Biografias

                                                 Dr. Antonio Gavião Gonzaga. Terceiro Prefeito Sanitário de Campos do Jordão

Nasceu no Estado de São Paulo em 15 de março de 1894, filho de Tertuliano Cezar Gonzaga e de Anna Rita Gavião Peixoto. Era neto dos conselheiros do império João Marcelino de Sousa Gonzaga e Bernardo Gavião Peixoto, ex-governador da província de Niterói. Era um homem de 1,65m de altura e tinha cor branca.  

Formou-se em medicina em 1917, pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Em 18 de dezembro de 1915, ainda estudante de medicina foi designado para o lugar de interno da cadeira de Clínica Pediátrica Médica da faculdade, tendo ali permanecido até 12 de julho de 1917. 

Após a graduação, em 27 de abril de 1918 foi nomeado, pelo diretor da faculdade de medicina, preparador interino da cadeira de microbiologia, onde permaneceu até 15 de agosto de 1919, dia em que foi nomeado, inspetor sanitário do então Departamento Nacional de Saúde Pública, através de concurso. 

Neste mesmo ano, foi designado para chefiar a Comissão Federal de Combate às endemias no Estado do Rio Grande do Norte e, em 1920, foi então deslocado para trabalhar como chefe da Comissão Sanitária Federal no Estado do Ceará. Em 5 de abril de 1921 foi nomeado por Carlos Chagas, então Diretor Geral do Departamento Nacional de Saúde Pública, para exercer o cargo em comissão de chefe do Serviço da Diretoria de Saneamento e Profilaxia Rural, tomou posse e em 4 de maio de 1921 foi designado para servir no Estado do Ceará. 

Trabalhou no Estado do Ceará até 1925 e em 25 de agosto deste mesmo ano lhe foi prestada uma homenagem pelo Governo do Estado e pela classe médica. A esta homenagem, compareceram muitas autoridades.

A saudação, em nome do governo do Estado do Ceará, foi feita pelo presidente da Assembleia Legislativa Dr. F. de Paula Rodrigues, o seu discurso juntamente com o do homenageado, foram publicados no Rio de Janeiro (1925).

Paula Rodrigues exalta de tal modo o trabalho do Dr. Gavião Gonzaga no Estado do Ceará que se chega à conclusão de que o seu trabalho foi realmente muito importante para o povo cearense. 

Ainda em 1925 viaja para os Estados Unidos da América para realizar curso de pós-graduação na Universidade de Harvard, em Higiene e Doenças Tropicais, curso que concluiu em 1927.

Em 1927 viajou para Paris com o objetivo de realizar Curso Superior de Sociologia e de Geografia Humana na Sorbone, curso este concluído em 1929. Retorna ao Brasil em 1929 para chefiar o serviço de profilaxia da Peste no Distrito Federal.

Permaneceu nesta função até o dia 2 de junho de 1931, quando foi nomeado Prefeito Sanitário de Campos do Jordão, pelo então Interventor Federal do Estado de São Paulo, Coronel João Alberto Lins de Barros. Tomou posse no dia 7 de junho de 1931 como 3º Prefeito da Estância Sanitária.

Dentre seus feitos, inaugurou o Grupo Escolar Dr. Domingos Jaguaribe, a Escola Monsenhor José Vita na Vila Ferraz. Criada no ano de 1937, depois transformada no Grupo Escolar Municipal Rio Branco; o novo pavilhão do Sanatório Santa Clara e o Sanatório Dojinkai (São Francisco Xavier, hoje, Sakura Home). Sua administração passou pela Revolução Constitucionalista de 1932, servindo Campos do Jordão como Base Fronteiriça.

Em 1935, criou o Abrigo de Emergência para Tuberculosos, já que a cidade era cada vez mais intensamente procurada por doentes pobres. O médico Antonio Gavião Gonzaga a partir desta data, estabeleceu o zoneamento da área como primeiro ato de sua administração. Seguindo as orientações estipuladas pela Companhia Campos do Jordão, o novo prefeito – que se manteve no cargo até meados de 1938 – ratificou os limites do território que deveria ser exclusivo dos sadios e os terrenos destinados à construção de sanatórios, assim como exigiu o imediato cadastramento de todos os habitantes da estação de cura, procurando saber quem e quantos eram os pectários que residiam na estância climatoterápica.

Em maio de 1933, Campos do Jordão recebeu autonomia política, desvinculando-se de São Bento do Sapucaí. A mesma lei que criou o município, estabeleceu também o código orientador da edificação de sanatórios, hospitais gerais e pensões, além de reforçar a vigilância higienista sobre os enfermos. Com isso, buscava-se controlar eficientemente a presença dos infectados na cidade, ditando regras arquitetônicas e comportamentais que objetivavam inibir a disseminação da moléstia pulmonar entre os habitantes e os turistas sadios que percorriam a região.

A administração jordanense aprovou leis e decretos que impunham a distância mínima de dez metros entre os prédios a serem construídos no município, a obrigatoriedade de todos os edifícios de trânsito coletivo terem escarradeiras e os bares, restaurantes e pensões disporem de equipamentos destinados à esterilização de pratos, copos e talheres.

Mais ainda, todos os habitantes e turistas que chegassem à serra deveriam submeter-se ao exame dos pulmões, sendo que os tuberculosos não poderiam receber abrigo nos hotéis destinados aos sadios, além de assumirem o compromisso de portar escarradeiras de bolso, apresentando-as aos inspetores sanitários sempre que assim fosse solicitado.

Completando estas medidas, ainda coube ao Dr. Gavião Gonzaga conseguir junto à administração estadual a instalação de órgãos públicos que direta ou indiretamente favoreciam a fiscalização da vida pública e privada dos moradores da prefeitura sanitária, tais como novos Postos de Saúde (a partir da reforma de 1938 liderados por um Centro de Saúde), delegacia e subdelegacias de polícia e escolas de ensino elementar.


No transcorrer do terceiro ano de sua gestão na prefeitura, o Dr. Gavião Gonzaga reclamou do estado desolador que marcava a estação de cura, apesar de todas as medidas que havia tomado desde o momento de sua posse.

Segundo Dr. Gavião Gonzaga, tudo faltava para que Campos do Jordão se tornasse uma verdadeira prefeitura sanitária, desde um plano urbanístico próprio e desvinculado dos interesses dos grandes proprietários de gleba até um órgão coordenador dos serviços médicos oferecidos localmente, acrescentando ainda que as prescrições sanitárias eram anemicamente obedecidas pela população das montanhas.

O ambiente consuntivo foi denunciado como uma grave ameaça à saúde dos incautos turistas e mesmo dos pectários, inclusive devido ao funcionamento de inúmeros sanatórios e pensões clandestinas que trocavam precárias acomodações e assistência clínica de péssima qualidade pelo pouco de dinheiro que os tísicos com acanhadas posses poderiam dispor.

No mesmo documento, o prefeito declarou que o principal motivo da ‘anarchia’ imperante nas montanhas era a inexistência de um orçamento especial destinado ao município dos infectados.

Mesmo que estabelecida pela lei datada de 1926, até o ano de 1934 a estação de cura não tinha recebido uma dotação orçamentária suficiente para a realização dos compromissos básicos com a saúde pública local, resultando no ambiente malsão e perigoso que imperava em Campos do Jordão.

Afinal, concluiu o médico em seu relatório revelador: “é incrível que, em São Paulo, se crie uma Prefeitura Sanitária sem os recursos sanitarios” (Gonzaga, 1935:66). Como resultado do veemente documento preparado pelo prefeito, o governo estadual nomeou o engenheiro Prestes Maia para chefiar uma comissão composta por médicos e urbanistas que deveria elaborar um projeto oficial de regramento do uso do espaço jordanense. A demora na conclusão do plano fez com que este só fosse apresentado ao Dr. Gavião Gonzaga nos últimos dias de sua presença à frente da prefeitura sanitária, sendo que, ao final das contas, o projeto assinado por Prestes Maia nunca chegou a ser colocado em prática.

Em consequência da inoperância oficial, abriram-se as portas para que a Companhia Campos do Jordão mantivesse o monopólio das decisões sobre a estância climática por mais alguns anos. A empresa liderada pelo Dr. José Carlos de Macedo Soares, assessorada por outras entidades menores, reunia poder suficiente para resolver inclusive sobre o local de construção e o estilo arquitetônico dos prédios sanatoriais, os quais pouco seguiam as normas sancionadas pela engenharia sanitária paulista.

A ingerência da Companhia Campos do Jordão nos negócios do município ganhava contornos denunciadores. Como árbitro dos confrontos que agitavam a vida local, Macedo Soares reunia maiores poderes deliberativos que o próprio prefeito.

Como exemplo, tem-se a disputa instaurada entre os sanatórios Santa Clara e São Cristóvão, construídos em terrenos contíguos. No ano de 1933, o nosocômio Santa Clara moveu ação contra a Sociedade Beneficente dos Chauffeurs do Estado de São Paulo, que já havia empenhado uma razoável quantia de dinheiro na edificação das estruturas do prédio do Sanatório São Cristóvão. O motivo do confronto entre as duas instituições revelava os contornos de classe: as irmãs missionárias que dirigiam as atividades do Sanatório Santa Clara recebiam quase que exclusivamente pacientes ricos e concluíram que o contato com uma ‘má vizinhança’ – representada pelos motoristas e seus dependentes – seria prejudicial para a saúde de seus requintados hóspedes.

Ciente do confronto, José Carlos de Macedo Soares buscou abafar a situação, pagando uma alta indenização à Sociedade dos Chauffeurs para que abandonasse o prédio que estava sendo construído para abrigar os tuberculosos pobres.

Além disso, a Companhia Campos do Jordão doou aos motoristas um novo terreno para a construção do hospital, distanciado vários quilômetros do religioso nosocômio dedicado à Santa Clara. Encerrava-se assim o conflito cuja motivação reproduzia a lógica geral que dominava o funcionamento da sociedade brasileira. Neste contexto de planejamento público quase inexistente, crescia o número de enfermos que se instalavam na Serra da Mantiqueira. Apesar do Serviço Sanitário encaminhar alguns tuberculosos pobres para os sanatórios agraciados com subvenções governamentais, o número de fimatosos miseráveis e desassistidos era muito maior do que o contingente hospitalizado.

Dr. Antonio Gavião Gonzaga exerceu o cargo sem interrupção, até 14 de julho de 1938, data em que foi exonerado a pedido.  

Em 1939 viaja para os Estados Unidos da América onde permanece até 1940 estudando administração pública e exame de Sanidade e Capacidade Física (Saúde do trabalhador).

Ao retornar dos Estados Unidos da América é nomeado em 3 de novembro de 1943, pelo Presidente Getúlio Vargas e o então Ministro da Educação e Saúde Gustavo Capanema, diretor do Serviço de Biometria Médica do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos do Ministério da Educação e Saúde, do qual foi o Fundador.

Em 1946 viaja para a Europa como chefe do Serviço de Seleção Médica da Comissão Brasileira de Seleção de Imigrantes. Permanece na Europa até 1950. Durante sua estada na Europa escreveu muitos artigos para jornais brasileiros sobre assuntos diversos.

O último cargo que exerceu foi o de Chefe da Secção de Medicina do Serviço Nacional de Fiscalização da Medicina e Farmácia. Tinha interesse por questões muito variadas como: saúde, educação, questões sociais em geral. 

O Dr. Gavião Gonzaga casou-se em 12 de fevereiro de 1931, na cidade do Rio de Janeiro, com Bertha Maria de Pinho Gomes que passou a chamar-se Bertha Maria Gomes Gavião Gonzaga.

Faleceu em 17 de dezembro de 1977, aos 83 anos de idade, no Rio de Janeiro. Ao falecer estava aposentado do cargo de Médico Sanitarista, Diretor do Serviço de Biometria Médica do Hospital dos Servidores do Rio de Janeiro. 

Antonio Gavião Gonzaga escreveu muitos artigos para revistas médicas, em especial para a Revista Brasileira de Medicina, tendo sido um de seus últimos artigos, “A História da Bouba no Mundo (1963 (Uma doença de pele, uma treponematose não venérea, semelhante à sífilis nos sintomas iniciais, e que pode ser altamente debilitante para tecidos e ossos se não for tratada.), e muitos artigos para jornais. Temos conhecimento de três livros: Climatologia e Nosologia do Ceará em 1925; Problemas Nacionais de Imigração e Colonização em 1940 e a Realidade Brasileira - Aspectos Políticos e Sociais em 1962.  


Fontes Bibliográficas:


PAULO FILHO, Pedro. História de Campos do Jordão. Campos do Jordão: Editora Santuário, 1986.

LINO, Maurício de Souza. Da Freguezia do Imbery aos Campos do Jordão. Campos do Jordão: Clube de Autores, 2017. 616 p.

BERTOLLI FILHO, C. História social da tuberculose e do tuberculoso: 1900-1950 [online]. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2001. 248p. Antropologia & Saúde collection. ISBN 85-7541-006-7. Available from SciELO Books.

Jornal “Correio Paulistano”, de 26 de setembro de 1937;

Jornal “Correio da Manhã”, dev30 de novembro de 1939.

Imagens: Google



Oswaldo Alves, Pastor, Capelão, Tradutor da Bíblia, Professor, Político.


Oswaldo Alves, filho de Antônio Alves e Ana Godinho Alves, ambos de nacionalidade portuguesa, nasceu em 31 de janeiro de 1917, na cidade de Rio Claro, SP.

No início do século XX, teve uma infância difícil. Seu pai, Antonio, progrediu financeiramente no Brasil, chegou a ter várias casas comerciais, mas faliu durante a crise econômica de 1929. Recomeçou a vida em uma pequena cidade do interior do Estado do Paraná, mas não teve condições de pagar os estudos de seus filhos gêmeos, Oswaldo e Ewaldo, que também se tornou pastor, da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil.


Oswaldo Alves fez o primeiro ano de curso primário na cidade de Lisboa, em Portugal, onde permaneceu com a família durante cinco anos. Terminou o curso primário no Brasil, no Quarto Grupo e na Escola Modelo de Campinas.

Aos 13 anos, passou a frequentar a igreja metodista de Cambará, no interior do Estado do Paraná, dirigida pelo Pr. Abdon Rodrigues. Aos 16 anos de idade, apresentou-se à Igreja Metodista como candidato ao ministério sagrado Converteu-se a Jesus, passou a frequentar a Igreja Metodista da cidade, decidiu ser pastor e foi estudar no Instituto Metodista Granbery, em Juiz de Fora, MG. Oswaldo fez o curso de teologia no Granbery,m no Colégio Piracicabano, em Piracicaba, SP; e no Ginásio Americano, em Lins, SP. e, mais tarde, estudou filosofia e psicologia na Universidade de São Paulo em 1949. Formado também em Teologia, Filosofia, e política, e no curso de Hebraico Moderno em Israel. Técnico em Administração, professor de Inglês e Matemática. Lecionava inglês, matemática, psicologia, pedagogia, filosofia e história da educação, em diversas escolas do Estado de São Paulo.

Em 1937, aos 20 anos de idade, Oswaldo Alves recebeu a carta de provisionado da Igreja Metodista do Brasil, que lhe concedeu o direito de pastorear igrejas daquela denominação. De 1937 a 1942, foi pastor de várias igrejas metodistas no Estado de São Paulo e Minas Gerais. Em 1942, matriculou-se na Faculdade de Teologia da Igreja Metodista, terminando o curso em 1945.

Casou-se com Aracy, com quem teve um filho, chamado Ewaldo.

Para se sustentar e pagar seus estudos, trabalhou como professor em diversas escolas. No antigo Colégio Estadual e Escola Normal de Campos do Jordão - CEENE, a partir de 1955, lecionou diversas cadeiras.

Foi um pastor vocacionado e um excepcional orador sacro. Durante o seu longo ministério, de mais de meio século, foi convidado para pastorear as principais igrejas presbiterianas da capital paulista, entre as quais a Igreja Presbiteriana Unida de São Paulo, durante três anos; a Igreja Presbiteriana da Vila Pompeia, por seis anos; e a Igreja Presbiteriana da Lapa, uma igreja local federada a Igreja Presbiteriana do Brasil, de 1962 a 1971.

Presidente do Presbitério de São Paulo, e representante no Supremo Concílio e em Sínodos e Congressos Sinodais. Durante 40 anos militou em clínica pastoral psicológica.

Representante do Brasil junto ao “Progrom of the Agency for International Development of the Governement of United States of America”, cooperando com a UNESCO.

Durante 20 anos foi tradutor da Sociedade Bíblica do Brasil, lecionando cursos de Cultura Bíblica (Tradução, Linguística e Comunicação) em todas as capitais e principais cidades brasileiras, além de cursos de Psicologia e Religião, Parapsicologia e Fé Cristã, Clínica Pastoral e Ressentimento e Fé Cristã. Na Sociedade Bíblica do Brasil – SBB, foi tradutor de base do “Novo Testamento na Língua de Hoje” e também do Velho Testamento (Salmos, Êxodo, Números e Isaías).

A sua qualificação de tradutor, obteve-a por concurso julgado em Nova Iorque. O Reverendo Oswaldo Alves escreveu assiduamente para a revista “A Bíblia no Brasil”, sendo nomeado preletor oficial na tradução da “Bíblia na Linguagem de Hoje”, junto às comunidades evangélicas e católicas.

Em Campos do Jordão, a partir de 1951, durante 15 anos, foi pastor e capelão, onde deu assistência espiritual a nos sanatórios, hospitais, pensões e favelas.

Sensibilizados pela pobreza e pelas más condições de saúde em que viviam moradores e ocupantes dos sanatórios da cidade, em 1946, Ernesto e Lili, dr. Luiz Dumont Villares e sua esposa, dona Leonor Diederichsen Villares, deram início a um trabalho de assistência social em Campos do Jordão, que acarretou a criação do Grêmio Bernardo Diederichsen, com gestão do Reverendo evangélico, capitão Oswaldo Alves, que se destinou a atender as famílias e crianças carentes que ali se instalavam, geralmente em favelas e moradias precárias, para acompanhar o tratamento de tuberculose de seus parentes internados.
Este atendimento incluía distribuição de remédios, alimentos, agasalhos e tratamento médico.

O Grêmio “Bernardo Diederichsen”, tratava-se de um Centro de Assistência Social, com o objetivo de ajudar as famílias dos tuberculosos pobres. Os recursos provinham da boa vontade e desprendimento de 3 famílias, em grande parte pertencentes à Igreja Unida de São Paulo: dr. Luiz Dumont Villares e dona Leonor Diederichsen Villares; dr. Ernesto Diederichsen Villares e sua progenitora e o dr. Erico Stickel, que havia se revelado um dos grandes amigos dos tuberculosos de Campos do Jordão.

O Grêmio “Bernardo Diederichsen” que estava sob a direção do Pastor-Capelão, Oswaldo Alves, enviava mantimentos a dezenas de famílias de enfermos pobres que viviam nos recantos mais escondidos da cidade de Campos do Jordão. Os doentes, ou suas famílias, eram assistidos depois de um rigoroso trabalho de sindicância. Assim, ao lado das atividades propriamente pastorais, contavam com o valioso complemento do auxílio em gêneros de primeira necessidade.

Para o trabalho de visitação, o Grêmio usava um Jeep”, doado pelo dr. Ernesto Diederichsen. Nos 3 primeiros anos tinham um “Ford 31”, que fora presenteado pelo dr. Luiz Dumont Villares, um dos mantenedores. Daí a facilidade que tinham de visitar também os enfermos da Vila Samaritana, sanatório também para tuberculosos em São José dos Campos, onde também pregavam na igreja local e na rádio. O mesmo tinha feito em Taubaté, Pindamonhangaba, Bocaina, Jacareí e várias igrejas de São Paulo.

Com gestão do Reverendo Oswaldo Alves, destinado a atender as famílias e crianças carentes que ali se instalaram, geralmente em favelas e moradias precárias, para acompanhar o tratamento de tuberculose de seus parentes internados. Este atendimento incluía distribuição de remédios, alimentos, agasalhos e tratamento médico. Oswaldo Alves foi Diretor-Executivo da Fundação Beneficente “Martha e Érico Stickel”.

No dia 1° de janeiro de 1948, no salão nobre da Rádio Emissora de Campos do Jordão, alojada no antigo Parque Mantiqueira (hoje, SEA), instalou-se a Câmara Municipal, sob a presidência do Dr. Nelson Filizola Barbosa, Juiz da 35ª Zona Eleitoral, de Campos do Jordão. Elegeu-se vereador. O Magistrado para secretariar os trabalhos, os vereadores Oswaldo Alves e Waldir Alves de Mello, fazendo, a seguir, a chamada por ordem alfabética, dos vereadores eleitos no pleito de 9 de novembro de 1947, a exercerem seus mandatos, de 1948 a 1951:

Aniceto Fernandes; Francisco Bento Filho; Guilherme Schultz; Horácio Padovan; João Alves Teixeira; João Mariano de Pontes; Joaquim Correa Cintra; Mauricio de Figueiredo; Orestes de Almeida Guimarães; Oswaldo Alves; Paulo Cury; Simão Cirineu Saraiva e Waldir Alves de Mello.

Como reconhecimento à sua relevante contribuição à obra social no Estado de São Paulo, a Câmara Municipal da cidade de São Paulo lhe concedeu o honroso título de Cidadão Paulistano, e a “Medalha de Anchieta”.

E por seus relevantes serviços prestados à comunidade jordanense, recebeu o título de “Cidadão de Campos do Jordão”, e passou a integrar os quadros da Academia de Letras da Estância, Cadeira nº 16, em 1979. Dentre suas obras escritas, destacam-se: “O Profeta Jonas e Você – psicologia do Ressentimento” e “O Provérbio Nosso de Cada Dia”.

Reverendo Oswaldo Alves, na conclusão de seu livro, “O Profeta Jonas e Você - Psicologia do Ressentimento”, prestou homenagem póstuma das mais altruístas, ao Pe. Vita. No capítulo, “O Profeta Jonas - Amigo das Crianças”, o ilustre psicólogo escreve:

“Ainda mais agora que estudamos o Livro de Jonas, onde aparece um profeta que não se importa com a possível morte de “cento e vinte mil crianças”, parece que “profeta” e “criança” são duas coisas que não se combinam (...) Precisamos de um amigo verdadeiro da criança.

Logo que cheguei a esta cidade de Campos do Jordão, chamada de “Suíça Brasileira”, em 1943, exatamente há meio século, ele já estava aqui, onde escrevo a conclusão deste livro (...). Sei que se trata de cidadão honorário destas montanhas, com uma das ruas com o seu nome: coisa mínima diante dos seus méritos. Merecia muito mais! E merece.

Magro, um tanto alto, muito sério, quase carrancudo, sempre apressado, olhos inteligentes, profundos e tristes. E o povo o olhava com respeito e carinho. As crianças, quando o padre Vita, mais tarde, Monsenhor, passava rápido, diziam sorridentes: -Olha lá o padre Vita!

E ele, com uma das faces prejudicada por um acidente neurológico - é o que diziam - retribuía com um sorriso machucado, mas profundo

Apertava os olhos, olhando fixamente para as crianças e, em alguns segundos, parecia mandar recados secretos que só as crianças entendiam. Só as crianças, e mais ninguém, tiravam daquele rosto sofrido e quase trágico, um sorriso de cumplicidade efetiva de profeta carismático.

Certa ocasião, com hora combinada, levei um empresário jovem e idealista para conhecer o Padre e o Sanatório-modelo, de duzentas crianças tuberculosas - crianças pobres. Na saída, enxugando os olhos, emocionado, o empresário resmungou quase chorando: Esse homem é impressionante! Era o resultado extraordinário de muitas lutas e injustiças sofridas por aquele profeta quase solitário nos seus sonhos fantásticos de socorro à criança enferma, de olhos brilhantes, de fogo, pela febre tuberculosa (...). Foi ali, naquele sanatório, que muitas vezes víamos, com outros visitantes, o Monsenhor percorrendo as camas das crianças, com aquele sorriso seu, acariciando as cabeças da meninada com seus dedos longos, brancos e delicados. E o semblante das crianças... nem dá para descrever... era como se um anjo do céu aparecesse de repente! Para elas, a presença do Padre fazia parte do tratamento... ajudava a curar.”

O falecimento de pe. Vita, ocorreu na “Montanha Magnífica” em 13 de dezembro de 1972, às 23, 45 horas, quando se evocou o louvor à Santa Maria Goretti, em 6 de julho de 1902: “Apagou-se uma luz na terra e brilhou uma nova estrela no céu”.

Os poderes públicos de Campos do Jordão deram à via de acesso ao Sanatório “São Vicente de Paulo” a denominação de rua Monsenhor José Vita.”

Fontes de Pesquisa:
GIRALDI, Luiz Antonio. Semeadores da Palavra – Personagens que tiveram participação decisiva na divulgação da Bíblia no Brasil. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2015.
ALVES, Oswaldo. “O Profeta Jonas e Você - Psicologia do Ressentimento”. SÃO Paulo, 1993.
PAULO FILHO, Pedro. A Montanha Magnífica. Vol. II. 1997. Campos do Jordão. Ed. O recado. Pp.440.
Fundação Stickel - Arte Transforma. 2021. Disponível em: https://www.fundacaostickel.org.br/a-fundacao/#1464968167240-811adf9d-363d. Acesso em: 25 maio 2021.
ABNB (Revista A Bíblia no Brasil). Barueri, Sociedade Bíblica do Brasil, 1948 a 2007.

Imagem:

Câmara Municipal de Campos do Jordão;
Campos do Jordão Cultura (bing.com);
http://academiadeletrasdecamposdojordao.blogspot.com/p/historia.html    


                              Maria José Ávila

A professora Maria José Ávila (prof.ª Zezé), nasceu em 2 de junho de 1930 na cidade de Agudos, no estado de São Paulo.
Filha de Hermógenes Martins de Ávila e Helena Aquino Ávila. é mãe de Helena Maria Ávila de Castro e tem dois netos: Bruno e Mauro.
É licenciada em Pedagogia e psicologia pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras “Sedes Sapientiae” da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC – SP., especializada em orientação educacional.
Chegou em Campos do Jordão em 1957 e já arregaçou as mangas para lecionar aos alunos do TCC.
Maria José Ávila é Professora de Matemática, Artista Plástica premiada, Escritora, Poetisa, amante da música e grande conhecedora das artes, Maria José Ávila é um ícone da cultura e sabedoria, e uma das principais personagens da cultura de Campos do Jordão.
Participou como membro do Conselho Municipal de Cultura de 1990 a 1992.
Em 1979 saiu das salas de aula para assumir a Direção da Escola Estadual, Dr. Antônio Nicola Padula, onde permaneceu até 1984.
Membro efetivo da Academia de Letras de Campos do Jordão desde o ano 2000, ocupando a cadeira º 19, cujo patrono é João de Sá, autor do hino de Campos do Jordão. Presidente da Academia Jordanense de Letras.
Maria José Ávila, símbolo da Educação Jordanense, a partir de 2007 teve seu nome lembrado permanentemente através do Anexo II da EMEF Amadeu Carletti Junior, pelo decreto n º 5788/07 de 14 de novembro de 2007, localizada no Bairro de Vila Britânia em Campos do Jordão.

Matheus da Costa Pinto

Matheus da Costa Pinto é um português aclimado em Pindamonhangaba, onde vem a ser chefe de família pelo casamento com Francisca Corrêa.

Esta senhora, além do berço em que se criou e do qual recebeu esmerada educação, possuía bens que, adicionando-se aos do esposo, permitiriam execução do programa pré-traçado de formação de fazendas, nas alturas da Mantiqueira, cordilheira ao pé da qual se situa a Princesa do Norte (Pindamonhangaba).

E Matheus da Costa Pinto não encontraria terras melhores nem melhores negócios. Os negócios eram melhores porque os sucessores de Brigadeiro Jordão – Manoel Rodrigues Jordão – queriam dispor de suas desconhecidas terras. Terras melhores porque iguais às adquiridas, sobretudo consideradas sob o prisma climático, não as encontraria Matheus da Costa pinto naquelas redondezas.

Senhor das terras, em Campos do Jordão, com a família translada-se para elas e se põe em febril atividade para a execução dos meios adequados à sua vida organizada.

Instala, desde logo, três fazendas e vê, durante esse trabalho, confirmadas as notícias sobre a excelência do clima naquelas alturas e, por isso, não tardou em propagar as maravilhas que esses ares poderiam operar. Havia necessidade de que os sofredores da tuberculose, marcados de sentença até então inapelável de morte, soubessem que seu mal teria cura. Pelo menos um ou outro caso já se registrava de “doente do peito” sarar.

E Matheus da Costa Pinto, homem crente, homem bom, inicia a propaganda do clima de Campos do Jordão, dando começo àquilo que idealizara – a criação de um povoado, a fundação de uma cidade, nas terras que foram do Brigadeiro Jordão.

Pessoas de Minas Gerais, sem fundamento jurídico fizeram-se defensores das terras paulistas que julgavam suas, terras que viriam a constituir os municípios de São Bento do Sapucaí e Campos do Jordão. Fizeram-no por certo em nome de princípios que julgavam merecedores de defesa, pois eram quase todos de ordem política e administrativa e encontravam apoio por defenderem aquilo que julgavam pertencer ao território dessa ou daquela província.

Foi o caso de Ignácio Caetano Vieira de Carvalho que, em 1771, requereu à Coroa e dela obteve concessão de terras então “abandonadas” devido ao frio intenso e ao grande número de onças existentes, terras por onde Gaspar Vaz, nos primórdios do século XVIII, abria caminho de Pindamonhangaba ao rio Sapucaí, com o objetivo apenas de transportar ouro extraído das minas de Itajubá, caminho mais tarde fechado.

Ignácio Caetano, apoiado pelo Capitão Ignácio Marcondes do Amaral, de Pindamonhangaba, e estimulado pelos primeiros moradores das margens do Sapucaí, teve de enfrentar a pretensão de João da Costa Manso que patrocinava os interesses mineiros.

As disputas então travadas tomam vulto, pois envolviam nelas questões que procuravam dizer respeito aos limites das províncias de São Paulo e Minas gerais.

Conta-nos o desembargador Afonso José de Carvalho que a ojeriza entre os confrontantes, limitada a princípio a reclamações corteses, acirrou-se a partir de 1809, com aberturas de caminho que constituía verdadeira invasão de terras, pois partia de Minas gerais e tentava terminar junto às moradias paulistas.

Levado esse fato ao conhecimento do alferes Claro Monteiro do Amaral, de Pindamonhangaba, este, segundo se lê no trabalho referido do desembargador Afonso José de Carvalho, leva-o à apreciação do Capitão-Mor Ignácio Marcondes do Amaral e da vereança pindamonhangabense, resultando de tudo o aborto da tentativa de invasão, como o fechamento do caminho.

As lutas prosseguiram e Ignácio Caetano representa à vereança de Pindamonhangaba, reclamando contra a “ligeireza dos avançadores”, os mineiros. Providências são tomadas: edilidade, Juiz presidente, capitão-Mor, oficiais e Sargento-Mor sobem a serra e descem-na até às margens do rio Sapucaí-Mirim e solenemente tomam posse dos terrenos a baixo da Pedra do Embaú. Foi lavrada ata, a 16 de novembro de 1813, e tomadas as assinaturas de Manoel Marcondes de Oliveira Amaral, José Marcondes do Amaral, Domingos Vieira do Prado, Ignácio Bicudo de Siqueira, João Monteiro do Amaral, José Romeiro de Oliveira (integrante da Guarda de Honra do Príncipe regente), Francisco Salgado Silva, Ignácio Marcondes do Amaral e Pedro José Barbosa.

Prosseguem as lutas. Os mineiros se mostram inconformados e tentam ainda uma vez aumentar, a qualquer preço, o território de sua província, tanto que, diz-nos o desembargador Afonso José de Carvalho, a 27 de abril de 1814, Joaquim Carlos de Toledo, mais Salvador Joaquim Pereira romper com soada, estrondos e salvas e grandes alaridos as tranqueiras e tapumes” colocados pelos paulistas, põe ao chão a casa da guarda e expulsam, com ameaças de prisão caso voltem, os “defensores de estradas e saídas”. Ouçamos agora o próprio desembargador e historiador: “Até às nuvens subiu a cólera da vereança de Pindamonhangaba, à cuja frente se colocara o impertérrito Capitão-Mor. Respirando ambições de derrota, subiram os paulistas a serra, com estrépito, acompanhados de 86 homens d’armas; e, rompendo, por sua vez, as tranqueiras postas pelos de Minas, repuseram tudo no que dantes era, e se não prenderam o Cadete Joaquim Carlos de Toledo foi por este andar em patrulha pelas cercanias, na ocasião”.

Não veio logo a paz sobre essas tão ambicionadas terras, nem tão pouco logo cessaram as perlengas sobre as divisas das províncias..., mas tudo tem seu fim e os moradores de cá e de lá do território paulista, respeitando decisões superiores relativamente a limites, puderam viver em paz, colaborando eles afinal na prosperidade das duas províncias.

As lutas que se travaram, às vezes tão acirradas, entre habitantes de Minas gerais e de Pindamonhangaba, por causa, não propriamente de terras, mas de limites entre as províncias, foi uma espécie de escola em que se preparava o homem para a fundação de núcleos, de elementos de atração em torno dos quais famílias se fixassem.

Como Matheus da Costa Pinto que funda a povoação de São Matheus do Imbiri, povoação que rapidamente se desabrochou em Campos do Jordão, também José pereira Alves deixa Pindamonhangaba, cidade de seu domicílio e residência para, subindo a serra com sua família, fundar a cidade de São Bento do Sapucaí.

Após a morte de Manuel Rodrigues Jordão, seus herdeiros fragmentaram a terra, dando azo a que Matheus da Costa Pinto, homem rico e de visão, adquirisse uma grande parte. Fundou Matheus da Costa Pinto o povoado de São Matheus do Imbiri que teve algum progresso.

A cidade, que não é associação de indivíduos, mas de famílias, no passado, se criava principalmente por motivos religiosos ou motivos familiares.

Eram famílias sedentárias que se associavam para a defesa contra as conquistas de povos nômades. Ou era a religião que as reunia.

“Assim como o altar doméstico tinha agrupados em volta de si os membros duma família, assim a cidade era a reunião daqueles que tinham os mesmos deuses protetores e que cumpriam o ato religioso no mesmo altar”. “Uma vez que as famílias e as tribos convencionavam unir-se e ter um mesmo culto, fundava-se logo a cidade para ser o santuário do culto comum”. (Cidade Antiga F. Colange).

Nos tempos atuais (1971) as cidades se criam de várias outras maneiras, porém, o seu desenvolvimento está condicionado, entre outras coisas, às ações psicológicas. Realmente, a atração religiosa fez de aparecida uma cidade de capital importância para a população brasileira, quase inteiramente católica. É ela a sede da Padroeira do Brasil. No terreno da religião é a capital do país.

A preocupação da saúde, como fator psicológico, tem condicionado a criação e desenvolvimento de muitas cidades, mas, para que elas surjam, pela evolução natural terão início no pequeno aglomerado que se erigir por vários motivos, entre os quais a vontade e orientação de alguém, afeito, pelas suas ideias, a criar elementos de progresso para o bem do homem.

Não é o fundador de fazenda, simplesmente desejoso de possuir propriedade como agricultor ou pecuarista, mesmo que lute pela pacificação da posse contra seus turbadores, - o fundador, só por isso, de vila ou cidade se alguma vila ou cidade vier a surgir em terras que lhe pertenceram. Se só a propriedade de terras em tempos afastados ou propriedades em primeira mão bastasse para justificar o título e as glórias de fundador de cidade, dados ao ex-proprietário dessas terras, se nela cidade se erigisse, então as pessoas tidas como fundadoras de nossas cidades, todas elas, para só falar de nós, brasileiros, estão usurpando o título e as honras aos senhores de todas as terras do Brasil, - os indígenas, os silvícolas, os aborígenes.

Urge que alguém sinta entre seus ideais o de fundar uma cidade, o que não é comum. E pense e queira. E por querer, afaste o limite da abertura de sua bolsa e o dinheiro se gaste em coisas que aproveitem, no presente, aos poucos, aos raros que se congregarem e, no futuro, aos tantos que de seus bens se beneficiarem

Pense, queira e aja. Haja pensamento, vontade, ação...

Matheus da Costa Pinto é cidadão bem-posto no terreno econômico, acatado no meio social de Pindamonhangaba, cidade em que constitui família.

Português de nascimento, as viagens não o intimidam, antes pelo contrário o estimulam. Ele não teme o desconhecido, o inesperado, como não temeu os mares por ele transpostos.

Por isso se localiza ao redor dos picos do Imbiri, em terras adquiridas por compra e venda e que foram de herdeiros do Brigadeiro Jordão.

Sentindo que ali está a salvação de quantos se definham tuberculosos, pensa em propagar as miraculosas qualidades do clima nessas plagas reinante, num desejo de noticiar aos condenados pela tísica que o remédio existe para curar-lhe a doença.

Resolve dar corpo ao seu pensamento e age desde logo. Dá terras para os que querem construir e auxilia-os em tudo. Constrói igreja sob a invocação de N.S da Saúde e levanta escola – dois marcos imperecíveis de uma vontade hercúlea de quem se dispõe a levantar uma cidade.

E a povoação de São Matheus do Imbiri começa a transbordar-se. Os primeiros doentes curados depois de meses nos ares dessa bendita terra, com chegada, estada e saída sob a proteção de Matheus da Costa Pinto, cujas mãos abertas estiveram sempre prontas para o auxílio do próximo, - os primeiros doentes, curados, propagam as excelências do clima, o milagre das curas.

As palavras desses primeiros doentes restabelecidos à saúde têm a força prodigiosa das trombetas de Josué, pondo abaixo as muralhas da ignorância do pedaço privilegiado de nossa terra que são as terras de Campos do Jordão.

Não faltam médicos que, passando a conhecer os ares de Campos do Jordão, não procurem adquirir seus tratos de terra para futuros sanatórios, como fizeram os doutores Gustavo de Godoy, Francisco Marcondes Romeiro, Emílio Silva, Vitor Godinho.

Ausência de humidade e ventos, coisas comuns nas grandes altitudes, é básico fator de sua excelência. Não foi à toa que “Num congresso de Climatologia realizado em Paris, em 1957, foi o clima de Campos do Jordão classificado o melhor”.

E Matheus da Costa Pinto não quer outra coisa senão que a cura nessas terras se venha buscar, pela cura em si, na poupança de vidas.

Não o move interesses pequenos, não o move o dinheiro. Prova disso? Entre outras coisas que citaremos a seu tempo, a escola que ele instala para instrução gratuita das crianças e adultos do povoado de São Matheus, mantida por ele. É ele quem dá alimentos e material escolar às crianças. É ele quem paga o professor.

E essa escola não funcionou uns dias, uns meses, mas anos a fio, a partir de 1879.

A igreja de N. S. da Saúde, é ele quem a faz construir. É ele quem dota essa igreja do necessário para nela os ofícios religiosos se realizarem. E é ele quem providencia a vinda de sacerdotes para as missas e outros atos de religião.

Aos doentes sem recursos é Matheus da Costa Pinto quem dá asilo e assistência, material e moral, sem outro intuito senão o de exercitar um dos mandamentos de sua religião – o amor ao próximo.

De fato, é ele quem auxilia o transporte desses doentes, fornecendo-lhes cavalos e carros. Durante a estada, é ele quem lhes dá morada em casas que mandou construir.

A obra de Matheus da Costa Pinto é daquelas que se levantam para nunca mais caírem, que se alteiam para crescerem constantemente, porque ela se alicerçou no coração e se teceu de suas mais peregrinas virtudes. É obra que perdura e se avulta na projeção pelo tempo afora. Em certo momento de sua execução, quando já Campos do Jordão se tornam afamados até mesmo além fronteiras nacionais, pelo miraculoso de seu clima que cura a tuberculose, moléstia até então tida por incurável; quando é chegado o instante de Matheus da Costa Pinto receber a única paga ambicionada: a certeza de que tudo estava feito para a saúde se restabelecer e a vida se prolongar de quantos disso necessitassem, sem dependência de situações econômicas e financeiras; quando é chegado o instante em que os cientistas começam a preocupar-se com a descoberta dos ares de Campos do Jordão; quando o momento chega o Estado e quiçá a nação tornarem-se imperiosamente interessados em sua existência, eis que surge o vilão, aquele que veicula maledicência, sem conhecer ou fingindo desconhecer as fontes suspeitas que lhe enchem a mente de ataques àquele que grande parte da sua vida viveu-a criando esta terra, abençoada pelas vidas sem conta que tem poupado à humanidade e poupará através dos tempos.

São os espinhos que glorificam o homem de ação. Mas os que conheciam Matheus da Costa Pinto e lhe conheciam as obras, - não poderiam sopitar o grito de revolta em seu favor e contra as inventivas de um vilão. E mal os ataques se fazem as vozes dos moradores de Campos do Jordão opõem formal defesa., fornecendo ao acusador leviano as provas provadas de toda a obra de Matheus da Costa Pinto em contrapeso às suas inventivas soezes, injustas, maldosas.

Mal a pessoa de Matheus da Costa Pinto é alvejada, levianamente, e as vozes das pessoas mais gradas de Pindamonhangaba hipotecam a ele sua inteira solidariedade, rebatendo a vil acusação.

Mal se ergue a difamação suspeita, a injúria rasteira e as vozes também se erguem das ilustres e distintas pessoas de São Bento do Sapucaí e de Vassouras, veementes, protestando contra a vilania de tal ataque.

E que dizem os que estão em Campos do Jordão, por ocasião do soez ataque? Lemo-lo na edição de 23 de março de 1884, da Tribuna do Norte, semanário que se publica aos domingos, em Pindamonhangaba:

“Para dizer tudo em uma frase, a vida de V.Sa. tem sido longa prova de grandeza d’alma e da extrema bondade de seu coração até para com os seus mais pronunciados adversários. Quando se trata de favores ou benefícios V. Sa. Não faz distinção entre o rico e o pobre; entre o homem livre e o escravo; entre o amigo e o adversário; a todos estende paternal solicitude, presando-se de seu fino trato, amabilidades e generosidade; sendo franca, desinteressada e desvelada a hospitalidade em suas três casas das fazendas do Humaitá, Bahú e daqui, com todos os transeuntes”.“Não tecemos panegírico e vontade, como a vontade a maledicência urdiu falsidades que o desagradassem”.

Essas palavras fulminam a malévola intenção daquele que quis tisnar o benemérito fundador de Campos do Jordão. Mais, leiamos mais este trecho, o relativo a enfermos:

De então para cá numerosas hão sido as vítimas das afecções pulmonares que a sua caridosa hospitalidade há acolhido, por vezes até no seio de sua exma. Família. Desses enfermos uns recuperaram a saúde, outros em estado desesperador infelizmente sucumbiram e alguns nos próprios braços de V. As.; entre os enfermos ocorre-nos os finados dr. Avelino de Freitas, de Niterói; o pardo Luiz, escravo do sr. José Francisco Marcondes Machado. Antonio Pereira Souza Guimarães, português; Antonio Carlos de Almeida, do Maranhão; Francisco Corrêa leite, de Pindamonhangaba; e José Gonçalves Guimarães, português”.“Também é geralmente aqui sabido que o hotel deste retiro tem hospedado por longo tempo e muito frequentemente hóspedes por dias a pessoas tanto doentes como sadias, e tanto das relações de V.Sa. com os desconhecidos e desvalidos, com ordem de não lhes apresentar a conta das despesas, por correrem elas a seu cargo”. Este acolhimento que tenta ocultar, o que não é fácil em casa pública, os abaixo assinados não têm a mesma razão de calar”.

Matheus da Costa Pinto, ao lado da escola quer mantém durante anos, com todas as despesas feitas por sua própria conta, inclusive casa e ordenado do professor, escola para as crianças e para os adultos; ao lado da banda musical que organiza para alegria dos moradores de S. Matheus; e ao lado da igreja que erige e mantém, manda construir um vasto prédio para hotel e algumas casas de alvenaria e telhas e outras pequenas tudo para que os enfermos “contassem com moradia aqui a seu cômodo e nas condições higiênicas requeridas” – e tudo isento de outro intuito que não fosse o de beneficiar os enfermos de tuberculose pulmonar, para os quais se achava a cura tão ambicionada por todos e sobretudo, pelo mundo médico e científico. Isso mesmo afirma o protesto assinado por moradores de Campos do Jordão e publicado em Pindamonhangaba, na “Tribuna do Norte” de 23 de março de 1884:

“V.Sa. (dizem eles) nunca teve hotel; desde o começo o prédio achou-se entregue a outros para que por conta e interesse próprio montassem essa empresa lucrativa, sendo-lhe mister por vezes superar dificuldades para conseguir quem se prestasse a torna-la a si, e até servir de fiador a compras de objetos preciosos ao estabelecimento. Os lucros, pois couberam a tais empresários. Para protege-los, o prédio nunca lhes foi alugado”.

Das casas que se alugavam no estio, menos as pequenas que “são e sempre foram habitadas por pessoas pobres e sem pagamento alguém” – diz o manifesto – nunca Matheus da Costa Pinto auferiu lucros, pois na expressão de seus signatários: “Supomos indubitável que os capitais a elas aplicados “geralmente não alcançam os juros da lei”.

E quem são essas pessoas? São o dr. Diogo Mendonça Pinto, Joaquim Gomes leitão, José Abelhos Fortes Bustamante, José Benedito Marcondes Romeiro, José Benedito Marcondes Machado, Antonio Públio da Granja Mendonça, Manoel Hortense Vargas, Manoel Rodrigues Barcellos, Jeremias e Ignácio Gonçalves de Oliveira – nomes todos por quem lê qualquer página de História de campos do Jordão. E quando o afirmam? Março de 1884.

Desse manifesto constam palavras de um grande médico, de um facultativo que se tornou imortal pela luta que moveu contra a tuberculose. É o dr. Clemente Ferreira. Leiamo-lo. É um trecho da tese com que disputou o título de doutro em medicina:

“É sobretudo ao benemérito sr. Matheus da Costa Pinto, importante fazendeiro, que se devem os melhoramentos e progressos dessa esplêndida localidade. Incansável e cuidadoso ele se tem empenhado com afã na constituição de casas pitorescas que em grande número se oferecem agora ao agasalho e à acomodação de tantas pessoas que lá vão buscar lenitivo aos seus males. Cheio de entusiasmo pelos Campos o sr. Matheus dedica a sua vida ao engrandecimento e renome do lugar e envida os seus esforços todos para que a confortabilidade desejável caiba ao doente, garantindo mesmo de proporcionar-lhes passatempos e distrações agradáveis que possam amenizar a vida aos que aborrecem os recessos agrestes”.

