Formou-se em medicina em 1917, pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Em 18 de dezembro de 1915, ainda estudante de medicina foi designado para o lugar de interno da cadeira de Clínica Pediátrica Médica da faculdade, tendo ali permanecido até 12 de julho de 1917.
Após a graduação, em 27 de abril de 1918 foi nomeado, pelo diretor da faculdade de medicina, preparador interino da cadeira de microbiologia, onde permaneceu até 15 de agosto de 1919, dia em que foi nomeado, inspetor sanitário do então Departamento Nacional de Saúde Pública, através de concurso.
Neste mesmo ano, foi designado para chefiar a Comissão Federal de Combate às endemias no Estado do Rio Grande do Norte e, em 1920, foi então deslocado para trabalhar como chefe da Comissão Sanitária Federal no Estado do Ceará. Em 5 de abril de 1921 foi nomeado por Carlos Chagas, então Diretor Geral do Departamento Nacional de Saúde Pública, para exercer o cargo em comissão de chefe do Serviço da Diretoria de Saneamento e Profilaxia Rural, tomou posse e em 4 de maio de 1921 foi designado para servir no Estado do Ceará.
Trabalhou no Estado do Ceará até 1925 e em 25 de agosto deste mesmo ano lhe foi prestada uma homenagem pelo Governo do Estado e pela classe médica. A esta homenagem, compareceram muitas autoridades.A saudação, em nome do governo do Estado do Ceará, foi feita pelo presidente da Assembleia Legislativa Dr. F. de Paula Rodrigues, o seu discurso juntamente com o do homenageado, foram publicados no Rio de Janeiro (1925).
Paula Rodrigues exalta de tal modo o trabalho
do Dr. Gavião Gonzaga no Estado do Ceará que se chega à conclusão de que o seu
trabalho foi realmente muito importante para o povo cearense.
Ainda em 1925 viaja para os Estados Unidos da América para realizar curso de pós-graduação na Universidade de Harvard, em Higiene e Doenças Tropicais, curso que concluiu em 1927.
Em 1927 viajou para Paris com o objetivo de realizar Curso Superior de Sociologia e de Geografia Humana na Sorbone, curso este concluído em 1929. Retorna ao Brasil em 1929 para chefiar o serviço de profilaxia da Peste no Distrito Federal.
Permaneceu nesta função até o dia 2 de junho
de 1931, quando foi nomeado Prefeito Sanitário de Campos do Jordão, pelo então
Interventor Federal do Estado de São Paulo, Coronel João Alberto Lins de Barros.
Tomou posse no dia 7 de junho de 1931 como 3º Prefeito da Estância Sanitária.
Dentre seus feitos, inaugurou o Grupo Escolar Dr. Domingos Jaguaribe, a Escola Monsenhor José Vita na Vila Ferraz. Criada no ano de 1937, depois transformada no Grupo Escolar Municipal Rio Branco; o novo pavilhão do Sanatório Santa Clara e o Sanatório Dojinkai (São Francisco Xavier, hoje, Sakura Home). Sua administração passou pela Revolução Constitucionalista de 1932, servindo Campos do Jordão como Base Fronteiriça.
Em 1935, criou o Abrigo de Emergência para Tuberculosos, já que a cidade era cada vez mais intensamente procurada por doentes pobres. O médico Antonio Gavião Gonzaga a partir desta data, estabeleceu o zoneamento da área como primeiro ato de sua administração. Seguindo as orientações estipuladas pela Companhia Campos do Jordão, o novo prefeito – que se manteve no cargo até meados de 1938 – ratificou os limites do território que deveria ser exclusivo dos sadios e os terrenos destinados à construção de sanatórios, assim como exigiu o imediato cadastramento de todos os habitantes da estação de cura, procurando saber quem e quantos eram os pectários que residiam na estância climatoterápica.
A administração jordanense aprovou leis e decretos que impunham a distância mínima de dez metros entre os prédios a serem construídos no município, a obrigatoriedade de todos os edifícios de trânsito coletivo terem escarradeiras e os bares, restaurantes e pensões disporem de equipamentos destinados à esterilização de pratos, copos e talheres.
Mais ainda, todos os habitantes e turistas que chegassem à serra deveriam submeter-se ao exame dos pulmões, sendo que os tuberculosos não poderiam receber abrigo nos hotéis destinados aos sadios, além de assumirem o compromisso de portar escarradeiras de bolso, apresentando-as aos inspetores sanitários sempre que assim fosse solicitado.
Completando estas medidas, ainda coube ao Dr. Gavião Gonzaga conseguir junto à administração estadual a instalação de órgãos públicos que direta ou indiretamente favoreciam a fiscalização da vida pública e privada dos moradores da prefeitura sanitária, tais como novos Postos de Saúde (a partir da reforma de 1938 liderados por um Centro de Saúde), delegacia e subdelegacias de polícia e escolas de ensino elementar.
No transcorrer do terceiro ano de sua gestão na prefeitura, o Dr. Gavião Gonzaga reclamou do estado desolador que marcava a estação de cura, apesar de todas as medidas que havia tomado desde o momento de sua posse.
Segundo Dr. Gavião Gonzaga, tudo faltava para que Campos do Jordão se tornasse uma verdadeira prefeitura sanitária, desde um plano urbanístico próprio e desvinculado dos interesses dos grandes proprietários de gleba até um órgão coordenador dos serviços médicos oferecidos localmente, acrescentando ainda que as prescrições sanitárias eram anemicamente obedecidas pela população das montanhas.
O ambiente consuntivo foi denunciado como uma
grave ameaça à saúde dos incautos turistas e mesmo dos pectários, inclusive
devido ao funcionamento de inúmeros sanatórios e pensões clandestinas que
trocavam precárias acomodações e assistência clínica de péssima qualidade pelo
pouco de dinheiro que os tísicos com acanhadas posses poderiam dispor.
No mesmo documento, o prefeito declarou que o
principal motivo da ‘anarchia’ imperante nas montanhas era a inexistência de um
orçamento especial destinado ao município dos infectados.
Afinal, concluiu o médico em seu relatório revelador: “é incrível que, em São Paulo, se crie uma Prefeitura Sanitária sem os recursos sanitarios” (Gonzaga, 1935:66). Como resultado do veemente documento preparado pelo prefeito, o governo estadual nomeou o engenheiro Prestes Maia para chefiar uma comissão composta por médicos e urbanistas que deveria elaborar um projeto oficial de regramento do uso do espaço jordanense. A demora na conclusão do plano fez com que este só fosse apresentado ao Dr. Gavião Gonzaga nos últimos dias de sua presença à frente da prefeitura sanitária, sendo que, ao final das contas, o projeto assinado por Prestes Maia nunca chegou a ser colocado em prática.
Em consequência da inoperância oficial, abriram-se as portas para que a Companhia Campos do Jordão mantivesse o monopólio das decisões sobre a estância climática por mais alguns anos. A empresa liderada pelo Dr. José Carlos de Macedo Soares, assessorada por outras entidades menores, reunia poder suficiente para resolver inclusive sobre o local de construção e o estilo arquitetônico dos prédios sanatoriais, os quais pouco seguiam as normas sancionadas pela engenharia sanitária paulista.
A ingerência da Companhia Campos do Jordão
nos negócios do município ganhava contornos denunciadores. Como árbitro dos
confrontos que agitavam a vida local, Macedo Soares reunia maiores poderes
deliberativos que o próprio prefeito.
Como exemplo, tem-se a disputa instaurada
entre os sanatórios Santa Clara e São Cristóvão, construídos em terrenos
contíguos. No ano de 1933, o nosocômio Santa Clara moveu ação contra a
Sociedade Beneficente dos Chauffeurs do Estado de São Paulo, que já havia
empenhado uma razoável quantia de dinheiro na edificação das estruturas do
prédio do Sanatório São Cristóvão. O motivo do confronto entre as duas
instituições revelava os contornos de classe: as irmãs missionárias que
dirigiam as atividades do Sanatório Santa Clara recebiam quase que
exclusivamente pacientes ricos e concluíram que o contato com uma ‘má vizinhança’
– representada pelos motoristas e seus dependentes – seria prejudicial para a
saúde de seus requintados hóspedes.
Ciente do confronto, José Carlos de Macedo Soares buscou abafar a situação, pagando uma alta indenização à Sociedade dos Chauffeurs para que abandonasse o prédio que estava sendo construído para abrigar os tuberculosos pobres.
Além disso, a Companhia Campos do Jordão doou aos motoristas um novo terreno para a construção do hospital, distanciado vários quilômetros do religioso nosocômio dedicado à Santa Clara. Encerrava-se assim o conflito cuja motivação reproduzia a lógica geral que dominava o funcionamento da sociedade brasileira. Neste contexto de planejamento público quase inexistente, crescia o número de enfermos que se instalavam na Serra da Mantiqueira. Apesar do Serviço Sanitário encaminhar alguns tuberculosos pobres para os sanatórios agraciados com subvenções governamentais, o número de fimatosos miseráveis e desassistidos era muito maior do que o contingente hospitalizado.
Dr. Antonio Gavião Gonzaga exerceu o cargo sem interrupção, até 14 de julho de 1938, data em que foi exonerado a pedido.
Em 1939 viaja para os Estados Unidos da América onde permanece até 1940 estudando administração pública e exame de Sanidade e Capacidade Física (Saúde do trabalhador).
Ao retornar dos Estados Unidos da América é nomeado em 3 de novembro de 1943, pelo Presidente Getúlio Vargas e o então Ministro da Educação e Saúde Gustavo Capanema, diretor do Serviço de Biometria Médica do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos do Ministério da Educação e Saúde, do qual foi o Fundador.
Em 1946 viaja para a Europa como chefe do Serviço de Seleção Médica da Comissão Brasileira de Seleção de Imigrantes. Permanece na Europa até 1950. Durante sua estada na Europa escreveu muitos artigos para jornais brasileiros sobre assuntos diversos.
O último cargo que exerceu foi o de Chefe da
Secção de Medicina do Serviço Nacional de Fiscalização da Medicina e Farmácia.
Tinha interesse por questões muito variadas como: saúde, educação, questões
sociais em geral.
O Dr. Gavião Gonzaga casou-se em 12 de
fevereiro de 1931, na cidade do Rio de Janeiro, com Bertha Maria de Pinho Gomes
que passou a chamar-se Bertha Maria Gomes Gavião Gonzaga.
Faleceu em 17 de dezembro de 1977, aos 83 anos de idade, no Rio de Janeiro. Ao falecer estava aposentado do cargo de Médico Sanitarista, Diretor do Serviço de Biometria Médica do Hospital dos Servidores do Rio de Janeiro.
Antonio Gavião Gonzaga escreveu muitos artigos para revistas médicas, em especial para a Revista Brasileira de Medicina, tendo sido um de seus últimos artigos, “A História da Bouba no Mundo (1963 (Uma doença de pele, uma treponematose não venérea, semelhante à sífilis nos sintomas iniciais, e que pode ser altamente debilitante para tecidos e ossos se não for tratada.), e muitos artigos para jornais. Temos conhecimento de três livros: Climatologia e Nosologia do Ceará em 1925; Problemas Nacionais de Imigração e Colonização em 1940 e a Realidade Brasileira - Aspectos Políticos e Sociais em 1962.
Fontes Bibliográficas:
PAULO FILHO, Pedro. História de Campos do Jordão. Campos do Jordão: Editora Santuário, 1986.
LINO, Maurício de Souza. Da Freguezia do Imbery aos Campos do Jordão. Campos do Jordão: Clube de Autores, 2017. 616 p.
BERTOLLI FILHO, C. História social da tuberculose e do tuberculoso: 1900-1950 [online]. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2001. 248p. Antropologia & Saúde collection. ISBN 85-7541-006-7. Available from SciELO Books.
Jornal “Correio Paulistano”, de 26 de setembro de 1937;
Jornal “Correio da Manhã”,
dev30 de novembro de 1939.
Oswaldo
Alves, Pastor, Capelão, Tradutor da Bíblia, Professor, Político.
Fontes de Pesquisa:
GIRALDI, Luiz Antonio. Semeadores da Palavra – Personagens que tiveram participação decisiva na divulgação da Bíblia no Brasil. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2015.ALVES, Oswaldo. “O Profeta Jonas e Você - Psicologia do Ressentimento”. SÃO Paulo, 1993.PAULO FILHO, Pedro. A Montanha Magnífica. Vol. II. 1997. Campos do Jordão. Ed. O recado. Pp.440.Fundação Stickel - Arte Transforma. 2021. Disponível em: https://www.fundacaostickel.org.br/a-fundacao/#1464968167240-811adf9d-363d. Acesso em: 25 maio 2021.ABNB (Revista A Bíblia no Brasil). Barueri, Sociedade Bíblica do Brasil, 1948 a 2007.Imagem:
Câmara Municipal de Campos do Jordão;
Campos do Jordão Cultura (bing.com);
http://academiadeletrasdecamposdojordao.blogspot.com/p/historia.html
Maria José Ávila
A professora Maria José Ávila (prof.ª Zezé), nasceu em 2 de junho de 1930 na cidade de Agudos, no estado de São Paulo.Filha de Hermógenes Martins de Ávila e Helena Aquino Ávila. é mãe de Helena Maria Ávila de Castro e tem dois netos: Bruno e Mauro.É licenciada em Pedagogia e psicologia pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras “Sedes Sapientiae” da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC – SP., especializada em orientação educacional.Chegou em Campos do Jordão em 1957 e já arregaçou as mangas para lecionar aos alunos do TCC.Maria José Ávila é Professora de Matemática, Artista Plástica premiada, Escritora, Poetisa, amante da música e grande conhecedora das artes, Maria José Ávila é um ícone da cultura e sabedoria, e uma das principais personagens da cultura de Campos do Jordão.Participou como membro do Conselho Municipal de Cultura de 1990 a 1992.Em 1979 saiu das salas de aula para assumir a Direção da Escola Estadual, Dr. Antônio Nicola Padula, onde permaneceu até 1984.Membro efetivo da Academia de Letras de Campos do Jordão desde o ano 2000, ocupando a cadeira º 19, cujo patrono é João de Sá, autor do hino de Campos do Jordão. Presidente da Academia Jordanense de Letras.Maria José Ávila, símbolo da Educação Jordanense, a partir de 2007 teve seu nome lembrado permanentemente através do Anexo II da EMEF Amadeu Carletti Junior, pelo decreto n º 5788/07 de 14 de novembro de 2007, localizada no Bairro de Vila Britânia em Campos do Jordão.
Matheus da Costa Pinto
Matheus da Costa Pinto é um português aclimado em Pindamonhangaba, onde vem a ser chefe de família pelo casamento com Francisca Corrêa.Esta senhora, além do berço em que se criou e do qual recebeu esmerada educação, possuía bens que, adicionando-se aos do esposo, permitiriam execução do programa pré-traçado de formação de fazendas, nas alturas da Mantiqueira, cordilheira ao pé da qual se situa a Princesa do Norte (Pindamonhangaba).
E Matheus da Costa Pinto não encontraria terras melhores nem melhores negócios. Os negócios eram melhores porque os sucessores de Brigadeiro Jordão – Manoel Rodrigues Jordão – queriam dispor de suas desconhecidas terras. Terras melhores porque iguais às adquiridas, sobretudo consideradas sob o prisma climático, não as encontraria Matheus da Costa pinto naquelas redondezas.
Senhor das terras, em Campos do Jordão, com a família translada-se para elas e se põe em febril atividade para a execução dos meios adequados à sua vida organizada.
Instala, desde logo, três fazendas e vê, durante esse trabalho, confirmadas as notícias sobre a excelência do clima naquelas alturas e, por isso, não tardou em propagar as maravilhas que esses ares poderiam operar. Havia necessidade de que os sofredores da tuberculose, marcados de sentença até então inapelável de morte, soubessem que seu mal teria cura. Pelo menos um ou outro caso já se registrava de “doente do peito” sarar.
E Matheus da Costa Pinto, homem crente, homem bom, inicia a propaganda do clima de Campos do Jordão, dando começo àquilo que idealizara – a criação de um povoado, a fundação de uma cidade, nas terras que foram do Brigadeiro Jordão.
Pessoas de Minas Gerais, sem fundamento jurídico fizeram-se defensores das terras paulistas que julgavam suas, terras que viriam a constituir os municípios de São Bento do Sapucaí e Campos do Jordão. Fizeram-no por certo em nome de princípios que julgavam merecedores de defesa, pois eram quase todos de ordem política e administrativa e encontravam apoio por defenderem aquilo que julgavam pertencer ao território dessa ou daquela província.
Foi o caso de Ignácio Caetano Vieira de Carvalho que, em 1771, requereu à Coroa e dela obteve concessão de terras então “abandonadas” devido ao frio intenso e ao grande número de onças existentes, terras por onde Gaspar Vaz, nos primórdios do século XVIII, abria caminho de Pindamonhangaba ao rio Sapucaí, com o objetivo apenas de transportar ouro extraído das minas de Itajubá, caminho mais tarde fechado.
Ignácio Caetano, apoiado pelo Capitão Ignácio Marcondes do Amaral, de Pindamonhangaba, e estimulado pelos primeiros moradores das margens do Sapucaí, teve de enfrentar a pretensão de João da Costa Manso que patrocinava os interesses mineiros.
As disputas então travadas tomam vulto, pois envolviam nelas questões que procuravam dizer respeito aos limites das províncias de São Paulo e Minas gerais.
Conta-nos o desembargador Afonso José de Carvalho que a ojeriza entre os confrontantes, limitada a princípio a reclamações corteses, acirrou-se a partir de 1809, com aberturas de caminho que constituía verdadeira invasão de terras, pois partia de Minas gerais e tentava terminar junto às moradias paulistas.
Levado esse fato ao conhecimento do alferes Claro Monteiro do Amaral, de Pindamonhangaba, este, segundo se lê no trabalho referido do desembargador Afonso José de Carvalho, leva-o à apreciação do Capitão-Mor Ignácio Marcondes do Amaral e da vereança pindamonhangabense, resultando de tudo o aborto da tentativa de invasão, como o fechamento do caminho.
As lutas prosseguiram e Ignácio Caetano representa à vereança de Pindamonhangaba, reclamando contra a “ligeireza dos avançadores”, os mineiros. Providências são tomadas: edilidade, Juiz presidente, capitão-Mor, oficiais e Sargento-Mor sobem a serra e descem-na até às margens do rio Sapucaí-Mirim e solenemente tomam posse dos terrenos a baixo da Pedra do Embaú. Foi lavrada ata, a 16 de novembro de 1813, e tomadas as assinaturas de Manoel Marcondes de Oliveira Amaral, José Marcondes do Amaral, Domingos Vieira do Prado, Ignácio Bicudo de Siqueira, João Monteiro do Amaral, José Romeiro de Oliveira (integrante da Guarda de Honra do Príncipe regente), Francisco Salgado Silva, Ignácio Marcondes do Amaral e Pedro José Barbosa.
Prosseguem as lutas. Os mineiros se mostram inconformados e tentam ainda uma vez aumentar, a qualquer preço, o território de sua província, tanto que, diz-nos o desembargador Afonso José de Carvalho, a 27 de abril de 1814, Joaquim Carlos de Toledo, mais Salvador Joaquim Pereira romper com soada, estrondos e salvas e grandes alaridos as tranqueiras e tapumes” colocados pelos paulistas, põe ao chão a casa da guarda e expulsam, com ameaças de prisão caso voltem, os “defensores de estradas e saídas”. Ouçamos agora o próprio desembargador e historiador: “Até às nuvens subiu a cólera da vereança de Pindamonhangaba, à cuja frente se colocara o impertérrito Capitão-Mor. Respirando ambições de derrota, subiram os paulistas a serra, com estrépito, acompanhados de 86 homens d’armas; e, rompendo, por sua vez, as tranqueiras postas pelos de Minas, repuseram tudo no que dantes era, e se não prenderam o Cadete Joaquim Carlos de Toledo foi por este andar em patrulha pelas cercanias, na ocasião”.
Não veio logo a paz sobre essas tão ambicionadas terras, nem tão pouco logo cessaram as perlengas sobre as divisas das províncias..., mas tudo tem seu fim e os moradores de cá e de lá do território paulista, respeitando decisões superiores relativamente a limites, puderam viver em paz, colaborando eles afinal na prosperidade das duas províncias.
As lutas que se travaram, às vezes tão acirradas, entre habitantes de Minas gerais e de Pindamonhangaba, por causa, não propriamente de terras, mas de limites entre as províncias, foi uma espécie de escola em que se preparava o homem para a fundação de núcleos, de elementos de atração em torno dos quais famílias se fixassem.
Como Matheus da Costa Pinto que funda a povoação de São Matheus do Imbiri, povoação que rapidamente se desabrochou em Campos do Jordão, também José pereira Alves deixa Pindamonhangaba, cidade de seu domicílio e residência para, subindo a serra com sua família, fundar a cidade de São Bento do Sapucaí.
Após a morte de Manuel Rodrigues Jordão, seus herdeiros fragmentaram a terra, dando azo a que Matheus da Costa Pinto, homem rico e de visão, adquirisse uma grande parte. Fundou Matheus da Costa Pinto o povoado de São Matheus do Imbiri que teve algum progresso.
A cidade, que não é associação de indivíduos, mas de famílias, no passado, se criava principalmente por motivos religiosos ou motivos familiares.
Eram famílias sedentárias que se associavam para a defesa contra as conquistas de povos nômades. Ou era a religião que as reunia.
“Assim como o altar doméstico tinha agrupados em volta de si os membros duma família, assim a cidade era a reunião daqueles que tinham os mesmos deuses protetores e que cumpriam o ato religioso no mesmo altar”. “Uma vez que as famílias e as tribos convencionavam unir-se e ter um mesmo culto, fundava-se logo a cidade para ser o santuário do culto comum”. (Cidade Antiga F. Colange).
Nos tempos atuais (1971) as cidades se criam de várias outras maneiras, porém, o seu desenvolvimento está condicionado, entre outras coisas, às ações psicológicas. Realmente, a atração religiosa fez de aparecida uma cidade de capital importância para a população brasileira, quase inteiramente católica. É ela a sede da Padroeira do Brasil. No terreno da religião é a capital do país.
A preocupação da saúde, como fator psicológico, tem condicionado a criação e desenvolvimento de muitas cidades, mas, para que elas surjam, pela evolução natural terão início no pequeno aglomerado que se erigir por vários motivos, entre os quais a vontade e orientação de alguém, afeito, pelas suas ideias, a criar elementos de progresso para o bem do homem.
Não é o fundador de fazenda, simplesmente desejoso de possuir propriedade como agricultor ou pecuarista, mesmo que lute pela pacificação da posse contra seus turbadores, - o fundador, só por isso, de vila ou cidade se alguma vila ou cidade vier a surgir em terras que lhe pertenceram. Se só a propriedade de terras em tempos afastados ou propriedades em primeira mão bastasse para justificar o título e as glórias de fundador de cidade, dados ao ex-proprietário dessas terras, se nela cidade se erigisse, então as pessoas tidas como fundadoras de nossas cidades, todas elas, para só falar de nós, brasileiros, estão usurpando o título e as honras aos senhores de todas as terras do Brasil, - os indígenas, os silvícolas, os aborígenes.
Urge que alguém sinta entre seus ideais o de fundar uma cidade, o que não é comum. E pense e queira. E por querer, afaste o limite da abertura de sua bolsa e o dinheiro se gaste em coisas que aproveitem, no presente, aos poucos, aos raros que se congregarem e, no futuro, aos tantos que de seus bens se beneficiarem
Pense, queira e aja. Haja pensamento, vontade, ação...
Matheus da Costa Pinto é cidadão bem-posto no terreno econômico, acatado no meio social de Pindamonhangaba, cidade em que constitui família.
Português de nascimento, as viagens não o intimidam, antes pelo contrário o estimulam. Ele não teme o desconhecido, o inesperado, como não temeu os mares por ele transpostos.
Por isso se localiza ao redor dos picos do Imbiri, em terras adquiridas por compra e venda e que foram de herdeiros do Brigadeiro Jordão.
Sentindo que ali está a salvação de quantos se definham tuberculosos, pensa em propagar as miraculosas qualidades do clima nessas plagas reinante, num desejo de noticiar aos condenados pela tísica que o remédio existe para curar-lhe a doença.
Resolve dar corpo ao seu pensamento e age desde logo. Dá terras para os que querem construir e auxilia-os em tudo. Constrói igreja sob a invocação de N.S da Saúde e levanta escola – dois marcos imperecíveis de uma vontade hercúlea de quem se dispõe a levantar uma cidade.
E a povoação de São Matheus do Imbiri começa a transbordar-se. Os primeiros doentes curados depois de meses nos ares dessa bendita terra, com chegada, estada e saída sob a proteção de Matheus da Costa Pinto, cujas mãos abertas estiveram sempre prontas para o auxílio do próximo, - os primeiros doentes, curados, propagam as excelências do clima, o milagre das curas.
As palavras desses primeiros doentes restabelecidos à saúde têm a força prodigiosa das trombetas de Josué, pondo abaixo as muralhas da ignorância do pedaço privilegiado de nossa terra que são as terras de Campos do Jordão.
Não faltam médicos que, passando a conhecer os ares de Campos do Jordão, não procurem adquirir seus tratos de terra para futuros sanatórios, como fizeram os doutores Gustavo de Godoy, Francisco Marcondes Romeiro, Emílio Silva, Vitor Godinho.
Ausência de humidade e ventos, coisas comuns nas grandes altitudes, é básico fator de sua excelência. Não foi à toa que “Num congresso de Climatologia realizado em Paris, em 1957, foi o clima de Campos do Jordão classificado o melhor”.
E Matheus da Costa Pinto não quer outra coisa senão que a cura nessas terras se venha buscar, pela cura em si, na poupança de vidas.
Não o move interesses pequenos, não o move o dinheiro. Prova disso? Entre outras coisas que citaremos a seu tempo, a escola que ele instala para instrução gratuita das crianças e adultos do povoado de São Matheus, mantida por ele. É ele quem dá alimentos e material escolar às crianças. É ele quem paga o professor.
E essa escola não funcionou uns dias, uns meses, mas anos a fio, a partir de 1879.
A igreja de N. S. da Saúde, é ele quem a faz construir. É ele quem dota essa igreja do necessário para nela os ofícios religiosos se realizarem. E é ele quem providencia a vinda de sacerdotes para as missas e outros atos de religião.
Aos doentes sem recursos é Matheus da Costa Pinto quem dá asilo e assistência, material e moral, sem outro intuito senão o de exercitar um dos mandamentos de sua religião – o amor ao próximo.
De fato, é ele quem auxilia o transporte desses doentes, fornecendo-lhes cavalos e carros. Durante a estada, é ele quem lhes dá morada em casas que mandou construir.
A obra de Matheus da Costa Pinto é daquelas que se levantam para nunca mais caírem, que se alteiam para crescerem constantemente, porque ela se alicerçou no coração e se teceu de suas mais peregrinas virtudes. É obra que perdura e se avulta na projeção pelo tempo afora. Em certo momento de sua execução, quando já Campos do Jordão se tornam afamados até mesmo além fronteiras nacionais, pelo miraculoso de seu clima que cura a tuberculose, moléstia até então tida por incurável; quando é chegado o instante de Matheus da Costa Pinto receber a única paga ambicionada: a certeza de que tudo estava feito para a saúde se restabelecer e a vida se prolongar de quantos disso necessitassem, sem dependência de situações econômicas e financeiras; quando é chegado o instante em que os cientistas começam a preocupar-se com a descoberta dos ares de Campos do Jordão; quando o momento chega o Estado e quiçá a nação tornarem-se imperiosamente interessados em sua existência, eis que surge o vilão, aquele que veicula maledicência, sem conhecer ou fingindo desconhecer as fontes suspeitas que lhe enchem a mente de ataques àquele que grande parte da sua vida viveu-a criando esta terra, abençoada pelas vidas sem conta que tem poupado à humanidade e poupará através dos tempos.
São os espinhos que glorificam o homem de ação. Mas os que conheciam Matheus da Costa Pinto e lhe conheciam as obras, - não poderiam sopitar o grito de revolta em seu favor e contra as inventivas de um vilão. E mal os ataques se fazem as vozes dos moradores de Campos do Jordão opõem formal defesa., fornecendo ao acusador leviano as provas provadas de toda a obra de Matheus da Costa Pinto em contrapeso às suas inventivas soezes, injustas, maldosas.
Mal a pessoa de Matheus da Costa Pinto é alvejada, levianamente, e as vozes das pessoas mais gradas de Pindamonhangaba hipotecam a ele sua inteira solidariedade, rebatendo a vil acusação.
Mal se ergue a difamação suspeita, a injúria rasteira e as vozes também se erguem das ilustres e distintas pessoas de São Bento do Sapucaí e de Vassouras, veementes, protestando contra a vilania de tal ataque.
E que dizem os que estão em Campos do Jordão, por ocasião do soez ataque? Lemo-lo na edição de 23 de março de 1884, da Tribuna do Norte, semanário que se publica aos domingos, em Pindamonhangaba:
“Para dizer tudo em uma frase, a vida de V.Sa. tem sido longa prova de grandeza d’alma e da extrema bondade de seu coração até para com os seus mais pronunciados adversários. Quando se trata de favores ou benefícios V. Sa. Não faz distinção entre o rico e o pobre; entre o homem livre e o escravo; entre o amigo e o adversário; a todos estende paternal solicitude, presando-se de seu fino trato, amabilidades e generosidade; sendo franca, desinteressada e desvelada a hospitalidade em suas três casas das fazendas do Humaitá, Bahú e daqui, com todos os transeuntes”.“Não tecemos panegírico e vontade, como a vontade a maledicência urdiu falsidades que o desagradassem”.
Essas palavras fulminam a malévola intenção daquele que quis tisnar o benemérito fundador de Campos do Jordão. Mais, leiamos mais este trecho, o relativo a enfermos:
De então para cá numerosas hão sido as vítimas das afecções pulmonares que a sua caridosa hospitalidade há acolhido, por vezes até no seio de sua exma. Família. Desses enfermos uns recuperaram a saúde, outros em estado desesperador infelizmente sucumbiram e alguns nos próprios braços de V. As.; entre os enfermos ocorre-nos os finados dr. Avelino de Freitas, de Niterói; o pardo Luiz, escravo do sr. José Francisco Marcondes Machado. Antonio Pereira Souza Guimarães, português; Antonio Carlos de Almeida, do Maranhão; Francisco Corrêa leite, de Pindamonhangaba; e José Gonçalves Guimarães, português”.“Também é geralmente aqui sabido que o hotel deste retiro tem hospedado por longo tempo e muito frequentemente hóspedes por dias a pessoas tanto doentes como sadias, e tanto das relações de V.Sa. com os desconhecidos e desvalidos, com ordem de não lhes apresentar a conta das despesas, por correrem elas a seu cargo”. Este acolhimento que tenta ocultar, o que não é fácil em casa pública, os abaixo assinados não têm a mesma razão de calar”.
