1948, sem referência embora às importantíssimas manifestações pró Matheus da Costa Pinto das sociedades de Pindamonhangaba, Vassouras, São Bento do Sapucaí, Campos do Jordão publicadas em 1884 – e nas quais elementos podem ser colhidos, da época, para conhecimento histórico da fundação de Campos do Jordão. Afirma-o Condelac, com estas palavras:

“Em 1876, Matheus Pinto iniciou a construção da capela de São Matheus que, mais tarde foi inaugurada com grande pompa juntamente com uma escola pública, também por ele custeada”.

Escola. Igreja. Não seria demais uma ligação a algum centro de recursos. Isso seria sossego para aqueles doentes vindo de vários e tão distantes pontos do Estado e até do país e não acostumados à vida rural.

E Matheus da Costa Pinto a promove, segundo vemos do mesmo Álbum de Condelac Chaves de Andrade:

“Como a viagem para Campos do Jordão fosse por demais penosa, em lombo de burro e subindo pelo Itapeva ou dando a volta pelo paiol velho, Matheus Pinto, associado ao Bicudinho, contratou o engenheiro Saladino para abrir a atual estrada de rodagem para Pindamonhangaba, por Francisco gaiola e Manuel Vieira”.

Casas. Prédio para hotel. Banda de música, Campos para esporte. Escola para crianças e adultos. Igreja. Estrada de rodagem. Tudo isso em pouco tempo, a começar de 29 de abril de 1874.

E mais, assistência aos enfermos, propaganda do clima e até, para os casos daqueles que subiam já em estado irreparável, o cemitério que Matheus da Costa Pinto constrói às suas expensas, para evitar as famílias enlutadas os sofrimentos de transporte de cadáveres para Santo Antonio do Pinhal ou Pindamonhangaba. Constrói ele tudo de que venha necessitar a vida de uma cidade.

Contam-no os que tem escrito e falado sobre Campos do Jordão e lhe tem estudado as origens, como Joaquim Corrêa Cintra, esse arguto jornalista que propalou pela imprensa as grandezas de campos do Jordão, difundindo-lhe a história através de “A Cidade”, semanário de que é diretor responsável.

Perpetuam de modo tão atrativo a história de campos do Jordão os poderes públicos municipais. Louvores a esses poderes, prefeito e vereadores, que não deixam passar ano sem que o 29 de abril de 1874 seja lembrado como data aniversária de Campos do Jordão e cultuada a memória de seu fundador e daqueles que com ele e após sua passagem muito fizeram para o engrandecimento dessa terra sobre que tantas bênçãos caem e cairão por todo o sempre daqueles que aqui renasceram e renascerão para a vida tão ambicionada.

E se glória é essa bastante para perpetuar um nome, para imortalizar um homem, glória maior foi a de Matheus da Costa Pinto porque fundou, não uma cidade qualquer, mas fundou Campos do Jordão, - terra do “ouro escarlate”, no dizer de Mário de Sampaio Ferraz, em “Campos do Jordão”, 3ª edição, pág. 138, do ”Ouro Sanguíneo”, o da saúde, o mais precioso de todos, que se transforma em glóbulos vermelhos, em torrentes estuantes de sangue, em fonte rubra de vida e de amor”; mas fundou Campos do Jordão de cujo povo cada um é “uma espécie de cidadão de toda a humanidade, habituado desde os primórdios de sua organização comunal a receber e ajudar a todas as criaturas provindas de toda parte” (A Cidade” – Campos do Jordão, 16 de maio de 1965).

Glória maior é a de Matheus da Costa Pinto porque em tudo agindo com o coração mais do que com tantas obras que edificou, essa cidade de Campos do Jordão fundou, esse majestoso Templo da Solidariedade.

Fonte:

Trabalho apresentado na sessão de 04 de setembro de 1971, no Instituto Histórico e geográfico do Estado de São Paulo, pelo dr. Antenor Romano Barreto, na Revista Volume 71.

                  Foram os Campos do Manso ou do Jordão?

Quando em 1773, Ignácio Caetano Vieira de Carvalho recebeu do Governador da Capitania de São Paulo, Bernardo José de Lorena, a sesmaria de 03 léguas, onde fundou a fazenda Bom Sucesso, nos Campos da Mantiqueira,  jamais poderia imaginar que seu vizinho, também sesmeiro, proprietário da Fazenda São Pedro, chamado João da Costa Manso, a serviço das autoridades mineiras,  tentasse expandir as suas divisas para dentro da sesmaria de Ignácio Caetano, sediando em território paulista.

Já pelos idos de 1796, o sesmeiro Ignácio Caetano, dirigia petição ao Capitão-Mor de Pindamonhangaba, Ignácio Marcondes do Amaral nas investidas de João da Costa Manso em solo paulista, com ampla cobertura da Câmara da Vila real de Nossa senhora do Bom Sucesso, de Pindamonhangaba.

Aí começou a luta dos pindamonhangabenses para defender as divisas da sesmaria de Ignácio Caetano das investidas mineiras, e a 07 de janeiro de 1801, o Velho capitão-Mor de Pindamonhangaba era novamente acionado.

