As raízes da cidade de Campos do Jordão estão fincadas no Imbiri, Vila Jaguaribe, onde Matheus da Costa Pinto, iniciando um povoado, lançou as sementes desta estância.
Vila Jaguaribe
Dr. Domingos Jaguaribe - o Dominguinhos de Vila Velha"
[1] O Primeiro Clube de Ciclismo de São Paulo (Veloce Clube Olímpico Paulista).
[2] Uma associação nacional de agricultores. Domingos Jaguaribe Filho foi o fundador da Sociedade Pastoril e Agrícola.
Vila Capivari
Dr. Emílio Marcondes
Ribas e a Vila Sanitária de Capivari
Dr. Emílio Cândido Marcondes Ribas, um dos bravos
sanitaristas brasileiros do fim do século XIX e início do século XX, juntamente
com Oswaldo Cruz, Adolfo Lutz, Vital Brasil, Victor Godinho e Carlos Chagas,
lutaram para livrar a cidade e os campos das epidemias e endemias que assolavam
o país.
Guiado apenas pela intuição, Emílio Ribas combateu a febre
amarela, exterminando com êxito o mosquito transmissor da doença (hoje
conhecido por Aedes aegyptii) nas cidades paulistas de São Caetano,
Pirassununga, Pilar, Campinas e Jaú, o que lhe valeu a nomeação, em 1898, para
diretor do Serviço Sanitário do Estado de São Paulo.
Sofreu forte oposição dos que acreditavam que a doença era
transmitida por contágio entre pessoas e para provar que esta tese estava
errada, deixou-se picar pelo inseto contaminado, junto com os colegas Adolfo
Lutz e Oscar Moreira.
Foi a partir da contaminação de Emílio Marcondes Ribas que
Oswaldo Cruz empreendeu a eliminação dos focos de mosquito no Rio de Janeiro.
Dr. Emílio Marcondes Ribas foi fundador do Instituto
Soroterápico do Butantã, construído numa fazenda nos arredores de São Paulo, e
colaborou para a fundação do Sanatório de Campos do Jordão para tratamento da
tuberculose, além de ter idealizado e construído a Estrada de Ferro Campos do
Jordão.
Em 1902, Emílio Ribas trabalhou em São Simão (São Paulo),
para deter a terceira epidemia de febre amarela. Só saiu da cidade quando
conseguiu com uma equipe de médicos e voluntários acabar com a grave epidemia,
mandando limpar o rio que corta a cidade, e tomando medidas para melhorar o
Saneamento básico na cidade que, ao chegar, descreveu-a de forma pouco
lisonjeira: 530 prédios, mal construídos, 90% sem assoalho ou forro, e com
péssimo saneamento básico, o que era verdade.
Em sua homenagem o nome do Dr. Emílio Marcondes Ribas batiza o principal Centro de Estudos de pesquisa Infecto-contagiosas e um Hospital a ele ligado o Instituto de Infectologia Emílio Ribas.
Dados Biográficos
Emílio Cândido Marcondes Ribas nasceu aos 11 de abril de 1862, na cidade de Pindamonhangaba (SP).
Pindamonhangaba, que ostenta entre seus títulos os de
“Princesa do Norte” e “Cidade Imperial”, pode atribuir-se, também, o de “Berço
da Inteligência”.
Historiadores e cronistas, nacionais e estrangeiros, já lhe
assinalaram, desde seus primórdios, essa característica que a singulariza,
através do tempo. Emílio Ribas foi desses filhos predestinados de
Pindamonhangaba, que “alcandoraram o vôo”.
E, como poucos, ele soube honrar a sua terra. Já se disse – e
muitas vezes – que ele foi um precursor no campo da medicina sanitária. E de
fato o foi.
Se tivéssemos de eleger um título para melhor o qualificar,
penso que o mais próprio, seria o de “Bandeirante da Higiene Brasileira”.
As obras de Emílio Ribas devem ser avaliadas em todo o seu
imenso valor a projetar-se além, muito além dos quadros da medicina profilática
e terapêutica, no vasto campo onde se equacionam os problemas vitais da
nacionalidade. Aí, então, entramos no terreno da política, não dessa política
mesquinha, que divide os povos e os cidadãos, em nome de falsos ideais e baixos
interesses; mas da política que cuida da sobrevivência das nacionalidades e da
salvaguarda de bens essenciais à personalidade humana.
Nesse âmbito, a política da saúde, que é, por assim dizer, a
mais nobre das atividades do homem, pois seu objetivo é manter a vida, fonte e
razão de nossa existência.
Era filho de Cândido Marcondes Ribas, lavrador, que faleceu
em 01 de novembro de 1900, e de Andradina Marcondes Machado Ribas, e seu avô,
Cândido Marcondes Ribas, quando criança, viveu na fazenda Tucum, distrito de
Socavão, Castro, Paraná.
Formou-se na Faculdade de Medicina no Rio de Janeiro, em 1987.
Depois de formado, retornou à sua terra natal onde se casou com Maria Carolina Bulcão Ribas, seguindo, logo depois, para Santa Rita do Passa Quatro, onde iniciou sua atividade clínica. Mudou-se depois para Tatuí.
Seus filhos foram: Dr. Paulo Bulcão Ribas, médico, casado com
dona Ilia natividade Ribas; dona Maria José Ribas de Castilhos, casada com o
dr. Honório de Castilhos, advogado; senhorita Ruth Bulcão Ribas, dr. José
Carlos Ribas, que foi assistente veterinário do Instituto Butantã, e Félix
Bulcão Ribas, estudante de Direito; Marieta Ribas. Suas irmãs foram dona Maria
Affonsina Ribas Villela e dona Ana Vicentina Ribas de Lima
Sua Brilhante Carreira Profissional
Formou-se o dr. Emílio Marcondes Ribas em 1887, pela
Faculdade do Rio de Janeiro, tendo conquistado com brilhantismo o título
acadêmico.
Em seguida, veio exercer a profissão médica no seu Estado
natal, clinicou em Tatuí e Santa Rita do Passa Quatro, onde granjeou boa
clientela e grande número de amigos dedicados.
Por ocasião da revolta da Armada, prestou serviço às Forças Expedicionárias
destacadas no sul do Estado.
Foi em 1895, dentro desse panorama desalentador, que o Dr.
Emílio Marcondes Ribas deixou sua clínica, em Santa Rita do Passa Quatro, para
o exercício de funções no Serviço Sanitário do Estado. Ia iniciar-se, nos
domínios da medicina pública, uma grande tarefa, em benefício não só de São
Paulo, mas do Brasil.
Era o homem que a providência destinara para o cumprimento
dessa nobre missão.
Foi nomeado inspetor sanitário em 11 de setembro de 1895,
iniciando sua carreira como auxiliar de diretor do dr. Diogo Teixeira de Faria,
no Desinfetório Central, em 1896.
Depois desempenhou comissões sanitárias em Rio Claro,
Araraquara, Pirassununga, Pilar, São Caetano, Jaú e Campinas.
A esta última cidade, como chefe da comissão, prestou
serviços muito importantes, por ocasião das epidemias de febre amarela que
assolavam, desmerecendo-lhe a fama, serviços que ficaram consignados em
minuciosos relatórios apresentados ao governo do Estado.
Esses relatórios puseram o seu nome em evidência, como
administrador competente e dedicado à causa pública, pelo que, em 1898, quando
o dr. Silva Pinto, deixou o cargo de diretor do Serviço Sanitário para ser
eleito senador, o dr. Peixoto Gomide confiou ao dr. Emílio Marcondes Ribas a
direção dos serviços de higiene, cargo que exerceu efetivamente, com habilidade
rara.
Teve oportunidade de combater várias epidemias, não só na
capital, mas também no interior, principalmente de febre amarela, exterminando
com êxito o mosquito transmissor da doença, – hoje, conhecido por Aedes
aegyptii – nas cidades paulistas de São Caetano, Jaú, Pilar, Rio Claro,
Araraquara, Pirassununga e Campinas. Promovido a chefe da comissão sanitária de
Campinas em 1896, permaneceu até 15 de abril de 1898, data em que foi nomeado
diretor-geral do Serviço Sanitário.
Exerceu o cargo por quase vinte anos consecutivos, tendo-se
aposentado em 1917.
O começo de sua administração foi de um trabalho encarniçado e exaustivo. Duas epidemias sucediam-se no Estado, enchendo de terror a população e afugentando a imigração: a febre amarela no verão e a varíola no inverno. Mais tarde, em 1899, veio juntar-se a estas a peste bubônica, que surgia em Santos e atingiu outras cidades do Estado, a capital, Taubaté, Pindamonhangaba, Sorocaba, e embora com pequenos surtos epidêmicos. Comissões sanitárias eram destacadas para os pontos contaminados. O dr. Diretor do Serviço Sanitário era solícito em visitas às comissões do interior, procurando atender, de acordo com os respectivos chefes às necessidades de higiene e preencher as lacunas do serviço. Dr. Emílio Marcondes Ribas já tinha enfrentado a febre amarela na região de Campinas no final do século XIX, contando com o apoio do cientista Adolfo Lutz, então diretor do Instituto Bacteriológico. Publicou, em 1901, o trabalho “O Mosquito Considerado como Agente de Propagação da Febre Amarela”, que encontrou forte oposição de médicos importantes de São Paulo. Em 1902, Emílio Ribas trabalhou em São Simão (SP) para deter a terceira epidemia de febre amarela.