Matheus da Costa Pinto, ao lado da escola quer mantém durante anos, com todas as despesas feitas por sua própria conta, inclusive casa e ordenado do professor, escola para as crianças e para os adultos; ao lado da banda musical que organiza para alegria dos moradores de S. Matheus; e ao lado da igreja que erige e mantém, manda construir um vasto prédio para hotel e algumas casas de alvenaria e telhas e outras pequenas tudo para que os enfermos “contassem com moradia aqui a seu cômodo e nas condições higiênicas requeridas” – e tudo isento de outro intuito que não fosse o de beneficiar os enfermos de tuberculose pulmonar, para os quais se achava a cura tão ambicionada por todos e sobretudo, pelo mundo médico e científico. Isso mesmo afirma o protesto assinado por moradores de Campos do Jordão e publicado em Pindamonhangaba, na “Tribuna do Norte” de 23 de março de 1884:
“V.Sa. (dizem eles) nunca teve hotel; desde o começo o prédio achou-se entregue a outros para que por conta e interesse próprio montassem essa empresa lucrativa, sendo-lhe mister por vezes superar dificuldades para conseguir quem se prestasse a torna-la a si, e até servir de fiador a compras de objetos preciosos ao estabelecimento. Os lucros, pois couberam a tais empresários. Para protege-los, o prédio nunca lhes foi alugado”.
Das casas que se alugavam no estio, menos as pequenas que “são e sempre foram habitadas por pessoas pobres e sem pagamento alguém” – diz o manifesto – nunca Matheus da Costa Pinto auferiu lucros, pois na expressão de seus signatários: “Supomos indubitável que os capitais a elas aplicados “geralmente não alcançam os juros da lei”.
E quem são essas pessoas? São o dr. Diogo Mendonça Pinto, Joaquim Gomes leitão, José Abelhos Fortes Bustamante, José Benedito Marcondes Romeiro, José Benedito Marcondes Machado, Antonio Públio da Granja Mendonça, Manoel Hortense Vargas, Manoel Rodrigues Barcellos, Jeremias e Ignácio Gonçalves de Oliveira – nomes todos por quem lê qualquer página de História de campos do Jordão. E quando o afirmam? Março de 1884.
Desse manifesto constam palavras de um grande médico, de um facultativo que se tornou imortal pela luta que moveu contra a tuberculose. É o dr. Clemente Ferreira. Leiamo-lo. É um trecho da tese com que disputou o título de doutro em medicina:
“É sobretudo ao benemérito sr. Matheus da Costa Pinto, importante fazendeiro, que se devem os melhoramentos e progressos dessa esplêndida localidade. Incansável e cuidadoso ele se tem empenhado com afã na constituição de casas pitorescas que em grande número se oferecem agora ao agasalho e à acomodação de tantas pessoas que lá vão buscar lenitivo aos seus males. Cheio de entusiasmo pelos Campos o sr. Matheus dedica a sua vida ao engrandecimento e renome do lugar e envida os seus esforços todos para que a confortabilidade desejável caiba ao doente, garantindo mesmo de proporcionar-lhes passatempos e distrações agradáveis que possam amenizar a vida aos que aborrecem os recessos agrestes”.
Em Pindamonhangaba, “Tribuna do Norte” de 30 de 03.1884 e “Diário de São Paulo” de 29.04.1884, revoltada, a população se levanta para protestar contra a vil acusação assacada à pessoa do fundador de Campos do Jordão. São vozes do sr. Manuel Marcondes de Moura e Costa, vice-presidente da Província; do vigário da paróquia – cônego Tobias da Costa Rezende; do Barão da Palmeira, do Barão de Itapeva, do Barão de Romeiro; dos médicos drs. Eugênio Marcondes Homem de Mello, Francisco Marcondes Romeiro, José Vieira Marcondes, Manuel Ribeiro Marcondes Machado, Gustavo de Oliveira Godoy, Marinonio de Brito, dos advogados drs. João Marcondes Moura Romeiro, João Ribeiro Marcondes Machado, José Marques de Oliveira Ivahy – promotor público Gregório José de Oliveira Costa, Matheus Marcondes Moura Romeiro, Emílio Paulo de Godoy; e vereadores, coletores de rendas, farmacêuticos, delegado de polícia, comerciantes, fazendeiros, funcionários públicos federais, estaduais, municipais, escrivão, enfim, centenas de pessoas representativas de todas as camadas sociais – vozes que se levantam publicamente, revoltadas, para o prestígio da verdade.
E o fez igualmente o povo de São bento do Sapucaí, através de suas mais representativas pessoas, para afirmar, através de publicação na “Tribuna do Norte” de 02 d março de 1884”que o digam os pobres enfermos, desvalidos, sem recursos, aos quais acolheis e tratais sem outro interesse que não o de fazer bem; que o atestem as numerosas propriedades ai construídas com o único fim de dar importância ao lugar, o prova finalmente, a escola por vós longo tempo sustada e onde os filhos da pobreza recebem utilíssimo ensino...”.
A sociedade sapucaiense sintetiza toda a sua manifestação de revolta nestas palavras:
“É na própria acusação que está o mais eloquente testemunho das vossas altas virtudes: a ingratidão foi sempre a sombra do benefício, como o verdadeiro merecimento o constante alvo de perseguições que, no desprezo da opinião pública encontra o merecido castigo”.
Quem o diz?
Os representantes dos poderes civil, municipal, policial e mais diretamente da população desta cidade (“Tribuna do Norte” de Pindamonhangaba, em 03 .03.1884 e “Diário de São Paulo” em 30 de abril:
José Antonio de Freitas Guimarães – presidente da Câmara Municipal e delegado de polícia... e professores, agente do Correio, suplentes de delegado, secretário da Câmara, vigário, vereadores em sua unanimidade, procurador dos poderes municipais, suplentes do juiz municipal, juiz de paz e seus suplentes, fazendeiros, comerciantes.
Matheus da Costa Pinto adquire terras que foram do Brigadeiro Jordão e, a 29 de abril de 1874, pelo que inicia em construções obedecendo a um plano preestabelecido, lança os fundamentos da povoação que se chamaria S. Matheus do Imbiri.
Que não foi um simples agricultor ou homem de negócios com fazendas, a despeito de ter adquirido terras para a criação de 3 delas – Humaitá, Bahu e S. Matheus do Imbiri – está no fato de facilitar por todos os meios o crescimento da povoação que fundara, dando terras para a construção de casas, auxiliando seus edificadores.
Matheus da Costa Pinto não foi comerciante. Nunca teve armazém ou venda.
Construiu prédio para hotel, instalou-o, mas nunca o explorou, fazendo dele empresa lucrativa, que sua finalidade com tais gestos era a propaganda de Campos do Jordão, como lugar de cura de doentes afetados de tuberculose pulmonar.
Nesse sentido são as palavras de seus contemporâneos – únicos que podem dizer ou falar sobre o início de São Matheus do Imbiri e de seu fundador.
Ouçamo-los:
“... Nuca teve hotel; desde o começo o prédio achou-se entregue a outros para que, por conta e interesse próprio, montassem essa empresa lucrativa”.
E continuam esses moradores de campos do Jordão, em 1884: “Os lucros pois, couberam a tais empresários. Para protegê-los o prédio nunca lhe foi alugado”.
Quando a população aumenta de São Matheus do Imbiri, cuida logo seu fundador de criar escola. Em 1878(Tribuna do Norte 23.03.1884) instala-se a escola de primeiras letras, regida pelo professor José Francisco da Costa e, dizem os jornais da época (Tribuna do Norte, de 23.04.1884):
“Com admissão gratuita de alunos, fornecendo a estes os utensílios precisos; e ao professor casa, mobília e ordenado”.
Após três anos, retira-se esse professor, sendo substituído por Fortunato de Paula Campos, o qual ficou apenas durante um ano. Em 1884 instala-se nova escola, a cargo do prof. José Gomes Coutinho, sendo que funciona de dia para a infância, e à noite para adultos, anexando-se a ela aula especial para criação de uma banda de música – e isso tudo por conta de Matheus da Costa Pinto.
Em 1884, o espírito clarividente desse fundador de cidade já realiza a educação de adultos, educação que em 1947 tem seu incremento no país, cabendo a nós, como representantes do Governo do estado de São Paulo, assinar convênio com o Governo da República também, como então diretor geral do Departamento da Educação, a instalação das primeiras centenas de escolas por todo o território de S. Paulo.
Em 1885 o prof. Antonio Porfírio da Silva é removido para são Matheus do Imbiri, a pedido seu, porque, segundo seu próprio depoimento, foi informado de que ali “teria as maiores facilidades para residência e instalação de muita escola”.
E 54 anis após sua estada, que foi de 1885 a 1887, isto é, em carta de 08 de fevereiro de 1941, dirigida à nora de Matheus da Costa Pinto, diz esse professor:
“De fato, ali estive em exercício de 1885 a 1887, tendo casa, sala para escola e todas as possibilidades fornecidas pelo proprietário da fazenda. Além de que não foram poupadas atenções e carinhoso acolhimento desde o dia de minha chegada até a data de minha remoção. Devo assinalar que foi esse um dos períodos mais felizes de minha existência – por ter conhecido e desfrutado a benevolência da família Costa Pinto”.
Não bastava instrução. Além do desenvolvimento intelectual necessário era o conforto para o espírito. Ao lado da escola lá, a igreja se exige para uma povoação em crescimento. E, Matheus da Costa Pinto, por sua própria conta, edifica a capela de V.S. da Saúde. Quem o afirma é o dr. Diogo de Mendonça Pinto, primeiro signatário do manifesto de que já lemos alguns trechos, publicado em 1884. E afirma-o com estas palavras: “Para conforto dos doentes e socorros espirituais da igreja, V. As.
Erigiu uma capela com considerável dispêndio, por insuficiência dos donativos agenciados pelo 1º abaixo assinado”, que foi o próprio dr. Diogo de Mendonça Pinto.
Também esse fato é registrado por Condelac Chaves de Andrade, em seu “Álbum Almanaque” – Histórico de campos do Jordão, publicado em 1948, sem referência embora às importantíssimas manifestações pró Matheus da Costa Pinto das sociedades de Pindamonhangaba, Vassouras, São Bento do Sapucaí, Campos do Jordão publicadas em 1884 – e nas quais elementos podem ser colhidos, da época, para conhecimento histórico da fundação de Campos do Jordão. Afirma-o Condelac, com estas palavras:
“Em 1876, Matheus Pinto iniciou a construção da capela de São Matheus que, mais tarde foi inaugurada com grande pompa juntamente com uma escola pública, também por ele custeada”.
Escola. Igreja. Não seria demais uma ligação a algum centro de recursos. Isso seria sossego para aqueles doentes vindo de vários e tão distantes pontos do Estado e até do país e não acostumados à vida rural.
E Matheus da Costa Pinto a promove, segundo vemos do mesmo Álbum de Condelac Chaves de Andrade:
“Como a viagem para Campos do Jordão fosse por demais penosa, em lombo de burro e subindo pelo Itapeva ou dando a volta pelo paiol velho, Matheus Pinto, associado ao Bicudinho, contratou o engenheiro Saladino para abrir a atual estrada de rodagem para Pindamonhangaba, por Francisco gaiola e Manuel Vieira”.
Casas. Prédio para hotel. Banda de música, Campos para esporte. Escola para crianças e adultos. Igreja. Estrada de rodagem. Tudo isso em pouco tempo, a começar de 29 de abril de 1874.
E mais, assistência aos enfermos, propaganda do clima e até, para os casos daqueles que subiam já em estado irreparável, o cemitério que Matheus da Costa Pinto constrói às suas expensas, para evitar as famílias enlutadas os sofrimentos de transporte de cadáveres para Santo Antonio do Pinhal ou Pindamonhangaba. Constrói ele tudo de que venha necessitar a vida de uma cidade.
Contam-no os que tem escrito e falado sobre Campos do Jordão e lhe tem estudado as origens, como Joaquim Corrêa Cintra, esse arguto jornalista que propalou pela imprensa as grandezas de campos do Jordão, difundindo-lhe a história através de “A Cidade”, semanário de que é diretor responsável.
Perpetuam de modo tão atrativo a história de campos do Jordão os poderes públicos municipais. Louvores a esses poderes, prefeito e vereadores, que não deixam passar ano sem que o 29 de abril de 1874 seja lembrado como data aniversária de Campos do Jordão e cultuada a memória de seu fundador e daqueles que com ele e após sua passagem muito fizeram para o engrandecimento dessa terra sobre que tantas bênçãos caem e cairão por todo o sempre daqueles que aqui renasceram e renascerão para a vida tão ambicionada.
E se glória é essa bastante para perpetuar um nome, para imortalizar um homem, glória maior foi a de Matheus da Costa Pinto porque fundou, não uma cidade qualquer, mas fundou Campos do Jordão, - terra do “ouro escarlate”, no dizer de Mário de Sampaio Ferraz, em “Campos do Jordão”, 3ª edição, pág. 138, do ”Ouro Sanguíneo”, o da saúde, o mais precioso de todos, que se transforma em glóbulos vermelhos, em torrentes estuantes de sangue, em fonte rubra de vida e de amor”; mas fundou Campos do Jordão de cujo povo cada um é “uma espécie de cidadão de toda a humanidade, habituado desde os primórdios de sua organização comunal a receber e ajudar a todas as criaturas provindas de toda parte” (A Cidade” – Campos do Jordão, 16 de maio de 1965).
Glória maior é a de Matheus da Costa Pinto porque em tudo agindo com o coração mais do que com tantas obras que edificou, essa cidade de Campos do Jordão fundou, esse majestoso Templo da Solidariedade.
Fonte:
Trabalho apresentado na sessão de 04 de setembro de 1971, no Instituto Histórico e geográfico do Estado de São Paulo, pelo dr. Antenor Romano Barreto, na Revista Volume 71.
Imagem:
Campos do Jordão Cultura (bing.com);
http://academiadeletrasdecamposdojordao.blogspot.com/p/historia.html
Família Bazin
Fontes:
MASAKAZU, Arakaki. Ruas da minha cidade. Campos do
Jordão: Lis Gráfica e Editora Ltda., 1988. 166 p.
PAULO FILHO, Pedro. História de Campos do Jordão.
Campos do Jordão: Editora Santuário, 1986.
LINO, Maurício de Souza. Da Freguezia do Imbery aos Campos
do Jordão. Campos do Jordão: Clube de Autores, 2017. 414 p.
Graças ao esforço e boa vontade de Plínio Cândido da Silva, a televisão em Campos do Jordão, tornou-se uma esplêndida realidade.
Filho de Campos do Jordão, jovem, estudioso, sedento de progresso, viveu os anos de adolescência nesta sua terra, trabalhando, estudando e procurando conhecer os segredos do rádio e da eletricidade que sempre o apaixonavam. Sozinho, montou uma estação de rádio amador, sempre no afã de aprimorar os seus conhecimentos. Entretanto, o campo de ação, numa cidade de interior, é sempre limitado, e Plínio, sequioso de saber, foi para São Paulo, a ciclópica metrópole que assombrava o mundo pelo seu progresso.
Formou-se em Engenharia Eletrônica pelo ITA - Instituto Tecnológico de Aeronáutica, uma instituição de ensino superior pública da Força Aérea Brasileira, vinculada ao Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial, localizado na cidade de São José dos Campos. Isto se deu há 60 anos.
Esse moço, em meados de 1951, já se encontrava trabalhando como técnico da TV Tupi de São Paulo PRF-3 TV, canal 3, a estação pioneira da televisão na América do Sul, uma brilhante e patriótica iniciativa do grande jornalista Assis Chateaubriand. Mais tarde, Engenheiro e Chefe do Departamento Técnico da TV Paulista, canal 5, e melhor diretor técnico de TV brasileira em 1958.
Numa transmissão pioneira, a TV paulista Canal 5 mostrou São Paulo em vista aérea, a bordo de um helicóptero, sob sua liderança, e contando com a colaboração valiosa do brigadeiro Armando Araribóia, Comandante da 4ª Zona Aérea, do Coronel Faria Lima, Comandante da Base Aérea de Cumbica e outras altas patentes da FAB.
Também foi o responsável para transmitir pela TV a XXXIII Corrida Internacional de São Silvestre.
Dia 25 de outubro de 1951, na estação de Televisão das Emissoras Associadas, à rua catalão, 48, manifestou-se um princípio de incêndio, sendo o fogo, cuja origem é ignorada, combatido e dominado em seguida. Plínio Cândido da Silva foi ouvido no inquérito instaurado na Central de Polícia, quando adiantou ter o foco começado num dos motores da referida seção. A Polícia Técnica foi solicitada para vistoriar o local.
Não esquecendo a sua terra, Plínio Cândido da Silva logo que pode, arranjou uma “fuga” da TV e aqui chegou, equipado de um receptor de televisão e diversos tipos de antena, a fim de fazer experiências com um “vídeo”.
A princípio, todos o desanimaram. Houve mesmo quem afirmasse que em Vila Emílio Ribas (atual Capivari), já havia sido feita uma tentativa, completamente infrutífera. O ceticismo, entretanto, durou pouco. Plínio instalou um receptor RCA (Rádio Corporation of America), no clube do Sanatório S3, experimentou os diversos tipos de antena e finalmente, veio a imagem, nítida, perfeita sem interferências.
Nunca o Sanatório S-3 foi tão visitado como nestes últimos tempos. Uma verdadeira romaria dirigia-se para lá, diariamente, apesar do intenso frio e foi verificar “in loco”, a última maravilha do século. Os jogos de futebol, televisionados, então, constituíam o maior motivo de atração.
Todos vinham e ficavam entusiasmados, com o fato de terem televisão em Campos do Jordão, possibilidade que tinham afastado de suas cogitações, em vista de ser teoria firmada, o conceito de que o raio de ação de uma estação transmissora de televisão era de apenas 50 km, quando estavam distantes mais de 100 km da capital de São Paulo.
Fontes de Pesquisa:
Jornal “A Cidade”, de 08 de julho de 1951;
Livro "Almanaque da TV" – Rixa;
Jornal "Jornal de Notícias", 26 de outubro de 1951;
Revista "Radiolandia", 20 de abril de 1957;
Jornal "Diário da Noite", 15 de outubro de 1958;
Jornal "A Gazeta Esportiva", de 19 de dezembro de 1958
Iracema Abrantes
Fausi Paulo
Dr. Plínio Barbosa Lima
Dr. Plinio Barbosa Lima |
Dr. Plínio Barbosa Lima |
Dr. Plínio Barbosa Lima na pensão Inglesa com amigos |
Dr. Plinio Barbosa Lima em Lausanne, com amigos |
Carcaça do avião queimado e destruído e foto do piloto Stewart |
Condessa de Bonneval
A família Bonneval e suas propriedades em Limousin, França, foram formalmente elevadas ao status de Marquisate e, portanto, o título enobrecido de "Marquis", em 1655. Há muito tempo é considerada uma das famílias mais prestigiosas e honradas, dando origem ao provérbio “Família Bonneval para a Nobreza".
Ao longo de sua história membros da Família Bonneval contraiu numerosas alianças com outras famílias reais e prestigiadas, como Antoine de Bonneval, que se casou em 1471 com Margaret de Foix, medida em que muitos membros da família se qualificaram para o título não oficial de "Primos do Rei".
A família Bonneval e suas propriedades em Limousin foram formalmente elevadas ao status de Marquisate e, portanto, o título enobrecido de "Marquis", em 1655.
Algumas personalidades familiares conhecidas:
Cavaleiro Gerauld de Bonneval (1050) - construtor do primeiro castelo e fundador da Casa Nobre de Bonneval;
Guillaume de Bonneval - um comandante no exército de Luís VII na Segunda Cruzada de 1145 a 1149;
Bernard de Bonneval - Bispo de Limoges em 1391 a 1403;
Antoine de Bonneval (1433 - 1505), Premier Chamberlain a Gaston de Foix, Rei de Navarra que serviu como Conselheiro e Camareiro aos reis Luís XI, Carlos VIII e Luís XII;
Marguerite de Foix (1450 - 1508), que se casou com Antoine de Bonneval em 1471, na igreja de Coussac-Bonneval;
Foucault de Bonneval, filho de Antoine e Marguerite de Bonneval, foi nomeado bispo de Périgueux (Vesuna), de 1531 a 1540;
Germain de Bonneval(1468 - 1525), filho de Antoine e Marguerite; que se tornou um comandante militar a serviço de Luís XII e François I e foi morto na Batalha de Pavia (1525);
Gabriel de Bonneval(1520-1590), comandante do exército huguenote e mentor do jovem Henrique IV na Batalha de La Roche l'Abeille. O resultado foi uma vitória para as forças huguenotes;
Claude-Alexandre de Bonneval (1675 - 1747), Conde de Bonneval, que após uma carreira militar colorida e controversa, tornou-se um herói nacional na Turquia.
Servindo o Império Otomano, converteu-se ao Islã, tomando o título de Humbaraci Ahmed Pasha, mais conhecido como Bonneval Pasha.
Andre de Bonneva l, Marquês de Bonneval que se casou com Marie-Denise de Nanthait, neta de Charlotte Aïssé;
Philippe-Armand de Bonneval(1773 - 1852), prefeito de Bourges e Conselheiro Geral de Cher;
Hippolyte de Bonneval (1786 - 1873), o marquês que, após uma bem-sucedida carreira militar, criou um negócio de porcelana de sucesso. Restaurou e embelezou grandemente a propriedade num período de 57 anos durante o qual era o proprietário do domínio;
Madamoiselle Charlotte Elizabeth Aïssé (c1694 - 1733) e sua filha Célinie Le Blond. Charlotte era uma escrava, comprada em um mercado de Constantinopla, que se tornou uma celebrada dama de letras na sociedade parisiense e amante de Filipe II, Duque de Orléans (1674-1723).
Célinie casou com Pierre Jaubert, o visconde de Nanthiat; e sua filha, a neta de Charlotte, Marie-Denise de Nanthiat, casou-se com Andre de Bonneval em 1760;
Gabriel André II de Bonneval (1769 - 1839) - Marquês de Bonneval, viveu a época da Revolução Francesa (1789 -1799) e, em particular, o Reino do Terror (1793 - 1794);
Bertrand-Henri de Bonneval (1806-1882) Um dos primeiros homeopatas da França, engenheiro agrônomo e filantropo;
Timoléon de Bonneval (1845-1939) - após a aposentadoria de sua carreira militar pela qual recebeu a Legion d'Honneur. Ele é o bisavô do atual Marquês de Bonneval;
Gaston de Bonneval (1911-1998), ajudante de campos para o general Charles de Gaulle
Herculano de Almeida Prado Corrêa Galvão, o barão do café, que nasceu em Itu, SP, em 10 de abril de 1872, onde passou a infância e juventude. Os pais o mandaram estudar na Bélgica, onde se formou em Hautes Etudes Commerciales em Liège.
Ficou conhecido como um dos barões do café porque seu pai – Antonio Augusto Correa – era proprietário de fazendas cafeeiras na região de Itu, que foram vendidas em 1898. O barão do café, adquiriu uma gleba de 6 mil metros quadrados na Avenida Paulista. A casa que ficava no cruzamento com a Rua Ministro Rocha Azevedo, e foi a terceira moradia a ser erguida na avenida.
Da união de Herculano com Gabrielle de Almeida Correa, nasceu em 31 de março de 1923, Marie Antoinette de Almeida Correa Galvão de Franca, a futura “Condessa de Bonneval”.
Henri Antoine Timoleon Christophe de Bonneval (1892-1980) e Consuelo Catherine Branco da Panouse (1894-1973), foram os pais de Bernard Henri Marie Louis de Bonneval, Cavaleiro da Legião de Honra, Cruz Voluntário lutador, Cavaleiro de Honra e Devoção da Ordem Soberana de Malta.
Bernard Henri Marie Louis de Bonneval, nasceu em 19 de abril de 1921, em Paris, França, família que pertence a uma linhagem de raízes muito antigas da aristocracia francesa, e tornou-se Marquês em 1980, com a morte de seu pai.
Casou-se em 22 de outubro de 1947 em Coussac-Bonneval, Haute-Vienne, Limousin, França, com Marie Antoinette de Almeida Correa Galvão de Franca, em Paris, Ile-de-France, França. Ambos, franco-brasileiros.
Do casamento, vieram 5 filhos:
Marie Georges Marguerite Bérengère de Bonneval, casada com Gilles Epstein; Blanche Marie Gabrielle de Bonneval; Anne Marie Sybille de Bonneval, casada com Cid Eduardo de carvalho; depois Anne Marie Sybille de Bonneval, casada com Rodrigo Baretto; Claude Marie Xavier de Bonneval, casado com Paolo de Souza; e o francês, Geraud Anthony Herculano de Bonneval, que casou-se com a brasileira, Martha de Almeida Gonçalves, cuja união, deu os filhos Philippe Armand de Bonneval e Béatrice de Bonneval. Era necessário ter um filho homem para continuar a linhagem da nobreza francesa, existente desde o ano 935.
Marques e Marquesa de Bonneval |
Antes de voltar para França, o Marquês e Marquesa de Bonneval, e seus dois filhos viviam no Brasil. O Conde Bonneval faleceu no Brasil em 28 de junho 1997 em São Paulo, com a idade de 76 anos. Com a morte do pai, herdou o castelo Château de Bonneval.
Deitado no topo de sua colina, no meio de seu grande parque, o castelo de Coussac Bonneval parece ter permanecido durante anos o guardião da pedra da aldeia. Com as suas enormes torres redondas cobertas com um telhado de ardósia, o castelo manteve-se em boas condições.
A primeira presença da família Bonneval data do ano 930, quando o Chevalier de Bonneval já estava estabelecido na área. A fortaleza de pedra remonta ao século XIV.
Ocupou uma importante posição de defesa estratégica na fronteira com a Aquitânia, bem como seus vizinhos na rota Richard Coeur de Lion. O castelo consistia de um quadrilátero central, com cada torre em volta de uma esquina. As quatro torres estão orientadas para os quatro pontos cardeais.
Geraud Anthony Herculano de Bonneval, foi nomeado marquês, naquele país. O castelo Château de Bonneval, embora tenha sido uma casa imponente desde o final do século XVIII, anteriormente, como um estabelecimento militar, fazia parte de uma linha defensiva de fortalezas estrategicamente importante, protegendo o acesso à Aquitânia.
E o que agora são vistas agradáveis do campo teria sido, na época, linhas de observação defensiva e até de fogo.
Apesar de aberto aos turistas, uma parte dele é privada, pois continua servindo de residência para a mãe de Geraud, uma simpática senhora de 95 anos que reúne as mais cativantes histórias, tanto daquele lugar quanto da época em que viveu no casarão da Avenida Paulista, em São Paulo.
Fontes:
Industrial de grande visão, cuja economia constituía, para a nossa pátria, fonte de atividades construtivas e criadoras. O senhor Ernesto esteve sempre interessado no maior desenvolvimento econômico do nosso povo, não medindo esforços para auxiliar cada vez mais as nossas incipientes possibilidades.
Outro aspecto que se nos apresentou mais encantador no nosso biografado era o chefe de família. Homem do trabalho quase exaustivo, dando doze a catorze horas para as suas atividades industriais, sendo, como todos sabiam, incluindo os seus auxiliares, que mais trabalhava. No trabalho, pois, foi um verdadeiro e magnífico exemplo. Para os filhos, um pai severo, mas, carinhoso, não poupando esforços para orientá-los no caminho da retidão e da afeição por todos quantos sofriam. Assim o sr. Ernesto Diederichsen, conseguiu que os filhos tornassem outros tantos exemplos de virtudes práticas, cristalizadas em atividades dignas e construtivas. Herdaram todos, esse pendor pela beneficência e profunda simpatia pelos menos favorecidos pela sorte e pelas circunstâncias.
Mas o que mais nos encantou nessa personalidade cristã, foi, sem dúvida, o cuidado para com os sofredores. E não se diga que tal carinho foi apenas verbalista, não, Ernesto Diederichsen, juntamente, com o dr. Luiz Dumont Villares e sua Exma. esposa, dona Leonor Diederichsen Villares, mantiveram em Campos do Jordão, como é do conhecimento público, o Grêmio “Bernardo Diederichsen”, Centro de Assistência Social, que tinha como objetivo enviar mantimentos aos tuberculosos pobres. Não só gêneros de primeira necessidade, mas remédios, cobertores e agasalhos em geral. Desta forma, dezenas de famílias, há vários anos, vinham recebendo mensalmente o de que necessitavam para enfrentarem o frio e a enfermidade.
Com o dr. Luiz Villares e esposa, o senhor Ernesto Diederichsen constituiu sempre uma verdadeira bênção nestas montanhas de tanto sofrimento e provações. Mas não só em Campos do Jordão, a ação destas ilustres famílias tinha-se difundido em outros setores de assistência social.
A Câmara Municipal resolveu dar o nome de Ernesto Diederichsen a uma das principais vias públicas, a um dos grandes e dedicados amigos de Campos do Jordão e, mais profundamente, dos que mantiveram com o destino agreste lutas titânicas e terríveis. Amigo destas montanhas silenciosas, que foram, na realidade, uma esperança quente para os enfermos e fatigados.
Sebastião de Oliveira Damas
Não é pelo fato de ter sido o sr. Sebastião de Oliveira Damas o empreiteiro das obras. Poderia mesmo esse detalhe não ter qualquer significação, não fossem as condições econômicas precaríssimas em que se encontraram, de um momento para outro, as finanças da empresa concessionária, determinando a paralisação das obras, eis que, a previsão do seu custo foi bem menor do que determinou a realidade do desbravamento, do lançamento de pontes, como por exemplo a do Rio Paraíba (160 mts) e outras obras de arte necessárias, ocasionando pesados encargos financeiros para os seus idealizadores.
Mas, Sebastião de Oliveira Damas, como os velhos portugueses das conquistas que tanto dignificaram a pátria mãe, não era dos que esmoreciam ante os obstáculos. A sua empresa, foi salva às vésperas de uma debacle financeira irremediável, com prejuízo para todos e o que é pior, com a ameaça de paralisação de um melhoramento de há muito sonhado pelos que demandavam Campos do Jordão, pois, o único meio de transporte, na época, era a padiola(para os doentes) e o lombo de burro para os que teimavam em galgar o dorso agreste da Mantiqueira, porque, Sebastião de Oliveira Damas foi a Portugal, empenhar todos os seus bens, a fim de que os serviços não ficassem paralisados.