A Câmara de Pindamonhangaba, em 07 de março de 1803, peticionava ao Governador da Capitania de São Paulo, transmitindo o desassossego dos moradores do Alto da Mantiqueira ante as constantes invasões do Arraial de Itajubá, e foi graças a essa intervenção que, em 20 de junho de 1803, instalava-se a Guarda do Capivari nas divisas das fazendas de Ignácio Caetano e João da Costa manso.

A Fazenda Bom Sucesso, de onde se originou o município de Campos do Jordão, a esse tempo, achava-se jurisdicionada às autoridades pindamonhangabenses.

As disputas entre confrontantes, que se restringiam até o começo do século XIX a meras representações, começaram a acirrar-se a partir de 1809, quando os mineiros de Camanducaia abriram um caminho até as propriedades paulistas, nas nascentes do Sapucaí-Mirim, fato que o Alferes Claro Monteiro do Amaral, levou ao conhecimento da edilidade pindamonhangabense.

Mais uma vez, graças ao bravo Capitão-Mor Ignácio Marcondes do Amaral, frustrou-se a tentativa e o caminho foi fechado.

Acertou-se então, amigavelmente, a instalação de uma Guarda, no lugar chamado Sertão, (altura do atual bairro de Rio Preto, às margens da Rodovia SP 50).

A trégua, porém, durara pouco, porque em 1813, os mineiros de Camanducaia, chefiados pelo Capitão Manoel Furquim de Almeida, invadiram o território paulista.

Feridos em seus brios, os ilustres pindamonhangabenses Manoel Marcondes de Oliveira Mello, José Marcondes do Amaral, Domingos Vieira do Prado, Ignácio Bicudo de Siqueira, João Monteiro do Amaral, José Romeiro de Oliveira, Francisco Salgado Silva, Ignácio Marcondes do Amaral e Pedro José Barbosa subiram a serra alterosa, e expulsaram os mineiros do território de São Paulo.

Nova investida se repetia em 27 de abril de 1814, quando o cadete Joaquim Carlos de Toledo, comandando os mineiros, ateava fogo a guarda montada pelos paulistas, mas a Câmara da Vila Real de Nossa Senhora do Bom Sucesso, de Pindamonhangaba, tomada de viva revolta, mobilizando 66 homens, comandados pelo Capitão-Mor Ignácio Marcondes do Amaral, subiram a serra e retomaram a guarda paulista.

Eis que acontece o surpreendente – nem bem se acalmara o ímpeto dos paulistas, a 07 de maio de 1814, Salvador Joaquim Pereira, à frente de um grupo de mineiros, em represália à luta dos pindamonhangabenses, lançava por terra a Guarda no Baú, reacendendo a luta da edilidade pindamonhangabense.

A 21 de julho de 1814, o Alferes mineiro José Marcondes Peçanha, comandante do Registro de Jaguari, sem qualquer consulta às autoridades de Pindamonhangaba, faz edificar, arrogantemente, um prédio para arrecadação de tributos, em pleno território paulista, na garganta Santo Antonio do Pinhal(onde hoje está a Estação de Trem "Eugênio Lefévre", local onde foi construído o Quartel).

Inconformados, os vereadores de Pindamonhangaba, representavam ao Governador da Capitania de São Paulo, ao mesmo tempo em que o destemido Capitão-Mor Ignácio Marcondes do Amaral, escrevia, energicamente, ao Alferes Peçanha das hostes mineiras.

As autoridades das alterosas respondeu com atrevimento e ousadia ao Capitão-Mor de Pindamonhangaba, que, cheio de brios, a 31 de agosto de 1814, comandando um grande contingente, subia a serra e expulsava os invasores mineiros.

Além disso, pusera fogo no quartel, para que se apagasse todo o vestígio da dominação mineiras nas vertentes do Sapucaí-Mirim, advindo daí a expressão “Quartel Queimado” encontrada em documentos mineiros parecendo que esse quartel se localizara, àquele tempo, na cidade de santo Antonio do pinhal ou suas redondezas.

Em 1815, o mesmo Alferes Peçanha tornava a invadir as terras do sesmeiro Ignácio Caetano Vieira de Carvalho, prendendo inúmeros proprietários das margens do Sapucaí-Mirim.

Nesse conflito, intervieram, além do velho Capitão-Mor, o ilustre Sargento Manoel Marcondes de Oliveira Mello, e o Capitão José Marcondes do Amaral, que, desafiado pelas autoridades mineiras, responderam à altura, expulsando-os das terras de São Paulo.

Foi esse bravo pindamonhangabense, Manoel Marcondes de Oliveira Mello, que, anos mais tarde, ajuntava a sua voz às aclamações da Guarda de Honra, para responder ao grito libertador de Dom Pedro de Alcântara, e mais tarde ainda, por seus méritos, conquistava com galhardia o 1º Baroneto de Pindamonhangaba.

Portanto, foi graças à bravura e à coragem das autoridades pindamonhangabenses, que o município de Campos do Jordão, situa-se, atualmente, em território paulista, contrariando até mesmo os critérios geográficos, o que somente foi possível à luta destemida, escrita com sangue e heroísmo, pelos paulistas da “Princesa do Norte”.