Só saiu da cidade quando conseguiu com uma equipe de médicos
e voluntários acabar com a grave epidemia, mandando limpar o rio que corta o
município, e tomando medidas para melhorar o saneamento básico na cidade que,
ao chegar, descreveu de forma pouco lisonjeira:
“530 prédios, mal construídos; 90% sem assoalho ou forro, e
com péssimo saneamento básico” – o que era verdade. Com o desenvolvimento que
teve o Instituto Vacinogênico que pôde fornecer profusamente vacina a todas as
localidades do Estado e até mesmo aos demais Estados da União, as epidemias de
varíola foram dominadas até que a famosa questão da vacina obrigatória no Rio
de Janeiro, e como consequência uma vasta epidemia ali e nos Estados vizinhos,
abriu de novo as portas de S. Paulo a essa infecção.
A esse tempo também os sertanejos da Bahia vinham pelo
interior do país, até às zonas cafeeiras do chamado oeste de S. Paulo,
transportando os germens da mesma moléstia. Sitiado por essa forma, o Estado de
S. Paulo viu a varíola tomar desenvolvimento já desconhecido dentro das suas
fronteiras no ano de 1912. Foram as últimas epidemias de varíola ali
registradas. A peste em Santos em 1899, causou o mais profundo abalo no
espírito público, que receava ver implantar-se mais uma moléstia pestilencial e
exótica, comprometendo os foros sanitários do país e afugentando ainda mais a
imigração tão necessária para o desenvolvimento das lavouras do café. O dr.
Emílio Marcondes Ribas foi reconhecidamente incansável no combate à infecção
pestilenta e conseguiu dominá-la em Santos, S. Paulo, Taubaté, Pindamonhangaba,
Guaratinguetá, isto é, por toda parte onde surgira.
O perigo da infecção pessoal nunca o amedrontou, não exercendo também influência no espírito dos seus auxiliares.
Foi para Cuba acompanhar estudos dos médicos Walter Reed e
Carlos Finley. Em janeiro e fevereiro de 1903, resolveu fazer uma experiência
semelhante à realizada em Cuba. Unindo-se ao médico e amigo Adolfo Lutz e a mais
dois voluntários, Oscar Marques Moreira e Domingos Pereira Vaz, deixaram-se
picar por mosquitos que estiveram em contato com doentes graves de febre
amarela.
A experiência ocorreu no interior do Hospital de Isolamento
de São Paulo, atual Instituto de Infectologia Emílio Ribas, sendo o diretor à
época dr. Cândido Espinheira e o médico interno dr. Victor Godinho.
Repetiram a experiência com dois novos voluntários, Januário
Fiori e André Ramos, realizando o mesmo procedimento anterior.
Uma nova experiência foi realizada em abril de 1903, dessa
vez, com três imigrantes italianos, pagos para permanecerem entre secreções e
lençóis usados por doentes com febre amarela. As provas foram acompanhadas por
médicos que não endossavam essas teses.
Os resultados provaram: a transmissão da febre amarela era
pela picada de mosquitos infectados por pessoas atingidas por essa moléstia, e
não por contágio, através do contato com roupas e objetos usados e sujos dos
doentes.
À frente do Serviço Sanitário, combateu ainda a peste
bubônica em Santos e preparou, com dr. Vital Brasil, o soro antipestoso. Em
1903 essa experiência foi apresentada no 5º Congresso Brasileiro de Medicina e
Cirurgia, onde dr. Emílio Ribas defendeu a tese de que os meios de defesa
válidos para a eliminação da moléstia deveriam dirigir-se à eliminação dos
mosquitos vetores, e não aos meios apregoados pelos “contagionistas”.
Nesse mesmo ano, a febre amarela foi declarada extinta em
todo o Estado de São Paulo.
Em 1908, o Governo do Estado de São Paulo deu a missão de dr.
Emílio Marcondes Ribas ir aos Estados Unidos e a vários países da Europa, a fim
de estudar a profilaxia da tuberculose.
No retorno, em contato com eminentes estudiosos da questão, em especial, dr. Clemente Ferreira e dr. Vitor Godinho, idealizou a "Estradinha", com a finalidade de transportar os tuberculosos para o tratamento no Alto da Mantiqueira.
Propugnou com a força dos bravos, sem amolecer, até ver
concluída a Estrada de Ferro de Campos do Jordão.
Emílio Ribas foi homenageado em vida, quando a Câmara
Municipal de Pindamonhangaba, em 1903, aprovou uma indicação que se denominou
Praça Emílio Ribas, a praça central da cidade.
Quando se aposentou, ofereceram-lhe um prêmio de 200 contos
de réis, mas ele acabou recusando.
Sua produção científica, aliada à atuação em campo e à
capacidade de administração foram extraordinárias. Pronunciou sua última
conferência sobre febre amarela no Centro Acadêmico da Faculdade de Medicina de
São Paulo, em 1922. O cientista, dr. Emílio Marcondes Ribas, preocupou-se com
outras doenças, em especial a lepra.
Defendeu o isolamento dos leprosos, contanto que não ferisse
a dignidade dos doentes, assegurando-lhes conforto e bem-estar. Em um de seus
trabalhos, assim escreveu: “Acho indispensável o isolamento; sou de parecer que
essa medida só deve ser executada depois de feitas instalações realmente
capazes de oferecer conforto, higiene e cuidados médicos!”.
Sua personalidade era a de bom samaritano, trasbordante de
sentimento de amor ao próximo, de esperança e de fé naqueles que padecem.
Pensador profundo da transitoriedade terrena, abrigava no seu âmago a certeza de quem conhece a própria estrada, jamais admitindo que a névoa do pessimismo lhe nublasse as perspectivas do futuro.
Olhos voltados para frente, seguia firme, leal, sem, contudo,
deixar de contemplar as margens do caminho, ao longo do qual, distribuía, como
um missionário, as benesses da sua seara privilegiada.
Dr. Emilio Marcondes Ribas foi o pioneiro na luta contra a
febre amarela no Brasil e na América do Sul. Criou o Instituto Butantã,
construindo numa fazenda nos arredores de São Paulo, na época em que a peste
grassava no Brasil, em 1899.
Idealizou Campos do Jordão, como estância climática para o
tratamento da tuberculose, além de ter idealizado e construído a Estrada de
Ferro, juntamente com Victor Godinho, em 1911.
Idealizou o Sanatório de Santo Ângelo, o primeiro com características mais humanas de assistência aos hansenianos no Brasil.
Fundação do Instituto Butantã
O soro curativo da peste era dificilmente obtido – o
Instituto Pasteur de Paris só o cedia mediante requisição diplomática, tantas
eram as solicitações que diariamente recebia. Por esse motivo, o dr. Emílio
Marcondes Ribas propôs ao Coronel Fernando Prestes, presidente do Estado, a
fundação do Instituto Serumitherápico de Butantã, confiando a sua direção ao
eminente sorentista dr. Vital Brasil, que estabeleceu o diagnóstico da peste em
Santos, que contraíra a moléstia no hospital daquela cidade que já fazia
estudos sobre a soroterapia antiofídica. Ao cabo de pouco tempo o Instituto
Butantã estava habilitado a fornecer todos os soros antidiftéricos e
antiofídicos, que foram profundamente modificados e aperfeiçoados.
A fundação do Instituto Butantã foi uma das obras mais
meritórias da administração do dr. Emílio Marcondes Ribas.
Impressionado pela mortalidade infantil em S. Paulo, o dr.
Emílio Marcondes Ribas fundou também a seção de Proteção à Primeira Infância,
fazendo examinar as amas de leite mercenárias e prestar auxílio médico gratuito
aos lactantes indigentes.
O problema difícil da tuberculose mereceu sempre o seu
especial cuidado. Graças aos seus esforços e aos do dr. Victor Godinho,
construiu-se a EFCJ, hoje, propriedade do Estado, com o intuito de lá se
construírem sanatórios para tuberculosos e uma Vila Sanitária para o robustecimento
da saúde dos combalidos ou para descanso dos abastados daquele clima ideal e
privilegiado.
A febre tifóide, a disenteria, a meningite cérebro espinhal, o impaludismo, a ankylostomiase e a difteria mereceram sempre a sua solícita atenção como se vê dos seus trabalhos e relatórios.