Assim, com essa dedicação de pioneiro, foi concluído o empreendimento, pelo qual muito trabalharam também os drs. Emílio Ribas e Victor Godinho. A EFCJ foi inaugurada oficialmente a 15 de novembro de 1914 e pela lei nº 1486 de 15 de dezembro de 1915, o Estado encampou-a em 21 de dezembro de 1922 (lei nº 1940), eletrificando-a. A inauguração dessa nova fase deu-se no governo de Carlos de Campos, em dezembro de 1924.
Por esses atributos que o identificam com os nossos bandeirantes, Sebastião de Oliveira Damas, sempre mereceu o respeito e a gratidão dos que dedicam ao estudo da história de Campos do Jordão.
A Joia da Mantiqueira, cuja beleza inigualável foi desvendada a todos os brasileiros e aos estrangeiros pelo cometimento que teve em Sebastião de Oliveira Damas um dos seus baluartes mais destacados.
Sebastião de Oliveira Damas faleceu com a idade de 87 anos no dia 11 de janeiro de 1954, em Castelo de Paiva, Portugal.
Irene Lopes Sodré em Defesa da Infância Escolar
Selo da campanha "Sello da Tuberculose" |
Jornal “Diário Carioca”, de 18 de novembro de 1928
Jornal “Diário Carioca”, de 09 de agosto de 1947
Dr. Januário Miráglia
Prefeito Januário Miráglia |
Francisco Miráglia, conceituado industrial, também cidadão italiano, comerciante radicado em Cuiabá, MT, casou-se no Rio de Janeiro, com a sra. Emília Tenuta Miráglia e tiveram os filhos, Ten. Dante Miráglia, Januário Miráglia, Philomena Miráglia e Ângela Rosa Miráglia, que se casou-se com Aclyse Cavalcanti de Mattos, filho do sr. Gabriel Francisco de Mattos, Vice-cônsul de Portugal.
Januário Miráglia, nasceu aos 20 de fevereiro de 1907, na cidade de Jaú, SP. Veio para Campos do Jordão em busca de cura para a moléstia que contraíra. Pelo carinho que dedicava a todos os enfermos, tornou-se uma das figuras mais benquistas da terra.
Posse para Prefeito - 1947 |
Em 05 de novembro de 1925 parte para o Rio de janeiro para encetar o curso médico da Faculdade de Medicina de Belo Horizonte. O inteligente moço, Januário Miráglia conquistou belíssimas notas e o segundo lugar nos exames na Academia de Medicina de Belo Horizonte.
Doutorou-se em 1932 como médico tisiologista. Nesse mesmo ano, prestou relevantes serviços ao hospital da Força Pública, durante os dias da Revolução nos campos de operações, por intermédio de equipes médicas para atender aos feridos nas linhas de frente mineiras.
Casou-se no dia 29 de novembro de 1943 na Matriz de Santa Tereza, RJ, com Arlette Miranda Flores e tiveram 2 filhos: Emilita e Francisco.
Fundou o PRP – Partido Republicano Progressista - a 09 de outubro de 1945, mais tarde Partido Social progressista(PSP), de Adhemar Pereira de Barros, tendo sido seu Presidente.
Por Decreto, a 1º de abril de 1947, o Governador do Estado de São Paulo, Dr. Adhemar Pereira de Barros, nomeou-o Prefeito Sanitário da Estância de Campos do Jordão.
Seus planos de governo eram a remodelação para Campos do Jordão, com a construção do Paço Municipal, Matadouro, Fórum, Cadeia Pública, calçamento de estradas, esgoto, reforma do abastecimento de água, além de um ginásio com internato e externato. O traçado desse plano era de autoria de Prestes Maia, e muita coisa dele tinha sido executada. Referiu-se sobre as dificuldades de mão-de-obra existente no município, em parte motivada pela escassez de habitações. Para apressar o plano de remodelamento da cidade e para conseguir operários que se disporiam a trabalhar no município, construiria o mais breve possível, 250 casas operárias, que não seriam alugadas, mas vendidas por preços acessíveis aos interessados. E para evitar que essas habitações pudessem ser transformadas em “favelas”, haveria uma fiscalização sanitária permanente. Para sanar todas as faltas existentes no que diz respeito à falta de habitações higiênicas para os doentes sem recursos, deu início imediatamente à construção de um vasto abrigo e, em seguida, um sanatório com capacidade para 500 leitos. Dessa forma pensava poder terminar com as “favelas”.
Como Campos do Jordão possuía um clima magnífico, indicado para tratamento de diversas moléstias, além da tuberculose, pretendeu tornar o município um local apropriado para poder atender a todos os doentes, e ao mesmo tempo atendendo às outras finalidades, porque precisavam ter sempre em mira que Campos do Jordão era uma prefeitura sanitária. Dr. Januário Miráglia foi diretor médico de todos os sanatórios de Campos do Jordão, incluindo os Sanatórios Populares.
Médico humanitário, jamais deixou voltar sem um lenitivo o doente pobre que batia às portas de seu consultório. Político de grandeza ímpar, sabia colocar os interesses da coletividade, acima das injunções pessoais. Morreu prematuramente, e sua memória foi consagrada através do pavilhão destinado a receber as mulheres tuberculosas amparadas pela Bandeira Paulista.
Funeral de Januário Miráglia |
Alguém fazendo um comentário sobre o desaparecimento de tão ilustre figura, escrevera: “Na época em que vivemos, de violências e hostilidades, de agressões e mesquinharias; em que os homens se digladiam no terreno movediço das ideologias, - tem a sociedade precisão de homens de energia, conciliadores, abnegados, corações sem resíduos de inveja, dignos nas suas atitudes e ações, no seu amor ao progresso, ao bem-estar da coletividade".
Realmente, Januário Miráglia possuía todas essas qualidades inerentes ao seu caráter. A sua lembrança será sempre um estímulo, uma estrela cujo brilho jamais se apagará nestes céus, para todos aqueles que desejarem seguir a trilha do bem e do cumprimento do dever!
Pequena Biografia do Professor Harry Mauritz Lewin
No ano de 1914, com apenas cinco anos de idade, foi para a Inglaterra e, na cidade de Cambridge, antiga cidade inglesa sede do condado de Cambridgeshire. Lá permaneceu até 1920, quando completou 19 anos. Daí seu total domínio do idioma inglês. Falando e escrevendo fluentemente a língua inglesa, com grande habilidade, durante boa parte de sua vida, como excelente professor, dedicou-se a ensiná-la, a inúmeros alunos que o procuravam para aprender um pouco dessa língua quase universal.
Além dos idiomas, português e inglês que dominava com grande fluência, tinha muita facilidade e bom domínio com outros idiomas, dentre eles, o espanhol, o francês, o italiano, o sueco, alemão e até o grego, considerando que no auge de sua juventude, dominando vários idiomas, foi indicado como adido na Embaixada de Israel, na Grécia.
O prof. Harry fez parte do grande time daqueles que, inicialmente, vieram para esta cidade, somente em busca da cura da tuberculose e que, após conseguir o intento, aqui permaneceu. Chegou a Campos do Jordão para tratamento de saúde em 1940 e foi lecionar no Grupo escolar “Dr. Domingos Jaguaribe” para a 3ª série primária.
Mais tarde chegou a lecionar Matemática no CEENE – Colégio Estadual e Escola Normal Estadual de Campos do Jordão, administrando aulas de Geografia, História, Francês, Inglês (sua principal especialidade, dominava o idioma português e outros idiomas, além do sueco, em virtude dos laços de paternidade, já que seu pai era sueco; a Física e outras matérias relevantes, como Matemática, e, eventualmente, Trabalhos Manuais.
No decorrer das décadas de 1950 a 1970, o prof. Harry ainda prestou relevantes serviços à nossa cidade e aos seus estudantes, especialmente na área da Educação.
O Professor Harry foi casado com a Senhora Selma Fernandes Lewin e tiveram sete filhos: Roberto, Carlos, Maria Helena, Rose Mary, Clarence, Paulo e Deodoro.
Participou de muitas atividades culturais em Campos do Jordão, prestou serviços para a Empresa de Ônibus Hotel dos Lagos, concessionária dos serviços de transportes coletivos da cidade, por várias décadas, sendo substituída pela Vila Natal Turismo e, posteriormente, pelo Expresso da Mantiqueira e hoje, Pássaro Marrom. Juntamente, com um grupo de amigos, prestou atividades na Biblioteca Municipal de Campos do Jordão por muitos anos, desde a época do prefeito Dr. José Antonio Padovan, até a sua morte em 07 de março de 1971.
Com muita paciência e a toda prova, seu estilo inigualável e simpatia, delicadeza e sabedoria, formava grupos de alunos, separados por disciplinas, como a Matemática, Física, Inglês, etc. e na sala principal da Biblioteca Municipal, na única mesa existente, em diversos horários de manhã à noite, incansavelmente, ia verificando os pontos fracos de cada um e formulando as suplementações necessárias.
A grande maioria dos estudantes que recorriam ao prof. Harry sempre obteve sucesso nas provas a que foram submetidos. E, todo esse trabalho, de grande profundidade para a geração estudantil da época, era feito gratuitamente. Após seu falecimento a 07 de março de 1971, os homens públicos jordanenses, sabiamente, eternizaram seu nome em na Biblioteca Pública Municipal.
Fontes:
GENGO SAKANE
Em junho de 1930 veio para o Brasil, com o pai Shunichiro Sakane, pelo navio Nakata Maru, dirigindo-se para a Colônia Bastos.
Em outubro de 1930 foi convidado pelo dr. Shiziuo Hosoe para prestar-lhe pequenos serviços, e quando este foi transferido para a capital em 1935, acompanhou-o, vindo residir em São Paulo. Durante esse período trabalhou no hospital Dojinkai e fez o curso de enfermagem na Santa Casa.
Em novembro de 1936, na conclusão das obras do Sanatório Dojinkai, de Campos do Jordão, Gengo Sakane é designado funcionário do setor médico, passando a enfermeiro-responsável, após receber habilitação em 1939. Em 1º de junho de 1971 assumiu o cargo de administrador do sanatório. Após a segunda guerra mundial o sanatório Dojinkai passou a denominar-se Sanatório São Francisco Xavier.
Pelos relevantes serviços prestados à comunidade, principalmente na assistência aos enfermos do sanatório São Francisco Xavier, ao qual se dedicou há mais de 50 anos, Gengo Sakane recebeu inúmeras condecorações:
Em junho de 1958, por ocasião do cinquentenário da imigração japonesa, foi agraciado com o diploma de reconhecimento e mimo do Ministro das Relações Exteriores do Japão, Aichiro Fujiyama. Em abril de 1971 recebeu o diploma de reconhecimento da Beneficência Nipo-Brasileira de São Paulo. Em maio de 1976 recebeu a comenda “Brigadeiro Couto Magalhães”, em solenidade na Câmara Municipal de Campos do Jordão. Em 15 de setembro de 1976, por ocasião do 40º aniversário do Sanatório São Francisco Xavier, recebeu da Beneficência Nipo-Brasileira de São Paulo, diploma de agradecimento. Em 29 de abril de 1978 foi condecorado com a comenda “Kun Rokutô” do Sol Nascente.
Fonte:
MASAKAZU, Arakaki. Sakurabana: Presença japonesa na Mantiqueira. Campos do Jordão: Lis Gráfica e Editora Ltda., 1988. 196 p.
Dr. Robert John Reid
Dr. Robert John Reid veio para Campos do Jordão em 1903, para a demarcação das terras de Vila Natal, então pertencente a Casa Nathan Societé Financiere, depois desse serviço, adquiriu, por proposta dos proprietários que estavam para extinguir a firma, a quase totalidade das terras de Campos do Jordão, mesmo porque, a estas, valor nenhum foi dado pela casa Nathan. Excetuada a Vila Jaguaribe, já então pertencente à família do mesmo nome, as demais terras passaram a pertencer ao Dr. Robert John Reid, compreendendo todo o vale de Campos do Jordão até a divisa de Minas Gerais, numa extensão média de 06 a 18 quilometros de largura.
Ordenou-se padre aos 24 anos, em 20 de abril de 1919 pelo Exmo. Núncio Apostólico D. Ângelo Scapardini. Em 1923 realizou seu sonho, tornando-se Vigário de uma Paróquia. Poucos meses depois, foi surpreendido por uma hemoptise.
Devido a sua peregrinação por várias cidades após sua ordenação, Pe. Vita adquiriu a tuberculose, doença esta que o fez vir para Campos do Jordão buscar sua cura, uma vez que a cidade era o polo brasileiro para o tratamento desta epidemia. Com a preocupação em ajudar pessoas necessitadas, o padre iniciou seus trabalhos com um grupo de homens enfermos, mas seu grande sonho era dar amparo às crianças.
Padre José Vita foi o terceiro Pároco da Igreja de Santa Terezinha, de 16 de setembro de 1930 a 18 de janeiro de 1931.
No começo do ano de 1926, Padre Vita devido sua saúde veio residir em Campos do Jordão, na Vila Abernéssia. Nesta cidade ele deparou com um grande número de tuberculosos e indigentes que vinham de várias partes à procura da cura de suas enfermidades pelo clima, que era propagado como benéfico a tratar das vias respiratórias. No entanto esses doentes ficavam alojados em casebres ou porões sem as menores condições de higiene. Vendo esta situação caótica que enfrentava o município, e com a intenção de minimizar este problema, construiu um grande pavilhão de madeira dotado de requisitos de higiene para dar assistência e conforto. Inaugurado em 1933, recebeu de imediato 24 doentes, dando aos mesmos um regime sanatorial com certo conforto e assistência médica.
O estabelecimento foi imediatamente lotado, e novos casos começaram a aparecer. Foi ampliado, e logo após tratando de 150 homens. Foi a primeira fase da existência do Sanatório São Vicente de Paulo. Em 1935 a conselho de vários médicos, e diante dos designo de Deus, Padre Vita transforma o abrigo em Sanatório para crianças tuberculosas. Feitas as modificações necessárias, em agosto de 1935 recebe a primeira criança tuberculosa. Como o pavilhão era de madeira e emergencial, resolve construir um grande Sanatório, com capacidade para 250 leitos e dotado de requisitos modernos e necessários para o combate à tuberculose infantil. O novo Sanatório foi inaugurado no dia 28 de abril de 1946 e dezenas de crianças foram transferidas ali.
Em 19 de março de 1954, inaugura a Casa da Criança Hospital Infantil, pois tinha como principal objetivo a assistência à saúde infantil. Havia também, o caráter assistencial com doação de sopas às crianças em extrema pobreza e doação de leite para as mães carentes. Apesar das dificuldades, e com o apoio de voluntários, conseguiu criar a chamada "Casa da Sopa", onde era distribuída comida gratuitamente e mais tarde fez o hospital para crianças.
Três Congregações deram assistência às crianças internadas: Irmãs de Maria Imaculada de São José dos Campos, irmãs Franciscanas, alemães, residentes em Pindamonhangaba, e a Congregação Franciscana do Coração de Maria de Campinas. Durante alguns anos muito se dedicaram. Padre Vita sentindo meio desamparado com a situação de dependência de outras instituições para dar continuidade ao trabalho que vinha desenvolvendo, teve a ideia de formar um grupo de moças para dar continuidade ao trabalho. No dia vinte e nove de junho de 1949, benzeu as medalhas e fez a imposição em cada uma das Oblatas. Assim ficou fundada a nova Associação, lavrada em ata e assinada pelas Oblatas Brasília Leite Soares, Maria das Dores Panisio, Benedita Miguel Dias, Maria Aparecida Monteiro, Elvira Maria da Conceição, Odila Oliveira Araújo, Sebastiana da Silva, Maria de Lourdes da Silva, Neuza Vaz da Silva. Em 26 de setembro de 1963 pelo Decreto contido nos Cânones 684-709-719, do Código de Direito Canônico e nos termos de seus estatutos, é erigida a piedosa Associação em Pia União, com o nome de Instituto das Filhas de Nossa Senhora das Graças. O Decreto Diocesano de 26-09-1963 aprova como Pia União, o Instituto das Filhas de Nossa Senhora das Graças inspirada na fundação do virtuoso Monsenhor José Vita, continuando a beneficiar os pequenos do rebanho, os pobres e doentes.
Ratificando o Decreto, no dia 1º de outubro de 1966, a escrita é assinada pelo Bispo Dom Francisco Borges do Amaral. Finalmente, com as graças e as bênçãos de Deus, o grande dia da entrega do Decreto de Ereção Canônica do Instituto das Filhas de Nossa Senhora das Graças, foi dada e passada no dia 25 de dezembro de 1981 por Dom Antonio Afonso de Miranda, Bispo de Taubaté.
O Instituto das Filhas de Nossa Senhora das Graças, constitui uma Família Religiosa, de direito diocesano. Têm como trabalho a assistência social em especial os desfavorecidos. Empenhado em resgatar a memória dos personagens que fizeram parte da história de Campos do Jordão, o Instituto do Patrimônio Histórico Artístico, Arquitetônico, Ambiental e Cultural (IPHAC) em parceria com o Instituto das Filhas de Nossa Senhora das Graças, abrirá para visitação o "Memorial Monsenhor José Vita".
No dia 7 de setembro de 1954, foi agraciado por decreto do Papa Pio XII, com o honroso título de Monsenhor Camareiro Secreto de S. Santidade, presente o Governador Lucas Garcez, e em 30 de abril de 1959, com o título de Cidadão Honorário de Campos do Jordão.
Em 1969, foi Inaugurado no Auditório Padre Vita o busto do Monsenhor, em homenagem ao seu jubileu áureo sacerdotal.
Faleceu em Campos do Jordão, no dia 13 de dezembro de 1972, às 23:45 horas, assistido por suas Irmãs, chefiadas por Odete Freire e pelos seus médicos e amigos, Drs. Franklin A. Bueno Maia e Alfonso Chung Zumaeta, aos 77 anos, e desde então, devido a importância de seu trabalho com o povo, existem espalhados pela região algumas creches e ruas que levam o seu nome, com o intuito de homenageá-lo.
Em sua homenagem póstuma, a via de acesso ao Sanatório São Vicente de Paulo, passou a ser denominada de “Rua Monsenhor José Vita”, e bem assim a Escola de 1° Grau de Vila Abernéssia. Apagara-se uma luz na terra, e começou a brilhar mais uma estrela no céu.
A frase mais conhecida e citada pelo Padre Vita era: "As crianças são as flores perfumadas no jardim de Deus"
Simão Cirineu Saraiva
Simão Cirineu Saraiva, figura de destaque no município, um dos pioneiros de Campos do Jordão, filho de escravos, foi criado pela família Macedo Soares, considerado irmão de criação. Chegou na década de 1910 e foi amigo e homem de confiança do Embaixador José Carlos de Macedo Soares, responsável pela urbanização da Vila Capivari, que o contratou como encarregado daquelas obras.
Durante as festividades carnavalescas, o folião ORLANDO GARCIA DE MELO, conhecido popularmente como Orlandinho, desfilava pelas avenidas centrais de Vila Abernéssia com a maravilhosa fantasia que lhe valia o prêmio de primeiro lugar.
Jagobo Pan
Fonte:
Aércio Luiz de Oliveira
Aércio Luiz de Oliveira, Filho de Benedito Vasconcellos de Oliveira, nasceu em 05 de setembro de 1931, foi um grande açougueiro que durante vários anos, esteve estabelecido no centro de Vila Capivari.
Em meados da década de 1950, no
conjunto comercial pertencente à D. Olga Dias Afonso, composto de 14 lojas, nas
proximidades do Bar São Luiz, na descida que vai para o Tênis Clube, existia a
porta comercial do açougue Capivari, de propriedade dos Irmãos, Plínio
Vasconcelos de Oliveira e Aércio Luiz de Oliveira.
Esse açougue, na mesma década de 1950,
foi vendido pelo alemão, Sr. Helmutt Bügner, para o sr. Plínio Vasconcellos de
Oliveira, grande conhecedor dessa sua atividade profissional. Infelizmente, não
se dedicou à continuidade da fabricação dos famosos embutidos fabricados pelo
seu antecessor.
A placa de identificação desse açougue
foi idealizada e desenhada pelo sr. Orestes Mário Donato, projetista,
fotógrafo, desenhista, jornalista e confeccionada por Emile Xavier Raymond
Lebrun, hábil com a famosa serrinha tico-tico.
Na verdade, toda a família trabalhou
no mesmo ramo, desde seu pai e os irmãos Aércio Luiz de Oliveira e Benedito Vasconcellos
de Oliveira Filho. Esses dois irmãos começaram a trabalhar no açougue do irmão
Plínio; depois, cada um instalou seu próprio açougue. Aércio Luiz de Oliveira, a
partir da década de 1960, se estabeleceu com o ramo de açougue, tornando-se o “Açougue
do Aércio”, até hoje em funcionamento, sob a direção de seus filhos.
A partir de 22 de agosto de1972, o açougue, comercio
varejista de carnes, mudou-se para a Vila Albertina.
O local onde estava sediada a criação
de porcos ou, como se diz na linguagem popular, o chiqueiro, era na antiga
propriedade que pertenceu ao pai do Aércio, o Sr. Benedito Vasconcellos de
Oliveira, situada no Vale Encantado, nas proximidades da sede da Sociedade de
Altruísmo e Amor – SAA, especializada nas atividades relacionadas ao ensino,
numa sociedade para criação de porcos no sistema denominado “meia”, com as
despesas e lucros divididos em partes iguais.
De família tradicionalmente ligada ao
ramo do comércio de carnes e derivados e, também, à criação de suínos e
bovinos, era um profissional na arte de lidar com as diversas qualidades de
carnes.
Tinha boa prática para identificar
suínos pelo sexo, para a venda. Com toda sua prática no ramo, portava um laço
tradicional, feitos especialmente de couro escolhido e tratado, trançado por
especialista na arte, da forma mais tradicional e necessária, para laçar
porcos.
Atualmente, no local desse prédio,
está instalado o “Pátio Paris”, com suas lojas comerciais, restaurantes etc.,
grande ponto de atração turística da Vila Capivari em Campos do Jordão.
Aércio Luiz de Oliveira faleceu em 31 de agosto 2009.
Há muitos anos, um dos radialistas que entrava em nossa casa, todos os dias, na hora do almoço, e sem pedir licença, era o locutor e apresentador, Adib Iazbeck. Possuindo “poder”, com a sua voz bela e rouca, dizia:
“Olá, amigo ouvinte! Boa tarde! São 12h em ponto. O dia hoje está de sol com poucas nuvens!”
Era assim que muitas vezes recebíamos em nossas casas, a sua voz, e nos mantinha informados sobre os últimos acontecimentos da cidade, da política, do esporte, da economia e sobre atualidades.
Adib Iazbeck, apresentava os programas esportivos, e o “Jornal Falado do Meio-dia”, com muita eloquência e empolgação. Trazia informações quentinhas, pertinentes à nossa vida de forma eficiente e clara. E tudo isto, sob o patrocínio do “Laticínio Bel-Air”, fundado em Campos do Jordão na década de 1950, por Francisco Kenworth de Azevedo; e do Café Mané, de Manoel Pino.
Homem de pequena estatura, franzino, caminhava um pouco arqueado, porque nesses 12 anos de internação, passou por uma cirurgia de toracoplastia, para a retirada de uma das costelas, que possibilitava a extirpação de parte do pulmão atingido e comprometido pela tísica pulmonar. Foi um homem que venceu o mal do século.
Casou-se com Dulce Rodrigues Iazbeck em 18 de março de 1961, com quem teve os filhos, Luiza Helena Rodrigues Iasbeck, Marco Antonio Iasbeck e Luiz Cezar Iasbeck.
Adib Iazbeck foi um excelente profissional, sempre preocupado em oferecer um conteúdo de qualidade e de forma ágil, apresentando programas jornalísticos, divulgando notícias, esportes e inúmeras entrevistas para a história de Campos do Jordão.
Muitos acreditam que o trabalho do radialista se resume apenas à locução do rádio. Engano. Nem tudo são flores nessa vida de radialista. Essa profissão envolve várias nuances, são locutores, operadores, sonoplastas, roteiristas, produtores entre outras funções. Uma profissão repleta de desafios. Além de ser aquele que fala, de fato, nas rádios, ele também é aquele que opera aparelhos, oferecem meios alternativos tecnológicos.
Amante de Campos do Jordão, ativo participante da vida pública, foi vereador à Câmara Municipal de Campos do Jordão, na 7ª legislatura, entre 01 de janeiro de 1973 a 31 de dezembro de 1976. Polêmico, cobrava ações dos governantes municipais e não tinha medo e entendia profundamente de política. Figura notável da comunicação em Campos do Jordão. Foi uma marca registrada na cidade.
Adib Iazbeck, foi uma pessoa solidária. Atuante nas comunidades menos favorecidas, ajudava as pessoas mais carentes, fazendo campanhas em seus programas. Fazia campanhas para a melhoria das casas de famílias menos abastadas, auxilia enfermos, encaminhando-os para os sanatórios, e prestava socorro aos animais de rua, abandonados. Além disso, distribuía brinquedos às crianças, na época de natal.
De fato, foi um radialista muito especial. De alguma maneira, conseguia deixar seus problemas de lado para transmitir toda sua energia!
De bem com a vida, sempre sorridente e com os óculos escuros, brincalhão, cheio de sugestões e sempre levando a sua mensagem para as pessoas que gostavam de ouvir o rádio, Adib Iazbeck, era torcedor do Abernéssia Futebol Clube. Foi uma pessoa simples, mas com um jeito diferente de se comunicar.
Adib Iazbeck participou da inauguração do Restaurante do Belvedere do Morro do Elefante, no início da década de 1970.
Adib Iazbeck. Seu nome, de origem árabe, significa, homem instruído, educado. Verdade. Um homem sério, trabalhador, onde todos os dias tinha hora marcada para conversar com os seus ouvintes. Levava a sério a sua profissão, que nela cria e a ela se dedicava, prestava um serviço de inestimável valor à coletividade.
Cônsul Alexandre da Silva Vilela
O
Brigadeiro Manoel Rodrigues Jordão faleceu em 27 de fevereiro de 1827,
sem sequer conhecer as terras da sua Fazenda “Bom Sucesso”. Por ter
adquirido a Fazenda na época das festas natalinas, deu-lhe o nome de “Fazenda
Natal”. Achava-se jurisdicionada à Comarca de São Bento do Sapucahy.
Dona
Gertrudes Galvão de Oliveira Lacerda, viúva do Brigadeiro Jordão, ampliou a
área da Fazenda Natal com a aquisição de parte da Fazenda São Pedro, dos
herdeiros de João da Costa Manso.
Sua
esposa sobreviveu 21 anos, e em 01 de fevereiro de 1848, faleceu. Com sua
morte, cada filho vendeu a sua parte da Fazenda Natal.
O
alferes Amador de Lacerda Rodrigues Jordão (Barão de São João do Rio
Claro), vendeu aos irmãos Antonio e José de Godoy Moreira, que formaram as Fazendas
da Guarda e do Retiro.
Manoel
Rodrigues Jordão alienou ao Banco
do Brasil que, posteriormente, vendeu a Júlio Pinto Rabello Pestana, que formou
a Fazenda Capivary.
Os
herdeiros da filha, Ana Eufrosina Rodrigues Jordão, venderam sua parte a
diversos compradores, que a revenderam em lotes.
O
coronel Silvério Rodrigues Jordão vendeu, em 29 de novembro de 1854, ao
Capitão Urbano Marcondes Machado e Domingos Marcondes Homem de Mello (irmão de
Francisco Marcondes Homem de Mello, Visconde de Pindamonhangaba).
O
Capitão Urbano Marcondes Machado, filho de José Machado da Silva
e Clara Francisca do Amaral, residiu em uma de suas fazendas em Pindamonhangaba,
com criação de gado. Foi vereador nos anos 1858- 1860, em São Bento do Sapucaí.
Foi
também proprietário do sítio “Torto”, no distrito da Vila de São Bento
do Sapucahy, com casas, máquinas, pastos, cafezais e duas casas de escravos. Casou-se
com Maria Caetana Marcondes Machado.
No
dia 29 de abril de 1874, o português Matheus da Costa Pinto, fazendeiro,
erradicado em Pindamonhangaba, comprou terras do Agente Consular, Alexandre
da Silva Villela, antes propriedade do capitão Urbano Marcondes Machado,
criador de gado.
Eram
as fazendas Humaitá, Bahú e Imbiri, duas das quais, nos cimos da
Mantiqueira.
A
Fazenda Bahú, na década de 1920, já era propriedade do sr. Cândido
Rodrigues Salgado. Dista 9 km. da cidade de São Bento do Sapucaí, em posição
alta e dominante, donde se descortinava amplo e vasto panorama, a 7 km. de
Campos do Jordão.
Compreendia
300 alqueires de boas terras de cultura e era banhada pelo Ribeirão do Bahú,
que atravessa a Fazenda, e o Ribeirão do Barrado, que também banhava a Fazenda.
Nesta
bela Fazenda, cultivada com muito amor pelo proprietário, sr. Cândido
Rodrigues Salgado, encontravam-se 500 rezes, muito bem tratadas que
produziam leite de ótima qualidade, suínos e cavalares para o uso da Fazenda, e
criação de carneiros. Havia cultura de cereais em geral e de ótimo fumo.
Também, engenho de cana.
Cândido
Rodrigues Salgado, era um homem
muito laborioso digno de toda admiração pelo seu caráter bondoso e pelo muito
amor ao trabalho, a que se dedicava com todo o ardor, constituindo sua
propriedade um belo exemplo de cultura, de criação digna de ser imitado.
O
Português nascido na cidade de Braga, Portugal, Alexandre da Silva
Villela, filho de Francisco Manuel da Silva e Mariana Fernandes Villela,
era proprietário e morador de uma fazenda, situada no Ribeirão
dos Mottas em Guaratinguetá, Província de São Paulo.
Sua
esposa, Cândida Ribeiro da Fonseca Villela, faleceu a 28 de junho de
1862. Eis o necrológio escrito por um desconhecido, para o jornal “Correio
Mercantil”, do Rio de Janeiro:
À
MEMÓRIA DA ILMA. E EXMA. SRA. D. CÂNDIDA RIBEIRO DA FONSECA VILLELA, OFERECIDO
AO SEU INCONSOLÁVEL ESPOSO, O ILMO. SR. ALEXANDRE DA SILVA VILLELA.
“O Reino dos céus é semelhante àquele que
semeara bom grão em seu campo”
(S.
Matheus, cap. XIII.)
Perdido p’ra sempre
alma tão pura,
Só nos resta, oh! Que
dor, o pranto só!
Christãos, por piedade
orai por ella,
Tão digna de pranto,
luto e dó!...