Entretanto, Pindamonhangaba influenciou mais, porque interferiu na própria denominação do município; é que, com a morte do sesmeiro Ignácio Caetano Vieira de Carvalho, pioneiro de Campos do Jordão,  os seus filhos que não possuíam a mesma têmpera e fibra do pai, acabaram vendendo a Fazenda Bom Sucesso, ao Brigadeiro Manoel Rodrigues Jordão, em 1823, graças à intermediação do Coronel Manoel Marcondes de Oliveira Mello, o 1º Barão de Pindamonhangaba.

Não fosse esta intermediação, os campos do Mantiqueira não teriam sido adquiridos pelo amigo de Dom Pedro, andradista por tradição e membro do governo provisório, e por via de consequência, a nossa querida “Suíça Brasileira”, Campos do Jordão não se chamaria.

Ainda mais no que essas valiosas contribuições para a institucionalização de Campos do Jordão, Pindamonhangaba iniciou o Ciclo da Cura na história jordanense, quando 2 de seus filhos ilustres e médicos, Francisco Marcondes Romeiro e Gustavo de Oliveira Godoy, na segunda década do século XIX, fundaram a Casa de saúde, na Vila de São Matheus do Imbiri, atualmente Vila Jaguaribe, destinada a receber os respirantes, que buscavam o saudável clima da serra para a cura de seus males pulmonares.

Essa casa de saúde foi considerada a primeira manifestação brasileira de climatoterapia no combate às doenças pulmonares.

Não bastaram, porém, essas vultosas contribuições de Pindamonhangaba na história de Campos do Jordão. Foi da princesa do Norte que, por volta de 1720, partiu o bandeirante Gaspar Vaz da Cunha, o Oyaguara, a subir a Mantiqueira, pelo caminho da Serra Preta, em direção ao Pico do Itapeva, para de lá seguir rumo às minas de Itagiba, onde foi contar promessas altas e grandezas do Sapucaí.

O patriotismo e a energia pindamonhangabenses não se exaurem na defesa dos limites e na integridade territorial de Campos do Jordão, na sua denominação, nos primórdios, da climatoterapia e no pioneirismo nos primeiros caminhos.

Não, um outro ilustre paulista, orgulho do país, o sanitarista Emílio Marcondes Ribas, filho de Pindamonhangaba, aliado ao eminente médico, dr. Victor Godinho, em 1911, obtiveram do Congresso do Estado, os favores e privilégios para a construção de uma estrada de ferro, interligando Pindamonhangaba a Vila Jaguaribe, constituindo a Sociedade Anônima Estrada de Ferro Campos do Jordão, que, ao depois, por dificuldades financeiras,  foi encampada em 1915 pelo Presidente de São Paulo, Francisco de Paula Rodrigues Alves, tendo à frente, Sebastião de Oliveira Damas. Não fora o destemor e o arrojo de Emílio Ribas, Victor Godinho e Sebastião de Oliveira Damas, por muitas décadas, Campos do Jordão haveria de ficar ilhada, do Vale do Paraíba, de São Paulo e do Brasil, dada a precariedade dos seus meios de comunicação daquele tempo, que impediam o acesso de veranistas enfermos ao clima terapêutico desta terra.

Majestosa contribuição prestou Emílio Ribas e seu companheiro na luta contra a tuberculose, com a implantação da EFCJ, por cujo reerguimento lutamos incessantemente, seja pelo seu patrimônio histórico e turístico.

Fontes:

PAULO FILHO, Pedro. História de Campos do Jordão. Campos do Jordão: Editora Santuário, 1986. 784 p.

LINO, Maurício de Souza. Da Freguezia do Imbery aos Campos do Jordão. Campos do Jordão: Clube de Autores, 2017. 414 p.

CARVALHO, Jesus de. Em Pindamonhangaba, prefeito de campos do Jordão protesta contra ato de Jair Soares. Campos do Jordão Notícias. Campos do Jordão, p. 4-4. Não é um mês valido! 1981.


História e Desenvolvimento de Campos do Jordão


 O primeiro explorador das terras, do município de Campos do Jordão, foi Gaspar Vaz da Cunha, que tinha o intuito de alcançar as minas de ouro de Itajubá. As datas desta exploração e a procedência são incertas. O historiador Pedro Paulo Filho (1986) supõe que a incursão foi em 1703 ou 1720 e o local de origem pode ter sido Taubaté, Pindamonhangaba ou Guaratinguetá.
 
Em torno de 1771, Inácio Caetano Vieira de Carvalho, partiu de Taubaté e subiu a serra, acompanhado de sua família e fixou residência no alto da serra por 18 anos. Fundou a Fazenda Bom Sucesso, regulamentada pela carta de Sesmaria do Governador da Capitania de São Paulo. Seus herdeiros venderam as porções de terras a diversos proprietários.
 
A família Costa Manso entrou em conflito com Inácio Caetano, alegando também ter recebido as terras por sesmaria do Governador da capitania mineira. Estes conflitos tiveram caráter de briga de vizinhos, o que evoluiu para uma disputa geográfica entre paulistas e mineiros para fixar uma linha divisória entre ambas as capitanias. Após vários conflitos, as autoridades de Pindamonhangaba, representando a Capitania de São Paulo, expulsaram os mineiros da região em 31 de agosto de 1814. No entanto, apenas em 1936 é aprovada em Assembleia Legislativa a demarcação da linha divisória entre os dois estados (PAULO FILHO, 1986).
 