Combate à Febre Amarela
O problema sanitário em que os seus serviços ao Estado foram
mais memoráveis foi sem dúvida, o da febre amarela.
Convencido de que por meio das desinfecções não se conseguia
combater a febre amarela, aceitou com entusiasmo a doutrina havanesa da
transmissão da febre amarela pelo mosquito “stegomya calopus”. Assim, a
doutrina de Finlay foi aceita pelo diretor do Serviço Sanitário do Estado de S.
Paulo quando ainda não tinha merecido a aprovação do governo americano. O dr.
Emílio Marcondes Ribas, um mês antes da guerra contra o mosquito em Havana,
publicava e fazia distribuir largamente as primeiras instruções preventivas da
febre amarela, aconselhando francamente a luta contra os mosquitos.
O Estado de S. Paulo procedeu desse modo ao governo americano
em Cuba na campanha contra o agente transmissor da febre amarela. Em S. Paulo e
Ribeirão Preto, em 1902, as comissões sanitárias agiram de acordo com os
princípios formulados pelo diretor do serviço Sanitário. O dr. Emílio Marcondes
Ribas decidiu repetir em S. Paulo as experiências dos médicos cubanos e
americanos.
S. Paulo oferecia condições excepcionais para essas
experiências por que a febre amarela não existia na cidade afastando-se deste
modo as suspeitas, que por terem sido as experiências de Havana realizadas na
vizinhança de uma cidade secularmente infectada pela febre amarela, os doentes
inoculados artificialmente por mosquitos poderiam já estar com a infecção
incubada.
Vencendo dificuldades de toda a sorte, inclusive o escrúpulo
do Presidente do Estado, dr. Bernardino de Campos, que relutava em consentir
que o dr. Emílio Marcondes Ribas, diretor do Serviço Sanitário e seu amigo se
expusesse em primeiro lugar, como pretendia, as picadas por mosquitos
infectados, conseguiu o ilustre cientista, apoiado pelo dr. Bento Bueno,
Secretário do Interior, repetir as experiências de Havana, e fortalecer o seu
espírito na convicção de que o combate à febre amarela devia resumir-se na
guerra ao mosquito e na proteção dos doentes contra as picadas desses insetos.
Essas experiências constaram de duas séries. Na primeira, foram picados o dr.
Emílio Marcondes Ribas, o dr. Adolfo Lutz e mais três pessoas, não imunes, por
mosquitos criados no Instituto Bacteriológico e infectados sugando sangue de
amarelentos em S. Simão, SP, nos dois primeiros dias da moléstia.
Dois doentes tiveram febre, albuminúria e outros sintomas,
deixando convencidos os experimentadores de que tinham produzido uma febre
amarela, felizmente benigna e terminando pela cura.
A segunda série consistiu em fazer com que pessoas não imunes
dormissem durante dez dias em camas forradas por colchões, fronhas, lençóis e
cobertores cheios de sangue e produtos de eliminação de amarelentos, peças de
camas com que se tinham coberto doentes de febre amarela em Taubaté, e para
aqui cautelosamente transportadas.
Os homens que se prestaram às experiências estiveram
recolhidos no Hospital do Isolamento em quartos protegidos contra mosquitos e
sob a vigilância imediata dos médicos encarregados de acompanharem as
experiências: dr. Luiz Pereira Barreto, Adriano de Barros, Silva Rodrigues,
além do pessoal do hospital. A segunda parte das experiências foi brilhante.
Nenhum dos homens sentiu o mais pequeno incômodo.
Quanto a primeira série de experiências houve dúvida no
espírito de muitos clínicos, dúvidas originadas na crença daquela época de ser
a febre amarela devida ao bacilo de Sanarelli e repugnar-lhes admitir que os
mosquitos transmitissem um bacilo por picada.
Só pela doutrina havanesa combateu as epidemias de Sorocaba
(no fim da epidemia), de Taubaté, S. Simão, Ribeirão Preto e Santos vendo com
satisfação coroados os seus esforços, cantando afinal vitória, depois de
ingentes lutas.
Algum tempo depois eram repetidas as experiências da transmissão da febre amarela pelos mosquitos no Rio de janeiro, sob a direção de Marchoux e Salimbeni.
Honras Recebidas e Declinadas
Eleito Presidente da
República, o conselheiro Rodrigues Alves, e nomeado Diretor Geral de Saúde
Pública, o imortal brassileiro que se chamou Oswaldo Cruz, o dr. Emílo
Marcondes Ribas teve a satisfação de receber desse saudoso cientista a carta
que se segue:
“Rio, 21 de abril de 1903. _ Exmo. Amigo dr. Emílio Marcondes
Ribas,
De todas as manifestações recebidas por ocasião da minha
nomeação, nenhuma me foi tão grata, afirmo-o, quanto ao ofício dirigido pelo
ilustrado Diretor do Serviço Sanitário do meu Estado natal. Para mim os termos
daquele honroso documento firmado pelo sábio profissional que fez o saneamento
de campinas e S. Paulo, tem um valor inestimável e o apoio moral que nele
encontro dá-me coragem e entusiasmo para a árdua campanha em que estou
empenhado. Peço, pois, que aceite com as mais cordiais saudações os mais vivos
agradecimentos e o reconhecimento do colega e amigo muito grato. (a) Gonçalves
Cruz – Voluntários da Pátria, 165_A”[1]
Tendo ainda o dr. Emílio Marcondes Ribas, por essa ocasião, a
glória de ver aplicada no Rio de Janeiro com extremo rigor toda a doutrina
americana e aprovadas e louvadas pelo 5º Congresso Brasileiro de Medicina e
Cirurgia as memórias que apresentou, relatando as experiências realizadas no
Hospital do Isolamento de S. Paulo, e os resultados práticos da sua aplicação
em várias cidades do Estado de S. Paulo. Tendo em conta esses relevantes
serviços, o governo do estado ofereceu-lhe em sessão pública e solene, uma
medalha de ouro e um diploma com a seguinte inscrição:
“Salus Pública. O Governo do Estado de
S. Paulo, tendo em consideração o trabalho humanitário do sr. dr. Emílio
Marcondes Ribas, que se sujeitou espontaneamente a experiências realizadas no
Hospital de Isolamento desta capital, no intuito de demonstrar a transmissão da
febre amarela, pelo stegomya faselata, confere-lhe uma medalha de ouro em
testemunho de apreço e reconhecimento. S. Paulo, 12 de outubro de 1903. O
Presidente de Estado, Bernardino de campos. O Secretário do Interior, Bento
Bueno”.[2]
Informado desses desígnios, o dr. Emílio Marcondes Ribas apressou-se em solicitar de seu colega que desistisse de seus nobres intentos, pois que se julgava retribuído com a consciência de ter bem servido ao Estado e com as demonstrações de apreço recebidas do governo.
Outros Trabalhos
Alguns anos depois, achando-se em Paris, em comissão do
governo, foi o dr. Emílio Marcondes Ribas convidado pelo governo francês para
tomar parte em uma comissão sanitária que deveria combater a febre amarela na
Martinica, convite extremamente honroso a que, com pesar, não pode aceder.
Perante a Sociedade de Medicina Tropical de Londres, dr.
Emílio Marcondes Ribas, expôs a um auditório o mais seleto o que foi a luta e a
vitória contra a febre amarela entre os brasileiros.
Bem se pode avaliar pelo número de “Lancet” de 06 de março de
1909, o grau de interesse e a profunda gratidão com que ele foi ouvido pelos
médicos ingleses.
Em 1918, o governo do Estado deu ao dr. Emílio Marcondes
Ribas a incumbência de estudar o problema da lepra, com o intuito de resolver
essa importantíssima questão.
As medidas lembradas pelo distinto higienista foram
conhecidas de todos os membros do Primeiro Congresso Médico Paulista perante os
quais o dr. Emílio Marcondes Ribas leu uma conferência interessantíssima sob
todos os pontos de vista e que constituiu uma das comunicações mais brilhantes
desse certame científico, o que também aconteceu no Primeiro Congresso
Sul-Americano de Dermatologia e Sifilografia que se reuniu na cidade do Rio de
janeiro em 1918, sendo então as suas conclusões unanimemente aprovadas.
Mais recentemente, tendo surgido dúvidas suscitadas por
divergências de opiniões sobre a profilaxia da lepra, o professor Aguiar Pupo,
em reunião havida na Sociedade de Medicina e Cirurgia, especialmente convocada
para elucidação desse problema sanitário, renovou as conclusões do dr. Emílio
Marcondes Ribas que foram mais uma vez, apoiadas.
Tendo, portanto, o problema da lepra aumentado ainda os seus
títulos de benemerência, aprovando, mais uma vez, o zelo com que sempre
desempenhou as incumbências recebidas, o critério e a prudência com que as
encarou, a firmeza inabalável nas suas convicções e a dedicação à causa
pública.