Panteai, christãos, a
perda imensa,
Infausta perda que a
saudade exprime;
A dor minore, no
derramar dos prantos,
É este consolo a que
ninguém s’exime.
“O
anjo da morte esvoaçando as suas sinistras azas acaba de ferir uma boa e
virtuosa esposa, uma terna e desvelada amiga, que baixou ao túmulo coberta das
bênçãos da humanidade inteira!
Já
não existe sobre a face da terra a exma. Sra. D. Cândida Ribeiro da Fonseca
Villela, muito digna esposa do ilmo. Sr. Alexandre da Silva Villela.
Triste
e dolorosa decepção... amarga realidade. Viestes ainda uma vez provar-nos a
fragilidade desta vida de ilusões e de quiméricas grandezas, que passão rápidas
sobre a terra e some-se para sempre ante o fúnebre clarão do túmulo, onde cai o
cadáver para nunca mais se levantar!
Arrancada
nos afetos íntimos do consorte que a adorava; roubada às carícias das amigas
que a idolatravam: ei-la, a esposa e amiga extremosa inanimada de um sublime
composto de raras virtudes, de amor, de carinhos, que todos apreciavam com o
sentimento da mais profunda veneração neste mundo... Ei-la cadáver, a esposa e
amiga que tanto avultara pela ilustração dos seus virtuosos sentimentos; ei-la
presa das entranhas da terra, aquela que deveria sempre imperar nesta vida
sobre um trono de perenes gozos, pela excelência e realeza de suas preconizadas
virtudes.
Desgraçadamente
morreu! Mas, felizmente, ficou a memória de suas virtudes, que não pertencem ao
túmulo, mas sim ao renome e à posteridade”.
Por um seu reconhecido,
S. I. J.
Rio, 28 de junho de 1862.
Passados
15 anos, em 1877, Alexandre da Silva Villela, contraiu segundas núpcias com Maria
do Carmo de Oliveira Villela, filha do Visconde Guaratinguetá,
Francisco de Assis e Oliveira Borges, um dos barões do café no Brasil.
Em
01 de janeiro de 1877, o casal deu sociedade na fazenda, em Guaratinguetá, ao
seu enteado e filho, José Villela de Oliveira Marcondes.
Alexandre da Silva Villela, foi Agente Consular de Portugal (Vice-Cônsul), na cidade de Guaratinguetá, de 1863 a 1887. A Agência Consular tem as mesmas funções de um consulado, porém sem a presença do Cônsul-geral. Ao fazer parte do Quadro do Corpo Consular Estrangeiro do Ministério das Relações Exteriores, apresentou-se em 19 de março de 1877 ao cumpra-se da presidência, o exequatur.
De origem latina, a expressão “exequatur”, ao pé da letra, significa "execute-se", "cumpra-se". Bastante presente no Direito Internacional Brasileiro, é um documento autorizador de um Estado para executar as funções de um cônsul.Assim, o exequatur simboliza a jurisdição consular, sua sede da repartição e também atesta a qualidade de cônsul do representante do Estado.
É de se lembrar que nesse caso a competência para a concessão do exequatur é do Superior Tribunal de Justiça do governo imperial, à sua nomeação para Agente Consular de Portugal. Em 1898 se ausentou por motivo de doença.
Em 1884, Alexandre da Silva Villela também foi capitalista, proprietário com Victorino José da Fonseca da firma Alexandre & Victorino; mais tarde, com Ignácio da Silva Carvalho, na firma Silva Carvalho & Cia., ambos, de um comércio de calçados no Rio de Janeiro, à Rua da Quitanda, 118 e 141. Em 1891, com Luiz Antonio Pimentel de Castro e Matheus Ribeiro do Val, no comércio de comissões de café, ainda nesta praça.
Na
cidade de Guaratinguetá, Alexandre da Silva Villela foi nomeado agente da pia
instituição, “Real e Benemérita Sociedade Portuguesa Caixa de Socorros D.
Pedro V” - fundada em 1863 como entidade de auxílio geral para os cidadãos
portugueses. Propósito: Associação de socorros mútuos de imigrantes
portugueses. Sede: Rua Marechal Floriano, 185 - Rio de Janeiro RJ.
Até
30 de março de 1876, a Vila de São Bento do Sapucahy pertencia ao município de
Pindamonhangaba.
Fontes:
Álbum comemorativo, “Centenário de São Bento do Sapucahy”
1828-1928.
Jornal “O Piratininga”, de 24 de agosto de 1849;
Jornal “O Ypiranga”, de 02 de outubro de 1868;
Jornal “Pindamonhangabense”, de 15 de novembro de
1874;
Jornal “Diário de S. Paulo”, de 08 de novembro de
1868; 11 de março de 1877; 31 de janeiro de 1878;
Jornal “Correio Paulistano”, de 22 de setembro de
1864; 19 de outubro de 1898;
Jornal “Correio Mercantil”, de 29 de junho de 1862;
Jornal “Jornal do Commercio”, de 05 de janeiro de 1867;
Jornal “Jornal do Povo”, de 14 de janeiro de 1877;
Jornal “Gazeta de Notícias”, de 04 de setembro de
1877; 22 de maio de 1887;
Genealogia Paulistana;
SECKLER, Jorge. Almanach do Estado de São Paulo para 1890.
Jorge Seckler e Cia. São Paulo, 1890.
Almanak da Província de S. Paulo, de 1873;
Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de
Janeiro; (RJ) - 1844 a 1885;
Museu Paulista da USP;
Periódico “Indicador de S. Paulo”. 1878;
Periódico “Província de S. Paulo”. 1873;
Câmara Municipal de São Bento do Sapucaí.
Links:
https://www.camarasbs.sp.gov.br/mesas-diretoras
Amadeu Farina, o Barbeiro da Família Matarazzo
Com a compra e o processo de desapropriação da Fazenda de São Caetano SP, teve início em setembro de 1876, um núcleo colonial visando a colonização de terras por imigrantes. Os imigrantes nortistas, vindo da região do Vêneto, a princípio instalaram-se nos núcleos coloniais como o de São Caetano.
A legislação brasileira estabelecia o tipo de imigrante que
lhe interessava para ingressar no país: exigia um certificado de boa conduta,
proibia o embarque de menores de 12 anos sem acompanhantes, de pessoas idosas,
de indivíduos com algum tipo de deficiência e estava atento para a proporção de
homens e mulheres solteiros. A Itália foi um país fornecedor de mão-de-obra
barata em fins do século XIX, por suas condições sócio-políticas e econômicas.
Os imigrantes de São Caetano embarcaram em 1877 no vapor
Europa na cidade portuária de Gênova e desembarcaram em Santos. Vieram de trem
para a Hospedaria dos Imigrantes na cidade de São Paulo, local onde todos se
dirigiam quando chegavam ao país, permanecendo lá por oito dias.
Depois da parada obrigatória na Hospedaria, os italianos
rumaram para São Caetano, de trem. A ferrovia construída pelos ingleses havia
sido inaugurada em fevereiro de 1867, com algumas paradas nos locais
considerados mais importantes. A estrada de ferro, que ligava as cidades de
Santos-Jundiaí, foi a primeira a ser construída no Estado de São Paulo.
Nem todas as famílias que chegaram em julho de 1877
permaneceram em São Caetano. Muitos mudaram para as colônias do Sul do país, na
região do atual Estado do Rio Grande do Sul, outros foram para a Argentina e
outros voltaram para a Itália. No recenseamento de abril de 1878, constam em
São Caetano 172 pessoas, de um total de 251 que chegaram em julho de 1877.
Há registros de pelo menos 200 pessoas da família Farina que
entraram no Brasil provenientes da Itália, muitas delas trazendo consigo seus
filhos ainda crianças. Isto ocorreu principalmente no período de 1886 a 1897. São
Caetano do Sul é uma das cidades com mais descendentes de italianos de todo o
Estado de São Paulo.
Naquela época de 1886, a Itália estava no regime monárquico,
tendo como rei Humberto I. Era um tempo onde os conflitos bélicos ocorriam
frequentemente.
Nápoles
é uma cidade do sul de Itália, terceira cidade mais populosa, após Roma e Milão.
Fica no Golfo de Nápoles, próxima ao Monte Vesúvio, vulcão ativo que destruiu a
cidade romana de Pompeia. Fundada no segundo milênio a.C., Nápoles tem séculos
de arte e arquitetura. A catedral da cidade, o Duomo di San Gennaro, é repleta
de afrescos.
Outros
monumentos importantes são o suntuoso Palácio Real e o Castel Nuovo, um castelo
do século XIII. É conhecida mundialmente pela sua história, sua música, seus
encantos naturais e por ser a terra natal da pizza. O centro histórico de
Nápoles é Património Mundial da UNESCO.
No
final do século XIX, vivia em Nápoles, Miguel e Ana Farina,
e no início do século XX,
o casal napolitano, tiveram filhos. Após o nascimento do primogênito, Miguel
Farina, nascia, em 1901, Amadeu Farina.
Logo após, em 1903, imigraram para o Brasil. Desceram dos
trens em São Caetano do Sul em busca de uma vida melhor e ajudaram a construir
a cidade com amor e respeito. Amadeu Farina contava nessa época, com 2 anos de
idade.
O nome, Farina, é difundido em toda a Itália. Consta em
alguns registros que esse sobrenome teve origem em uma alcunha, ou seja, um
apelido indicativo de farinha, em italiano "farina". O apelido era
usado para referir-se a alguém que trabalhava ou cuja ocupação era relacionada
com farinha. Até os dias de hoje, há pequenas cepas “Farina”, em Nápoles.
O primogênito, Miguel Farina, já morava na cidade de São
Caetano do Sul e trabalhava na capital. Em 1918, com o seu casamento com
Assunta Scarpa, que morava em São Paulo, fixaram residência em São Caetano.
Tudo seguia como antes e a família Farina permanecia unida.
Na bela casa da rua Manoel Coelho, criou o Instituto de Beleza Santa Terezinha
era uma referência muito importante, principalmente pela amizade que todos da
cidade dedicavam à família.
A profissão de Miguel Farina era um dom que poucas pessoas
tinham (e tem), porque não se aprende apenas: é preciso ter muita
sensibilidade, bom gosto e talento. Ele era cabeleireiro de senhoras e
senhoritas, e foi o primeiro a cuidar dos cabelos das mulheres de São Caetano. Ele
iniciou uma renovação na aparência das mulheres, com cortes e penteados novos.
As novas modas eram o curtíssimo la garçonne, as ondas com ferros quentes e
o misampli.
Amadeu Farina, morou, estudou e adquiriu as habilidades de
barbeiro desde moço, junto com seu irmão mais velho, Miguel Farina.
O Instituto de Beleza Santa Terezinha era uma referência
muito importante, principalmente pela amizade que todos da cidade dedicavam à
família.
A família Farina é, até hoje, lembrada e reconhecida como a empresa
que ajudou muito no desenvolvimento de São Caetano.
Em meados de 1945, após viver longos anos com a família em
São Caetano do Sul, aos 44 anos, Amadeu Farina veio morar em Campos do Jordão.
Conheceu Maria de Lurdes com quem viveu junto desde 1950, quando então se
uniram em matrimonio no dia 29 de maio de 1968 e tiveram três filhas.
Amadeu Farina foi um pai maravilhoso, um bom marido e um avô
amoroso. Era muito querido.
Morou na antiga casa situada
na esquina com a Rua Camilo de Morais, onde, por vários anos, esteve instalada
a primeira Agência do Expresso Zefir, empresa que mantinha frota de automóveis
para transporte de passageiros entre Campos do Jordão, São Paulo e Santos e vice-versa.
Durante os 38 anos que viveu em Campos do Jordão, fez muitos
amigos.
Com as habilidades alcançadas em São Caetano do Sul e seu
talento profissional, foi proprietário
do “Salão Capivari”, com o ramo de corte de cabelo e barbearia. Foram nesses tempos
áureos, que cortou muito o cabelo da família Matarazzo.
O último dos 13 filhos de
Francisco Matarazzo, Conde Luiz Eduardo Matarazzo, veio para Campos do Jordão,
com sua esposa Bianca Troise, onde possuiu várias residências, dentre elas, o
sobrado situado na Chácara Vila Abernéssia, comprado da família do Dr. Reid, no
ano de 1944.
Outra residência, do Alto do
Toriba, propriedade situada na Av. Ernesto Diederichsen, há nos seus muros, no
seu lado direito, a frase: QUIETUDE… Na tranquilidade dos montes e na liberdade
dos campos…”.
Na década de 1950, com o seu
talento em tocar violino, participou da famosa orquestra do Herculano Pestana,
grande músico e saxofonista, animando e abrilhantando muitos bailes da cidade.
Nas horas de folga,
procurava complementar seus rendimentos fazendo cúpulas de “abat-jour”, com
palhinhas de espécie de junco, colhidas por ele mesmo nas proximidades de
alguns lagos de Campos do Jordão, onde o material era abundante. Ao se
aposentar, Amadeu Farina, foi morar na antiga rua Circulista em Vila Guarani,
não deixando de fazer outros artesanatos.
Amadeu Farina faleceu em 04
de maio de 1982, deixando história, registro, memória e saudades...
Fontes:
Revista “RAÍZES”,
nº 37 ANO XX - São Caetano do Sul - julho de 2008;
CARNEIRO, José F. D. Imigração e colonização no Brasil.
Rio de Janeiro: Universidade do Brasil, 1950;
Imigrantes Italianos no Núcleo Colonial de São Caetano do Sul – Eliane Mimesse;
Depoimento da filha, Alzira Godoy, em 29 de novembro de 2020.
Links:
https://sites.google.com/site/genealogiafarina/origem-e-significado-do-sobrenome-farina
Antoninho da Rocha Marmo
Naquela época, era bastante comum o parto em casa, realizado pelas mãos de hábeis parteiras. Sua mãe chamava-se Maria Isabel da Rocha Marmo.
Veio ao mundo numa época de luto para o Brasil, pois grassava em nosso país a terrível epidemia denominada “Gripe Espanhola”.
Oriundo de uma família muito religiosa, desde muito pequeno Antoninho gostava dos ritos católicos e tinha bastante apreço em celebrar missas. Sua religiosidade era tamanha que todos apreciavam observar a dedicação do garoto com sua fé.
Além da dedicação ao culto católico, comentava-se que o jovem tinha uma tinha o dom de predizer fatos futuros, e em uma destas ocasiões teria, inclusive, previsto sua morte ainda jovem.
Acreditam seus devotos que ele já nasceu predestinado. Desde cedo, revelou-se um menino diferente dos demais. De uma inteligência fora do comum e de uma bondade sem limites, adorava tudo que tivesse relação com a Igreja. Venerava o papa e todos os seus ministros e contava com inúmeros amigos entre a classe clerical. O padre Olegário da Silva Barata, um de seus maiores amigos, após a sua morte, escreveu um livro intitulado “Antonio da Rocha Marmo (Antoninho)”, aprovado pelas autoridades eclesiásticas de São Paulo. Pessoas pobres sempre recorriam ao menino quando se encontravam em dificuldades. Nunca ele deixou de atendê-las.
Certa vez foi visitar a madre superiora da casa de Misericórdia de São Paulo, a irmã Águeda, que estava muito doente. À saída, voltando-se para a pessoa que o acompanhava, disse tristonho: ”Pobre irmã Águeda; não viverá muito”. Depois, vendo ao longe diversas irmãs de caridade, falou: “Olhe, ali vai a futura madre superiora, a irmã Eugenie”. E foi o que realmente aconteceu.
Noutra ocasião, conversando com a irmã de caridade Maria Vicentina, da Congregação de São José, afirmou que a questão romana existente entre a Santa Sé e o reino da Itália seria liquidada com a vitória da Igreja pelo Sumo Pontífice Pio XI, então reinante. Antoninho tinha, nessa época, 6 anos de idade.
Cinco anos depois, em 1929, essa previsão tornava-se realidade. Um dos fatos mais surpreendentes, porém, é contado pela própria mãe do menino. Certa vez encontrava-se a um tanto, triste, pensando na doença do filho. O menino aproximou-se e disse: “não fique assim, mamãe. Eu estou doente, mas essa é a vontade do senhor”.
E qual novo São Francisco de Assis: “_A senhora está vendo aquele pintassilgo na árvore do jardim? Se eu fizer com que ele venha pousar no meu dedo e cantar, a senhora acreditará que é vontade Dele que me encontro nesse estado? E o pássaro voou de onde estava e veio cantar no dedo do menino. Tinha piedade das crianças doentes como ele e que eram menos afortunadas. Imaginou a criação de um sanatório em São José dos Campos para meninos tuberculosos pobres. Com suas próprias economias chegou a adquirir um terreno para esse fim.
Antoninho ficava embevecido vendo os padres celebrar missa na igreja local. Dom Epaminondas, que era Bispo de São Paulo, ao saber desse fato, mandou de presente para o menino, por intermédio do padre Olegário, um lindo e pequeno altar portátil, acompanhado dos paramentos necessários às cerimonias do culto católico. Antoninho armou o altar ao fundo de sua casa a ali, diariamente, passou a “celebrar” missa, assistido por dezenas de pessoas que o acreditavam assistido por poderes sobrenaturais. Sem conhecer uma só palavra de latim, lia e interpretava o missal. As cerimonias litúrgicas eram executadas com tanta fé e convicção que chegavam a atrair os incrédulos.
Dedicadíssimo aos estudos, Antoninho passava horas trancado no quarto em companhia dos seus livros escolares. Isto, porém, acabou por prejudicá-lo. E o menino foi definhando dia a dia.
Examinado por um médico, constatou-se que estava fraco do pulmão e necessitava urgentemente ir para longe da capital paulista. Doente de tuberculose, Antoninho passou a morar em São José dos Campos. Por decisão dos pais, foi transferido para Campos do Jordão.
Um dia, em Campos de Jordão, soube que fora detido um pobre homem, surpreendido com o porte irregular de um revólver, achado no mato. Antoninho interessou-se pelo caso. Demandou à Delegacia, a fim de falar ao delegado que era, então, o dr. Caio Machado Leite Sampaio. Não o encontrou. Falou ao carcereiro.
Pediu-lhe que transmitisse por favor à autoridade a sua solicitação: "Diga ao delegado assim que chegar que Antoninho quer a liberdade do preso". E como lembrete desenhou uma caricatura qualquer sobre a escrivaninha do delegado.
"_Faço esta careta no caso do sr. esquecer-se de transmitir meu recado. O delegado, vendo-a, há de perguntar quem a fez. O sr. dirá então que fui eu e fará o meu pedido".
E assim aconteceu. A autoridade ali chegando achou estranho o desenho. Interpelou o carcereiro, que lhe contou tudo. O dr. Caio Machado, com aquela bondade que lhe era peculiar, foi em pessoa à procura de Antoninho, que lhe contou do interesse em favor do seu "constituinte". O delegado, que não o conhecia, achou curioso os modos do garoto. E declarou-lhe que mandaria por em liberdade o detido. Assim o fez; porém, por medida de precaução, despachou-o para Pindamonhangaba.
O homem, profundamente reconhecido ao gesto de Antoninho, regressou a Campos do Jordão, a fim de agradecer-lhe pessoalmente, trazendo de presente uma cabra e dois cabritinhos. O garoto enternecido com a atitude do pobre camponês, fez-lhe ver que a Deus devia agradecer e não a ele, e negou-se a receber o presente, aconselhando-o a vendê-lo, pois era pobre e necessitava de dinheiro.
Descendo, dias depois, de Campos de Jordão para S. José dos Campos, compôs esta interessante quadrinha:
“Deixei o que perdi, em Campos de Jordão! Saio soldado raso. Para lá ganhar galão!”
Nessa cidade o menino criou uma verdadeira legião de admiradores.
Antoninho da Rocha Marmo, não se adaptando ao clima de Campos do Jordão, voltou, dois anos depois, para São José dos Campos. Ele nunca lamentou a sua sorte, sofrendo com resignação.
Àqueles que se mostravam tristes por sua causa, ele lhes dizia que não deviam lamentá-lo, pois “esse era o desejo do criador e a Ele era submisso”.
Seu estado agravava-se cada vez mais, todavia ele nunca se descuidava de suas atividades caridosas, ajudando os pobres, ensinando catecismo, dando conselhos e, mesmo nos dias de maior sofrimento, “celebrando” missa.
Muito consciencioso não admitia que ninguém tocasse no que era seu, a fim de não ser contagiado pela doença. Foi tratado pelos melhores médicos paulistas e fez diversas viagens a Campos do Jordão e São José dos Campos.
Mas a cruel doença acabou por tomar conta de seu organismo depauperado e, no dia 21 de dezembro de 1930, com a idade de 12 anos, ele veio a falecer. Antoninho foi sepultado no Cemitério da Consolação.
Seu enterro foi acompanhado por milhares de pessoas. Criaturas de todas as classes sociais seguiram o féretro numa última homenagem ao menino que julgavam santo.
E, numa curiosa e bem interessante coincidência, conforme uma sua anterior previsão: por acidental engano da Empresa Funerária, foi seu corpo encerrado num caixão de adulto, carregado num coche de adulto e enterrado numa cova de adulto.
A missa de 7º dia foi celebrada sem qualquer pompa, com a encomendação sobre um modesto pano preto, entre quatro velas singelas. Era satisfeita assim a sua última vontade.
O Hospital Infantil nasceu do sonho do menino Antoninho da Rocha Marmo. Vítima da tuberculose, ele idealizou um sanatório para atender crianças pobres de todo o País.
Após sua morte, em 21 de dezembro de 1930, aos 12 anos, sua mãe e um grupo de benfeitores iniciaram as obras do sanatório confiando sua administração à Madre Teresa de Jesus Eucarístico, fundadora da Congregação das Pequenas Missionárias de Maria Imaculada, que já desenvolvia um trabalho de assistência aos doentes da cidade e cujas religiosas administram até hoje.
Inaugurado em 13 de dezembro de 1952, atendeu crianças tuberculosas até a década de 1980, quando o tratamento e controle da doença tornaram-se ambulatoriais.
Atualmente, o Hospital Antoninho da Rocha Marmo é um hospital geral que atende pacientes de convênio e particulares nas áreas de Ginecologia e Obstetrícia (Maternidade), Ortopedia, Otorrinolaringologia, Urologia, Dermatologia, Cirurgia Torácica e Cirurgia Geral.
Graças à dedicação de sua mãe e de pessoas amigas que acreditaram em seus poderes sobrenaturais, essa obra pode tornar-se realidade e, naquela cidade, existiu o sanatório idealizado pelo menino.
No jardim do Hospital é possível visitar o Memorial dedicado a Antoninho da Rocha Marmo que abriga objetos que pertenceram ao menino como o altar usado por ele para celebrar missas e sua roupa de batismo.
Com o passar dos anos alguns milagres começariam a ser atribuídos a ele, como a fantástica cura de Olivia Bueno de Lima que após rezar com muita devoção ao garoto, teria escapado milagrosamente da necessidade de amputar seu braço direito.
Com o relato deste e de muitos outros milagres que surgiram, o túmulo de Antoninho da Rocha Marmo logo se tornou um local de visitação e adoração, onde as pessoas passaram a frequentar para pedir milagres ou agradecer graças alcançadas.
Milhares de nomes de pessoas, com os respectivos endereços, de toda a parte do Brasil e de outros países da América Latina e mesmo de Portugal, obtiveram graças atribuídas a Antoninho Marmo.
Muitas mães, com filhos recém nascidos ou com problemas na gravidez visitavam (e ainda visitam) o túmulo para pedir ajuda ao garoto. Muitos adultos e idosos que hoje chamam-se “Antoninho” ou “Antonio” foram assim batizados em agradecimento a alguma graça alcançada.
Da velha residência onde residiu Antoninho e sua família nada mais existe. A casa foi demolida em meados dos anos 1980 e em seu lugar foi erguido um edifício residencial.
Toda a pequena existência desse grande menino paulista, não há dúvida, extraordinária, fora assim revestida de grandes lances: reviveu, em poucos anos, nos dias da atualidade, uma vida beatífica igual à dos santos da antiguidade...
Amigo e protetor dos humildes, Antoninho tornou-se objeto de veneração e passou a ser conhecido como Santo Antoninho. Hoje em dia, é conhecido como Servo de Deus.
Há tempos fundou-se em São Paulo uma comissão pró-beatificação de Antoninho da Rocha Marmo. Foi feita uma petição com centenas de assinaturas, onde se pedia que fosse iniciado o Processo de Beatificação do mesmo. A petição vinha acompanhada de documentos devidamente legalizados onde se comprovavam os milagres realizados pelo menino. Tudo de acordo com o Direito Canônico. Ela foi entregue ao Núncio Apostólico da capital que a enviou ao Vaticano. Está sendo examinado pela Congregação para as Causas dos Santos e pelo papa. À igreja caberá, portanto, dar a última palavra sobre a santidade ou não do menino Antonio da Rocha Marmo.
O processo de beatificação e canonização de Antoninho da Rocha Marmo foi acolhido pela Igreja Católica em 2007 e encontra-se atualmente em Roma, na Congregação.
O próximo passo será a elaboração do “Positio”, um documento que reúne evidências sobre a vida, virtudes e fama de santidade do candidato a santo.
No Hospital Antoninho, as religiosas recebem com frequência relatos de curas ocorridas por intercessão do menino. Os relatos e as provas serão avaliados posteriormente pelo Vaticano.
O Memorial Antoninho da Rocha Marmo, inaugurado em 28 de fevereiro de 2016, abriga pertences do menino, como uma estola, pala (cartão guarnecido de pano branco com que o sacerdote cobre o cálice), chave do quarto, terço, ostensório e castiçal que estavam sob os cuidados da Congregação das Pequenas Missionárias de Maria Imaculada, responsável pela administração do Hospital. Conta ainda com objetos doados por parentes de Antoninho.
Os visitantes do Memorial também podem conhecer mais sobre a história de Antoninho por meio de painéis fotográficos, documentos históricos, documentos da abertura do processo de canonização e livros sobre o menino. Também faz parte do Memorial um filme que conta a história de Antoninho. O Memorial foi uma doação do advogado Alfredo Camargo Penteado Neto, que é autor do Processo de Beatificação e Canonização de Antoninho.
Fontes:
Site oficial de Antoninho, construído pela Sra. Leonor Rocha
Ferreira, prima de 1º grau de Antoninho e o Banco de Dados do Folha de São
Paulo);
Revista “O Cruzeiro”, de 11 de dezembro de 1954; Ano XXVII nº 9.
Links:
https://www.antoninhomarmo.org.br/hospital/o-menino-antoninho
https://saopauloantiga.com.br/antoninho-da-rocha-marmo/
http://www.santosebeatoscatolicos.com/2015/04/servo-de-deus-antoninho-da-rocha-marmo.html
Nascido a 06 de dezembro de 1863, em Estocolmo (capital da Suécia), o decano da colônia sueca do Rio de Janeiro, sr. Augusto Lewin, teve suas atividades consagradas a vários setores de trabalho no Brasil, para onde veio, depois de vida acidentada no estrangeiro.
Aos 15 anos ingressou na
Marinha de Guerra sueca. Depois de três anos de estudos teóricos e práticos em
uma galera inglesa, seguiu para Alexandria, no Egito, sendo admitido na sua
Marinha de Guerra como subtenente. Depois do bombardeamento de Alexandria pelos
ingleses, o Egito foi considerado, protetorado inglês.
Em 1887 como capitão, serviu
no comando da Guarda da Costa, entre Porto Said e Sudan. Serviu sob as ordens
do general Kitchener. Durante o seu comando em Suez, o sr. Lewin teve muitos
encontros sangrentos com os piratas árabes, tendo sido condecorado por seus
atos de bravura.
Depois de cinco anos de
serviço ativo, adoeceu, sendo transportado para Londres, onde foi operado. A
conselho médico deixou o serviço da armada, ficando licenciado.
Em Londres fez relações com
um professor brasileiro da Escola Politécnica e, a seu conselho, veio para o Rio
de janeiro em 1889, no tempo do Império, embarcando em seguida para a Bahia,
contratado para serviços de medição de terras.
Nesse Estado não chegou a
iniciar as suas atividades porque a comissão de que fazia parte foi dissolvida.
Voltou ao Rio de janeiro e dali embarcou para Minas Gerais.
Os seus primeiros anos de
atividades, dedicou-os à exploração de diversas estradas de ferro, nos Estados
de Minas gerais e São Paulo. Trabalhou sob as ordens de Pereira Passos na
exploração da linha Bom Jardim-Turvo, numa extensão de 45 km.
Terminado esse trabalho, o
sr. Lewin empregou-se na Estrada Inglesa Minas e Rio, como ajudante de chefe de
linha permanente de Cruzeiro a Três Corações, com residência a Passa-Quatro. Empregou
depois suas atividades na linha dupla de São Paulo Raylway.
Mais tarde serviu na
comissão de construção de Belo Horizonte, na sua seção de arquitetura, sob a
direção do dr. José de Magalhães. Com este engenheiro mediu as terras de Campos
do Jordão, na execução do contrato firmado entre este profissional e o dr.
Domingos Jaguaribe.
O sr. Augusto Lewin
dedicou-se depois à indústria de laticínios, voltando sua atenção para a
fabricação da manteiga e do queijo no interior do Brasil, principalmente no
Estado de Minas Gerais, importando para esse fim, máquinas da Suécia. Na cidade
de São João Del Rey, abriu a firma “Goursand & Lewin”, loja de atacado de
gêneros do Brasil e estrangeiro, estabelecendo à rua Marechal Bittencourt, nº
15 (antiga rua do Comércio), em São João Del Rey, a “Casa Barateza”. Seu lema
era: “Anunciar é pescar freguês; não anunciar, perder a vez!
Em 1893, impressionado pela
eloquência das cifras com as importações, e observando as enormes riquezas
pastoris que o país possuía, resolveu seguir para a Suécia, a fim de estudar a
indústria de laticínios, e depois de quatro meses de estudos, voltou ao Brasil,
trazendo, para demonstração e propaganda, uma instalação completa de Estocolmo.
Com esta instalação o sr.
Lewin iniciou sua propaganda, fazendo demonstrações em diversos distritos
pastoris nos Estado de Minas Gerais, São Paulo e Rio de janeiro.
Só após essas experiências é
que começou verdadeiramente o impulso da indústria de laticínios no Brasil.
Em 1899, estabeleceu-se
definitivamente no Rio de Janeiro, com representações e importação de
maquinismos para a indústria, lavoura e construções; adicionando, mais tarde,
uma seção de compra e venda de mecanismos, especialmente material de estradas
de ferro. Durante sua atividade no comércio, conseguiu formar uma fortuna considerável.
No Rio de Janeiro, foi o representante
geral no Brasil da Companhia “Radiator” de Estocolmo, Suécia.