Os herdeiros de Inácio Caetano hipotecaram e depois venderam a fazenda, ao Brigadeiro Manoel Rodrigues Jordão, em 1825. As terras passaram a chamar Fazenda Natal e em seguida foi denominada “Campos do Jordão”.
 
Matheus da Costa Pinto, em 1874, adquiriu partes da terra, veio de Pindamonhangaba dando início a atividade comercial. A atividade evoluiu para o primeiro povoado chamado “Vila de São Matheus do Imbiri”. Foi construída uma capela, uma escola, uma venda e uma pensão para os viajantes. Ao mesmo tempo, já se propagandeava o local, como lugar de cura de doentes afetados pela tuberculose. O povoado passou para o nome de Vila Velha e mais tarde Vila Jaguaribe, como é chamada até hoje. As primeiras picadas ligando a Pindamonhangaba foram abertas facilitando seu acesso.
 
Em 1891, Domingos Jaguaribe comprou grande parte da fazenda Natal. Constituiu a Companhia Brasileira de Colonização, em 1917, dividindo a fazenda em lotes para comercialização (IBGE, 2010).
Em 1878, foi fundada a Primeira Casa de Saúde, para o tratamento de tuberculose na cidade, espalhou-se a notícia de que o clima era favorável à cura e possuía ação terapêutica, dando início ao ciclo de cura, com a construção de numerosos sanatórios (PAULO FILHO, 1986).
 
Segundo Bertolli Filho (2001), nos últimos anos do século XIX o país estava num processo modernizador das cidades brasileiras com ênfase nas questões sanitárias, realizadas através de serviços de saúde pública, inspiradas em modelos higienistas internacionais. A medicina ainda não definira drogas curativas para a tuberculose e indicava a climatoterapia como principal recurso de tratamento dos enfermos. A prescrição era de ares amenos do campo, repouso, alimentação rica em carboidratos e cavalgadas como exercícios físicos, iniciou-se a era sanatorial de isolamento dos enfermos, a qual a cidade de Campos do Jordão se enquadrava.
 
Em 1915, foi criado o distrito de Campos do Jordão, pela Lei Estadual n° 1.471, no município de São Bento do Sapucaí, com sede na povoação de Vila Jaguaribe. A Vila Abernéssia foi fundada em 1919 pelo escocês Robert John Reid, (agrimensor na ação da divisão judicial da Fazenda Natal). Na época, chamada de Vila Nova, foi impulsionada pela Estrada de Ferro. O mesmo edificou uma pequena usina hidrelétrica neste bairro e a Companhia de Eletricidade de Campos do Jordão, a qual construiu por volta de 1930, a Usina do Fojo, que abasteceram a cidade por longa data.
 
Os locais, com topografia mais acidentadas, ainda eram evitados, pela dificuldade de abertura de vias e construções. Verifica-se que muitas pessoas que vieram a trabalho para cidade de Campos do Jordão acabaram por instalar moradia no município.
 
As terras da Vila Capivari são também procedentes da divisão judicial da Fazenda Natal. Foi projetada como uma vila sanitária em 1911, pelos higienistas Emilio Marcondes Ribas e Victor Godinho, proprietário das terras na época, a qual não foi executada. As terras foram adquiridas e a Companhia de Melhoramentos Capivari, implantou melhorias na vila a partir de 1922. No mesmo período foi constituída a Companhia de Terrenos de Campos do Jordão, a qual lançou o loteamento com perfil turístico, chamado atualmente de Vila Inglesa. Segundo Bertolli Filho (2001), a Companhia reservou as Vilas Jaguaribe e Capivari aos turistas e a Vila Abernéssia à população enferma.
A elite paulistana sã e doente frequentava a cidade como turista e também para tratamento da tuberculose. A Vila Ferraz, foi loteada no final da década de 20 e início da década de 30, como bairro popular e edificada com uma arquitetura feita com pinho, madeira abundante na região (PAULO FILHO, 1986).
 
A Prefeitura Sanitária de Campos do Jordão foi criada em 1926, sendo subordinada à Secretaria do Interior. A criação do município foi em 16 de junho de 1934, quando se desmembrou da cidade de São Bento do Sapucaí e foi incorporado o Distrito de Santo Antônio do Pinhal. O quadro se manteve até 1944, data que foi criada a comarca de Campos do Jordão com sede no município do mesmo nome, pelo Decreto-lei n° 14.334 (IBGE, 2010).
 
Segundo São Paulo (1934), houve uma evolução no número de construções a partir da data de 1927. Nesta data, os números de construções eram de 416 prédios e em 1933 passou para 930. São Paulo (1934) aponta a criação de loteamentos a partir de 1929, executado por empresas particulares ou pessoas físicas. Abernéssia, Jaguaribe e Capivari eram as principais vilas urbanas e estavam em formação as Vilas Isabel, Imbiri, Benigno, Fracalanza, Britânia, Ekman, Matilde, Natal, Umuarama, Sapucaí e Itatinga. Na zona rural destacavam-se os povoados de Areal, Campinho, Correntinos, Fojo, Itatinga, Paraizo, Russos, Água-santa, Barrado, Baú, Marmelos, Paiol Velho, Retiro, Tabatinga e Torto (São Paulo, 1934).
 