No ano de 1918, quando a pandemia de gripe assolou a capital
de S. Paulo, dr. Emílio Marcondes Ribas, já com a sua saúde combalida pela
arteriosclerose que lhe foi fatal, em um supremo apelo de energias de seu
físico em derrocada, conseguiu tratar concomitantemente aos leprosos de
Guapira, também gripados, mais de 500 doentes no Hospital do Seminário
Episcopal.
Foram cogitações do dr. Emílio Marcondes Ribas, durante o seu
período administrativo, a incineração do lixo em S. Paulo e o abastecimento da
capital.
Em 1906, criou o Serviço de Profilaxia e Tratamento gratuito
do trachoma nos postos anti-trachomatosos.
Reorganizou o Instituto Bacteriológico, Desinfectório
Central, Hospital de Isolamento, Laboratório de Análises Clínicas e Laboratório
Farmacêutico. Pediu no seu relatório, no ano de 1906, na página 32, a
elaboração de uma lei mais rigorosa sobre a fiscalização dos alimentos.
Reorganizando o Serviço Sanitário em 1911, não só criou novos
serviços como deu grande ampliação à organização sanitária do Estado.
O dr. Emílio Marcondes Ribas era, desde 1898, o chefe
consagrado do Serviço Sanitário de S. Paulo, o Estado líder da federação
brasileira: serviço sanitário modelar admirado por todos, profissionais e
leigos, que o conheciam de perto ou dele tiveram experimentado a salutar
influência.
O dr Victor Godinho, médico interno do Hospital de Isolamento
da época, também de S. Paulo, distinguiu-se neste posto desde 1901.
Com a tuberculose e meios de combatê-la têm-se preocupado
ininterruptamente, concorrendo com trabalhos originais para o encaminhamento e
solução do terrível problema tuberculoso.
O serviço sanitário do Estado de São Paulo foi criador por
Cezário Mota, e confiado à competência técnica de Emílio Marcondes Ribas.
Todo o serviço geral de higiene foi confiado a ele, respeitado e considerado profissional, que há mais de 19 anos dirigiu esse serviço, com notável zelo, dedicação e interesse, poderosamente coadjuvado por 30 inspetores sanitários, cumpridores severos dos seus deveres e como ele, interessados na manutenção da saúde pública.
Vila Sanitária de Campos do Jordão
As terras de Vila Capivari remontam à divisão judicial da
Fazenda Natal, em 1908, quando a Société Commérciale et Financièré Franco
Brésilenne recebeu o seu quinhão, em pagamento. A empresa alienou parte de suas
terras, 535 hectares, aos médicos higienistas, drs. Emílio Marcondes Ribas e
Victor Godinho, em 18 de abril de 1911, à margem direita do Ribeirão Capivari
até o Ribeirão das Perdizes, onde pretendiam implantar ali uma Vila Sanitária;
e para esse fim, adquiriram o sítio do Capivari, próximo da Vila Jaguaribe, com
22 alqueires de terra, um terreno de propriedade do sr. W. S. Wilson.
É este o parecer sobre o requerimento dos drs. Emílio
Marcondes Ribas e Victor Godinho, pedindo ao Congresso Federal favores para a
construção de um sanatório para tuberculosos e de uma Vila Sanitária nos Campos
do Jordão, apresentado pelo deputado sr. Dr. João Penido Filho:
“Construção nos Campos do Jordão, imediações da Vila
Jaguaribe, de sanatórios para o tratamento de tuberculosos, e de uma Vila
Sanitária na estação climatérica destinada a receber pessoas fracas por
natureza ou enfraquecidas por moléstias: Anêmicos, linfáticos, raquíticos,
artríticos, neurastênicos, todos aqueles que procurem um bom clima, calma e
repouso, como sejam os convalescentes de todas as moléstias agudas”.
Já não era sem tempo que despertasse a iniciativa individual,
embora recorrendo aos poderes públicos para ampará-la no propósito benfazejo de
criar, em país onde nenhum existe, estabelecimentos apropriados ao tratamento
de certas classes de enfermos e de certas categorias de tuberculosos curáveis
exclusivamente no regime senatorial.
Ainda bem que a primeira tentativa surge sob fagueiros
auspícios, amparada pelos nomes respeitáveis de dois clínicos distintos, com
larga messe de louros colhidos em serviços prestados ao país, com posições
definidas na hierarquia médica, ambos apresentando dragonas de general,
conquistadas no desempenho de delicadas funções oficiais, principalmente no
alentado Estado de S. Paulo.
O Dr. Emílio Marcondes Ribas foi, desde 1898, o chefe
consagrado do Serviço Sanitário de S. Paulo. o Estado líder da federação
brasileira:
Serviço sanitário modelar admirado por todos, profissionais e
leigos, que o conhecem de perto e dele têm experimentado a salutar influência.
O Dr. Victor Godinho, médico interno do Hospital de
Isolamento também de S. Paulo, vem se distinguindo neste ponto desde 1901.
Com a tuberculose e meios de combatê-la tem-se preocupado
ininterruptamente, concorrendo com trabalhos originais para o encaminhamento e
solução do terrível problema tuberculoso.
Foi um dos fundadores e um dos diretores da Liga Paulista
contra a tuberculose e diretor da excelente revista: “Órgão Oficial da Liga”.
Escreveu magnífica monografia em salientar a competência, a idoneidade científica e moral dos proponentes à instalação do primeiro sanatório em nosso meio, justifica-se pela razão de que esses estabelecimentos conseguem prosperar, preenchem seus fins higiênicos e terapêuticos, se dirigidos, se assistidos efetivamente por profissionais especialistas, clínicos abalizados e higienistas devotados à grande causa da tuberculose.
Nos diversos países onde a previsão higiênica dos médicos, a
capacidade monetária do tesouro, os recursos financeiros de associações
beneficentes ou das mutualidades facilitaram a criação dos poderosos
instrumentos senatoriais no combate à tuberculose, estiveram sempre, na direção
suprema desses preciosos institutos, verdadeiros apóstolos consagrados, de
corpo e alma, à causa santa, fisioterapeutas de nomeada incontrastável.
De outra forma, fatal o insucesso de tais empresas.
Assim, nos EUA, dirige vários sanatórios modelos, o dr.
Koofn, o grande Lama desta cruzada.
Na Alemanha, no célebre estabelecimento de Falhenstein,
pontificava o afamado dr. D. Tweiller; na Suíça, o dr. Turban fiscaliza o assaz
conhecido sanatório de Davos Platz.
Em França, na Côte d’Azur, o dr. Malibran dirige o sanatório
de Górbio, continuando o reputado estabelecimento de Kauteville sob a direção
proficiente do dr. Dumarest. Certo, o êxito dessas empresas depende
precipuamente da confiança que possam inspirar as pessoas que as organizam e
dirigem. No caso brasileiro, submetido ao exame da Comissão de Saúde Pública,
esta naturalmente aprecia no seu devido valor a idoneidade dos proponentes.
Na proposta há duas questões a examinar: a questão técnica e
a questão financeira, esta em rigor, mais da alçada da Comissão de Finanças.
A vantagem dos sanatórios, seu papel eficiente no tratamento
e cura da tuberculose, tem sido discutido, largamente não só na imprensa médica
como nos diversos congressos da Tuberculose.
Quaisquer que sejam as divergências quanto ao grau de
utilidade ou da necessidade dos dispensários e dos sanatórios em princípio,
ambos devem ser reconhecidos úteis ou necessários conforme as instituições, os
costumes e os recursos de cada país.
É merecedora de aplausos aqueles ilustres médicos que tiveram
a inspiração de escolher para instalação do sanatório e da moderna Vila
Sanitária um contraforte da Serra da Mantiqueira, cujo clima rivaliza senão
supera os melhores do mundo.
Haverá outra localidade que apresente melhores condições
climáticas do que os Campos?
Haverá outra estação cujo clima apresente mais frisantes elementos de uma uniformidade amena e salutar? Onde está o inverno rigoroso de que tanto se fala, sem o menor fundamento?
Os sanatórios de Davos, Samaden e Saint-Moritz, tão
preconizados na Europa e reputados como as melhores estações médicas para os
pneumáticos, longe estão de apresentar tão acentuado o complexo de caracteres
constitutivos de um clima ideal. (Clemente
Ferreira).
Uma estação sanitária, para ser perfeita, deve possuir, além
das condições climatéricas apropriadas, um certo grupo de condições sanitárias,
higiênicas e de recursos terapêuticos.
Sob o ponto de vista de elementos climatológicos, os Campos
do Jordão realizam plenamente esse desideratum; as suas condições sanitárias
são também as melhores possíveis.
Falta-lhes, pois, apenas certos predicados higiênicos e
diversos recursos terapêuticos que só os progressos da arte e o entusiasmo, a
dedicação e o estudo dos clínicos lhes darão em futuro talvez próximo.