Sua loja, “Casa de
Máquinas”, situava-se na Rua Barão de São Felix º 144. Com a assistência do sr.
Ministro da Viação, Dr. Alfredo Maia, realizou na Sociedade nacional de
Agricultura uma experiência com a máquina “Radiator” para o fabrico de
manteiga. Perante o grande número de pessoas presentes, o sr. Lewin começo por
desmontar a máquina, explicando a função de cada uma das peças que a compõem.
Armado depois o aparelho,
deu-se princípio ao funcionamento, movido, à mão, e em 15 minutos, trabalhados
10 litros de leite, foram obtidas 500 e tantas gramas de manteiga, de excelente
aspecto e bom gosto. Compareceram à Sociedade mais de 60 pessoas entre as
quais, além do dr. Moura Brasil, presidente da Sociedade, os membros da
diretoria, os srs. Dr. Severino Vieira, ex-Ministro da Viação, coronel Page,
ministro dos EUA, vários médicos, jornalistas, advogados, fazendeiros,
comerciantes, engenheiros industriais, etc., que muito aprenderam a
experiência.
Em 1920, foi o sr. Lewin
condecorado pelo seu Rei, Gustavo V, com a Ordem de Vasa 1ª classe, pelos seus
atos filantrópicos durante a 1ª Grande Guerra e pela presteza que sempre
mostrou em auxiliar seus patrícios e amigos em finanças e conselhos, como
também pelos bons serviços prestados à sua pátria.
A Ordem de Vasa 1ª classe é concedido
aos cidadãos suecos que prestam serviço para o Estado e para a sociedade,
especialmente nas áreas de agricultura, mineração e comércio. Ela foi
instituída em 29 de maio de 1772 pelo rei Gustavo III. Gustavo V foi Rei da
Suécia de 1907 até sua morte em 1950. Era o filho mais velho do rei Oscar II da
Suécia e da rainha Sofia de Nassau.
O sr. Lewin casou-se em 27
de novembro de 1892, com a sra. Adele Luize Hartwig, constituindo uma numerosa
prole: Bertha, Ida, Augusto Clarence Lewin, Harry Mauritz Lewin.
Em 1929, afastou-se definitivamente
da atividade comercial. Faleceu aos 77 anos, em 30 de setembro de 1940 e foi
sepultado no cemitério de São João Batista, no Rio de Janeiro.
Fontes:
Jornal “Jornal do
Commercio”, de 28 de novembro de 1892; 11 de outubro de 1898;
Jornal “O Resistente”,
de 20 de outubro de 1898;
Jornal “Gazeta de
Notícias”, de 29 de janeiro de 1900;
Jornal “A Imprensa”,
de 01 de fevereiro de 1900;
Jornal “A Notícia”,
de 25 de maio de 1909;
Almanak Laemmert:
Administrativo, Mercantil e Industrial. RJ. 1925
Jornal Correio da Manhã”,
de 06 de dezembro de 1933;
Jornal “A Nação”, de
29 de março de 1934.
Baby Gonçalves.
Florence Staffords Gonçalves (Baby Gonçalves), formou-se em Puericultura na Escola da Cruz Vermelha Brasileira na Escola Normal “Caetano de Campos”, São Paulo. Recebeu o diploma e a braçadeira, símbolo da profissão, a 05 de dezembro de 1941.
Grande senhora da sociedade bandeirante, em 1934, foi eleita e empossada para o cargo de Diretora Conselheira do Conselho Diretor da Cruzada Pró-Infância de São Paulo. Esteve à frente do cargo, ainda, nos anos de 1944 e 1952.
Participou do Conselho Diretor da Associação Cívica Feminina de São Paulo, e da Comissão de Assistência e Proteção aos Menores, em 1935
Realizou e participou de muitas campanhas de donativos, chás beneficentes, dançantes, teatros, cinemas, missões salesianas, saraus dançantes, bailes, Bridges beneficentes para crianças abandonadas, semanas da bondade, coqueteis dançantes e muitas outras campanhas de filantropia.
Em Campos do Jordão, Dona Baby Gonçalves foi uma das grandes benfeitoras de várias entidades assistenciais da estância, como os Sanatórios Populares de Campos do Jordão, e no auxílio da construção e implantação do Éden Ginasiano, muito importante para a juventude daquele espaço de tempo.
Foi fundadora da Escola de Enfermagem “Baby Gonçalves”, criada no dia 13 de junho de 1988.
A Escola passou a integrar-se na Fundação Regional Educacional de Campos do Jordão (FUNCAMP), em 23 de abril de 1985, mantendo sua autonomia administrativa, financeira e patrimonial pela Lei nº 1488 de 23 de abril de 1985 até 08 de março de 1991, quando foi revogada pela Lei nº 1804.
Baby Gonçalves casou-se com João Gonçalves, filho do Comendador Albino Dias Gonçalves. Faleceu a 26 de dezembro de 1980.
Albino Dias Gonçalves, chefe de numerosa família, sua esposa, Julieta Gonçalves, tinha 9 filhos: João Gonçalves, casado com Baby Gonçalves, Marianna, Augusto, Carlos, Odette, Nestor, Benny, Alice e Diva. Netos; Ricardo Albino, Maria Cecília e Roberto João.
Albino Dias Gonçalves, era natural de Arrabães, (aldeia das redondezas da Vila Real) Portugal, chegou ao Brasil com 10 amos de idade e tornou-se um grande industrial, pessoa da alta sociedade do Rio e São Paulo. Uma das mais notáveis figuras da colônia portuguesa do Brasil, Fundador e diretor-presidente da Cia. Paulista de Papeis e Artes Gráficas (COPAG), e uma das maiores organizações do gênero em todo o país. Associado a vários estabelecimentos fabris relacionados com as Artes Gráfica, tanto em SP quanto no RJ, onde era sócio da Fábrica de Pennas de Aço “Brasil” Ltda e da Cia. Nacional de Papel.
A Copag é uma das empresas pioneiras na fabricação de baralho no Brasil. Foi fundada em 1908 no município de São Paulo, sob o nome de Companhia Paulista de Papéis e Artes Gráficas. Inicialmente, produzia itens de papelaria, como envelopes e blocos de papel. É em 1918 que se iniciou a produção de baralhos pela técnica litográfica. Por volta de 1930, passou a utilizar a impressão offset e assumiu a liderança na produção nacional de baralhos.
Albino Dias Gonçalves desfrutava elevado conceito e grande círculo de amizades, tanto pelas suas grandes qualidades de espírito e coração, como de grande animador da indústria nacional em vários de seus setores, faleceu a 26 de fevereiro de 1939.
Fontes:
Revista “A Lusitania”, 1929
Revista “O Mundo Ilustrado”, 1954
Revista “Sombra” (RJ) 1950; 1953
Revista “Revista Rio” (RJ) 1954
Jornal “Correio da Manhã”, de 28 de fevereiro de 1939;
Jornal “Correio de São Paulo”, de 17 de maio de 1933; 20
de dezembro de 1934; 27 de julho de 1935;
Jornal “O Jornal”, de 05 de março de 1939;
Jornal “Correio Paulistano”, 19 de dezembro de 1934; 12
de outubro de 1935; 06 de dezembro de 1941; 03 de fevereiro de 1944; 24 de
agosto de 1952
Jornal “Diário da Noite”, de 07 de julho de 1943;
Link:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Copag
Vô Carmo Muniz
Encravado nas exuberantes montanhas da Serra da Mantiqueira, a 1200m de altitude, a 18km de Campos do Jordão, existiu um pequeno sítio, isolado, onde viveu uma família mineira.
No ano de 1958, uma família de lavradores do Bairro dos Pintos em Piranguçú, trazendo a mudança em um cargueiro formado por cavalos, burros e mulas, encontrou no Bairro dos Marmelos, um paraíso para viver.
A família arrendou um sítio no bairro, Era o “Sítio do Vô Carmo”. O nome não é em vão, pois, representava o patriarca da família. Bairro de São Roque, é o nome do vilarejo que o abrigou. As águas da Fonte São Lourenço, da Fazenda Tabatinga, o ar puro, e o verde dos campos não faltavam, com direito ao vislumbre das corredeiras do Rio Sapucaí!
O patriarca, Carmo da Silva Muniz, nascido a 22 de outubro de 1923, era um homem simples, honrado, de grande caráter, dignidade e respeito, casou-se com a matriarca, itajubense, Maria José Muniz, a 20 de outubro de 1951, fiel esposa, ornada de dotes e talentos.
Com muita garra e sabedoria, trabalhando firme no plantio de milho e feijão, criaram os 12 filhos: Maria Leonina; Maura; Celso; Ana; Rubens; Célia; Djalma; Cássio; Carmo Muniz Filho; Rita de Cassia; Eduardo e Evaldo. “Muniz”, era uma família muito grande.
Em 1963, passados exatamente 5 anos, sr. Carmo Muniz, foi o precursor na construção de uma escola rural. Sob orientação do diretor, prof. Eduardo Pinto de Souza e com uma lista de alunos, foi à Diretoria de Ensino da cidade de Pindamonhangaba e deu início ao processo. Não economizando esforços, imbuído de perseverança e muita dedicação, conseguiu que seus filhos e as crianças da comunidade, tivessem aulas no bairro Tabatinga.
De início, a sala de aula era no salão de festas da Igreja de São Roque.
De início, a sala de aula era no salão de festas da Igreja de São Roque. A primeira professora foi Wilma de Oliveira Andrade, da cidade de Pindamonhangaba; depois, Eunice Carlota e em seguida, Maria José Rodrigues Alves. Não tinham onde pernoitar, assim várias professoras ficaram em sua casa.
Em 27 de novembro de 1972, dr. José Arthur da Motta Bicudo, ex-prefeito sanitário de Campos do Jordão, desmembrou das terras de sua propriedade no Vale dos Marmelos (Fazenda Tabatinga), 1560m2, doando por escritura pública, à Prefeitura de Campos do Jordão, para a instalação da Escola de Emergência do bairro Tabatinga, para atender a população da região. Alguns anos depois, a escola recebeu reformas, com as contribuições do dr. Nelson Guimarães Proença e Dr. Miguel Reale Junior.
Em 18 de dezembro de 2019, a escola que atendia pelo nome de Escola de Educação Infantil e de Ensino Fundamental I “José Arthur da Mota Bicudo”, por força de decreto, e a pedido da Secretaria Municipal de Educação, foi desativada, passando os alunos a frequentarem as escolas da zona urbana do município.
A igreja de São Roque, subordinada à Curia Diocesana de Taubaté, ficava no Morro do Miranda, longe do povoado. O Sr. Carmo Muniz, um dos benfeitores, promovia, ajudava e realizava muitas das festas religiosas. Os famosos e recheados "cartuchos eram um sucesso só!
Ainda em 27 de novembro de 1972, sr. Carmo Muniz, em colóquio com o ex-prefeito, dr. José Arthur da Motta Bicudo, para a construção da nova Igreja, conseguiu um pedaço de terra, com o fito de trazê-la para mais perto do bairro; pois, lá no alto do Morro do Miranda, o padre tinha que ir e voltar a cavalo, o que era muito sacrificado. Com sua persuasão que lhe era própria, cheio de humildade e sabedoria, sua voz calma e educada, não só conseguiu o terreno para a nova igreja, como também para a Casa da festa e o Coreto!
Em Campos do Jordão, sr. Carmo Muniz foi membro conselheiro da antiga “Casa do Agricultor”.
Mas, não parou por aí. Há quatro décadas, Carmo da Silva Muniz e Maria José Muniz, com as primeiras vacas da propriedade rural da família, localizadas no bairro Tabatinga, aproveitaram para produzir e vender queijos.
Deixando o trabalho em Piranguçú, vieram para produzir queijos no interior de São Paulo. Era só descer a estradinha de São Roque, no bairro dos Marmelos, pouco depois de São Roque e num acesso que se encontra à esquerda, cercado de morros por todos os lados, o casal transferiu toda a energia e trabalho duro para produzirem os queijos mais deliciosas da região. Levantava todos os dias às 6 horas da manhã, com seu chapéu de aba curta, punha as mãos na massa para ordenhar as vacas. E o brilho nos olhos, quando tirava o leite? Do curral, o leite ia para a cozinha, onde era transformado pelas mãos de dona Maria José Muniz, matriarca da família, e de lá saíam os queijos, conhecidos como prato, meia-cura, nozinho e fresco. Os filhos conheceram a produção na infância... a ordenha, a caneca de leite espumante, quentinho... Qual deles não tomou?
Verdadeiras obras de arte que eram feitas à mão a partir do leite cru. O sr. Carmo Muniz foi um bom professor e os filhos aprenderam a lição.
Orgulho de estar no sítio, produzindo queijos todos os dias, mais o cheiro de curral, de terra molhada e do queijo, era como sangue em suas veias.
Sr. Carmo Muniz foi mais além. Conseguiu abrir pequenos leques de clientes em lugares diferentes. O sistema de entrega e a distribuição dos queijos era feita num “Fusca Azul”.
Para armazenar os queijos, conservando-os frescos e assim poder rodar com eles, apresentando e vendendo a seus clientes, o produto era muito bem acondicionado e embalado. Utilizava equipamentos como caixas térmicas e isopores devidamente higienizados e a entrega ocorria dentro do prazo. Primeiro nas vizinhanças, até chegar em Campos do Jordão, no armazém de Mário Luiz Esteves e outros locais da cidade. Não só queijos, mas também, ovos caipiras, porcos.
No “Fusca Azul”, onde levava os queijinhos que sua esposa fazia, gostava de ouvir sua música preferida, “Cochilou, o cachimbo cai”, de Tião Carreiro.
Seu destaque e benefício era o fato de que ele sempre ia até o local ou pessoa, o que se tornava uma comodidade para os seus clientes que estavam sempre à sua espera para comprar seus produtos.
Sr. Carmo Muniz exercia as vendas de maneira bem espontânea e alegre. Era comunicativo e tinha uma boa relação com o público.
Com sol ou chuva, com o calor ou com o frio, os clientes podiam esperar, que o sr. Carmo Muniz chegava com o melhor queijo da roça e tinha fregueses que quase entravam dentro do “Fusca Azul” para garantir o seu queijo! Foi um pequeno produtor rural. Sua família foi referência no mercado e região.
Toda vez que chegava em Campos do Jordão, vinha até o centro da cidade, com sua calma que lhe era peculiar e sua voz baixa, muito educado e sempre disposto a ajudar, passava na sala do Gabinete do prefeito para tomar um café com o assessor, Jarmuth Rodrigues Andrade e não raro, pelo fato de conversar bem e agradar a todos com sua boa comunicação que era sua especialidade, dava um alô ao prefeito, além da grande amizade com o Vice, dr. Jair Rocha Pinheiro com quem mantinha longos papos.
Daí podia marcar no relógio e aguentar a “cara feia” do pessoal que estava agendado, pois o papo dos dois ia longe...
Aprouve a Deus, chamar o Seu filho, Carmo Muniz, no dia 01 de abril de 2010, e sua esposa, Maria José Muniz, em 15 de março de 2017, aos 82 anos de idade.
Sr. Carmo da Silva Muniz e dona Maria José Muniz, amaram o que fizeram, e como amaram! Trabalharam com alegria, dinamismo, ética, humildade, simplicidade, sorriso, e claro, muito amor!
E as misericórdias de Deus sobre a vida do casal não pararam de descer sobre eles. Um dos netos, Evandro Abiel Vieira Muniz, homem bom, de quem Deus é Pai e proteção, no dia 23 de janeiro de 2021, respondendo ao chamado de Deus, uma vocação celestial, consagrou-se ao Santíssimo Redentor, e se encontra no Seminário Redentorista Santíssimo Redentor, na cidade de Santa Bárbara D’oeste, MG.
Batalhadores, guerreiros, diamantes lapidados por Deus. Um homem e uma mulher de valor. Com este arremate da linguagem da ternura, encerro esta crônica.
Amadeu Carletti Junior
Amadeu Carletti Junior, cidadão jordanense, exerceu inúmeras atividades para o bem da população jordanense. Grande incentivador do progresso de Campos do Jordão, teve estritas relações com o esporte futebolístico, junto à Associação Atlética Jaguaribe, onde foi um de seus mais importantes dirigentes.
Grande colaborador e incentivador do esporte, o que lhe garantiu, com mérito, a perpetuação de seu nome no Estádio de Futebol de Vila Jaguaribe, pelo decreto Municipal nº 873 de 29 de setembro de 1979, na gestão do prefeito Fausi Paulo. É o Estádio Municipal Amadeu Carletti Junior.
Na área política, foi vereador na Câmara Municipal de Campos do Jordão, na sexta legislatura, de 01 de janeiro de 1969 a 31 de janeiro de 1973, exercendo a Presidência no período de 01 de fevereiro de 1972 a 31 de janeiro de 1973. Prestou relevantes serviços ao município e à população, durante todo o tempo em que desempenhou suas funções.
Exerceu atividades filantrópicas, em várias entidades assistenciais de Campos do Jordão: Sociedade de Educação e Assistência – SEA, trabalhando para a obra de frei Orestes Girardi; Sociedade de Educação de Jaguaribe – SEJA, Santa Casa de Campos do Jordão e Rotary Club de Campos do Jordão.
Dedicou-se com seriedade e afinco, em todas as atividades que visavam ao aprimoramento do ensino, esporte, cultura, artes, procurando a valorização e o engrandecimento do ser humano de todas as camadas sociais.
Amadeu Carletti Junior foi casado com a Sra. Esmeralda Pereira Carletti, filha de Evaristo José Pereira, pioneiro de Vila Guarani e Irmã de Afonso José Pereira, Benedito Evaristo Pereira e Vicentina Pereira. Teve o casal de filhos, Márcio e Márcia. Faleceu a 11 de fevereiro de 1977
Em 1945, Amadeu Carletti Junior ingressa na CASA INCOS, com a função de auxiliar de administração até 1956, quando assumiu a gerência da Companhia, responsável pela distribuição e abastecimento da construção civil local e permaneceu até 1977.
Nas décadas de 1940-1950, Campos do Jordão progrediu rapidamente graças às inúmeras e sólidas organizações que funcionavam na cidade, e que vinham contribuindo decisivamente para que a cidade se tornasse o que é hoje, uma das mais procuradas estâncias de veraneio do estado de São Paulo.
E, nesse setor, destacou-se a “CASA INCOS” que esteve estabelecida à rua Orivaldo Lima Cardoso, 160, em Vila Jaguaribe, e fornecia materiais para construções em geral. A maioria das casas, prédios, sanatórios e hotéis de Campos do Jordão foram construídos por engenheiros e empreiteiros que utilizaram em suas construções os materiais fornecidos pela CASA INCOS.
Foi a mais completa organização do gênero na cidade funcionando numa área total de 8.860 mts2, representante dos mais afamados produtos da capital.
A CASA INCOS foi fundada em 1928, por Orivaldo Lima Cardoso, possuindo uma área coberta de 1.600 mts2. Era depositária e vendedora dos produtos Eternit, Cerâmica São Caetano, Eucatex, Rádios Philips, contando ainda com grande estoque de cal, cimento, madeiras em geral, possuindo ainda completa seção de marcenaria e carpintaria, ladrilhos, telhas, ferragens, tintas, etc. Era também representante da Liquigás do Brasil S/A, para as praças de Campos do Jordão, Santo Antonio do Pinhal e São Bento do Sapucaí.
A CASA INCOS foi transformada em 16 de outubro de 1943, para Companhia Industrial e Comercial de Campos do Jordão S/A, sendo os sócios, Orivaldo Lima Cardoso Presidente), Alexandre Mckerrow (Vice-presidente), Alaor de Souza Ablas, Avelino Gonçalves da Silva, Raul de Oliveira, Amy Edith Arnaud e Floriano Rodrigues Pinheiro. Possuía uma filial na av. Januário Miráglia em Vila Abernéssia, especializada em artigos para presentes em geral.
Uma nova sociedade anônima foi firmada em 30 de junho de 1966, tendo como Diretor, José Carlos Pereira de Carvalho e Presidente, Plinio Rossi de Carvalho.
Amadeu Carletti Junior, foi homenageado de acordo com o projeto de lei nº 415/79, da autoria do deputado Armando de Souza Pinheiro, transformado na Lei Estadual nº 2.172 de 14 de novembro de 1979, e sancionada pelo governador Paulo Salim Maluf, pela primeira Escola da Vila Britânia, em Campos do Jordão, inaugurada no ano de 1950, pelo Prefeito Paulo Cury. Posteriormente, uma nova escola foi inaugurada no ano de 1962. No dia 26 de fevereiro de 1970 na gestão do Prefeito Municipal, Dr. José Antonio Padovan, foi inaugurado o novo prédio da escola da Vila Britânia. A escola passou a ser denominada EEPG - Escola Estadual de Primeiro Grau “Amadeu Carletti Junior”.
Em 14 de novembro de 2007, o prefeito João Paulo Ismael, pelo decreto nº 5788, deu a denominação do Anexo II da EMEF Amadeu Carletti Junior, “Maria José Ávila”.
Em 30 de dezembro de 2020, uma nova escola foi inaugurada e denominada Profª. Maria José Ávila (Professora Zezé) que abrigará a Escola Municipal Amadeu Carletti, de Vila Britânia.
Maria José Ávila, mais conhecida como professora Zezé, nasceu a 2 de junho de 1930, em Agudos, SP. Filha de Hermógenes Martins de Ávila e Helena Aquino Ávila, é mãe de Helena Maria Ávila de Castro e tem dois netos: Bruno e Mauro.
Licenciada em Pedagogia e Psicologia pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras “Sedes Sapientiae” da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, também é especializada em Orientação Educacional.
Diretora da Escola Nicola Padula e Presidente da Academia Jordanense de Letras, artista plástica premiada, escritora de primeira qualidade, amante da música e grande conhecedora das artes, Maria José Ávila é um ícone cultural é uma das principais personagens da cultura de Campos do Jordão.
Fontes:
Jornal
“Correio Paulistano” de 29 de setembro de 1946; 22 de abril de 1959;
Links:
Comendador Antonio Rodrigues Alves
Em 1911, o Comendador Antônio Rodrigues Alves e sua mulher, Maria Francisca, compraram terras em Campos do Jordão.
Dessa data até 1923, o Comendador Antonio Rodrigues Alves, figura de grande projeção na política de Guaratinguetá, homem conceituado e poderoso, irmão mais velho do presidente do Brasil, Francisco de Paula Rodrigues Alves, foi proprietário em Campos do Jordão, de uma grande área de terras, adquiridas do dr. Robert Jonh Reid, de 18 alqueires. Ela começava à beira da via férrea e terminava no Salto, que é hoje o manancial de águas da cidade. Dentre elas, da Rua Ribeiro de Almeida.
Em 15 de fevereiro de 1912, o Comendador Antonio Rodrigues Alves importou da Europa, 400 mudas de árvores frutíferas, e remeteu para serem plantadas na propriedade agrícola que possuía em Campos do Jordão.
Em 10 de julho de 1912, regressando de Campos do Jordão, o Comendador Antonio Rodrigues Alves foi vítima de um desastre, no carro em que regressava dessa localidade. Já era noite, quando o lamentável acidente se deu, por se haverem os animais se desviado da estrada, precipitando-se num barranco, à margem do caminho. O desastre deu-se já em terras de Guaratinguetá, na invernada de dona Francisca Marcondes. Além do Comendador, ficaram contundidos o sr. Pedro Marcondes Leite, prefeito municipal, que com ele viajava, e o boleeiro do carro.
Em 1921, Dom Epaminondas Nunes de Ávila e Silva, Bispo Diocesano de Taubaté, nomeou-o para a presidência da Comissão de Obras da Igreja Matriz e Casa Paroquial dos Campos do Jordão, daquele Bispado.
No ano de 1923, o Comendador Antonio Rodrigues Alves e sua esposa, alienaram a área a Luiz Ferreira Tinoco, que a transferiu ao Dr. Claro César. Os herdeiros de Claro César venderam-nas para Diogo de Toledo Lara, que ali implantou a Vila Paulista.
Por influência do Comendador Antonio Rodrigues Alves, irmão do presidente do Estado, Conselheiro Francisco de Paula Rodrigues Alves, em 30 de novembro de 1915, o Congresso Estadual autorizou o governo a encampar a estrada de ferro.
Inicialmente operando com apenas duas locomotivas a vapor e alguns carros de passageiros, eram realizadas apenas três viagens semanais na estrada, o que somado à relativa precariedade dos equipamentos, logo resultou na insolvência da ferrovia, que foi encampada pelo Governo do Estado de São Paulo.
Na qualidade de Presidente do Estado de São Paulo, Rodrigues Alves promulga a lei n°1486, de 15 de dezembro de 1915, que autorizava a encampação da ferrovia pelo Estado. A ferrovia recebeu a denominação de Estrada de Ferro Campos do Jordão.
Durante o período em que a ferrovia esteve sob a tutela de Sebastião de Oliveira Damas, findado com a encampação desta pelo Governo do Estado a 15 de dezembro de 1915 pela Lei nº 1.486, o empreiteiro levou a efeito a conclusão de cerca de 4 quilômetros de via até as imediações da Vila Jaguaribe, restando aproximadamente 800m para a conclusão da Estrada em toda sua extensão.
O Comendador Antonio Rodrigues Alves nasceu a 03 de maio de 1845 em Guaratinguetá. Era filho de Domingos Rodrigues Alves e Izabel Perpetua de Marins. Casado com Maria Francisca Galvão de Franca, pertencente à grande família Galvão de França (Frei Galvão).
O início de sua vida ativa foi no comércio do Rio de janeiro, para depois fixar-se definitivamente na lavoura de Guaratinguetá onde era adiantado fazendeiro, agricultor e lavrador.
Entrou na política em 1868, filiando-se ao Partido Conservador, chefiado nesse município pelo Visconde de Guaratinguetá.
Foi provedor da Santa Casa de Misericórdia onde prestou relevantes serviços.
Quando a cidade foi invadida pela varíola, ficou o comendador Antonio Rodrigues Alves encarregado de direção dos socorros aos enfermos, para o que foi forçado a separar-se de sua família e arcar com milhares de dificuldades, aliás sem ter a quem recorrer devido ao abandono da cidade, pela maior parte da população.
Foi condecorado com a Comenda da Imperial Ordem da Rosa, uma ordem criada em 17 de outubro de 1829 pelo imperador D. Pedro I, para perpetuar a memória de seu matrimônio, em segundas núpcias, com a austríaca, Dona Amélia de Leuchtenberg, um dia após sua chegada ao Brasil. Após o banimento da família imperial brasileira, a ordem foi mantida por seus membros em caráter privado, sendo seu grão-mestre o chefe da casa imperial brasileira.
A ordem premiava militares e civis, nacionais e estrangeiros, que se distinguissem por sua fidelidade à pessoa do Imperador e por serviços prestados ao Estado, e comportava um número de graus superior às outras ordens brasileiras e portuguesas então existentes.
Assim, a Comenda da Imperial Ordem da Rosa lhe foi, mui justamente, conferida pelo governo monárquico por “serviços prestados à humanidade”.
No antigo regime, ainda teve o comendador Antonio Rodrigues Alves diversas comissões do governo, todas gratuitas, nas quais prestou relevantes serviços, tendo sido ainda Juiz Municipal suplente.
Proclamado o regime republicano, o Comendador retirou-se da política, até que, por ocasião da revolta de 1893, no governo do dr. Bernardino de Campos, foi procurado com empenho para aceitar o espinhoso cargo de Delegado de Polícia, que desempenhou o mais distintamente possível.
Foi depois eleito vereador municipal, tendo ocupado os cargos de Presidente da Câmara e de Intendente. As estradas municipais, e os melhoramentos daquele tempo que gozava a cidade, patentearam suficientemente a sua passagem por aqueles cargos.
Diretor-presidente do Banco Popular de Guaratinguetá. Fez parte do Conselho Fiscal da Companhia Paulista de Calçados de Guaratinguetá em 1912.
Fundou em 1902, com seu irmão, Francisco de Paula Rodrigues Alves, ex-presidente da república, a Companhia Fiação e Tecidos Guaratinguetá,
A Companhia fabrica e exporta seus produtos, cobertores, colchas e edredons, para diversos países.
O Comendador Antonio Rodrigues Alves faleceu a 20 de dezembro de 1927, com 83 anos de idade, vitimado por uma síncope cardíaca, e sepultado no cemitério de Guaratinguetá.
Fontes:
Jornal “Gazeta
de Notícias”, de 05 de janeiro de 1890;
Jornal “O
Paiz” de 27 de setembro de 1904;
Jornal
“Correio Paulistano”, 20 de novembro de 1906; 16 de fevereiro de
1912; 10 de julho de 1912; 25 de dezembro de 1917;
Revista
da Semana, de 07 de
janeiro de 1928;
Almanak Laemmert:
Administrativo, Mercantil e Industrial (RJ) - 1891 a 1940;
QUEIROZ,
Antonio Carlos dos Santos. Impacto econômico das escolas de especialistas de
Aeronáutica no Município de Guaratinguetá SP. Antonio Carlos dos Santos
Queiroz. 2013;
Camila Borges
da Silva. As Comendas Honoríficas e a Construção do Estado Imperial;
Marly
Rodrigues - Estrada de Ferro Campos do Jordão, uma abordagem;
Pedro Paulo
Filho - História da Estrada de Ferro Campos do Jordão.
Condelac Chaves de Andrade
Condelac Chaves de Andrade, chegou a Campos do Jordão na década de 1930. Era homem caboclo de pele manchada, olhos esverdeados, cabelos negros e lisos, que, penteados para trás, teimavam em repartir-se e cair para os lados.
Casado com a professora Dulce Chaves de Andrade, filha de italianos, baixinha, alourada, ainda que forte, professora do Grupo Escolar Municipal Rio Branco, atual Escola Monsenhor José Vita, na década de 1950.
Pareciam felizes, com seus 8 filhos: Condelac Bueno Chaves; Ana Maria Chaves de Andrade; Márcio Chaves de Andrade; José Adriano Chaves de Andrade; Márcia Chaves de Andrade; Dulce Rita Chaves de Andrade; Jordão Chaves de Andrade e Lyria Chaves de Andrade, numa casa cheia de livros.
O “Conde”, como era chamado, tinha muito pouco que fazer numa cidade pacata como Campos do Jordão.
Como Investigador de Polícia, cuidava de alguns pequenos furtos e, de raro em raro, de um crime passional; e o policiamento no cassino do Grande Hotel.
A maior parte de seu tempo dedicava a escrever um romance que não terminava nunca, “O Inferno de São Sebastião”.