Em Pindamonhangaba, “Tribuna do Norte” de 30 de 03.1884 e “Diário de São Paulo” de 29.04.1884, revoltada, a população se levanta para protestar contra a vil acusação assacada à pessoa do fundador de Campos do Jordão. São vozes do sr. Manuel Marcondes de Moura e Costa, vice-presidente da Província; do vigário da paróquia – cônego Tobias da Costa Rezende; do Barão da Palmeira, do Barão de Itapeva, do Barão de Romeiro; dos médicos drs. Eugênio Marcondes Homem de Mello, Francisco Marcondes Romeiro, José Vieira Marcondes, Manuel Ribeiro Marcondes Machado, Gustavo de Oliveira Godoy, Marinonio de Brito, dos advogados drs. João Marcondes Moura Romeiro, João Ribeiro Marcondes Machado, José Marques de Oliveira Ivahy – promotor público Gregório José de Oliveira Costa, Matheus Marcondes Moura Romeiro, Emílio Paulo de Godoy; e vereadores, coletores de rendas, farmacêuticos, delegado de polícia, comerciantes, fazendeiros, funcionários públicos federais, estaduais, municipais, escrivão, enfim, centenas de pessoas representativas de todas as camadas sociais – vozes que se levantam publicamente, revoltadas, para o prestígio da verdade.

E o fez igualmente o povo de São bento do Sapucaí, através de suas mais representativas pessoas, para afirmar, através de publicação na “Tribuna do Norte” de 02 d março de 1884”que o digam os pobres enfermos, desvalidos, sem recursos, aos quais acolheis e tratais sem outro interesse que não o de fazer bem; que o atestem as numerosas propriedades ai construídas com o único fim de dar importância ao lugar, o prova finalmente, a escola por vós longo tempo sustada e onde os filhos da pobreza recebem utilíssimo ensino...”.

A sociedade sapucaiense sintetiza toda a sua manifestação de revolta nestas palavras:

“É na própria acusação que está o mais eloquente testemunho das vossas altas virtudes: a ingratidão foi sempre a sombra do benefício, como o verdadeiro merecimento o constante alvo de perseguições que, no desprezo da opinião pública encontra o merecido castigo”.

Quem o diz?

Os representantes dos poderes civil, municipal, policial e mais diretamente da população desta cidade (“Tribuna do Norte” de Pindamonhangaba, em 03 .03.1884 e “Diário de São Paulo” em 30 de abril:

José Antonio de Freitas Guimarães – presidente da Câmara Municipal e delegado de polícia... e professores, agente do Correio, suplentes de delegado, secretário da Câmara, vigário, vereadores em sua unanimidade, procurador dos poderes municipais, suplentes do juiz municipal, juiz de paz e seus suplentes, fazendeiros, comerciantes.

Matheus da Costa Pinto adquire terras que foram do Brigadeiro Jordão e, a 29 de abril de 1874, pelo que inicia em construções obedecendo a um plano preestabelecido, lança os fundamentos da povoação que se chamaria S. Matheus do Imbiri.

Que não foi um simples agricultor ou homem de negócios com fazendas, a despeito de ter adquirido terras para a criação de 3 delas – Humaitá, Bahu e S. Matheus do Imbiri – está no fato de facilitar por todos os meios o crescimento da povoação que fundara, dando terras para a construção de casas, auxiliando seus edificadores.

Matheus da Costa Pinto não foi comerciante. Nunca teve armazém ou venda.

Construiu prédio para hotel, instalou-o, mas nunca o explorou, fazendo dele empresa lucrativa, que sua finalidade com tais gestos era a propaganda de Campos do Jordão, como lugar de cura de doentes afetados de tuberculose pulmonar.

Nesse sentido são as palavras de seus contemporâneos – únicos que podem dizer ou falar sobre o início de São Matheus do Imbiri e de seu fundador.

Ouçamo-los:

“... Nuca teve hotel; desde o começo o prédio achou-se entregue a outros para que, por conta e interesse próprio, montassem essa empresa lucrativa”.

E continuam esses moradores de campos do Jordão, em 1884: “Os lucros pois, couberam a tais empresários. Para protegê-los o prédio nunca lhe foi alugado”.

Quando a população aumenta de São Matheus do Imbiri, cuida logo seu fundador de criar escola. Em 1878(Tribuna do Norte 23.03.1884) instala-se a escola de primeiras letras, regida pelo professor José Francisco da Costa e, dizem os jornais da época (Tribuna do Norte, de 23.04.1884):

“Com admissão gratuita de alunos, fornecendo a estes os utensílios precisos; e ao professor casa, mobília e ordenado”.

Após três anos, retira-se esse professor, sendo substituído por Fortunato de Paula Campos, o qual ficou apenas durante um ano. Em 1884 instala-se nova escola, a cargo do prof. José Gomes Coutinho, sendo que funciona de dia para a infância, e à noite para adultos, anexando-se a ela aula especial para criação de uma banda de música – e isso tudo por conta de Matheus da Costa Pinto.

Em 1884, o espírito clarividente desse fundador de cidade já realiza a educação de adultos, educação que em 1947 tem seu incremento no país, cabendo a nós, como representantes do Governo do estado de São Paulo, assinar convênio com o Governo da República também, como então diretor geral do Departamento da Educação, a instalação das primeiras centenas de escolas por todo o território de S. Paulo.

Em 1885 o prof. Antonio Porfírio da Silva é removido para são Matheus do Imbiri, a pedido seu, porque, segundo seu próprio depoimento, foi informado de que ali “teria as maiores facilidades para residência e instalação de muita escola”.

E 54 anis após sua estada, que foi de 1885 a 1887, isto é, em carta de 08 de fevereiro de 1941, dirigida à nora de Matheus da Costa Pinto, diz esse professor:

“De fato, ali estive em exercício de 1885 a 1887, tendo casa, sala para escola e todas as possibilidades fornecidas pelo proprietário da fazenda. Além de que não foram poupadas atenções e carinhoso acolhimento desde o dia de minha chegada até a data de minha remoção. Devo assinalar que foi esse um dos períodos mais felizes de minha existência – por ter conhecido e desfrutado a benevolência da família Costa Pinto”.

Não bastava instrução. Além do desenvolvimento intelectual necessário era o conforto para o espírito. Ao lado da escola lá, a igreja se exige para uma povoação em crescimento. E, Matheus da Costa Pinto, por sua própria conta, edifica a capela de V.S. da Saúde. Quem o afirma é o dr. Diogo de Mendonça Pinto, primeiro signatário do manifesto de que já lemos alguns trechos, publicado em 1884. E afirma-o com estas palavras: “Para conforto dos doentes e socorros espirituais da igreja, V. As.

Erigiu uma capela com considerável dispêndio, por insuficiência dos donativos agenciados pelo 1º abaixo assinado”, que foi o próprio dr. Diogo de Mendonça Pinto.

Também esse fato é registrado por Condelac Chaves de Andrade, em seu “Álbum Almanaque” – Histórico de campos do Jordão, publicado em 1948, sem referência embora às importantíssimas manifestações pró Matheus da Costa Pinto das sociedades de Pindamonhangaba, Vassouras, São Bento do Sapucaí, Campos do Jordão publicadas em 1884 – e nas quais elementos podem ser colhidos, da época, para conhecimento histórico da fundação de Campos do Jordão. Afirma-o Condelac, com estas palavras:

“Em 1876, Matheus Pinto iniciou a construção da capela de São Matheus que, mais tarde foi inaugurada com grande pompa juntamente com uma escola pública, também por ele custeada”.

Escola. Igreja. Não seria demais uma ligação a algum centro de recursos. Isso seria sossego para aqueles doentes vindo de vários e tão distantes pontos do Estado e até do país e não acostumados à vida rural.

E Matheus da Costa Pinto a promove, segundo vemos do mesmo Álbum de Condelac Chaves de Andrade:

“Como a viagem para Campos do Jordão fosse por demais penosa, em lombo de burro e subindo pelo Itapeva ou dando a volta pelo paiol velho, Matheus Pinto, associado ao Bicudinho, contratou o engenheiro Saladino para abrir a atual estrada de rodagem para Pindamonhangaba, por Francisco gaiola e Manuel Vieira”.

Casas. Prédio para hotel. Banda de música, Campos para esporte. Escola para crianças e adultos. Igreja. Estrada de rodagem. Tudo isso em pouco tempo, a começar de 29 de abril de 1874.

E mais, assistência aos enfermos, propaganda do clima e até, para os casos daqueles que subiam já em estado irreparável, o cemitério que Matheus da Costa Pinto constrói às suas expensas, para evitar as famílias enlutadas os sofrimentos de transporte de cadáveres para Santo Antonio do Pinhal ou Pindamonhangaba. Constrói ele tudo de que venha necessitar a vida de uma cidade.

Contam-no os que tem escrito e falado sobre Campos do Jordão e lhe tem estudado as origens, como Joaquim Corrêa Cintra, esse arguto jornalista que propalou pela imprensa as grandezas de campos do Jordão, difundindo-lhe a história através de “A Cidade”, semanário de que é diretor responsável.

Perpetuam de modo tão atrativo a história de campos do Jordão os poderes públicos municipais. Louvores a esses poderes, prefeito e vereadores, que não deixam passar ano sem que o 29 de abril de 1874 seja lembrado como data aniversária de Campos do Jordão e cultuada a memória de seu fundador e daqueles que com ele e após sua passagem muito fizeram para o engrandecimento dessa terra sobre que tantas bênçãos caem e cairão por todo o sempre daqueles que aqui renasceram e renascerão para a vida tão ambicionada.

E se glória é essa bastante para perpetuar um nome, para imortalizar um homem, glória maior foi a de Matheus da Costa Pinto porque fundou, não uma cidade qualquer, mas fundou Campos do Jordão, - terra do “ouro escarlate”, no dizer de Mário de Sampaio Ferraz, em “Campos do Jordão”, 3ª edição, pág. 138, do ”Ouro Sanguíneo”, o da saúde, o mais precioso de todos, que se transforma em glóbulos vermelhos, em torrentes estuantes de sangue, em fonte rubra de vida e de amor”; mas fundou Campos do Jordão de cujo povo cada um é “uma espécie de cidadão de toda a humanidade, habituado desde os primórdios de sua organização comunal a receber e ajudar a todas as criaturas provindas de toda parte” (A Cidade” – Campos do Jordão, 16 de maio de 1965).

Glória maior é a de Matheus da Costa Pinto porque em tudo agindo com o coração mais do que com tantas obras que edificou, essa cidade de Campos do Jordão fundou, esse majestoso Templo da Solidariedade.

Fonte:

Trabalho apresentado na sessão de 04 de setembro de 1971, no Instituto Histórico e geográfico do Estado de São Paulo, pelo dr. Antenor Romano Barreto, na Revista Volume 71.

                                          Família Bazin


O francês Casimir Etienne Basile Bazin nasceu em Crancey, França, em 1833. No Rio de janeiro fundou a “C. Bazin & Cia”, uma perfumaria com objetos para toilette na Rua dos Ourives nº 115, tornando-se uma tradicional loja da época que anos mais tarde, transformou-se na “Casa Bazin”, uma firma social, composta pelos sócios franceses, constituída por seu filho, Leon Casemir Felix Marie Bazin, Augusto Bazin e os brasileiros, Alexandre Ribeiro e Jorge Marcellino Pinto, em negócios de perfumaria e outros gêneros.

Nos anos posteriores, quando já tinham idade suficiente, Léon e Gaston Louis Casimir Bazin (irmão) também se tornaram Sócios de C. Bazin & Cia.

… e 1882, a C. Bazin & Cia. muda-se de Ourives para a avenida Central, 131

… em 1906 nome da empresa torna-se, « Casa Bazin »

… 1913 : alteração do nome da avenida Central para « avenida Rio Branco, 131 »…

… 1928 : avenida Rio Branco, 143.

Fez do Brasil a sua segunda pátria, doando à municipalidade do Rio de Janeiro, o terreno ocupado outrora pela Rua 18 de outubro”, (Tijuca). Muito concorreu para o progresso de Campos do Jordão, onde fixou residência. Desde outubro de 1889, por aquisições feitas ao próprio dr. Domingos Jaguaribe, tornou-se grande proprietário em Vila Jaguaribe.

Casimir Etienne Basile Bazin faleceu a 10 de dezembro de 1907 em Campos do Jordão SP, e a missa de Sétimo Dia foi celebrada pelo reverendo, Pe. Ramiro Vieira de Mello, acolitado pelo sacristão Francisco de Souza Lobo, na matriz de Candelária, Rio de Janeiro.
Sua propriedade foi partilhada entre os filhos. Em 1908, por ocasião da divisão judicial da Fazenda Natal, o Espólio de Casemir Bazin recebeu o seu quinhão. 

Foram seus filhos, Auguste Bazin, nascido em 1854, em Paris; Leon Casimir Felix Marie Bazin, nascido em 30 de junho de 1863 no Rio de janeiro, casado com Bertha Augusta Guilhermina Bazin; sua filha chamava-se Lèonie Maria Bazin; Gaston Louis Casemir Bazin, nascido em 1864, RJ; Marie Leonie Rosini Bazin, nascida em 1870, RJ; e Maria Josèphe Françoise Rose Bazin, nascida em 1872, RJ, que, por força do inventário que transitou em junho de 1916, no Rio de Janeiro, tornaram-se seus herdeiros.

Dr. Domingos Jaguaribe, com as terras que adquiriu na região, (incluindo o cemitério), em 1889, transmitiu a Casemir Etienne Basile Bazin, por ocasião da alienação das ditas terras. O “Velho Bazin” (assim conhecido), passou a ser proprietário de uma grande área de terras localizada na Vila Velha, atual Vila Jaguaribe.

Por ordem do novo proprietário, o campo santo foi cercado e à sua volta plantados eucaliptos pelo empregado, Benedito Frozino. Situava-se à margem direita da atual avenida Januário Miráglia, no sentido Abernéssia-Jaguaribe, ao alto, entre a estrada que demanda o atual cemitério e Vila Jaguaribe... (hoje, um condomínio, Recanto Dubieux).

O cemitério foi inaugurado em 29 de dezembro de 1899. Ali foram sepultados vários pioneiros, dentre eles, o engenheiro agrimensor, José de Magalhães, assassinado por João Rodrigues da Silva, o João Maquinista. Seu cadáver foi o primeiro a ser sepultado nesse cemitério, sendo numeroso o féretro.

No começo do século XX, foram importantes os chamados carregadores de cadáveres, que atuavam no itinerário Campos do Jordão-Pindamonhangaba, quando não havia ainda meios de comunicação civilizados...
Profissão brava, que exigia abnegação, além de uma saúde de ferro. Como Campos do Jordão, na época, já despontava como estação de cura de tuberculose, uma moléstia terminal naquela ocasião, o índice de mortes era elevadíssimo, de sorte que o Cemitério da Bazin, não comportava tantos sepultamentos. Por isto, as famílias de alguma posse transportavam seus mortos para Pindamonhangaba, com posterior embarque para São Paulo e Rio de Janeiro, ora para Pirangussú, em Minas Gerais...

Situado no Recanto Dubieux, existia uma inscrição em um dos túmulos: “Aqui jaz o Dr. José de Magalhães, barbaramente assassinado”.

Em Campos do Jordão, a família Bazin era proprietária de quase tudo. Em 1913 havia umas 20 casas em Vila Velha, atual Vila Jaguaribe. O casarão e os seis chalés situados na atual Rua Bazin, foram construídos pelo engenheiro José de Magalhães, situadas atrás do Grupo Escolar Dr. Domingos Jaguaribe. Costumava sair de trole para a cidade, pois era a única que possuía um desses.

Em 1916, Gaston Louis, Marie Leoni e Marie Joseph Françoise Rose Bazin, alienaram as suas partes ao irmão Leon Casemir Felix Marie Bazin, e por sua morte, à sua viúva, Bertha Augusta Guilhermina Bazin.

Em 1926, doa ao Estado, área em Vila Jaguaribe para construção da Estrada de Ferro Campos do Jordão.

Leon Casemir Felix Marie Bazin faleceu em 16 de junho de 1935 e foi sepultado no cemitério de São Francisco Xavier no Rio de Janeiro (cemitério do Cajú). Depois que foi sepultado, dona Bertha Bazin, não mais permitiu que no cemitério da Bazin em Campos do Jordão, ninguém mais fosse enterrado. O povo então, começou a chamá-lo de “Cemitério da Bazin”. Atualmente, é o Recanto Dubieux.

Esse cemitério situava-se à direita de quem sobe a rua Sebastião de Oliveira Damas, no início de Vila Nadir, em local, atualmente, completamente povoado, cujas terras foram doadas em 04 de maio de 1917 por Leon Casemir Felix Marie Bazin e sua esposa, dona Bertha à Câmara Municipal de São Bento do Sapucaí, (na época, Campos do Jordão era distrito de São Bento do Sapucaí), sob a condição de ser interditado pela Câmara, logo que o novo estivesse cercado e trasladados, no prazo legal, os ossos ali existentes, que seriam arrasados.

O cemitério era praticamente particular e não atendia às necessidades da população, advindo daí o movimento da comunidade para a criação de uma nova necrópole.

Já, em 1928, o Cemitério da Bazin tinha os seus muros em ruínas, vivia maltratado e devido à falta de lugar, chegou-se mesmo a enterrar na mesma cova um cadáver em cima do outro.

Esgotada a capacidade dessa necrópole, mais tarde, foi edificado o Cemitério nº 2 (atual), na Vila Nossa Senhora de Fátima (Vila Sodipe), inaugurado pelo segundo prefeito sanitário, Bento Cerqueira Cezar (Bentinho), em 01 de junho de 1930.

Em 31 de outubro de 1931, o prefeito de Campos do Jordão, Dr. Antonio Gavião Gonzaga, recebia, em doação, de Leon Casemir Felix Marie Bazin e Bertha Bazin, uma área de 3.800m2., destinada à construção de uma escola pública, que mais tarde veio a se transformar no atual Grupo Escolar “Dr. Domingos Jaguaribe”. As obras da escola foram financiadas por José Ferreira da Rocha, onde trabalharam Floriano Rodrigues Pinheiro, Antonio Abrantes, e outros.

Outra gleba das terras pertencentes a Casemir Bazin foi vendida em 1934, a Paulo Rabello Dubieux, posteriormente loteada por seu filho, Dr. Viriato Klabunde Dubieux, transformada nas Vilas Dubieux e Telma.

Outra gleba foi alienada em 1944, pela filha e herdeira, Léonie Bazin Stambolos, casada com o sr. Dimetrius Stambolos, a Victor Khon que a loteou e a transformou na Vila Atalaia.

Bertha Bazin tinha uma irmã, Helena, casada com Alberto Klabunde, cujos filhos chamavam-se Daniel e Mathilde. Mathilde, órfã aos 2 anos de idade, foi criada por sua tia, Bertha Bazin, até casar-se com Paulo Rabelo Dubieux. Dessa união, nasceram os filhos, Viriato Klabunde Dubieux, Waldemar Klabunde Dubieux e Geraldina Dubieux Pereira. Seu irmão, Daniel, veio de Santa Catarina, cuidar da Fazenda Bazin, em Campos do Jordão, onde se tornou administrador de sua tia.

E, com a morte de dona Bertha Bazin em 17 de janeiro 1938, os pagamentos anuais a ela de sua propriedade foram para suas irmãs sobreviventes na França.

Sua única filha, Leonie Bazin Stambolos (Duduce), foi casada com o engenheiro Dimitrius Stambolos. Doou um terreno onde foi construído, em sistema de mutirão, o Centro Espírita “Fé, Esperança e Caridade”, fundado por Álvaro Abrantes, Joaquim Ferreira da Rocha, Agenor de Oliveira, Augusto Barsaline, Paulo Rabelo Dubieux e Emiliano Barsaline, e outros.

Bertha Augusta Guilhermina Bazin faz parte da história de Campos do Jordão. Era casada com o Sr. Leon Casemir Felix Marie Bazin, filho do francês, o velho Casemir Etienne Basile Bazin...

 

Fontes:

MASAKAZU, Arakaki. Ruas da minha cidade. Campos do Jordão: Lis Gráfica e Editora Ltda., 1988. 166 p.

PAULO FILHO, Pedro. História de Campos do Jordão. Campos do Jordão: Editora Santuário, 1986.

LINO, Maurício de Souza. Da Freguezia do Imbery aos Campos do Jordão. Campos do Jordão: Clube de Autores, 2017. 414 p.



Plínio Cândido da Silva, Jordanense, e a Primeira Tv. em Campos do Jordão.

Graças ao esforço e boa vontade de Plínio Cândido da Silva, a televisão em Campos do Jordão, tornou-se uma esplêndida realidade.

Filho de Campos do Jordão, jovem, estudioso, sedento de progresso, viveu os anos de adolescência nesta sua terra, trabalhando, estudando e procurando conhecer os segredos do rádio e da eletricidade que sempre o apaixonavam. Sozinho, montou uma estação de rádio amador, sempre no afã de aprimorar os seus conhecimentos. Entretanto, o campo de ação, numa cidade de interior, é sempre limitado, e Plínio, sequioso de saber, foi para São Paulo, a ciclópica metrópole que assombrava o mundo pelo seu progresso.

Formou-se em Engenharia Eletrônica pelo ITA - Instituto Tecnológico de Aeronáutica, uma instituição de ensino superior pública da Força Aérea Brasileira, vinculada ao Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial, localizado na cidade de São José dos Campos. Isto se deu há 60 anos.

Esse moço, em meados de 1951, já se encontrava trabalhando como técnico da TV Tupi de São Paulo PRF-3 TV, canal 3, a estação pioneira da televisão na América do Sul, uma brilhante e patriótica iniciativa do grande jornalista Assis Chateaubriand. Mais tarde, Engenheiro e Chefe do Departamento Técnico da TV Paulista, canal 5, e melhor diretor técnico de TV brasileira em 1958.

Numa transmissão pioneira, a TV paulista Canal 5 mostrou São Paulo em vista aérea, a bordo de um helicóptero, sob sua liderança, e contando com a colaboração valiosa do brigadeiro Armando Araribóia, Comandante da 4ª Zona Aérea, do Coronel Faria Lima, Comandante da Base Aérea de Cumbica e outras altas patentes da FAB.

Também foi o responsável para transmitir pela TV a XXXIII Corrida Internacional de São Silvestre.

Dia 25 de outubro de 1951, na estação de Televisão das Emissoras Associadas, à rua catalão, 48, manifestou-se um princípio de incêndio, sendo o fogo, cuja origem é ignorada, combatido e dominado em seguida. Plínio Cândido da Silva foi ouvido no inquérito instaurado na Central de Polícia, quando adiantou ter o foco começado num dos motores da referida seção. A Polícia Técnica foi solicitada para vistoriar o local.

Não esquecendo a sua terra, Plínio Cândido da Silva logo que pode, arranjou uma “fuga” da TV e aqui chegou, equipado de um receptor de televisão e diversos tipos de antena, a fim de fazer experiências com um “vídeo”. 

A princípio, todos o desanimaram. Houve mesmo quem afirmasse que em Vila Emílio Ribas (atual Capivari), já havia sido feita uma tentativa, completamente infrutífera. O ceticismo, entretanto, durou pouco. Plínio instalou um receptor RCA (Rádio Corporation of America), no clube do Sanatório S3, experimentou os diversos tipos de antena e finalmente, veio a imagem, nítida, perfeita sem interferências.

Nunca o Sanatório S-3 foi tão visitado como nestes últimos tempos. Uma verdadeira romaria dirigia-se para lá, diariamente, apesar do intenso frio e foi verificar “in loco”, a última maravilha do século. Os jogos de futebol, televisionados, então, constituíam o maior motivo de atração.

Todos vinham e ficavam entusiasmados, com o fato de terem televisão em Campos do Jordão, possibilidade que tinham afastado de suas cogitações, em vista de ser teoria firmada, o conceito de que o raio de ação de uma estação transmissora de televisão era de apenas 50 km, quando estavam distantes mais de 100 km da capital de São Paulo.

Fontes de Pesquisa:

Jornal “A Cidade”, de 08 de julho de 1951;

Livro "Almanaque da TV" – Rixa;

Jornal "Jornal de Notícias", 26 de outubro de 1951;

Revista "Radiolandia", 20 de abril de 1957;

Jornal "Diário da Noite", 15 de outubro de 1958; 17 de maio de 1961; 

Jornal "A Gazeta Esportiva", de 19 de dezembro de 1958

                                                      


Iracema Abrantes



A família Abrantes contribuiu muito para a história e a cultura de Campos do Jordão. O casal vindo de Viseu, cidade portuguesa, situada na província da Beira Alta, D. Aurora Gonçalves Abrantes e Sr. Álvaro Abrantes chegou em Campos do Jordão em abril de 1923, e juntou-se a seus pais, seu irmão e irmã, que aqui já viviam desde 1912.
A família sempre residiu na Vila Jaguaribe, proximidades da Igreja Nossa Senhora da Saúde, em uma casa de madeira, construída pelo Sr. Álvaro Abrantes, patriarca da família, pessoa sempre ligada à área da construção civil, mais especificamente a carpintaria e marcenaria.

O casal Abrantes teve oito filhos, que participaram ativamente na história de Campos do Jordão. Dentre eles, Iracema Gonçalves Abrantes.

Iracema Gonçalves Abrantes, escritora e poetisa, nasceu em Campos do Jordão, aos 27 de dezembro de 1924. Estudou no Grupo Escolar dr. Domingos Jaguaribe. Teve aulas de inglês com o professor Harry Mauritz Lewin.

Foi secretária da APAE de Campos do Jordão por mais de dez anos. Funcionária Pública da Secretaria de Saúde, trabalhou com os médicos dr. Osório Pinto de Oliveira, Radyr de Queiroz, José Carlos Silveira e outros. Trabalhou na Farmácia Emílio Ribas com José Kalil e Paulo Grace por muito tempo. Fez parte do Clube Soroptimista Internacional de Campos do Jordão, só para mulheres profissionais, participando de congressos nacionais e internacionais.

Personalidade da história e cultura jordanense, foi membro da Academia de Letras de Campos do Jordão, ocupando a cadeira de nº 20 cujo patrono é o escritor Guimarães Rosa.

Em seu belo livro de poemas “Cantar Campos do Jordão e Outros Cantares”, de 1998, cantou o museu Felícia Leirner, o Festival de Inverno, o Monumento Centenário, as estações do ano no Alto da Serra, as Araucárias, os Plátanos, os Liquidambares, os Rododendros, as Hortênsias, os Pinheirais e Cedrinhos, a Mantiqeira, o Itapeva, as Nascentes mais altas do Rio da Prata, a Pedra do Baú, o Palácio Boa Vista, as Vistas Jordanenses, a Igreja N. S Saúde, o Horto Florestal...

O escritor Pedro Paulo Filho, além de prefaciar o seu livro, escreveu a crônica "Ó Iracema, eu nunca mais te vi!", em sua homenagem.

A poetisa também contribui com pesquisas históricas sobre a passagem de grandes personalidades a essas serranias, como Guilherme de Almeida, Carlos Heitor Cony, e Alberto da Costa e Silva.

Durante muitos anos foi revendedora da empresa de cosméticos “Avon”; exemplo de empreendedorismo e ação social em Campos do Jordão, onde recebeu vários prêmios.

Quando sua mãe, d. Aurora Abrantes, lusitana, completou cem anos, acompanhou-a a Portugal, a convite do Presidente da República Portuguesa, para receber homenagens.

A Academia de Letras de Campos do Jordão com o projeto de concursos literários para estudantes implantado em 2011, realizou o primeiro concurso de poesias para os alunos das escolas jordanenses, instituindo o Prêmio “Iracema Abrantes de Poesia Estudantil”.

Teve isquemia cerebral por falta de oxigenação vascular e assim viveu por, aproximadamente, quatro anos. Nos seus últimos dias de vida hospitalizada, sofreu muito. Faleceu aos 84 anos de idade no dia 23 de agosto de 2009.


Fontes:


MASAKAZU, Arakaki. Ruas da Minha Cidade: Campos do Jordão. Campos do Jordão: Lis Gráfica e Editora, 1988. 166 p.

PAULO FILHO, Pedro. Campos do Jordão Et Cetera... Memórias de um velho contador de histórias. Campos do Jordão: Tachion, 2016. 342 p.


    Fausi Paulo

Seus pais foram o casal Pedro Paulo e D. Izabel Cury Paulo. O Sr. Pedro Paulo foi um dos mais antigos e importantes comerciantes de Campos do Jordão, tendo iniciado seus trabalhos com a famosa “Casa Pedro Paulo”, especializada em roupas e sapatos finos, tecidos e diversos artigos do vestuário masculino, inicialmente sediada em Vila Capivari, mais tarde, em Vila Abernéssia, situada quase em frente à Estação Ferroviária, onde funcionou por quase cinco décadas. Seus irmãos, Pedro Paulo Filho e Sérgio Cury Paulo.

Fausi Paulo nasceu em Campos do Jordão, em 11 de outubro de 1931. Fez o curso primário no Grupo Escolar “Domingos Jaguaribe”. Não existindo na cidade cursos ginasiais, seus pais Pedro Paulo e Izabel Cury Paulo levaram-no para o Colégio Diocesano “Santo Antonio”, em Taubaté, onde formou-se, obtendo o 1º lugar em todos os anos. Transferiu-se para São Paulo onde estudou no Colégio Arquidiocesano e no Mackenzie College, concluindo o antigo curso secundário.

Ingressou na Escola de Engenharia da Universidade Mackenzie, onde formou-se em Engenharia Civil. Casou-se com a professora Maria Salete Padovan, com a qual teve cinco filhos: Silvia Maria, Claudia Maria, Lucila Maria, Pedro Augusto e André Luiz, todos formados em curso superior.

Fausi Paulo, grande personalidade da história de Campos do Jordão, sempre procurou valorizar e trabalhar seriamente em prol do crescimento e do progresso ordenado de Campos do Jordão.

Ocupou os seguintes cargos: Engenheiro da Prefeitura Municipal; Presidente do SAMAE – Serviço Municipal de Água e Esgoto de Campos do Jordão; Presidente da Comissão de Elaboração do Plano Diretor da cidade e Presidente do Círculo Operário de Campos do Jordão.

Fausi Paulo formou-se também em dezembro de 1955, pela Faculdade de Higiene e Saúde Pública do Estado de São Paulo.

No final do ano de 1955, o recém-formado Engenheiro Civil Fausi Paulo, habilitado em concurso público para a Petrobrás, estava de malas prontas para assumir seu cargo em uma das unidades da Empresa situada na Bahia. Seu Pai, o Sr. Pedro Paulo, não se conformava com a ideia de ficar longe de seu filho querido.

Tomando conhecimento que a Prefeitura Municipal de Campos do Jordão necessitava de Engenheiro Civil para assumir o cargo, até então ocupado pelo Engenheiro Dr. José Ariosto Barbosa de Souza, que havia se afastado para ingressar como Engenheiro junto à COPEL - Construções Projetos e Engenharia Limitada, de propriedade do Dr. Marcos Wulf Siegel, e vislumbrando a possibilidade de manter seu filho trabalhando em Campos do Jordão, não mediu esforços, conversou com o então Prefeito Municipal o médico Dr. Antonio Nicola Padula (04/12/1953 a 20/11/1956), nomeado pelo Governador do Estado de São Paulo. Este, não perdeu a grande oportunidade, imediatamente, nomeou o Engenheiro Fausi Paulo como Engenheiro responsável pelos serviços da Prefeitura Municipal, a partir de 01 de janeiro de 1956.

A Petrobrás perdeu a oportunidade de ter o Engenheiro Fausi Paulo em seu quadro de funcionários e o Sr. Pedro Paulo conseguiu seu intento, evitando que seu filho fosse para muito longe de sua companhia, mantendo-o aqui em Campos do Jordão.

Uma das exigências do Engenheiro Fausi Paulo junto ao Prefeito Municipal Dr. Nicola Padula, foi a sua concordância para que pudesse contar com serviços profissionais de algumas pessoas que, politicamente, não comungavam com sua preferência partidária. O Prefeito não titubeou. De imediato, concordou com a exigência. Assim, foram contratados para auxiliar o Dr. Fausi Paulo na empreitada de construção do Mercado Municipal, o empreiteiro Olegário Frozino, como responsável técnico, os serviços especializados de Gustavo Biagioni para a área de controle e almoxarifado e João Costa para os serviços especializados de confecção de formas de madeira para estruturas metálicas com concreto.

Dr. Fausi Paulo foi vereador nas legislaturas de 01.01.1960 a 31.12.1963 e 01.01.1964 a 31.12.1968. Foi Presidente da Câmara Municipal nas legislaturas de 01.01.1961 a 31.12.1961 e 01.01.1962 a 31.12.1962; e 01.01.1965 a 31.12.1965. Foi eleito pela população Prefeito Municipal no período de 20 de maio de 1979 a 31 de dezembro de 1982. Foi o primeiro Prefeito Municipal nascido em Campos do Jordão. Tornou a se eleger Prefeito Municipal, com mandato de 1º de janeiro de 1989 a 31 de dezembro de1992.

Pela Lei Municipal nº 1.135, de 2 de julho de 1974, o prefeito Fausi Paulo criou o Conselho Municipal de Cultura, em cujas atribuições constavam a criação de uma Academia de Letras, a Banda Municipal “Sebastião Gomes Leitão”, a Pinacoteca “Camargo Freire”, orientando a política cultural da Estância de Campos do Jordão.

Como Prefeito Municipal, Fausi Paulo recepcionou o Presidente João Batista Figueiredo, em 12 de julho de 1979, e teve todas as suas contas aprovadas, em todos os exercícios, pela Câmara Municipal e pelo Tribunal de Contas do Estado de São Paulo. Recebeu da Câmara Municipal o Diploma de “Cidadão Honorário de Campos do Jordão”.

Fausi Paulo, juntamente com o sócio e amigo, desde bancos escolares e Escola de Engenharia Civil da Universidade Mackenzie de São Paulo, Luiz Cezário Richieri, idealizaram e fundaram em maio de 1959, a empresa de construção, topografia e terraplenagem FAUSI & CESÁRIO Ltda, uma das mais importantes e tradicionais construtoras de Campos do Jordão.   

Fontes:

Pedro Paulo Filho - (Texto redigido por Pedro Paulo Filho, em 17/6/2010.) e
Maurício de Souza Lino - (Prefeitura Municipal de Campos do Jordão).
                                                              

                                                                   Dr. Plínio Barbosa Lima

Dr. Plinio Barbosa Lima
Nascido em Minas Gerais, a 30 de maio de 1892, filho do dr. Geraldo C. Barbosa Lima, um dos mais antigos médicos das oficinas do Lloyd Brasileiro, e clínico durante muitos anos nos Estados de São Paulo e Minas Gerais. Seu pai era natural do Estado de Pernambuco, Bacharel em Letras pelo antigo Colégio Pedro II e formado pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, e de sua exma. Sra. D. Clarinda Monteiro de Barros (Barbosa Lima), além de sua exma. Mãe, uma filhinha de nove anos, Heloísa; duas irmãs, D. Esther Barbosa Lima Ferreira, esposa do farmacêutico e médico Alípio de Paula Ferreira, e a senhorita Lygia Barbosa Lima e o irmão, o dr. Raul Barbosa Lima, que exercia um importante cargo na magistratura do Estado do Paraná. 

Dr. Plinio Barbosa Lima muito trabalhou pela estância, que aqui lá veio, enfermo dos pulmões, em meados de 1917, e em dois anos obteve a cura, fixando-se na povoação e cooperando decisivamente para o seu desenvolvimento. 
Dr. Plínio Barbosa Lima

O dr. Plínio Barbosa Lima, contando um pouco mais de trinta anos, já se revelara em todo o valor de seus predicados pessoais, que lhe abriam perspectivas de um futuro brilhante. Residiu em Vila Capivari (antigo Hotel Helvetia). Instalado desde algum tempo em Campos do Jordão, logo a sua clínica prosperou, graças à competência do ilustre médico, especialista de moléstias do aparelho respiratório. Como os entusiasmos de seu temperamento o impelissem a uma atuação intensa, logo ele se tornou um dos grandes trabalhadores do progresso de Campos do Jordão, cercado da simpatia de todos e apoiado pela solidariedade dos habitantes daquele ponto. 

Dr. Plínio Barbosa Lima na pensão Inglesa com amigos
Um crime passional. Em 1918, o subdelegado, Carlos Fernandes Chaves, um homem decidido e de pouca conversa, que tinha fama de homem ruim, que batia no pessoal, tinha uma desagradável afinidade com o dr. Plínio Barbosa Lima: ambos gostavam da mesma mulher, e como não poderia deixar de ser, desentenderam-se. 

Santerre Guimarães, dono da Pensão Sans-Souci, situado nos altos de Vila Fracalanza, também se desentendera com o dr. Plínio Barbosa Lima. O médico ficara sabendo que o subdelegado e Santerre tramavam contra ele.

O dr. Plínio Barbosa Lima estava sendo ameaçado de morte pelo sr. Santerre Guimarães, que, para o eliminar, mandara buscar no Rio de Janeiro um facínora da Saúde. Temendo o assassínio, agiu como lhe cumpria: procurou o subdelegado Chaves e pediu-lhe garantias. Telegrafou também ao dr. Moreira Cezar, delegado Regional de Guaratinguetá, reiterando o pedido. O dr. Moreira Cezar providenciou, telegrafando ao seu subordinado de Vila Jaguaribe que expulsasse ou processasse como vagabundo o capanga do sr. Santerre. Mas o subdelegado era velho desafeto do dr. Plínio Barbosa Lima e, agindo de acordo com péssimos precedentes, entrou a protelar a execução das medidas que lhe eram ordenadas. 

Por irrisão, ofereceu ao ameaçado um praça para o acompanhar, como se isso o livrasse de uma tocaia, como se fosse possível viver no papel de covarde que obtém da polícia um guarda-costas, expondo-se à chacota de todos.

O dr. Plínio Barbosa Lima não se conformou com a situação e dirigiu-se à Estação da Estrada de Ferro para telegrafar novamente ao delegado Regional, pedindo-lhe novas e mais eficazes providências. Ao que informa o jornal “Correio de S. Bento”, o subdelegado Chaves interpôs-se nessa ocasião para lhe dizer que o seu ato era infantil e que ele, Chaves, como subdelegado, melhor saberia as medidas a serem tomadas. Provavelmente, não fora só isso. Provavelmente a autoridade ainda se riu do cidadão que pedia garantias de vida, troçando dos seus receios. Ou talvez tivesse proferido palavras de ameaça, querendo obstar pela força a que os fatos fossem levados ao conhecimento do seu superior.

O fato é que o dr. Plínio Barbosa Lima se exasperou ao ver que a autoridade policial, sobre se tornar conivente com o sr. Santerre e seu capanga, ainda tentava impedir a queixa ao delegado Regional, como que a querer deixá-lo, ao desamparo para melhor execução do plano sinistro. “Bandido!” _ exclamou.

E, levando o revólver à cara de Chaves, desfechou-lhe um tiro no olho direito. E daí saíram, um, feito assassino pela fatalidade, para a cadeia; outro, vítimas de seus próprios defeitos, para o cemitério.

O dr. Genésio Cândido Pereira, promotor público de São Bento do Sapucaí, apresentou denúncia contra o dr. Plínio de Barros Barbosa Lima, dando-o como incurso no art. 294, parágrafo 2º do Código Penal, por haver assassinado o subdelegado Carlos Fernandes Chaves, após acalorada discussão em que foram trocadas pesadas injúrias, porque essa autoridade não queria que o denunciado reclamasse garantias de vida ao delegado regional de Guaratinguetá. No sumário de culpa depuseram numerosas testemunhas, confirmada as versões.

Quem produziu a defesa do dr. Plínio Barbosa Lima, acusado de crime de homicídio na pessoa de Carlos Fernandes Chaves, subdelegado de Campos do Jordão, foi o ilustre tribuno criminal brasileiro, dr. Evaristo de Moraes. Foi absolvido.

A bordo do luxuoso paquete “Giulio Cezare”, passou pelo porto da capital, Rio de Janeiro, o notável e humanitário clínico no Estado de São Paulo, dr. Plínio Barbosa Lima, que seguia para o Velho Mundo, em viagem científica, comissionado pelo governo federal para estudar a organização dos mais modernos sanatórios da Suíça. A missão de que se achou investido esse ilustre médico patrício estava à altura dos seus grandes méritos, sabido como é, que o dr. Plínio Barbosa Lima era um dos mais ardorosos propugnadores da solução do problema hospitalar brasileiro sob as suas várias modalidades. Com a sua observação percuciente de experimentado cientista, o dr. Plínio Barbosa lima, na visita que foi fazer aos sanatórios europeus, aprenderia, facilmente, os processos modernos a que obedeceria a instalação desses estabelecimentos, a fim de adotá-los em nosso meio. 

O dr. Plínio Barbosa Lima foi convidado para ser um dos diretores do Sanatório Miguel Pereira, a construir-se brevemente, em Campos do Jordão. Por isso, ideou a fundação de um grande sanatório, que mereceu os aplausos do governo paulista, que confiou a ele a missão de colher na Europa as informações e de adquirir o material necessário à fundação do grande estabelecimento. 

Plínio Barbosa Lima, 31 anos, clínico ilustre e humanitário, 1º Juiz de paz e chefe político de Campos do Jordão, presidente do Diretório Político do Partido Republicano Paulista (P.R.P.), no dia 24 de dezembro de 1924 foi vitimado num desastre de aviação no aeródromo de Croydon, Inglaterra, Europa, quando ia em viagem, de Londres para a Suíça.

Dr. Plinio Barbosa Lima em Lausanne, com amigos
Estava participando da IV Conferência da União Internacional contra a Tuberculose, reunida em Lausanne, Suíça. Em meio dessa tarefa, o acaso brutal de um desastre de aviação o alcança e o vítima, cortando-lhe em começo uma carreira brilhante e de que já entrevia a notável benemerência.

Poucos minutos, depois de deixar em Londres o aeródromo de Croydon, o aeroplano expresso de Paris, avião da linha “Imperial Airway”, trazendo a abordo oito passageiros: M. Sproston, um filho e a nora; Maurício Luxembourg, um jovem de dezoito anos; madame Balley, todos cidadãos britânicos; o médico Plínio Barbosa Lima, brasileiro e M. Cedrid Truggett, chileno, redator principal da “Revista Chilena” que se publica em Londres, caiu ao solo. Os seus sete passageiros que se destinavam a Paris, aonde provavelmente iam passar o Natal, mais o piloto, morreram instantaneamente. Assim que se deu a colisão, a máquina explodiu. Grandes chamas envolveram o aeroplano. Quando os espectadores puderam aproximar-se, havia apenas um montão de cinzas. As vítimas estavam irreconhecíveis. O piloto, capitão inglês, D. A. Stewart, 30 anos, casado, pai de quatro filhos, condecorado com a medalha militar britânica pelos serviços prestados no “front” durante a grande guerra, era muito competente. Os pais de Maurício Luxembourg que tinham ido a Croydon para despedir-se do filho, assistiram, petrificados, no desenrolar da tragédia e viram, impotentes, a fogueira que consumia o filho. Os espectadores, que se achavam a duzentas ou trezentas jardas do local do desastre, notaram que o aeroplano voava a pouca altura e em linha curva, ao invés de seguir, em reta, rumo da costa. Temeram que o aeroplano fosse de encontro às casas vizinhas. Segundos depois, ouviam um grande estrondo e viam elevarem-se no ar as chamas rubras do incêndio. Foi impossível aproximar-se logo da máquina, devido ao calor. Em seis minutos, chegava o corpo de bombeiros, tendo feito um percurso de duas milhas.

Carcaça do avião queimado e destruído e foto do piloto Stewart

Foi aberto um inquérito para apurar a causa do desastre do aeroplano em que pereceram as pessoas. O Juiz da Instrução, no correr do interrogatório, anunciou que o piloto, alguns dias antes do desastre, se queixara de que o motor não estava funcionando bem devido a estarem frouxos os lubrificadores. Segundo algumas testemunhas do acidente – pilotos aviadores – o avião tinha dificuldades em aterrissar no vasto aeródromo de Croydon, afirmando que o motor funcionava mal e não obedecia às manobras. 

Porém, o piloto tentou ser bem-sucedido, fazendo por descer devagar, mas como o aparelho estava muito carregado, em desarmonia com a força motora, Stewart viu que não podia ir muito longe e, portanto, tentou uma volta para regressar junto do hangar do aeródromo. Foi a sua perda, assim como a dos seus companheiros! 

O aparelho, perdendo velocidade, deixou de funcionar e tombando para um dos lados caiu em terra, de frente como uma flecha, despedaçando-se no descampado de Purly e incendiando-se. Sucedeu então a horrível tragédia, a que assistiram os espectadores, sem lhe poderem acudir. O avião tornou-se rapidamente um gigantesco braseiro, alimentado pela gasolina contida no depósito, que havia rebentado. Era meio-dia; os numerosos operários das construções de casas baratas, que deixavam o serviço para jantar, acudiram logo, assim como os bombeiros do Croydon.

Na capital, Rio de janeiro, além da Missa de 7º dia, rezou-se uma Missa solene na Igreja de Nossa senhora da Candelária, armando-se no centro da Igreja uma eça, sobre a qual se colocou, ladeado de seis tocheiros, o féretro em que veio da Europa o cadáver do dr. Plínio Barbosa Lima.

Como era desejo manifesto do dr. Plínio Barbosa Lima ser sepultado em Campos do Jordão, foi o féretro transportado, com numeroso acompanhamento, até aquela cidade paulista, onde espontâneas e grandes manifestações de pesar foram prestadas, pela população local, ao médico que tanto havia concorrido para a prosperidade de Campos do Jordão, onde habitava há cerca de dez anos. O corpo do dr. Plínio Barbosa Lima chegou a Campos do Jordão aos 27 de janeiro de 1925.

Entre as homenagens prestadas em Campos do Jordão, realizou-se no dia 18 de fevereiro de 1925, no salão do Cinema Jandyra, uma sessão cívica em homenagem ao dr. Plínio Barbosa Lima, distinto clínico e chefe político, presidida pelo dr. Raphael Sampaio Vidal, ex-ministro da Fazenda, tomando assento ao seu lado os srs. Dr. Marco A. Nogueira Cardoso, Tadeu Rangel Pestana, dr. Fábio de Oliveira, José V. Sgrillo e Antonio Fonseca Mondino. 

Ao abrir a sessão, o dr. Sampaio Vidal disse que agradecia o convite que recebera para presidir aquela solenidade, em que se prestava uma significativa homenagem ao grande médico a quem Campos do Jordão muito devia, pois que se tratava não só de um especialista de muito merecimento, como de um verdadeiro sacerdote da medicina. Teve então a palavra, para fazer o elogio fúnebre do dr. Plínio Barbosa Lima, o sr. Tadeu Rangel pestana, que pronunciou um extenso discurso, historiando a vida do homenageado e realçando os merecimentos que todos lhe reconheciam.