É fácil de se depreender a monumental soma de incalculáveis benefícios que vai prestar às famílias, à sociedade brasileira e à pátria a fundação de um estabelecimento higioterápico nos Campos.
Façamos um ardente apelo aos tuberculosos e aos tísicos, aos
distróficos diversos, aos linfáticos, e aos escrofulosos, etc., pedindo-lhes
encarecidamente em nome da ciência moderna e dos progressos da climatologia
médica, que sem hesitar em um só momento e o mais precocemente que lhes seja
possível, recorram aos Campos do Jordão, que lá encontrarão na maioria das
vezes a saúde que lhes escasseia, as forças que lhes falecem, a vida que lhes
quase esquiva, zombando das mais valentes armas do arsenal farmacológico. (Clemente Ferreira). A comissão da saúde
pública da Câmara dos deputados deu parecer favorável ao requerimento dos drs.
Emílio Marcondes Ribas e Victor Godinho, sobre a construção do sanatório para
tuberculosos e Vila Sanitária, nos Campos do Jordão, imediações da Vila
Jaguaribe.
O projeto teve os aplausos gerais da Câmara[3].
O Deputado Federal Nogueira Pemento, do Ministério do
Interior autorizando o governo a contratar com os mesmos drs., Emílio Marcondes
Ribas e Victor Godinho, ou quem mais vantagens oferecer, não só a construção de
um sanatório ou Vila Sanitária nos Campos do Jordão, como também a construção
de uma Estrada de Ferro de Pindamonhangaba àquela localidade. Em virtude da
autorização do Congresso Legislativo, o governo do Estado concedeu aos drs.
Victor e Emílio uma subvenção anual para a construção de sanatórios para tuberculosos
em Campos do Jordão[4].
Como início de execução do plano, os srs. Drs. Emílio Marcondes Ribas e Victor
Godinho adquiriram nos Campos do Jordão as terras de que precisavam para a
fundação da Vila sanitária e dos sanatórios, que ficariam situados em lugar
afastado da Vila sanitária, mas na mesma região climatérica. Estas instalações
ficariam no sítio denominado “Capivari”, 4 quilômetros além da Vila Jaguaribe,
e que é pensamento da Companhia transformar numa “cidade-jardim”. A nova Vila
sanitária e os sanatórios seriam iluminados à luz elétrica e aquecidos pela
eletricidade, precaução esta necessária devido ao frio que se faz sentir. A
Companhia já possui privilégio, não só para a Vila Sanitária como para todo o
vale do Capivari, do fornecimento da luz e força, bem como tem a concessão para
água e esgotos. A força geradora de luz e energia elétricas era fornecida pela
cascata “Abernéssia”, situada a 1 quilômetro da Vila Jaguaribe e de propriedade
do adiantado pomicultor, sr. Dr. Robert John Reid, residente ali há muitos
anos.
Em 1911, os srs. Drs. Emílio Marcondes Ribas e Victor Godinho
obtiveram concessões especiais para a “Vila Sanitária”, que seria localizada em
terras adquiridas ao sr. Dr. Robert John Reid, próximas à confluência do
Ribeirão das Perdizes com o Capivari. No dia 12 de abril de 1911, partiram para
Campos do Jordão a fim de escolher um local definitivo para a construção de uma
Vila Sanitária e sanatório de tuberculose.
O sítio do Capivari ficaria nos Campos do Jordão, local
apontado por abalizados facultativos como o melhor, no Brasil, para o
estabelecimento de sanatórios para tuberculosos. Dando execução ao programa
traçado por aqueles clínicos, a Cia Campos do Jordão, fundada em 1920, procedeu
aos estudos técnicos para a construção da “Vila Campos do Jordão”, construindo
vários “bungallows” e dotando-as de serviço de água e esgotos, etc. Nessa
localidade encontravam-se todas as condições favoráveis não só para a
construção de sanatórios, como de uma Vila Sanitária com todo o conforto moderno,
larga extensão para edificações, excelente e abundante água potável, cachoeira
para força e luz, e pitoresca situação topográfica. Era esta a localidade que
melhor convinha aos intuitos dos dois facultativos que esperavam realizar breve
os melhoramentos higiênicos indicados.
O vale do Capivari na altitude de seiscentos e tantos metros,
dava muita graça e beleza no local. A nova Vila Sanitária seria uma estação
climatérica semelhante a muitas existentes no Velho Continente. As condições
topográficas da região e os intuitos dos ilustres profissionais faziam esperar
que a futura Vila Sanitária estaria destinada a uma frequência extraordinária,
em certas épocas do ano, com proveito para a saúde pública, por eles tida em
grande conta.
É assim que, antes da edificação dos prédios, pretendiam eles
dotar o local de melhoramentos higiênicos, como água potável, rede de esgotos e
iluminação elétrica.
O deputado Dr. João Penido Filho apresentou o parecer dando
concessão aos srs. Emilio Ribas e Victor Godinho para a construção de
sanatórios e Vila Sanitária, mediante os seguintes favores: Garantia de juros
de 6% ao ano durante 30 anos para o capital de 2.000 contos; isenção de
direitos para o material de construção, mobília, rouparia e baixela destinados
aos sanatórios, e também para o material de construção das 100 primeiras casas
da Vila Sanitária.
O sanatório reverteria à União no fim de 30 anos,
independente de indenização pecuniária.
Dr. Emílio Marcondes Ribas e Victor Godinho, visaram a
realização de um empreendimento de inestimável utilidade geral, qual seja, o
estabelecimento de sanatórios para tuberculosos e de uma Vila Sanitária em
ponto o mais adequado para tal fim, empreendimento esse que é, no gênero, o
primeiro a realizar-se no país; considerando que, a construção de um ramal
férreo que, partindo de um ponto conveniente da projetada linha de
Pindamonhangaba aos Campos do Jordão vá ter à sede do município de S. Bento do
Sapucai, ligando-se com a rede sul mineira em construção para São José do
Paraíso (Paraíso), além de proporcionar fácil transporte aos doentes
procedentes do Estado de Minas Gerais, seria uma fonte de desenvolvimento e
prosperidade para aquele importante município paulista.
O projeto não foi levado à frente, porém, em 1922, o
Embaixador José Carlos de Macedo Soares comprou as referidas terras e fundou a
Companhia de Melhoramentos Capivari, responsável pela edificação da
aristocrática e bela Vila Capivari.
Foram, dr. Emílio Ribas e Dr. Victor Godinho que, através do
empreiteiro português Sebastião de Oliveira Damas, iniciaram a construção da E.
F. Campos do Jordão, unindo o Vale do Paraíba a Campos do Jordão.
Para tornar eficaz o programa que tinham traçado, tornando
fácil o acesso a essa localidade, envidaram incansáveis esforços, obtendo a
concessão para o traçado da Estrada de Ferro, ligando os Campos à
Pindamonhangaba.
Assim, a Vila Capivari foi fundada pelos médicos higienistas Emílio Marcondes Ribas e Victor Godinho, que ali projetaram Vila Sanitária em 1911.
Estrada de Ferro Campos do Jordão
Em 26 de março de 1909, o dr. Emilio Marcondes Ribas pediu
demissão do cargo de Diretor do Serviço Sanitário do Estado, a fim de
dedicar-se exclusivamente aos sanatórios de tuberculose. Juntamente com o Dr. Victor Godinho, outro
Médico Sanitarista, idealizaram e construíram a Estrada de Ferro Campos do
Jordão. Esse importante trabalho foi, também, o ponto de partida para a
fundação dos Sanatórios de Campos do Jordão, especializados no tratamento da
tuberculose. O principal objetivo da construção da ferrovia era facilitar aos
seus pacientes e doentes acometidos pela tuberculose, um acesso mais rápido e
confortável para Campos do Jordão, por ser uma Vila no alto da Serra da
Mantiqueira, com clima de montanha ideal para as pessoas que procuravam e
necessitavam de tratamento para a cura do mal do século XX. Considerado o local
ideal para as pessoas se tratarem da enfermidade, que até então, somente era
possível a pé, lombos de cavalos, burros, mulas e carroças, ou, para os mais
abastados economicamente, em liteiras e banguês, desde o Vale
do Paraíba até o alto da Serra da Mantiqueira.
Antes
da Ferrovia, “o transporte de pessoas a Campos do Jordão era precaríssimo,
pois, em 1877, foi criada a “Cia. De Transporte para Campos do Jordão”, que
conduzia os passageiros, em troles, de Pindamonhangaba até a raíz da Serra
(atualmente Piracuama). Pernoitavam em uma pensão e no dia seguinte, os que
tinham saúde subiam a serra a cavalo, e as pessoas enfermas seguiam em liteiras
e banguês” (Pedro Paulo Filho).
Dessa maneira, colaboraram também, para a
fundação dos Sanatórios de Campos do Jordão, especializados no tratamento da
tuberculose.