A população era de aproximadamente 5.200 habitantes, um terço deste total eram indivíduos tuberculosos (BERTOLLI FILHO, 2001). No início da década de 1930 teve início a remodelação da estrada de ligação das três vilas, com o alargamento e apedregulhamento da via. Foi construída uma estrada, de 22 quilômetros, para São Bento do Sapucaí, possibilitando a viagem de automóvel. Construiu-se também uma ligação com Itajubá. Em 1931, havia em funcionamento 9 sanatórios, 13 pensões oficializadas com regime sanatorial e um ambulatório.
 
A prefeitura sanitária doava terrenos a todas entidades que apresentassem projetos para a construção de casas de saúde. Com a promessa de cura pelos ares frios, mesmo os enfermos que não possuíam condições financeiras de pagar pelo tratamento, eram atraídos para a cidade, o que proliferou as construções precárias e pensões clandestinas, gerando um estado sanitário caótico (BERTOLLI FILHO, 2001).
Destaca-se o início da ocupação pela população que compôs as construções irregulares nos locais poucos valorizados, como os morros. Segundo Bertolli Filho (2001), a construção de sanatórios particulares era um negócio lucrativo, havia no país uma escassez de leitos, até mesmo para os infectados que podiam arcar com os custos de tratamento. A construção de sanatórios tratava-se de um comércio vantajoso e rigorosamente de médicos.
 
O valor terapêutico do clima já era questionado, apontado como crendice popular, mas havia o interesse de grupos econômicos que estavam enriquecendo com a exploração das instituições de saúde instaladas nas prefeituras sanitárias. Ao contrário do percurso da cura da tuberculose, no âmbito mundial, que na década de 30 já não enfatizava a cura por climatoterapia (BERTOLLI FILHO, 2001), Campos do Jordão desenvolvia-se em função da cura da doença. A construção de pensões e hospitais caracterizava o local como uma cidade-sanatório. Em decorrência, pessoas vinham em busca de cura, médicos vinham para prestar serviços de atendimento e ainda muitos profissionais foram atraídos para trabalhar na construção civil com o objetivo de atender a esta demanda de ocupação urbana.
 
O governador do Estado de São Paulo, criou uma comissão compostas por médicos e urbanistas, para estudar a urbanização de Campos do Jordão, com foco na expansão sanatorial conciliada com o turismo. Os quatro pilares desta proposta eram: A tuberculose; doenças diversas; descanso e recreio e o jogo. Foi criado um zoneamento sanatorial, com preocupações higienistas, evitando a ocupação excessiva do solo, a restrição de instalação de indústrias e o adensamento populacional. Este estudo gerou o Plano de Urbanização de Campos do Jordão, Projeto de Lei n° 193, que foi aprovado pela Câmara Estadual. Baseado nas características topográficas, o crescimento proposto era predominantemente linear. Segundo Paulo Filho (1986), com esta finalidade foram introduzidas as seguintes diretrizes:
· Tratamento da artéria principal, via e eletrovia - A via que margeava a Estrada de Ferro de Campos do Jordão (EFCJ) era chamada de Avenida de Ligação (Hoje Av. Frei Orestes Girardi), na época, seu traçado ainda era irregular, deveria ser concluído, remodelado para o existente e duplicado, abrindo a atual Avenida Januário Miráglia;

· Limitação transversal, seccionando o comércio e administração no eixo, ao longo da ferrovia, principalmente próximo às paradas e em Vila Abernéssia.

Destaca-se a orientação para o desenvolvimento predominantemente linear;

· Residências na faixa imediata à via principal, chácaras na seguinte, agricultura ou florestas na periferia e indústrias em pontos isolados. As residências de primeira classe deveriam se estabelecer em Vila Capivari e residências operárias em 2 ou 3 vales afluentes. Destaca-se a segregação de classes sociais.

· A EFCJ deveria oferecer uma linha rápida de tráfego contínuo e previa-se seu prolongamento até Itajubá. Impunham-se melhorias nas estradas que ligavam a cidade a Pindamonhangaba e São José dos Campos. O autor aponta que preocupações com a estética da cidade aparecem no relatório da comissão, como a arborização, construção de bancos e bebedouros, áreas esportivas e jardins.