Disse que nele, o primeiro médico que se estabelecera em Campos do Jordão e no seu esforço de propaganda das condições climatéricas do local se contava um dos melhores elementos da prosperidade da região. Lembrou que o dr. Plínio fora à Europa a fim de preparar a instalação, em Campos do Jordão, do sanatório Miguel Pereira, de inauguração próxima. E durante sua estadia no Velho Mundo, frequentara, na Suíça, as clínicas das maiores notabilidades em tisiologia.

O governo federal do Brasil o encarregou de representar o nosso país no Congresso Internacional Contra a Tuberculose, realizado em Lausanne, em agosto de 1925, no qual se distinguiu sobremodo.

Depois de várias outras referências, o sr. Tadeu Rangel Pestana disse: 

“Perdeu a sua ilustre família, além do carinho e do afeto de um ente querido, um arrimo seguro e um chefe de rara dedicação, do qual podia com a justiça orgulhar-se. Perdeu Campos do Jordão um filho adotivo de grande dedicação e estima por esta terra.

Perderam os seus clientes um médico competente e caritativo. Perdeu a classe médica um dos seus mais lídimos representantes na especialidade. Perdeu a política deste distrito um chefe de orientação segura e patriótica. Perderam os seus amigos um companheiro dedicado, em quem podiam confiar”.

Depois do sr. Tadeu Rangel Pestana, também falou o dr. Heitor Sampaio, sendo a seguir encerrada a sessão cívica, que teve a concorrência das principais famílias, autoridades e grande número de amigos. Foi uma solenidade comovedora pela tristeza e pela saudade que se percebia na atitude dos presentes e pelo silêncio religioso e expressivo em que decorreu a sessão.

A família do finado esteve representada pelo seu digno irmão, o advogado, dr. Raul Barbosa Lima e exma. Senhora.

Foi executada a marcha fúnebre de Chopin ao abrir-se e ao encerrar-se a sessão. No palco via-se um retrato do finado envolto em crepe.

Fontes:

Jornal “O Combate”, de 12 de julho de 1918

Jornal “O Paíz”, de 21 de junho de 1922

Jornal “Gazeta de Notícias”, de 03 de junho de 1924

Jornal “Jornal do Brasil”, de 02 de janeiro de 1925

Jornal “O Combate”, de 28 de janeiro de 1925



                                                                     Condessa de Bonneval 




Conde e Condessa de Bonneval
A família Bonneval é uma das mais antigas casas aristocráticas da França, datando suas origens documentadas no Limousin do início do século XI. Há muito tempo é considerada uma das famílias mais prestigiosas e honradas.

A família Bonneval e suas propriedades em Limousin, França, foram formalmente elevadas ao status de Marquisate e, portanto, o título enobrecido de "Marquis", em 1655. Há muito tempo é considerada uma das famílias mais prestigiosas e honradas, dando origem ao provérbio “Família Bonneval para a Nobreza".

Ao longo de sua história membros da Família Bonneval contraiu numerosas alianças com outras famílias reais e prestigiadas, como Antoine de Bonneval, que se casou em 1471 com Margaret de Foix, medida em que muitos membros da família se qualificaram para o título não oficial de "Primos do Rei".

A família Bonneval e suas propriedades em Limousin foram formalmente elevadas ao status de Marquisate e, portanto, o título enobrecido de "Marquis", em 1655.

Algumas personalidades familiares conhecidas:

Cavaleiro Gerauld de Bonneval (1050) - construtor do primeiro castelo e fundador da Casa Nobre de Bonneval;

Guillaume de Bonneval - um comandante no exército de Luís VII na Segunda Cruzada de 1145 a 1149;

Bernard de Bonneval - Bispo de Limoges em 1391 a 1403;

Antoine de Bonneval (1433 - 1505), Premier Chamberlain a Gaston de Foix, Rei de Navarra que serviu como Conselheiro e Camareiro aos reis Luís XI, Carlos VIII e Luís XII;

Marguerite de Foix (1450 - 1508), que se casou com Antoine de Bonneval em 1471, na igreja de Coussac-Bonneval;

Foucault de Bonneval, filho de Antoine e Marguerite de Bonneval, foi nomeado bispo de Périgueux (Vesuna), de 1531 a 1540;

Germain de Bonneval(1468 - 1525), filho de Antoine e Marguerite; que se tornou um comandante militar a serviço de Luís XII e François I e foi morto na Batalha de Pavia (1525);

Gabriel de Bonneval(1520-1590), comandante do exército huguenote e mentor do jovem Henrique IV na Batalha de La Roche l'Abeille. O resultado foi uma vitória para as forças huguenotes;

Claude-Alexandre de Bonneval (1675 - 1747), Conde de Bonneval, que após uma carreira militar colorida e controversa, tornou-se um herói nacional na Turquia.

Servindo o Império Otomano, converteu-se ao Islã, tomando o título de Humbaraci Ahmed Pasha, mais conhecido como Bonneval Pasha.

Andre de Bonneva l, Marquês de Bonneval que se casou com Marie-Denise de Nanthait, neta de Charlotte Aïssé;

Philippe-Armand de Bonneval(1773 - 1852), prefeito de Bourges e Conselheiro Geral de Cher;

Hippolyte de Bonneval (1786 - 1873), o marquês que, após uma bem-sucedida carreira militar, criou um negócio de porcelana de sucesso. Restaurou e embelezou grandemente a propriedade num período de 57 anos durante o qual era o proprietário do domínio;

Madamoiselle Charlotte Elizabeth Aïssé (c1694 - 1733) e sua filha Célinie Le Blond. Charlotte era uma escrava, comprada em um mercado de Constantinopla, que se tornou uma celebrada dama de letras na sociedade parisiense e amante de Filipe II, Duque de Orléans (1674-1723).

Célinie casou com Pierre Jaubert, o visconde de Nanthiat; e sua filha, a neta de Charlotte, Marie-Denise de Nanthiat, casou-se com Andre de Bonneval em 1760;

Gabriel André II de Bonneval (1769 - 1839) - Marquês de Bonneval, viveu a época da Revolução Francesa (1789 -1799) e, em particular, o Reino do Terror (1793 - 1794);

Bertrand-Henri de Bonneval (1806-1882) Um dos primeiros homeopatas da França, engenheiro agrônomo e filantropo;

Timoléon de Bonneval (1845-1939) - após a aposentadoria de sua carreira militar pela qual recebeu a Legion d'Honneur. Ele é o bisavô do atual Marquês de Bonneval;

Gaston de Bonneval (1911-1998), ajudante de campos para o general Charles de Gaulle

Herculano de Almeida Prado Corrêa Galvão, o barão do café, que nasceu em Itu, SP, em 10 de abril de 1872, onde passou a infância e juventude. Os pais o mandaram estudar na Bélgica, onde se formou em Hautes Etudes Commerciales em Liège.

Ficou conhecido como um dos barões do café porque seu pai – Antonio Augusto Correa – era proprietário de fazendas cafeeiras na região de Itu, que foram vendidas em 1898. O barão do café, adquiriu uma gleba de 6 mil metros quadrados na Avenida Paulista. A casa que ficava no cruzamento com a Rua Ministro Rocha Azevedo, e foi a terceira moradia a ser erguida na avenida.

Da união de Herculano com Gabrielle de Almeida Correa, nasceu em 31 de março de 1923, Marie Antoinette de Almeida Correa Galvão de Franca, a futura “Condessa de Bonneval”.

Henri Antoine Timoleon Christophe de Bonneval (1892-1980) e Consuelo Catherine Branco da Panouse (1894-1973), foram os pais de Bernard Henri Marie Louis de Bonneval, Cavaleiro da Legião de Honra, Cruz Voluntário lutador, Cavaleiro de Honra e Devoção da Ordem Soberana de Malta.

Bernard Henri Marie Louis de Bonneval, nasceu em 19 de abril de 1921, em Paris, França, família que pertence a uma linhagem de raízes muito antigas da aristocracia francesa, e tornou-se Marquês em 1980, com a morte de seu pai.

Casou-se em 22 de outubro de 1947 em Coussac-Bonneval, Haute-Vienne, Limousin, França, com Marie Antoinette de Almeida Correa Galvão de Franca, em Paris, Ile-de-France, França. Ambos, franco-brasileiros. 

Do casamento, vieram 5 filhos:

Marie Georges Marguerite Bérengère de Bonneval, casada com Gilles Epstein; Blanche Marie Gabrielle de Bonneval; Anne Marie Sybille de Bonneval, casada com Cid Eduardo de carvalho; depois Anne Marie Sybille de Bonneval, casada com Rodrigo Baretto; Claude Marie Xavier de Bonneval, casado com Paolo de Souza; e o francês, Geraud Anthony Herculano de Bonneval, que casou-se com a brasileira, Martha de Almeida Gonçalves, cuja união, deu os filhos Philippe Armand de Bonneval e Béatrice de Bonneval. Era necessário ter um filho homem para continuar a linhagem da nobreza francesa, existente desde o ano 935.

Marques e Marquesa de Bonneval
Uma coincidência interessante é que o cavaleiro medieval, que iniciou o primeiro milênio da dinastia familiar Bonneval e o Marquês que está liderando a família, em seu segundo milênio, compartilham o mesmo nome: “Géraud”!

Em 1964, o Conde de Bonneval, contratou a construção de um edifício em uma área de 2.000,00m², na Rua Ministro Rocha Azevedo, nº 45, São Paulo. Anne de Bonneval, uma das filhas do casal, passou a infância e viveu nesse casarão até julho de 1973. 

Quando era criança, a avenida Paulista era quase uma cidade do interior. Também possuíam uma propriedade na cidade de Campos do Jordão, Vila Capivari, ao lado da Fonte Simão, onde hoje existe o condomínio “Condessa de Bonneval, em sua homenagem. (A Condessa passou anos de férias durante sua infância em Campos do Jordão e a casa da família era onde hoje está o condomínio). O casal dividia o tempo entre a mansão no Jardim América, São Paulo, Campos do Jordão, SP, e o castelo “Chateau de Bonneval”, a 40 quilômetros de Limoges, na França.

Antes de voltar para França, o Marquês e Marquesa de Bonneval, e seus dois filhos viviam no Brasil. O Conde Bonneval faleceu no Brasil em 28 de junho 1997 em São Paulo, com a idade de 76 anos. Com a morte do pai, herdou o castelo Château de Bonneval.   

Deitado no topo de sua colina, no meio de seu grande parque, o castelo de Coussac Bonneval parece ter permanecido durante anos o guardião da pedra da aldeia. Com as suas enormes torres redondas cobertas com um telhado de ardósia, o castelo manteve-se em boas condições.

A primeira presença da família Bonneval data do ano 930, quando o Chevalier de Bonneval já estava estabelecido na área. A fortaleza de pedra remonta ao século XIV.

Ocupou uma importante posição de defesa estratégica na fronteira com a Aquitânia, bem como seus vizinhos na rota Richard Coeur de Lion. O castelo consistia de um quadrilátero central, com cada torre em volta de uma esquina. As quatro torres estão orientadas para os quatro pontos cardeais.

Em 1360, Duguesclin tomou a fortaleza por meio de truques e essa foi a única vez que a propriedade saiu da família Bonneval. Ele retorna lá em 1363 quando Aymeric de Bonneval prestou juramento ao rei da França Charles V, que colocou o castelo de Coussac em suas mãos. 
Desde então, o castelo viu várias melhorias arquitetônicas, incluindo o projeto de um "Terraço dos Leões", do arquiteto Broussaud, em 1720.

Geraud Anthony Herculano de Bonneval, foi nomeado marquês, naquele país. O castelo Château de Bonneval, embora tenha sido uma casa imponente desde o final do século XVIII, anteriormente, como um estabelecimento militar, fazia parte de uma linha defensiva de fortalezas estrategicamente importante, protegendo o acesso à Aquitânia.



E o que agora são vistas agradáveis ​​do campo teria sido, na época, linhas de observação defensiva e até de fogo.
Apesar de aberto aos turistas, uma parte dele é privada, pois continua servindo de residência para a mãe de Geraud, uma simpática senhora de 95 anos que reúne as mais cativantes histórias, tanto daquele lugar quanto da época em que viveu no casarão da Avenida Paulista, em São Paulo.

Fontes:

BONNEVAL, Geraud Anthony Herculano de; GONÇALVES, Martha de Almeida. Chateau de Bonneval. 2018. Disponível em: <http://www.chateaudebonneval.com/en/dossier-presse/in-the-press-introducing-marta-and-geraud-de-bonneval/>. Acesso em: 28 jun. 2018.

DUFAUR, Luis. Castelos medievais. 2018. Disponível em: <https://castelosmedievais.blogspot.com/p/videos.html>. Acesso em: 28 jun. 2018.

CHAMPAGNE, Sébastien. Coussac Bonneval. 2009. Disponível em: <https://www.detours-en-limousin.com/Coussac-Bonneval>. Acesso em: 28 jun. 2018.



                                                                       Ernesto Diederischen

Industrial de grande visão, cuja economia constituía, para a nossa pátria, fonte de atividades construtivas e criadoras. O senhor Ernesto esteve sempre interessado no maior desenvolvimento econômico do nosso povo, não medindo esforços para auxiliar cada vez mais as nossas incipientes possibilidades.

Outro aspecto que se nos apresentou mais encantador no nosso biografado era o chefe de família. Homem do trabalho quase exaustivo, dando doze a catorze horas para as suas atividades industriais, sendo, como todos sabiam, incluindo os seus auxiliares, que mais trabalhava. No trabalho, pois, foi um verdadeiro e magnífico exemplo. Para os filhos, um pai severo, mas, carinhoso, não poupando esforços para orientá-los no caminho da retidão e da afeição por todos quantos sofriam. Assim o sr. Ernesto Diederichsen, conseguiu que os filhos tornassem outros tantos exemplos de virtudes práticas, cristalizadas em atividades dignas e construtivas. Herdaram todos, esse pendor pela beneficência e profunda simpatia pelos menos favorecidos pela sorte e pelas circunstâncias.

Mas o que mais nos encantou nessa personalidade cristã, foi, sem dúvida, o cuidado para com os sofredores. E não se diga que tal carinho foi apenas verbalista, não, Ernesto Diederichsen, juntamente, com o dr. Luiz Dumont Villares e sua Exma. esposa, dona Leonor Diederichsen Villares, mantiveram em Campos do Jordão, como é do conhecimento público, o Grêmio “Bernardo Diederichsen”, Centro de Assistência Social, que tinha como objetivo enviar mantimentos aos tuberculosos pobres. Não só gêneros de primeira necessidade, mas remédios, cobertores e agasalhos em geral. Desta forma, dezenas de famílias, há vários anos, vinham recebendo mensalmente o de que necessitavam para enfrentarem o frio e a enfermidade.

Com o dr. Luiz Villares e esposa, o senhor Ernesto Diederichsen constituiu sempre uma verdadeira bênção nestas montanhas de tanto sofrimento e provações. Mas não só em Campos do Jordão, a ação destas ilustres famílias tinha-se difundido em outros setores de assistência social.

A Câmara Municipal resolveu dar o nome de Ernesto Diederichsen a uma das principais vias públicas, a um dos grandes e dedicados amigos de Campos do Jordão e, mais profundamente, dos que mantiveram com o destino agreste lutas titânicas e terríveis. Amigo destas montanhas silenciosas, que foram, na realidade, uma esperança quente para os enfermos e fatigados.

Fonte:
Jornal "A Cidade de Campos do Jordão". Ano 1949



                                                   Sebastião de Oliveira Damas

Sebastião de Oliveira Damas tem seu nome intimamente ligado à história de Campos do Jordão, pois, ao seu espírito realizador, à sua coragem e ao seu desprendimento devemos a construção da Estrada de Ferro Campos do Jordão, cujas obras foram por ele empreitadas e iniciadas com a assistência técnica do dr. Prudente de Morais, por sua vez coadjuvado pelos engenheiros José Antônio Salgado e Guilherme Winter.

Não é pelo fato de ter sido o sr. Sebastião de Oliveira Damas o empreiteiro das obras. Poderia mesmo esse detalhe não ter qualquer significação, não fossem as condições econômicas precaríssimas em que se encontraram, de um momento para outro, as finanças da empresa concessionária, determinando a paralisação das obras, eis que, a previsão do seu custo foi bem menor do que determinou a realidade do desbravamento, do lançamento de pontes, como por exemplo a do Rio Paraíba (160 mts) e outras obras de arte necessárias, ocasionando pesados encargos financeiros para os seus idealizadores.

Mas, Sebastião de Oliveira Damas, como os velhos portugueses das conquistas que tanto dignificaram a pátria mãe, não era dos que esmoreciam ante os obstáculos. A sua empresa, foi salva às vésperas de uma debacle financeira irremediável, com prejuízo para todos e o que é pior, com a ameaça de paralisação de um melhoramento de há muito sonhado pelos que demandavam Campos do Jordão, pois, o único meio de transporte, na época, era a padiola(para os doentes) e o lombo de burro para os que teimavam em galgar o dorso agreste da Mantiqueira, porque, Sebastião de Oliveira Damas foi a Portugal, empenhar todos os seus bens, a fim de que os serviços não ficassem paralisados.

Assim, com essa dedicação de pioneiro, foi concluído o empreendimento, pelo qual muito trabalharam também os drs. Emílio Ribas e Victor Godinho. A EFCJ foi inaugurada oficialmente a 15 de novembro de 1914 e pela lei nº 1486 de 15 de dezembro de 1915, o Estado encampou-a em 21 de dezembro de 1922 (lei nº 1940), eletrificando-a. A inauguração dessa nova fase deu-se no governo de Carlos de Campos, em dezembro de 1924.

Por esses atributos que o identificam com os nossos bandeirantes, Sebastião de Oliveira Damas, sempre mereceu o respeito e a gratidão dos que dedicam ao estudo da história de Campos do Jordão.

A Joia da Mantiqueira, cuja beleza inigualável foi desvendada a todos os brasileiros e aos estrangeiros pelo cometimento que teve em Sebastião de Oliveira Damas um dos seus baluartes mais destacados.

Sebastião de Oliveira Damas faleceu com a idade de 87 anos no dia 11 de janeiro de 1954, em Castelo de Paiva, Portugal.

Fonte:
Jornal "A Cidade de campos do Jordão" Ano 1954



                                                          Irene Lopes Sodré em Defesa da Infância Escolar

Fundadora, Diretora e vice-presidente da Associação do Sanatório Santa Clara, Irene Lopes de Azevedo Sodré, era filha do Consul Geral e Comendador João Baptista Lopes e de dona Laura de Souza Lopes. Casada com dr. Fábio Sodré, teve 4 filhos: Regina Sodré Von Der Meid, Laura de Azevedo Sodré, falecida aos 12 anos de idade, Antonio Augusto de Azevedo Sodré Neto e Domingos Álvarez de Azevedo Sodré, batizado na Matriz de Candelária, no Rio de Janeiro.

As irmãs estavam em Paris, na residência de seu pai, o Cônsul brasileiro, Dr. João Batista Lopes, quando decidiram iniciar uma grande obra social.

A Irene Lopes Sodré, coube, pela compreensão que tinha das coisas da caridade, pelo entusiasmo com que se dedicava aos mais difíceis problemas e pelas renúncias aos prazeres do mundanismo, a maior parcela de mérito na concretização do empreendimento.

Irene Lopes Sodré inaugurando avião em Paris
Dama da alta sociedade carioca, procurou interessar as populações, nessa luta, organizando coletas públicas e campanhas de propaganda.

Em 1927, um grupo de senhoras chefiadas por Luiza e Georgina de Souza Lopes, acolitadas por suas irmãs Irene e Maria Carlota, decidiram fundar uma associação de combate à tuberculose infantil.

A ideia nasceu no antigo Distrito Federal, ante os alarmantes índices de estado de pré-tuberculose nas estatísticas escolares.

Devotada organizadora da campanha do “Mês da Tuberculose”, e uma das fundadoras da Associação dos Sanatórios Santa Clara, em 1927, com o objetivo de colaborar no combate ao flagelo da tuberculose, visou especialmente a defesa da infância escolar.

Em 8 de janeiro de 1928, foi lançada a primeira pedra fundamental do Sanatório Santa Clara, e a senhora Irene Lopes Sodré, juntamente com outras companheiras, auxiliaram na decida da urna que continha jornais e moedas da época, até a cavidade preparada, cujo nome constou na Ata de Fundação.

Foi a promotora do “Sello da Tuberculose” e a do “Mês da Tuberculose”, com o apoio inestimável da Diretoria da Instrução Pública do Distrito Federal.

Iniciou-se em 05 de julho de 1929 em todo o Distrito Federal, uma nova fase de campanha contra a peste branca. Foi posto à venda o “Sello da Tuberculose”, iniciativa muito interessante e que, certamente, veio dar os mais benéficos resultados.

Selo da campanha "Sello da Tuberculose"
O “Sello da Tuberculose”, era de esperar, fora adquirido por todos com a melhor boa vontade. Custou uma pequena quantia a cada um e, com essa reunião de pequenos óbolos, se conseguiu juntar importante quantia, necessária à campanha contra a terrível e insidiosa enfermidade, cujas vítimas, colhidas na maioria na flor da idade, se contaram, anualmente, por milhares.

Todo esse nobre movimento foi iniciado por esse grupo de distintas senhoras da alta sociedade carioca: auxiliaram a campanha contra a tuberculose, pois, combater o mal terrível chegava a ser um dever para todos, em defesa de todos.

Em 1927 juntamente a um grupo de senhoras da sociedade carioca fundou a "Associação Sanatório e Preventório Santa Clara", de combate à tuberculose infantil.
Na Casa da Moeda no Rio de Janeiro, realizou-se na manhã do dia 04 de julho de 1929, a entrega de toda a emissão do “Sello da Tuberculose”, à comissão das senhoras encarregadas de dirigir a campanha contra a peste branca.  A comissão era composta das senhoras Olindina Fraga, Luíza de Souza Lopes, Irene Lopes Sodré e Margarida Ferraz.

A entrega dos selos foi feita pessoalmente pelo Diretor da Casa da Moeda Dr. Honório Hermeto. O “Sello da Tuberculose”, foi um trabalho que honrou as oficinas da Casa da Moeda, e puderam ser adquiridos a partir do dia 05 de julho de 1929, em todos os pontos da cidade.

Em 28 de junho de 1931 foi fundado o Preventório Santa Clara, com 16 alqueires de terreno doado pelo dr. José Carlos de Macedo Soares. Em 1937 era promovida a escola urbana de 2º estágio com o nome de Escola Mista do Preventório Santa Clara.

Irene Lopes Sodré, dedicou-se às crianças da instituição, presidindo-a até 6 de agosto de 1947, data de sua morte. A Associação nesse dia veio perdeu uma de suas fundadoras. Foi sepultada no cemitério São João Batista no Rio de Janeiro.

Jornal anunciando Missa de 7º dia da morte de Irene Lopes Sodré
A campanha do “Cruzeiro Escolar”, lançada em 1947, em benefício das obras da Associação, foi sucedida por sua irmã, Maria Carlota Paes de Carvalho.

O Governo de São Paulo, em 1948, denominou a Escola do Preventório Santa Clara de “Irene Lopes Sodré” em homenagem à fundadora, e, em 1952, a instituição entregava a sua direção à Congregação das Filhas de São Camilo.

Profª Adolfina Leonor Soares dos Santos, em 1951, lecionou na escola Irene Lopes Sodré, em Campos do Jordão, no Preventório Santa Clara.

Também a senhora Olga Berth Albrecht, em 1957, recebeu do Sr. Presidente da República, a “Ordem do Cruzeiro do Sul”, pelos seus 27 anos de serviços prestados à criança brasileira, e do Consulado da França, as insígnias de “Chevalier de La Santé Publique de France”.

Em 1982 iniciou-se a construção da escola da Vila Nossa Senhora de Fátima, sendo inaugurada em 24 de fevereiro de 1984, a partir daí, com o nome EEPG "Irene Lopes Sodré".
Inauguração da Escola Irene Lopes Sodré, fevereiro de 1984


Em 1991 o estabelecimento de ensino foi classificado pela Secretaria Estadual de Educação como "Escola Padrão".

Irene Lopes Sodré foi possuidora de grandes virtudes, que tanto recomendaram sua vida de dedicação inteligente e insane capacidade de trabalho em favor da Associação. A denominação eponímica bem pouco significa de referência a quem tanto mereceu, e, suavemente, continua presente no coração de quantos lhe sentiram de perto a grande alma, nobre e generosa, até o sacrifício.


Fontes:

Jornal “A Noite”, de 04 de julho de 1929
Jornal “Diário Carioca”, de 18 de novembro de 1928
Jornal “Diário Carioca”, de 09 de agosto de 1947




Dr. Januário Miráglia



Prefeito Januário Miráglia
O venerando ancião, Januário Miráglia, italiano, foi pai dos srs. Francisco Miráglia, Orestes Miráglia, Manoel Miráglia, Alfredo Miráglia e Marcelo Miráglia. Manoel Miráglia era prefeito de Cuiabá, MT.

Francisco Miráglia, conceituado industrial, também cidadão italiano, comerciante radicado em Cuiabá, MT, casou-se no Rio de Janeiro, com a sra. Emília Tenuta Miráglia e tiveram os filhos, Ten. Dante Miráglia, Januário Miráglia, Philomena Miráglia e Ângela Rosa Miráglia, que se casou-se com Aclyse Cavalcanti de Mattos, filho do sr. Gabriel Francisco de Mattos, Vice-cônsul de Portugal.

Januário Miráglia, nasceu aos 20 de fevereiro de 1907, na cidade de Jaú, SP. Veio para Campos do Jordão em busca de cura para a moléstia que contraíra. Pelo carinho que dedicava a todos os enfermos, tornou-se uma das figuras mais benquistas da terra.



Posse para Prefeito - 1947
Em 15 de novembro de 1923, aos 18 anos de idade, Januário Miráglia passa a ser membro da “Sociedade Litterária Ruy Barbosa” (Grêmio Literário), e ocupou as funções de Bibliotecário e Comissão de Admissão. Também foi 2º secretário do Grêmio Literário Castro Alves. Em 1925, foi Conselheiro Fiscal do Sport Club Cuiabano.
Em 05 de novembro de 1925 parte para o Rio de janeiro para encetar o curso médico da Faculdade de Medicina de Belo Horizonte. O inteligente moço, Januário Miráglia conquistou belíssimas notas e o segundo lugar nos exames na Academia de Medicina de Belo Horizonte.

Aos 25 de julho de 1930, seguiu para Buenos Ayres, a fim de representar nas Repúblicas Argentina e Oriental do Uruguay, o Conselho Universitário de Belo Horizonte, com o propósito de aproximação intelectual e de cordialidade. De regresso dos países platinos, chegou ao Rio de janeiro o paquete “Almirante Jaceguay”, com a Delegação Universitária Mineira, chefiada pelo professor Otto Cirne, Catedrático de Química Obstétrica da Faculdade de Medicina de Belo Horizonte, e a bordo dessa unidade mercante, o estudante Januário Miráglia.

Doutorou-se em 1932 como médico tisiologista. Nesse mesmo ano, prestou relevantes serviços ao hospital da Força Pública, durante os dias da Revolução nos campos de operações, por intermédio de equipes médicas para atender aos feridos nas linhas de frente mineiras.

Trabalhou e clinicou em Campos do Jordão na década de 1940, durante o famoso período da tuberculose. Granjeou pela sua dedicação e competência, extraordinária popularidade.

Casou-se no dia 29 de novembro de 1943 na Matriz de Santa Tereza, RJ, com Arlette Miranda Flores e tiveram 2 filhos: Emilita e Francisco.

Fundou o PRP – Partido Republicano Progressista - a 09 de outubro de 1945, mais tarde Partido Social progressista(PSP), de Adhemar Pereira de Barros, tendo sido seu Presidente.

Por Decreto, a 1º de abril de 1947, o Governador do Estado de São Paulo, Dr. Adhemar Pereira de Barros, nomeou-o Prefeito Sanitário da Estância de Campos do Jordão.


Dr. Januário Miráglia aceitou o cargo, visando unicamente a pacificação e conciliação da família jordanense. Ai também se revelou o administrador democrático por excelência e capaz por todos os títulos.

Seus planos de governo eram a remodelação para Campos do Jordão, com a construção do Paço Municipal, Matadouro, Fórum, Cadeia Pública, calçamento de estradas, esgoto, reforma do abastecimento de água, além de um ginásio com internato e externato. O traçado desse plano era de autoria de Prestes Maia, e muita coisa dele tinha sido executada. Referiu-se sobre as dificuldades de mão-de-obra existente no município, em parte motivada pela escassez de habitações. Para apressar o plano de remodelamento da cidade e para conseguir operários que se disporiam a trabalhar no município, construiria o mais breve possível, 250 casas operárias, que não seriam alugadas, mas vendidas por preços acessíveis aos interessados. E para evitar que essas habitações pudessem ser transformadas em “favelas”, haveria uma fiscalização sanitária permanente. Para sanar todas as faltas existentes no que diz respeito à falta de habitações higiênicas para os doentes sem recursos, deu início imediatamente à construção de um vasto abrigo e, em seguida, um sanatório com capacidade para 500 leitos. Dessa forma pensava poder terminar com as “favelas”.

Como Campos do Jordão possuía um clima magnífico, indicado para tratamento de diversas moléstias, além da tuberculose, pretendeu tornar o município um local apropriado para poder atender a todos os doentes, e ao mesmo tempo atendendo às outras finalidades, porque precisavam ter sempre em mira que Campos do Jordão era uma prefeitura sanitária. Dr. Januário Miráglia foi diretor médico de todos os sanatórios de Campos do Jordão, incluindo os Sanatórios Populares.


Infelizmente, esteve à frente do Executivo Municipal, apenas durante seis meses. Faleceu na manhã do dia 02 de outubro de 1947, vitimado de morte súbita, afecção cardíaca, com 40 anos de idade, atingindo-o em pleno apogeu de sua vida, quando tudo indicava que sua gloriosa trajetória o levaria muito longe, em pleno exercício do cargo de Prefeito Municipal, e como Diretor do Sanatório São Paulo. A cidade de Campos do Jordão recebia entre surpresa e estarrecida a notícia do acontecimento imprevisto e brutal: falecera o Dr. Miráglia! Sua administração, interrompida com o infausto acontecimento, foi breve, mas profícua de realizações. A sua morte deu-se mesmo no momento em que era mais necessária à sua vida. Nunca um sentimento único de dor polarizara antes toda uma população. É que o Dr. Januário Miráglia havia conquistado o coração de todos os jordanenses.

Médico humanitário, jamais deixou voltar sem um lenitivo o doente pobre que batia às portas de seu consultório. Político de grandeza ímpar, sabia colocar os interesses da coletividade, acima das injunções pessoais. Morreu prematuramente, e sua memória foi consagrada através do pavilhão destinado a receber as mulheres tuberculosas amparadas pela Bandeira Paulista.

Funeral de Januário Miráglia

Alguém fazendo um comentário sobre o desaparecimento de tão ilustre figura, escrevera: “Na época em que vivemos, de violências e hostilidades, de agressões e mesquinharias; em que os homens se digladiam no terreno movediço das ideologias, - tem a sociedade precisão de homens de energia, conciliadores, abnegados, corações sem resíduos de inveja, dignos nas suas atitudes e ações, no seu amor ao progresso, ao bem-estar da coletividade". 

Realmente, Januário Miráglia possuía todas essas qualidades inerentes ao seu caráter. A sua lembrança será sempre um estímulo, uma estrela cujo brilho jamais se apagará nestes céus, para todos aqueles que desejarem seguir a trilha do bem e do cumprimento do dever!


Referências Bibliográficas:


________________. Campos do Jordão - Quartel general da luta contra a tuberculose. 1948. Disponível em: <http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=110523_04&pesq=Januário Miráglia>. Acesso em: 21 fev. 2018.

CINTRA, Joaquim Corrêa. Dr. Januário Miráglia: In Memorian. A Cidade de Campos do Jordão. Campos do Jordão, p. 1-1. 02 out. 1949.


Pequena Biografia do Professor Harry Mauritz Lewin 


O prof. Harry Mauritz Lewin, nascido em 25 de julho de 1909, no antigo Distrito Federal-RJ, filho de Augusto Lewin, de nacionalidade sueca e Adele Luize Hartwig, de nacionalidade alemã.

No ano de 1914, com apenas cinco anos de idade, foi para a Inglaterra e, na cidade de Cambridge, antiga cidade inglesa sede do condado de Cambridgeshire. Lá permaneceu até 1920, quando completou 19 anos. Daí seu total domínio do idioma inglês. Falando e escrevendo fluentemente a língua inglesa, com grande habilidade, durante boa parte de sua vida, como excelente professor, dedicou-se a ensiná-la, a inúmeros alunos que o procuravam para aprender um pouco dessa língua quase universal.

Além dos idiomas, português e inglês que dominava com grande fluência, tinha muita facilidade e bom domínio com outros idiomas, dentre eles, o espanhol, o francês, o italiano, o sueco, alemão e até o grego, considerando que no auge de sua juventude, dominando vários idiomas, foi indicado como adido na Embaixada de Israel, na Grécia.


O prof. Harry fez parte do grande time daqueles que, inicialmente, vieram para esta cidade, somente em busca da cura da tuberculose e que, após conseguir o intento, aqui permaneceu. Chegou a Campos do Jordão para tratamento de saúde em 1940 e foi lecionar no Grupo escolar “Dr. Domingos Jaguaribe” para a 3ª série primária. 

Mais tarde chegou a lecionar Matemática no CEENE – Colégio Estadual e Escola Normal Estadual de Campos do Jordão, administrando aulas de Geografia, História, Francês, Inglês (sua principal especialidade, dominava o idioma português e outros idiomas, além do sueco, em virtude dos laços de paternidade, já que seu pai era sueco; a Física e outras matérias relevantes, como Matemática, e, eventualmente, Trabalhos Manuais.

No decorrer das décadas de 1950 a 1970, o prof. Harry ainda prestou relevantes serviços à nossa cidade e aos seus estudantes, especialmente na área da Educação. 



O Professor Harry foi casado com a Senhora Selma Fernandes Lewin e tiveram sete filhos: Roberto, Carlos, Maria Helena, Rose Mary, Clarence, Paulo e Deodoro. 

Participou de muitas atividades culturais em Campos do Jordão, prestou serviços para a Empresa de Ônibus Hotel dos Lagos, concessionária dos serviços de transportes coletivos da cidade, por várias décadas, sendo substituída pela Vila Natal Turismo e, posteriormente, pelo Expresso da Mantiqueira e hoje, Pássaro Marrom. Juntamente, com um grupo de amigos, prestou atividades na Biblioteca Municipal de Campos do Jordão por muitos anos, desde a época do prefeito Dr. José Antonio Padovan, até a sua morte em 07 de março de 1971. 

Na Biblioteca, além de orientar e participar efetivamente de toda a sua organização e montagem, organizou diversos cursos dos quais era o professor: Admissão ao Ginásio e principalmente a matemática e o inglês. Salvou a vida de inúmeros estudantes, especialmente em épocas de provas e de exames de segunda época, modalidade de provas que existiam antigamente para aferir os conhecimentos daqueles que não conseguiam a média necessária para a aprovação direta (em primeira época), aos quais ficava faltando alguns pontos percentuais para aprovação necessária.

Com muita paciência e a toda prova, seu estilo inigualável e simpatia, delicadeza e sabedoria, formava grupos de alunos, separados por disciplinas, como a Matemática, Física, Inglês, etc. e na sala principal da Biblioteca Municipal, na única mesa existente, em diversos horários de manhã à noite, incansavelmente, ia verificando os pontos fracos de cada um e formulando as suplementações necessárias. 

A grande maioria dos estudantes que recorriam ao prof. Harry sempre obteve sucesso nas provas a que foram submetidos. E, todo esse trabalho, de grande profundidade para a geração estudantil da época, era feito gratuitamente. Após seu falecimento a 07 de março de 1971, os homens públicos jordanenses, sabiamente, eternizaram seu nome em na Biblioteca Pública Municipal.


Fontes:

PAULO FILHO, Pedro. TCC, A Luta e a Vitória. 2017. Disponível em: <http://www.pedropaulofilho.com.br/cronica_61_tcc.php>. Acesso em: 31 mar. 2017.

ROCHA, Edmundo Ferreira da. Prof. Harry, Mestre Maravilhoso e seu Clubinho de Inglês. 1990. Disponível em: <http://www.camposdojordaocultura.com.br/ver-cronicas.asp?Id_cronica=56>. Acesso em: 31 mar. 2017.

Jornal “A Cidade de Campos do Jordão", de 03/05/1953 e 02/04/1972

Jornal “Impacto Vale News” de 20 a 30 de abril de 2002


                                                         GENGO SAKANE


Natural da cidade de Kojima, província de Okayama, nasceu em 11 de fevereiro de 1918. Cursou o primeiro grau na escola primária de sua cidade.

Em junho de 1930 veio para o Brasil, com o pai Shunichiro Sakane, pelo navio Nakata Maru, dirigindo-se para a Colônia Bastos.

Em outubro de 1930 foi convidado pelo dr. Shiziuo Hosoe para prestar-lhe pequenos serviços, e quando este foi transferido para a capital em 1935, acompanhou-o, vindo residir em São Paulo. Durante esse período trabalhou no hospital Dojinkai e fez o curso de enfermagem na Santa Casa.

Em novembro de 1936, na conclusão das obras do Sanatório Dojinkai, de Campos do Jordão, Gengo Sakane é designado funcionário do setor médico, passando a enfermeiro-responsável, após receber habilitação em 1939. Em 1º de junho de 1971 assumiu o cargo de administrador do sanatório. Após a segunda guerra mundial o sanatório Dojinkai passou a denominar-se Sanatório São Francisco Xavier.

Pelos relevantes serviços prestados à comunidade, principalmente na assistência aos enfermos do sanatório São Francisco Xavier, ao qual se dedicou há mais de 50 anos, Gengo Sakane recebeu inúmeras condecorações:

Em junho de 1958, por ocasião do cinquentenário da imigração japonesa, foi agraciado com o diploma de reconhecimento e mimo do Ministro das Relações Exteriores do Japão, Aichiro Fujiyama. Em abril de 1971 recebeu o diploma de reconhecimento da Beneficência Nipo-Brasileira de São Paulo. Em maio de 1976 recebeu a comenda “Brigadeiro Couto Magalhães”, em solenidade na Câmara Municipal de Campos do Jordão. Em 15 de setembro de 1976, por ocasião do 40º aniversário do Sanatório São Francisco Xavier, recebeu da Beneficência Nipo-Brasileira de São Paulo, diploma de agradecimento. Em 29 de abril de 1978 foi condecorado com a comenda “Kun Rokutô” do Sol Nascente.



Fonte:

MASAKAZU, Arakaki. Sakurabana: Presença japonesa na Mantiqueira. Campos do Jordão: Lis Gráfica e Editora Ltda., 1988. 196 p.
                    


                                                                       Dr. Robert John Reid


Dr. Robert John Reid veio para Campos do Jordão em 1903, para a demarcação das terras de Vila Natal, então pertencente a Casa Nathan Societé Financiere, depois desse serviço, adquiriu, por proposta dos proprietários que estavam para extinguir a firma, a quase totalidade das terras de Campos do Jordão, mesmo porque, a estas, valor nenhum foi dado pela casa Nathan. Excetuada a Vila Jaguaribe, já então pertencente à família do mesmo nome, as demais terras passaram a pertencer ao Dr. Robert John Reid, compreendendo todo o vale de Campos do Jordão até a divisa de Minas Gerais, numa extensão média de 06 a 18 quilometros de largura.

Fundou, então, juma vila, a qual deu o nome de Abernéssia, mantido até hoje. Esse nome, numa justa homenagem à sua terra natal, foi extraí

Foram iniciativas e realizações do Dr. Robert John Reid, a construção da Igreja, estação, mercado e posto policial. Construiu ainda o cinema, doando terras para as construções dos sanatórios Ebenézer e retiro dos Médicos, fazendo outras doações pequenas e particulares desprovidos de recursos.

A pobreza encontrou, sempre, no coração do Dr. Robert Jonh Reid, um refúgio salvador.

Foi, também, proprietário da empresa Elétrica de campos do Jordão e do fornecimento de águas, de sua construção e manutenção. Loteou toda a vila de sua fundação, abriu ruas, construiu rodovias e pleiteou, durante anos, a construção da estrada de ferro, em cujos esforços foi coadjuvado pelos Drs. Emílio Ribas, e Dr. Altino Arantes.

Exerceu durante vários anos, o cargo de Juíz de Paz, e presidente do Diretório do Partido republicano Paulista local.

O Dr. Robert John Reid, nasceu em Kirkill, condado de Inverness, na Escócia, no ano de 1868. Formou-se em engenharia, na Inglaterra, vindo para o Brasil em 1897, antes do que, passou cerca de 07 anos na vizinha República Argentina. Esteve durante cerca de 06 anos no Oeste de São Paulo, fazendo importantíssimas divisões de patrimônios. Fundou a cidade de Olympia, que até hoje homenageia o nome do seu fundador, dando-lhe o nome numa rua. Em 1903, veio para Campos do Jordão.

Dr. Robert John Reid faleceu, no dia 26 de novembro, aos 69 anos de idade, vitimado por uma peritonite aguda. Perdeu, com a sua morte, a estância climatérica um grande benfeitor. O povo, consternado, acompanhou o seu enterro e o comércio prestando sua homenagem, cerrou as suas portas.

O Dr. Antonio Gavião Gonzaga, prefeito sanitário, num gesto elegante, que bem vem justificar o quanto Dr. Robert John Reid estimado, decretou feriado municipal, ordenando que fosse o enterro feito às expensas da prefeitura e doando à família com juma sepultura perpétua, no cemitério local. Colocou ainda, a prefeitura, à disposição daqueles que não tinham meio de condução, os 03 auto-caminhões de seus serviços. O gesto do sr. Prefeito, digno de elogios, mereceu o aplauso de toda a população.

Fonte:
Jornal “Correio Paulistano, SP” de 05 de dezembro de 1937


Monsenhor José Vita


José Vita nasceu em 23 de março de 1895, em Sapucaí Mirim, pequeno município que antes era conhecido por Santana do Parnaíba, no território da Arquidiocese de Pouso Alegre em Minas Gerais. Era filho de Donato Vita, de nacionalidade italiana e de dona Maria Leopoldina de Ferreira Carvalho Vita. 
No começo de 1909, José Vita ingressou no seminário diocesano com 9 anos de idade na cidade de Pirapora, transferindo-se para o Seminário de Taubaté, no dia 20 de fevereiro de 1911.

Ordenou-se padre aos 24 anos, em 20 de abril de 1919 pelo Exmo. Núncio Apostólico D. Ângelo Scapardini. Em 1923 realizou seu sonho, tornando-se Vigário de uma Paróquia. Poucos meses depois, foi surpreendido por uma hemoptise.

Devido a sua peregrinação por várias cidades após sua ordenação, Pe. Vita adquiriu a tuberculose, doença esta que o fez vir para Campos do Jordão buscar sua cura, uma vez que a cidade era o polo brasileiro para o tratamento desta epidemia. Com a preocupação em ajudar pessoas necessitadas, o padre iniciou seus trabalhos com um grupo de homens enfermos, mas seu grande sonho era dar amparo às crianças.

Padre José Vita foi o terceiro Pároco da Igreja de Santa Terezinha, de 16 de setembro de 1930 a 18 de janeiro de 1931.

No começo do ano de 1926, Padre Vita devido sua saúde veio residir em Campos do Jordão, na Vila Abernéssia. Nesta cidade ele deparou com um grande número de tuberculosos e indigentes que vinham de várias partes à procura da cura de suas enfermidades pelo clima, que era propagado como benéfico a tratar das vias respiratórias. No entanto esses doentes ficavam alojados em casebres ou porões sem as menores condições de higiene. Vendo esta situação caótica que enfrentava o município, e com a intenção de minimizar este problema, construiu um grande pavilhão de madeira dotado de requisitos de higiene para dar assistência e conforto. Inaugurado em 1933, recebeu de imediato 24 doentes, dando aos mesmos um regime sanatorial com certo conforto e assistência médica.

O estabelecimento foi imediatamente lotado, e novos casos começaram a aparecer. Foi ampliado, e logo após tratando de 150 homens. Foi a primeira fase da existência do Sanatório São Vicente de Paulo. Em 1935 a conselho de vários médicos, e diante dos designo de Deus, Padre Vita transforma o abrigo em Sanatório para crianças tuberculosas. Feitas as modificações necessárias, em agosto de 1935 recebe a primeira criança tuberculosa. Como o pavilhão era de madeira e emergencial, resolve construir um grande Sanatório, com capacidade para 250 leitos e dotado de requisitos modernos e necessários para o combate à tuberculose infantil. O novo Sanatório foi inaugurado no dia 28 de abril de 1946 e dezenas de crianças foram transferidas ali.

Em 19 de março de 1954, inaugura a Casa da Criança Hospital Infantil, pois tinha como principal objetivo a assistência à saúde infantil. Havia também, o caráter assistencial com doação de sopas às crianças em extrema pobreza e doação de leite para as mães carentes. Apesar das dificuldades, e com o apoio de voluntários, conseguiu criar a chamada "Casa da Sopa", onde era distribuída comida gratuitamente e mais tarde fez o hospital para crianças.

Três Congregações deram assistência às crianças internadas: Irmãs de Maria Imaculada de São José dos Campos, irmãs Franciscanas, alemães, residentes em Pindamonhangaba, e a Congregação Franciscana do Coração de Maria de Campinas. Durante alguns anos muito se dedicaram. Padre Vita sentindo meio desamparado com a situação de dependência de outras instituições para dar continuidade ao trabalho que vinha desenvolvendo, teve a ideia de formar um grupo de moças para dar continuidade ao trabalho. No dia vinte e nove de junho de 1949, benzeu as medalhas e fez a imposição em cada uma das Oblatas. Assim ficou fundada a nova Associação, lavrada em ata e assinada pelas Oblatas Brasília Leite Soares, Maria das Dores Panisio, Benedita Miguel Dias, Maria Aparecida Monteiro, Elvira Maria da Conceição, Odila Oliveira Araújo, Sebastiana da Silva, Maria de Lourdes da Silva, Neuza Vaz da Silva. Em 26 de setembro de 1963 pelo Decreto contido nos Cânones 684-709-719, do Código de Direito Canônico e nos termos de seus estatutos, é erigida a piedosa Associação em Pia União, com o nome de Instituto das Filhas de Nossa Senhora das Graças. O Decreto Diocesano de 26-09-1963 aprova como Pia União, o Instituto das Filhas de Nossa Senhora das Graças inspirada na fundação do virtuoso Monsenhor José Vita, continuando a beneficiar os pequenos do rebanho, os pobres e doentes.

Ratificando o Decreto, no dia 1º de outubro de 1966, a escrita é assinada pelo Bispo Dom Francisco Borges do Amaral. Finalmente, com as graças e as bênçãos de Deus, o grande dia da entrega do Decreto de Ereção Canônica do Instituto das Filhas de Nossa Senhora das Graças, foi dada e passada no dia 25 de dezembro de 1981 por Dom Antonio Afonso de Miranda, Bispo de Taubaté.