Foi nosso primeiro historiador, autor do “Álbum Almanaque Histórico de Campos do Jordão”, editado no ano de 1948, registrando os fatos mais importantes da história de Campos do Jordão, fundamental para a pesquisa de todos os historiadores que o sucederam.
Foi provedor do Hospital-maternidade “Dr. Adhemar de Barros”, por mais de 30 anos. Cuidava das obras da Santa Casa de Misericórdia que também parecia interminável, porque se ia construindo aos bocadinhos, conforme entrava o dinheiro.
Lutou pela construção do Hospital-Maternidade “Dr. Adhemar Barros”, cuja inauguração assistiu em 25 de janeiro de 1943, e que, na madrugada de 29 de julho de 1945, testemunhou o pavoroso incêndio que destruiu aquele nosocômio, depondo:
“Descrever o que foi o dantesco espetáculo é difícil, mas esquecer as cenas lancinantes que ele ofereceu é impossível.”
Nos serviços de salvamento do hospital, honra seja feita ao heroico povo de Campos de Jordão, que deu sobejas provas de solidariedade humana, destacando-se os srs. Pedro Rabelo de Araújo, dr. Emile Zola Mendes Pereira, cabo Henrique Ferreira do Amaral e dona Dulce Chaves de Andrade (sua esposa), esta última no salvamento de crianças, que se achavam no berçário com a Irmã Maria Silvieta.
O Sr. Condelac Chaves de Andrade, era amante das flores, especialmente das orquídeas, mantendo em sua residência, um viveiro bem organizado e repleto de inúmeras variedades dessa bela flor.
Gostava de conversar com os amigos, que eram muitos e viviam nos mais distantes lugares. Era fácil encontrá-lo em Vila Abernéssia, a caminhar entre os canteiros floridos.
Fino, inteligente, imaginoso, irônico, capaz de ver de modo novo, e muitas vezes, inesperado, um fato, um livro ou um simples artigo de jornal, mas era acima de tudo um homem bom e afetuoso.
Na década de 1940, um dos mais sérios problemas enfrentados pelo prefeito sanitário, José Arthur da Motta Bicudo, era o favelamento existente nas encostas de Vila Ferraz, próxima ao Sanatório S-2, cujo bairro, por longos anos, ficou conhecido como a “Favela”.
Ficava quase no final da Rua João Rodrigues da Silva, conhecido por “João Maquinista”, e à direita, nos fundos da Vila, no local conhecido muito tempo por “Buraco da Onça”.
Condelac Chaves de Andrade em seu histórico “ÁLBUM - Almanaque Histórico de Campos do Jordão”, página 50, editado no ano de 1948 por “Artes Gráficas São Paulo S.A.” escrevia:
“No meio de tanta ostentação de riqueza e luxo, ergue-se a “Favela” que, ao longo, parece um monturo, e de perto, uma senzala. Até quando perdurará esta nódoa”?
Não existia naquela época um plano traçado de acordo com as exigências modernas de urbanismo.
Essa favela já não existe mais e há muito tempo. É importante registrar que, embora fosse denominada “Favela”, as casas existentes na época e no local, eram bem melhores que as inúmeras existentes da atualidade.
Condelac Chaves de Andrade, era um socialista teórico, onde, por muitos anos, colaborou na imprensa jordanense, atuando, intensamente, nos bastidores da provinciana política de Campos do Jordão.
Foi jornalista, poeta e escritor. Uma pessoa que muito valorizou a cultura e preservou os primórdios da nossa história, de maneira ímpar. Foi membro correspondente da Academia de Letras de Campos do Jordão.
Participou do III Congresso Brasileiro de Escritores, realizado em Salvador, BA, entre os dias 17 e 21 de abril de 1950, apresentando a tese em plenário, “A ABDE (Associação Brasileira de Escritores) em Face do Jornalismo e dos Intelectuais do Interior”.
Secretário da Comissão do primeiro Campeonato de Jogos Abertos de Campos do Jordão, no período de 30 de maio a 01 de junho de 1954.
Participou também do I Congresso de Turismo, realizado no Grill Room do Grande Hotel em Campos do Jordão, com apresentação da tese, “O Valor da Informação e da propaganda no Desenvolvimento do Turismo”, relatada pelo sr. Harly Trench, no dia 09 de agosto de 1953.
Foi eleito membro do novo Conselho Deliberativo do Abernéssia Futebol Clube, no biênio 1951-1952.
Pela sua postura de cidadão, Condelac Chaves de Andrade imprimia grande respeito. Extremamente sério e correto em suas ações e atitudes, culto e inteligente, de educação ímpar, com grande conhecimento moral e cívico.
Condelac Chaves de Andrade, vitimado pela ditadura em 1964, foi perseguido pelos seguidores do então Governador do Estado de São Paulo, Adhemar Pereira de Barros. Acusado de comunista, foi levado para o DOPS, onde permaneceu preso por tempo incerto. Posteriormente, foi desligado da Provedoria da Santa Casa, despejado da residência onde morava com a esposa e 8 filhos, e aposentado compulsoriamente.
Mudou-se para São José dos Campos, onde se radicou com a família, explorando a atividade literária e onde tornou-se poeta profundamente místico, com o livro “De Belém ao Calvário pelo Caminho da Poesia”.
Passando a viver em São José dos Campos, montou uma banca de jornais e livros técnicos no CTA, - Centro Técnico Aeroespacial, de onde foi expulso, o que o levou a trabalhar no centro da cidade. Voltou a ser preso e levado para o DOPS em diversas outras ocasiões. O drama vivido pela família:
“A pressão era diuturna, a barbárie se instalou em São José dos Campos e em todos lugares. Houve caça aos comunistas como se isso fosse salvar o Brasil”. (José Adriano Chaves de Andrade).
Em 25 de janeiro de 1983, quando o prefeito Fausi Paulo erigiu em Vila Jaguaribe o monumento ao fundador de Campos do Jordão, Matheus da Costa Pinto, Condelac Chaves de Andrade, declamou um poema religioso de sua autoria, ocasião em que evocou os pioneiros e desbravadores da terra jordanense.
Seu passamento ocorreu no início do ano de 1987. Condelac Chaves de Andrade faz parte de nossa história e cultura.
Em Campos do Jordão e São José dos Campos, ruas com o seu nome são eternizadas, por marcar a história e ter destaque por suas ações.
Fontes:
ANDRADE, Condelac Chaves de
– Almanaque Histórico de Campos do Jordão. Artes Gráficas São Paulo S/A,
São Paulo– 1948;
COSTA E SILVA, Alberto Vasconcellos da. Invenção do Desenho. Rio de Janeiro RJ.
Nova fronteira S/A;
PAULO FILHO, Pedro. A Montanha Magnífica
- Vol. II, páginas 45 a 49 – 1997.Campos do Jordão. O Recado Editora Ltda.
Jornal “Diário Nacional”, de 02 de
maio de 1928;
Jornal “Correio Paulistano”, de 07 de
novembro de 1950; 14 de agosto de 1953;
Professor Michal Gartenkraut. Comissão da
Verdade. Câmara Municipal de São José dos Campos. Relatório Final.
Outubro/2014;
Amélia Noemi - A Comissão da Verdade;
https://www.ameliapt.com.br/emocao-marca-audiencia-comissao/ereadora
ROSA FILHO, Arthur - Percepção Geográfica
de Escorregamentos de Encostas em Favelas nas Áreas de Risco – Campos do
Jordão – SP;
Revista de Cultura Moderna (SP): Fundamentos
- 1948 a 1955.
Condessa Crespi
Em 08 de março de 1946, o interventor do Estado de São Paulo, José Carlos de Macedo Soares, conforme Decreto-lei nº 15.723, dispôs sobre doação de terrenos, pela estância de Campos do Jordão, ao Círculo Operário Católico Beneficente Nossa Senhora das Dores, para construção de casas operárias, considerando a completa carência de habitações operárias em Campos do Jordão; vários particulares, proprietários na estância, em representação dirigida à Prefeitura, desejavam contribuir para a solução desse importante problema.
Com tal objetivo, fariam
eles um vultoso empréstimo, sem juros, ao Círculo Operário Católico, sociedade
civil, legalmente constituída, a qual se incumbia da construção do primeiro
grupo de casas para locação à classe operária.
A estância devendo estimular
e ajudar, na medida de suas possibilidades, uma iniciativa de tão nítido
alcance social, ficou autorizada a fazer doação pura e simples ao Círculo
Operário Católico, de 50 lotes de terrenos de sua propriedade, situados em Vila
Guarani, na Vila Jaguaribe, com a área aproximada de 300m2 cada lote para
construção de casas destinadas a locação a operários.
Ficou estabelecido o prazo
de 6 meses para o início das respectivas obras e o de 5 anos para o término das
construções, em todos os lotes. A renda líquida da locação seria aplicada na
construção de novos prédios, com o mesmo objetivo.
O Senador Roberto Simonsen,
Presidente da Comissão de Fomento, colaborou decisiva e intensamente na
construção dessas casas operárias, tanto na Vila Guarani como São Francisco,
iniciadas pelo Círculo Operário Católico.
Em 13 de maio de 1946, foi lançada
a pedra fundamental da Vila Operária, em Jaguaribe, em solenidade presidida por
Dom Carmelo, José Carlos de Macedo Soares e Roberto Simonsen.
Frei João Crisóstomo Arns, irmão
do Cardeal Arcebispo de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns, em 1942, era
vigário da paróquia jordanense, lembrou da Vila Operária de São Francisco,
entre Jaguaribe e Capivari, em terreno doado pelo embaixador Macedo Soares.
Também lembrava que a Vila
Guarani, mereceria uma placa espiritual, memorial de bondade da Condessa Crespi
que ajudou, de coração aberto, aquela realização para muitos desabrigados
daquele tempo.
De 1946 a 1947, deu-se o
início de construção das vilas, para uso dos seus operários. Ao construir,
empresários como Francisco Matarazzo, Conde Rodolfo Crespi, senador Roberto Simonsen
e interventor Macedo Soares, doam valores e áreas de terrenos, partes inteiras,
para as vilas operárias, disputadas pelos trabalhadores.
O modo de construir
característico, original das casas jordanenses, passado o período do
tropeirismo, foi, evidentemente, o das casas de madeira.
Por ser um material de
comportamento térmico compatível com o clima das serras altas, e ser encontrado
com relativa facilidade (Araucária) começaram a ser construídas as casas de
madeira num sistema construtivo similar àquele praticado no sul do Brasil,
notadamente no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná.
As casas de madeira de
pinho, extraída do pinheiro de Campos do Jordão, eram construídas, suportadas
sobre pequenos pilares de alvenaria, pedras, tijolos, ou até de madeira mais
dura e de durabilidade maior, como a aroeira e outras de espécies semelhantes,
obrigando os assoalhos a ficarem suspensos do solo, criando na parte debaixo os
conhecidos porões, que, além da principal função de proporcionar a devida e
necessária ventilação e evitar umidade, e que a madeira dos assoalhos ficasse
ardida ou viesse a apodrecer. Também eram aproveitados para guardar lenha para
os fogões e outras finalidades e pertences não utilizados com frequência. Os
porões são originários dos países frios que construíam suas moradias com porões
altos, onde reuniam o gado à noite para aproveitarem também seu calor.
Eram casas com assoalho e
paredes de madeira, taboas de 20 a 30 cm de largura com “mata-juntas” de ripas
como arremate. Os forros eram normalmente também de pinho, porém do tipo
“paulistinha”. Com isso, evitava-se a entrada de insetos e mais que tudo, do
vento, especialmente na época do frio intenso de nossos invernos.
Os telhados em zinco ou
cerâmica, existindo exemplares notáveis dessas casas até os nossos dias. Podemos apreciar algumas dessas moradias na
Vila Guarani, Vila São Francisco, Vila Ferraz e Vila Bazin, por exemplo.
O interessante, dizem os
antigos, é que a madeira utilizada não sofreu a ação dos carunchos, pois foi
extraída “na lua certa” e depois era “entaleirada” durante muito tempo ao sol e
chuva, para a secagem.
Na Vila Guarani, como também
São Francisco, e anteriormente, Vila Ferraz, na época em que não havia nenhum
tipo de restrição para o corte de árvores em geral, muito menos algum tipo de conservação
ambiental, a árvore símbolo da nossa terra – o pinheiro-do-paraná, hoje
devidamente protegido por lei específica, era derrubada indiscriminadamente,
para a produção de madeira de excelente qualidade e empregada na construção de
móveis diversos, madeiramentos e outras finalidades, especialmente nas
construções de casas típicas de madeira, e enviada para diversas cidades
paulistas para idênticas finalidades.
Nas cozinhas e banheiros,
mesmo nas casas em que estes cômodos eram construídos em alvenaria, o forro era
feito de ripas de pinho sobrepostas, formando pequenos vãos em forma de
quadrados ou losangos, para facilitar a ventilação, favorecendo a escoação de
vapores, evitando a umidade nos banheiros e facilitando a escoação de alguma
fumaça nas cozinhas, em virtude da utilização dos tradicionais fogões de taipa
à lenha. Esses forros, normalmente nas salas e quartos das casas, eram
envernizados. Nos banheiros e cozinhas, pintados com tinta à base de óleo ou
esmaltados.
A princípio, não apenas as
casas de madeira de pinho, mas também outras construídas em alvenaria, eram
cobertas com as telhas onduladas de zinco, material metálico parecido com a
conhecida lata, com certo tratamento especial que lhe conferia maior
durabilidade, com ondulação semelhante à das telhas Eternit ou Brasilit,
anteriormente feitas de cimento amianto que, na época da chuva, já faziam um
grande barulho, e quando ocorria a precipitação de granizo, o barulho era
enorme e ensurdecedor. Na época da tuberculose, até os primeiros e mais simples
sanatórios tinham cobertura de zinco. Posteriormente, esse tipo de cobertura
foi sendo, aos poucos, substituído por essas telhas, até hoje utilizadas em
grande escala, feitas de barro requeimado em fornos especiais.
O frei Demétrio Stefano
assumia a Paróquia em 2 de fevereiro de 1947, e em 26 de outubro,
convidava o povo para a cerimônia de entrega de 42 dessas casas em Vila
Guarani, quando o presidente do Círculo Operário, Eduardo Moreira da cruz,
homenageou o senador Roberto Simonsen.
Algumas poucas dessas casas
de madeira, ao longo do tempo, foram desmanchadas ou completamente reformadas,
alterando totalmente suas características iniciais.
O Conde Rodolpho Enrico Crespi,
filho de Cristóforo Benigno Crespi e Pia Travelli, nasceu em 30 de março de
1874 em Bristo, Arzicio, próximo a Milão, Varese, Lombardia, Itália, casou com
Marina Regoli.
Um imigrante italiano,
industrial brasileiro da área têxtil, radicado em São Paulo, que descendia de
uma tradicional família italiana, remanescente do Império Romano, que construiu
um dos maiores grupos industriais do Brasil da primeira metade do século XX. Sua
fortuna foi avaliada a 03 bilhões de dólares americanos atuais.
Incentivado por Enrico
Dell’Acqua, iniciou a sua carreira em São Paulo, em 1892, com modesto capital,
possuía uma das mais importantes organizações industriais do país. Logo que
chegou, instalou uma pequena tecelagem no bairro da Moóca, tradicional reduto
da colônia italiana na capital paulista. Em 1898 sua indústria, mais tarde
denominada Cotonifício Rodolfo Crespi, já estava instalada num enorme prédio de
três andares na esquina da rua dos Trilhos com a rua Taquari. Foi presidente e
membro das maiores instituições da comunidade italiana no Brasil, tendo
participado de grandes iniciativas financeiras e industriais.
Em 1907, durante sua
trajetória, Rodolfo Enrico Crespi recebeu honrarias do governo italiano: a
condecoração de “Cavalheiro do Trabalho”, a primeira concedida a italianos
residentes no Brasil; a de Comendador; a de Grande Oficial e de Cavalheiro da Grande
Cruz da Corte da Itália; além do título de Conde, dado em 1928, pelo Rei Vítor
Emanuel III da Itália, transmissível aos filhos. O governo brasileiro
conferiu-lhe a condecoração da ordem do “Cruzeiro do Sul”.
No Brasil, dentre os amigos,
destacam-se, Assis Chateaubriand, diretor dos “Diários Associados”, e o Conde
Francisco Matarazzo.
Em 1895, o conde Rodolfo casou-se com Marina Regoli Crespi, filha de Pietro Regoli e Margarida Orlandi, a mais bela italiana e a mais gentil das senhoras do Círculo italiano. Nascida em uma das mais velhas e aristocráticas famílias de Florença, Fosciana Toscana, Itália, em 11 de abril de 1879. Veio ao Brasil com 10 anos de idade.
Seus filhos foram a Condessa
Renata de Crespi, nascida em 08 de outubro de 1897, casada com Fábio da Silva
Prado (bisneto do barão de Iguape, prefeito de São Paulo). Trabalhou fortemente
em ações filantrópicas e foi a primeira dona do imóvel que hoje abriga o Museu
da Casa Brasileira.
Foi prefeita da cidade de Guarujá
em 1946, e ajudou nas transformações históricas, culturais e urbanísticas na
cidade de São Paulo. Criou a Fundação Crespi Prado, em 1975.
O conde Adriano Crespi,
nasceu em 14 de 11 de 1899, casado com Maria Imaculada Rondine (Titina
Rondino Crespi), pais de Maria Adélia Crespi e Renata Adélia Crespi.
O conde Dino Crespi, nascido
em SP, em 06 de março de 1900, casado com Nelida Cenci, foram os pais de
Rodolfo Raymundo Crespi e Marco Fabri.
O conde Raul Rolando Crespi
nasceu em 14de dezembro de1909. Casado com Irene crespi, artista
plástica. Sua filha, a condessa Carla.
Conde Rodolfo Enrico Crespi
fundou a obra “Ninho Jardim Condessa Marina Crespi”, em 1936, um refúgio para a
crianças, filhos de operários, cujos pais passavam grande parte do dia na
labuta das fábricas.
A Fundação “Ninho Jardim Condessa
Marina Crespi, foi criada em 1936 pelo casal de italianos, Marina e Rodolfo
Crespi. Esse equipamento educacional teve o apoio do Estado com incentivos
financeiros e fiscais, professoras formadas e educadora sanitária. Estava localizada
nas proximidades da empresa do conde, Rodolfo Enrico Crespi, detalhe que
facilitava a entrega e retirada das crianças que deveriam ser feitas
necessariamente pelas mães de acordo com o que exigia a diretoria do Ninho
Jardim. Durante os primeiros trinta anos, ou seja, de 1936 a 1965, a Fundação
foi administrada por um Conselho Curador, composto por membros da família Crespi.
O grande industrial
italiano, conde Rodolfo Enrico Crespi, faleceu em 27 de janeiro de 1939.
A condessa Marina Regoli Crespi
ensinou como se faz a verdadeira caridade, sem ostentação. Sempre esteve ao
lado dos fracos e dos bons.
Padrão para gente de hoje e
de amanhã. Quem quiser um bom exemplo, uma boa estrela para lhe servir de guia,
conheça e imite a condessa Crespi, nos mínimos detalhes de educação.
Aprendam com ela os gestos
insignificantes e hoje tão raro, mas tão necessários: saber aceitar uma flor e
lembrar que faz parte das boas maneiras, agradecer um presente, uma palavra
amável. Nos pequenos gestos identificamos as grandes pessoas, realmente finas,
realmente educadas.
A condessa Marina Regoli Crespi
ainda serve de padrão e de guia. Aprendam com ela, no seu exemplo, a conduta
que a mulher deve seguir na sociedade. Agindo como uma senhora, cultivava as
boas maneiras, fugindo das futilidades, não esquecendo de fazer o bem. Diante
da pobreza, o coração da condessa se abria, semeando generosidades
Uma preciosa reserva de
sentimentos filantrópicos. Seu nome esteve ligado indelevelmente a todas as
iniciativas humanitárias que se empreenderam na capital paulista e interior do
Brasil.
Doou um posto de
Puericultura no estado do Pará. Com carinho devota à obra de proteção à
infância e a todos os cometimentos filantrópicos que revertam em benefício para
o povo.
Enviou numeroso donativo, no
valor de CR$ 400.000,00, nobre gesto, vocacional, à benemérita Campanha da
Redenção da Criança, dirigida pela sra. Darcy Vargas, em 24 de março de 1944.
Foi uma vontade posta ao serviço de um caráter.
Quando completou 80 anos, a
29 de abril de 1959, a figura veneranda da Condessa Marina Regoli Crespi, com seu
gesto pedindo aos amigos que não lhe mandassem flores foi uma magnífica lição
de solidariedade humana. Preferiu que a homenagem fosse transferida aos
pequenos que ela adotara e tratou como filhos, protegendo a infância que perdeu
seus pais, mas encontrou um lar na proteção da Condessa de Crespi.
Ligou o seu nome ao Museu de
Arte de são Paulo e muitas iniciativas de proteção aos artistas.
Foi condecorada pelo papa. O
presidente da República assinou decreto conferindo a ordem Nacional do Cruzeiro
do Sul no grau Oficial.
A senhora condessa Marina Regoli Crespi morreu
em 31 de dezembro de 1964 e foi sepultada no cemitério da Consolação, na
presença de figuras das mais representativas de nossa sociedade, contando com a
idade de 85 anos.
Frei João Crisóstomo Arns também lembrava que a Vila Guarani, mereceria uma placa espiritual, memorial de bondade da Condessa Crespi que ajudou, de coração aberto, aquela realização para muitos desabrigados daquele tempo.
Fontes:
Jornal “Il Moscone”,
de 20 de novembro de 1960;
Revista “A Scena Muda”,
de 09 de outubro de 1945;
Jornal “Correio da Manhã”,
de 16 de setembro; 1952 de 25 de dezembro de 1955;
Jornal “Correio
Paulistano”, de 28 de janeiro de 1939; 31 de março de 1940; 16 de setembro
de 1952; 11 de abril de 1959;
Jornal “A Noite”, de
24 de março de 1944; 15 de outubro de 1944;
Jornal “Diário da Noite”,
de 25 de janeiro de 1944; 30 de setembro de 1947; 29 de abril de 1959;
Jornal “O Jornal”, de
20 de janeiro de 1944; 22 de janeiro de 1944;
Revista “O Cruzeiro”,
19 de fevereiro de 1944; de 22 de março de 1958;
Annuário Genealógico
Brasileiro (SP) - 1939 a 1948;
Jornal “Diário de
Pernambuco”, de 31 de dezembro de 1964.
Paulo Filho, Pedro. A
Montanha Magnífica. Memória Sentimental de Campos do Jordão. Vol. 1. Campos
do Jordão. O Recado. 1997. P.368
Lino, Maurício de Souza. Da
Freguezia do Imbery aos Campos do Jordão. Campos do Jordão. Clube de
Autores. 2016. P. 616
Condessa de Bonneval II
Danilo Delácio
Dr. Antonio Nicola Padula
Dr. Carlos Brunetti
Fontes:
Dr. Edmundo Ferreira da Rocha
O Complexo Cultural Edmundo Rocha é o
reconhecimento atribuído pela Lei Municipal 3731/15 de 3 de julho de 2015, a
esse grande intelectual batalhador que há décadas se dedica à preservação da
memória cultural de Campos do Jordão.
Dentre as diversas atividades exercidas pelo
advogado, destacam-se:
● Vereador eleito em 1976;
● 1º Secretário da Mesa da Câmara Municipal -
02 anos;
● Tesoureiro da Santa Casa de Campos do
Jordão;
● Secretário do Conselho Municipal de
Cultura;
● Secretário da Associação Cultural de Campos
do Jordão;
● Secretário de Recreação do Tênis Club de
Turismo – 07 anos;
● Presidente do Abernéssia Futebol Clube;
● Secretário da Obra Social João XXIII;
● Tesoureiro do S.O.S. – Serviço de Obras
Sociais;
● 02 anos na
Secretaria da Justiça em São Paulo – 1965;
● Assessor na
Diretoria na UNIMED em Campos do Jordão por 11 anos;
● Funcionário na Armco
Industrial e Comercial em São Paulo, 02 anos;
● Funcionário no Posto
Fiscal do Estado em Campos do Jordão por 13 anos;
● Gerente e
funcionário na Seção Comercial da CESP – Companhia Energética de São Paulo por
17 anos;
● Membro efetivo
da Academia de Letras de Campos do Jordão - Cadeira número 29, que tem como
patrono Guimarães Rosa, e saudado pelo Acadêmico Pedro Paulo Filho.
● Aposentado desde
dezembro de 1995.
Ter
alguém para se espelhar é muito importante para encontrar motivação. O exemplo
que me rodeia faz diferença, pois sempre me inspirou durante minhas pesquisas e
trabalhos. Está no meu círculo de amizade, profissional e até mesmo junto a
celebridades.
Um dia fui convidado a ir em sua casa. Olhei
para o interior da sala, e me inspirei naquela pessoa que reside ali. Foi
incrível. Naquele momento senti um apoio, pois seu ensino me fez amadurecer, e me
trouxe respeito e valores. Aprendi que ter uma boa sala de trabalho como local
escolhido para passar metade do seu dia é fundamental. E, ali, pensei, acontecem as trocas de
experiências e o contato com outros profissionais qualificados. Senti-me
honrado, pois, o seu respeito aos colegas de profissão, trouxe a inspiração e,
consequentemente, a ser um melhor profissional, e uma melhor pessoa.
Falamos o necessário, ouvi diferentes
histórias, me deu muitas respostas sobre pesquisas. Descobri mais ainda que minha
inspiração vem de pessoas, pessoas como Dr. Edmundo. Ouvir suas histórias,
trajetórias, lutas, conquistas e ver como é possível alcançar o que quero ou
pelo menos estar no caminho e ter a certeza de que tudo pode dar certo. Sua
dedicação à história é a minha fonte de inspiração!
Quando escolhi minha carreira profissional,
na maior parte das vezes, estive inconscientemente reproduzindo uma escolha
feita por alguém no passado e que, de alguma maneira, tenha me inspirado a
fazer a mesma coisa ou a seguir o mesmo caminho. Dr. Edmundo é um exemplo que
sigo no trabalho, uma fonte de inspiração profissional, porque gosta daquilo que
faz.
É minha referência, meu exemplo, que pelas suas ideias, conhecimento, capacidade e entusiasmo, me motiva e me alavanca enormemente nesta fase que me encontro. Percebo nas suas atitudes quais são meus acertos e erros, como me conduzir às mais diversas situações e avaliar sobre o que pode ser reproduzido ou adaptado ao dia a dia.
Dr. Edmundo como a minha inspiração na
profissão me faz ser responsável e, muitas vezes, me traz um reconhecimento
interior de estar fazendo bem a minha parte. Ele inspira a minha vontade de
evoluir na profissão de historiador. Uma pessoa de grande destaque profissional ao
realizar seu trabalho de forma séria, acredita e ama o que faz, com competência,
seriedade e ética, em todos os sentidos possíveis. Grande exemplo de homem.
Fonte:
www.camposdojordaocultura.com.br
Dr. Irineu Gonçalves da Silva
Dr. José de Magalhães
Fontes:
Jornal “Diário de Minas”, de 04 de abril de 1899;
Jornal “Correio Paulistano”, de 07 de janeiro de 1900;
Jornal “A Imprensa”, de 10 de janeiro de 1900;
Jornal “Gazeta de Notícias”, de 02 de fevereiro de
1900;
Jornal Online, “Folha da Região de Olímpia”, de 03 de
março de 2018.
Acervo da Comissão Construtora da Nova Capital de Minas.
Arquivo Público da cidade de Belo Horizonte.
Dr. Plinio Barbosa Lima
Dr. Plinio Barbosa Lima muito trabalhou pela estância, enfermo dos pulmões, em meados de 1917, e em dois anos obteve a cura, fixando-se na povoação e cooperando decisivamente para o seu desenvolvimento.
Contando um pouco mais de 30 anos, já se revelara em todo o valor de seus predicados pessoais, que lhe abriam perspectivas de um futuro brilhante. Quando chegou residiu na Pensão Backer em Vila Inglesa, e mais tarde no Hotel Helvetia em Vila Capivari (antiga Pensão Glória).
Dr. Plinio Barbosa Lima aos 31 anos foi clínico ilustre e humanitário, médico pioneiro de Campos do Jordão. Logo a sua clínica prosperou, graças à sua competência, especialista de moléstias do aparelho respiratório. Como os entusiasmos de seu temperamento o impelissem a uma atuação intensa, logo se tornou um dos grandes trabalhadores do progresso de Campos do Jordão, cercado da simpatia de todos e apoiado pela solidariedade dos habitantes daquele ponto.
1º Juiz de paz e chefe político da cidade, presidente do Diretório Político do Partido Republicano Paulista (P.R.P.).
Nascido em Minas Gerais, a 30 de maio de 1892, filho do pernambucano, dr. Geraldo C. Barbosa Lima, um dos mais antigos médicos das oficinas do Lloyd Brasileiro, e clínico durante muitos anos nos Estados de São Paulo e Minas Gerais. Seu pai foi Bacharel em Letras pelo antigo Colégio Pedro II e formado pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Sua mãe, Sra. Clarinda Monteiro de Barros (Barbosa Lima); duas irmãs, D. Esther Barbosa Lima Ferreira, esposa do farmacêutico e médico Alípio de Paula Ferreira; e a senhorita Lygia Barbosa Lima e o irmão, o dr. Raul Barbosa Lima, que exercia um importante cargo na magistratura do Estado do Paraná.
O dr. Plínio Barbosa Lima foi convidado para ser um dos diretores do Sanatório Miguel Pereira, a construir-se brevemente, em Campos do Jordão. Por isso, ideou a fundação de um grande sanatório, que mereceu os aplausos do governo paulista, que confiou a ele a missão de colher na Europa as informações e de adquirir o material necessário à fundação do grande estabelecimento.
Em sua trajetória, aconteceu um crime passional. Em 1918, o subdelegado, Carlos Fernandes Chaves, um homem decidido e de pouca conversa, que tinha fama de homem ruim, que batia no pessoal, tinha uma desagradável afinidade com o dr. Plínio Barbosa Lima: ambos gostavam da mesma mulher, e como não poderia deixar de ser, desentenderam-se.
Santerre Guimarães, dono da Pensão Sans-Souci, situado nos altos de Vila Fracalanza, também se desentendera com o dr. Plínio Barbosa Lima. O médico ficara sabendo que o subdelegado e Santerre tramavam contra ele.