No
dia 27 de abril de 1912, foi cravada a primeira estaca para a construção da
ferrovia. Apesar dos grandes obstáculos que se apresentaram na época, dados aos
aspectos geológicos e geofísicos, foi iniciada no dia 01 de outubro de 1912.
Dois
anos e 45 dias depois, a ferrovia foi concluída, e a sua inauguração se deu em
15 de novembro de 1914, recebendo a denominação de “S. A. Estrada de Ferro
Campos do Jordão”.
Neste
dia, aproximadamente 300 pessoas se esforçaram para que a pequena locomotiva a
vapor, denominada “Catarina”, subisse a serra puxando um vagão.
A Estrada de Ferro Campos do Jordão, foi aberta a partir da Estação Ferroviária de Pindamonhangaba, na E. F. Central do Brasil, pelos médicos sanitaristas, para o transporte de doentes respiratórios para o hospital na então Vila de Campos do Jordão.
Um ano depois, a sociedade
concessionária da EFCJ passou a apresentar dificuldades financeiras, em grande
parte devido à eclosão da Primeira Guerra Mundial, o que dificultou acesso a
linhas de crédito para empréstimos e financiamentos.
Os acionistas da ferrovia, por essa razão, autorizaram a
encampação da Estrada de Ferro pelo Governo do Estado de São Paulo, o que foi
efetivado em 1916.
Os primeiros trens eram a vapor, substituídos por trens a gasolina em 1916 e pelos elétricos em 1924. A partir de 1972 passou a ser gerida pela Secretaria de Turismo do Estado. Os trens passaram a ser turísticos, embora praticamente diários.
A linha original da
EFCJ chegava apenas até os sanatórios e neste ano foi prolongada até Vila
Abernéssia, que deu o nome à Estação.
Nos anos 1940, a Estação teve o nome alterado para Campos do
Jordão, mas o nome Abernéssia permaneceu nomeando a Vila.
Foi construída no que foi a primitiva área urbana da cidade
de Campos do Jordão, em 1919.
Era um prédio simples de madeira, que, nos anos 1920, provavelmente com a eletrificação da ferrovia, em 1924, foi ampliado.
A
partir de meados da primeira metade da década de 1920, com o crescimento de
Campos do Jordão, a ferrovia foi se consolidando como principal meio de acesso
à região, atendendo às necessidades de seus moradores e visitantes,
transportando não só passageiros, mas carga geral e também veículos, dada a
precariedade das vias de acesso rodoviário que conectavam Pindamonhangaba ao
alto da serra.
Realizações do Dr. Emílio Ribas
Realizações
do médico Emílio Marcondes Ribas:
-
Pioneiro na luta contra a febre amarela no Brasil e na América do Sul;
-
Criador do Instituto Butantan, na época em que a peste invadiu o Brasil (1899);
- Idealizador de Campos do Jordão como estância climática, juntamente com
Victor Godinho, em 1911;
-
Estudou a forma atenuada da varíola, levando os seus estudos aos grandes
centros científicos, onde foram discutidos e acatados;
-
Reorganizou o Serviço Sanitário, remodelando o Desinfectório Central, o
Hospital de Isolamento, os Laboratórios de Análises Clínicas e Bromatológicas,
o Farmacêutico e a Seção de Engenharia Sanitária.
– Idealizador do Sanatório de Santo Ângelo, o primeiro com características mais humanas de assistência aos hansenianos no Brasil.
Seu Passamento
Dr. Emílio Marcondes Ribas faleceu no dia 19 de dezembro de
1925, às 11 horas, na capital, São Paulo, aos 63 anos.
O antigo Diretor do Serviço Sanitário do Estado foi um dos mais
ilustres elementos da classe médica brasileira.
Pelos seus profundos conhecimentos, como pelo seu admirável
espírito de sacrifício e de dedicação à ciência, que abraçou, deixou o traço de
uma fecunda existência, inteiramente votada ao bem público, em cuja causa não
hesitou empenhar, muitas vezes, a própria vida.
O seu sepultamento realizou-se às 10 horas do dia 20, saindo
da Rua Cardoso de Almeida, 21, para o cemitério da Consolação, em S. Paulo.
Logo que teve conhecimento do trespasse do dr. Emílio
Marcondes Ribas, o sr. Dr. Carlos de Campos, Presidente do Estado, mandou
apresentar condolências à sua Exma. família, da qual solicitou permissão para
que o Estado realizasse os funerais, que foram feitos às expensas do Governo.
Recebeu muitas homenagens póstumas:
Seu nome foi dado a uma rua na cidade de São Paulo, Poá e
Caraguatatuba; ao Hospital de Isolamento, hoje, Hospital Emílio Ribas; a uma
Estação da Estrada de Ferro de Campos do Jordão em Vila Capivari; e ao Centro
de Saúde de Pindamonhangaba, cujo solo guarda os restos mortais do ilustre
conterrâneo. Seu nome é honrado como patrono da cadeira nº 56 da augusta
Academia de Medicina de São Paulo e da cadeira nº 109 do Instituto Histórico e
Geográfico de Santos.
Através da lei 4.903 de 19/12/1985, oriunda de um projeto do deputado Geraldo José Rodrigues Alckmin Filho, foi instituída pelo Governo de Franco Montoro, a Semana Estadual da Higiene e Saúde Pública e Ocupacional, a ser comemorada anualmente dia 18 de outubro, dia do médico, que tem como patrono o precursor do sanitarismo no Brasil, Dr. Emílio Marcondes Ribas.
[1] Jornal “Correio Paulistano, 20 de dezembro de 1925
[2] Jornal “Correio Paulistano, de 20 de dezembro de 1925
[3] Jornal “A República”, de 27.08.1911.
[4] Jornal “O Commercio de São Paulo, 06.11.1909.
[5] Jornal “O Commércio de S. Paulo, de 28.05.1912
Vila Abernéssia
Dr. Robert John Reid, o Escocês de Vila Nova
As Highlands da Escócia
O Prisioneiro de Azkaban, lembra da enorme e assustadora ponte onde uma criatura maligna, o Dementador, detém o trem para Hogwarts em busca de Harry Poter.
Esses lugares, pessoas e fatos nos remetem às Highlands, a mais mística e selvagem região da Escócia.
As Highlands, “terras altas”, em inglês, são uma imensidão de bosques e montanhas sobre um planalto do tamanho do Estado de Santa Catarina.
Um recanto pleno de natureza, onde o panorama nativo só é interrompido por castelos, pequenas cidades ou por vales e lagos de contornos dramáticos – sempre estreitos e muito compridos. Surgiram no fim da era glacial, quando massas gigantescas de gelo retrocederam para o norte, arrastando consigo bilhões de toneladas de terra e rochas e, assim, recortando a paisagem de forma única. Diversas espécies de animais e plantas que se extinguiram no continente europeu continuam vivos ali. Sem contar os aspectos culturais.
Ali persistem os costumes e tradições centenárias, como usar o kilt (a saia masculina) e tocar a gaita de foles. Um dos maiores sucessos do ex-Beatle Paul McCartney, a canção Mull of Kintyre, faz menção a isso, remetendo à vida na península de mesmo nome – um dos pontos mais isolados da Escócia.
Uma pequena curiosidade que liga as Highlands ao Brasil: se você já veio a Campos do Jordão, em São Paulo, deparou-se com um bairro chamado Abernéssia.
Essa palavra é a união de Aberdeen e Inverness, duas das principais cidades do norte escocês – uma homenagem a Robert John Reid, um highlander que adotou o Brasil para morar em 1896 e ajudou a fundar a estância montanhosa paulista.
Inverness, hoje (2018), possui 80 mil habitantes e foi fundada há 1400 anos.
É a maior cidade do Norte da Escócia e capital das terras altas, conhecidas como Highlands, local de muitas lendas e tradições. Inverness é uma cidade pequena e tranqüila, cortada pelo Rio Ness.
Aberdeen é conhecida como a "cidade do granito" por haver muitos edifícios construídos à base dessa matéria-prima. É banhada pelo Mar do Norte e fica situada na foz dos rios Dee e Don.
Família de Dr. Robert John Reid
Filho de James Reid, Upper Balfour, Aberdeenshire, Inchberry, Condado de Aberdeen, Conselho de Aberdeenshire, e de Isabella Thomson Walker, Falconcliff, invernessshire, Escócia.
Casou-se com a viúva de Guilherme Stoffel Mayer, de quem já tinha uma filha, Jandyra. Com dona Emília, teve seis filhos: Flora, Charles, George, Isabella, Shona e Douglas.