O estudo também previa o projeto de rede de água e esgoto para as três vilas principais. No entanto, as primeiras medidas foram implantadas na década de 40. Havia uma grande devastação de pinherais. Após diversas denúncias contra serrarias, foi criado o Parque Estadual de Campos do Jordão (PECJ). Via Decreto-lei n° 11.908 de 27 de março de 1941, a medida objetivava a guarda, fiscalização, conservação e regeneração das florestas através do Serviço Florestal do Estado, para aquisição das terras o governo fez várias desapropriações (SECRETARIA DE ESTADO DOS NEGÓCIOS DA AGRICULTURA, 1975). O PECJ foi criado com o intuito de resguardar o remanescente de Mata de Araucária, uma dentre as diversas formações florísticas que ocorrem no Parque. Possui uma área de 8.385,89 HA (hectares), com 59.000 metros de perímetro, toda sua extensão localizada nos limites do município. Ocupa um terço do território do município e sua administração é do governo do estado. No saber popular, folhetos de pontos turísticos da cidade e nas placas oficiais indicativas é denominado Horto Florestal, tal nomenclatura talvez tenha adquirido popularidade porque no período de sua fundação, em sua área era plantado Pinus e outras madeiras com intuito de comercialização, tanto no beneficiamento em marcenaria própria como na venda da madeira bruta. O PECJ é uma Unidade de Conservação de Proteção Integral, conforme estabelece a Lei n° 9.985 de 18 de julho de 2000, na qual foi criada o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza – SNUC. As Unidades de Proteção Integral têm como objetivo básico preservar a natureza, manter os ecossistemas livres de alterações causadas por interferências humanas, sendo admitido apenas o uso indireto dos seus recursos naturais “... ou seja, aquele uso que não envolve consumo, coleta, dano ou destruição dos recursos naturais.” (BRASIL, 2000).

Em 1940, o Decreto n° 11.781 implanta o primeiro zoneamento da estância, seccionando a cidade em duas zonas, sanatorial em Vila Abernéssia e área turística em Vila Jaguaribe e Vila Capivari. Impedindo, assim, a hospedagem de doentes em hotéis e podendo oferecer “segurança” aos hóspedes sadios.
 
A partir de 1945, surgiram outras terapêuticas para a cura da tuberculose, o que alterou o combate a enfermidade no país. A partir dos anos de 1950, os Centros de Saúde de todo o Brasil iniciaram a distribuição gratuita de quimioterápicos para combate à tuberculose.
 
A cura por climatoterapia perdeu o significado científico e a cidade foi perdendo a vocação sanatorial. Os sanatórios submergiram sua aptidão original, alguns fecharam as portas outros se transformaram em asilos, hotéis e usos distintos.
 
Paralelamente instituía-se o ciclo do turismo (BERTOLLI FILHO, 2001). A partir de 1946, a administração passou a chamar Prefeitura da Estância de Campos do Jordão, o cargo de prefeito podia ser de qualquer cidadão de nível universitário e não somente médicos como era anteriormente. Até 1958, os prefeitos das estâncias hidrominerais naturais eram nomeados pelos Governadores do Estado. Após esta data, a Emenda Constitucional n° 2, instituiu eleições livres. O que perdurou até 1967, com três eleições livres, quando a Constituição Federal retornou ao sistema antigo e os prefeitos das estâncias hidrominerais voltaram a ser nomeados pelos Governadores (PAULO FILHO, 1986).

Hammerl e Silveira (2013) demonstram o estímulo que o Planejamento de Campos do Jordão sofreu, nas décadas de 50 e 60, no sentido de desenvolver a cidade para o turismo em detrimento ao desenvolvimento como estância de cura. Ações de embelezamento da cidade, benfeitorias em vias de acesso internas e construções influenciadas pela arquitetura europeia, contribuíram para a criação de um atrativo e conforto turístico.

A criação do D.M. Tur (Diretoria Municipal de Turismo), o I Congresso Nacional de Turismo que foi realizado na cidade em 1953 e campanhas para retirar o mito de cidade enferma, contribuíram para formar na cidade uma identidade turística. Na década de 1950, foi instituído o Centro de Planejamento de Campos do Jordão, entidade da sociedade civil, não partidária, que opinou em empreendimentos em diversas gestões municipais e a Comissão Técnica do Plano Diretor, resultando em 1959, no primeiro Plano Piloto do Plano Diretor.

Este estabeleceu zoneamentos, locais de centro cívico e interesse de comunicação da cidade. Foi uma iniciativa do Governador do Estado de São Paulo, que se realizasse o planejamento das estâncias do estado de São Paulo em um convênio com as prefeituras municipais (Departamento de Obras Sanitárias da Secretaria de Viação e Obras Públicas) e a Reitoria da Universidade de São Paulo. Este documento foi oficializado em 1962, pela Lei Municipal nº 430, juntamente com o Código de Obras do município.
 
 Algumas instituições e hotéis foram construídos para reforçar o caráter turístico, cultural e elitista da cidade. Como o Palácio Boa Vista que serve de residência de inverno do Governador do Estado, o Museu Felícia Leirner e Auditório Claudio Santoro de Campos do Jordão, que recebe o Festival de Inverno da cidade, e outros eventos. Entre os Hotéis destaca-se o Hotel Toriba e o Grande Hotel, que na data de inauguração também funcionava como cassino.
 
O Escritório Técnico do Planejamento (ETEPLA) reformulou e adaptou o Plano Diretor à realidade local e elaborou o Plano de Desenvolvimento Integrado. Foram elaborados os seguintes documentos: preservação da paisagem, manutenção da densidade demográfica baixa, uso do solo, disciplina dos loteamentos, revisão do código de edificação, mapas e revisão do sistema viário básico. Na década de 1970 a cidade recebeu estudos urbanísticos como o Código de Diretrizes do Sistema Viário, Código de Usos do Solo e Proteção da Paisagem, Código de Edificações (Lei nº 1097 de 1978) e Código do Parcelamento do Solo.
 