O dr. Plínio Barbosa Lima estava sendo ameaçado de morte pelo sr. Santerre Guimarães, que, para o eliminar, mandara buscar no Rio de Janeiro um facínora da Saúde. Temendo o assassínio, agiu como lhe cumpria: procurou o subdelegado Chaves e pediu-lhe garantias. Telegrafou também ao dr. Moreira Cezar, delegado Regional de Guaratinguetá, reiterando o pedido. O dr. Moreira Cezar providenciou, telegrafando ao seu subordinado de Vila Jaguaribe que expulsasse ou processasse como vagabundo o capanga do sr. Santerre. Mas o subdelegado era velho desafeto do dr. Plínio Barbosa Lima e, agindo de acordo com péssimos precedentes, entrou a protelar a execução das medidas que lhe eram ordenadas.
Por irrisão, ofereceu ao ameaçado um praça para o acompanhar, como se isso o livrasse de uma tocaia, como se fosse possível viver no papel de covarde que obtém da polícia um guarda-costas, expondo-se à chacota de todos.
O dr. Plínio Barbosa Lima não se conformou com a situação e dirigiu-se à Estação da Estrada de Ferro para telegrafar novamente ao delegado Regional, pedindo-lhe novas e mais eficazes providências. Ao que informa o jornal “Correio de S. Bento”, o subdelegado Chaves interpôs-se nessa ocasião para lhe dizer que o seu ato era infantil e que ele, Chaves, como subdelegado, melhor saberia as medidas a serem tomadas. Provavelmente, não fora só isso.
O fato é que o dr. Plínio Barbosa Lima se exasperou ao ver que a autoridade policial, soube se tornar conivente com o sr. Santerre e seu capanga, ainda tentava impedir a queixa ao delegado Regional, como que a querer deixá-lo, ao desamparo para melhor execução do plano sinistro. “Bandido!” _ exclamou. E, levando o revólver à cara de Chaves, desfechou-lhe um tiro no olho direito. E daí saíram, um, feito assassino pela fatalidade, para a cadeia; outro, vítimas de seus próprios defeitos, para o cemitério.
O dr. Genésio Cândido Pereira, promotor público de São Bento do Sapucaí, apresentou denúncia contra o dr. Plínio de Barros Barbosa Lima, dando-o como incurso no art. 294, parágrafo 2º do Código Penal, por haver assassinado o subdelegado Carlos Fernandes Chaves, após acalorada discussão em que foram trocadas pesadas injúrias, porque essa autoridade não queria que o denunciado reclamasse garantias de vida ao delegado regional de Guaratinguetá. No sumário de culpa depuseram numerosas testemunhas, confirmada as versões.
Quem produziu a defesa do dr. Plínio Barbosa Lima, acusado de crime de homicídio na pessoa de Carlos Fernandes Chaves, subdelegado de Campos do Jordão, foi o ilustre tribuno criminal brasileiro, dr. Evaristo de Moraes. Foi absolvido.
Tempos depois, o notável e humanitário clínico no Estado de São Paulo, dr. Plínio Barbosa Lima, seguia para o Velho Mundo, em viagem científica, comissionado pelo governo federal para estudar a organização dos mais modernos sanatórios da Suíça. A bordo do luxuoso paquete “Giulio Cezare”, passou pelo porto da capital, Rio de Janeiro.
A missão de que se achou investido esse ilustre médico patrício estava à altura dos seus grandes méritos, um dos mais ardorosos propugnadores da solução do problema hospitalar brasileiro sob as suas várias modalidades. Com a sua observação percuciente de experimentado cientista, na visita que foi fazer aos sanatórios europeus, aprenderia, facilmente, os processos modernos a que obedeceria a instalação desses estabelecimentos, a fim de adotá-los em nosso meio.
Estava participando da IV Conferência da União Internacional contra a Tuberculose, reunida em Lausanne, Suíça. Em meio dessa tarefa, o acaso brutal de um desastre de aviação o alcança e o vítima, cortando-lhe em começo uma carreira brilhante e de que já entrevia a notável benemerência.
Dr. Plínio Barbosa Lima, 31 anos, no dia 24 de dezembro de 1924 foi vitimado num desastre de aviação no aeródromo de Croydon, Inglaterra, Europa, quando ia em viagem, de Londres para a Suíça.
Poucos minutos, depois de deixar em Londres o aeródromo de Croydon, o aeroplano expresso de Paris, avião da linha “Imperial Airway”, trazendo a bordo, oito passageiros:
M. Sproston, um filho e a nora; Maurício Luxembourg, um jovem de dezoito anos; madame Balley, todos cidadãos britânicos; o médico Plínio Barbosa Lima, brasileiro e M. Cedrid Truggett, chileno, redator principal da “Revista Chilena” que se publica em Londres, caiu ao solo.
Os seus 7 passageiros que se destinavam a Paris, aonde provavelmente iam passar o Natal, mais o piloto, morreram instantaneamente. Assim que se deu a colisão, a máquina explodiu. Grandes chamas envolveram o aeroplano. Quando os espectadores puderam aproximar-se, havia apenas um montão de cinzas. As vítimas estavam irreconhecíveis.
O piloto, capitão inglês, D. A. Stewart, 30 anos, casado, pai de quatro filhos, condecorado com a medalha militar britânica pelos serviços prestados no “front” durante a grande guerra, era muito competente.
Os pais de Maurício Luxembourg que tinham ido a Croydon para despedir-se do filho, assistiram, petrificados, no desenrolar da tragédia e viram, impotentes, a fogueira que consumia o filho.
Os espectadores, que se achavam a duzentas ou trezentas jardas do local do desastre, notaram que o aeroplano voava a pouca altura e em linha curva, ao invés de seguir, em reta, rumo da costa. Temeram que o aeroplano fosse de encontro às casas vizinhas. Segundos depois, ouviam um grande estrondo e viam elevarem-se no ar as chamas rubras do incêndio. Foi impossível aproximar-se logo da máquina, devido ao calor.
Em seis minutos, chegava o corpo de bombeiros, tendo feito um percurso de duas milhas.
Foi aberto um inquérito para apurar a causa do desastre do aeroplano em que pereceram as pessoas. O Juiz da Instrução, no correr do interrogatório, anunciou que o piloto, alguns dias antes do desastre, se queixara de que o motor não estava funcionando bem devido a estarem frouxos os lubrificadores. Segundo algumas testemunhas do acidente – pilotos aviadores – o avião tinha dificuldades em aterrissar no vasto aeródromo de Croydon, afirmando que o motor funcionava mal e não obedecia às manobras. Porém, o piloto tentou ser bem-sucedido, fazendo por descer devagar, mas como o aparelho estava muito carregado, em desarmonia com a força motora, Stewart viu que não podia ir muito longe e, portanto, tentou uma volta para regressar junto do hangar do aeródromo. Foi a sua perda, assim como a dos seus companheiros!
O aparelho, perdendo velocidade, deixou de funcionar e tombando para um dos lados caiu em terra, de frente como uma flecha, despedaçando-se no descampado de Purly e incendiando-se. Sucedeu então a horrível tragédia, a que assistiram os espectadores, sem lhe poderem acudir. O avião tornou-se rapidamente um gigantesco braseiro, alimentado pela gasolina contida no depósito, que havia rebentado. Era meio-dia; os numerosos operários das construções de casas baratas, que deixavam o serviço para jantar, acudiram logo, assim como os bombeiros do Croydon.
Na capital, Rio de janeiro, além da Missa de 7º dia, rezou-se uma Missa solene na Igreja de Nossa senhora da Candelária, armando-se no centro da Igreja uma eça, sobre a qual se colocou, ladeado de seis tocheiros, o féretro em que veio da Europa o cadáver do dr. Plínio Barbosa Lima.
Como era desejo manifesto do dr. Plínio Barbosa Lima ser sepultado em Campos do Jordão, foi o féretro transportado, com numeroso acompanhamento, até aquela cidade paulista, onde espontâneas e grandes manifestações de pesar foram prestadas, pela população local, ao médico que tanto havia concorrido para a prosperidade de Campos do Jordão, onde habitava há cerca de dez anos. O corpo do dr. Plínio Barbosa Lima chegou a Campos do Jordão aos 27 de janeiro de 1925.
Entre as homenagens prestadas em Campos do Jordão, realizou-se no dia 18 de fevereiro de 1925, no salão do Cinema Jandyra, uma sessão cívica em homenagem ao dr. Plínio Barbosa Lima, distinto clínico e chefe político, presidida pelo dr. Raphael Sampaio Vidal, ex-ministro da Fazenda, tomando assento ao seu lado os srs. Dr. Marco A. Nogueira Cardoso, Tadeu Rangel Pestana, dr. Fábio de Oliveira, José V. Sgrillo e Antonio Fonseca Mondino.
Ao abrir a sessão, o dr. Sampaio Vidal disse que agradecia o convite que recebera para presidir aquela solenidade, em que se prestava uma significativa homenagem ao grande médico a quem Campos do Jordão muito devia, pois que se tratava não só de um especialista de muito merecimento, como de um verdadeiro sacerdote da medicina.
Teve então a palavra, para fazer o elogio fúnebre do dr. Plínio Barbosa Lima, o sr. Tadeu Rangel pestana, que pronunciou um extenso discurso, historiando a vida do homenageado e realçando os merecimentos que todos lhe reconheciam.
Disse que nele, o primeiro médico que se estabelecera em Campos do Jordão e no seu esforço de propaganda das condições climatéricas do local se contava um dos melhores elementos da prosperidade da região. Lembrou que o dr. Plínio fora à Europa a fim de preparar a instalação, em Campos do Jordão, do sanatório Miguel Pereira, de inauguração próxima. E durante sua estadia no Velho Mundo, frequentara, na Suíça, as clínicas das maiores notabilidades em tisiologia.
O governo federal do Brasil o encarregou de representar o nosso país no Congresso Internacional Contra a Tuberculose, realizado em Lausanne, em agosto de 1925, no qual se distinguiu sobremodo.
Perdeu a sua ilustre família, além do carinho e do afeto de um ente querido, um arrimo seguro e um chefe de rara dedicação, do qual podia com a justiça orgulhar-se. Perdeu Campos do Jordão um filho adotivo de grande dedicação e estima por esta terra. Perderam os seus clientes um médico competente e caritativo. Perdeu a classe médica um dos seus mais lídimos representantes na especialidade. Perdeu a política deste distrito um chefe de orientação segura e patriótica. Perderam os seus amigos um companheiro dedicado, em quem podiam confiar.
Depois do sr. Tadeu Rangel Pestana, também falou o dr. Heitor Sampaio, sendo a seguir encerrada a sessão cívica, que teve a concorrência das principais famílias, autoridades e grande número de amigos. Foi uma solenidade comovedora pela tristeza e pela saudade que se percebia na atitude dos presentes e pelo silêncio religioso e expressivo em que decorreu a sessão.
A família do finado esteve representada pelo seu digno irmão, o advogado, dr. Raul Barbosa Lima e exma. Senhora.
Foi executada a marcha fúnebre de Chopin ao abrir-se e ao encerrar-se a sessão. No palco via-se um retrato do finado envolto em crepe.
Fontes:
Jornal “O Paíz”, de 21 de junho de 1922;
Jornal “Gazeta de Notícias”, de 03 de junho de 1924;
Jornal “O Combate”, de 12 de julho de 1918; 28 de janeiro de 1925;
Jornal “Jornal do Brasil”, de 02 de janeiro de 1925;
Revista “A Cigarra”,
1ª quinzena de fevereiro de 1925.
Dr. Sylvio da Costa Rios
Dr. Sylvio da Costa Rios, nasceu no ano de 1916 na cidade de Salvador, BA. Quando tinha 20 anos, vitimado pela tuberculose, seu médico o mandou para Campos do Jordão, como última chance de vida para se tratar, ainda estudante. Tomou um avião e no meio da viagem surgiu uma turbulência violentíssima. Todos os passageiros estavam em pânico e só o Dr. Silvio, na maior calma.... Chegou um passageiro e perguntou o porquê daquela tranquilidade! A resposta: estou indo pra uma tal cidade de Campos do Jordão para morrer; e para mim não faz diferença morrer hoje ou o mês que vem!
Curado, voltou para sua cidade natal para formar-se médico, na Faculdade de Medicina da Bahia – UFBA em 1953. Com cursos especializados no Brasil e no exterior, inclusive nos Estados Unidos da América.
Retornou à cidade de Campos do Jordão para atuar no Sanatório S-3, hospital que lhe acolheu na doença. Prestou importantes e relevantes serviços em vários sanatórios e hospitais de Campos do Jordão, no combate à tuberculose, especialmente nas áreas da tisiologia e pneumologia.
Tisiologista, conhecido cirurgião torácico, diretor clínico da instituição filantrópica Bandeira Paulista Contra a Tuberculose; diretor Clínico do Sanatório 3 de Outubro; Diretor Clínico dos Sanatórios Populares S2 e S3; Membro da Sociedade Americana de Quimioterapia da Tuberculose, e sócio fundador da Associação Médica Brasileira, tornou -se o maior médico pneumologista do Brasil, salvando centenas, senão milhares de pessoas!
Grande médico clínico e cirurgião, pneumologista e tisiologista de Campos do Jordão, Dr. Sylvio da Costa Rios aplicou as suas atividades, projetando, bem alto, o nome da cidade, nessa difícil e especializada área.
Médico que a meio século lutou para salvar vítimas da tuberculose, pessoa honrada, que trabalhou árdua e seriamente desde a sua juventude em Campos do Jordão. Seu consultório estava instalado onde hoje se encontra o Laboratório de Análises Clínicas São Lucas, na Rua Pereira Barreto, 50.
Participou de muitos Congressos de Pneumologia e Tisiologia brasileiros.
Casado com Maria Helena Seabra Rios, nascida a 15 de novembro de 1938, mais conhecida por Leninha Rios, tiveram os filhos, Sylvio da Costa Rios Filho, Luiz Augusto Seabra Rios e Silvia Helena.
Foi professor em diversas faculdades da região e em várias disciplinas, nelas se incluindo a pneumologia, tisiologia, cirurgia torácica entre outras, tendo sido também professor na Faculdade de Medicina de Itajubá.
Dr. Sylvio da Costa Rios foi considerado um dos maiores médicos pneumologistas do Brasil.
Dr. Sylvio da Costa Rios foi um dos sócios fundadores do Lions Clube de Campos do Jordão, fundado em 24 de agosto de 1957 e seu 1º presidente eleito, por aclamação.
Dr. Sylvio da Costa Rios fez parte da Comissão Executiva para a fundação da SEA – Sociedade de Educação e Assistência, em Campos do Jordão.
Com a presença do Governador Laudo Natel e esposa, Prefeito Municipal, autoridades, a Sra. Anita Briza e inúmeros confrades, o Diretor Clínico, Dr. Silvio da Costa Rios, participou da inauguração, em 1975 do Sanatório 3 de Outubro.
Em 26 de setembro de 1962, recebeu das mãos do prefeito, José Antonio Padovan, o certificado de Conselheiro Municipal de Educação e Saúde.
Dr. Sylvio da Costa Rios, Presidente da Sociedade Americana de Quimioterapia da Tuberculose, entregou ao sr. Osmar Perazzo Lannes, Diretor Presidente dos Laboratórios Lepetit, em 1977, o Certificado (Pergaminho) em reconhecimento ao apoio dado por esse laboratório à erradicação da tuberculose no Brasil.
Dr. Sylvio da Costa Rios residiu em Campos do Jordão há longos anos, cercado do maior respeito, consideração e estima de todos os seus familiares, dos seus colegas e outros jordanenses, desenvolveu as suas atividades com muito desprendimento.
Faleceu no ano de 2004, quando completaria 90 anos.
Pelo decreto nº 3456 de 20 de dezembro de 1996, o logradouro situado na Vila Suíça, frente ao Hospital São Camilo foi denominado, “Praça Dr. Sylvio da Costa Rios". No dia 09 de julho de 2005, foi inaugurada pelo Governador do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin. A praça foi reformada e revitalizada no dia 27 de janeiro de 2018. Também existe uma rua que leva o seu nome, em Vila Capivari.
Fontes:
Jornal “A Gazeta da Pharmácia”, Ano XLVII, nº 558 -
outubro de 1978
Jornal “Correio Paulistano”, 26 de setembro de 1962;
Revista “Manchete”, 09 de setembro de 1978;
PAULO FILHO, Pedro. História de Campos do Jordão. Campos do Jordão. Editora Santuário. 1986. Pp.784.
Links:
http://ismaelgobbo.blogspot.com/2011_11_05_archive.html
Frederico Carlos Hoehne
Escondido entre os píncaros da Serra da Mantiqueira, fronteiro às cidades de Pindamonhangaba e Taubaté, fica um lugarejo encantador que se denomina Campos do Jordão. Assim se refere o naturalista, Frederico Carlos Hoehne, famoso botânico, em seu livro, quando em 1924 esteve na antiga Fazenda da Guarda, estudando as plantas de Campos do Jordão.
O cientista e naturalista, Frederico Carlos Hoehne nasceu em Juiz de Fora, MG, em 01 de fevereiro de 1882, tendo residido no Brasil por toda a sua vida.
Era um dos oito filhos de dois imigrantes alemães que chegaram em 1858 ao Brasil, ainda crianças. Os seus pais cresceram e se conheceram já no Brasil, casaram-se em 1870 e nunca retornaram ao seu país. O seu pai se dedicou à agricultura, à marcenaria e à montagem de máquinas industriais, nas imediações de Juiz de Fora, onde tinha um pequeno sítio.
Frederico Carlos Hoehne casou-se em 1907, com Carla Augusta Frieda Kuhlmann, também de ascendência alemã com quem teve quatro filhos, que lhe deram pelo menos 11 netos. Tal como Hoehne, seus filhos e netos aparentemente fixaram residência no país, caracterizando uma migração bem sucedida, no sentido de criar raízes e aproveitar perspectivas novas no país de destino. Um de seus filhos, engenheiro Wilson Hoehne, foi professor de faculdade de farmácia de São Paulo.
Foi um botânico brasileiro, defendendo a proteção da natureza durante toda a sua vida, sendo o pioneiro no tema entre os cientistas do país. Também fora escritor e diretor de instituições específicas, como o Instituto Butantã, o Instituto de Botânica de São Paulo, o Zoológico de São Paulo e o Museu Botânico Dr. João Barbosa Rodrigues. Sua prática de campo e gabinete possibilitou publicações de sua autoria, como também como coordenador, nos órgãos que dirigiu.
Em 1907, quando tinha 25 anos, deu o grande salto que lançou a sua carreira de pesquisador e cientista. Com a ajuda do presidente da Câmara de Vereadores de Juiz de Fora, amigo de sua família, este jovem interiorano sem formação científica conseguiu ser nomeado, um tanto surpreendentemente, para o cargo de Jardineiro-Chefe do Museu Nacional do Rio de Janeiro, a maior instituição científica do país.
Poucos meses depois de assumir o cargo, em 1908, foi convidado a integrar uma expedição de naturalistas do Museu Nacional que acompanharia Cândido Mariano da Silva Rondon numa viagem ao Mato Grosso.
Partiu para essa que seria a primeira de suas numerosas viagens de pesquisa a muitos pontos do Brasil. Em fins de 1909, voltou de Mato Grosso trazendo 2.000 plantas colhidas em vários locais do então remoto e gigantesco estado, as quais foram incorporadas ao herbário do Museu Nacional.
Enviou alguns exemplares florísticos à Alemanha, para identificação. Desenhos seus (de plantas) foram impressos também na Alemanha e depois anexados ao relatório oficial da expedição de Rondon.
Em 1910, Frederico Carlos Hoehne estava de volta a Mato Grosso, na companhia dos botânicos Hermano e Geraldo Kuhlmann, em nova expedição de estudos da flora.
Em 1912, foi, outra vez, botânico de uma expedição de Rondon (Mato Grosso e Amazonas) e em 1913 , como Chefe do Gabinete de Botânica da Inspetoria de pesca, do Ministério da Agricultura, desempenhou a mesma função na chamada Expedição Científica Roosevelt-Rondon, na expedição do Coronel Theodoro Roosevelt, ex-presidente dos EUA, e que no princípio de um ano cadente, atravessou extensa e até então desconhecida zona do interior do Brasil, em abril de 1914. Em pouco mais de cinco anos, portanto, fez quatro longas viagens de exploração científica.
Na verdade, Frederico Carlos Hoehne exerceu funções públicas durante 47 anos, como Jardineiro Chefe do Museu Nacional, Chefe do Gabinete de Botânica da Inspetoria de Pesca, do Ministério da Agricultura, Botânico da Expedição Científica Roosevelt -Rondon encarregado também da colheita e preparo de materiais de zoologia, Botânico do Horto Oswaldo Cruz, Chefe da Secção de Botânica do Museu Paulista, Chefe da Seção de Botânica e Agronomia do Instituto Biológico, Diretor Superintendente do Departamento de Botânica do Estado e, por fim, Diretor do Instituto de Botânica, da Secretaria de Estado dos Negócios da Agricultura.
O Museu Nacional, vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), é a mais antiga instituição científica do Brasil que, até setembro de 2018, figurou como um dos maiores museus de história natural e de antropologia das Américas.
Localiza-se no interior do parque da Quinta da Boa Vista, na cidade do Rio de Janeiro, estando instalado no Palácio de São Cristóvão. O palácio serviu de residência à família real portuguesa de 1808 a 1821, abrigou a família imperial brasileira de 1822 a 1889.
A realização do Jardim Botânico de São Paulo deve-se ao persistente e valoroso dr. Frederico. Foi chamado ali com o fim de assentar as bases para a organização de um jardim botânico que devia começar pela cultura e exposição de plantas ornamentais mais interessantes da flora indígena.
Em 1952 recebeu o título de Servidor Emérito do Estado de São Paulo. Membro titular da academia Brasileira de ciências Seção de ciências biológicas. Foi agraciado com a medalha de mérito D. João VI em 1958.
Devemos reconhecer, por ser de justiça, que cabe a ilustres naturalistas de além mar, os primeiros brados eloquentes, concitando o Brasil a defender e a proteger, o quanto possível, os riquíssimos patrimônios do seu maravilhoso reino vegetal.
O cientista e naturalista, professor Francisco Carlos Hoehne, foi o maior botânico do Brasil. Entre as centenas de monografias que escreveu sobre a nossa flora, vem de publicar um tratado sobre as plantas medicinais e venenosas; sob o título de Plantas e Substancias Vegetais toxicas e medicinais. Faleceu em 16 de março de 1959 com 77 anos.
Fontes:
Relatórios do Ministério da Justiça (RJ) - 1891 a 1927 1908;
Jornal “Jornal do Commercio” (RJ) de 07 de janeiro de
1936;
Annaes da Academia Brasileira de Ciências (RJ) em 1931;
Jornal “Correio Paulistano” (SP), de 11 de junho de
1938; janeiro de 1940;
Almanak Laemmert: Administrativo, Mercantil e Industrial (RJ)
- 1891 a 1940;
Jornal “A Noite” (RJ), de fevereiro de 1913;
Illustração Brasileira (FRA) – 1901 a 1958;
Jornal “Gazeta de Notícias” (RJ) - 1900 a 1919 25 de
fevereiro de 1917;
Revista “O Campo”, de abril de 1937;
Jornal “A Notícia”, 15 de janeiro de 1940;
Livro: Flora Brasílica;
Suplemento de Divulgação Cientifica de "A Manhã"
(RJ) - 1948 a 1950 24.04.1949;
Jornal “Última Hora” (PR) de março de 1959;
Sociedade Brasileira de Orquidófilos (RJ) - 1958 a 1962 agosto de 1958;
Suplemento Literário (SP) - 1956 a 1985 19.07.1975;
Ciência e Cultura (SP) - 1949 a 2017 10.10.1984;
“Botânica e Agricultura no Brasil no século XVI”;
Plantas e substancias vegetais, tóxicas e medicinais;
As Ferrovias do Brasil nos cartões-postais e álbuns de
lembranças por João Emilio Gerodetti, Carlos Cornejo.
Links:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Museu_Nacional_(Rio_de_Janeiro)
Frei Orestes Girardi
Campos do Jordão, malgrado a modesta situação da grande maioria de seu povo, foi nas décadas de 1950-1960, centro de franco desenvolvimento. O seu clima privilegiado, a sua natureza paradisíaca, credenciaram-na como uma das mais renomadas estâncias de cura e turismo, atraindo cada vez mais, contingentes de criaturas provindo de cidades limítrofes da região de Minas Gerais e também de longínquas partes do país.
Essas pessoas quase sempre de parcos recursos, promoveram o aumento da população em sub-condições de vida, crianças e adultos a reclamar do poder público e da iniciativa particular assistência de toda ordem. Com o aumento da população de Campos do Jordão surgiram graves problemas, o amparo às crianças órfãs e abandonadas. Para colaborar na solução de angustiosos problemas criados por esta situação é que a Sociedade de Educação e Assistência - SEA, sob a direção de Frei Orestes Girardi se propôs a realizar esta obra.
Frei Orestes Girardi, Irmão Franciscano, da Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil, nasceu em Nova Prata, RS., aos 06 de setembro de 1921, batizado por Antônio Fernandes. Entrou na Ordem Franciscana aos 06 de setembro de 1936. Passou em várias fraternidades no Sul, servindo como alfaiate, hortelão, porteiro, sacristão, enfermeiro, auxiliar de dentista.
Sua chegada a Campos do Jordão deu-se no ano de 1955, designado a auxiliar como porteiro e sacristão. Trabalhou na Igreja Matriz de Santa Teresinha, nos serviços gerais de reboco de paredes, ornamentação dos altares, na aquisição e instalação dos sinos, e serviços de secretaria e de portaria.
Impressionado com a extrema pobreza encontrada nos bairros e comunidades e nos sucessivos e diários pedidos de socorro, o que pôde constatar nos locais por ele visitados, fundou a SEA – Sociedade de Educação e Assistência de Campos do Jordão em 14 de abril de 1959, destinada a prestar auxílio a indivíduos ou famílias. Organizou juridicamente a sociedade, com estatutos próprios.
Em 1960 empenhou-se numa campanha para obtenção de recursos destinados à construção do prédio onde seriam instalados os serviços da entidade.
A sociedade já tinha um magnífico terreno, doado à entidade franciscana, pelo governador do Estado. Os donativos podiam ser em dinheiro ou em material para a construção. Nesse sentido, fez-se um apelo aos industriais e comerciantes e ao povo paulista. Aos homens da capital de todas as classes que poderiam ajudar a erguer o prédio assistencial onde seriam atendidas as crianças e famílias pobres de Campos do Jordão. Os donativos poderiam ser remetidos para a Igreja Matriz de Campos do Jordão.
A diretoria da Sociedade de educação e Assistência pediu ao povo de São Paulo, aos industriais e comerciantes generosos, a sua contribuição para tão meritória obra.
Assim, no início dos anos de 1960, a SEA começou a funcionar num barracão de madeira, muito simples e com 02 salas de aula, buscando parceria junto ao SESI, Serviço Social da Indústria, até o ano de 1992. A partir de então, adquiriu personalidade jurídica com seu estatuto.
Em 07 de setembro de 1962, era lançada a pedra fundamental dos seus pavilhões. Iniciou-se com diversas campanhas, obtendo as primeiras adesões com o então Governador, Abreu Sodré e dona Maria do Carmo. Em 1971, foi terminado mais um pavilhão onde funcionaria o Ginásio.
Já atuava em diversas modalidades: parque infantil, creche, Jardim da infância, cursos de alfabetização, escola profissional de gráfica, marcenaria, malharia, corte e costura e a guarda mirim - um serviço de assistência para 200 menores desamparados, alojados em prédio provisoriamente alugado que recebiam educação física, moral, educacional e diversos serviços de assistência, recreação e ensino. Centenas de alunos frequentavam os cursos do primário e ginásio.
Frei Orestes Girardi morava num pequeno apartamento à esquerda da entrada da instituição. Tinha vida pobre e sacrificada, entremeada de dores físicas, em razão das limitações que possuía, todavia, era uma pessoa feliz, por ser amado pelas crianças, cujo amor era a sustentação do seu dia a dia.
Percebendo que sozinho não poderia levar adiante a obra que estava adquirindo grandes proporções, com o apoio do Bispo Diocesano D. Francisco Borja do Amaral e a ajuda da Irmã Maristela, fundou a Pia União das Irmãs Franciscanas de Nossa Senhora de Fátima, que recebeu a aprovação diocesana em 10 de fevereiro de 1969.
Apesar de tantos empreendimentos, desafios e surpresas do Espírito Santo, sonhava em ser sacerdote. Conseguiu ordenar-se Diácono no dia 12 de março de 1972. Após isso, recorreu ao Papa Paulo VI e ao Papa João Paulo II para obter licença a ser ordenado Sacerdote, o que não conseguiu. Não o foi de nome, mas de coração e por atos.
No dia 13 de maio de 1988 foram aprovadas canonicamente como Congregação pelo Bispo Diocesano, Dom Antonio Afonso de Miranda, as Irmãs Franciscanas de Nossa Senhora de Fátima. Hoje, já ultrapassa as fronteiras de Campos do Jordão e mantém casas em Minas Gerais, Paraná, e participa de projetos Missionários na Amazônia.
Pouco menos de três meses depois, no dia 05 de agosto de 1988, Frei Orestes Girardi encerra sua caminhada nesta terra.
Fontes:
Diário da Noite, 14 de novembro de 1960.
Correio Paulistano, 20 de julho de 1960
Hermes de Figueiredo
Hermes de Figueiredo, o grande esportista, um dos maiores jogadores de Basquetebol e Voleibol de Campos do Jordão nasceu em Machado, Sul de Minas.
Veio para Campos do
Jordão em julho de 1953, com seus pais e irmãos. Foi premiado por um espetáculo
de geada de branquear telhados, morros, ruas: 13° abaixo de zero. Eu, meus pais
e irmãos ficamos maravilhados.
O jovem Hermes de Figueiredo, ao se mudar para Campos do
Jordão, teve o seu primeiro contato com o esporte de competição. Em 1954,
integrou as equipes de basquete, vôlei, atletismo, xadrez, natação e tênis de
mesa do Grêmio Estudantil Jordanense.
Hermes e seu irmão, Melius, foram até a Escola Estadual para
verificar o horário de aulas, e se surpreenderam com a disciplina de Educação
Física, 3 dias por semana no período da manhã. Não sabiam o que isso
significava, nem seus pais tinham a menor ideia. Quando iniciaram as aulas,
descobriram que nunca haviam tido essa aula em Minas Gerais. O professor
chamava-se Gad Aguiar, que por sinal, passou a ser um de seus grandes amigos.
Na época, recebeu de seu professor, informações sobre o
esporte chamado Atletismo, “O Esporte Mãe”, onde aprenderiam a correr; saltar 4
tipos de saltos; arremessar dardos, peso e disco; e coordenar todos os
movimentos que se usam para praticar todos os esportes.