A irmandade do Dr. Robert John Reid, se constituía na seguinte sequência:
● Anna Bella Reid, nasceu em 17.12.1864, em Inchberry, Aberdeenshire, Escócia, e morreu em 10.9.1942, em Inverness, Invernessshire, Escócia;
● Elizabeth Helen (Leila) Reid, nasceu em 19.7.1866, em Inchberry, Aberdeenshire, Escócia, e morreu em 13.12.1898;
● Robert John Reid, nasceu em 22.12.1868, Inchberry, Aberdeenshire, Escócia, e morreu em 26.11.1937 em Campos do Jordão, SP, Brasil;
● William Walker Reid, nasceu em 30.4.1873, Inchberry, Aberdeenshire, Escócia, e morreu em 25.2.1946, Aberdeen, Aberdeenshire, Escócia;
● Maria Margaret (Marie) Reid, nasceu em 18.9.1876, Inchberry, Aberdeenshire, Escócia.
Robert John Reid casou-se com a viúva de Guilherme Stoffel Mayer, de quem já tinha uma filha, Jandyra. Com dona Emília, teve seis filhos: Flora, Charles, George, Isabella, Shona e Douglas.
Fundador de Olímpia
Sua Chegada em Campos do Jordão
Tendo vendido a sua fazenda de Barretos, em 1903 veio para Campos do Jordão. Subiu a serra em lombo de burro, pelo antigo caminho de tropas, por onde também subiam as liteiras transportando doentes.
Chegando, depois de horas de penosa viagem, ficara encantado com a
paisagem, a conformação topográfica da região, a vegetação abundante, os
pinheirais, as lindas e maravilhosas paisagens, o clima seco e frio, o ar puro
e leve. Olhou tudo e começou a pensar
em sua terra natal; a semelhança era tanta, que não pode conter as lágrimas – a
sua bela Escócia, que acabava de descobrir na Serra da Mantiqueira.
Ali estava um pedaço de sua terra, com um céu azul, como nunca vira dantes. Empolgado com as belezas de Campos do Jordão, resolveu, naquele momento, que ali deveria ser a sua segunda pátria.
Sua chegada à cidade não foi diferente dos demais aventureiros, bandeirantes, exploradores, pois chegou em lombo de burro, hospedando-se no Hotel Imbiri, na antiga Vila Velha (hoje Vila Jaguaribe).
Era um belo chalé de perto da antiga igreja, também, de madeira, onde hoje se ergue a Igreja N.S da Saúde. Havia, também, junto ao templo, um armazém que pertencia ao alemão Guilherme Stoffel Mayer.
Demarcação das Terras de Vila Natal
O primeiro agrimensor nomeado foi morto, em 28 de dezembro de
1899, por um dos condôminos; o segundo, por doença, desistiu da empreitada; e o
terceiro, não demonstrou interesse. Diante disto, a Ação encontrava-se
paralisada. Um dos proprietários condôminos era a “Casa Natham e Companhia”, de
São Paulo, SP, que em 17 de janeiro de 1907, decidiu dar prosseguimento à Ação.
Em 31 de agosto de 1908, foi lavrado o Termo de Encerramento
da audiência e conclusão da divisão da referida Fazenda, que foi retalhada em
107 quinhões, e a cada um de seus proprietários, atribuiu-se o respectivo
título de domínio, em terra demarcada e certa.
Em 28 de outubro de 1908, o Juiz de Direito de São Bento de Sapucaí proferia a sentença, encerrando a querela, em primeiro grau. No Processo, contendo 12 volumes, houve diversos recursos de condôminos, fazendo com que a Sentença final da Divisão Judicial só fosse confirmada pela Suprema Corte do país, em 12 de junho de 1913. Por proposta dos proprietários da firma Societé Financiere Franco-Brasillienne, que estava por extinguir, o Dr. Robert John Reid recebeu em pagamento, por procuração em “causa própria”, de 08 de março de 1913, lavrada no 7º Tabelião de São Paulo, livro 15, fls. 103, em que dita empresa foi representada por William Smith Wilson, grande parte das terras, excetuando as da Vila de Jaguaribe, compreendendo todo o Vale de Campos do Jordão até a divisa com Minas Gerais, numa extensão média de 6 a 18 quilômetros de largura. Por isso é que, amiúde, encontram-se escrituras lavradas pela Societè Finnancière nos cartórios jordanenses, figurando como procurador o próprio Dr. Robert John Reid. Para se ter uma ideia do valor das terras, Dr. Reid não conseguia vender a uma pataca o alqueire. Foi assim que tornou-se proprietário em Campos do Jordão.[3]
Dono de Terras em Campos do Jordão
Robert John Reid acabou adquirindo uma quantidade enorme de terras em Campos do Jordão e doou inúmeras áreas situadas na sua Vila Abernéssia ao Poder Público da Cidade, a particulares e entidades.
Primeiramente, residiu na Vila Nova como era conhecida, numa antiga casa
que já havia sido Casa de Saúde, de propriedade de Plínio de Godoy e João
Marcondes Romeiro, e antiga moradia de Ignácio Caetano Vieira de Carvalho, nas
proximidades da atual Escola “Dr. Tancredo de Almeida Neves”.
Com suas economias, comprou a Casa de Saúde Santa Isabel, que pertencera a Ignácio Caetano Vieira de Carvalho no passado, e depois a William Fowles.
A casa fora construída por escravos e era de taipa, com paredes de 0,50 m. de espessura, e montou uma olaria.
A Chácara “Abernéssia”
Residiu durante muitos anos na chácara situada na atual Vila Britânia, em seu famoso sobrado que tinha o nome de Vila Abernéssia, que lhe serviu de residência por longo tempo e onde criava gado e cultivava árvores frutíferas.
Anos mais tarde esse sobrado foi vendido pela família do Dr. Robert John Reid, no ano de 1944, para o Conde Eduardo Matarazzo e Dona Bianca. Posteriormente, ali se instalou o “Conventinho dos Padres Franciscanos”, demolido por volta de 1970.
O primeiro núcleo de desenvolvimento de Vila Abernéssia chegou com os trilhos da Estrada de Ferro de Campos do Jordão, à beiras dos quais ela nasceu e se desenvolveu, recebendo o nome de Vila Nova, o que bem demonstrava o seu estado embrionário.
Quando doou um terreno para a construção da EFCJ, Robert Jonh Reid sugeriu que fosse denominada Abernéssia. Retirou a primeira sílaba do nome da primeira ABER e a esta anexou a última sílaba do nome da segunda, NESS o que resultou em ABERNESS.
Antes de concluir seu trabalho, acabou por acrescer o pequeno sufixo IA da Escócia, sua terra natal. Concluindo, denominou a Nova Vila ou Vila Nova, como muitos a chamaram durante vários anos, de Vila Abernéssia (ABER + NESS + IA).
Forneceu energia elétrica e água para os moradores de Vila Nova. Em reconhecimento à sua ação política, as autoridades deram à Vila Nova a denominação de Vila Abernéssia.
Nasceu a Vila Nova em 12 de novembro de 1919, quando da inauguração do novo edifício da Estação em contraposição à Vila, já existente, que o povo chamava de Vila Velha, atualmente Vila Jaguaribe.
Muitos dos trabalhadores e funcionários da Ferrovia que chegaram à Vila Nova, encantados com a beleza da terra, resolveram ficar e começar a vida.
Vila Abernéssia
O pagamento que lhe faziam eram em terras e assim, proprietário de razoável patrimônio imobiliário ao fim de certo tempo, fundou a “Vila Nova”, a atual Abernéssia.
Homem de visão, com espírito comunitário, Robert John Reid fez trabalhos de sua especialidade profissional para outros proprietários.
E assim foi integrando na comunidade, passando a ser também proprietário e um dos fatores do desenvolvimento do novo núcleo que passaria a ser o centro comercial e administrativo de Campos do Jordão.
Para isso contribuiu, em seu nome e, através da Societé Financiére et Comérciale com doações valiosas ao patrimônio do Estado onde se ergueram depois, o Mercado, a Cadeia, o Almoxarifado, instalações de administração municipal, etc.
O antigo prédio do cinema, denominado “Cynema Jandyra” fora construído em terreno doado também pelo sr. Robert John Reid.
O terreno situado à Rua Ignácio Caetano onde a comunidade fransciscana construiu um grande pavilhão para reuniões de instituições paroquiais fora também doação do bondoso e progressista escocê-abernessiano.
Em seu tempo, João Rodrigues da Silva (João Maquinista), Joaquim Ferreira da Rocha e Júlio Fracalanza e outros, formaram com ele uma equipe de trabalho que impulsionou o desenvolvimento extraordinário de Abernéssia.
Depois de receber o impacto progressista dos trilhos da EFCJ em 1912, tornou-se o ocentro comercial, administrativo e político da cidade, já então caracterizada por três núcleos populacionais distintos, característica que até hoje conserva, muito embora numerosas outras vilas tenham surgido, outros bairros agregados à tais centros de densidade demográfica mais acentuada e cada um com um como um “modus próprio”.
Entre os seus feitos, há a construção da reprêsa da Cia. De Eletricidade, da qual foi um dos cofundadores.