Em 1978, o Governo do Estado de São Paulo, passou o município de estância hidromineral para estância turística, o que restabeleceu a autonomia política administrativa. Em 1979, a administração proibiu a aprovação de loteamentos com o intuito de cessar a devastação da natureza. Houve intervenções urbanísticas na Vila Fracalanza e Jardim Marcia. Foi instituída a EMUHAB (Empresa Municipal de Habitação) para construções de habitacões populares no sistema de mutirão na Vila Floriano Pinheiro.
 
Segundo Pedro Paulo (1986), na década de 1980 a cidade sofreu uma alta especulação imobiliária, através da implantação indiscriminada de loteamentos. Este fato, segundo o autor, foi ocasionado pela expressão turística do município com a construção de casas de turistas. As obras do portal da cidade se iniciaram em 1984.

A construção tinha como intuito orientar o estacionamento de ônibus e veículos de turistas, funcionando como um ponto receptivo. Em 02 de maio de 2003, foi sancionada e promulgada a Lei n° 2737 que dispõe sobre a aprovação do Plano Diretor Estratégico de Campos do Jordão. No seu artigo 9º institui os objetivos estratégicos da Administração pública, o que inclui: O Portal da cidade tornou-se um marco arquitetônico, porém seu objetivo de receptivo ao turista é para a visitação de ônibus.

Fontes:

ATLAS DO DESENVOLVIMENTO HUMANO NO BRASIL. Campos do Jordão, SP. Disponível em: http://www.atlasbrasil.org.br/2013/pt/perfil_m/2027. Acesso em: 06 de janeiro. 2016.

BERTOLLI FILHO, C. História social da tuberculose e do tuberculoso: 1900-1950 [online]. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2001. 248p. Antropologia & Saúde collection. ISBN 85- 7541-006-7. Disponível em: < http://static.scielo.org/scielobooks/4/pdf/bertolli- 9788575412886.pdf>. Acesso em: 25 de setembro. 2014.

COPASA. Plano Diretor de Recursos Hídricos da Bacia Hidrográfica do Rio Sapucaí. Resumo Executivo. Vida Meio Ambiente. Belo Horizonte. 2010.

EMPLASA. Relatório de Caracterização das Unidade de Informação Territorializadas – UITs. Município de Campos do Jordão. Relatório 7. Disponível em: . Acesso em: 07 de maio. 2014.

GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO. Estrada de Ferro Campos do Jordão.

Disponível em: <http://www.efcj.sp.gov.br/>. Acesso em: 29 de setembro. 2014.

HAMMERL, Priscyla Christine; SILVEIRA, Rogério Leandro Lima da. Por um

desenvolvimento Turístico: O Planejamento de Campos do Jordão em uma escala Local/regional/ Global (1950-1960). Turydes Revista de investigación em turismo y desarrollo local. Vol 6, n. 15. 2013

INSTITUTO GEOLÓGICO, (SP). Mapeamentos de riscos associados a escorregamentos, inundações, erosão e solapamento de margens e drenagens – Município de Campos do Jordão. Relatório técnico. Eduardo de Andrade (Coordenação). São Paulo. IG/SMA. V.3. 2014.

MINISTÉRIO DA SAÚDE. CNESNet Secretaria de Atenção à Saúde. Estabelecimento de Saúde do Município: Campos do Jordão. Disponível em: Acesso em: 01 de outubro. 2014.

MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO. Emprego e renda. Salário mínimo. Disponível em:  Acesso em: 17 de março. 2015.

PAULO FILHO, Pedro. História de Campos do Jordão. 1. Ed. Aparecida: Editora Santuário. 1986.

____.____________ PROJETO DE LEI Nº 32/2014. 2014. Disponível em: < http://camaracamposdojordao.sp.gov.br/projeto-de-lei-no-322014-de-21-de-maio-de-2-014>. Acesso em 22 de setembro. 2015.

SÃO PAULO. Quereis saúde? Ide a Estância Climática de Campos do Jordão. São Paulo. 1934. Disponível em: Acesso em: 06 de fevereiro. 2014.

SECRETARIA DE ESTADO DOS NEGÓCIOS DA AGRICULTURA. COORDENADORIA DA PESQUISA DE RECURSOS NATURAIS. INSTITUTO FLORESTAL. Plano de Manejo do Parque Estadual de Campos do Jordão. São Paulo. Boletim Técnico, n. 16. 1975.

ABITANTE, Juliana da Camara SEGREGAÇÃO ESPACIAL E ACESSIBILIDADE: UMA CONTRIBUIÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM CAMPOS DO JORDÃO - SP/ Juliana da Camara Abitante – Itajubá: UNIFEI, 2016.