O Instituto das Filhas de Nossa Senhora das Graças, constitui uma Família Religiosa, de direito diocesano. Têm como trabalho a assistência social em especial os desfavorecidos. Empenhado em resgatar a memória dos personagens que fizeram parte da história de Campos do Jordão, o Instituto do Patrimônio Histórico Artístico, Arquitetônico, Ambiental e Cultural (IPHAC) em parceria com o Instituto das Filhas de Nossa Senhora das Graças, abrirá para visitação o "Memorial Monsenhor José Vita".

No dia 7 de setembro de 1954, foi agraciado por decreto do Papa Pio XII, com o honroso título de Monsenhor Camareiro Secreto de S. Santidade, presente o Governador Lucas Garcez, e em 30 de abril de 1959, com o título de Cidadão Honorário de Campos do Jordão. 

Em 1969, foi Inaugurado no Auditório Padre Vita o busto do Monsenhor, em homenagem ao seu jubileu áureo sacerdotal. 

Faleceu em Campos do Jordão, no dia 13 de dezembro de 1972, às 23:45 horas, assistido por suas Irmãs, chefiadas por Odete Freire e pelos seus médicos e amigos, Drs. Franklin A. Bueno Maia e Alfonso Chung Zumaeta, aos 77 anos, e desde então, devido a importância de seu trabalho com o povo, existem espalhados pela região algumas creches e ruas que levam o seu nome, com o intuito de homenageá-lo. 

Em sua homenagem póstuma, a via de acesso ao Sanatório São Vicente de Paulo, passou a ser denominada de “Rua Monsenhor José Vita”, e bem assim a Escola de 1° Grau de Vila Abernéssia. Apagara-se uma luz na terra, e começou a brilhar mais uma estrela no céu.
A frase mais conhecida e citada pelo Padre Vita era: 
"As crianças são as flores perfumadas no jardim de Deus"


 Simão Cirineu Saraiva


Simão Cirineu Saraiva, figura de destaque no município, um dos pioneiros de Campos do Jordão, filho de escravos, foi criado pela família Macedo Soares, considerado irmão de criação. Chegou na década de 1910 e foi amigo e homem de confiança do Embaixador José Carlos de Macedo Soares, responsável pela urbanização da Vila Capivari, que o contratou como encarregado daquelas obras. 

Construiu o primeiro reservatório de água de Campos do Jordão, no manancial, obra executada pelo construtor Floriano Rodrigues Pinheiro. Trabalhou nas obras da construção do Grande Hotel de Roberto Backer, posteriormente adquirido por Roberto Simonsen e, transformado na famosa Vila Simonsen. Foi, ainda, administrador do primeiro cemitério da cidade e, em 1937, foi designado como agente dos Correios e Telégrafos, pelo embaixador Macedo Soares, cargo que exerceu por muitos anos e no qual se aposentou. Foi casado com Brasília Maria de Lourdes Saraiva. Esta, morre aos 69 anos de idade, em 1953.

Simão Cirineu Saraiva foi em Campos do Jordão, agente de correio, prefeito, delegado, datiloscopista e lutou muito pelo progresso da cidade. O que Campos do Jordão necessitava, ele pedia ao embaixador Macedo Soares e a cidade recebia.

Simão não era tuberculoso mas sofria de úlcera no estomago. Descobriu que a água de uma mina localizada em Capivari, no caminho da Vila Inglesa, lhe fazia bem e aliviava as dores. Passou a beber, diariamente, a água da fonte e foi curado da úlcera. Suas águas puras foram consideradas de valor terapêutico para doenças estomacais. A mina ficou famosa e conhecida por Fonte Simão, à beira da Avenida Roberto Simonsen. 

Em março de 1930, um grande acontecimento agitava os moradores de Vila Capivari, pois era inaugurada a Capela de São Benedito. Estavam presentes o casal Macedo Soares, doadores do terreno, que receberam homenagem da Irmandade de São Benedito, presidida por Simão Cirineu Saraiva. A Primeira festa da capela São Benedito ficou a cargo do festeiro Simão Cirineu Saraiva, figura de projeção no lugar.

À sua memória, a prefeitura municipal homenageou esse personagem da história jordanense, reconhecendo seus inúmeros serviços e benefícios realizados, instituindo a medalha “Simão Cirineu Saraiva”, - um dos grandes símbolos da cultura negra em nossa cidade.



  O Carnavalesco, Orlandinho.

Durante as festividades carnavalescas, o folião ORLANDO GARCIA DE MELO, conhecido popularmente como Orlandinho, desfilava pelas avenidas centrais de Vila Abernéssia com a maravilhosa fantasia que lhe valia o prêmio de primeiro lugar. 

Com alegria desmedida, empunhava o troféu recebido, acompanhado de foliões, também fantasiados, pertencentes ao seu grupo. Exibia, nos desfiles carnavalescos dos quais participou, suas belas fantasias, muitas até bastante simples, porém elaboradas de acordo com suas possibilidades financeiras bastante diminuta e acanhada, fazendo parecer, especialmente para ele – creio que sua maior preocupação – a mais linda e preciosa fantasia do mundo.

Orlandinho, era filho de Nhá Chica, como era conhecido por todos em Campos do Jordão.

Era uma pessoa calma e tranquila. Nunca escondeu, de forma alguma, sua preferência homossexual. Sempre muito educado, costumava vestir-se com roupas tradicionais masculinas, principalmente o paletó, somente demonstrando ser diferente através da sua voz e trejeitos femininos quando falava e, um pouco, quando caminhava.

Sempre muito prestativo e conhecedor dos principais passeios turísticos de Campos do Jordão, ficava à procura de grupos de turistas, oferecendo-se como cicerone. Durante muito tempo conseguiu angariar algum dinheiro para seu sustento, sempre reservando alguma pequena parcela para possibilitar a confecção das suas fantasias, visando desfilar, durante as festividades carnavalescas, pelas ruas e avenidas de Vila Abernéssia – acredito ser seu maior sonho durante toda sua vida, depois de adulto. 

Nessas oportunidades, aproveitava para fazer aflorar largamente seu lado feminino. Também era tido como competente e excelente faxineiro. Muitas pessoas que costumavam contratá-lo para fazer faxina em suas residências diziam que a limpeza que ele fazia era, muitas e muitas vezes, superiores àquelas feitas pelas faxineiras. Diziam que as casas ficavam totalmente limpas e maravilhosas. Também, parte desse dinheiro que ganhava com esses serviços era reservada para suas fantasias carnavalescas.

Morou por vários anos no conhecido loteamento popular Monte Carlo, situado no caminho de acesso ao tradicional e antigo Sanatório Ebenezer, e Hotel Umuarama, nas proximidades da antiga represa que canalizava água para geração de energia elétrica da Usina Evangelina Jordão, de Vila Abernéssia, durante as décadas de 1930 até 1960. 

Durante todo o tempo em que morou nesse loteamento, mantinha grande preocupação com toda comunidade carente que lá residia. Com algumas economias guardadas com muita dificuldade e ajuda de amigos a quem recorria, conseguia elaborar, nos meses de dezembro, na semana que antecedia o Natal, com ajuda de amigos, um almoço simples, porém bastante nutritivo e substancioso, normalmente uma lauta macarronada com molho de frango ensopado, que era servida à comunidade carente do bairro. 

No dia 16 de abril de 2010, infelizmente, Orlandinho morreu no hospital são Paulo, onde estava internado, algum tempo após as festividades carnavalescas. Campos do Jordão ficou triste. O Carnaval de Campos do Jordão sente a falta irreparável do saudoso Orlandinho. 

Agora, não temos mais, desfilando garbosamente pelas ruas e avenidas centrais de Vila Abernéssia, com suas maravilhosas e inesquecíveis fantasias, a figura tradicional, alegre, entusiasmada e querida do Orlandinho.

Alguns anos se passaram, e até agora, lamentavelmente, as investigações não conseguiram chegar a uma conclusão sobre o autor ou autores do infausto crime. Uma coisa é certa, o Carnaval de Campos do Jordão, há muito tempo, de ano para ano, vem perdendo aquele brilho especial que já chegou a projetá-lo como um dos melhores carnavais da região, sendo procurado por foliões vindos de várias cidades do Estado de São Paulo e até do Rio de Janeiro. 

A Prefeitura Municipal de Campos do Jordão homenageia ORLANDO GARCIA DE MELO, o carnavalesco Orlandinho, promulgando uma Lei que dispõe sobre a denominação de uma via Pública no Bairro Monte Carlo que leva o seu nome.


                                                             Jagobo Pan


Jaume Gonzalez Bover, Jagobo Pan, abreviatura e nome artístico utilizando as primeiras sílabas do seu nome e PAN, criado por ele, significando Por Amor à Natureza, foi um Pintor espanhol, nasceu em Barcelona, em 1922, mas nunca se considerou espanhol, mas sim catalão.  Ele era filho de Eladio Gonzalez e Maria Luiz Bouve.

No Brasil, participou dos VII e IX Salões nacionais de Arte Moderna (Rio de Janeiro, 1958 e 1960), V Bienal de São Paulo (1959), II, IV e V Salões do Trabalho (SP, 1963, 1965 e 1966), II Salão de Arte Moderna do Distrito Federal (1965), XXIII Salão Paranaense de Belas Artes (1966), I Bienal Nacional de Artes Plásticas (Salvador, 1966), etc.

Jagobo, o pintor. Jagobo, o fotógrafo artista. Jagobo, nascido em Catalunha, na Espanha distante, e que se fez jordanense a exemplo de uma enorme parcela da nossa população, Jagobo Pan ofereceu à arte muito da sua própria vida, plena de sensibilidade à beleza das flores que enfeitam os campos, de amor ás matas cuja quietude reflete a paz da sua alma, de apego ao afago do luar que ele sabe como sentir com toda a suavidade.

Em 1981, o artista fotógrafo registrou vários momentos da vida cotidiana e o resultado de seu trabalho foi apresentado em mais de 30 fotos que ficaram expostas em tradicional galeria da capital paulista. Sua arte merece nossos aplausos. Jagobo é digno de nosso respeito.

Infelizmente, adquiriu tuberculose e se internou em Sanatorinhos (S-3), em Campos do Jordão onde foi desenganado pelos médicos, mas o clima Jordanense o ressuscitou para a vida, fazendo-o ingressar em uma fase mística. Encanta-se com a natureza jordanense e começa a ensinar as artes das tintas, tornando-se professor da Prefeitura Municipal até 1967. Durante boa parte da sua vida morou em humilde choupana situada no Morro das Andorinhas, em Vila Abernéssia, atrás do Mercado Municipal. Andava muito pela cidade toda, sempre com sua sacola e seu guarda-chuvas.

Foi nomeado Presidente do Conselho Municipal de Cultura e o Espaço Cultural do Banco do Brasil, à época, instituiu o “Prêmio Professor Jagobo” para o melhor artista revelado na Estância.

O momento mais emocionante de sua vida foi quando encontrou o oceanógrafo Jacques Cousteau em Campos do Jordão. Em vida, o seu nome foi dado a uma via pública.
Seu nome consta de vários dicionários entre eles o “Delta Larousse”, o INL – Instituto Nacional do Livro e o MEC – Civilização Brasileira do Ministério da Educação e Cultura.
Sofreu um acidente automobilístico em 1967 e ficou impossibilitado de trabalhar, mas mesmo assim vivia por teimosia, com a vestimenta pobre, cabelos compridos e barba abundante. 

Faleceu em Campos do Jordão em 16 de abril de 1996.

Fonte:
Jornal Campos do Jordão notícias, de maio de 1981, Ano VI, nº 67


Aércio Luiz de Oliveira


Aércio Luiz de Oliveira, Filho de Benedito Vasconcellos de Oliveira, nasceu em 05 de setembro de 1931, foi um grande açougueiro que durante vários anos, esteve estabelecido no centro de Vila Capivari.

Em meados da década de 1950, no conjunto comercial pertencente à D. Olga Dias Afonso, composto de 14 lojas, nas proximidades do Bar São Luiz, na descida que vai para o Tênis Clube, existia a porta comercial do açougue Capivari, de propriedade dos Irmãos, Plínio Vasconcelos de Oliveira e Aércio Luiz de Oliveira.

Esse açougue, na mesma década de 1950, foi vendido pelo alemão, Sr. Helmutt Bügner, para o sr. Plínio Vasconcellos de Oliveira, grande conhecedor dessa sua atividade profissional. Infelizmente, não se dedicou à continuidade da fabricação dos famosos embutidos fabricados pelo seu antecessor.

A placa de identificação desse açougue foi idealizada e desenhada pelo sr. Orestes Mário Donato, projetista, fotógrafo, desenhista, jornalista e confeccionada por Emile Xavier Raymond Lebrun, hábil com a famosa serrinha tico-tico.

Na verdade, toda a família trabalhou no mesmo ramo, desde seu pai e os irmãos Aércio Luiz de Oliveira e Benedito Vasconcellos de Oliveira Filho. Esses dois irmãos começaram a trabalhar no açougue do irmão Plínio; depois, cada um instalou seu próprio açougue. Aércio Luiz de Oliveira, a partir da década de 1960, se estabeleceu com o ramo de açougue, tornando-se o “Açougue do Aércio”, até hoje em funcionamento, sob a direção de seus filhos.   

A partir de 22 de agosto de1972, o açougue, comercio varejista de carnes, mudou-se para a Vila Albertina.

O local onde estava sediada a criação de porcos ou, como se diz na linguagem popular, o chiqueiro, era na antiga propriedade que pertenceu ao pai do Aércio, o Sr. Benedito Vasconcellos de Oliveira, situada no Vale Encantado, nas proximidades da sede da Sociedade de Altruísmo e Amor – SAA, especializada nas atividades relacionadas ao ensino, numa sociedade para criação de porcos no sistema denominado “meia”, com as despesas e lucros divididos em partes iguais.

De família tradicionalmente ligada ao ramo do comércio de carnes e derivados e, também, à criação de suínos e bovinos, era um profissional na arte de lidar com as diversas qualidades de carnes.

Tinha boa prática para identificar suínos pelo sexo, para a venda. Com toda sua prática no ramo, portava um laço tradicional, feitos especialmente de couro escolhido e tratado, trançado por especialista na arte, da forma mais tradicional e necessária, para laçar porcos.

Atualmente, no local desse prédio, está instalado o “Pátio Paris”, com suas lojas comerciais, restaurantes etc., grande ponto de atração turística da Vila Capivari em Campos do Jordão.  

Aércio Luiz de Oliveira faleceu em 31 de agosto 2009.



Adib Yazbeck


Há muitos anos, um dos radialistas que entrava em nossa casa, todos os dias, na hora do almoço, e sem pedir licença, era o locutor e apresentador, Adib Iazbeck. Possuindo “poder”, com a sua voz bela e rouca, dizia:

“Olá, amigo ouvinte! Boa tarde! São 12h em ponto. O dia hoje está de sol com poucas nuvens!”

Era assim que muitas vezes recebíamos em nossas casas, a sua voz, e nos mantinha informados sobre os últimos acontecimentos da cidade, da política, do esporte, da economia e sobre atualidades.

Adib Iazbeck, apresentava os programas esportivos, e o “Jornal Falado do Meio-dia”, com muita eloquência e empolgação. Trazia informações quentinhas, pertinentes à nossa vida de forma eficiente e clara. E tudo isto, sob o patrocínio do “Laticínio Bel-Air”, fundado em Campos do Jordão na década de 1950, por Francisco Kenworth de Azevedo; e do Café Mané, de Manoel Pino.

O radialista, Adib Iazbeck, nasceu em São Luiz, MA, aos 01 de janeiro de 1924. Filho de imigrantes sírios, chegou a Campos do Jordão em 1948, trazido então pela Colônia Síria ou Sociedade Síria, muito atuante na época, para tratar da tuberculose no Sanatório Sírio, no período de 1948 a 1960.

Homem de pequena estatura, franzino, caminhava um pouco arqueado, porque nesses 12 anos de internação, passou por uma cirurgia de toracoplastia, para a retirada de uma das costelas, que possibilitava a extirpação de parte do pulmão atingido e comprometido pela tísica pulmonar. Foi um homem que venceu o mal do século.

Ao sair do hospital, ficou em Campos do Jordão, e trabalhou por aproximadamente duas décadas na Rádio Emissora de Campos do Jordão, a ZYL-6, a mais alta do Brasil, pertencente à Cadeia Verde Amarela - Norte Sul, da Rádio Bandeirantes de São Paulo. Foi o nosso um companheiro do dia a dia.

Casou-se com Dulce Rodrigues Iazbeck em 18 de março de 1961, com quem teve os filhos, Luiza Helena Rodrigues Iasbeck, Marco Antonio Iasbeck e Luiz Cezar Iasbeck.

Adib Iazbeck foi um excelente profissional, sempre preocupado em oferecer um conteúdo de qualidade e de forma ágil, apresentando programas jornalísticos, divulgando notícias, esportes e inúmeras entrevistas para a história de Campos do Jordão.

Desde o surgimento do rádio até os dias de hoje, muitas coisas mudaram, desde a forma de se noticiar as informações, até as músicas que hoje dominam o mercado. Entretanto, algo que nunca mudou, todavia, é a paixão de todos os radialistas pela sua profissão.

Muitos acreditam que o trabalho do radialista se resume apenas à locução do rádio. Engano. Nem tudo são flores nessa vida de radialista. Essa profissão envolve várias nuances, são locutores, operadores, sonoplastas, roteiristas, produtores entre outras funções. Uma profissão repleta de desafios. Além de ser aquele que fala, de fato, nas rádios, ele também é aquele que opera aparelhos, oferecem meios alternativos tecnológicos.

Adib Iazbeck, profissional, lidava com a informação, com a pressão do tempo, trabalhava aos finais de semana, em horários que muitos estavam em lazer.  E, como a Rádio Emissora era pequena, com poucos funcionários, até os locutores, nas horas de folga, auxiliavam nos serviços burocráticos, inclusive na cobrança e divulgação dos serviços de propagandas, que eram vendidos para angariar recursos para a manutenção da própria Emissora. Adib Iazbeck cumpriu sua missão, com muita proficuidade. Muitas vezes, fora de seu horário nos estúdios, podia vê-lo nas ruas e avenidas da cidade, a correr atrás de patrocínio e divulgação.

Amante de Campos do Jordão, ativo participante da vida pública, foi vereador à Câmara Municipal de Campos do Jordão, na 7ª legislatura, entre 01 de janeiro de 1973 a 31 de dezembro de 1976. Polêmico, cobrava ações dos governantes municipais e não tinha medo e entendia profundamente de política. Figura notável da comunicação em Campos do Jordão. Foi uma marca registrada na cidade.

Adib Iazbeck, foi uma pessoa solidária. Atuante nas comunidades menos favorecidas, ajudava as pessoas mais carentes, fazendo campanhas em seus programas. Fazia campanhas para a melhoria das casas de famílias menos abastadas, auxilia enfermos, encaminhando-os para os sanatórios, e prestava socorro aos animais de rua, abandonados. Além disso, distribuía brinquedos às crianças, na época de natal.

Em 1969, comandou uma campanha na Rádio Emissora, com o objetivo de arrecadar recursos para a viagem do programa “Cidade Contra Cidade”.

De fato, foi um radialista muito especial. De alguma maneira, conseguia deixar seus problemas de lado para transmitir toda sua energia!

De bem com a vida, sempre sorridente e com os óculos escuros, brincalhão, cheio de sugestões e sempre levando a sua mensagem para as pessoas que gostavam de ouvir o rádio, Adib Iazbeck, era torcedor do Abernéssia Futebol Clube. Foi uma pessoa simples, mas com um jeito diferente de se comunicar.

Adib Iazbeck participou da inauguração do Restaurante do Belvedere do Morro do Elefante, no início da década de 1970.

Foi poeta, compositor, idealizou, competiu e venceu várias finalíssimas do Femucar, Festival de Músicas Carnavalescas, na década de 1970.

Adib Iazbeck. Seu nome, de origem árabe, significa, homem instruído, educado. Verdade. Um homem sério, trabalhador, onde todos os dias tinha hora marcada para conversar com os seus ouvintes. Levava a sério a sua profissão, que nela cria e a ela se dedicava, prestava um serviço de inestimável valor à coletividade.

Por fim, após seu falecimento em 21 de abril de 1974, aos 50 anos de idade, como forma de homenagem por toda sua grande e constante atuação profissional e serviços à comunidade ao longo de toda sua vida, onde sempre auxiliou e participou ativamente, o ilustre cidadão e radialista Adib Iazbeck, recebeu o reconhecimento pelo decreto municipal nº 1.157 de 23 de maio de 1983, onde a Praça de Esportes de Vila Santa Cruz passou a ser denominada, praça “Vereador Adib Iazbeck.


Cônsul Alexandre da Silva Vilela


O Brigadeiro Manoel Rodrigues Jordão faleceu em 27 de fevereiro de 1827, sem sequer conhecer as terras da sua Fazenda “Bom Sucesso”. Por ter adquirido a Fazenda na época das festas natalinas, deu-lhe o nome de “Fazenda Natal”. Achava-se jurisdicionada à Comarca de São Bento do Sapucahy.

Dona Gertrudes Galvão de Oliveira Lacerda, viúva do Brigadeiro Jordão, ampliou a área da Fazenda Natal com a aquisição de parte da Fazenda São Pedro, dos herdeiros de João da Costa Manso.

Sua esposa sobreviveu 21 anos, e em 01 de fevereiro de 1848, faleceu. Com sua morte, cada filho vendeu a sua parte da Fazenda Natal.

O alferes Amador de Lacerda Rodrigues Jordão (Barão de São João do Rio Claro), vendeu aos irmãos Antonio e José de Godoy Moreira, que formaram as Fazendas da Guarda e do Retiro.

Manoel Rodrigues Jordão alienou ao Banco do Brasil que, posteriormente, vendeu a Júlio Pinto Rabello Pestana, que formou a Fazenda Capivary.

Os herdeiros da filha, Ana Eufrosina Rodrigues Jordão, venderam sua parte a diversos compradores, que a revenderam em lotes.

O coronel Silvério Rodrigues Jordão vendeu, em 29 de novembro de 1854, ao Capitão Urbano Marcondes Machado e Domingos Marcondes Homem de Mello (irmão de Francisco Marcondes Homem de Mello, Visconde de Pindamonhangaba). 

O Capitão Urbano Marcondes Machado, filho de José Machado da Silva e Clara Francisca do Amaral, residiu em uma de suas fazendas em Pindamonhangaba, com criação de gado. Foi vereador nos anos 1858- 1860, em São Bento do Sapucaí.

Foi também proprietário do sítio “Torto”, no distrito da Vila de São Bento do Sapucahy, com casas, máquinas, pastos, cafezais e duas casas de escravos. Casou-se com Maria Caetana Marcondes Machado.

No dia 29 de abril de 1874, o português Matheus da Costa Pinto, fazendeiro, erradicado em Pindamonhangaba, comprou terras do Agente Consular, Alexandre da Silva Villela, antes propriedade do capitão Urbano Marcondes Machado, criador de gado.

Eram as fazendas Humaitá, Bahú e Imbiri, duas das quais, nos cimos da Mantiqueira.

A Fazenda Bahú, na década de 1920, já era propriedade do sr. Cândido Rodrigues Salgado. Dista 9 km. da cidade de São Bento do Sapucaí, em posição alta e dominante, donde se descortinava amplo e vasto panorama, a 7 km. de Campos do Jordão.

Compreendia 300 alqueires de boas terras de cultura e era banhada pelo Ribeirão do Bahú, que atravessa a Fazenda, e o Ribeirão do Barrado, que também banhava a Fazenda.

Nesta bela Fazenda, cultivada com muito amor pelo proprietário, sr. Cândido Rodrigues Salgado, encontravam-se 500 rezes, muito bem tratadas que produziam leite de ótima qualidade, suínos e cavalares para o uso da Fazenda, e criação de carneiros. Havia cultura de cereais em geral e de ótimo fumo. Também, engenho de cana.

Cândido Rodrigues Salgado, era um homem muito laborioso digno de toda admiração pelo seu caráter bondoso e pelo muito amor ao trabalho, a que se dedicava com todo o ardor, constituindo sua propriedade um belo exemplo de cultura, de criação digna de ser imitado.

O Português nascido na cidade de Braga, Portugal, Alexandre da Silva Villela, filho de Francisco Manuel da Silva e Mariana Fernandes Villela, era proprietário e morador de uma fazenda, situada no Ribeirão dos Mottas em Guaratinguetá, Província de São Paulo.

Sua esposa, Cândida Ribeiro da Fonseca Villela, faleceu a 28 de junho de 1862. Eis o necrológio escrito por um desconhecido, para o jornal “Correio Mercantil”, do Rio de Janeiro:

 

À MEMÓRIA DA ILMA. E EXMA. SRA. D. CÂNDIDA RIBEIRO DA FONSECA VILLELA, OFERECIDO AO SEU INCONSOLÁVEL ESPOSO, O ILMO. SR. ALEXANDRE DA SILVA VILLELA.

“O Reino dos céus é semelhante àquele que semeara bom grão em seu campo”

 (S. Matheus, cap. XIII.)

 

Perdido p’ra sempre alma tão pura,

Só nos resta, oh! Que dor, o pranto só!

Christãos, por piedade orai por ella,

Tão digna de pranto, luto e dó!...

Panteai, christãos, a perda imensa,

Infausta perda que a saudade exprime;

A dor minore, no derramar dos prantos,

É este consolo a que ninguém s’exime.

 

“O anjo da morte esvoaçando as suas sinistras azas acaba de ferir uma boa e virtuosa esposa, uma terna e desvelada amiga, que baixou ao túmulo coberta das bênçãos da humanidade inteira!

Já não existe sobre a face da terra a exma. Sra. D. Cândida Ribeiro da Fonseca Villela, muito digna esposa do ilmo. Sr. Alexandre da Silva Villela.

Triste e dolorosa decepção... amarga realidade. Viestes ainda uma vez provar-nos a fragilidade desta vida de ilusões e de quiméricas grandezas, que passão rápidas sobre a terra e some-se para sempre ante o fúnebre clarão do túmulo, onde cai o cadáver para nunca mais se levantar!

Arrancada nos afetos íntimos do consorte que a adorava; roubada às carícias das amigas que a idolatravam: ei-la, a esposa e amiga extremosa inanimada de um sublime composto de raras virtudes, de amor, de carinhos, que todos apreciavam com o sentimento da mais profunda veneração neste mundo... Ei-la cadáver, a esposa e amiga que tanto avultara pela ilustração dos seus virtuosos sentimentos; ei-la presa das entranhas da terra, aquela que deveria sempre imperar nesta vida sobre um trono de perenes gozos, pela excelência e realeza de suas preconizadas virtudes.

Desgraçadamente morreu! Mas, felizmente, ficou a memória de suas virtudes, que não pertencem ao túmulo, mas sim ao renome e à posteridade”.

Por um seu reconhecido,

S. I. J.

Rio, 28 de junho de 1862.

 

 

Passados 15 anos, em 1877, Alexandre da Silva Villela, contraiu segundas núpcias com Maria do Carmo de Oliveira Villela, filha do Visconde Guaratinguetá, Francisco de Assis e Oliveira Borges, um dos barões do café no Brasil.

Em 01 de janeiro de 1877, o casal deu sociedade na fazenda, em Guaratinguetá, ao seu enteado e filho, José Villela de Oliveira Marcondes.

Alexandre da Silva Villela, foi Agente Consular de Portugal (Vice-Cônsul), na cidade de Guaratinguetá, de 1863 a 1887. A Agência Consular tem as mesmas funções de um consulado, porém sem a presença do Cônsul-geral. Ao fazer parte do Quadro do Corpo Consular Estrangeiro do Ministério das Relações Exteriores, apresentou-se em 19 de março de 1877 ao cumpra-se da presidência, o exequatur.

De origem latina, a expressão “exequatur”, ao pé da letra, significa "execute-se", "cumpra-se". Bastante presente no Direito Internacional Brasileiro, é um documento autorizador de um Estado para executar as funções de um cônsul.

Assim, o exequatur simboliza a jurisdição consular, sua sede da repartição e também atesta a qualidade de cônsul do representante do Estado.

É de se lembrar que nesse caso a competência para a concessão do exequatur é do Superior Tribunal de Justiça do governo imperial, à sua nomeação para Agente Consular de Portugal. Em 1898 se ausentou por motivo de doença.

Em 1884, Alexandre da Silva Villela também foi capitalista, proprietário com Victorino José da Fonseca da firma Alexandre & Victorino; mais tarde, com Ignácio da Silva Carvalho, na firma Silva Carvalho & Cia., ambos, de um comércio de calçados no Rio de Janeiro, à Rua da Quitanda, 118 e 141. Em 1891, com Luiz Antonio Pimentel de Castro e Matheus Ribeiro do Val, no comércio de comissões de café, ainda nesta praça.

Na cidade de Guaratinguetá, Alexandre da Silva Villela foi nomeado agente da pia instituição, “Real e Benemérita Sociedade Portuguesa Caixa de Socorros D. Pedro V” - fundada em 1863 como entidade de auxílio geral para os cidadãos portugueses. Propósito: Associação de socorros mútuos de imigrantes portugueses. Sede: Rua Marechal Floriano, 185 - Rio de Janeiro RJ.

Até 30 de março de 1876, a Vila de São Bento do Sapucahy pertencia ao município de Pindamonhangaba.

Fontes:

Álbum comemorativo, “Centenário de São Bento do Sapucahy” 1828-1928.

Jornal “O Piratininga”, de 24 de agosto de 1849;

Jornal “O Ypiranga”, de 02 de outubro de 1868;

Jornal “Pindamonhangabense”, de 15 de novembro de 1874;

Jornal “Diário de S. Paulo”, de 08 de novembro de 1868; 11 de março de 1877; 31 de janeiro de 1878;

Jornal “Correio Paulistano”, de 22 de setembro de 1864; 19 de outubro de 1898;

Jornal “Correio Mercantil”, de 29 de junho de 1862;

Jornal “Jornal do Commercio”, de 05 de janeiro de 1867;

Jornal “Jornal do Povo”, de 14 de janeiro de 1877;

Jornal “Gazeta de Notícias”, de 04 de setembro de 1877; 22 de maio de 1887;

Genealogia Paulistana;

SECKLER, Jorge. Almanach do Estado de São Paulo para 1890. Jorge Seckler e Cia. São Paulo, 1890.

Almanak da Província de S. Paulo, de 1873;

Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro; (RJ) - 1844 a 1885;

Museu Paulista da USP;

Periódico “Indicador de S. Paulo”. 1878;

Periódico “Província de S. Paulo”. 1873;

Câmara Municipal de São Bento do Sapucaí.

Links:

https://www.camarasbs.sp.gov.br/mesas-diretoras


Amadeu Farina, o Barbeiro da Família Matarazzo

Com a compra e o processo de desapropriação da Fazenda de São Caetano SP, teve início em setembro de 1876, um núcleo colonial visando a colonização de terras por imigrantes. Os imigrantes nortistas, vindo da região do Vêneto, a princípio instalaram-se nos núcleos coloniais como o de São Caetano.

A legislação brasileira estabelecia o tipo de imigrante que lhe interessava para ingressar no país: exigia um certificado de boa conduta, proibia o embarque de menores de 12 anos sem acompanhantes, de pessoas idosas, de indivíduos com algum tipo de deficiência e estava atento para a proporção de homens e mulheres solteiros. A Itália foi um país fornecedor de mão-de-obra barata em fins do século XIX, por suas condições sócio-políticas e econômicas.

Os imigrantes de São Caetano embarcaram em 1877 no vapor Europa na cidade portuária de Gênova e desembarcaram em Santos. Vieram de trem para a Hospedaria dos Imigrantes na cidade de São Paulo, local onde todos se dirigiam quando chegavam ao país, permanecendo lá por oito dias.

Depois da parada obrigatória na Hospedaria, os italianos rumaram para São Caetano, de trem. A ferrovia construída pelos ingleses havia sido inaugurada em fevereiro de 1867, com algumas paradas nos locais considerados mais importantes. A estrada de ferro, que ligava as cidades de Santos-Jundiaí, foi a primeira a ser construída no Estado de São Paulo.

Nem todas as famílias que chegaram em julho de 1877 permaneceram em São Caetano. Muitos mudaram para as colônias do Sul do país, na região do atual Estado do Rio Grande do Sul, outros foram para a Argentina e outros voltaram para a Itália. No recenseamento de abril de 1878, constam em São Caetano 172 pessoas, de um total de 251 que chegaram em julho de 1877.

Há registros de pelo menos 200 pessoas da família Farina que entraram no Brasil provenientes da Itália, muitas delas trazendo consigo seus filhos ainda crianças. Isto ocorreu principalmente no período de 1886 a 1897. São Caetano do Sul é uma das cidades com mais descendentes de italianos de todo o Estado de São Paulo.

Naquela época de 1886, a Itália estava no regime monárquico, tendo como rei Humberto I. Era um tempo onde os conflitos bélicos ocorriam frequentemente.

Algumas personalidades italianas da família Farina, são de destaque na músicaCarlo Farina - Músico e violinista do século XVII; Giovanni Antonio Farina - Bispo e santo (1803-1888); e Giuseppe Farina, Piloto de Fórmula 1 (1906-1966), que sagrou-se o primeiro campeão mundial da Fórmula 1, em 1950. Suas biografias podem ser vistas na Web.

Nápoles é uma cidade do sul de Itália, terceira cidade mais populosa, após Roma e Milão. Fica no Golfo de Nápoles, próxima ao Monte Vesúvio, vulcão ativo que destruiu a cidade romana de Pompeia. Fundada no segundo milênio a.C., Nápoles tem séculos de arte e arquitetura. A catedral da cidade, o Duomo di San Gennaro, é repleta de afrescos.

Outros monumentos importantes são o suntuoso Palácio Real e o Castel Nuovo, um castelo do século XIII. É conhecida mundialmente pela sua história, sua música, seus encantos naturais e por ser a terra natal da pizza. O centro histórico de Nápoles é Património Mundial da UNESCO.

No final do século XIX, vivia em Nápoles, Miguel e Ana Farina, e no início do século XX, o casal napolitano, tiveram filhos. Após o nascimento do primogênito, Miguel Farina, nascia, em 1901, Amadeu Farina. 

Logo após, em 1903, imigraram para o Brasil. Desceram dos trens em São Caetano do Sul em busca de uma vida melhor e ajudaram a construir a cidade com amor e respeito. Amadeu Farina contava nessa época, com 2 anos de idade.

O nome, Farina, é difundido em toda a Itália. Consta em alguns registros que esse sobrenome teve origem em uma alcunha, ou seja, um apelido indicativo de farinha, em italiano "farina". O apelido era usado para referir-se a alguém que trabalhava ou cuja ocupação era relacionada com farinha. Até os dias de hoje, há pequenas cepas “Farina”, em Nápoles.

O primogênito, Miguel Farina, já morava na cidade de São Caetano do Sul e trabalhava na capital. Em 1918, com o seu casamento com Assunta Scarpa, que morava em São Paulo, fixaram residência em São Caetano.

Tudo seguia como antes e a família Farina permanecia unida. Na bela casa da rua Manoel Coelho, criou o Instituto de Beleza Santa Terezinha era uma referência muito importante, principalmente pela amizade que todos da cidade dedicavam à família.

A profissão de Miguel Farina era um dom que poucas pessoas tinham (e tem), porque não se aprende apenas: é preciso ter muita sensibilidade, bom gosto e talento. Ele era cabeleireiro de senhoras e senhoritas, e foi o primeiro a cuidar dos cabelos das mulheres de São Caetano. Ele iniciou uma renovação na aparência das mulheres, com cortes e penteados novos. As novas modas eram o curtíssimo la garçonne, as ondas com ferros quentes e o misampli.

Amadeu Farina, morou, estudou e adquiriu as habilidades de barbeiro desde moço, junto com seu irmão mais velho, Miguel Farina. 

O Instituto de Beleza Santa Terezinha era uma referência muito importante, principalmente pela amizade que todos da cidade dedicavam à família.

A família Farina é, até hoje, lembrada e reconhecida como a empresa que ajudou muito no desenvolvimento de São Caetano.

Em meados de 1945, após viver longos anos com a família em São Caetano do Sul, aos 44 anos, Amadeu Farina veio morar em Campos do Jordão. Conheceu Maria de Lurdes com quem viveu junto desde 1950, quando então se uniram em matrimonio no dia 29 de maio de 1968 e tiveram três filhas.

Amadeu Farina foi um pai maravilhoso, um bom marido e um avô amoroso. Era muito querido.

Morou na antiga casa situada na esquina com a Rua Camilo de Morais, onde, por vários anos, esteve instalada a primeira Agência do Expresso Zefir, empresa que mantinha frota de automóveis para transporte de passageiros entre Campos do Jordão, São Paulo e Santos e vice-versa.

Durante os 38 anos que viveu em Campos do Jordão, fez muitos amigos.

Com as habilidades alcançadas em São Caetano do Sul e seu talento profissional, foi proprietário do “Salão Capivari”, com o ramo de corte de cabelo e barbearia. Foram nesses tempos áureos, que cortou muito o cabelo da família Matarazzo.

O último dos 13 filhos de Francisco Matarazzo, Conde Luiz Eduardo Matarazzo, veio para Campos do Jordão, com sua esposa Bianca Troise, onde possuiu várias residências, dentre elas, o sobrado situado na Chácara Vila Abernéssia, comprado da família do Dr. Reid, no ano de 1944.

Outra residência, do Alto do Toriba, propriedade situada na Av. Ernesto Diederichsen, há nos seus muros, no seu lado direito, a frase: QUIETUDE… Na tranquilidade dos montes e na liberdade dos campos…”.

Na década de 1950, com o seu talento em tocar violino, participou da famosa orquestra do Herculano Pestana, grande músico e saxofonista, animando e abrilhantando muitos bailes da cidade.

Nas horas de folga, procurava complementar seus rendimentos fazendo cúpulas de “abat-jour”, com palhinhas de espécie de junco, colhidas por ele mesmo nas proximidades de alguns lagos de Campos do Jordão, onde o material era abundante. Ao se aposentar, Amadeu Farina, foi morar na antiga rua Circulista em Vila Guarani, não deixando de fazer outros artesanatos.

Amadeu Farina faleceu em 04 de maio de 1982, deixando história, registro, memória e saudades...

 

Fontes:

 Revista “RAÍZES”, nº 37 ANO XX - São Caetano do Sul - julho de 2008;

CARNEIRO, José F. D. Imigração e colonização no Brasil. Rio de Janeiro: Universidade do Brasil, 1950;

Imigrantes Italianos no Núcleo Colonial de São Caetano do Sul – Eliane Mimesse;

Depoimento da filha, Alzira Godoy, em 29 de novembro de 2020.

Links:

https://sites.google.com/site/genealogiafarina/origem-e-significado-do-sobrenome-farina

https://pt.wikipedia.org/wiki/Dicion%C3%A1rio_Hist%C3%B3rico_das_Fam%C3%ADlias_Nobres_e_Not%C3%A1veis_da_It%C3%A1lia


Antoninho da Rocha Marmo


Antoninho da Rocha Marmo nasceu na casa de seus pais, em 19 de outubro de 1918, no bairro do Bom Retiro. Localizada na Rua dos Bandeirantes, 24 era a residência do delegado de polícia Pamphilo Marmo e de Dona Maria Isabel da Rocha Marmo. Era um lar modesto, mas muito bonito.

Naquela época, era bastante comum o parto em casa, realizado pelas mãos de hábeis parteiras. Sua mãe chamava-se Maria Isabel da Rocha Marmo.

Veio ao mundo numa época de luto para o Brasil, pois grassava em nosso país a terrível epidemia denominada “Gripe Espanhola”.

Oriundo de uma família muito religiosa, desde muito pequeno Antoninho gostava dos ritos católicos e tinha bastante apreço em celebrar missas. Sua religiosidade era tamanha que todos apreciavam observar a dedicação do garoto com sua fé.

Além da dedicação ao culto católico, comentava-se que o jovem tinha uma tinha o dom de predizer fatos futuros, e em uma destas ocasiões teria, inclusive, previsto sua morte ainda jovem.

Acreditam seus devotos que ele já nasceu predestinado. Desde cedo, revelou-se um menino diferente dos demais. De uma inteligência fora do comum e de uma bondade sem limites, adorava tudo que tivesse relação com a Igreja. Venerava o papa e todos os seus ministros e contava com inúmeros amigos entre a classe clerical. O padre Olegário da Silva Barata, um de seus maiores amigos, após a sua morte, escreveu um livro intitulado “Antonio da Rocha Marmo (Antoninho)”, aprovado pelas autoridades eclesiásticas de São Paulo. Pessoas pobres sempre recorriam ao menino quando se encontravam em dificuldades. Nunca ele deixou de atendê-las.

Certa vez foi visitar a madre superiora da casa de Misericórdia de São Paulo, a irmã Águeda, que estava muito doente. À saída, voltando-se para a pessoa que o acompanhava, disse tristonho: ”Pobre irmã Águeda; não viverá muito”. Depois, vendo ao longe diversas irmãs de caridade, falou: “Olhe, ali vai a futura madre superiora, a irmã Eugenie”. E foi o que realmente aconteceu.

Noutra ocasião, conversando com a irmã de caridade Maria Vicentina, da Congregação de São José, afirmou que a questão romana existente entre a Santa Sé e o reino da Itália seria liquidada com a vitória da Igreja pelo Sumo Pontífice Pio XI, então reinante. Antoninho tinha, nessa época, 6 anos de idade.

Cinco anos depois, em 1929, essa previsão tornava-se realidade. Um dos fatos mais surpreendentes, porém, é contado pela própria mãe do menino. Certa vez encontrava-se a um tanto, triste, pensando na doença do filho. O menino aproximou-se e disse: “não fique assim, mamãe. Eu estou doente, mas essa é a vontade do senhor”.

E qual novo São Francisco de Assis: “_A senhora está vendo aquele pintassilgo na árvore do jardim? Se eu fizer com que ele venha pousar no meu dedo e cantar, a senhora acreditará que é vontade Dele que me encontro nesse estado? E o pássaro voou de onde estava e veio cantar no dedo do menino. Tinha piedade das crianças doentes como ele e que eram menos afortunadas. Imaginou a criação de um sanatório em São José dos Campos para meninos tuberculosos pobres. Com suas próprias economias chegou a adquirir um terreno para esse fim.

Antoninho ficava embevecido vendo os padres celebrar missa na igreja local. Dom Epaminondas, que era Bispo de São Paulo, ao saber desse fato, mandou de presente para o menino, por intermédio do padre Olegário, um lindo e pequeno altar portátil, acompanhado dos paramentos necessários às cerimonias do culto católico. Antoninho armou o altar ao fundo de sua casa a ali, diariamente, passou a “celebrar” missa, assistido por dezenas de pessoas que o acreditavam assistido por poderes sobrenaturais. Sem conhecer uma só palavra de latim, lia e interpretava o missal. As cerimonias litúrgicas eram executadas com tanta fé e convicção que chegavam a atrair os incrédulos.

Dedicadíssimo aos estudos, Antoninho passava horas trancado no quarto em companhia dos seus livros escolares. Isto, porém, acabou por prejudicá-lo. E o menino foi definhando dia a dia.

Examinado por um médico, constatou-se que estava fraco do pulmão e necessitava urgentemente ir para longe da capital paulista. Doente de tuberculose, Antoninho passou a morar em São José dos Campos. Por decisão dos pais, foi transferido para Campos do Jordão.

Um dia, em Campos de Jordão, soube que fora detido um pobre homem, surpreendido com o porte irregular de um revólver, achado no mato. Antoninho interessou-se pelo caso. Demandou à Delegacia, a fim de falar ao delegado que era, então, o dr. Caio Machado Leite Sampaio. Não o encontrou. Falou ao carcereiro.

Pediu-lhe que transmitisse por favor à autoridade a sua solicitação: "Diga ao delegado assim que chegar que Antoninho quer a liberdade do preso". E como lembrete desenhou uma caricatura qualquer sobre a escrivaninha do delegado.

"_Faço esta careta no caso do sr. esquecer-se de transmitir meu recado. O delegado, vendo-a, há de perguntar quem a fez. O sr. dirá então que fui eu e fará o meu pedido".

E assim aconteceu. A autoridade ali chegando achou estranho o desenho. Interpelou o carcereiro, que lhe contou tudo. O dr. Caio Machado, com aquela bondade que lhe era peculiar, foi em pessoa à procura de Antoninho, que lhe contou do interesse em favor do seu "constituinte". O delegado, que não o conhecia, achou curioso os modos do garoto. E declarou-lhe que mandaria por em liberdade o detido. Assim o fez; porém, por medida de precaução, despachou-o para Pindamonhangaba.

O homem, profundamente reconhecido ao gesto de Antoninho, regressou a Campos do Jordão, a fim de agradecer-lhe pessoalmente, trazendo de presente uma cabra e dois cabritinhos. O garoto enternecido com a atitude do pobre camponês, fez-lhe ver que a Deus devia agradecer e não a ele, e negou-se a receber o presente, aconselhando-o a vendê-lo, pois era pobre e necessitava de dinheiro.

Descendo, dias depois, de Campos de Jordão para S. José dos Campos, compôs esta interessante quadrinha:

“Deixei o que perdi, em Campos de Jordão! Saio soldado raso. Para lá ganhar galão!”
Nessa cidade o menino criou uma verdadeira legião de admiradores.

Antoninho da Rocha Marmo, não se adaptando ao clima de Campos do Jordão, voltou, dois anos depois, para São José dos Campos. Ele nunca lamentou a sua sorte, sofrendo com resignação.

Àqueles que se mostravam tristes por sua causa, ele lhes dizia que não deviam lamentá-lo, pois “esse era o desejo do criador e a Ele era submisso”.

Seu estado agravava-se cada vez mais, todavia ele nunca se descuidava de suas atividades caridosas, ajudando os pobres, ensinando catecismo, dando conselhos e, mesmo nos dias de maior sofrimento, “celebrando” missa.

Muito consciencioso não admitia que ninguém tocasse no que era seu, a fim de não ser contagiado pela doença. Foi tratado pelos melhores médicos paulistas e fez diversas viagens a Campos do Jordão e São José dos Campos.

Mas a cruel doença acabou por tomar conta de seu organismo depauperado e, no dia 21 de dezembro de 1930, com a idade de 12 anos, ele veio a falecer. Antoninho foi sepultado no Cemitério da Consolação.

Seu enterro foi acompanhado por milhares de pessoas. Criaturas de todas as classes sociais seguiram o féretro numa última homenagem ao menino que julgavam santo.