A maior festa do esporte infantil eram os Jogos Verde X
Branco, jogos internos na Escola Estadual. As cores eram do uniforme do G.E.J.
Era disputada todas as modalidades: Desfile de Abertura; Entrega de Medalhas; e
a Festa de Encerramento. Quase em todos os Jogos Verde X Branco, após o sorteio
para a escolha dos participantes, Hermes de Figueiredo, era o primeiro a ser
escolhido, pois, era preenchia o maior número de modalidade esportiva e fazia a
maior parte das provas individuais e também para os esportes coletivos,
basquete, voleibol, xadrez, tênis de mesa.
Muitos de seus colegas foram Efraim Diniz; Nelson Ladeira;
Eduardo Neme Nejar; Dudu; Olívio; Homero Godliauskas Zen; Lincoln Parra Vasquez;
Arthur Claro Bastos, o homem-borracha; Mariano Câmara; Paulo Vaez; Volney
Procópio; Anaor; Romeu Mezzalepo; e muitos outros.
Mais tarde, já na Escola de Especialistas da Aeronáutica, em
Guaratinguetá, conquistou o bicampeonato de basquete nos jogos militares e foi
eleito atleta do ano em 1958.
Foi técnico de equipes de vôlei e futsal. Hermes teve
conhecimento do esporte e defendeu a inicialização esportiva na escola, no
ensino fundamental, de forma técnica e coerente.
Em Varginha, integrou a equipe de basquete de 1962 a 1967,
depois foi eleito Diretor de Esportes do VTC, quando idealizou e realizou os
jogos abertos do interior de Minas Gerais. Um trabalho árduo, inclusive para
convencer as autoridades que duvidavam da proposta e depois para realizar a
disputa de 10 modalidades, numa época que não existia a facilidade da vida
moderna e muito menos a cultura de valorização do esporte.
Mas Hermes sempre foi um visionário, idealista e precursor.
Ele acreditava que era possível mudar o mundo a partir de nossa aldeia, a
partir de um gesto nosso, de uma generosidade nossa.
Varginha sediou, ou melhor, realizou três edições dos Jogos
Abertos (1969 a 1971) e quando o governo estadual resolveu que deveria haver
rodízio de sedes, os jogos deixaram de existir, retornando na década de 1980,
como JIMI’s.
Trabalhou o desenvolvimento do esporte varginhense em sua
totalidade, deu sua contribuição de atleta, formou equipes escolares e
profissionais, realizou os Jogos Operários, participou da criação do Conselho
Municipal de Esportes, foi o primeiro Secretário Municipal de Esportes.
Hermes já recebeu diversos prêmios, títulos e homenagens, mas
certamente ainda estão aquém do mérito.
De seu currículo esportivo, destaca-se:
●Em 1954 – Integrante das equipes de basquete, vôlei, atletismo, xadrez, natação, tênis de mesa do Grêmio Estudantil Jordanense da cidade de Campos do Jordão; integrante da Seleção de Basquete da cidade de Campos do Jordão.
●Em 1955/56 – Eleito Diretor de Esportes do Grêmio Estudantil
Jordanense.
●Em 1955/56/57 – Integrante das equipes de basquete,
voleibol, atletismo e natação do Grêmio Estudantil Jordanense, e das seleções
da cidade de Campos do Jordão.
●Em 1957 – Campeão de Basquete da Escola de Especialista da
Aeronáutica em Guaratinguetá.
●Em 1958 – Bicampeão de basquete da Escola de Especialista da
Aeronáutica, e integrante da Seleção da cidade de Guaratinguetá.
●Em 1958 – Integrante e Capitão da Equipe de Basquete da
Escola de Especialistas da Aeronáutica nos Jogos Militares na cidade de
Campinas na comemoração da Semana do Exército Brasileiro.
●Em 1958 – Integrante da seleção da F.A.B. – Força Aérea
Brasileira.
●Em 1958 – Técnico de Voleibol Feminino do Colégio Nossa
Senhora do Carmo da cidade de Guaratinguetá.
●Em 1958 – Campeão (técnico) da equipe do Colégio do Carmo
nos primeiros Jogos Estudantis Regionais do Vale do Paraíba.
●Em 1958 – Eleito o Melhor Esportista do ano, da Escola de Especialistas
da Aeronáutica.
●Em 1959 – Organizador Técnico e Capitão da Seleção de Basquete
da cidade de Machado, MG.
●Em 1959 – Presidente da Comissão Municipal da cidade de
Campos do Jordão.
●Em 1959 – Presidente do Grêmio Estudantil Jordanense.
●Em 1959 – Introdutor do Futebol de Salão em Campos do
Jordão.
●Em 1959 – Técnico da Seleção de Futebol de Salão de Campos
do Jordão. Campeão do Vale do Paraíba e semifinalista do Estado de São Paulo.
●Em 1959 – Técnico Campeão de Futebol de Salão da Equipe infanto-juvenil
do Grêmio Esportivo Jordanense, no primeiro campeonato da cidade na categoria.
●Em 1960 – Diretor Técnico de Esportes de Quadra da Comissão
Municipal de Esportes de Campos do Jordão.
●Em 1960 – Eleito o Melhor Diretor de Esportes da Comissão
Municipal de Esportes de Campos do Jordão.
●Em 1961 – Integrante das Equipes de Basquetes do Cisplatina
Clube e do Tênis Clube Paulista da cidade de São Paulo.
●Em 1962 a 1967 – Integrante da Equipe Principal de Basquete
da cidade de Varginha, MG.
●Em 1967 – Técnico e Capitão da Equipe de Basquete da cidade
de Botelhos, MG.
●Em 1968 – Eleito Diretor de Esportes do Varginha Tênis Clube
V.T.C. Exerceu o cargo até 12 de outubro de 1972.
●Em 1968 – Iniciador e Técnico da Nova Geração de Basquete de
Varginha. Em 1975 foram campeões do interior de Minas Gerais.
●Em 1970 – Eleito Melhor Diretor de Esportes da cidade de
Varginha, agraciado com o troféu “O Pinguim” – Promoção do Jornal “A Tribuna
Varginhense”; introdutor do Profissionalismo de Basquete no Estado de Minas
Gerais.
●Em 1968 – Criador e Idealizador dos Jogos Abertos do
Interior de Minas gerais – a maior competição poliesportiva de Minas Gerais
(hoje, Jogos Int.de Minas Gerais – JIMI – 1960/70/71.
●Nas décadas de 1960, 1970 e 1980 foi um dos agentes transformadores do basquete masculino varginhense na grande potência do Estado.
Fonte:
Jornal Podium, 23/05/2014.
Ignácio Caetano Vieira de Carvalho
Essa
casa serviu de residência ao Dr. Robert John Reid quando veio fazer a
demarcação da Fazenda Natal; em 1929, serviu de residência ao Senhor Oscar
Rodrigues; foi sede da primeira escola primária de Vila Abernéssia; posteriormente,
durante muito tempo, sede da Pensão Belo Horizonte; e, finalmente, sede da
prefeitura municipal. O prédio da antiga Prefeitura Municipal ao lado do Espaço
cultural era a casa de Ignácio Caetano de Vieira Carvalho.
Aproximadamente em 1720, Gaspar
Vaz Cunha, “O Oyaguara”, e Miguel Garcia, partiram do Vale do Paraíba e
atingiram as terras hoje pertencentes ao Município de São Bento do Sapucaí, com
intuito de descobrir o rumo das minas de ouro de Itagiba-MG. Gaspar Vaz da
Cunha lá se estabeleceu.
Setenta anos depois que
Gaspar Vaz da Cunha "O Oyaguara" descobriu os caminhos da região
montanhosa da Mantiqueira, surge Ignácio Caetano Vieira de Carvalho.
Vencendo os últimos obstáculos, estava nas alturas do Alto do Rio Sapucaí-Guaçu, denominação do Rio Capivari depois que se junta ao córrego das Perdizes, proximidades do Morro do Elefante. Alcançou a região por ele chamada Capivari ou Rocinha. Em sentido leste, alcançou outra região e, junto à margem do rio Capivari, construiu a casa grande da fazenda, batizada com o nome de Bom Sucesso. Ignácio Caetano era viúvo e morava com seus três filhos, dois dos quais eram casados.
Luís Diogo Lobo da Silva,
nascido em Montemor, 1717, foi um administrador colonial português, governador
da capitania de Pernambuco, de 1756 a 1763, e depois da capitania de Minas
Gerais, de 28 de dezembro de 1763 a 16 de julho de 1768. Com a ocupação em 1764
das minas de Itajubá pelo governador, começou uma longa série de lutas em que
Ignácio Caetano com rara pertinácia defendia os direitos da Capitania de São Paulo.
Por Carta de Sesmaria de 27
de setembro de 1790 assinada pelo governador de São Paulo, Bernardo José de
Lorena, foram concedidas a Ignácio Caetano Vieira de Carvalho, João de Brito
Marinho e Manoel José Botelho Mosqueira, três léguas de terras cuja posição não
pode, com os dados à mão, ser determinada com precisão. Com requerimento do
governador da Capitania de São Paulo, recebeu a posse da sesmaria, por ser terra
inculta e abandonada, através de documentos que atestavam o seu domínio sobre a
Fazenda dos Campos do Alto da Mantiqueira, como era chamado, naqueles tempos. Esses
documentos outorgavam-lhe direito incontestável sobre a grande descoberta. Veio
residir com sua família nas terras da região, na Fazenda. Estava localizada no
Alto do Rio Sapucaí-Guaçu, à direita das cabeceiras do Capivari, onde o
sesmeiro construiu a casa grande de sua Fazenda denominada Bom Sucesso. A sede
da Fazenda Bom Sucesso situava-se onde atualmente se localiza a Vila Suíça,
antigo gabinete da prefeitura municipal. Manteve lucrativa criação de gado,
fixando-se com sua família durante 18 anos nessa Fazenda dos Campos do Alto da
Mantiqueira.
Um seu vizinho, João da
Costa Manso, sujeitou-se em 1772-1773 às autoridades mineiras, que a 13 de outubro
de 1790, passou carta de Sesmaria a ele, morador da Villa de Taubaté, também de
três léguas de terras contíguas às de Ignacio Caetano. Isso gerou um conflito: o vizinho da Fazenda
Campinho (São Pedro), tudo fazia para anexar suas terras às de Minas Gerais, e
o pindamonhangabense, Ignácio Caetano Vieira de Carvalho, proprietário da
Fazenda Bom Sucesso, que fazia divisa com a fazenda dele, situada em terras da
Freguesia de Itajubá, Minas.
O rio Capivary divisa das
duas propriedades, ficou sendo considerado como divisa das Capitanias. Conforme
a nomenclatura atual que provavelmente vem sem alteração do tempo antigo, o rio
Capivary perde este nome ao unir-se com o Córrego das Perdizes, tomando o nome de
Sapucahy, devendo talvez ser considerado como o tronco principal do Sapucahy.
Todos os dois sesmeiros,
naturalmente procuraram reunir as suas propriedades debaixo da mesma jurisdição,
dando Ignácio Caetano preferência à paulista e Costa Manso à mineira.
Em meados de 1796, quando Campos
do Jordão era distrito de Pindamonhangaba, nasceram as lutas entre pindamonhangabenses
e mineiros, devido à questão de limites: continuaram por muitos anos dando em
resultado uma linha nominal de fronteira que não se conforma com as feições
topográficas nem com as divisas pretendidas por uma ou outra Capitania. O território
de Campos do Jordão, era disputado pelas capitanias de São Paulo e Minas
Gerais.
Como é uma cidade limítrofe
com Minas e naquela época já possuía a Fazenda da Guarda, durante o Ciclo do
Ouro, a região era um local fácil para tráfico do metal pelos seus tortuosos
caminhos, por isso da instalação de um Posto Fiscal. Os paulistas,
principalmente os pindamonhangabenses, subiam a serra armados com seus trabucos
para impedirem a invasão dos mineiros nessas terras. Esta questão de limites
era regulada por lei dos governos de ambas as capitanias, sobretudo de Minas,
que proibia qualquer passagem por ali, para não haver saída clandestina de ouro
e outras mercadorias. Assim, o próprio Ignácio Caetano assinou com o Governo de
Minas um compromisso de conservar fechada uma estrada que passava por sua
propriedade e ia antigamente para Itajubá. João Costa Manso, que tinha apoio de
algumas autoridades mineiras, abriu e invadiu a estrada e as terras da Fazenda
Bom Sucesso. Este fato foi atestado por Oficiais da Câmara de Pindamonhangaba,
que estiveram no local a pedido de Ignácio Caetano.
A disputa ficou tão feia que
em 1803, Ignácio Caetano, a fim de impedir nova investida por parte dos
mineiros e a invasão de sua propriedade, com o auxílio do capitão-mor, consegue
instalar um Posto de Guarda no Capivary, a fim de defender o território; manda
fechar novamente a estrada e também tirar a dúvida da Mantiqueira mineira.
Não houve dúvidas sobre a
legitimidade desta propriedade, pois o certificado de posse, que data de 1773,
foi passado pelo escrivão Domingos Ferreira da Silva.
Mas João Costa Manso
persiste em seu intento, armando escaramuças e guerrilhas, numa das quais foi
preso e levado para São João Del Rei.
Diante disto, a Câmara de
Pindamonhangaba envia ao Governador da Província de São Paulo, D. Antônio José
de França e Horta, uma representação, relatando os fatos e pedindo providências
e proteção. O Governador responde enaltecendo a atitude de Ignácio Caetano e
expedindo ordem de prisão contra Costa Manso, que consegue se esquivar,
alegando doença. A situação continua tensa, com novos ataques por parte dos
mineiros, que procuram penetrar em terras paulistas, apresentando ordens falsas
e abusando do fato de Ignácio Caetano não saber ler. Este fato é comunicado ao
Governador da Província de São Paulo, pela Câmara de Pindamonhangaba.
Diante da falta de
providências do governo provincial, os pindamonhangabenses resolvem agir sozinhos.
Reunindo um pequeno exército seguem pela margem esquerda do Sapucahy e
"sobem a serra" até abaixo da Pedro do Baú, tomando posse da região
em nome do Procurador do Conselho.
A luta prossegue ainda por
algum tempo, com a destruição da Guarda do Baú, por um grupo de 86 homens do
Regimento da Cavalaria de Minas, mas, finalmente em 1814, os mineiros são
definitivamente expulsos do território paulista.
Essa briga entre vizinhos,
responsável pelo início de uma luta entre paulistas e mineiros, somente
terminou no ano de 1823 quando morreram Ignácio Caetano Vieira de Carvalho e
João Costa Manso.
Ignácio Caetano lutou
bravamente para manter as divisas de São Paulo, contra seu vizinho sesmeiro, da
Fazenda Campinho (São Pedro), das bandas das Gerais.
Duas fortes razões
fundamentais comprovam a grande importância da sua figura na história do município:
sua luta pertinaz na defesa e preservação da sua fazenda dentro dos limites da
Capitania de São Paulo; e o pioneirismo de manter-se com seus três filhos,
durante largos anos, nas alturas geladas e inóspitas da Serra da Mantiqueira,
vencendo o meio ambiente bruto e selvagem, e repetidamente, enfrentando as
investidas dos mineiros, que pretendiam desbordar dos limites de suas terras
para o interior da Capitania de São Paulo, pretendendo a anexação de sua
sesmaria.
Graças à sua luta, Campos do
Jordão permaneceu paulista e hoje é uma estância maravilhosa. Ignácio Caetano
Vieira de Carvalho levou para o túmulo a glória de ter sido o pioneiro de
Campos do Jordão.
Um dos filhos de Ignácio
Caetano, Mariano Vieira de Carvalho, após a morte de seu pai, hipotecou, de
início, partes da terra, e posteriormente, em 29 de dezembro de 1825, vendeu a
Fazenda Bom Sucesso para o Brigadeiro Manoel Rodrigues Jordão, pela quantia de
dez contos de réis.
A fazenda Bom Sucesso,
conhecida como fazenda de Campos ou Campos do Ignácio Caetano, ao ser transferida
para a família Jordão, passou a ser conhecida por Campos do Jordão, a grande
parte da região campestre; e por ter adquirido a fazenda na época das festas
natalinas, Brigadeiro Jordão deu-lhe o nome de Fazenda Natal.
Posteriormente, essas terras já pertencentes ao Brigadeiro Jordão, passou a ser chamada de “os campos” perdendo o nome de Fazenda Natal. Com o passar do tempo, quando iam se referir a estas terras, já não mencionavam mais Fazenda Natal, e sim aos Campos, e quando alguém perguntava “Que Campos?”, respondiam: Os Campos do Jordão. Daí a origem do nome da localidade. O nome do município homenageou o Brigadeiro Jordão, pois, na época, era costume ligar-se o nome do proprietário à propriedade.
Fontes:
Condelac Chaves de Andrade.
Walter Dalla Déa.
Pedro Paulo Filho
Maurício de Souza Lino
Fontes Manuscritas do Arquivo
da Câmara Municipal de Pindamonhangaba.
Livro de Registros de
Contratos — Vol. 47 — 1873-1909.
Atas da Câmara Municipal de
Pindamonhangaba - Vol. 8-12, 1862-1886.
Pindamonhangaba: Cidade do
Segundo Reinado. EBE REALE. Tese apresentada no ano de 1965 ao Curso de
Especialização em História do Brasil.
Eduardo Moreira da Cruz
Eduardo Moreira da Cruz, com 10 anos de idade, veio da cidade de Delfim Moreira MG, chegando a Campos do Jordão em meados de 1910, nos tempos em que a subida da serra, era a partir do Bairro Piracuama até a Parada Fracalanza, na entrada de Campos do Jordão, e feita por máquinas a vapor da Estrada de Ferro Campos do Jordão. Casou-se no ano de 1918, com Dona Maria Francisca, filha do Sr. Francisco Gaiola, mais conhecido como Chico Gaiola. Pelo fato de ter se casado com a filha do Sr. Francisco Gaiola, ficou conhecido como Eduardo Gaiola.
Eduardo Moreira da Cruz foi importante membro da sociedade jordanense, e contribuiu para o fortalecimento dos destinos da cidade.
Ajudou a construir a capela de Santa Isabel, a primeira igreja de Vila Abernéssia, situada ao centro da Praça da Bandeira, cujo terreno para a construção fora doado pelo Dr. Robert John Reid, em 18 de setembro de 1920. A 25 de abril de 1921, iniciava-se a construção da Igreja, inicialmente, pequena, de alvenaria, sem reboco. Em 1923, seus alicerces já estavam prontos.
Em 25 de dezembro de 1928, a Capela de Santa Isabel, foi elevada à categoria de Paróquia, tendo como padroeira Santa Teresinha do Menino Jesus. Ficava ao lado do Fórum, na Praça da Bandeira. Ali, Eduardo Moreira da Cruz chegou a ser sacristão.
Eduardo Moreira da Cruz foi administrador, por muitos anos, da Companhia Brasileira de Colonização, firma constituída no ano de 1917 por Dr. Domingos José Nogueira Jaguaribe Filho, que implantou os loteamentos Vale Encantado, Vila Imbiri e Alto da Boa Vista.
Em 31 de agosto de 1940, estando o prefeito de Campos do Jordão, Dr. Motta Bicudo no II Congresso Climatológico Brasileiro realizado no Palácio Tiradentes no
Rio de Janeiro, ouviu do Interventor de Minas Gerais, Benedito Valadares, que
gestões estavam sendo feitas para anexar Campos do Jordão ao Estado mineiro, à
vista das extraordinárias potencialidades turísticas da cidade montanhesa.
Dr. Motta Bicudo, mais do que depressa, correu para São Paulo e
contou o ocorrido ao Interventor Adhemar de Barros, que decidiu tornar as coisas
irreversíveis e dificultar o plano mineiro.
Uma das providências preliminares era instalar logo um
Palácio de Verão do Governo paulista em Campos do Jordão.
O Interventor Adhemar de Barros, cercado por sua comitiva, no Alto da Boa Vista, determinou ao Dr. Motta Bicudo que intercedesse junto à Cia. Brasileira de Colonização, proprietária daquelas terras, no sentido de obter a doação de 50 alqueires.
Participou ativamente de combates sangrentos, nas mediações de São Bento do Sapucaí e chegou a transportar, pelas bandas da Mantiqueira, a Cavalaria de Castro, _ dos paranaenses que aderiram à Revolução, que esteve no município, conhecendo, aliás, a palmo, a cidade, que visitara no passado.
Na vida pública, Eduardo Moreira da Cruz foi vereador, presidente da Câmara Municipal (01 de janeiro de 1957 a 31 de dezembro de 1957). Fez parte do comitê eleitoral do Partido Social Progressista - PSP, de Campos do Jordão, partido do Dr. Adhemar Pereira de Barros, o maior partido político de São Paulo do período de 1946 a 1965, o único que mantinha diretórios em todos municípios do estado de São Paulo.
Vale ressaltar que Eduardo Moreira da Cruz, um dos importantes pioneiros de Campos do Jordão, quando aqui chegou, contou que na época, havia perto da Gruta dos Crioulos, um barracão de negros, liderados por Manoel Crioulo, em terras que eram do Dr. Cícero da Silva Prado.
Também, quando chegou a Campos do Jordão em 1910, Eduardo Moreira da Cruz contou que ouviu uma lenda sobre Ignácio Caetano, a "Lenda do Canhambora." (Pedro Paulo Filho).
Eduardo Moreira da Cruz, grande homem, trabalhador, querido, sábio, e muito amado por todos os jordanenses. Foi uma pessoa importante e de destaque em nossa comunidade, onde lutou e muito contribuiu para o fortalecimento dos destinos de Campos do Jordão. Participou efetivamente em diversas entidades assistenciais.
Fontes de Pesquisa:
Jornal “A Tribuna do Norte” de 21.10.1923, Pindamonhangaba SP;
Jornal "A Noite" RJ, de 20 de agosto de 1940;
LINO, Maurício de Souza. Da Freguezia do Imbery aos Campos do Jordão. Campos do Jordão: Clube de Autores, 2017. 614 p.
LINO, Maurício de Souza. Campos do Jordão na Revolução de 1932. Campos do Jordão: Clube de Autores, 2018. 127 p.
Uma lenda, um Ícone do Esporte: Tião da Rita
Seus pais foram Rita Cândida de Jesus e Marco Leonardo. Sua mãe, a alegre dona Rita, sempre com o paninho na cabeça, era uma figura muito distinta em Campos do Jordão. Mulher guerreira, trabalhadora ímpar, prestou serviços para o Círculo Operário e a muitas famílias: Danilo Delácio, Sr. Elydio Gonçalves, Cintra e outras.
Frequentadora assídua do Clube do Círculo Operário de Campos
do Jordão, gostava muito de dançar, onde, praticamente todos os sábados nos
bailes, estava sempre presente, com muita disposição, até mesmo na terceira
idade.
O casal teve os filhos, Expedito (Dito Paquera); Lúcia; Ana; e Sebastião Leonardo.
O já consagrado pintor, Expedito Camargo Freire, em 1°
de dezembro de 1950 iniciou a pintura do fundo do altar da Igreja Nossa Senhora
da Saúde, na Praça do Centenário em Vila Jaguaribe, representando uma alegoria
da dor moral e física. A pintura foi financiada por Aguinaldo Amaral e
terminada em 13 de dezembro de 1950.
O painel representa um casal humilde, tendo a mulher uma
criança enferma nos braços, a qual estende, súplice, a Nossa Senhora da Saúde.
Como fundo do painel, vê-se a silhueta da Pedra do Baú e esguios pinheiros,
símbolos de Campos do Jordão.
Serviram de modelos para a execução do painel do professor Camargo
Freire na igreja Nossa Senhora da Saúde, Maria de Oliveira Rodrigues
com os seus 26 anos. (Faleceu em 2017 aos 93 anos); e pai do Tião da Rita,
Marco Leonardo, falecido em 1962.
Segundo o pintor, Luiz Pereira Moisés, discípulo do
mestre Camargo Freire, o painel foi pintado com tinta a óleo, com
estilo clássico e estilizado; porém, as figuras são bastante acadêmicas,
principalmente pelos pés, mãos e rostos, assim como pelo planejamento (cores e
disposição das roupas). Estão todos com excelente textura, em que se sente a
leveza dos tecidos, assim como as partes anatômicas das figuras. Vê-se nesta
obra uma cena em que um casal simples, com os pés descalços e com uma criança
enferma, pede ajuda à Nossa Senhora da Saúde, que levita sobre uma nuvem, tendo
ao fundo a silhueta da Pedra do Baú, com agrupamento de vegetação e pinheiros.
No primeiro plano, vê-se um campo estilizado, onde parte está
com sombra e outra, iluminada. Ao centro da parte superior, um desenho
geométrico em forma de triângulo com vértice para cima, e, em seu interior,
três chamas, uma acima e duas abaixo, simbolizando a Santíssima trindade. Desce
desse triângulo um foco de luz e, ao redor de Nossa Senhora, um grande halo de
luz. Ao centro a inscrição “Salus Infirmorum” em latim, Saúde dos Enfermos. O
céu é tradicional com as cores costumeiras, usadas pelo artista, onde
predominam em perspectivas aéreas as cores esmaecidas de azul, carmim, siena e
limão.
O pai de Sebastião Leonardo, Marco Leonardo,
veio a falecer em 1962, e sua mãe, dona Rita Cândida de Jesus, em 1997.
Destacada personalidade no esporte jordanense, Sebastião
Leonardo, mais conhecido por “Tião da Rita”, nasceu em 12 de dezembro
1940, no bairro José da Rosa. Foi registrado somente em 13 de outubro de
1945, cinco anos depois. Ainda bem pequeno veio para Campos do Jordão, onde
sempre morou na Rua da Alegria, em Vila Guarani.
O mundo dos esportes em Campos do Jordão está cheio de
pessoas lendárias que, com talento e dedicação, conseguiram entrar para a
história e alcançar o sucesso. Incríveis personalidades que ganham o maior
destaque no mundo esportivo, por possuírem disciplina, muita força de vontade e
aplicarem diariamente seus treinos intensivos, com altas horas de duração.
Entre esses esportistas, destaca-se Sebastião Leonardo,
o “Tião da Rita”, grande atleta das décadas de 1960-1980, corredor desde
os 16 anos, ganhador de troféus e medalhas.
Tião da Rita foi um especialista em corrida de longa distância, um talentoso
fenômeno da corrida pedestre. Uma lenda de Campos do Jordão! Um fenômeno desde
muito jovem, que teve sua vida retratada como “O Jovem Corredor do Passinho.” O
menino não demorou para brilhar.
Nas palavras de seu filho único, Marco Vinícius Leonardo,
“corria mais que notícia ruim pelas ruas da montanha magnífica. No sol, na
chuva, no frio...ia e voltava correndo de Vila Jaguaribe ao Alto da Boa Vista,
quase todos os dias.”
Tião da Rita representou com muita fibra, força e determinação, o povo
jordanense. Representou o clube Abernéssia e a cidade de Campos do Jordão em
diversas competições pela região do Vale do Paraíba.
Como jogador de futebol, foi membro de vários clubes, Grande
Hotel, Associação Atlética Jaguaribe, Clube Abernéssia, Vila Britânia e outros.
Casou-se com Aurea Pimentel de Souza (Leonardo) em 12
de novembro de 1977, e teve um filho, Marco Vinícius Leonardo. Após 25 anos de casados,
ficou separado por longos 12 anos.
Trabalhou no Grande Hotel, Clube Abernéssia e Palácio Boa
Vista.
No ano de 2010, sofreu um acidente gravíssimo, vindo quase a
amputar a perna direita, mas os médicos foram muito eficientes, colocando pinos
e mais pinos na perna.
Tião da Rita sempre teve uma vida dinâmica, ligada ao esporte. Saudável,
nunca imaginou que teria um problema grave de saúde.... a corrida era sua vida.
Ficou muito doente, vitimado por pneumonia, ficando internado duas vezes. Nesse
tempo, afastou-se do trabalho, no Palácio Boa Vista, e não pode mais correr.
Imaginamos que a vida de um atleta é perfeita. Mas não é bem
assim. Tião da Rita, esportista, corredor e medalhista passou por
depressão em sua vida, uma das doenças mais frequentes em todo o mundo; e, consequentemente,
com um problema no coração, viu “seu mundo cair.”
Para o seu restabelecimento, foi necessário alguém cuidar
dele. Quis o destino, trazer de volta em seu caminho, sua ex-esposa, Áurea
Pimentel Leonardo. Com experiências em enfermagem, assim, ficou sob sua
responsabilidade.
Casou-se novamente com a ex-esposa e enfermeira, Áurea, em 12
de dezembro de 2013, e voltou ao trabalho, onde se aposentou aos 70 anos,
devido à lei da época.
Superou. O esportista é um exemplo em dar lições sobre a
doença para o resto dos "mortais". Ainda hoje, faz pequenos
exercícios e algumas caminhadas. Com esforço, e a ajuda de Deus, voltou à
corrida aos poucos, porém sem competir. Lenda viva do esporte jordanense, com
seus 81 anos a completar em dezembro de 2021, ainda está construindo seu legado
esportivo.
“Tião da Rita” foi homenageado com uma honraria, que é concedida a
personalidades marcantes que contribuíram para o engrandecimento da cidade, no
mundo dos esportes.
Pela Lei Ordinária nº 2062, de 22 de fevereiro de 1994, sob a
administração do prefeito João Paulo Ismael, ficou acrescido no calendário
turístico oficial do município, a Prova de Pedestrianismo denominada, "TIÃO
DA RITA".
De autoria do Vereador Hélio Abel da Silva, é patrocinada
e organizada pela Prefeitura Municipal, e pela iniciativa privada, realizada
anualmente, quinze dias que antecede o dia de "NATAL".
Grande personagem que figurou nas últimas décadas do século
XX em Campos do Jordão, apesar de todos os desafios e obstáculos encarados
desde muito jovem, superou e ultrapassou barreiras e se fez uma grande
inspiração e exemplo para todos os jordanenses. Mudou a cara do esporte em
Campos do Jordão; deixou sua marca na história.
Não há segredos, nem dúvidas: Tião da Rita é
referência para o mundo dos esportes em Campos do Jordão.
Fontes de Pesquisa:
PAULO FILHO, Pedro. Camargo Freire: O Pintor da Paisagem
de Campos do Jordão. São Paulo. Noovha América. 2012.
LINO, Maurício de Souza. Da Freguezia do Imbery aos Campos
do Jordão. Campos do Jordão. Clube de Autores. 2013
Depoimentos de Aurea Pimentel Leonardo (esposa de
Sebastião Leonardo, o Tião da Rita).
As Imagens foram cedidas gentilmente pela esposa, Áurea Pimentel Leonardo e pelo filho, Marco Vinícius Leonardo.
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