         A Origem de Campos do Jordão


Com os índios Puris e Goytacazes vivendo na região da Serra da Mantiqueira, Gaspar Vaz da Cunha, O “Oyaguara” e sua bandeira, por ordem da Coroa Portuguesa, partiram do Vale do Paraíba abrindo trilhas serra acima para as matas virgens. O bandeirante fixou-se na região, pois dizia ter encontrado ali um paraíso na terra, em razão da fertilidade do solo, da salubridade da água e de um clima incomparável. Deparou-se com belas paisagens e tribos indígenas, exuberante natureza, o multicolorido das flores silvestres, a elegância dos pinheirais, as águas das cachoeiras, o frio cortante e o impressionante céu azul. Graças à trilha aberta por Oyaguara, o alto da Serra da Mantiqueira começou a ser povoado. O Oyaguara foi o primeiro homem branco a pisar em Campos do Jordão.

As aventuras de Oyaguara chegaram aos ouvidos de outros bandeirantes que se lançaram pelo caminho aberto pelo sertanista, mas nenhum ousou estabelecer moradia até a chegada do taubateano Inácio Caetano Vieira de Carvalho, que 70 anos depois de Oyaguara subiu a montanha e fundou a Fazenda Bom Sucesso onde estabeleceu moradia durante 18 anos com sua família.

Seguindo a rota do Oyaguara, alcançou os altos da Mantiqueira pelo pico do Itapeva, sob a alegação de que as terras haviam sido abandonadas devido ao frio intenso e ao grande número de onças existentes, pôs-se a admirar os recortes olímpicos da Serra da Mantiqueira e, cismado com os tesouros que poderia encontrar naqueles campos de altitude, de madrugada e às escondidas, subiu a serra esmeraldina, acompanhado dos filhos Mariano e José Vieira de Carvalho e Alberto de Freitas Troncoso e de escravos. Na escalada, enfrentou bichos ferozes do mato e, no Alto da Mantiqueira, ficou enamorado com a região paradisíaca que encontrara. Ignácio Caetano enriqueceu-se, cuidando do gado e curtindo as suas peles.

Morreu em 1823 e seu filho Mariano Vieira de Carvalho, em 20 de dezembro de 1825, vendeu a Fazenda Bom Sucesso para o Brigadeiro Manoel Rodrigues Jordão.

Faleceu o Brigadeiro Jordão em 27 de fevereiro de 1827, sem sequer conhecer as terras da sua Fazenda Bom Sucesso. Por ter adquirido a fazenda na época das festas natalinas, Brigadeiro Jordão deu-lhe o nome de Fazenda Natal. A fazenda Bom Sucesso era conhecida como fazenda de Campos ou Campos do Inácio Caetano, com sua transferência para a família Jordão, passou a ser conhecida por Campos do Jordão.

Dona Gertrudes Galvão de Oliveira Lacerda, viúva do Brigadeiro, ampliou a área da Fazenda Natal com a aquisição de parte da Fazenda São Pedro, dos herdeiros de João da Costa Manso. Com a morte da viúva, cada filho vendeu a sua parte da Fazenda Natal. O alferes Amador Rodrigues Jordão vendeu aos irmãos Antônio e José de Godoy Moreira, que formaram a Fazenda da Guarda; o coronel Silvério Rodrigues Jordão vendeu, em 1855, ao Capitão Urbano Marcondes Machado e Domingos Marcondes Homem de Mello; Manoel Rodrigues Jordão alienou ao Banco do Brasil que, posteriormente, vendeu a Júlio Pinto Rabello Pestana, que formou a Fazenda Capivary; os herdeiros de Ana Eufrosina (única filha do Brigadeiro), venderam sua parte a diversos compradores, que a revenderam em lotes.

No dia 29 de abril de 1874, Alexandre da Silva Villela, sucessor do Cap. Urbano Marcondes Machado, vendeu as suas terras à beira do rio Imbery, a Matheus da Costa Pinto, morador de Pindamonhangaba, que aí construiu sua casa, montou uma vendinha e uma pousada para os “boiadeiros e viandantes”.

A Freguezia do Imbery começou com esse pequeno grupo de pessoas. Conforme as condições de vida iam se mostrando favoráveis, mais pessoas vinham viver nela, como médicos, agricultores e outros trabalhadores. O povoado cresceu, até tornar-se uma vila, a Vila de São Matheus do Imbery.

Novas modificações foram sendo feitas, em um ritmo cada vez mais rápido. Árvores foram sendo derrubadas para dar lugar a plantações, pastagens e todo o tipo de construções, como mercado, escolas, lojas e moradias. A vila crescia e transformou-se em cidade.

Na cidade construíram casas, abriram ruas, e comércios, que se misturavam com a área rural, onde haviam matas, campos, florestas, além de sítios, chácaras, fazendas, granjas com plantações, criação de animais, entre outros.

Alguns municípios se originam de outro que já existia. Isso ocorre quando um município se divide ou perde parte de seu território. Dizemos então que essa parte se emancipou, ou seja, adquiriu independência. É o caso de campos do Jordão, distrito pertencente ao município de São Bento do Sapucaí.

Para conhecer a história de Campos do Jordão, podemos, entre outras coisas, conversar com as pessoas que nasceram e que sempre viveram no mesmo município ou ainda pesquisar documentos, como fotografias antigas ou textos. Com base nessas descobertas, algumas pessoas escrevem livros, ou fazem filmes contando a história. 
                                  

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