E, numa curiosa e bem interessante coincidência, conforme uma sua anterior previsão: por acidental engano da Empresa Funerária, foi seu corpo encerrado num caixão de adulto, carregado num coche de adulto e enterrado numa cova de adulto.

A missa de 7º dia foi celebrada sem qualquer pompa, com a encomendação sobre um modesto pano preto, entre quatro velas singelas. Era satisfeita assim a sua última vontade.

O Hospital Infantil nasceu do sonho do menino Antoninho da Rocha Marmo. Vítima da tuberculose, ele idealizou um sanatório para atender crianças pobres de todo o País.

Após sua morte, em 21 de dezembro de 1930, aos 12 anos, sua mãe e um grupo de benfeitores iniciaram as obras do sanatório confiando sua administração à Madre Teresa de Jesus Eucarístico, fundadora da Congregação das Pequenas Missionárias de Maria Imaculada, que já desenvolvia um trabalho de assistência aos doentes da cidade e cujas religiosas administram até hoje.

Inaugurado em 13 de dezembro de 1952, atendeu crianças tuberculosas até a década de 1980, quando o tratamento e controle da doença tornaram-se ambulatoriais.

Atualmente, o Hospital Antoninho da Rocha Marmo é um hospital geral que atende pacientes de convênio e particulares nas áreas de Ginecologia e Obstetrícia (Maternidade), Ortopedia, Otorrinolaringologia, Urologia, Dermatologia, Cirurgia Torácica e Cirurgia Geral.

Graças à dedicação de sua mãe e de pessoas amigas que acreditaram em seus poderes sobrenaturais, essa obra pode tornar-se realidade e, naquela cidade, existiu o sanatório idealizado pelo menino.

No jardim do Hospital é possível visitar o Memorial dedicado a Antoninho da Rocha Marmo que abriga objetos que pertenceram ao menino como o altar usado por ele para celebrar missas e sua roupa de batismo.

Com o passar dos anos alguns milagres começariam a ser atribuídos a ele, como a fantástica cura de Olivia Bueno de Lima que após rezar com muita devoção ao garoto, teria escapado milagrosamente da necessidade de amputar seu braço direito.

Com o relato deste e de muitos outros milagres que surgiram, o túmulo de Antoninho da Rocha Marmo logo se tornou um local de visitação e adoração, onde as pessoas passaram a frequentar para pedir milagres ou agradecer graças alcançadas.

Milhares de nomes de pessoas, com os respectivos endereços, de toda a parte do Brasil e de outros países da América Latina e mesmo de Portugal, obtiveram graças atribuídas a Antoninho Marmo.

Muitas mães, com filhos recém nascidos ou com problemas na gravidez visitavam (e ainda visitam) o túmulo para pedir ajuda ao garoto. Muitos adultos e idosos que hoje chamam-se “Antoninho” ou “Antonio” foram assim batizados em agradecimento a alguma graça alcançada.

Da velha residência onde residiu Antoninho e sua família nada mais existe. A casa foi demolida em meados dos anos 1980 e em seu lugar foi erguido um edifício residencial.

Toda a pequena existência desse grande menino paulista, não há dúvida, extraordinária, fora assim revestida de grandes lances: reviveu, em poucos anos, nos dias da atualidade, uma vida beatífica igual à dos santos da antiguidade...

Amigo e protetor dos humildes, Antoninho tornou-se objeto de veneração e passou a ser conhecido como Santo Antoninho. Hoje em dia, é conhecido como Servo de Deus.

Há tempos fundou-se em São Paulo uma comissão pró-beatificação de Antoninho da Rocha Marmo. Foi feita uma petição com centenas de assinaturas, onde se pedia que fosse iniciado o Processo de Beatificação do mesmo. A petição vinha acompanhada de documentos devidamente legalizados onde se comprovavam os milagres realizados pelo menino. Tudo de acordo com o Direito Canônico. Ela foi entregue ao Núncio Apostólico da capital que a enviou ao Vaticano. Está sendo examinado pela Congregação para as Causas dos Santos e pelo papa. À igreja caberá, portanto, dar a última palavra sobre a santidade ou não do menino Antonio da Rocha Marmo.

O processo de beatificação e canonização de Antoninho da Rocha Marmo foi acolhido pela Igreja Católica em 2007 e encontra-se atualmente em Roma, na Congregação.

O próximo passo será a elaboração do “Positio”, um documento que reúne evidências sobre a vida, virtudes e fama de santidade do candidato a santo.

No Hospital Antoninho, as religiosas recebem com frequência relatos de curas ocorridas por intercessão do menino. Os relatos e as provas serão avaliados posteriormente pelo Vaticano.

O Memorial Antoninho da Rocha Marmo, inaugurado em 28 de fevereiro de 2016, abriga pertences do menino, como uma estola, pala (cartão guarnecido de pano branco com que o sacerdote cobre o cálice), chave do quarto, terço, ostensório e castiçal que estavam sob os cuidados da Congregação das Pequenas Missionárias de Maria Imaculada, responsável pela administração do Hospital. Conta ainda com objetos doados por parentes de Antoninho.

Os visitantes do Memorial também podem conhecer mais sobre a história de Antoninho por meio de painéis fotográficos, documentos históricos, documentos da abertura do processo de canonização e livros sobre o menino. Também faz parte do Memorial um filme que conta a história de Antoninho. O Memorial foi uma doação do advogado Alfredo Camargo Penteado Neto, que é autor do Processo de Beatificação e Canonização de Antoninho.

Fontes:

Site oficial de Antoninho, construído pela Sra. Leonor Rocha Ferreira, prima de 1º grau de Antoninho e o Banco de Dados do Folha de São Paulo);

Revista “O Cruzeiro”, de 11 de dezembro de 1954; Ano XXVII nº 9.

Links:

http://www.memoriall.com.br/0102A/2018/#.V5-WxvkrI_4

https://www.antoninhomarmo.org.br/hospital/o-menino-antoninho

https://saopauloantiga.com.br/antoninho-da-rocha-marmo/

http://www.santosebeatoscatolicos.com/2015/04/servo-de-deus-antoninho-da-rocha-marmo.html

https://www.ovale.com.br/_conteudo/nossa_regiao/2019/10/89915-hospital-tem-programacao-para-celebrar-101-anos-de-antoninho-da-rocha-marmo.html


Augusto Lewin


Nascido a 06 de dezembro de 1863, em Estocolmo (capital da Suécia), o decano da colônia sueca do Rio de Janeiro, sr. Augusto Lewin, teve suas atividades consagradas a vários setores de trabalho no Brasil, para onde veio, depois de vida acidentada no estrangeiro.

Aos 15 anos ingressou na Marinha de Guerra sueca. Depois de três anos de estudos teóricos e práticos em uma galera inglesa, seguiu para Alexandria, no Egito, sendo admitido na sua Marinha de Guerra como subtenente. Depois do bombardeamento de Alexandria pelos ingleses, o Egito foi considerado, protetorado inglês.

Em 1887 como capitão, serviu no comando da Guarda da Costa, entre Porto Said e Sudan. Serviu sob as ordens do general Kitchener. Durante o seu comando em Suez, o sr. Lewin teve muitos encontros sangrentos com os piratas árabes, tendo sido condecorado por seus atos de bravura.

Depois de cinco anos de serviço ativo, adoeceu, sendo transportado para Londres, onde foi operado. A conselho médico deixou o serviço da armada, ficando licenciado.

Em Londres fez relações com um professor brasileiro da Escola Politécnica e, a seu conselho, veio para o Rio de janeiro em 1889, no tempo do Império, embarcando em seguida para a Bahia, contratado para serviços de medição de terras.

Nesse Estado não chegou a iniciar as suas atividades porque a comissão de que fazia parte foi dissolvida. Voltou ao Rio de janeiro e dali embarcou para Minas Gerais.

Os seus primeiros anos de atividades, dedicou-os à exploração de diversas estradas de ferro, nos Estados de Minas gerais e São Paulo. Trabalhou sob as ordens de Pereira Passos na exploração da linha Bom Jardim-Turvo, numa extensão de 45 km.

Terminado esse trabalho, o sr. Lewin empregou-se na Estrada Inglesa Minas e Rio, como ajudante de chefe de linha permanente de Cruzeiro a Três Corações, com residência a Passa-Quatro. Empregou depois suas atividades na linha dupla de São Paulo Raylway.

Mais tarde serviu na comissão de construção de Belo Horizonte, na sua seção de arquitetura, sob a direção do dr. José de Magalhães. Com este engenheiro mediu as terras de Campos do Jordão, na execução do contrato firmado entre este profissional e o dr. Domingos Jaguaribe.

O sr. Augusto Lewin dedicou-se depois à indústria de laticínios, voltando sua atenção para a fabricação da manteiga e do queijo no interior do Brasil, principalmente no Estado de Minas Gerais, importando para esse fim, máquinas da Suécia. Na cidade de São João Del Rey, abriu a firma “Goursand & Lewin”, loja de atacado de gêneros do Brasil e estrangeiro, estabelecendo à rua Marechal Bittencourt, nº 15 (antiga rua do Comércio), em São João Del Rey, a “Casa Barateza”. Seu lema era: “Anunciar é pescar freguês; não anunciar, perder a vez!

Em 1893, impressionado pela eloquência das cifras com as importações, e observando as enormes riquezas pastoris que o país possuía, resolveu seguir para a Suécia, a fim de estudar a indústria de laticínios, e depois de quatro meses de estudos, voltou ao Brasil, trazendo, para demonstração e propaganda, uma instalação completa de Estocolmo.

Com esta instalação o sr. Lewin iniciou sua propaganda, fazendo demonstrações em diversos distritos pastoris nos Estado de Minas Gerais, São Paulo e Rio de janeiro.

Só após essas experiências é que começou verdadeiramente o impulso da indústria de laticínios no Brasil.

Em 1899, estabeleceu-se definitivamente no Rio de Janeiro, com representações e importação de maquinismos para a indústria, lavoura e construções; adicionando, mais tarde, uma seção de compra e venda de mecanismos, especialmente material de estradas de ferro. Durante sua atividade no comércio, conseguiu formar uma fortuna considerável.

No Rio de Janeiro, foi o representante geral no Brasil da Companhia “Radiator” de Estocolmo, Suécia.

Sua loja, “Casa de Máquinas”, situava-se na Rua Barão de São Felix º 144. Com a assistência do sr. Ministro da Viação, Dr. Alfredo Maia, realizou na Sociedade nacional de Agricultura uma experiência com a máquina “Radiator” para o fabrico de manteiga. Perante o grande número de pessoas presentes, o sr. Lewin começo por desmontar a máquina, explicando a função de cada uma das peças que a compõem.

Armado depois o aparelho, deu-se princípio ao funcionamento, movido, à mão, e em 15 minutos, trabalhados 10 litros de leite, foram obtidas 500 e tantas gramas de manteiga, de excelente aspecto e bom gosto. Compareceram à Sociedade mais de 60 pessoas entre as quais, além do dr. Moura Brasil, presidente da Sociedade, os membros da diretoria, os srs. Dr. Severino Vieira, ex-Ministro da Viação, coronel Page, ministro dos EUA, vários médicos, jornalistas, advogados, fazendeiros, comerciantes, engenheiros industriais, etc., que muito aprenderam a experiência.

Em 1920, foi o sr. Lewin condecorado pelo seu Rei, Gustavo V, com a Ordem de Vasa 1ª classe, pelos seus atos filantrópicos durante a 1ª Grande Guerra e pela presteza que sempre mostrou em auxiliar seus patrícios e amigos em finanças e conselhos, como também pelos bons serviços prestados à sua pátria.

A Ordem de Vasa 1ª classe é concedido aos cidadãos suecos que prestam serviço para o Estado e para a sociedade, especialmente nas áreas de agricultura, mineração e comércio. Ela foi instituída em 29 de maio de 1772 pelo rei Gustavo III. Gustavo V foi Rei da Suécia de 1907 até sua morte em 1950. Era o filho mais velho do rei Oscar II da Suécia e da rainha Sofia de Nassau.

O sr. Lewin casou-se em 27 de novembro de 1892, com a sra. Adele Luize Hartwig, constituindo uma numerosa prole: Bertha, Ida, Augusto Clarence Lewin, Harry Mauritz Lewin.

Em 1929, afastou-se definitivamente da atividade comercial. Faleceu aos 77 anos, em 30 de setembro de 1940 e foi sepultado no cemitério de São João Batista, no Rio de Janeiro.

 

Fontes:

Jornal “Jornal do Commercio”, de 28 de novembro de 1892; 11 de outubro de 1898;

Jornal “O Resistente”, de 20 de outubro de 1898;

Jornal “Gazeta de Notícias”, de 29 de janeiro de 1900;

Jornal “A Imprensa”, de 01 de fevereiro de 1900;

Jornal “A Notícia”, de 25 de maio de 1909;

Almanak Laemmert: Administrativo, Mercantil e Industrial. RJ. 1925

Jornal Correio da Manhã”, de 06 de dezembro de 1933;

Jornal “A Nação”, de 29 de março de 1934.


Baby Gonçalves.



Florence Staffords Gonçalves (Baby Gonçalves), formou-se em Puericultura na Escola da Cruz Vermelha Brasileira na Escola Normal “Caetano de Campos”, São Paulo. Recebeu o diploma e a braçadeira, símbolo da profissão, a 05 de dezembro de 1941.

Grande senhora da sociedade bandeirante, em 1934, foi eleita e empossada para o cargo de Diretora Conselheira do Conselho Diretor da Cruzada Pró-Infância de São Paulo. Esteve à frente do cargo, ainda, nos anos de 1944 e 1952.

Participou do Conselho Diretor da Associação Cívica Feminina de São Paulo, e da Comissão de Assistência e Proteção aos Menores, em 1935

Realizou e participou de muitas campanhas de donativos, chás beneficentes, dançantes, teatros, cinemas, missões salesianas, saraus dançantes, bailes, Bridges beneficentes para crianças abandonadas, semanas da bondade, coqueteis dançantes e muitas outras campanhas de filantropia.

Em Campos do Jordão, Dona Baby Gonçalves foi uma das grandes benfeitoras de várias entidades assistenciais da estância, como os Sanatórios Populares de Campos do Jordão, e no auxílio da construção e implantação do Éden Ginasiano, muito importante para a juventude daquele espaço de tempo.

Foi fundadora da Escola de Enfermagem “Baby Gonçalves”, criada no dia 13 de junho de 1988.

A Escola passou a integrar-se na Fundação Regional Educacional de Campos do Jordão (FUNCAMP), em 23 de abril de 1985, mantendo sua autonomia administrativa, financeira e patrimonial pela Lei nº 1488 de 23 de abril de 1985 até 08 de março de 1991, quando foi revogada pela Lei nº 1804.

Baby Gonçalves casou-se com João Gonçalves, filho do Comendador Albino Dias Gonçalves. Faleceu a 26 de dezembro de 1980.

Albino Dias Gonçalves, chefe de numerosa família, sua esposa, Julieta Gonçalves, tinha 9 filhos: João Gonçalves, casado com Baby Gonçalves, Marianna, Augusto, Carlos, Odette, Nestor, Benny, Alice e Diva. Netos; Ricardo Albino, Maria Cecília e Roberto João.

Albino Dias Gonçalves, era natural de Arrabães, (aldeia das redondezas da Vila Real) Portugal, chegou ao Brasil com 10 amos de idade e tornou-se um grande industrial, pessoa da alta sociedade do Rio e São Paulo. Uma das mais notáveis figuras da colônia portuguesa do Brasil, Fundador e diretor-presidente da Cia. Paulista de Papeis e Artes Gráficas (COPAG), e uma das maiores organizações do gênero em todo o país. Associado a vários estabelecimentos fabris relacionados com as Artes Gráfica, tanto em SP quanto no RJ, onde era sócio da Fábrica de Pennas de Aço “Brasil” Ltda e da Cia. Nacional de Papel.

A Copag é uma das empresas pioneiras na fabricação de baralho no Brasil. Foi fundada em 1908 no município de São Paulo, sob o nome de Companhia Paulista de Papéis e Artes Gráficas. Inicialmente, produzia itens de papelaria, como envelopes e blocos de papel. É em 1918 que se iniciou a produção de baralhos pela técnica litográfica. Por volta de 1930, passou a utilizar a impressão offset e assumiu a liderança na produção nacional de baralhos.

Albino Dias Gonçalves desfrutava elevado conceito e grande círculo de amizades, tanto pelas suas grandes qualidades de espírito e coração, como de grande animador da indústria nacional em vários de seus setores, faleceu a 26 de fevereiro de 1939.

Em 22 de julho de 1967, a diretoria da Santa Casa homenageou Florence (Baby) Gonçalves, inaugurando placa com seu nome em uma das enfermarias do hospital.

Fontes:

Revista “A Lusitania”, 1929

Revista “O Mundo Ilustrado”, 1954

Revista “Sombra” (RJ) 1950; 1953

Revista “Revista Rio” (RJ) 1954

Jornal “Correio da Manhã”, de 28 de fevereiro de 1939;

Jornal “Correio de São Paulo”, de 17 de maio de 1933; 20 de dezembro de 1934; 27 de julho de 1935;

Jornal “O Jornal”, de 05 de março de 1939;

Jornal “Correio Paulistano”, 19 de dezembro de 1934; 12 de outubro de 1935; 06 de dezembro de 1941; 03 de fevereiro de 1944; 24 de agosto de 1952

Jornal “Diário da Noite”, de 07 de julho de 1943;

Link:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Copag

Vô Carmo Muniz



Encravado nas exuberantes montanhas da Serra da Mantiqueira, a 1200m de altitude, a 18km de Campos do Jordão, existiu um pequeno sítio, isolado, onde viveu uma família mineira.

No ano de 1958, uma família de lavradores do Bairro dos Pintos em Piranguçú, trazendo a mudança em um cargueiro formado por cavalos, burros e mulas, encontrou no Bairro dos Marmelos, um paraíso para viver.

A família arrendou um sítio no bairro, Era o “Sítio do Vô Carmo”. O nome não é em vão, pois, representava o patriarca da família. Bairro de São Roque, é o nome do vilarejo que o abrigou. As águas da Fonte São Lourenço, da Fazenda Tabatinga, o ar puro, e o verde dos campos não faltavam, com direito ao vislumbre das corredeiras do Rio Sapucaí!

O patriarca, Carmo da Silva Muniz, nascido a 22 de outubro de 1923, era um homem simples, honrado, de grande caráter, dignidade e respeito, casou-se com a matriarca, itajubense, Maria José Muniz, a 20 de outubro de 1951, fiel esposa, ornada de dotes e talentos.

Com muita garra e sabedoria, trabalhando firme no plantio de milho e feijão, criaram os 12 filhos: Maria Leonina; Maura; Celso; Ana; Rubens; Célia; Djalma; Cássio; Carmo Muniz Filho; Rita de Cassia; Eduardo e Evaldo. “Muniz”, era uma família muito grande.

Em 1963, passados exatamente 5 anos, sr. Carmo Muniz, foi o precursor na construção de uma escola rural. Sob orientação do diretor, prof. Eduardo Pinto de Souza e com uma lista de alunos, foi à Diretoria de Ensino da cidade de Pindamonhangaba e deu início ao processo. Não economizando esforços, imbuído de perseverança e muita dedicação, conseguiu que seus filhos e as crianças da comunidade, tivessem aulas no bairro Tabatinga.

De início, a sala de aula era no salão de festas da Igreja de São Roque.

De início, a sala de aula era no salão de festas da Igreja de São Roque. A primeira professora foi Wilma de Oliveira Andrade, da cidade de Pindamonhangaba; depois, Eunice Carlota e em seguida, Maria José Rodrigues Alves. Não tinham onde pernoitar, assim várias professoras ficaram em sua casa.

Em 27 de novembro de 1972, dr. José Arthur da Motta Bicudo, ex-prefeito sanitário de Campos do Jordão, desmembrou das terras de sua propriedade no Vale dos Marmelos (Fazenda Tabatinga), 1560m2, doando por escritura pública, à Prefeitura de Campos do Jordão, para a instalação da Escola de Emergência do bairro Tabatinga, para atender a população da região. Alguns anos depois, a escola recebeu reformas, com as contribuições do dr. Nelson Guimarães Proença e Dr. Miguel Reale Junior.

Em 18 de dezembro de 2019, a escola que atendia pelo nome de Escola de Educação Infantil e de Ensino Fundamental I “José Arthur da Mota Bicudo”, por força de decreto, e a pedido da Secretaria Municipal de Educação, foi desativada, passando os alunos a frequentarem as escolas da zona urbana do município.

A igreja de São Roque, subordinada à Curia Diocesana de Taubaté, ficava no Morro do Miranda, longe do povoado. O Sr. Carmo Muniz, um dos benfeitores, promovia, ajudava e realizava muitas das festas religiosas. Os famosos e recheados "cartuchos eram um sucesso só!

Ainda em 27 de novembro de 1972, sr. Carmo Muniz, em colóquio com o ex-prefeito, dr. José Arthur da Motta Bicudo, para a construção da nova Igreja, conseguiu um pedaço de terra, com o fito de trazê-la para mais perto do bairro; pois, lá no alto do Morro do Miranda, o padre tinha que ir e voltar a cavalo, o que era muito sacrificado. Com sua persuasão que lhe era própria, cheio de humildade e sabedoria, sua voz calma e educada, não só conseguiu o terreno para a nova igreja, como também para a Casa da festa e o Coreto!

Em Campos do Jordão, sr. Carmo Muniz foi membro conselheiro da antiga “Casa do Agricultor”.

Mas, não parou por aí. Há quatro décadas, Carmo da Silva Muniz e Maria José Muniz, com as primeiras vacas da propriedade rural da família, localizadas no bairro Tabatinga, aproveitaram para produzir e vender queijos.

Deixando o trabalho em Piranguçú, vieram para produzir queijos no interior de São Paulo. Era só descer a estradinha de São Roque, no bairro dos Marmelos, pouco depois de São Roque e num acesso que se encontra à esquerda, cercado de morros por todos os lados, o casal transferiu toda a energia e trabalho duro para produzirem os queijos mais deliciosas da região. Levantava todos os dias às 6 horas da manhã, com seu chapéu de aba curta, punha as mãos na massa para ordenhar as vacas. E o brilho nos olhos, quando tirava o leite? Do curral, o leite ia para a cozinha, onde era transformado pelas mãos de dona Maria José Muniz, matriarca da família, e de lá saíam os queijos, conhecidos como prato, meia-cura, nozinho e fresco. Os filhos conheceram a produção na infância... a ordenha, a caneca de leite espumante, quentinho... Qual deles não tomou?

Verdadeiras obras de arte que eram feitas à mão a partir do leite cru. O sr. Carmo Muniz foi um bom professor e os filhos aprenderam a lição.

Orgulho de estar no sítio, produzindo queijos todos os dias, mais o cheiro de curral, de terra molhada e do queijo, era como sangue em suas veias.

Sr. Carmo Muniz foi mais além. Conseguiu abrir pequenos leques de clientes em lugares diferentes. O sistema de entrega e a distribuição dos queijos era feita num “Fusca Azul”.

Para armazenar os queijos, conservando-os frescos e assim poder rodar com eles, apresentando e vendendo a seus clientes, o produto era muito bem acondicionado e embalado. Utilizava equipamentos como caixas térmicas e isopores devidamente higienizados e a entrega ocorria dentro do prazo. Primeiro nas vizinhanças, até chegar em Campos do Jordão, no armazém de Mário Luiz Esteves e outros locais da cidade. Não só queijos, mas também, ovos caipiras, porcos.

No “Fusca Azul”, onde levava os queijinhos que sua esposa fazia, gostava de ouvir sua música preferida, “Cochilou, o cachimbo cai”, de Tião Carreiro.

Seu destaque e benefício era o fato de que ele sempre ia até o local ou pessoa, o que se tornava uma comodidade para os seus clientes que estavam sempre à sua espera para comprar seus produtos.

Sr. Carmo Muniz exercia as vendas de maneira bem espontânea e alegre. Era comunicativo e tinha uma boa relação com o público.

Com sol ou chuva, com o calor ou com o frio, os clientes podiam esperar, que o sr. Carmo Muniz chegava com o melhor queijo da roça e tinha fregueses que quase entravam dentro do “Fusca Azul” para garantir o seu queijo! Foi um pequeno produtor rural. Sua família foi referência no mercado e região.

Toda vez que chegava em Campos do Jordão, vinha até o centro da cidade, com sua calma que lhe era peculiar e sua voz baixa, muito educado e sempre disposto a ajudar, passava na sala do Gabinete do prefeito para tomar um café com o assessor, Jarmuth Rodrigues Andrade e não raro, pelo fato de conversar bem e agradar a todos com sua boa comunicação que era sua especialidade, dava um alô ao prefeito, além da grande amizade com o Vice, dr. Jair Rocha Pinheiro com quem mantinha longos papos.

Daí podia marcar no relógio e aguentar a “cara feia” do pessoal que estava agendado, pois o papo dos dois ia longe...

Aprouve a Deus, chamar o Seu filho, Carmo Muniz, no dia 01 de abril de 2010, e sua esposa, Maria José Muniz, em 15 de março de 2017, aos 82 anos de idade.

Sr. Carmo da Silva Muniz e dona Maria José Muniz, amaram o que fizeram, e como amaram! Trabalharam com alegria, dinamismo, ética, humildade, simplicidade, sorriso, e claro, muito amor!

E as misericórdias de Deus sobre a vida do casal não pararam de descer sobre eles. Um dos netos, Evandro Abiel Vieira Muniz, homem bom, de quem Deus é Pai e proteção, no dia 23 de janeiro de 2021, respondendo ao chamado de Deus, uma vocação celestial, consagrou-se ao Santíssimo Redentor, e se encontra no Seminário Redentorista Santíssimo Redentor, na cidade de Santa Bárbara D’oeste, MG.

Batalhadores, guerreiros, diamantes lapidados por Deus. Um homem e uma mulher de valor. Com este arremate da linguagem da ternura, encerro esta crônica.


Amadeu Carletti Junior



Amadeu Carletti Junior, cidadão jordanense, exerceu inúmeras atividades para o bem da população jordanense. Grande incentivador do progresso de Campos do Jordão, teve estritas relações com o esporte futebolístico, junto à Associação Atlética Jaguaribe, onde foi um de seus mais importantes dirigentes.

Grande colaborador e incentivador do esporte, o que lhe garantiu, com mérito, a perpetuação de seu nome no Estádio de Futebol de Vila Jaguaribe, pelo decreto Municipal nº 873 de 29 de setembro de 1979, na gestão do prefeito Fausi Paulo. É o Estádio Municipal Amadeu Carletti Junior.

Na área política, foi vereador na Câmara Municipal de Campos do Jordão, na sexta legislatura, de 01 de janeiro de 1969 a 31 de janeiro de 1973, exercendo a Presidência no período de 01 de fevereiro de 1972 a 31 de janeiro de 1973. Prestou relevantes serviços ao município e à população, durante todo o tempo em que desempenhou suas funções.

Exerceu atividades filantrópicas, em várias entidades assistenciais de Campos do Jordão: Sociedade de Educação e Assistência – SEA, trabalhando para a obra de frei Orestes Girardi; Sociedade de Educação de Jaguaribe – SEJA, Santa Casa de Campos do Jordão e Rotary Club de Campos do Jordão.

Dedicou-se com seriedade e afinco, em todas as atividades que visavam ao aprimoramento do ensino, esporte, cultura, artes, procurando a valorização e o engrandecimento do ser humano de todas as camadas sociais.

Amadeu Carletti Junior foi casado com a Sra. Esmeralda Pereira Carletti, filha de Evaristo José Pereira, pioneiro de Vila Guarani e Irmã de Afonso José Pereira, Benedito Evaristo Pereira e Vicentina Pereira. Teve o casal de filhos, Márcio e Márcia. Faleceu a 11 de fevereiro de 1977

Em 1945, Amadeu Carletti Junior ingressa na CASA INCOS, com a função de auxiliar de administração até 1956, quando assumiu a gerência da Companhia, responsável pela distribuição e abastecimento da construção civil local e permaneceu até 1977.

Nas décadas de 1940-1950, Campos do Jordão progrediu rapidamente graças às inúmeras e sólidas organizações que funcionavam na cidade, e que vinham contribuindo decisivamente para que a cidade se tornasse o que é hoje, uma das mais procuradas estâncias de veraneio do estado de São Paulo.

E, nesse setor, destacou-se a “CASA INCOS” que esteve estabelecida à rua Orivaldo Lima Cardoso, 160, em Vila Jaguaribe, e fornecia materiais para construções em geral. A maioria das casas, prédios, sanatórios e hotéis de Campos do Jordão foram construídos por engenheiros e empreiteiros que utilizaram em suas construções os materiais fornecidos pela CASA INCOS.

Foi a mais completa organização do gênero na cidade funcionando numa área total de 8.860 mts2, representante dos mais afamados produtos da capital.

A CASA INCOS foi fundada em 1928, por Orivaldo Lima Cardoso, possuindo uma área coberta de 1.600 mts2. Era depositária e vendedora dos produtos Eternit, Cerâmica São Caetano, Eucatex, Rádios Philips, contando ainda com grande estoque de cal, cimento, madeiras em geral, possuindo ainda completa seção de marcenaria e carpintaria, ladrilhos, telhas, ferragens, tintas, etc. Era também representante da Liquigás do Brasil S/A, para as praças de Campos do Jordão, Santo Antonio do Pinhal e São Bento do Sapucaí.

A CASA INCOS foi transformada em 16 de outubro de 1943, para Companhia Industrial e Comercial de Campos do Jordão S/A, sendo os sócios, Orivaldo Lima Cardoso Presidente), Alexandre Mckerrow (Vice-presidente), Alaor de Souza Ablas, Avelino Gonçalves da Silva, Raul de Oliveira, Amy Edith Arnaud e Floriano Rodrigues Pinheiro. Possuía uma filial na av. Januário Miráglia em Vila Abernéssia, especializada em artigos para presentes em geral.

Uma nova sociedade anônima foi firmada em 30 de junho de 1966, tendo como Diretor, José Carlos Pereira de Carvalho e Presidente, Plinio Rossi de Carvalho.

Amadeu Carletti Junior, foi homenageado de acordo com o projeto de lei nº 415/79, da autoria do deputado Armando de Souza Pinheiro, transformado na Lei Estadual nº 2.172 de 14 de novembro de 1979, e sancionada pelo governador Paulo Salim Maluf, pela primeira Escola da Vila Britânia, em Campos do Jordão, inaugurada no ano de 1950, pelo Prefeito Paulo Cury. Posteriormente, uma nova escola foi inaugurada no ano de 1962. No dia 26 de fevereiro de 1970 na gestão do Prefeito Municipal, Dr. José Antonio Padovan, foi inaugurado o novo prédio da escola da Vila Britânia. A escola passou a ser denominada EEPG - Escola Estadual de Primeiro Grau “Amadeu Carletti Junior”.

Em 14 de novembro de 2007, o prefeito João Paulo Ismael, pelo decreto nº 5788, deu a denominação do Anexo II da EMEF Amadeu Carletti Junior, “Maria José Ávila”.

Em 30 de dezembro de 2020, uma nova escola foi inaugurada e denominada Profª. Maria José Ávila (Professora Zezé) que abrigará a Escola Municipal Amadeu Carletti, de Vila Britânia.

Maria José Ávila, mais conhecida como professora Zezé, nasceu a 2 de junho de 1930, em Agudos, SP. Filha de Hermógenes Martins de Ávila e Helena Aquino Ávila, é mãe de Helena Maria Ávila de Castro e tem dois netos: Bruno e Mauro.

Licenciada em Pedagogia e Psicologia pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras “Sedes Sapientiae” da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, também é especializada em Orientação Educacional.

Diretora da Escola Nicola Padula e Presidente da Academia Jordanense de Letras, artista plástica premiada, escritora de primeira qualidade, amante da música e grande conhecedora das artes, Maria José Ávila é um ícone cultural é uma das principais personagens da cultura de Campos do Jordão.

Fontes:

Jornal “Correio Paulistano” de 29 de setembro de 1946; 22 de abril de 1959;

Links:

http://camposdojordao.sp.gov.br/Noticia/?i=2094&c=3;

https://consultacnpj.com/cnpj/companhia-industrial-e-comercial-de-campos-do-jordao-sa-casas-incos-46743290000164.



Comendador Antonio Rodrigues Alves


Em 1911, o Comendador Antônio Rodrigues Alves e sua mulher, Maria Francisca, compraram terras em Campos do Jordão.
Dessa data até 1923, o Comendador Antonio Rodrigues Alves, figura de grande projeção na política de Guaratinguetá, homem conceituado e poderoso, irmão mais velho do presidente do Brasil, Francisco de Paula Rodrigues Alves, foi proprietário em Campos do Jordão, de uma grande área de terras, adquiridas do dr. Robert Jonh Reid, de 18 alqueires. Ela começava à beira da via férrea e terminava no Salto, que é hoje o manancial de águas da cidade. Dentre elas, da Rua Ribeiro de Almeida.

Em 15 de fevereiro de 1912, o Comendador Antonio Rodrigues Alves importou da Europa, 400 mudas de árvores frutíferas, e remeteu para serem plantadas na propriedade agrícola que possuía em Campos do Jordão.

Em 10 de julho de 1912, regressando de Campos do Jordão, o Comendador Antonio Rodrigues Alves foi vítima de um desastre, no carro em que regressava dessa localidade. Já era noite, quando o lamentável acidente se deu, por se haverem os animais se desviado da estrada, precipitando-se num barranco, à margem do caminho. O desastre deu-se já em terras de Guaratinguetá, na invernada de dona Francisca Marcondes. Além do Comendador, ficaram contundidos o sr. Pedro Marcondes Leite, prefeito municipal, que com ele viajava, e o boleeiro do carro.

Em 1921, Dom Epaminondas Nunes de Ávila e Silva, Bispo Diocesano de Taubaté, nomeou-o para a presidência da Comissão de Obras da Igreja Matriz e Casa Paroquial dos Campos do Jordão, daquele Bispado.

No ano de 1923, o Comendador Antonio Rodrigues Alves e sua esposa, alienaram a área a Luiz Ferreira Tinoco, que a transferiu ao Dr. Claro César. Os herdeiros de Claro César venderam-nas para Diogo de Toledo Lara, que ali implantou a Vila Paulista.

Por influência do Comendador Antonio Rodrigues Alves, irmão do presidente do Estado, Conselheiro Francisco de Paula Rodrigues Alves, em 30 de novembro de 1915, o Congresso Estadual autorizou o governo a encampar a estrada de ferro.

Inicialmente operando com apenas duas locomotivas a vapor e alguns carros de passageiros, eram realizadas apenas três viagens semanais na estrada, o que somado à relativa precariedade dos equipamentos, logo resultou na insolvência da ferrovia, que foi encampada pelo Governo do Estado de São Paulo.

Na qualidade de Presidente do Estado de São Paulo, Rodrigues Alves promulga a lei n°1486, de 15 de dezembro de 1915, que autorizava a encampação da ferrovia pelo Estado. A ferrovia recebeu a denominação de Estrada de Ferro Campos do Jordão.

Durante o período em que a ferrovia esteve sob a tutela de Sebastião de Oliveira Damas, findado com a encampação desta pelo Governo do Estado a 15 de dezembro de 1915 pela Lei nº 1.486, o empreiteiro levou a efeito a conclusão de cerca de 4 quilômetros de via até as imediações da Vila Jaguaribe, restando aproximadamente 800m para a conclusão da Estrada em toda sua extensão.

O Comendador Antonio Rodrigues Alves nasceu a 03 de maio de 1845 em Guaratinguetá. Era filho de Domingos Rodrigues Alves e Izabel Perpetua de Marins. Casado com Maria Francisca Galvão de Franca, pertencente à grande família Galvão de França (Frei Galvão).

O início de sua vida ativa foi no comércio do Rio de janeiro, para depois fixar-se definitivamente na lavoura de Guaratinguetá onde era adiantado fazendeiro, agricultor e lavrador.

Entrou na política em 1868, filiando-se ao Partido Conservador, chefiado nesse município pelo Visconde de Guaratinguetá.

Foi provedor da Santa Casa de Misericórdia onde prestou relevantes serviços.

Quando a cidade foi invadida pela varíola, ficou o comendador Antonio Rodrigues Alves encarregado de direção dos socorros aos enfermos, para o que foi forçado a separar-se de sua família e arcar com milhares de dificuldades, aliás sem ter a quem recorrer devido ao abandono da cidade, pela maior parte da população.

Foi condecorado com a Comenda da Imperial Ordem da Rosa, uma ordem criada em 17 de outubro de 1829 pelo imperador D. Pedro I, para perpetuar a memória de seu matrimônio, em segundas núpcias, com a austríaca, Dona Amélia de Leuchtenberg, um dia após sua chegada ao Brasil. Após o banimento da família imperial brasileira, a ordem foi mantida por seus membros em caráter privado, sendo seu grão-mestre o chefe da casa imperial brasileira.

A ordem premiava militares e civis, nacionais e estrangeiros, que se distinguissem por sua fidelidade à pessoa do Imperador e por serviços prestados ao Estado, e comportava um número de graus superior às outras ordens brasileiras e portuguesas então existentes.

Assim, a Comenda da Imperial Ordem da Rosa lhe foi, mui justamente, conferida pelo governo monárquico por “serviços prestados à humanidade”.

No antigo regime, ainda teve o comendador Antonio Rodrigues Alves diversas comissões do governo, todas gratuitas, nas quais prestou relevantes serviços, tendo sido ainda Juiz Municipal suplente.

Proclamado o regime republicano, o Comendador retirou-se da política, até que, por ocasião da revolta de 1893, no governo do dr. Bernardino de Campos, foi procurado com empenho para aceitar o espinhoso cargo de Delegado de Polícia, que desempenhou o mais distintamente possível.

Foi depois eleito vereador municipal, tendo ocupado os cargos de Presidente da Câmara e de Intendente. As estradas municipais, e os melhoramentos daquele tempo que gozava a cidade, patentearam suficientemente a sua passagem por aqueles cargos.

Diretor-presidente do Banco Popular de Guaratinguetá. Fez parte do Conselho Fiscal da Companhia Paulista de Calçados de Guaratinguetá em 1912.

Fundou em 1902, com seu irmão, Francisco de Paula Rodrigues Alves, ex-presidente da república, a Companhia Fiação e Tecidos Guaratinguetá,

A Companhia fabrica e exporta seus produtos, cobertores, colchas e edredons, para diversos países.

O Comendador Antonio Rodrigues Alves faleceu a 20 de dezembro de 1927, com 83 anos de idade, vitimado por uma síncope cardíaca, e sepultado no cemitério de Guaratinguetá.

Fontes:

Jornal “Gazeta de Notícias”, de 05 de janeiro de 1890;

Jornal “O Paiz” de 27 de setembro de 1904;

Jornal “Correio Paulistano”, 20 de novembro de 1906; 16 de fevereiro de 1912; 10 de julho de 1912; 25 de dezembro de 1917;

Revista da Semana, de 07 de janeiro de 1928;

Almanak Laemmert: Administrativo, Mercantil e Industrial (RJ) - 1891 a 1940;

QUEIROZ, Antonio Carlos dos Santos. Impacto econômico das escolas de especialistas de Aeronáutica no Município de Guaratinguetá SP. Antonio Carlos dos Santos Queiroz. 2013;

Camila Borges da Silva. As Comendas Honoríficas e a Construção do Estado Imperial;

Marly Rodrigues - Estrada de Ferro Campos do Jordão, uma abordagem;

Pedro Paulo Filho - História da Estrada de Ferro Campos do Jordão.


Condelac Chaves de Andrade



Condelac Chaves de Andrade, chegou a Campos do Jordão na década de 1930. Era homem caboclo de pele manchada, olhos esverdeados, cabelos negros e lisos, que, penteados para trás, teimavam em repartir-se e cair para os lados.


Casado com a professora Dulce Chaves de Andrade, filha de italianos, baixinha, alourada, ainda que forte, professora do Grupo Escolar Municipal Rio Branco, atual Escola Monsenhor José Vita, na década de 1950.

Pareciam felizes, com seus 8 filhos: Condelac Bueno Chaves; Ana Maria Chaves de Andrade; Márcio Chaves de Andrade; José Adriano Chaves de Andrade; Márcia Chaves de Andrade; Dulce Rita Chaves de Andrade; Jordão Chaves de Andrade e Lyria Chaves de Andrade, numa casa cheia de livros.

O “Conde”, como era chamado, tinha muito pouco que fazer numa cidade pacata como Campos do Jordão.

Como Investigador de Polícia, cuidava de alguns pequenos furtos e, de raro em raro, de um crime passional; e o policiamento no cassino do Grande Hotel.

A maior parte de seu tempo dedicava a escrever um romance que não terminava nunca, “O Inferno de São Sebastião”.

Foi nosso primeiro historiador, autor do “Álbum Almanaque Histórico de Campos do Jordão”, editado no ano de 1948, registrando os fatos mais importantes da história de Campos do Jordão, fundamental para a pesquisa de todos os historiadores que o sucederam.

Foi provedor do Hospital-maternidade “Dr. Adhemar de Barros”, por mais de 30 anos. Cuidava das obras da Santa Casa de Misericórdia que também parecia interminável, porque se ia construindo aos bocadinhos, conforme entrava o dinheiro.

Lutou pela construção do Hospital-Maternidade “Dr. Adhemar Barros”, cuja inauguração assistiu em 25 de janeiro de 1943, e que, na madrugada de 29 de julho de 1945, testemunhou o pavoroso incêndio que destruiu aquele nosocômio, depondo:

“Descrever o que foi o dantesco espetáculo é difícil, mas esquecer as cenas lancinantes que ele ofereceu é impossível.”

Nos serviços de salvamento do hospital, honra seja feita ao heroico povo de Campos de Jordão, que deu sobejas provas de solidariedade humana, destacando-se os srs. Pedro Rabelo de Araújo, dr. Emile Zola Mendes Pereira, cabo Henrique Ferreira do Amaral e dona Dulce Chaves de Andrade (sua esposa), esta última no salvamento de crianças, que se achavam no berçário com a Irmã Maria Silvieta.

O Sr. Condelac Chaves de Andrade, era amante das flores, especialmente das orquídeas, mantendo em sua residência, um viveiro bem organizado e repleto de inúmeras variedades dessa bela flor.

Gostava de conversar com os amigos, que eram muitos e viviam nos mais distantes lugares. Era fácil encontrá-lo em Vila Abernéssia, a caminhar entre os canteiros floridos.

Fino, inteligente, imaginoso, irônico, capaz de ver de modo novo, e muitas vezes, inesperado, um fato, um livro ou um simples artigo de jornal, mas era acima de tudo um homem bom e afetuoso.

Na década de 1940, um dos mais sérios problemas enfrentados pelo prefeito sanitário, José Arthur da Motta Bicudo, era o favelamento existente nas encostas de Vila Ferraz, próxima ao Sanatório S-2, cujo bairro, por longos anos, ficou conhecido como a “Favela”.

Ficava quase no final da Rua João Rodrigues da Silva, conhecido por “João Maquinista”, e à direita, nos fundos da Vila, no local conhecido muito tempo por “Buraco da Onça”.

Condelac Chaves de Andrade em seu histórico “ÁLBUM - Almanaque Histórico de Campos do Jordão”, página 50, editado no ano de 1948 por “Artes Gráficas São Paulo S.A.” escrevia:

“No meio de tanta ostentação de riqueza e luxo, ergue-se a “Favela” que, ao longo, parece um monturo, e de perto, uma senzala. Até quando perdurará esta nódoa”?

Não existia naquela época um plano traçado de acordo com as exigências modernas de urbanismo.

Essa favela já não existe mais e há muito tempo. É importante registrar que, embora fosse denominada “Favela”, as casas existentes na época e no local, eram bem melhores que as inúmeras existentes da atualidade.

Condelac Chaves de Andrade, era um socialista teórico, onde, por muitos anos, colaborou na imprensa jordanense, atuando, intensamente, nos bastidores da provinciana política de Campos do Jordão.

Foi jornalista, poeta e escritor. Uma pessoa que muito valorizou a cultura e preservou os primórdios da nossa história, de maneira ímpar. Foi membro correspondente da Academia de Letras de Campos do Jordão.

Participou do III Congresso Brasileiro de Escritores, realizado em Salvador, BA, entre os dias 17 e 21 de abril de 1950, apresentando a tese em plenário, “A ABDE (Associação Brasileira de Escritores) em Face do Jornalismo e dos Intelectuais do Interior”.

Secretário da Comissão do primeiro Campeonato de Jogos Abertos de Campos do Jordão, no período de 30 de maio a 01 de junho de 1954.

Participou também do I Congresso de Turismo, realizado no Grill Room do Grande Hotel em Campos do Jordão, com apresentação da tese, “O Valor da Informação e da propaganda no Desenvolvimento do Turismo”, relatada pelo sr. Harly Trench, no dia 09 de agosto de 1953.

Foi eleito membro do novo Conselho Deliberativo do Abernéssia Futebol Clube, no biênio 1951-1952.

Pela sua postura de cidadão, Condelac Chaves de Andrade imprimia grande respeito. Extremamente sério e correto em suas ações e atitudes, culto e inteligente, de educação ímpar, com grande conhecimento moral e cívico.

Condelac Chaves de Andrade, vitimado pela ditadura em 1964, foi perseguido pelos seguidores do então Governador do Estado de São Paulo, Adhemar Pereira de Barros. Acusado de comunista, foi levado para o DOPS, onde permaneceu preso por tempo incerto. Posteriormente, foi desligado da Provedoria da Santa Casa, despejado da residência onde morava com a esposa e 8 filhos, e aposentado compulsoriamente.

Mudou-se para São José dos Campos, onde se radicou com a família, explorando a atividade literária e onde tornou-se poeta profundamente místico, com o livro “De Belém ao Calvário pelo Caminho da Poesia”.

Passando a viver em São José dos Campos, montou uma banca de jornais e livros técnicos no CTA, - Centro Técnico Aeroespacial, de onde foi expulso, o que o levou a trabalhar no centro da cidade. Voltou a ser preso e levado para o DOPS em diversas outras ocasiões. O drama vivido pela família:

“A pressão era diuturna, a barbárie se instalou em São José dos Campos e em todos lugares. Houve caça aos comunistas como se isso fosse salvar o Brasil”. (José Adriano Chaves de Andrade).

Em 25 de janeiro de 1983, quando o prefeito Fausi Paulo erigiu em Vila Jaguaribe o monumento ao fundador de Campos do Jordão, Matheus da Costa Pinto, Condelac Chaves de Andrade, declamou um poema religioso de sua autoria, ocasião em que evocou os pioneiros e desbravadores da terra jordanense.

Seu passamento ocorreu no início do ano de 1987. Condelac Chaves de Andrade faz parte de nossa história e cultura.
Em Campos do Jordão e São José dos Campos, ruas com o seu nome são eternizadas, por marcar a história e ter destaque por suas ações.

Fontes:

ANDRADE, Condelac Chaves de – Almanaque Histórico de Campos do Jordão. Artes Gráficas São Paulo S/A, São Paulo– 1948;

COSTA E SILVA, Alberto Vasconcellos da.  Invenção do Desenho. Rio de Janeiro RJ. Nova fronteira S/A;

PAULO FILHO, Pedro. A Montanha Magnífica - Vol. II, páginas 45 a 49 – 1997.Campos do Jordão. O Recado Editora Ltda. 

Jornal “Diário Nacional”, de 02 de maio de 1928;

Jornal “Correio Paulistano”, de 07 de novembro de 1950; 14 de agosto de 1953;

Professor Michal Gartenkraut. Comissão da Verdade. Câmara Municipal de São José dos Campos. Relatório Final. Outubro/2014;

Amélia Noemi - A Comissão da Verdade;

https://www.ameliapt.com.br/emocao-marca-audiencia-comissao/ereadora

ROSA FILHO, Arthur - Percepção Geográfica de Escorregamentos de Encostas em Favelas nas Áreas de Risco – Campos do Jordão – SP;

Revista de Cultura Moderna (SP): Fundamentos - 1948 a 1955.


Condessa Crespi

Em 08 de março de 1946, o interventor do Estado de São Paulo, José Carlos de Macedo Soares, conforme Decreto-lei nº 15.723, dispôs sobre doação de terrenos, pela estância de Campos do Jordão, ao Círculo Operário Católico Beneficente Nossa Senhora das Dores, para construção de casas operárias, considerando a completa carência de habitações operárias em Campos do Jordão; vários particulares, proprietários na estância, em representação dirigida à Prefeitura, desejavam contribuir para a solução desse importante problema.

Com tal objetivo, fariam eles um vultoso empréstimo, sem juros, ao Círculo Operário Católico, sociedade civil, legalmente constituída, a qual se incumbia da construção do primeiro grupo de casas para locação à classe operária.

A estância devendo estimular e ajudar, na medida de suas possibilidades, uma iniciativa de tão nítido alcance social, ficou autorizada a fazer doação pura e simples ao Círculo Operário Católico, de 50 lotes de terrenos de sua propriedade, situados em Vila Guarani, na Vila Jaguaribe, com a área aproximada de 300m2 cada lote para construção de casas destinadas a locação a operários.

Ficou estabelecido o prazo de 6 meses para o início das respectivas obras e o de 5 anos para o término das construções, em todos os lotes. A renda líquida da locação seria aplicada na construção de novos prédios, com o mesmo objetivo.

O Senador Roberto Simonsen, Presidente da Comissão de Fomento, colaborou decisiva e intensamente na construção dessas casas operárias, tanto na Vila Guarani como São Francisco, iniciadas pelo Círculo Operário Católico.

Em 13 de maio de 1946, foi lançada a pedra fundamental da Vila Operária, em Jaguaribe, em solenidade presidida por Dom Carmelo, José Carlos de Macedo Soares e Roberto Simonsen.

Frei João Crisóstomo Arns, irmão do Cardeal Arcebispo de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns, em 1942, era vigário da paróquia jordanense, lembrou da Vila Operária de São Francisco, entre Jaguaribe e Capivari, em terreno doado pelo embaixador Macedo Soares.

Também lembrava que a Vila Guarani, mereceria uma placa espiritual, memorial de bondade da Condessa Crespi que ajudou, de coração aberto, aquela realização para muitos desabrigados daquele tempo.

De 1946 a 1947, deu-se o início de construção das vilas, para uso dos seus operários. Ao construir, empresários como Francisco Matarazzo, Conde Rodolfo Crespi, senador Roberto Simonsen e interventor Macedo Soares, doam valores e áreas de terrenos, partes inteiras, para as vilas operárias, disputadas pelos trabalhadores.

O modo de construir característico, original das casas jordanenses, passado o período do tropeirismo, foi, evidentemente, o das casas de madeira.

Por ser um material de comportamento térmico compatível com o clima das serras altas, e ser encontrado com relativa facilidade (Araucária) começaram a ser construídas as casas de madeira num sistema construtivo similar àquele praticado no sul do Brasil, notadamente no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná.

As casas de madeira de pinho, extraída do pinheiro de Campos do Jordão, eram construídas, suportadas sobre pequenos pilares de alvenaria, pedras, tijolos, ou até de madeira mais dura e de durabilidade maior, como a aroeira e outras de espécies semelhantes, obrigando os assoalhos a ficarem suspensos do solo, criando na parte debaixo os conhecidos porões, que, além da principal função de proporcionar a devida e necessária ventilação e evitar umidade, e que a madeira dos assoalhos ficasse ardida ou viesse a apodrecer. Também eram aproveitados para guardar lenha para os fogões e outras finalidades e pertences não utilizados com frequência. Os porões são originários dos países frios que construíam suas moradias com porões altos, onde reuniam o gado à noite para aproveitarem também seu calor.

Eram casas com assoalho e paredes de madeira, taboas de 20 a 30 cm de largura com “mata-juntas” de ripas como arremate. Os forros eram normalmente também de pinho, porém do tipo “paulistinha”. Com isso, evitava-se a entrada de insetos e mais que tudo, do vento, especialmente na época do frio intenso de nossos invernos.

Os telhados em zinco ou cerâmica, existindo exemplares notáveis dessas casas até os nossos dias.  Podemos apreciar algumas dessas moradias na Vila Guarani, Vila São Francisco, Vila Ferraz e Vila Bazin, por exemplo.

O interessante, dizem os antigos, é que a madeira utilizada não sofreu a ação dos carunchos, pois foi extraída “na lua certa” e depois era “entaleirada” durante muito tempo ao sol e chuva, para a secagem.

Na Vila Guarani, como também São Francisco, e anteriormente, Vila Ferraz, na época em que não havia nenhum tipo de restrição para o corte de árvores em geral, muito menos algum tipo de conservação ambiental, a árvore símbolo da nossa terra – o pinheiro-do-paraná, hoje devidamente protegido por lei específica, era derrubada indiscriminadamente, para a produção de madeira de excelente qualidade e empregada na construção de móveis diversos, madeiramentos e outras finalidades, especialmente nas construções de casas típicas de madeira, e enviada para diversas cidades paulistas para idênticas finalidades.

Nas cozinhas e banheiros, mesmo nas casas em que estes cômodos eram construídos em alvenaria, o forro era feito de ripas de pinho sobrepostas, formando pequenos vãos em forma de quadrados ou losangos, para facilitar a ventilação, favorecendo a escoação de vapores, evitando a umidade nos banheiros e facilitando a escoação de alguma fumaça nas cozinhas, em virtude da utilização dos tradicionais fogões de taipa à lenha. Esses forros, normalmente nas salas e quartos das casas, eram envernizados. Nos banheiros e cozinhas, pintados com tinta à base de óleo ou esmaltados.

A princípio, não apenas as casas de madeira de pinho, mas também outras construídas em alvenaria, eram cobertas com as telhas onduladas de zinco, material metálico parecido com a conhecida lata, com certo tratamento especial que lhe conferia maior durabilidade, com ondulação semelhante à das telhas Eternit ou Brasilit, anteriormente feitas de cimento amianto que, na época da chuva, já faziam um grande barulho, e quando ocorria a precipitação de granizo, o barulho era enorme e ensurdecedor. Na época da tuberculose, até os primeiros e mais simples sanatórios tinham cobertura de zinco. Posteriormente, esse tipo de cobertura foi sendo, aos poucos, substituído por essas telhas, até hoje utilizadas em grande escala, feitas de barro requeimado em fornos especiais.

O frei Demétrio Stefano assumia a Paróquia em 2 de fevereiro de 1947, e em 26 de outubro, convidava o povo para a cerimônia de entrega de 42 dessas casas em Vila Guarani, quando o presidente do Círculo Operário, Eduardo Moreira da cruz, homenageou o senador Roberto Simonsen.

Algumas poucas dessas casas de madeira, ao longo do tempo, foram desmanchadas ou completamente reformadas, alterando totalmente suas características iniciais.

O Conde Rodolpho Enrico Crespi, filho de Cristóforo Benigno Crespi e Pia Travelli, nasceu em 30 de março de 1874 em Bristo, Arzicio, próximo a Milão, Varese, Lombardia, Itália, casou com Marina Regoli.

Um imigrante italiano, industrial brasileiro da área têxtil, radicado em São Paulo, que descendia de uma tradicional família italiana, remanescente do Império Romano, que construiu um dos maiores grupos industriais do Brasil da primeira metade do século XX. Sua fortuna foi avaliada a 03 bilhões de dólares americanos atuais.

Incentivado por Enrico Dell’Acqua, iniciou a sua carreira em São Paulo, em 1892, com modesto capital, possuía uma das mais importantes organizações industriais do país. Logo que chegou, instalou uma pequena tecelagem no bairro da Moóca, tradicional reduto da colônia italiana na capital paulista. Em 1898 sua indústria, mais tarde denominada Cotonifício Rodolfo Crespi, já estava instalada num enorme prédio de três andares na esquina da rua dos Trilhos com a rua Taquari. Foi presidente e membro das maiores instituições da comunidade italiana no Brasil, tendo participado de grandes iniciativas financeiras e industriais.

Em 1907, durante sua trajetória, Rodolfo Enrico Crespi recebeu honrarias do governo italiano: a condecoração de “Cavalheiro do Trabalho”, a primeira concedida a italianos residentes no Brasil; a de Comendador; a de Grande Oficial e de Cavalheiro da Grande Cruz da Corte da Itália; além do título de Conde, dado em 1928, pelo Rei Vítor Emanuel III da Itália, transmissível aos filhos. O governo brasileiro conferiu-lhe a condecoração da ordem do “Cruzeiro do Sul”.

No Brasil, dentre os amigos, destacam-se, Assis Chateaubriand, diretor dos “Diários Associados”, e o Conde Francisco Matarazzo.

Em 1895, o conde Rodolfo casou-se com Marina Regoli Crespi, filha de Pietro Regoli e Margarida Orlandi, a mais bela italiana e a mais gentil das senhoras do Círculo italiano. Nascida em uma das mais velhas e aristocráticas famílias de Florença, Fosciana Toscana, Itália, em 11 de abril de 1879. Veio ao Brasil com 10 anos de idade.

Seus filhos foram a Condessa Renata de Crespi, nascida em 08 de outubro de 1897, casada com Fábio da Silva Prado (bisneto do barão de Iguape, prefeito de São Paulo). Trabalhou fortemente em ações filantrópicas e foi a primeira dona do imóvel que hoje abriga o Museu da Casa Brasileira.

Foi prefeita da cidade de Guarujá em 1946, e ajudou nas transformações históricas, culturais e urbanísticas na cidade de São Paulo. Criou a Fundação Crespi Prado, em 1975.

O conde Adriano Crespi, nasceu em 14 de 11 de 1899, casado com Maria Imaculada Rondine (Titina Rondino Crespi), pais de Maria Adélia Crespi e Renata Adélia Crespi.

O conde Dino Crespi, nascido em SP, em 06 de março de 1900, casado com Nelida Cenci, foram os pais de Rodolfo Raymundo Crespi e Marco Fabri.

O conde Raul Rolando Crespi nasceu em 14de dezembro de1909. Casado com Irene crespi, artista plástica. Sua filha, a condessa Carla.

Conde Rodolfo Enrico Crespi fundou a obra “Ninho Jardim Condessa Marina Crespi”, em 1936, um refúgio para a crianças, filhos de operários, cujos pais passavam grande parte do dia na labuta das fábricas.

A Fundação “Ninho Jardim Condessa Marina Crespi, foi criada em 1936 pelo casal de italianos, Marina e Rodolfo Crespi. Esse equipamento educacional teve o apoio do Estado com incentivos financeiros e fiscais, professoras formadas e educadora sanitária. Estava localizada nas proximidades da empresa do conde, Rodolfo Enrico Crespi, detalhe que facilitava a entrega e retirada das crianças que deveriam ser feitas necessariamente pelas mães de acordo com o que exigia a diretoria do Ninho Jardim. Durante os primeiros trinta anos, ou seja, de 1936 a 1965, a Fundação foi administrada por um Conselho Curador, composto por membros da família Crespi.

O grande industrial italiano, conde Rodolfo Enrico Crespi, faleceu em 27 de janeiro de 1939.

A condessa Marina Regoli Crespi ensinou como se faz a verdadeira caridade, sem ostentação. Sempre esteve ao lado dos fracos e dos bons.

Padrão para gente de hoje e de amanhã. Quem quiser um bom exemplo, uma boa estrela para lhe servir de guia, conheça e imite a condessa Crespi, nos mínimos detalhes de educação.

Aprendam com ela os gestos insignificantes e hoje tão raro, mas tão necessários: saber aceitar uma flor e lembrar que faz parte das boas maneiras, agradecer um presente, uma palavra amável. Nos pequenos gestos identificamos as grandes pessoas, realmente finas, realmente educadas.

A condessa Marina Regoli Crespi ainda serve de padrão e de guia. Aprendam com ela, no seu exemplo, a conduta que a mulher deve seguir na sociedade. Agindo como uma senhora, cultivava as boas maneiras, fugindo das futilidades, não esquecendo de fazer o bem. Diante da pobreza, o coração da condessa se abria, semeando generosidades

Uma preciosa reserva de sentimentos filantrópicos. Seu nome esteve ligado indelevelmente a todas as iniciativas humanitárias que se empreenderam na capital paulista e interior do Brasil.

Doou um posto de Puericultura no estado do Pará. Com carinho devota à obra de proteção à infância e a todos os cometimentos filantrópicos que revertam em benefício para o povo.

Enviou numeroso donativo, no valor de CR$ 400.000,00, nobre gesto, vocacional, à benemérita Campanha da Redenção da Criança, dirigida pela sra. Darcy Vargas, em 24 de março de 1944. Foi uma vontade posta ao serviço de um caráter.

Quando completou 80 anos, a 29 de abril de 1959, a figura veneranda da Condessa Marina Regoli Crespi, com seu gesto pedindo aos amigos que não lhe mandassem flores foi uma magnífica lição de solidariedade humana. Preferiu que a homenagem fosse transferida aos pequenos que ela adotara e tratou como filhos, protegendo a infância que perdeu seus pais, mas encontrou um lar na proteção da Condessa de Crespi.

Ligou o seu nome ao Museu de Arte de são Paulo e muitas iniciativas de proteção aos artistas.

Foi condecorada pelo papa. O presidente da República assinou decreto conferindo a ordem Nacional do Cruzeiro do Sul no grau Oficial.

 A senhora condessa Marina Regoli Crespi morreu em 31 de dezembro de 1964 e foi sepultada no cemitério da Consolação, na presença de figuras das mais representativas de nossa sociedade, contando com a idade de 85 anos.

Frei João Crisóstomo Arns também lembrava que a Vila Guarani, mereceria uma placa espiritual, memorial de bondade da Condessa Crespi que ajudou, de coração aberto, aquela realização para muitos desabrigados daquele tempo.

Fontes:

Jornal “Il Moscone”, de 20 de novembro de 1960;

Revista “A Scena Muda”, de 09 de outubro de 1945;

Jornal “Correio da Manhã”, de 16 de setembro; 1952 de 25 de dezembro de 1955;

Jornal “Correio Paulistano”, de 28 de janeiro de 1939; 31 de março de 1940; 16 de setembro de 1952; 11 de abril de 1959;

Jornal “A Noite”, de 24 de março de 1944; 15 de outubro de 1944;

Jornal “Diário da Noite”, de 25 de janeiro de 1944; 30 de setembro de 1947; 29 de abril de 1959;

Jornal “O Jornal”, de 20 de janeiro de 1944; 22 de janeiro de 1944;

Revista “O Cruzeiro”, 19 de fevereiro de 1944; de 22 de março de 1958;

Annuário Genealógico Brasileiro (SP) - 1939 a 1948;

Jornal “Diário de Pernambuco”, de 31 de dezembro de 1964.

Paulo Filho, Pedro. A Montanha Magnífica. Memória Sentimental de Campos do Jordão. Vol. 1. Campos do Jordão. O Recado. 1997. P.368

Lino, Maurício de Souza. Da Freguezia do Imbery aos Campos do Jordão. Campos do Jordão. Clube de Autores. 2016. P. 616



Condessa de Bonneval II



A família Bonneval é uma das mais antigas casas aristocráticas da França, datando suas origens documentadas no Limousin do início do século XI. Há muito tempo é considerada uma das famílias mais prestigiosas e honradas.

A família Bonneval e suas propriedades em Limousin, França, foram formalmente elevadas ao status de Marquisate e, portanto, o título enobrecido de "Marquis", em 1655. Há muito tempo é considerada uma das famílias mais prestigiosas e honradas, dando origem ao provérbio “Família Bonneval para a Nobreza".

Ao longo de sua história membros da Família Bonneval contraiu numerosas alianças com outras famílias reais e prestigiadas, como Antoine de Bonneval, que se casou em 1471 com Margaret de Foix, medida em que muitos membros da família se qualificaram para o título não oficial de "Primos do Rei".

A família Bonneval e suas propriedades em Limousin foram formalmente elevadas ao status de Marquisate e, portanto, o título enobrecido de "Marquis", em 1655.

Algumas personalidades familiares conhecidas:

Cavaleiro Gerauld de Bonneval (1050) - construtor do primeiro castelo e fundador da Casa Nobre de Bonneval;

Guillaume de Bonneval - um comandante no exército de Luís VII na Segunda Cruzada de 1145 a 1149;

Bernard de Bonneval - Bispo de Limoges em 1391 a 1403;

Antoine de Bonneval (1433 - 1505), Premier Chamberlain a Gaston de Foix, Rei de Navarra que serviu como Conselheiro e Camareiro aos reis Luís XI, Carlos VIII e Luís XII;

Marguerite de Foix (1450 - 1508), que se casou com Antoine de Bonneval em 1471, na igreja de Coussac-Bonneval;

Foucault de Bonneval, filho de Antoine e Marguerite de Bonneval, foi nomeado bispo de Périgueux (Vesuna), de 1531 a 1540;

Germain de Bonneval (1468 - 1525), filho de Antoine e Marguerite; que se tornou um comandante militar a serviço de Luís XII e François I e foi morto na Batalha de Pavia (1525);

Gabriel de Bonneval (1520-1590), comandante do exército huguenote e mentor do jovem Henrique IV na Batalha de La Roche l'Abeille. O resultado foi uma vitória para as forças huguenotes;

Claude-Alexandre de Bonneval (1675 - 1747), Conde de Bonneval, que após uma carreira militar colorida e controversa, tornou-se um herói nacional na Turquia.

Servindo o Império Otomano, converteu-se ao Islã, tomando o título de Humbaraci Ahmed Pasha, mais conhecido como Bonneval Pasha.

Andre de Bonneva l, Marquês de Bonneval que se casou com Marie-Denise de Nanthait, neta de Charlotte Aïssé;

Philippe-Armand de Bonneval(1773 - 1852), prefeito de Bourges e Conselheiro Geral de Cher;

Hippolyte de Bonneval (1786 - 1873), o marquês que, após uma bem-sucedida carreira militar, criou um negócio de porcelana de sucesso. Restaurou e embelezou grandemente a propriedade num período de 57 anos durante o qual era o proprietário do domínio;

Madamoiselle Charlotte Elizabeth Aïssé (c1694 - 1733) e sua filha Célinie Le Blond. Charlotte era uma escrava, comprada em um mercado de Constantinopla, que se tornou uma celebrada dama de letras na sociedade parisiense e amante de Filipe II, Duque de Orléans (1674-1723).

Célinie casou com Pierre Jaubert, o visconde de Nanthiat; e sua filha, a neta de Charlotte, Marie-Denise de Nanthiat, casou-se com Andre de Bonneval em 1760;

Gabriel André II de Bonneval (1769 - 1839) - Marquês de Bonneval, viveu a época da Revolução Francesa (1789 -1799) e, em particular, o Reino do Terror (1793 - 1794);

Bertrand-Henri de Bonneval (1806-1882) Um dos primeiros homeopatas da França, engenheiro agrônomo e filantropo;

Timoléon de Bonneval (1845-1939) - após a aposentadoria de sua carreira militar pela qual recebeu a Legion d'Honneur. Ele é o bisavô do atual Marquês de Bonneval;


Gaston de Bonneval (1911-1998), ajudante de campos para o general Charles de Gaulle

Herculano de Almeida Prado Corrêa Galvão, o barão do café, que nasceu em Itu, SP, em 10 de abril de 1872, onde passou a infância e juventude. Os pais o mandaram estudar na Bélgica, onde se formou em Hautes Etudes Commerciales em Liège.

Ficou conhecido como um dos barões do café porque seu pai – Antonio Augusto Correa – era proprietário de fazendas cafeeiras na região de Itu, que foram vendidas em 1898. O barão do café, adquiriu uma gleba de 6 mil metros quadrados na Avenida Paulista. A casa que ficava no cruzamento com a Rua Ministro Rocha Azevedo, e foi a terceira moradia a ser erguida na avenida.

Da união de Herculano com Gabrielle de Almeida Correa, nasceu em 31 de março de 1923, Marie Antoinette de Almeida Correa Galvão de Franca, a futura “Condessa de Bonneval”.

Henri Antoine Timoleon Christophe de Bonneval (1892-1980) e Consuelo Catherine Branco da Panouse (1894-1973), foram os pais de Bernard Henri Marie Louis de Bonneval, Cavaleiro da Legião de Honra, Cruz Voluntário lutador, Cavaleiro de Honra e Devoção da Ordem Soberana de Malta.

Bernard Henri Marie Louis de Bonneval, nasceu em 19 de abril de 1921, em Paris, França, família que pertence a uma linhagem de raízes muito antigas da aristocracia francesa, e tornou-se Marquês em 1980, com a morte de seu pai.

Casou-se em 22 de outubro de 1947 em Coussac-Bonneval, Haute-Vienne, Limousin, França, com Marie Antoinette de Almeida Correa Galvão de Franca, em Paris, Ile-de-France, França. Ambos, franco-brasileiros.

Do casamento, vieram 5 filhos:

Marie Georges Marguerite Bérengère de Bonneval, casada com Gilles Epstein; Blanche Marie Gabrielle de Bonneval; Anne Marie Sybille de Bonneval, casada com Cid Eduardo de carvalho; depois Anne Marie Sybille de Bonneval, casada com Rodrigo Baretto; Claude Marie Xavier de Bonneval, casado com Paolo de Souza; e o francês, Geraud Anthony Herculano de Bonneval, que casou-se com a brasileira, Martha de Almeida Gonçalves, cuja união, deu os filhos Philippe Armand de Bonneval e Béatrice de Bonneval. Era necessário ter um filho homem para continuar a linhagem da nobreza francesa, existente desde o ano 935.
Uma coincidência interessante é que o cavaleiro medieval, que iniciou o primeiro milênio da dinastia familiar Bonneval e o Marquês que está liderando a família, em seu segundo milênio, compartilham o mesmo nome: “Géraud”!

Em 1964, o Conde de Bonneval, contratou a construção de um edifício em uma área de 2.000,00m², na Rua Ministro Rocha Azevedo, nº 45, São Paulo. Anne de Bonneval, uma das filhas do casal, passou a infância e viveu nesse casarão até julho de 1973.

Quando era criança, a avenida Paulista era quase uma cidade do interior. Também possuíam uma propriedade na cidade de Campos do Jordão, Vila Capivari, ao lado da Fonte Simão, onde hoje existe o condomínio “Condessa de Bonneval, em sua homenagem. (A Condessa passou anos de férias durante sua infância em Campos do Jordão e a casa da família era onde hoje está o condomínio). O casal dividia o tempo entre a mansão no Jardim América, São Paulo, Campos do Jordão, SP, e o castelo “Chateau de Bonneval”, a 40 quilômetros de Limoges, na França.

Em 1978, o conde Bernard Henri Marie Louis de Bonneval, doou um aparelho de PABX para a Santa Casa de Campos do Jordão.

Antes de voltar para França, o Marquês e Marquesa de Bonneval, e seus dois filhos viviam no Brasil. O Conde Bonneval faleceu no Brasil em 28 de junho 1997 em São Paulo, com a idade de 76 anos. Com a morte do pai, herdou o castelo Château de Bonneval.

Deitado no topo de sua colina, no meio de seu grande parque, o castelo de Coussac Bonneval parece ter permanecido durante anos o guardião da pedra da aldeia. Com as suas enormes torres redondas cobertas com um telhado de ardósia, o castelo manteve-se em boas condições.
A primeira presença da família Bonneval data do ano 930, quando o Chevalier de Bonneval já estava estabelecido na área. A fortaleza de pedra remonta ao século XIV.

Ocupou uma importante posição de defesa estratégica na fronteira com a Aquitânia, bem como seus vizinhos na rota Richard Coeur de Lion. O castelo consistia de um quadrilátero central, com cada torre em volta de uma esquina. As quatro torres estão orientadas para os quatro pontos cardeais.

Em 1360, Duguesclin tomou a fortaleza por meio de truques e essa foi a única vez que a propriedade saiu da família Bonneval. Ele retorna lá em 1363 quando Aymeric de Bonneval prestou juramento ao rei da França Charles V, que colocou o castelo de Coussac em suas mãos.
Desde então, o castelo viu várias melhorias arquitetônicas, incluindo o projeto de um "Terraço dos Leões", do arquiteto Broussaud, em 1720.

Geraud Anthony Herculano de Bonneval, foi nomeado marquês, naquele país. O castelo Château de Bonneval, embora tenha sido uma casa imponente desde o final do século XVIII, anteriormente, como um estabelecimento militar, fazia parte de uma linha defensiva de fortalezas estrategicamente importante, protegendo o acesso à Aquitânia.

E o que agora são vistas agradáveis ​​do campo teria sido, na época, linhas de observação defensiva e até de fogo.
Apesar de aberto aos turistas, uma parte dele é privada, pois continua servindo de residência para a mãe de Geraud, uma simpática senhora de 95 anos que reúne as mais cativantes histórias, tanto daquele lugar quanto da época em que viveu no casarão da Avenida Paulista, em São Paulo.

Fontes:

BONNEVAL, Geraud Anthony Herculano de; GONÇALVES, Martha de Almeida. Chateau de Bonneval. 2018. Disponível em: <http://www.chateaudebonneval.com/en/dossier-presse/in-the-press-introducing-marta-and-geraud-de-bonneval/>. Acesso em: 28 jun. 2018.

DUFAUR, Luis. Castelos medievais. 2018. Disponível em: <https://castelosmedievais.blogspot.com/p/videos.html>. Acesso em: 28 jun. 2018.

CHAMPAGNE, Sébastien. Coussac Bonneval. 2009. Disponível em: <https://www.detours-en-limousin.com/Coussac-Bonneval>. Acesso em: 28 jun. 2018.


Danilo Delácio


O militante político, Danilo Delácio, nasceu no ano de 1922. Foi atuante na vida pública da cidade de Campos do Jordão, fiel simpatizante do Partido Social Progressista - PSP que tinha como patrono, dr. Adhemar Pereira de Barros o maior partido político de São Paulo, do período de 1946 a 1965, e o único que mantinha diretórios em todos os municípios do Estado.

Em 06 de maio de 1932, nascia em Carangola, MG, a professora, Yeda Campos Delácio, sua esposa (lecionou no SESI, Círculo Operário, Domingos Jaguaribe, Laurinda da Mata). A professora Yeda Integrou o quadro associativo do Clube Soroptimista de Campos do Jordão na década de 1980.

Tiveram as filhas: Geisa Delácio Gnipper (dentista), e Sheila Campos Delácio Scófano, que veio a falecer, na flor da idade. Em homenagem póstuma, existe uma rua que leva o seu nome.

Danilo Delácio trabalhou muito para a construção da sede própria do Círculo Operário. Foi o 2º Vice-presidente no triênio 1957-1959; e, de 1960 a 1962, seu Presidente.

Sua participação ativa na sociedade jordanense não ficou restrita ao trabalho e atividades familiares, mas alcançou a massa popular na militância política e administrativa.

O campeão da Liga Jordanense de Futebol em Campos do Jordão, Associação Atlética Jaguaribe, teve como ponteiro do campeonato local de futebol em 1956, sr. Danilo Delácio.
Foi um dos Vogais da Comissão executiva de Campos do Jordão da maior obra assistencial da região - SEA, fundada em 14 de abril de 1959.

Danilo Delácio exerceu o cargo de vereador de 1952 a 1957, quando foi Primeiro Secretário da Câmara Municipal; em 1959, pelo PTN – Partido Trabalhista Nacional; de 1964 a 1968 pelo PDC - Partido Democrata Cristão; de 1972 a1976 pela ARENA - Aliança Renovadora Nacional.

Foi Presidente da Câmara Municipal de 01 de fevereiro de 1975 a 31 de janeiro de 1977; de 29 de maio de 1978 a 31 de janeiro de 1979; e de 01 de fevereiro de 1981 a 31 de janeiro de 1983.

Foi candidato a Vice-prefeito em 1962.

Com outros vereadores, trabalhou arduamente no projeto de construção da rodovia Pindamonhangaba-Campos do Jordão em 1955.

Uma pessoa dotada de conhecimentos para assuntos legislativos, para melhor intercâmbio e relacionamento do Gabinete do prefeito e a Câmara Municipal, e qualificado em processo funcional, em 04 de julho de 1983, foi nomeado para o cargo de Oficial de Gabinete para Assuntos Legislativos e Políticos da prefeitura de Campos do Jordão.

Suas atribuições, entre outras, era receber e manter contatos políticos com os vereadores, que compunham a Câmara Municipal; fazer o reexame político dos projetos a serem encaminhados ao Legislativo; manter contato com a Bancada do MDB - Partido do Movimento Democrático Brasileiro, na época, o partido Político municipal, com a finalidade de apresentar os Projetos de Lei em andamento; entregar aos vereadores da Bancada do MDB, e principalmente ao Líder do Prefeito na Câmara Municipal, os documentos necessários para a defesa das proposições, projetos de leis, vetos em defesa do Executivo; reexaminar os projetos que eram retirados pelo Prefeito e discuti-los com sua liderança, bem como analisar com critérios os pedidos de "VISTAS" propostos pelos vereadores da Bancada em projetos do Executivo, pelo seu envolvimento político, administrativo e legal; colaborar na elaboração do relatório anual a ser encaminhado à Câmara Municipal, baixando parecer político-administrativo; acompanhar a tramitação dos pedidos de informação, indicações e requerimentos, ou legislativos observando-se os prazos previstos na legislação em vigor, bem como os "VETOS", a serem encaminhados ao Legislativo, mantendo contatos com a liderança do MDB, na Câmara Municipal, e na sua falta com qualquer vereador da Bancada a respeito das tramitações; manter contato direto e permanentes com a Procuradoria Jurídica da Prefeitura Municipal, com a finalidade de preparar projetos de leis, decretos, vetos etc., que se faziam necessários, cuja redação necessitasse de orientação técnico-jurídica; executar tarefas correlatas que lhes eram determinadas pelo Prefeito Municipal; e finalmente, substituir o Chefe de Gabinete da Prefeitura Municipal de Campos do Jordão, nos seus impedimentos eventuais e Iegais, praticando todos os atos de sua alçada, sem prejuízo dos vencimentos e vantagens do cargo;
Assim, um ano depois, a 24 de julho de 1984, Danilo Delácio foi nomeado Chefe de Gabinete. Foi exonerado a 24 de novembro de 1987, a pedido, por ser convocado para ocupar na edilidade jordanense vaga decorrente do licenciamento do nobre vereador, José Correa Cintra.

A 19 de junho de 1982, Danilo Delácio recebeu da APM – Associação Paulista de Municípios, na gestão do presidente Wilson José, a Medalha do Mérito Municipalista, juntamente com Miguel Lopes Pina, Arakaki Masakazu e Júlio da Silva.

Foi fotografado com Viola (Paulo Antenor de Souza) e Mané Garrincha, quando da Delegação da Seleção Brasileira em Campos do Jordão, em 1962.

Danilo Delácio faleceu aos 66 anos, no dia 03 de agosto de 1988, deixando uma lacuna irreparável no seio da sociedade jordanense.

Uma Praça em Vila Capivari, foi inaugurada em 22 de dezembro de 1988 em sua homenagem.

Fontes:

Jornal “Correio Paulistano”, de 06 de março de 1953; 02 de dezembro de1956; 21 de dezembro de 1956 e 27 de janeiro de 1960;

Jornal “Diário da Noite”, de 22 de novembro de 1957;

Jornal “O Jornal” - RJ, de 26 de outubro de 1955;

MASAKAZU, Arakaki. 50 anos de Campos do Jordão. Campos do Jordão. Editora Mantiqueira de Ciência e Arte LTDA. 1985. 128 pp.


Dr. Antonio Nicola Padula



Em 10 de julho de 1969 foi criado o Grupo Escolar de Vila Capivari que, por decreto n.52368 de 27/02/70, era instalado como Grupo Escolar Ginásio de Vila Capivari. O prédio tinha sido construido em janeiro de 1967 pelo Governo do Estado. A Resolução SE n. 14, de 22/01/76, mudou a deniminação deste estabelecimento que passa a se chamar E.E.P.G. de Vila Capivari e em 1977 pela Lei n. 1328/ recebe o nome do ilustre médico desta cidade que fora prefeito por duas vezes. E.E.P.G "Dr. Antonio Nicola Padula".

Antonio Nicola Padula foi prefeito de Campos do Jordão em dois períodos: 04/12/53 a 21/11/56 e 02/11/57 a 20/08/58. Na época o Prefeito era de nomeação do Governador, e Dr. Padula foi nomeado a primeira vez por Lucas Nogueira Garcez e no segundo por Janio Quadros.

Dr. Antonio Nicola Padula era médico, tinha um genio impetuoso e uma visão de vanguarda. Construi o Mercado Municipal, drenou todo o centro de Vila Abernéssia, passou a rede coletora de esgoto e asfaltou a Vila. Dizem que antes de Padula quando chovia na cidade a lama em Vila Abernéssia vinha até os joelhos.

Dr. Padula começou e terminou dezoito obras, inclusive a construção do Prédio dos Correios.

Foi um grande médico e um grande prefeito, e essa escola faz juz ao nome que carrega

Dr. Antonio Nicola Padula assumiu o cargo a 04 de dezembro de 1953, permanecendo até 20 de novembro de 1956, nomeado pelo governador do Estado de São Paulo, Lucas Nogueira Garcez.

A escolha de seu nome ocorreu a 25 de novembro de 1953, na residência do Embaixador José Carlos de Macedo Soares, que reuniu as lideranças municipais, a pedido do governador.

Abertura da Segunda Festa Nacional da Maçã de Campos do Jordão.

Maria Emília Padula, era filha do Dr. Antonio Nicola Padula, grande médico pneumologista que prestou relevantes serviços nos Sanatórios de Campos do Jordão e no Dispensário Dr. Emílio Ribas, na época da tuberculose.

No ano de 1955, fortes chuvas assolaram Campos do Jordão, causando grandes enchentes nos rios da cidade e grandes prejuízos às famílias de baixa renda que residiam ao longo das margens do principal rio da cidade, o Rio Capivari.

13º Prefeito Municipal nomeado, DR. ANTONIO NICOLA PADULA. Administração: 04/02/1953 a 20/11/1956, tendo seu mandato prorrogado até 31.12.1958. Inaugurou o novo Mercado Municipal em 16 de novembro de 1958. Nomeou o engenheiro Fausi Paulo para a Prefeitura. Afastou-se por três vezes do cargo de prefeito.

O Prefeito Municipal da época, Dr. Antonio Nicola Padula e toda sua equipe, montaram um forte esquema de socorro para auxiliar as pessoas carentes, atingidas pela forte enchente que invadiu suas casas simples, causando prejuízos, inclusive, deixando-os sem mantimentos para alimentação de suas famílias.

Inaugurou o mercado municipal em 16 de novembro de 1958.

Construiu o Matadouro localizado na rodovia SP-50, nas proximidades da cidade, inaugurado em 17 de outubro de 1954.

Implantou a rede de esgotos sanitários na zona urbana, através do engenheiro Otávio Augusto de faria Souto.

Abriu a estrada dos Marmelos e o acesso a Ferradura, pelo circuito que parte do Itapeva ao Rancho Alegre.

Batalhão pela ligação rodoviária da estãncia com o Vale do Paraíba, valendo-se do prestígio do Embaixador.

Em sua gestão foi instalada a Coletoria Federal

Durante a construção do Mercado Municipal, o prefeito nomeado, Dr. Antonio Nicola Padula, foi afastado do cargo a partir de 20/11/1956. Assumiu interinamente o cargo de prefeito municipal, durante esse afastamento, no período de 21/11/1956 a 12/02/1957, o Dr. Moacyr Padovan, responsável pela área jurídica da prefeitura; e no período de 13/02/1957 a 01/11/1957, o Sr. José Alves dos Reis, contabilista, reassumindo a Prefeitura Municipal, a partir de 02/11/1957, indo até 19/08/1958. Novo afastamento foi imposto ao prefeito municipal Dr. Antonio Nicola Padula. Nessa oportunidade, de 20/08/1958 até 31/12/1958, assumiu interinamente o cargo de prefeito municipal o Sr. Geraldo Osório Figueiredo, funcionário público municipal que, juntamente com prefeito municipal Dr. Antonio Nicola Padula, embora afastado do cargo, com estratégia, aproveitou oportunidade política favorável, mesmo faltando vários acabamentos ao prédio do Mercado Municipal, marcaram sua inauguração para o dia 16 de novembro de 1958.

O novo prefeito municipal, o Dr. José Antonio Padovan, empossado para o período de 01/01/1959 a 31/12/1962, providenciou a conclusão dos acabamentos necessários.

O prédio do novo Mercado Municipal foi iniciado e concluído durante a administração do prefeito Dr. Antonio Nicola Padula, embora inaugurado precocemente, durante a administração do prefeito interino Geraldo Osório de Figueiredo. Durante toda a construção do novo Mercado Municipal, do seu início até sua conclusão total, quando da posse do novo prefeito, Dr. José Antonio Padovan, a quem coube a conclusão dos acabamentos pendentes, a responsabilidade da obra sempre esteve a cargo do engenheiro civil da Prefeitura Municipal, Dr. Fausi Paulo.

Faleceu aos 16 de junho de 1962. Havia regressado de S. Paulo, por volta das 13 hs. e cerca de maia hora depois, em sua residência, teve um colapso cardíaco. Seu corpo achou-se em câmara ardente na prefeitura local, de onde sairia dia 18 para S. Paulo, dando o sepultamento no cemitério da Consolação. Deixou viúva e filhos menores. Seu afastamento causou real consternação na cidade. Foi decretado luto oficial no município por 3 dias.

É credor de homenagens, por sua folha de serviço prestado ao bem de campos do Jordão, durante mais de 4 anos, nas funções de prefeito municipal.


Dr. Carlos Brunetti



Prof. Dr. Carlos Brunetti, viveu em dois continentes: (Europa e América); conheceu os países: Alemanha, França e Austrália; amou, intensamente o brasil, embora nascido na Itália. Estudou nas universidades de roma, paris, Viena e Munique.

Ensinou na Faculdade Livre de Medicina da Pauliceia, onde por quase meio século, foi um modelo de médico.

Objeto das mais altas condecorações por sua terra natal, pela Santa Sé e pelo governo da Lituânia, foi também um benemérito da igreja, de várias famílias religiosas, e mormente das Missões salesianas de Mato Grosso e do Rio Negro.

Nascido a 02 de agosto de 1878, em Roma, seu passamento deu-se em São Paulo, 24 de maio de 1960.

A casa de um modelar funcionário do Vaticano alegrava-se com o nascimento de um filhinho, a que fora dado o nome de Carlos. A criancinha, muito cedo, ficou, privado dos insubstituíveis carinhos e dedicações maternais, pela morte de sua idolatrada genitora.

A providência pareceu, com tal dor, já prepará-lo à sua nobilíssima missão: aliviar os sofrimentos.

Sua educação cristã foi, deveras, aprimorada, e durante todos os seus estudos o acompanharam também, as bênçãos do Santo Padre da “Rerum Novarum”, Leão XIII. Educação cristã e bênçãos celestes para um estudante de humanidades e medicina, na Europa do século XIX e também início do século XX, eram indispensáveis como o ar, para uma formação sólida e leal.

Com efeito, o modernismo vinha solapando todos os valores principais do espírito, transtornando, enormemente, a mesma juventude estudantil.

Mas a fé para Carlos Brunetti, devia ser o baluarte invencível em todos os assaltos movidos, principalmente, nas diferentes Universidades de Roma, Paris, Viena, e Munique, que lhe deviam, embora tudo, fornecer os profundos conhecimentos de higienista abnegado e de renome.

Viena, então capital do Império Austro-Hungaro, talvez mais do que naqueles tempos, chamasse a atenção dos Higienistas, estudiosos, do mundo inteiro. Com efeito, além de sua Universidade, fundada em 1365, oferecia numerosas e ricas Bibliotecas, um Museu Imperial, indústrias mecânicas e de tecidos, com um grande centro musical.

Na real Universidade de Roma, em 1913, culminara sua carreira, conquistando a Livre Docência de Patologia Especial e Cirurgia.

A par dos estudos, com relação às causas e aos sintomas das doenças físicas, queria aprofundar conhecimentos no que diz respeito à essência do homem: seu espírito imortal.

É conhecido, especialmente entre os salesianos do Brasil, o quanto o dr. Brunetti amava as Obras de Dom Bosco e se interessava pelas Missões.

Em 1913, com a bênção do papa Pio X, deixava a terra natal, em procura de sua segunda pátria, o nosso querido Brasil.

Na Terra de Santa Cruz, exatamente na Paulicéia, o Dr. Brunetti encontrou amplo terreno de aplicação de seus conhecimentos, sendo logo convidado para Professor de Anatomia Humana e Descritiva; em seguida para professor de Clínica Cirúrgica na Universidade Livre de São Paulo.

Nessa cidade, deveria ser o bairro do Brás a exigir o maior e melhor preparo, em fundar e organizar o Hospital de caridade do Brás, onde os indigentes mereceram sempre as primeiras atenções do nobilíssimo médico, pelo espaço de quase meio século.

Em suas hábeis mãos, encontraram alívio para seus sofrimentos físicos e morais, todos que o procuraram, particularmente, os pobres e humildes, a quem dispensava paternais atenções.

Por isso, não deve surpreender se já no ano de 1922, sua pátria natal lhe conferia a “Cruz de Cavalheiro”, e a mesma santa Sé, dois anos depois, exatamente em 1924, após uma década de suas atividades em nosso meio, tornava-o “Comendador de São Gregório Magno”.

Perdia seu idolatrado pai, Francisco Brunetti, funcionário dedicadíssimo do Vaticano, em Roma, que nada poupava para que o filho conseguisse um aprimoramento da educação cristã., juntamente a um sério e sólido preparo científico.

O Dr. Carlos Brunetti, após o falecimento do pai, em Roma, no ano de 1924, constituía sua modelar família, casando-se na mesma capital do mundo cristão, com dona Tereza Scifoni, companheira ideal e inseparável de todos os momentos.

Deus abençoara o novo lar com seis filhos: Dr. Francisco, advogado; Dr. Ludovico, engenheiro; dona Maria Isabela; Dr. Luiz, médico; Dr. Vicente, e sra. Maria Gabriela.

Orientou a educação familiar, tendo os mais rígidos princípios da moral cristã, advogando e praticando o exemplo, como dogma, na formação da nossa juventude.

Em 1922, pela primeira vez, viveu os problemas do Brasil virgem, acompanhando as Missões salesianas em mato Grosso, de onde gravou vivas recordações e amizades, particularmente, em Corumbá, Aquidauana e Três Lagoas.

Em 1923, viajava pelo nordeste e norte do Brasil, empolgado pela grandeza do país e pela heroica atividade dos missionários católicos.

Grande admiração pelas Missões católicas permaneceu vivamente, no espírito do prof. Carlos Brunetti.

Dr. Carlos Brunetti esteve em Campos do Jordão, pela primeira vez, com sua esposa, Tereza Scifoni, a convite de Júlio Fracalanza, no dia 1° de maio de 1938, em casa de quem ficaram hospedados por dois dias, apreciando a beleza da natureza e o clima maravilhoso dessa terra encantadora.

Durante 3 anos passaram férias com os seus 6 filhos, em casa de Eduardo Levy e Felicíssima Lara Campos, em Vila Capivari.

Resolveram comprar um terreno e foi com o corretor Délio Rangel Pestana que percorreram, a cavalo, a propriedade da viúva do eng° Hell, construtor da Catedral de São Paulo. Treze alqueires eram demais, mas o local era demasiado bonito com bosques, morros, pinheiros e além disso, perto da cidade.

Compraram em 1940, iniciando a construção de uma casa sob a orientação de Pedro Abitante, com projeto do eng° Buchignani. Nessa época Vila Jaguaribe tinha poucas casas e uma igrejinha muito antiga com um altar barroco muito bonito e uma estátua doada por D. Pedro II. As paredes e o teto apresentavam rachaduras com perigo de ruir.

Foi decidida a sua demolição e a edificação de uma nova igreja, sendo as despesas custeadas pelo prof. Carlo Brunetti e pelo Dr. Aguinaldo Amaral, vizinho. O altar em branco e ouro foi desmontado e guardado em um barracão, mas aos poucos as peças foram desaparecendo.

A estátua de Nossa Senhora da Saúde foi guardada em uma casa de família de Vila Jaguaribe. A casa da família Brunetti ficou pronta em 1942, e desde aquela época plantaram muitas árvores, frutas e flores. Ofereceram aos padres franciscanos o topo do morro para a antena da Rádio Emissora local.

No ano de 1950, o primogênito de dr. Carlos Brunetti, Dr. Francisco, viajara para a Europa, com a finalidade, ao que parece, de aprofundar seus estudos jurídicos e, talvez, também filosóficos e sociais. Após uma visita à pátria de seus ancestrais, dirigiu-se à Grécia, onde, exatamente, chegou para o nosso saudoso professor, a notícia da morte do primogênito. Tudo faz crer tenha sido uma de suas maiores provações, se não a maior.

O Dr. Brunetti, apresentando-se a oportunidade, proporcionava a seus médicos auxiliares do Brás, palestras espirituais. Falava de Deus como de uma pessoa com a qual tinha a maior intimidade. Para ele, Deus não era uma ideia abstrata ou platônica, longe dos homens e longe do mundo. Era o Emanuel, o “Deus Conosco”.

É por todos conhecida a competência profissional do Dr. Brunetti, seu diagnóstico iluminado e rápido, sua intervenção decidida e enérgica, seu preparo escrupuloso para o ato operatório, sua mão firmíssima e a perfeição acabada de sua perícia técnica.

Porém, acima de todos esses aspectos, o Dr. Brunetti fazia questão cerrada de considerar em seus doentes, o caráter de Deus. E para que, nos tempos vindouros, nunca viesse a faltar esse ambiente tão propício de caridade, de moral e de piedade, num gesto altamente cristão de inédita generosidade, subtraiu do patrimônio familiar, essa Entidade Hospitalar, fruto de seu honesto trabalho profissional entregando-a em perpétua doação, a uma Instituição Religiosa, (Filhas de Nossa Senhora do Monte Calvário), que lhe herdou. Juntamente com o benefício, e espírito cristão, com o qual devia administrá-la.

Tocante homenagem recebeu no dia 06 de novembro de 1955, quando o corpo médico e as irmãs Filhas de Nossa Senhora do Monte Calvário, que se encarregaram dos serviços de enfermagem do Hospital São José do Brás, ofereceram-lhe um busto, perpetuado em bronze, pela passagem de seu aniversário natalício em 04 de novembro, e em sinal de reconhecimento pelos relevantes serviços prestados à coletividade.

Na festa de Nossa Senhora Auxiliadora 24 de maio de 1960, o Dr. Prof. Carlos Brunetti falecia, santamente.

No túmulo de família, que o Dr. Brunetti, num belo gesto de piedade filial, mandou erguer para abrigo dos restos mortais de seu querido pai, e onde também ele, ora repousa, ergue-se simples, austera e majestosa, uma cruz de granito, tendo ao centro o monograma de Cristo, e, ao lado, as letras Alfa e Omega, primeira e última do alfabeto grego, que João evangelista, aplica aos lábios do próprio Cristo, quando, no Apocalipse, lhe revela: “Eu sou o Alfa e o Omega, o princípio e o Fim”.

Fontes:


Jornal “Correio Paulistano”, de 11 de novembro de 1955;

Jornal “A Cruz”, Órgão da Liga Social católica de Mato Grosso, de17 de setembro de 1962;

Revista Fon Fon: Semanario Alegre, Politico, Critico e Espusiante (RJ) - 1907 a 1958;

PAULO FILHO, Pedro. História de Campos do Jordão. 1986. Campos do Jordão: Santuário. p. 784.

Carta de dona Tereza Brunetti de 24.03.1983 a Pedro Paulo Filho;

Hospital Santa Virgínia Belenzinho – Memória Saúde



Dr. Edmundo Ferreira da Rocha


Nascido em Campos do Jordão, no dia 19 de dezembro de 1943, é filho de Waldemar Ferreira da Rocha e Odete Pavan da Rocha e neto de pioneiros que para cá vieram em 1914. É casado e reside em Campos do Jordão. Formado em Ciências Jurídicas e Sociais, advogado. É fotógrafo amador, desde 1960, e colecionador de fotografias antigas e atuais de Campos do Jordão. Possui um acervo iconográfico com, aproximadamente, 30.000 itens. Idealizou e mantém o site www.camposdojordaocultura.com.br, através do qual divulga a história e a cultura de Campos do Jordão, especialmente através de fotografias, histórias e crônicas de sua autoria.

O Complexo Cultural Edmundo Rocha é o reconhecimento atribuído pela Lei Municipal 3731/15 de 3 de julho de 2015, a esse grande intelectual batalhador que há décadas se dedica à preservação da memória cultural de Campos do Jordão.

Dentre as diversas atividades exercidas pelo advogado, destacam-se:

● Vereador eleito em 1976;

● 1º Secretário da Mesa da Câmara Municipal - 02 anos;

● Tesoureiro da Santa Casa de Campos do Jordão;

● Secretário do Conselho Municipal de Cultura;

● Secretário da Associação Cultural de Campos do Jordão;

● Secretário de Recreação do Tênis Club de Turismo – 07 anos;

● Presidente do Abernéssia Futebol Clube;

● Secretário da Obra Social João XXIII;

● Tesoureiro do S.O.S. – Serviço de Obras Sociais;

● 02 anos na Secretaria da Justiça em São Paulo – 1965;

● Assessor na Diretoria na UNIMED em Campos do Jordão por 11 anos;

● Funcionário na Armco Industrial e Comercial em São Paulo, 02 anos;

● Funcionário no Posto Fiscal do Estado em Campos do Jordão por 13 anos;

● Gerente e funcionário na Seção Comercial da CESP – Companhia Energética de São Paulo por 17 anos;

● Membro efetivo da Academia de Letras de Campos do Jordão - Cadeira número 29, que tem como patrono Guimarães Rosa, e saudado pelo Acadêmico Pedro Paulo Filho.

● Aposentado desde dezembro de 1995.

Ter alguém para se espelhar é muito importante para encontrar motivação. O exemplo que me rodeia faz diferença, pois sempre me inspirou durante minhas pesquisas e trabalhos. Está no meu círculo de amizade, profissional e até mesmo junto a celebridades.

Um dia fui convidado a ir em sua casa. Olhei para o interior da sala, e me inspirei naquela pessoa que reside ali. Foi incrível. Naquele momento senti um apoio, pois seu ensino me fez amadurecer, e me trouxe respeito e valores. Aprendi que ter uma boa sala de trabalho como local escolhido para passar metade do seu dia é fundamental.  E, ali, pensei, acontecem as trocas de experiências e o contato com outros profissionais qualificados. Senti-me honrado, pois, o seu respeito aos colegas de profissão, trouxe a inspiração e, consequentemente, a ser um melhor profissional, e uma melhor pessoa.

Falamos o necessário, ouvi diferentes histórias, me deu muitas respostas sobre pesquisas. Descobri mais ainda que minha inspiração vem de pessoas, pessoas como Dr. Edmundo. Ouvir suas histórias, trajetórias, lutas, conquistas e ver como é possível alcançar o que quero ou pelo menos estar no caminho e ter a certeza de que tudo pode dar certo. Sua dedicação à história é a minha fonte de inspiração!

Quando escolhi minha carreira profissional, na maior parte das vezes, estive inconscientemente reproduzindo uma escolha feita por alguém no passado e que, de alguma maneira, tenha me inspirado a fazer a mesma coisa ou a seguir o mesmo caminho. Dr. Edmundo é um exemplo que sigo no trabalho, uma fonte de inspiração profissional, porque gosta daquilo que faz.

É minha referência, meu exemplo, que pelas suas ideias, conhecimento, capacidade e entusiasmo, me motiva e me alavanca enormemente nesta fase que me encontro. Percebo nas suas atitudes quais são meus acertos e erros, como me conduzir às mais diversas situações e avaliar sobre o que pode ser reproduzido ou adaptado ao dia a dia.

Dr. Edmundo como a minha inspiração na profissão me faz ser responsável e, muitas vezes, me traz um reconhecimento interior de estar fazendo bem a minha parte. Ele inspira a minha vontade de evoluir na profissão de historiador. Uma pessoa de grande destaque profissional ao realizar seu trabalho de forma séria, acredita e ama o que faz, com competência, seriedade e ética, em todos os sentidos possíveis. Grande exemplo de homem.


Fonte:

www.camposdojordaocultura.com.br


Dr. Irineu Gonçalves da Silva




Engenheiro Agrônomo, Dr. Irineu Gonçalves da Silva - Conselheiro Florestal Municipal - Conselheiro Rodoviário Municipal - Chefe da Casa da Lavoura.

Filho de Avelino Gonçalves da Silva, Dr. Irineu Gonçalves da Silva, por gostar de trabalhar no campo e ter contato com rebanhos, lavouras e produtos agrícolas, e por ser o Brasil um país agro, decidiu cursar Engenharia Agronômica, na Escola Superior de Agricultura, “Luiz de Queiroz” da USP – Universidade de São Paulo, na cidade de Piracicaba SP, nos anos 1952 - 1956, sob a direção do prof. Érico da Rocha Nobre.

Formado Engenheiro Agrônomo em 1956, Dr. Irineu Gonçalves da Silva, fez-se profissional para atuar na produção agrícola e pecuária, no manejo de recursos naturais e na gestão de agroindústrias. Foi ao Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (CREA) do Estado, e tirou o seu registro.

O “Profissional da Terra Jordanense”, Dr. Irineu Gonçalves da Silva, casou-se com a professora Celina, exemplar educadora e amada filantropa.

Dr. Irineu Gonçalves da Silva e Shisuto Murayama, ambos engenheiros agrônomos da Casa da Lavoura, marcaram seus nomes na história da agricultura em Campos do Jordão, fazendo diferença no município.

A Casa da Lavoura era elemento vivo na cidade. Fundada na década de 1950, pelo engenheiro agrônomo, Shisuto José Murayama, inicialmente, esteve estabelecida em uma das lojas localizadas ao lado do Abernéssia Futebol Clube, em frente ao Espaço Cultural Dr. Além; depois, o Palacete Olivetti, durante algum tempo, abrigou a segunda sede. Atualmente está localizada na Avenida Brigadeiro Jordão, em Vila Abernéssia.

Após a realização da II Festa Nacional da Maçã realizada em 1954 no Palácio Boa Vista, por motivos de desentendimento político entre o Governador Lucas Nogueira Garcez e o ex-Governador Dr. Adhemar Pereira da Barros, Dr. Shisuto Murayama foi transferido para a cidade de Viradouro SP.

Com a forte expansão da agropecuária no município, tornava-se necessário a presença de outro especialista, à altura, para administrar este setor.

Dr. Irineu Gonçalves da Silva, assumiu a direção da Casa da Lavoura em 01 de março de 1957, com o propósito de fomentar a fruticultura da região, mediante assistência permanente aos fruticultores, sem prejuízo das suas outras atividades. Foi seu desejo muito trabalhar para o desenvolvimento da produção em todos os seus setores, para melhor fortalecimento econômico da região. É de se destacar os tempos, em que visitava as propriedades rurais, usando seu Jipe, no deslocamento às fazendas.

Em 1951, o empresário, Antonio de Oliveira Pires, vendera sua linha de ônibus para a empresa Pássaro Marrom, e passou a se dedicar ao cultivo de azeitonas para fabricar o primeiro azeite nacional.

Foi tão bem sucedido e provocou grande repercussão em São Paulo, que em 08 de abril de 1959, dr. Irineu Gonçalves da Silva, do DPV -Departamento de Produção Vegetal, ligado ao SAA - Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo -, convidou as autoridades municipais para a inauguração do lagar (destilaria) de fabricação de azeite de oliva.

Instalado na Pousada da Serra, às margens da SP-50, o lagar tinha como propósito prensar azeitonas e produzir azeite, enfatizando o pioneirismo da olivicultura industrial no Brasil. A destilaria foi instalada nos moldes usados em Portugal, compondo-se de um tanque circular, com um motor elétrico no centro, que acionava duas rodas de pedra, de 500 quilos cada uma e que transformava, por esmagamento, em massa compacta as azeitonas ali lançadas.

O jornal, “O Estado de São Paulo”, sob o título “Primeira Fábrica de Óleo de Oliva”, noticiava a inauguração da destilaria que, embora pequena, resultava do pioneirismo de seu proprietário, em atividade ainda completamente inédita no Brasil.

Em julho de 1959, Dr. Irineu Gonçalves da Silva, endereçou sugestão ao governador do Estado de São Paulo, Carvalho Pinto, propondo sejam doadas à primeira fábrica de óleo de oliva do país, localizada em Campos do Jordão, 500 mudas de oliveiras de produção do Estado. Juntamente com a sugestão, o técnico enviou ao chefe do Executivo, amostra do óleo elaborado na fábrica.

Em 30 de novembro de 1957, Dr. Irineu Gonçalves da Silva foi admitido oficialmente como sócio do Rotary Clube de Campos do Jordão.

Dr. Irineu Gonçalves da Silva tem seu nome subscrito no Livro de Fundação da SEA - Sociedade de Educação e Assistência, ocorrido em 01 de junho de 1959.

Dr. Irineu Gonçalves da Silva participou ativamente das duas últimas Festas da Maçã em Campos do Jordão, 1958 e 1961, estando à frente da Casa da Lavoura.

Sob o patrocínio da Casa da Lavoura e Associação Rural, a V Festa da Maçã realizou-se nos dias 28 de fevereiro a 02 de março de 1958, onde em stands bem preparados, colocaram à exposição, nos salões do Abernéssia Futebol Clube, seus diversos produtos, entre os quais a maçã, que dava o nome à festa, pera, ameixa, caqui, azeitona e marmelo. O ponto alto da exposição foi a floricultura, aos cuidados do sr. Mário Utiyama.

O Dr. Irineu Gonçalves da Silva, presidente da Comissão Executiva, trouxe a esta festa amplo fomento da agricultura na região, aumentando o estímulo dos lavradores e criando maiores possibilidades para o desenvolvimento das lavouras macieiras.

A VI Festa da Maçã (última), instalou-se no dia 19 de fevereiro de 1961, com a presença inaugural e encerramento, do governador Carvalho Pinto. Numerosas variedades de frutas produzidas em Campos do Jordão, além de outros produtos da agricultura local, como cenoura, cuja produção em média era de 50 mil caixas por ano, couve-flor, tomate, etc., foram expostas nesse certame.

Campos do Jordão foi um dos maiores municípios produtores – onde, possivelmente a maçã encontrou o seu clima mais propício. A colheita local iniciou-se em janeiro de 1950 e ascendeu a um total de 15 mil caixas.

A Secretaria da Agricultura procurou incentivar e aperfeiçoar o cultivo dessa fruta às demais zonas que apresentassem condições ambientais favoráveis.

Em 13 de agosto de 1958, Dr. Irineu Gonçalves da Silva, participou da Comissão Técnica para a formação do Plano Diretor da cidade de Campos do Jordão, pelo engenheiro da prefeitura, Dr. Fausi Paulo; o técnico responsável pela elaboração do plano, ex-prefeito, Zenon Lotufo; a professora de Filosofia do Colégio e Escola Normal, Maria José Ávila.

Em 26 de setembro de 1962, recebeu das mãos do prefeito, José Antonio Padovan, os certificados de Conselheiro Florestal Municipal e Conselheiro Rodoviário Municipal.

Em 11 de janeiro de 1971, o Engenheiro Agrônomo Regional, Dr. Irineu Gonçalves da Silva, escrevia uma carta endereçada ao Diretor da Estrada de Ferro de Campos do Jordão – EFCJ, Engenheiro Durival de Carvalho, “cumprimentando-o pela brilhante iniciativa de edificar o monocabo aéreo do Morro do Elefante que já se achava em operação, e que era desejada há muitos anos pelos jordanenses e visitantes. Acrescentava ainda, que o candidato a vereança à Câmara Municipal deste município, Dr. Rubens Endel Sirin, há 6 anos, havia lançado no seu programa, a ideia de instalação de equipamento semelhante, o que na época, não foi bem recebida.

Em resposta, a 21 de janeiro de 1971, o engenheiro, Dr. Durival de Carvalho, escrevia que a ideia lançada há 6 anos havia frutificado consagradoramente, e que a consciência que reinava no espírito de todos que lutavam pelo desenvolvimento do Turismo, era a de que todos os empreendimentos sadios produtivos não deviam ser retardados ou adiados.

Escrevia ainda, que se sentia feliz de servir de instrumento à equipagem do Turismo de Campos do Jordão, cujo processo de desenvolvimento constituía produto de capacidade de trabalho de sua laboriosa população, que bem merecia toda a atenção e desvelo”.

O engenheiro agrônomo, Irineu Gonçalves da Silva, presidiu em 23 de maio de 1974, um jantar promovido pelo Rotary Club, na cerimônia de fundação do Clube Soroptimista de Campos do Jordão, realizado no salão do Grande Hotel, que contou com a presença da Governadora da Região da América do Sul, Perpétua Rudney de Camargo Neves e diversas presidentes de clubes de São Paulo.

A Organização Soroptimist International que nasceu há 100 anos nos Estados Unidos, é uma organização civil, formada por mulheres profissionais, que trabalham, através de projetos, para o avanço dos Direitos Humanos e da situação da mulher.

Devotamos admiração, carinho e respeito ao engenheiro agrônomo, Dr. Irineu Gonçalves da Silva, reconhecendo a importância e a responsabilidade que o profissional dedicou em tão pouco tempo para o crescimento sustentável da agricultura em nossa região.

Sua missão fundamental foi ofertar o elemento mais básico à manutenção da vida: o alimento.

Pelo Decreto nº 779 de 22 de maio de 1978, a estrada a partir de Vila Jaguaribe, que tem por início o fim da rua Amadeu Carletti Junior até à Colônia de Férias da Polícia Militar do Estado de São Paulo, passou a denominar-se, Avenida Dr. Irineu Gonçalves da Silva, por prestar relevantes serviços à comunidade jordanense, legando seu nome aos anais da história.

Seu pai, Avelino Gonçalves da Silva, recebeu uma homenagem póstuma, pelos inúmeros trabalhos realizados na estância, pelo decreto nº 685, de 24 de maio de 1976, com a denominação de rua, em Vila Jaguaribe.

O governador do Estado de São Paulo, Paulo Salim Maluf, através da Lei Estadual nº 2.070, de 23 de agosto de 1979, deu a denominação de "Engenheiro Irineu Gonçalves da Silva" à Casa da Agricultura de Campos do Jordão.

Fontes:

Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”. A Força da Contribuição ao Agronegócio Brasileiro. - Piracicaba: Serviço de Produções Gráficas, 2017 261 p.;

Jornal “Correio Paulistano”, de 01 de março de 1957; 24 de novembro de 1957; 11 de dezembro de 1957; 26 de fevereiro de 1958; 14 de agosto de 1958; 14 de julho de 1959; 19 de fevereiro de 1961; 26 de setembro de 1962;

Jornal “A Gazeta Esportiva”, de 14 de março de 1958;

Jornal “Correio da Manhã”, de 21 de fevereiro de 1961;

Revista Mensal de Difusão Cultural “Grupo Contemporartes”, de 22 de janeiro de 2021.

Carta do engenheiro, Irineu Gonçalves da Silva, endereçada ao Diretor da EFCJ, Dr. Durival de Carvalho, e resposta. 11.01.1971 (Acervo de Rubens Sirin).

PAULO FILHO, Pedro Paulo. História de Campos do Jordão. Campos do Jordão. Editora Santuário. 1986. Pp.784.


Dr. José de Magalhães



O engenheiro e arquiteto, Dr. José de Magalhães era gaúcho. Sua esposa, Clotilde Alvares de Azevedo Macedo Magalhães e sua filha, Teodora Bueno de Azevedo Macedo.

Criador apaixonado, viajou à Europa e ao Prata, mandou vir soberbos garanhões árabes, como também égua do mesmo sangue, todos com a marca do Stood-Book da Algéria (livros de registros). Trouxe para Belo Horizonte, quando fazia parte da Comissão Construtora da Nova Capital de Minas Gerais na qualidade de engenheiro arquiteto. Foram depois para o sítio Dávila, transformado em magnífica coudelaria, na cidade de Caeté, com brilhantes cavalos árabes que ali se criava.

Por exigência de sua profissão de engenheiro, mudou-se para Campos do Jordão, onde montou nova coudelaria à qual recolheu os belos árabes e seus produtos, dando continuidade à criação de animais de raça e à aclimação de várias culturas. Em 1896, o Dr. Domingos Jaguaribe o contratou, para fazer os serviços de agrimensura em suas vastas glebas, de cerca de 500 alqueires, em virtude da ocorrência de vários “grilos” que envolviam o capitão Joaquim Pereira da Rosa, sogro de João Rodrigues da Silva, o conhecido João Maquinista.

Na ação de divisão da Fazenda Natal, intentada na Comarca de São Bento do Sapucaí, fora nomeado agrimensor, chegando a iniciar os trabalhos de demarcação.

Dr. José de Magalhães iniciou a medição das terras de Campos do Jordão, na execução do contrato firmado entre este profissional e o dr. Domingos Jaguaribe, junto com seu colega sueco, Augusto Lewin, pai do professor Harry Mauritz Lewin.

Era um homem culto e fino, estimado pelos habitantes e relacionado com todas as pessoas importantes domiciliadas nesse lugar. Um cidadão útil e prestimoso, além de ser um chefe de família respeitável. Artista de belo talento e pouco comum, como atestavam seus trabalhos na capital federal, na bela capital mineira, Belo Horizonte.

Homem fino, educado, cavalheiro apto a tratar em centros civilizados. Em 1896, foi nomeado pelo Presidente do Estado, dr. Campos Sales, subdelegado do distrito policial de Vila Jaguaribe, em Campos do Jordão.

No dia 28 de dezembro, às 6 horas da manhã, perto da Vila Jaguaribe, no lugar denominado “Casa da Saúde”, foi assassinado com um tiro de espingarda, desfechado por João Rodrigues da Silva, vulgo “João Maquinista”, quando estava procedendo aos estudos necessários para a medição e divisão da Fazenda Natal.

João Rodrigues da Silva, morador de Campos do Jordão desde 1888, ficou conhecido pela alcunha de “João Maquinista” porque montara no bairro do Baú, monjolos e máquinas de moer cana. (Máquina hidráulica rústica, destinada ao beneficiamento e moagem de grãos. A ferramenta foi importante, pois dispensava o uso de mão-de-obra escrava, que antes utilizava um pilão que trituravam os grãos de milho ou de arroz).

A autoridade policial, avisada pelo inspetor de quarteirão da Vila Jaguaribe, Eduardo Feio, do crime perpetrado nos Campos do Jordão, seguiu para o local, chegando às 10 horas da noite do mesmo dia.

Foram nomeados peritos, o clínico dr. Américo de Oliveira e o dr. Carlos Pimentel, que procederam a exame no cadáver. A vítima estava na casa de sua residência, para ali fora transportada do lugar do crime. Encontraram na região direita do pescoço múltiplas soluções de continuidade, de forma circular produzidas por chumbo grosso, interessando a carótida, cuja consequente hemorragia produziu a morte quase instantânea. Disseram algumas testemunhas, que o dr. Magalhães, depois de receber o tiro, parou um instante, deu meia-volta e ajoelhou-se, caindo depois, para nunca mais se levantar. O sangue jorrava copioso da ferida. Era desolador o estado em que se achava a ilustre viúva e a filha do assassinado. A viúva, D. Clotilde, teve momentos de alucinação. Quando foi transportado para sua residência, o corpo inanimado do dr. Magalhães, ela não podia capacitar-se da triste realidade: chamava pelo marido com gritos cruciantes, acompanhada pelos soluços da filha, que debalde exclamava: meu pai! Meu querido pai!

Seu cadáver foi o primeiro a ser sepultado no cemitério de Vila Jaguaribe, sendo numeroso o féretro. Situado no Recanto Dubieux, ali foi sepultado o engenheiro agrimensor, José de Magalhães. Existia uma inscrição em um dos túmulos: “aqui jaz o Dr. José de Magalhães, barbaramente assassinado”. O pessoal chamava o campo santo de “Cemitério da Basin”.

Esse primeiro cemitério de Campos do Jordão, foi construído em 1898, por Matheus da Costa Pinto, em decorrência das repetidas aflições dos moradores, que se viam obrigados a transladar os seus mortos a Santo Antonio do Pinhal e Pindamonhangaba para sepultamento, sempre transportados em redes, em forma de banguês. Foi inaugurado em 1899 quando do sepultamento do engenheiro Dr. José de Magalhães.

A pedra de um túmulo cobre as cinzas de um ilustre engenheiro e as grades da cadeia enclausuraram um homem trabalhador.

Quanto a João Rodrigues da Silva, apresentou-se à polícia em São Bento do Sapucaí, onde foi julgado por três vezes no Tribunal do Júri e por três vezes foi absolvido.

Entre as décadas de 1920 a 1940, supriu a cidade de necessidades monetárias, emprestando dinheiro a juros. Era um verdadeiro banco. Construiu muitas casas, que alugava a preços módicos. Residia na Avenida Januário Miráglia, na altura do nº 909.

Campos do Jordão tinha dois sistemas de água, o de Capivari, da Companhia Melhoramentos Campos do Jordão e o de Abernéssia, do João Maquinista, que servia aos seus amigos. Doou o terreno para a construção do Hospital Maternidade “Adhemar de Barros”, exigindo que na escritura de doação constasse que a maternidade “era só para mulheres”, condição de que ninguém conseguiu demovê-lo. Doou terras para “Sanatorinhos” e para o Abrigo São Vicente de Paulo. Construiu um barracão onde recebia doentes pobres que não tinham acomodação e que “vinham para morrer”.

O primeiro agrimensor nomeado foi morto, em 28 de dezembro de 1899, por um dos condôminos; o segundo, por doença, desistiu da empreitada; e o terceiro, não demonstrou interesse.

Diante disto, a Ação encontrava-se paralisada. Um dos proprietários condôminos era a “Casa Natham e Companhia”, de São Paulo, SP, que em 17 de janeiro de 1907, decidiu dar prosseguimento à Ação.

Em 2 de maio de 1907, a “Societé Financiere Franco-Brasillienne”, de Paris, França, informou em juízo que, em 26 de fevereiro de 1907, adquiriu as terras da firma Casa Natham e Companhia, e que passaria a ser a promovente da presente Ação.

A grande maioria dos condôminos havia assinado o Contrato em 01 de maio de 1907, nomeando o Dr. Robert John Reid para os serviços de medição e divisão das terras da Fazenda Natal, que mais tarde foi transformada na Estância de Campos do Jordão, em processo que transitava em São Bento do Sapucaí, do qual Campos do Jordão era distrito. Foi contratado para elaborar serviços de topografia visando a demarcação e a divisão judicial da imensa Fazenda Natal, nas terras da Mantiqueira que, na realidade, era constituída pela grande maioria das terras que formavam o Município dos Campos do Jordão.

Fontes:

Jornal “Diário de Minas”, de 04 de abril de 1899;

Jornal “Correio Paulistano”, de 07 de janeiro de 1900;

Jornal “A Imprensa”, de 10 de janeiro de 1900;

Jornal “Gazeta de Notícias”, de 02 de fevereiro de 1900;

Jornal Online, “Folha da Região de Olímpia”, de 03 de março de 2018.

Acervo da Comissão Construtora da Nova Capital de Minas. Arquivo Público da cidade de Belo Horizonte.

http://www.ifolha.com.br/



Dr. Plinio Barbosa Lima



Dr. Plinio Barbosa Lima muito trabalhou pela estância, enfermo dos pulmões, em meados de 1917, e em dois anos obteve a cura, fixando-se na povoação e cooperando decisivamente para o seu desenvolvimento.

Contando um pouco mais de 30 anos, já se revelara em todo o valor de seus predicados pessoais, que lhe abriam perspectivas de um futuro brilhante. Quando chegou residiu na Pensão Backer em Vila Inglesa, e mais tarde no Hotel Helvetia em Vila Capivari (antiga Pensão Glória).

Dr. Plinio Barbosa Lima aos 31 anos foi clínico ilustre e humanitário, médico pioneiro de Campos do Jordão. Logo a sua clínica prosperou, graças à sua competência, especialista de moléstias do aparelho respiratório. Como os entusiasmos de seu temperamento o impelissem a uma atuação intensa, logo se tornou um dos grandes trabalhadores do progresso de Campos do Jordão, cercado da simpatia de todos e apoiado pela solidariedade dos habitantes daquele ponto.

1º Juiz de paz e chefe político da cidade, presidente do Diretório Político do Partido Republicano Paulista (P.R.P.).

Nascido em Minas Gerais, a 30 de maio de 1892, filho do pernambucano, dr. Geraldo C. Barbosa Lima, um dos mais antigos médicos das oficinas do Lloyd Brasileiro, e clínico durante muitos anos nos Estados de São Paulo e Minas Gerais. Seu pai foi Bacharel em Letras pelo antigo Colégio Pedro II e formado pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Sua mãe, Sra. Clarinda Monteiro de Barros (Barbosa Lima); duas irmãs, D. Esther Barbosa Lima Ferreira, esposa do farmacêutico e médico Alípio de Paula Ferreira; e a senhorita Lygia Barbosa Lima e o irmão, o dr. Raul Barbosa Lima, que exercia um importante cargo na magistratura do Estado do Paraná.

O dr. Plínio Barbosa Lima foi convidado para ser um dos diretores do Sanatório Miguel Pereira, a construir-se brevemente, em Campos do Jordão. Por isso, ideou a fundação de um grande sanatório, que mereceu os aplausos do governo paulista, que confiou a ele a missão de colher na Europa as informações e de adquirir o material necessário à fundação do grande estabelecimento.

Em sua trajetória, aconteceu um crime passional. Em 1918, o subdelegado, Carlos Fernandes Chaves, um homem decidido e de pouca conversa, que tinha fama de homem ruim, que batia no pessoal, tinha uma desagradável afinidade com o dr. Plínio Barbosa Lima: ambos gostavam da mesma mulher, e como não poderia deixar de ser, desentenderam-se.

Santerre Guimarães, dono da Pensão Sans-Souci, situado nos altos de Vila Fracalanza, também se desentendera com o dr. Plínio Barbosa Lima. O médico ficara sabendo que o subdelegado e Santerre tramavam contra ele.

O dr. Plínio Barbosa Lima estava sendo ameaçado de morte pelo sr. Santerre Guimarães, que, para o eliminar, mandara buscar no Rio de Janeiro um facínora da Saúde. Temendo o assassínio, agiu como lhe cumpria: procurou o subdelegado Chaves e pediu-lhe garantias. Telegrafou também ao dr. Moreira Cezar, delegado Regional de Guaratinguetá, reiterando o pedido. O dr. Moreira Cezar providenciou, telegrafando ao seu subordinado de Vila Jaguaribe que expulsasse ou processasse como vagabundo o capanga do sr. Santerre. Mas o subdelegado era velho desafeto do dr. Plínio Barbosa Lima e, agindo de acordo com péssimos precedentes, entrou a protelar a execução das medidas que lhe eram ordenadas.

Por irrisão, ofereceu ao ameaçado um praça para o acompanhar, como se isso o livrasse de uma tocaia, como se fosse possível viver no papel de covarde que obtém da polícia um guarda-costas, expondo-se à chacota de todos.

O dr. Plínio Barbosa Lima não se conformou com a situação e dirigiu-se à Estação da Estrada de Ferro para telegrafar novamente ao delegado Regional, pedindo-lhe novas e mais eficazes providências. Ao que informa o jornal “Correio de S. Bento”, o subdelegado Chaves interpôs-se nessa ocasião para lhe dizer que o seu ato era infantil e que ele, Chaves, como subdelegado, melhor saberia as medidas a serem tomadas. Provavelmente, não fora só isso.

O fato é que o dr. Plínio Barbosa Lima se exasperou ao ver que a autoridade policial, soube se tornar conivente com o sr. Santerre e seu capanga, ainda tentava impedir a queixa ao delegado Regional, como que a querer deixá-lo, ao desamparo para melhor execução do plano sinistro. “Bandido!” _ exclamou. E, levando o revólver à cara de Chaves, desfechou-lhe um tiro no olho direito. E daí saíram, um, feito assassino pela fatalidade, para a cadeia; outro, vítimas de seus próprios defeitos, para o cemitério.

O dr. Genésio Cândido Pereira, promotor público de São Bento do Sapucaí, apresentou denúncia contra o dr. Plínio de Barros Barbosa Lima, dando-o como incurso no art. 294, parágrafo 2º do Código Penal, por haver assassinado o subdelegado Carlos Fernandes Chaves, após acalorada discussão em que foram trocadas pesadas injúrias, porque essa autoridade não queria que o denunciado reclamasse garantias de vida ao delegado regional de Guaratinguetá. No sumário de culpa depuseram numerosas testemunhas, confirmada as versões.

Quem produziu a defesa do dr. Plínio Barbosa Lima, acusado de crime de homicídio na pessoa de Carlos Fernandes Chaves, subdelegado de Campos do Jordão, foi o ilustre tribuno criminal brasileiro, dr. Evaristo de Moraes. Foi absolvido.

Tempos depois, o notável e humanitário clínico no Estado de São Paulo, dr. Plínio Barbosa Lima, seguia para o Velho Mundo, em viagem científica, comissionado pelo governo federal para estudar a organização dos mais modernos sanatórios da Suíça. A bordo do luxuoso paquete “Giulio Cezare”, passou pelo porto da capital, Rio de Janeiro.

A missão de que se achou investido esse ilustre médico patrício estava à altura dos seus grandes méritos, um dos mais ardorosos propugnadores da solução do problema hospitalar brasileiro sob as suas várias modalidades. Com a sua observação percuciente de experimentado cientista, na visita que foi fazer aos sanatórios europeus, aprenderia, facilmente, os processos modernos a que obedeceria a instalação desses estabelecimentos, a fim de adotá-los em nosso meio.

Estava participando da IV Conferência da União Internacional contra a Tuberculose, reunida em Lausanne, Suíça. Em meio dessa tarefa, o acaso brutal de um desastre de aviação o alcança e o vítima, cortando-lhe em começo uma carreira brilhante e de que já entrevia a notável benemerência.

Dr. Plínio Barbosa Lima, 31 anos, no dia 24 de dezembro de 1924 foi vitimado num desastre de aviação no aeródromo de Croydon, Inglaterra, Europa, quando ia em viagem, de Londres para a Suíça.

Poucos minutos, depois de deixar em Londres o aeródromo de Croydon, o aeroplano expresso de Paris, avião da linha “Imperial Airway”, trazendo a bordo, oito passageiros:

M. Sproston, um filho e a nora; Maurício Luxembourg, um jovem de dezoito anos; madame Balley, todos cidadãos britânicos; o médico Plínio Barbosa Lima, brasileiro e M. Cedrid Truggett, chileno, redator principal da “Revista Chilena” que se publica em Londres, caiu ao solo.

Os seus 7 passageiros que se destinavam a Paris, aonde provavelmente iam passar o Natal, mais o piloto, morreram instantaneamente. Assim que se deu a colisão, a máquina explodiu. Grandes chamas envolveram o aeroplano. Quando os espectadores puderam aproximar-se, havia apenas um montão de cinzas. As vítimas estavam irreconhecíveis.

O piloto, capitão inglês, D. A. Stewart, 30 anos, casado, pai de quatro filhos, condecorado com a medalha militar britânica pelos serviços prestados no “front” durante a grande guerra, era muito competente.

Os pais de Maurício Luxembourg que tinham ido a Croydon para despedir-se do filho, assistiram, petrificados, no desenrolar da tragédia e viram, impotentes, a fogueira que consumia o filho.

Os espectadores, que se achavam a duzentas ou trezentas jardas do local do desastre, notaram que o aeroplano voava a pouca altura e em linha curva, ao invés de seguir, em reta, rumo da costa. Temeram que o aeroplano fosse de encontro às casas vizinhas. Segundos depois, ouviam um grande estrondo e viam elevarem-se no ar as chamas rubras do incêndio. Foi impossível aproximar-se logo da máquina, devido ao calor.

Em seis minutos, chegava o corpo de bombeiros, tendo feito um percurso de duas milhas.

Foi aberto um inquérito para apurar a causa do desastre do aeroplano em que pereceram as pessoas. O Juiz da Instrução, no correr do interrogatório, anunciou que o piloto, alguns dias antes do desastre, se queixara de que o motor não estava funcionando bem devido a estarem frouxos os lubrificadores. Segundo algumas testemunhas do acidente – pilotos aviadores – o avião tinha dificuldades em aterrissar no vasto aeródromo de Croydon, afirmando que o motor funcionava mal e não obedecia às manobras. Porém, o piloto tentou ser bem-sucedido, fazendo por descer devagar, mas como o aparelho estava muito carregado, em desarmonia com a força motora, Stewart viu que não podia ir muito longe e, portanto, tentou uma volta para regressar junto do hangar do aeródromo. Foi a sua perda, assim como a dos seus companheiros!

O aparelho, perdendo velocidade, deixou de funcionar e tombando para um dos lados caiu em terra, de frente como uma flecha, despedaçando-se no descampado de Purly e incendiando-se. Sucedeu então a horrível tragédia, a que assistiram os espectadores, sem lhe poderem acudir. O avião tornou-se rapidamente um gigantesco braseiro, alimentado pela gasolina contida no depósito, que havia rebentado. Era meio-dia; os numerosos operários das construções de casas baratas, que deixavam o serviço para jantar, acudiram logo, assim como os bombeiros do Croydon.

Na capital, Rio de janeiro, além da Missa de 7º dia, rezou-se uma Missa solene na Igreja de Nossa senhora da Candelária, armando-se no centro da Igreja uma eça, sobre a qual se colocou, ladeado de seis tocheiros, o féretro em que veio da Europa o cadáver do dr. Plínio Barbosa Lima.

Como era desejo manifesto do dr. Plínio Barbosa Lima ser sepultado em Campos do Jordão, foi o féretro transportado, com numeroso acompanhamento, até aquela cidade paulista, onde espontâneas e grandes manifestações de pesar foram prestadas, pela população local, ao médico que tanto havia concorrido para a prosperidade de Campos do Jordão, onde habitava há cerca de dez anos. O corpo do dr. Plínio Barbosa Lima chegou a Campos do Jordão aos 27 de janeiro de 1925.

Entre as homenagens prestadas em Campos do Jordão, realizou-se no dia 18 de fevereiro de 1925, no salão do Cinema Jandyra, uma sessão cívica em homenagem ao dr. Plínio Barbosa Lima, distinto clínico e chefe político, presidida pelo dr. Raphael Sampaio Vidal, ex-ministro da Fazenda, tomando assento ao seu lado os srs. Dr. Marco A. Nogueira Cardoso, Tadeu Rangel Pestana, dr. Fábio de Oliveira, José V. Sgrillo e Antonio Fonseca Mondino.

Ao abrir a sessão, o dr. Sampaio Vidal disse que agradecia o convite que recebera para presidir aquela solenidade, em que se prestava uma significativa homenagem ao grande médico a quem Campos do Jordão muito devia, pois que se tratava não só de um especialista de muito merecimento, como de um verdadeiro sacerdote da medicina.

Teve então a palavra, para fazer o elogio fúnebre do dr. Plínio Barbosa Lima, o sr. Tadeu Rangel pestana, que pronunciou um extenso discurso, historiando a vida do homenageado e realçando os merecimentos que todos lhe reconheciam.

Disse que nele, o primeiro médico que se estabelecera em Campos do Jordão e no seu esforço de propaganda das condições climatéricas do local se contava um dos melhores elementos da prosperidade da região. Lembrou que o dr. Plínio fora à Europa a fim de preparar a instalação, em Campos do Jordão, do sanatório Miguel Pereira, de inauguração próxima. E durante sua estadia no Velho Mundo, frequentara, na Suíça, as clínicas das maiores notabilidades em tisiologia.

O governo federal do Brasil o encarregou de representar o nosso país no Congresso Internacional Contra a Tuberculose, realizado em Lausanne, em agosto de 1925, no qual se distinguiu sobremodo.

Perdeu a sua ilustre família, além do carinho e do afeto de um ente querido, um arrimo seguro e um chefe de rara dedicação, do qual podia com a justiça orgulhar-se. Perdeu Campos do Jordão um filho adotivo de grande dedicação e estima por esta terra. Perderam os seus clientes um médico competente e caritativo. Perdeu a classe médica um dos seus mais lídimos representantes na especialidade. Perdeu a política deste distrito um chefe de orientação segura e patriótica. Perderam os seus amigos um companheiro dedicado, em quem podiam confiar.

Depois do sr. Tadeu Rangel Pestana, também falou o dr. Heitor Sampaio, sendo a seguir encerrada a sessão cívica, que teve a concorrência das principais famílias, autoridades e grande número de amigos. Foi uma solenidade comovedora pela tristeza e pela saudade que se percebia na atitude dos presentes e pelo silêncio religioso e expressivo em que decorreu a sessão.

A família do finado esteve representada pelo seu digno irmão, o advogado, dr. Raul Barbosa Lima e exma. Senhora.

Foi executada a marcha fúnebre de Chopin ao abrir-se e ao encerrar-se a sessão. No palco via-se um retrato do finado envolto em crepe.

Fontes:

Jornal “O Paíz”, de 21 de junho de 1922;

Jornal “Gazeta de Notícias”, de 03 de junho de 1924;

Jornal “O Combate”, de 12 de julho de 1918; 28 de janeiro de 1925;

Jornal “Jornal do Brasil”, de 02 de janeiro de 1925;

Revista “A Cigarra”, 1ª quinzena de fevereiro de 1925.



Dr. Sylvio da Costa Rios



Dr. Sylvio da Costa Rios, nasceu no ano de 1916 na cidade de Salvador, BA. Quando tinha 20 anos, vitimado pela tuberculose, seu médico o mandou para Campos do Jordão, como última chance de vida para se tratar, ainda estudante. Tomou um avião e no meio da viagem surgiu uma turbulência violentíssima. Todos os passageiros estavam em pânico e só o Dr. Silvio, na maior calma.... Chegou um passageiro e perguntou o porquê daquela tranquilidade! A resposta: estou indo pra uma tal cidade de Campos do Jordão para morrer; e para mim não faz diferença morrer hoje ou o mês que vem!

Curado, voltou para sua cidade natal para formar-se médico, na Faculdade de Medicina da Bahia – UFBA em 1953. Com cursos especializados no Brasil e no exterior, inclusive nos Estados Unidos da América.

Retornou à cidade de Campos do Jordão para atuar no Sanatório S-3, hospital que lhe acolheu na doença. Prestou importantes e relevantes serviços em vários sanatórios e hospitais de Campos do Jordão, no combate à tuberculose, especialmente nas áreas da tisiologia e pneumologia.

Tisiologista, conhecido cirurgião torácico, diretor clínico da instituição filantrópica Bandeira Paulista Contra a Tuberculose; diretor Clínico do Sanatório 3 de Outubro; Diretor Clínico dos Sanatórios Populares S2 e S3; Membro da Sociedade Americana de Quimioterapia da Tuberculose, e sócio fundador da Associação Médica Brasileira, tornou -se o maior médico pneumologista do Brasil, salvando centenas, senão milhares de pessoas!

Grande médico clínico e cirurgião, pneumologista e tisiologista de Campos do Jordão, Dr. Sylvio da Costa Rios aplicou as suas atividades, projetando, bem alto, o nome da cidade, nessa difícil e especializada área.

Médico que a meio século lutou para salvar vítimas da tuberculose, pessoa honrada, que trabalhou árdua e seriamente desde a sua juventude em Campos do Jordão. Seu consultório estava instalado onde hoje se encontra o Laboratório de Análises Clínicas São Lucas, na Rua Pereira Barreto, 50.

Participou de muitos Congressos de Pneumologia e Tisiologia brasileiros.

Casado com Maria Helena Seabra Rios, nascida a 15 de novembro de 1938, mais conhecida por Leninha Rios, tiveram os filhos, Sylvio da Costa Rios Filho, Luiz Augusto Seabra Rios e Silvia Helena.

Foi professor em diversas faculdades da região e em várias disciplinas, nelas se incluindo a pneumologia, tisiologia, cirurgia torácica entre outras, tendo sido também professor na Faculdade de Medicina de Itajubá.

Dr. Sylvio da Costa Rios foi considerado um dos maiores médicos pneumologistas do Brasil.

Dr. Sylvio da Costa Rios foi um dos sócios fundadores do Lions Clube de Campos do Jordão, fundado em 24 de agosto de 1957 e seu 1º presidente eleito, por aclamação.

Dr. Sylvio da Costa Rios fez parte da Comissão Executiva para a fundação da SEA – Sociedade de Educação e Assistência, em Campos do Jordão.

Com a presença do Governador Laudo Natel e esposa, Prefeito Municipal, autoridades, a Sra. Anita Briza e inúmeros confrades, o Diretor Clínico, Dr. Silvio da Costa Rios, participou da inauguração, em 1975 do Sanatório 3 de Outubro.

Em 26 de setembro de 1962, recebeu das mãos do prefeito, José Antonio Padovan, o certificado de Conselheiro Municipal de Educação e Saúde.

Dr. Sylvio da Costa Rios, Presidente da Sociedade Americana de Quimioterapia da Tuberculose, entregou ao sr. Osmar Perazzo Lannes, Diretor Presidente dos Laboratórios Lepetit, em 1977, o Certificado (Pergaminho) em reconhecimento ao apoio dado por esse laboratório à erradicação da tuberculose no Brasil.

Dr. Sylvio da Costa Rios residiu em Campos do Jordão há longos anos, cercado do maior respeito, consideração e estima de todos os seus familiares, dos seus colegas e outros jordanenses, desenvolveu as suas atividades com muito desprendimento.

Faleceu no ano de 2004, quando completaria 90 anos.

Pelo decreto nº 3456 de 20 de dezembro de 1996, o logradouro situado na Vila Suíça, frente ao Hospital São Camilo foi denominado, “Praça Dr. Sylvio da Costa Rios". No dia 09 de julho de 2005, foi inaugurada pelo Governador do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin. A praça foi reformada e revitalizada no dia 27 de janeiro de 2018. Também existe uma rua que leva o seu nome, em Vila Capivari.

Fontes:

Jornal “A Gazeta da Pharmácia”, Ano XLVII, nº 558 - outubro de 1978

Jornal “Correio Paulistano”, 26 de setembro de 1962;

Revista “Manchete”, 09 de setembro de 1978;

PAULO FILHO, Pedro. História de Campos do Jordão. Campos do Jordão. Editora Santuário. 1986. Pp.784.

Links:

http://ismaelgobbo.blogspot.com/2011_11_05_archive.html



Frederico Carlos Hoehne



Escondido entre os píncaros da Serra da Mantiqueira, fronteiro às cidades de Pindamonhangaba e Taubaté, fica um lugarejo encantador que se denomina Campos do Jordão. Assim se refere o naturalista, Frederico Carlos Hoehne, famoso botânico, em seu livro, quando em 1924 esteve na antiga Fazenda da Guarda, estudando as plantas de Campos do Jordão.

O cientista e naturalista, Frederico Carlos Hoehne nasceu em Juiz de Fora, MG, em 01 de fevereiro de 1882, tendo residido no Brasil por toda a sua vida.

Era um dos oito filhos de dois imigrantes alemães que chegaram em 1858 ao Brasil, ainda crianças. Os seus pais cresceram e se conheceram já no Brasil, casaram-se em 1870 e nunca retornaram ao seu país. O seu pai se dedicou à agricultura, à marcenaria e à montagem de máquinas industriais, nas imediações de Juiz de Fora, onde tinha um pequeno sítio.

Frederico Carlos Hoehne casou-se em 1907, com Carla Augusta Frieda Kuhlmann, também de ascendência alemã com quem teve quatro filhos, que lhe deram pelo menos 11 netos. Tal como Hoehne, seus filhos e netos aparentemente fixaram residência no país, caracterizando uma migração bem sucedida, no sentido de criar raízes e aproveitar perspectivas novas no país de destino. Um de seus filhos, engenheiro Wilson Hoehne, foi professor de faculdade de farmácia de São Paulo.

Foi um botânico brasileiro, defendendo a proteção da natureza durante toda a sua vida, sendo o pioneiro no tema entre os cientistas do país. Também fora escritor e diretor de instituições específicas, como o Instituto Butantã, o Instituto de Botânica de São Paulo, o Zoológico de São Paulo e o Museu Botânico Dr. João Barbosa Rodrigues. Sua prática de campo e gabinete possibilitou publicações de sua autoria, como também como coordenador, nos órgãos que dirigiu.

Em 1907, quando tinha 25 anos, deu o grande salto que lançou a sua carreira de pesquisador e cientista. Com a ajuda do presidente da Câmara de Vereadores de Juiz de Fora, amigo de sua família, este jovem interiorano sem formação científica conseguiu ser nomeado, um tanto surpreendentemente, para o cargo de Jardineiro-Chefe do Museu Nacional do Rio de Janeiro, a maior instituição científica do país.
Poucos meses depois de assumir o cargo, em 1908, foi convidado a integrar uma expedição de naturalistas do Museu Nacional que acompanharia Cândido Mariano da Silva Rondon numa viagem ao Mato Grosso.

Partiu para essa que seria a primeira de suas numerosas viagens de pesquisa a muitos pontos do Brasil. Em fins de 1909, voltou de Mato Grosso trazendo 2.000 plantas colhidas em vários locais do então remoto e gigantesco estado, as quais foram incorporadas ao herbário do Museu Nacional.

Enviou alguns exemplares florísticos à Alemanha, para identificação. Desenhos seus (de plantas) foram impressos também na Alemanha e depois anexados ao relatório oficial da expedição de Rondon.
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Em 1910, Frederico Carlos Hoehne estava de volta a Mato Grosso, na companhia dos botânicos Hermano e Geraldo Kuhlmann, em nova expedição de estudos da flora.

Em 1912, foi, outra vez, botânico de uma expedição de Rondon (Mato Grosso e Amazonas) e em 1913 , como Chefe do Gabinete de Botânica da Inspetoria de pesca, do Ministério da Agricultura, desempenhou a mesma função na chamada Expedição Científica Roosevelt-Rondon, na expedição do Coronel Theodoro Roosevelt, ex-presidente dos EUA, e que no princípio de um ano cadente, atravessou extensa e até então desconhecida zona do interior do Brasil, em abril de 1914. Em pouco mais de cinco anos, portanto, fez quatro longas viagens de exploração científica.

Na verdade, Frederico Carlos Hoehne exerceu funções públicas durante 47 anos, como Jardineiro Chefe do Museu Nacional, Chefe do Gabinete de Botânica da Inspetoria de Pesca, do Ministério da Agricultura, Botânico da Expedição Científica Roosevelt -Rondon encarregado também da colheita e preparo de materiais de zoologia, Botânico do Horto Oswaldo Cruz, Chefe da Secção de Botânica do Museu Paulista, Chefe da Seção de Botânica e Agronomia do Instituto Biológico, Diretor Superintendente do Departamento de Botânica do Estado e, por fim, Diretor do Instituto de Botânica, da Secretaria de Estado dos Negócios da Agricultura.

O Museu Nacional, vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), é a mais antiga instituição científica do Brasil que, até setembro de 2018, figurou como um dos maiores museus de história natural e de antropologia das Américas.

Localiza-se no interior do parque da Quinta da Boa Vista, na cidade do Rio de Janeiro, estando instalado no Palácio de São Cristóvão. O palácio serviu de residência à família real portuguesa de 1808 a 1821, abrigou a família imperial brasileira de 1822 a 1889.

A realização do Jardim Botânico de São Paulo deve-se ao persistente e valoroso dr. Frederico. Foi chamado ali com o fim de assentar as bases para a organização de um jardim botânico que devia começar pela cultura e exposição de plantas ornamentais mais interessantes da flora indígena.

Em 1952 recebeu o título de Servidor Emérito do Estado de São Paulo. Membro titular da academia Brasileira de ciências Seção de ciências biológicas. Foi agraciado com a medalha de mérito D. João VI em 1958.

Devemos reconhecer, por ser de justiça, que cabe a ilustres naturalistas de além mar, os primeiros brados eloquentes, concitando o Brasil a defender e a proteger, o quanto possível, os riquíssimos patrimônios do seu maravilhoso reino vegetal.

O cientista e naturalista, professor Francisco Carlos Hoehne, foi o maior botânico do Brasil. Entre as centenas de monografias que escreveu sobre a nossa flora, vem de publicar um tratado sobre as plantas medicinais e venenosas; sob o título de Plantas e Substancias Vegetais toxicas e medicinais. Faleceu em 16 de março de 1959 com 77 anos.

Fontes:

Relatórios do Ministério da Justiça (RJ) - 1891 a 1927   1908;

Jornal “Jornal do Commercio” (RJ) de 07 de janeiro de 1936;

Annaes da Academia Brasileira de Ciências (RJ) em 1931;

Jornal “Correio Paulistano” (SP), de 11 de junho de 1938; janeiro de 1940;

Almanak Laemmert: Administrativo, Mercantil e Industrial (RJ) - 1891 a 1940;

Jornal “A Noite” (RJ), de fevereiro de 1913;

Illustração Brasileira (FRA) – 1901 a 1958;

Jornal “Gazeta de Notícias” (RJ) - 1900 a 1919 25 de fevereiro de 1917;

Revista “O Campo”, de abril de 1937;

Jornal “A Notícia”, 15 de janeiro de 1940;

Livro: Flora Brasílica;

Suplemento de Divulgação Cientifica de "A Manhã" (RJ) - 1948 a 1950         24.04.1949;

Jornal “Última Hora” (PR) de março de 1959;

Sociedade Brasileira de Orquidófilos (RJ) - 1958 a 1962   agosto de 1958;

Suplemento Literário (SP) - 1956 a 1985    19.07.1975;

Ciência e Cultura (SP) - 1949 a 2017   10.10.1984;

“Botânica e Agricultura no Brasil no século XVI”;

Plantas e substancias vegetais, tóxicas e medicinais;

As Ferrovias do Brasil nos cartões-postais e álbuns de lembranças por João Emilio Gerodetti, Carlos Cornejo.

Links:

https://www.infraestruturameioambiente.sp.gov.br/institutodebotanica/2020/02/aniversario-frederico-carlos-hoehne/

https://pt.wikipedia.org/wiki/Museu_Nacional_(Rio_de_Janeiro)





Frei Orestes Girardi




Campos do Jordão, malgrado a modesta situação da grande maioria de seu povo, foi nas décadas de 1950-1960, centro de franco desenvolvimento. O seu clima privilegiado, a sua natureza paradisíaca, credenciaram-na como uma das mais renomadas estâncias de cura e turismo, atraindo cada vez mais, contingentes de criaturas provindo de cidades limítrofes da região de Minas Gerais e também de longínquas partes do país.

Essas pessoas quase sempre de parcos recursos, promoveram o aumento da população em sub-condições de vida, crianças e adultos a reclamar do poder público e da iniciativa particular assistência de toda ordem. Com o aumento da população de Campos do Jordão surgiram graves problemas, o amparo às crianças órfãs e abandonadas. Para colaborar na solução de angustiosos problemas criados por esta situação é que a Sociedade de Educação e Assistência - SEA, sob a direção de Frei Orestes Girardi se propôs a realizar esta obra.

Frei Orestes Girardi, Irmão Franciscano, da Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil, nasceu em Nova Prata, RS., aos 06 de setembro de 1921, batizado por Antônio Fernandes. Entrou na Ordem Franciscana aos 06 de setembro de 1936. Passou em várias fraternidades no Sul, servindo como alfaiate, hortelão, porteiro, sacristão, enfermeiro, auxiliar de dentista.

Sua chegada a Campos do Jordão deu-se no ano de 1955, designado a auxiliar como porteiro e sacristão. Trabalhou na Igreja Matriz de Santa Teresinha, nos serviços gerais de reboco de paredes, ornamentação dos altares, na aquisição e instalação dos sinos, e serviços de secretaria e de portaria.

Impressionado com a extrema pobreza encontrada nos bairros e comunidades e nos sucessivos e diários pedidos de socorro, o que pôde constatar nos locais por ele visitados, fundou a SEA – Sociedade de Educação e Assistência de Campos do Jordão em 14 de abril de 1959, destinada a prestar auxílio a indivíduos ou famílias. Organizou juridicamente a sociedade, com estatutos próprios.

Em 1960 empenhou-se numa campanha para obtenção de recursos destinados à construção do prédio onde seriam instalados os serviços da entidade.

A sociedade já tinha um magnífico terreno, doado à entidade franciscana, pelo governador do Estado. Os donativos podiam ser em dinheiro ou em material para a construção. Nesse sentido, fez-se um apelo aos industriais e comerciantes e ao povo paulista. Aos homens da capital de todas as classes que poderiam ajudar a erguer o prédio assistencial onde seriam atendidas as crianças e famílias pobres de Campos do Jordão. Os donativos poderiam ser remetidos para a Igreja Matriz de Campos do Jordão.

A diretoria da Sociedade de educação e Assistência pediu ao povo de São Paulo, aos industriais e comerciantes generosos, a sua contribuição para tão meritória obra.

Assim, no início dos anos de 1960, a SEA começou a funcionar num barracão de madeira, muito simples e com 02 salas de aula, buscando parceria junto ao SESI, Serviço Social da Indústria, até o ano de 1992. A partir de então, adquiriu personalidade jurídica com seu estatuto.

Em 07 de setembro de 1962, era lançada a pedra fundamental dos seus pavilhões. Iniciou-se com diversas campanhas, obtendo as primeiras adesões com o então Governador, Abreu Sodré e dona Maria do Carmo. Em 1971, foi terminado mais um pavilhão onde funcionaria o Ginásio.

Já atuava em diversas modalidades: parque infantil, creche, Jardim da infância, cursos de alfabetização, escola profissional de gráfica, marcenaria, malharia, corte e costura e a guarda mirim - um serviço de assistência para 200 menores desamparados, alojados em prédio provisoriamente alugado que recebiam educação física, moral, educacional e diversos serviços de assistência, recreação e ensino. Centenas de alunos frequentavam os cursos do primário e ginásio.

Frei Orestes Girardi morava num pequeno apartamento à esquerda da entrada da instituição. Tinha vida pobre e sacrificada, entremeada de dores físicas, em razão das limitações que possuía, todavia, era uma pessoa feliz, por ser amado pelas crianças, cujo amor era a sustentação do seu dia a dia.

Percebendo que sozinho não poderia levar adiante a obra que estava adquirindo grandes proporções, com o apoio do Bispo Diocesano D. Francisco Borja do Amaral e a ajuda da Irmã Maristela, fundou a Pia União das Irmãs Franciscanas de Nossa Senhora de Fátima, que recebeu a aprovação diocesana em 10 de fevereiro de 1969.

Apesar de tantos empreendimentos, desafios e surpresas do Espírito Santo, sonhava em ser sacerdote. Conseguiu ordenar-se Diácono no dia 12 de março de 1972. Após isso, recorreu ao Papa Paulo VI e ao Papa João Paulo II para obter licença a ser ordenado Sacerdote, o que não conseguiu. Não o foi de nome, mas de coração e por atos.

No dia 13 de maio de 1988 foram aprovadas canonicamente como Congregação pelo Bispo Diocesano, Dom Antonio Afonso de Miranda, as Irmãs Franciscanas de Nossa Senhora de Fátima. Hoje, já ultrapassa as fronteiras de Campos do Jordão e mantém casas em Minas Gerais, Paraná, e participa de projetos Missionários na Amazônia.

Pouco menos de três meses depois, no dia 05 de agosto de 1988, Frei Orestes Girardi encerra sua caminhada nesta terra.


Fontes:

Diário da Noite, 14 de novembro de 1960.

Correio Paulistano, 20 de julho de 1960


Hermes de Figueiredo


Hermes de Figueiredo, o grande esportista, um dos maiores jogadores de Basquetebol e Voleibol de Campos do Jordão nasceu em Machado, Sul de Minas.

Veio para Campos do Jordão em julho de 1953, com seus pais e irmãos. Foi premiado por um espetáculo de geada de branquear telhados, morros, ruas: 13° abaixo de zero. Eu, meus pais e irmãos ficamos maravilhados.

O jovem Hermes de Figueiredo, ao se mudar para Campos do Jordão, teve o seu primeiro contato com o esporte de competição. Em 1954, integrou as equipes de basquete, vôlei, atletismo, xadrez, natação e tênis de mesa do Grêmio Estudantil Jordanense.

Hermes e seu irmão, Melius, foram até a Escola Estadual para verificar o horário de aulas, e se surpreenderam com a disciplina de Educação Física, 3 dias por semana no período da manhã. Não sabiam o que isso significava, nem seus pais tinham a menor ideia. Quando iniciaram as aulas, descobriram que nunca haviam tido essa aula em Minas Gerais. O professor chamava-se Gad Aguiar, que por sinal, passou a ser um de seus grandes amigos.

Na época, recebeu de seu professor, informações sobre o esporte chamado Atletismo, “O Esporte Mãe”, onde aprenderiam a correr; saltar 4 tipos de saltos; arremessar dardos, peso e disco; e coordenar todos os movimentos que se usam para praticar todos os esportes.

A maior festa do esporte infantil eram os Jogos Verde X Branco, jogos internos na Escola Estadual. As cores eram do uniforme do G.E.J. Era disputada todas as modalidades: Desfile de Abertura; Entrega de Medalhas; e a Festa de Encerramento. Quase em todos os Jogos Verde X Branco, após o sorteio para a escolha dos participantes, Hermes de Figueiredo, era o primeiro a ser escolhido, pois, era preenchia o maior número de modalidade esportiva e fazia a maior parte das provas individuais e também para os esportes coletivos, basquete, voleibol, xadrez, tênis de mesa.

Muitos de seus colegas foram Efraim Diniz; Nelson Ladeira; Eduardo Neme Nejar; Dudu; Olívio; Homero Godliauskas Zen; Lincoln Parra Vasquez; Arthur Claro Bastos, o homem-borracha; Mariano Câmara; Paulo Vaez; Volney Procópio; Anaor; Romeu Mezzalepo; e muitos outros.

Mais tarde, já na Escola de Especialistas da Aeronáutica, em Guaratinguetá, conquistou o bicampeonato de basquete nos jogos militares e foi eleito atleta do ano em 1958.

Foi técnico de equipes de vôlei e futsal. Hermes teve conhecimento do esporte e defendeu a inicialização esportiva na escola, no ensino fundamental, de forma técnica e coerente.

Em Varginha, integrou a equipe de basquete de 1962 a 1967, depois foi eleito Diretor de Esportes do VTC, quando idealizou e realizou os jogos abertos do interior de Minas Gerais. Um trabalho árduo, inclusive para convencer as autoridades que duvidavam da proposta e depois para realizar a disputa de 10 modalidades, numa época que não existia a facilidade da vida moderna e muito menos a cultura de valorização do esporte.

Mas Hermes sempre foi um visionário, idealista e precursor. Ele acreditava que era possível mudar o mundo a partir de nossa aldeia, a partir de um gesto nosso, de uma generosidade nossa.

Varginha sediou, ou melhor, realizou três edições dos Jogos Abertos (1969 a 1971) e quando o governo estadual resolveu que deveria haver rodízio de sedes, os jogos deixaram de existir, retornando na década de 1980, como JIMI’s.

Trabalhou o desenvolvimento do esporte varginhense em sua totalidade, deu sua contribuição de atleta, formou equipes escolares e profissionais, realizou os Jogos Operários, participou da criação do Conselho Municipal de Esportes, foi o primeiro Secretário Municipal de Esportes.

Hermes já recebeu diversos prêmios, títulos e homenagens, mas certamente ainda estão aquém do mérito.

De seu currículo esportivo, destaca-se:

Em 1954 – Integrante das equipes de basquete, vôlei, atletismo, xadrez, natação, tênis de mesa do Grêmio Estudantil Jordanense da cidade de Campos do Jordão; integrante da Seleção de Basquete da cidade de Campos do Jordão.

●Em 1955/56 – Eleito Diretor de Esportes do Grêmio Estudantil Jordanense.

●Em 1955/56/57 – Integrante das equipes de basquete, voleibol, atletismo e natação do Grêmio Estudantil Jordanense, e das seleções da cidade de Campos do Jordão.

●Em 1957 – Campeão de Basquete da Escola de Especialista da Aeronáutica em Guaratinguetá.

●Em 1958 – Bicampeão de basquete da Escola de Especialista da Aeronáutica, e integrante da Seleção da cidade de Guaratinguetá.

●Em 1958 – Integrante e Capitão da Equipe de Basquete da Escola de Especialistas da Aeronáutica nos Jogos Militares na cidade de Campinas na comemoração da Semana do Exército Brasileiro.

●Em 1958 – Integrante da seleção da F.A.B. – Força Aérea Brasileira.

●Em 1958 – Técnico de Voleibol Feminino do Colégio Nossa Senhora do Carmo da cidade de Guaratinguetá.

●Em 1958 – Campeão (técnico) da equipe do Colégio do Carmo nos primeiros Jogos Estudantis Regionais do Vale do Paraíba.

●Em 1958 – Eleito o Melhor Esportista do ano, da Escola de Especialistas da Aeronáutica.

●Em 1959 – Organizador Técnico e Capitão da Seleção de Basquete da cidade de Machado, MG.

●Em 1959 – Presidente da Comissão Municipal da cidade de Campos do Jordão.

●Em 1959 – Presidente do Grêmio Estudantil Jordanense.

●Em 1959 – Introdutor do Futebol de Salão em Campos do Jordão.

●Em 1959 – Técnico da Seleção de Futebol de Salão de Campos do Jordão. Campeão do Vale do Paraíba e semifinalista do Estado de São Paulo.

●Em 1959 – Técnico Campeão de Futebol de Salão da Equipe infanto-juvenil do Grêmio Esportivo Jordanense, no primeiro campeonato da cidade na categoria.

●Em 1960 – Diretor Técnico de Esportes de Quadra da Comissão Municipal de Esportes de Campos do Jordão.

●Em 1960 – Eleito o Melhor Diretor de Esportes da Comissão Municipal de Esportes de Campos do Jordão.

●Em 1961 – Integrante das Equipes de Basquetes do Cisplatina Clube e do Tênis Clube Paulista da cidade de São Paulo.

●Em 1962 a 1967 – Integrante da Equipe Principal de Basquete da cidade de Varginha, MG.

●Em 1967 – Técnico e Capitão da Equipe de Basquete da cidade de Botelhos, MG.

●Em 1968 – Eleito Diretor de Esportes do Varginha Tênis Clube V.T.C. Exerceu o cargo até 12 de outubro de 1972.

●Em 1968 – Iniciador e Técnico da Nova Geração de Basquete de Varginha. Em 1975 foram campeões do interior de Minas Gerais.

●Em 1970 – Eleito Melhor Diretor de Esportes da cidade de Varginha, agraciado com o troféu “O Pinguim” – Promoção do Jornal “A Tribuna Varginhense”; introdutor do Profissionalismo de Basquete no Estado de Minas Gerais.

●Em 1968 – Criador e Idealizador dos Jogos Abertos do Interior de Minas gerais – a maior competição poliesportiva de Minas Gerais (hoje, Jogos Int.de Minas Gerais – JIMI – 1960/70/71.

Nas décadas de 1960, 1970 e 1980 foi um dos agentes transformadores do basquete masculino varginhense na grande potência do Estado.

Fonte:

Jornal Podium, 23/05/2014.


Ignácio Caetano Vieira de Carvalho


A antiga casa ao lado do cinema, situada na Vila Suíça, proximidades de Vila Abernéssia, no final da subida da Rua Dr. Reid, serviu de residência ao desbravador da Mantiqueira, Ignácio Caetano Vieira de Carvalho, o primeiro que teve a glória de pisar nas terras dos Campos do Jordão.

Essa casa serviu de residência ao Dr. Robert John Reid quando veio fazer a demarcação da Fazenda Natal; em 1929, serviu de residência ao Senhor Oscar Rodrigues; foi sede da primeira escola primária de Vila Abernéssia; posteriormente, durante muito tempo, sede da Pensão Belo Horizonte; e, finalmente, sede da prefeitura municipal. O prédio da antiga Prefeitura Municipal ao lado do Espaço cultural era a casa de Ignácio Caetano de Vieira Carvalho.

Aproximadamente em 1720, Gaspar Vaz Cunha, “O Oyaguara”, e Miguel Garcia, partiram do Vale do Paraíba e atingiram as terras hoje pertencentes ao Município de São Bento do Sapucaí, com intuito de descobrir o rumo das minas de ouro de Itagiba-MG. Gaspar Vaz da Cunha lá se estabeleceu.

Setenta anos depois que Gaspar Vaz da Cunha "O Oyaguara" descobriu os caminhos da região montanhosa da Mantiqueira, surge Ignácio Caetano Vieira de Carvalho.

Ignácio Caetano Vieira de Carvalho não foi uma figura lendária. Por volta do ano 1771, esse sertanista, mineiro do Rio das Mortes, vindo de Taubaté, seguindo a trilha dos desbravadores e as pegadas do Oyaguara, enfrentando os caminhos que iam de Pindamonhangaba em direção ao Pico do Itapeva, seguindo rumo ao bairro Trabiju, subiu os degraus da Serra Preta, na Mantiqueira, por onde mais tarde, foi aberto o caminho primitivo que ia para os Campos.   

Vencendo os últimos obstáculos, estava nas alturas do Alto do Rio Sapucaí-Guaçu, denominação do Rio Capivari depois que se junta ao córrego das Perdizes, proximidades do Morro do Elefante. Alcançou a região por ele chamada Capivari ou Rocinha. Em sentido leste, alcançou outra região e, junto à margem do rio Capivari, construiu a casa grande da fazenda, batizada com o nome de Bom Sucesso. Ignácio Caetano era viúvo e morava com seus três filhos, dois dos quais eram casados.  

Luís Diogo Lobo da Silva, nascido em Montemor, 1717, foi um administrador colonial português, governador da capitania de Pernambuco, de 1756 a 1763, e depois da capitania de Minas Gerais, de 28 de dezembro de 1763 a 16 de julho de 1768. Com a ocupação em 1764 das minas de Itajubá pelo governador, começou uma longa série de lutas em que Ignácio Caetano com rara pertinácia defendia os direitos da Capitania de São Paulo.

Por Carta de Sesmaria de 27 de setembro de 1790 assinada pelo governador de São Paulo, Bernardo José de Lorena, foram concedidas a Ignácio Caetano Vieira de Carvalho, João de Brito Marinho e Manoel José Botelho Mosqueira, três léguas de terras cuja posição não pode, com os dados à mão, ser determinada com precisão. Com requerimento do governador da Capitania de São Paulo, recebeu a posse da sesmaria, por ser terra inculta e abandonada, através de documentos que atestavam o seu domínio sobre a Fazenda dos Campos do Alto da Mantiqueira, como era chamado, naqueles tempos. Esses documentos outorgavam-lhe direito incontestável sobre a grande descoberta. Veio residir com sua família nas terras da região, na Fazenda. Estava localizada no Alto do Rio Sapucaí-Guaçu, à direita das cabeceiras do Capivari, onde o sesmeiro construiu a casa grande de sua Fazenda denominada Bom Sucesso. A sede da Fazenda Bom Sucesso situava-se onde atualmente se localiza a Vila Suíça, antigo gabinete da prefeitura municipal. Manteve lucrativa criação de gado, fixando-se com sua família durante 18 anos nessa Fazenda dos Campos do Alto da Mantiqueira.

Um seu vizinho, João da Costa Manso, sujeitou-se em 1772-1773 às autoridades mineiras, que a 13 de outubro de 1790, passou carta de Sesmaria a ele, morador da Villa de Taubaté, também de três léguas de terras contíguas às de Ignacio Caetano.  Isso gerou um conflito: o vizinho da Fazenda Campinho (São Pedro), tudo fazia para anexar suas terras às de Minas Gerais, e o pindamonhangabense, Ignácio Caetano Vieira de Carvalho, proprietário da Fazenda Bom Sucesso, que fazia divisa com a fazenda dele, situada em terras da Freguesia de Itajubá, Minas.

O rio Capivary divisa das duas propriedades, ficou sendo considerado como divisa das Capitanias. Conforme a nomenclatura atual que provavelmente vem sem alteração do tempo antigo, o rio Capivary perde este nome ao unir-se com o Córrego das Perdizes, tomando o nome de Sapucahy, devendo talvez ser considerado como o tronco principal do Sapucahy.

Todos os dois sesmeiros, naturalmente procuraram reunir as suas propriedades debaixo da mesma jurisdição, dando Ignácio Caetano preferência à paulista e Costa Manso à mineira.

Em meados de 1796, quando Campos do Jordão era distrito de Pindamonhangaba, nasceram as lutas entre pindamonhangabenses e mineiros, devido à questão de limites: continuaram por muitos anos dando em resultado uma linha nominal de fronteira que não se conforma com as feições topográficas nem com as divisas pretendidas por uma ou outra Capitania. O território de Campos do Jordão, era disputado pelas capitanias de São Paulo e Minas Gerais.

Como é uma cidade limítrofe com Minas e naquela época já possuía a Fazenda da Guarda, durante o Ciclo do Ouro, a região era um local fácil para tráfico do metal pelos seus tortuosos caminhos, por isso da instalação de um Posto Fiscal. Os paulistas, principalmente os pindamonhangabenses, subiam a serra armados com seus trabucos para impedirem a invasão dos mineiros nessas terras. Esta questão de limites era regulada por lei dos governos de ambas as capitanias, sobretudo de Minas, que proibia qualquer passagem por ali, para não haver saída clandestina de ouro e outras mercadorias. Assim, o próprio Ignácio Caetano assinou com o Governo de Minas um compromisso de conservar fechada uma estrada que passava por sua propriedade e ia antigamente para Itajubá. João Costa Manso, que tinha apoio de algumas autoridades mineiras, abriu e invadiu a estrada e as terras da Fazenda Bom Sucesso. Este fato foi atestado por Oficiais da Câmara de Pindamonhangaba, que estiveram no local a pedido de Ignácio Caetano.

A disputa ficou tão feia que em 1803, Ignácio Caetano, a fim de impedir nova investida por parte dos mineiros e a invasão de sua propriedade, com o auxílio do capitão-mor, consegue instalar um Posto de Guarda no Capivary, a fim de defender o território; manda fechar novamente a estrada e também tirar a dúvida da Mantiqueira mineira.

Não houve dúvidas sobre a legitimidade desta propriedade, pois o certificado de posse, que data de 1773, foi passado pelo escrivão Domingos Ferreira da Silva.  

Mas João Costa Manso persiste em seu intento, armando escaramuças e guerrilhas, numa das quais foi preso e levado para São João Del Rei.

Diante disto, a Câmara de Pindamonhangaba envia ao Governador da Província de São Paulo, D. Antônio José de França e Horta, uma representação, relatando os fatos e pedindo providências e proteção. O Governador responde enaltecendo a atitude de Ignácio Caetano e expedindo ordem de prisão contra Costa Manso, que consegue se esquivar, alegando doença. A situação continua tensa, com novos ataques por parte dos mineiros, que procuram penetrar em terras paulistas, apresentando ordens falsas e abusando do fato de Ignácio Caetano não saber ler. Este fato é comunicado ao Governador da Província de São Paulo, pela Câmara de Pindamonhangaba.

Diante da falta de providências do governo provincial, os pindamonhangabenses resolvem agir sozinhos. Reunindo um pequeno exército seguem pela margem esquerda do Sapucahy e "sobem a serra" até abaixo da Pedro do Baú, tomando posse da região em nome do Procurador do Conselho.

A luta prossegue ainda por algum tempo, com a destruição da Guarda do Baú, por um grupo de 86 homens do Regimento da Cavalaria de Minas, mas, finalmente em 1814, os mineiros são definitivamente expulsos do território paulista.

Essa briga entre vizinhos, responsável pelo início de uma luta entre paulistas e mineiros, somente terminou no ano de 1823 quando morreram Ignácio Caetano Vieira de Carvalho e João Costa Manso.

Ignácio Caetano lutou bravamente para manter as divisas de São Paulo, contra seu vizinho sesmeiro, da Fazenda Campinho (São Pedro), das bandas das Gerais.

Duas fortes razões fundamentais comprovam a grande importância da sua figura na história do município: sua luta pertinaz na defesa e preservação da sua fazenda dentro dos limites da Capitania de São Paulo; e o pioneirismo de manter-se com seus três filhos, durante largos anos, nas alturas geladas e inóspitas da Serra da Mantiqueira, vencendo o meio ambiente bruto e selvagem, e repetidamente, enfrentando as investidas dos mineiros, que pretendiam desbordar dos limites de suas terras para o interior da Capitania de São Paulo, pretendendo a anexação de sua sesmaria.

Graças à sua luta, Campos do Jordão permaneceu paulista e hoje é uma estância maravilhosa. Ignácio Caetano Vieira de Carvalho levou para o túmulo a glória de ter sido o pioneiro de Campos do Jordão.

Um dos filhos de Ignácio Caetano, Mariano Vieira de Carvalho, após a morte de seu pai, hipotecou, de início, partes da terra, e posteriormente, em 29 de dezembro de 1825, vendeu a Fazenda Bom Sucesso para o Brigadeiro Manoel Rodrigues Jordão, pela quantia de dez contos de réis. 

A fazenda Bom Sucesso, conhecida como fazenda de Campos ou Campos do Ignácio Caetano, ao ser transferida para a família Jordão, passou a ser conhecida por Campos do Jordão, a grande parte da região campestre; e por ter adquirido a fazenda na época das festas natalinas, Brigadeiro Jordão deu-lhe o nome de Fazenda Natal.

Posteriormente, essas terras já pertencentes ao Brigadeiro Jordão, passou a ser chamada de “os campos” perdendo o nome de Fazenda Natal. Com o passar do tempo, quando iam se referir a estas terras, já não mencionavam mais Fazenda Natal, e sim aos Campos, e quando alguém perguntava “Que Campos?”, respondiam: Os Campos do Jordão. Daí a origem do nome da localidade. O nome do município homenageou o Brigadeiro Jordão, pois, na época, era costume ligar-se o nome do proprietário à propriedade.

Fontes:

Condelac Chaves de Andrade.

Walter Dalla Déa.

Pedro Paulo Filho

Maurício de Souza Lino

Fontes Manuscritas do Arquivo da Câmara Municipal de Pindamonhangaba.

Livro de Registros de Contratos — Vol. 47 — 1873-1909.

Atas da Câmara Municipal de Pindamonhangaba - Vol. 8-12, 1862-1886.

Pindamonhangaba: Cidade do Segundo Reinado. EBE REALE. Tese apresentada no ano de 1965 ao Curso de Especialização em História do Brasil.


Eduardo Moreira da Cruz


Eduardo Moreira da Cruz, com 10 anos de idade, veio da cidade de Delfim Moreira MG, chegando a Campos do Jordão em meados de 1910, nos tempos em que a subida da serra, era a partir do Bairro Piracuama até a Parada Fracalanza, na entrada de Campos do Jordão, e feita por máquinas a vapor da Estrada de Ferro Campos do Jordão.

Casou-se no ano de 1918, com Dona Maria Francisca, filha do Sr. Francisco Gaiola, mais conhecido como Chico Gaiola. Pelo fato de ter se casado com a filha do Sr. Francisco Gaiola, ficou conhecido como Eduardo Gaiola.


Eduardo Moreira da Cruz foi importante membro da sociedade jordanense, e contribuiu para o fortalecimento dos destinos da cidade.

Ajudou a construir a capela de Santa Isabel, a primeira igreja de Vila Abernéssia, situada ao centro da Praça da Bandeira, cujo terreno para a construção fora doado pelo Dr. Robert John Reid, em 18 de setembro de 1920. A 25 de abril de 1921, iniciava-se a construção da Igreja, inicialmente, pequena, de alvenaria, sem reboco. Em 1923, seus alicerces já estavam prontos.

Por algum tempo a construção ficou paralisada por falta de recursos financeiros, quando, em abril de 1924, o sr. Eduardo Moreira da Cruz, promoveu quermesses e festivais, arrecadando fundos em benefício das obras da capela, e a 04 de junho de 1927, veio a ser inaugurada sua capela-mor, quando foi benzida e passou a atender a população.

Em 25 de dezembro de 1928, a Capela de Santa Isabel, foi elevada à categoria de Paróquia, tendo como padroeira Santa Teresinha do Menino Jesus. Ficava ao lado do Fórum, na Praça da Bandeira. Ali, Eduardo Moreira da Cruz chegou a ser sacristão.

Eduardo Moreira da Cruz foi administrador, por muitos anos, da Companhia Brasileira de Colonização, firma constituída no ano de 1917 por Dr. Domingos José Nogueira Jaguaribe Filho, que implantou os loteamentos Vale Encantado, Vila Imbiri e Alto da Boa Vista.

Em 31 de agosto de 1940, estando o prefeito de Campos do Jordão, Dr. Motta Bicudo no II Congresso Climatológico Brasileiro realizado no Palácio Tiradentes no Rio de Janeiro, ouviu do Interventor de Minas Gerais, Benedito Valadares, que gestões estavam sendo feitas para anexar Campos do Jordão ao Estado mineiro, à vista das extraordinárias potencialidades turísticas da cidade montanhesa.

Dr. Motta Bicudo, mais do que depressa, correu para São Paulo e contou o ocorrido ao Interventor Adhemar de Barros, que decidiu tornar as coisas irreversíveis e dificultar o plano mineiro.

Uma das providências preliminares era instalar logo um Palácio de Verão do Governo paulista em Campos do Jordão.

O Interventor Adhemar de Barros, cercado por sua comitiva, no Alto da Boa Vista, determinou ao Dr. Motta Bicudo que intercedesse junto à Cia. Brasileira de Colonização, proprietária daquelas terras, no sentido de obter a doação de 50 alqueires.

Intermediou as negociações, Eduardo Moreira da Cruz, que era o representante da empresa na cidade. De fato, a Cia. Brasileira de Colonização e o Dr. Carlos Eckman acabaram doando 8,40 alqueires (203.280m2), representada a empresa por seu presidente, Olavo Jaguaribe Eckman, conforme escritura, de 12 de julho de 1940, à qual o Estado compareceu, autorizado pelo decreto 11.152, de 7/6/40.

Eduardo Moreira da Cruz participou da Revolução Constitucionalista de 1932 e ajudou a cavar trincheiras no Alto da Boa Vista para as tropas constitucionalistas, muitas das quais são até hoje visíveis.

Participou ativamente de combates sangrentos, nas mediações de São Bento do Sapucaí e chegou a transportar, pelas bandas da Mantiqueira, a Cavalaria de Castro, _ dos paranaenses que aderiram à Revolução, que esteve no município, conhecendo, aliás, a palmo, a cidade, que visitara no passado.

Seus comentários, feitos em 1974, relativos à Revolução Constitucionalista de 1932, dizia que:

“Após a retirada das tropas de São Paulo, aquarteladas, a cidade amanheceu abalada com notícias alarmantes de que as tropas mineiras estavam prestes a invadir o município. A população deixou as vilas, apavorada, rumando para os lados de Vila Inglesa, e à noite, o local apresentava o aspecto de gigantesco acampamento. Tudo não passara de um boato, e logo todos retornaram às suas casas..."

Na vida pública, Eduardo Moreira da Cruz foi vereador, presidente da Câmara Municipal (01 de janeiro de 1957 a 31 de dezembro de 1957). 
Fez parte do comitê eleitoral do Partido Social Progressista - PSP, de Campos do Jordão, partido do Dr. Adhemar Pereira de Barros, o maior partido político de São Paulo do período de 1946 a 1965, o único que mantinha diretórios em todos municípios do estado de São Paulo.

Eduardo Moreira da Cruz foi presidente da Congregação Mariana da matriz de Santa Teresinha do Menino Jesus; presidente da Sociedade São Vicente de Paulo da igreja Nossa Senhora da Saúde; membro da Conferência do Sagrado Coração de Jesus, fundada em 11 de outubro de 1931; e membro da Comissão de Obras para a construção da matriz de Santa Terezinha do Menino Jesus.

Foi Diretor do Círculo Operário, e personalidade que lutou muito pela construção da Santa Casa na qual foi seu tesoureiro, e de outras entidades comunitárias. Foi um dos sócios fundadores do Lions Club Campos do Jordão, no ano de 1957.

Eduardo Moreira da Cruz esteve presente durante a inauguração da telefonia automática, quando o secretário de Estado de São Paulo, durante o Governo Carvalho Pinto, Sr. Márcio Porto, fez a primeira ligação inaugural da sala de comando da Central Telefônica da Vila Abernéssia.

Vale ressaltar que Eduardo Moreira da Cruz, um dos importantes pioneiros de Campos do Jordão, quando aqui chegou, contou que na época, havia perto da Gruta dos Crioulos, um barracão de negros, liderados por Manoel Crioulo, em terras que eram do Dr. Cícero da Silva Prado.

“Certa feita, Eduardo Moreira da Cruz, que prestava serviços ao Dr. Domingos Jaguaribe, para atender o desejo de seu hóspede ilustre, o político Assis Brasil, que queria comer jacus, saiu a caçar. Ao aproximar-se da gruta, Eduardo viu um punhado de negros ali homiziados.” (Pedro Paulo Filho).

Também, quando chegou a Campos do Jordão em 1910, Eduardo Moreira da Cruz contou que ouviu uma lenda sobre Ignácio Caetano, a "Lenda do Canhambora." (Pedro Paulo Filho).

Eduardo Moreira da Cruz, grande homem, trabalhador, querido, sábio, e muito amado por todos os jordanenses. Foi uma pessoa importante e de destaque em nossa comunidade, onde lutou e muito contribuiu para o fortalecimento dos destinos de Campos do Jordão. Participou efetivamente em diversas entidades assistenciais.


Fontes de Pesquisa:

Jornal “A Tribuna do Norte” de 21.10.1923, Pindamonhangaba SP;

Jornal "A Noite" RJ, de 20 de agosto de 1940;

LINO, Maurício de Souza. Da Freguezia do Imbery aos Campos do Jordão. Campos do Jordão: Clube de Autores, 2017. 614 p.

LINO, Maurício de Souza. Campos do Jordão na Revolução de 1932. Campos do Jordão: Clube de Autores, 2018. 127 p.


Uma lenda, um Ícone do Esporte: Tião da Rita



Seus pais foram Rita Cândida de Jesus e Marco Leonardo. Sua mãe, a alegre dona Rita, sempre com o paninho na cabeça, era uma figura muito distinta em Campos do Jordão. Mulher guerreira, trabalhadora ímpar, prestou serviços para o Círculo Operário e a muitas famílias: Danilo Delácio, Sr. Elydio Gonçalves, Cintra e outras.

Frequentadora assídua do Clube do Círculo Operário de Campos do Jordão, gostava muito de dançar, onde, praticamente todos os sábados nos bailes, estava sempre presente, com muita disposição, até mesmo na terceira idade.

O casal teve os filhos, Expedito (Dito Paquera); Lúcia; Ana; e Sebastião Leonardo.

O já consagrado pintor, Expedito Camargo Freire, em 1° de dezembro de 1950 iniciou a pintura do fundo do altar da Igreja Nossa Senhora da Saúde, na Praça do Centenário em Vila Jaguaribe, representando uma alegoria da dor moral e física. A pintura foi financiada por Aguinaldo Amaral e terminada em 13 de dezembro de 1950.

O painel representa um casal humilde, tendo a mulher uma criança enferma nos braços, a qual estende, súplice, a Nossa Senhora da Saúde. Como fundo do painel, vê-se a silhueta da Pedra do Baú e esguios pinheiros, símbolos de Campos do Jordão.

Serviram de modelos para a execução do painel do professor Camargo Freire na igreja Nossa Senhora da Saúde, Maria de Oliveira Rodrigues com os seus 26 anos. (Faleceu em 2017 aos 93 anos); e pai do Tião da Rita, Marco Leonardo, falecido em 1962.

Segundo o pintor, Luiz Pereira Moisés, discípulo do mestre Camargo Freire, o painel foi pintado com tinta a óleo, com estilo clássico e estilizado; porém, as figuras são bastante acadêmicas, principalmente pelos pés, mãos e rostos, assim como pelo planejamento (cores e disposição das roupas). Estão todos com excelente textura, em que se sente a leveza dos tecidos, assim como as partes anatômicas das figuras. Vê-se nesta obra uma cena em que um casal simples, com os pés descalços e com uma criança enferma, pede ajuda à Nossa Senhora da Saúde, que levita sobre uma nuvem, tendo ao fundo a silhueta da Pedra do Baú, com agrupamento de vegetação e pinheiros.

No primeiro plano, vê-se um campo estilizado, onde parte está com sombra e outra, iluminada. Ao centro da parte superior, um desenho geométrico em forma de triângulo com vértice para cima, e, em seu interior, três chamas, uma acima e duas abaixo, simbolizando a Santíssima trindade. Desce desse triângulo um foco de luz e, ao redor de Nossa Senhora, um grande halo de luz. Ao centro a inscrição “Salus Infirmorum” em latim, Saúde dos Enfermos. O céu é tradicional com as cores costumeiras, usadas pelo artista, onde predominam em perspectivas aéreas as cores esmaecidas de azul, carmim, siena e limão.

O pai de Sebastião Leonardo, Marco Leonardo, veio a falecer em 1962, e sua mãe, dona Rita Cândida de Jesus, em 1997.

Destacada personalidade no esporte jordanense, Sebastião Leonardo, mais conhecido por “Tião da Rita”, nasceu em 12 de dezembro 1940, no bairro José da Rosa. Foi registrado somente em 13 de outubro de 1945, cinco anos depois. Ainda bem pequeno veio para Campos do Jordão, onde sempre morou na Rua da Alegria, em Vila Guarani.

O mundo dos esportes em Campos do Jordão está cheio de pessoas lendárias que, com talento e dedicação, conseguiram entrar para a história e alcançar o sucesso. Incríveis personalidades que ganham o maior destaque no mundo esportivo, por possuírem disciplina, muita força de vontade e aplicarem diariamente seus treinos intensivos, com altas horas de duração.

Entre esses esportistas, destaca-se Sebastião Leonardo, o “Tião da Rita”, grande atleta das décadas de 1960-1980, corredor desde os 16 anos, ganhador de troféus e medalhas.

Tião da Rita foi um especialista em corrida de longa distância, um talentoso fenômeno da corrida pedestre. Uma lenda de Campos do Jordão! Um fenômeno desde muito jovem, que teve sua vida retratada como “O Jovem Corredor do Passinho.” O menino não demorou para brilhar.

Nas palavras de seu filho único, Marco Vinícius Leonardo, “corria mais que notícia ruim pelas ruas da montanha magnífica. No sol, na chuva, no frio...ia e voltava correndo de Vila Jaguaribe ao Alto da Boa Vista, quase todos os dias.”

Tião da Rita representou com muita fibra, força e determinação, o povo jordanense. Representou o clube Abernéssia e a cidade de Campos do Jordão em diversas competições pela região do Vale do Paraíba.

Como jogador de futebol, foi membro de vários clubes, Grande Hotel, Associação Atlética Jaguaribe, Clube Abernéssia, Vila Britânia e outros.

Casou-se com Aurea Pimentel de Souza (Leonardo) em 12 de novembro de 1977, e teve um filho, Marco Vinícius Leonardo. Após 25 anos de casados, ficou separado por longos 12 anos.

Trabalhou no Grande Hotel, Clube Abernéssia e Palácio Boa Vista.

No ano de 2010, sofreu um acidente gravíssimo, vindo quase a amputar a perna direita, mas os médicos foram muito eficientes, colocando pinos e mais pinos na perna.

Tião da Rita sempre teve uma vida dinâmica, ligada ao esporte. Saudável, nunca imaginou que teria um problema grave de saúde.... a corrida era sua vida. Ficou muito doente, vitimado por pneumonia, ficando internado duas vezes. Nesse tempo, afastou-se do trabalho, no Palácio Boa Vista, e não pode mais correr.

Imaginamos que a vida de um atleta é perfeita. Mas não é bem assim. Tião da Rita, esportista, corredor e medalhista passou por depressão em sua vida, uma das doenças mais frequentes em todo o mundo; e, consequentemente, com um problema no coração, viu “seu mundo cair.” 

Para o seu restabelecimento, foi necessário alguém cuidar dele. Quis o destino, trazer de volta em seu caminho, sua ex-esposa, Áurea Pimentel Leonardo. Com experiências em enfermagem, assim, ficou sob sua responsabilidade.

Casou-se novamente com a ex-esposa e enfermeira, Áurea, em 12 de dezembro de 2013, e voltou ao trabalho, onde se aposentou aos 70 anos, devido à lei da época.

Superou. O esportista é um exemplo em dar lições sobre a doença para o resto dos "mortais". Ainda hoje, faz pequenos exercícios e algumas caminhadas. Com esforço, e a ajuda de Deus, voltou à corrida aos poucos, porém sem competir. Lenda viva do esporte jordanense, com seus 81 anos a completar em dezembro de 2021, ainda está construindo seu legado esportivo.

“Tião da Rita” foi homenageado com uma honraria, que é concedida a personalidades marcantes que contribuíram para o engrandecimento da cidade, no mundo dos esportes.

Pela Lei Ordinária nº 2062, de 22 de fevereiro de 1994, sob a administração do prefeito João Paulo Ismael, ficou acrescido no calendário turístico oficial do município, a Prova de Pedestrianismo denominada, "TIÃO DA RITA".

De autoria do Vereador Hélio Abel da Silva, é patrocinada e organizada pela Prefeitura Municipal, e pela iniciativa privada, realizada anualmente, quinze dias que antecede o dia de "NATAL".Conheça os atletas que mudaram a cara do esporte nos últimos dez anos. Nesta lista, constam não só os que mais faturaram durante este período, mas sim pessoas que se transformaram em ícones do marketing esportivo e deixaram sua marca na história.

 

Ícones do esporte. Fizeram e ainda fazem história.

Conheça os atletas que mudaram a cara do esporte nos últimos dez anos. Nesta lista, constam não só os que mais faturaram durante este período, mas sim pessoas que se transformaram em ícones do marketing esportivo e deixaram sua marca na história.

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Ícones do esporte. Fizeram e ainda fazem história.

Grande personagem que figurou nas últimas décadas do século XX em Campos do Jordão, apesar de todos os desafios e obstáculos encarados desde muito jovem, superou e ultrapassou barreiras e se fez uma grande inspiração e exemplo para todos os jordanenses. Mudou a cara do esporte em Campos do Jordão; deixou sua marca na história.

Não há segredos, nem dúvidas: Tião da Rita é referência para o mundo dos esportes em Campos do Jordão.

Fontes de Pesquisa:

PAULO FILHO, Pedro. Camargo Freire: O Pintor da Paisagem de Campos do Jordão. São Paulo. Noovha América. 2012.

LINO, Maurício de Souza. Da Freguezia do Imbery aos Campos do Jordão. Campos do Jordão. Clube de Autores. 2013

Depoimentos de Aurea Pimentel Leonardo (esposa de Sebastião Leonardo, o Tião da Rita).

As Imagens foram cedidas gentilmente pela esposa, Áurea Pimentel Leonardo e pelo filho, Marco Vinícius Leonardo.

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