As Doações de Robert John Reid
Foi também proprietário da Empresa Elétrica de Campos do Jordão e do
fornecimento de águas, de sua construção e manutenção. Loteou toda a Vila de
sua fundação, abriu ruas, construiu rodovias e pleiteou, durante anos, a
construção da strada de Ferro, em cujos esforços foi coadjuvado pelos Drs.
Emílio Ribas, Dr. Altino Arantes.
E não se pode negar que os trabalhos de conclusão da divisão judicial da
Fazenda Natal, que marcaram a extinção do estado de comunhão da Fazenda,
permitiram à terra acelerar o processo de seu desenvolvimento.
Para que a cidade progredisse, Robert John Reid doou diversos lotes àqueles
que, dentro de seis meses, iniciassem a sua construção.
Doou o terreno para o mercado, onde hoje situa-se o Fórum; para a
Igreja, onde atualmente é a Praça da Bandeira; para a cadeia, ao lado do Fórum.
A área de terras situada à Rua Ignácio Caetano, onde se edificaram a Igreja Matriz e Casa Paroquial, também foram objetos de doação.
Doou terreno para a EFCJ, e, em troca exigiu que essa se chamasse
Abernéssia, porém, a política, trocou o
seu nome, muito embora, seu filho tenha conseguido da Câmara dos Vereadores e
da Prefeitura que voltasse ao primeiro nome em homenagem àquele que tudo fez
por Campos do Jordão.
Além das doações já mencionadas, o Dr. Robert John Reid doou um terreno para a construção de um cinema, sob a condição de se lhe dar o nome de sua filha Jandyra, e logo foi erguido o Cynema Jandyra, por Desiré Pasquier, que se situava no retângulo constituído pela Avenida Januário Miráglia, Rua Brigadeiro Jordão e Travessa São Vicente de Paulo, demolido por volta de 1946.
Em documento manuscrito, datado de 20 de setembro de 1920, o Dr. Robert
John Reid doou à comissão organizada para a construção da Igreja Santa Isabel
de Vila Abernéssia, uma área de 3.500 mts. quadrados, próxima à Estação Ferroviária,
com a condição de ser ali construída uma praça com a denominação “Praça da
Vitória” (atualmente Praça da Bandeira), em cujo centro seria edificada uma
capela ou Igreja sob o patrocínio de Santa Isabel, em memória de sua falecida
progenitora, Isabella Walker Reid. A área seria depois transferida ao domínio
do Bispado, de Taubaté ou à Prefeitura.
“Dentro da área doada o outorgante reserva para si e seus sucessores, um
espaço de 5 mts. em quadro, destinada à construção de um monumento comemorativo
da vitória das armas das Nações Aliadas na Guerra Europeia de 1914 a 1918. Os
nomes “Praça da Vitória” e “ Igreja Santa
Isabel”, serão conservados em perpétuo”.[4]
A pequena Igreja, em louvor a Santa Isabel, erguida no centro da Praça da Bandeira, foi demolida nos anos 30, e portanto nenhuma das condições impostas pelo doador, foi cumprida.
A Igreja de Santa Isabel
Em um
deles instalara a sua residência, na atual avenida Januário Miráglia, à altura
do número 593, em casa existente até pouco tempo.
João
Maquinista cedeu um barracão para a realização de cultos religiosos, mais ou
menos no número 909 daquela avenida, e ali nasceu a Capelinha de Santa Isabel,
em Vila Nova, que posteriormente foi transferida para a pequena igreja de Santa
Isabel, que ficava bem no centro da atual Praça da Bandeira. O terreno para a
construção dessa igrejinha foi doado pelo dr. Robert John Reid, em 18 de
setembro de 1920.
Realizou-se uma concorrida quermesse, cujo fim foi auxiliar a construção da igreja a ser levantada naquela vila.
Mui
grado a indemência do tempo, os festejos correram bastante animados, sendo
apreciável as quantias arrecadadas nas diversas barracas pelo vigário da
paróquia, que foi um dos organizadores da quermesse.
Com
grande pompa realizou-se essa quermesse em benefício da construção da Igreja de
Santa Isabel da Vila Nova, a qual concorreram muitas pessoas das diversas zonas
deste distrito, de pindamonhangaba e outras localidades.
Tocou
durante todos os festejos a banda musical “Coronel Ribeiro da Luz”, de São
Bento do Sapucai.
Em
amplo campo achavam-se lindamente ornamentadas três barraquinhas, azul,
vermelha e outra da Pensão Sans-Soucé, que continham numerosas prendas e
guloseimas vendidas e servidas aos assistentes por senhoritas que foram
infatigáveis para o bom desempenho de sua incumbência.
Eram
elas as senhoritas Jeny Barros, Helena Reiny, Lívia e Haydée Fernandes, Nenê P.
Lima e outras da barraquinha Sans-Soucé; Rosenha Olivetti, Anna Moreira, Adélia
e Maria Olivetti, Nenen e Mariquinhas Sampaio, Aurora e Adélia Damas, Lourdes
Costa e outras das barraquinhas azul e vermelha.
Desempenharam-se
muito bem de seus cargos as presidentes e tesoureiras das barracas, sras.
Colleta Lubarraw, Antonieta Torres, Emília Perroni e Evangelina Sampaio.
Houve
um concurso de beleza feminina, obtendo o primeiro lugar a senhorita, filha do Dr. Robert John Reid,
Jandyra Reid, e o segundo, a senhorita Beatriz Azevedo.
Houve tômbola e uma partida de futebol entre os jogadores locais e os da vizinha cidade de Pindamonhangaba, resultando um empate de 2X2. Atuou como juiz o sr. Giacomo Furlanetta, veranista nesta localidade.
Abastecimento de Água Potável
No
Govêrno do Sr. Conselheiro Rodrigues Alves fez-se a EFCJ; o sr. Dr. Altino
Arantes acampou-a; o sr. Dr. Washington Luis iniciou a eletrificaçção, e o sr.
Dr. Carlos de Campos terminou.
Na
clarividência, porém, de seu atilado espírito patriótico, não poderia parar ai
a sua operosidade: era preciso completar a sua obra beneméritaa, pois era uma
medida de salvação pública.
A Vila
Abernéssia, perto de 200 prédios(1924), não poderia continuar sem rede de
esgotos e água encanada. Isto constituia, até, um perigo para a saúde pública.
O
apelo que toda a população fez ao sr. presidente do Brasil e a todos os membros
do governo seria o estabelecimento da Prefeitura Sanitária em Campos do Jordão,
- conforme a lei – o dotar a Vila Abernéssia, da qual comercialmente e
politicamente dependiiam as demais povoações dos Campos, de rede de esgotos e
água encanada, sem o que nunca poderia haver o mais leve indício de higiene.[5]
O
abastecimento de água potável, feito por Robert John Reid, à grande parte de
população de Vila Abernéssia, quando a ele pertenciam as terras em que foi
implantada a vila, tratava-se de água de primeira qualidade, pura e limpa, como
atestava o ilustre médico Dr. Almeida Salles, chefe do serviço de análises do
Estado de São Paulo, quando captada em seus mananciais. Em 1º de juhlo de 1926,
realizou-se mais uma sessão da Câmara Municipal de São Bento do Sapucaí, da
qual Campos do Jordão foi distrito. No expediente, foi lido um ofício do sr.
Dr. Jonathas Luiz Monteiro da Silva, comunicando haver assumido o cargo de Juiz
de Direito desta comarca, para o qual foi recentemente nomeado; requerimento
dos srs. Drs. Robert John Reid e dr. Miguel Covello Junior, pedindo concessão
para o serviço de abastecimento de água potável e rede de esgotos em Vila
Abernéssia, no distrito de Campos do Jordão. Passando-se à ordem do dia, foi
pelo vereador Perrone Netto, apresentado um projeto de lei, autorizando o sr.
prefeito a conceder provilégio aos srs. Drs. Robert John Reid e Miguel Covello
Junior, ou empresa que organizarem, para o serviço de abastecimento de água e
rede de esgotos, em Vila Abernéssia, em Campos do Jordão.[6]
O
abastecimento de água em Vila Abernéssia iniciou-se em 1934, por duas redes: uma que vinha do Brejo
Grande, em vala aberta, na extensão de dois quilometros, recebendo depois
manilha de 6¨, que foi executada e depois explorada pelo engenheiro Robert John
Reid. A água era boa, mas chegava às casas ccompletamente poluída. A outra
rede, era de João Rodrigues da Silva (João Maquinista, menor que a primeira, e
servia as suas propriedades e de seus amigos. Só um milagre evitou uma epidemia
de tifo.
O Dr. Robert John Reid servia gratuitamente, a EFCJ, o Mercado, Posto Policial, Grupo Escolar, e em virtude de concessões antigas, as residências do dr. Claro Cezar e do Comendador Antonio Rodrigues Alves.
O Pomicultor Robert John Reid
Com a construção da Estrada de Ferro já bastante adiantada, tinham os pomicultores dos Campos do Jordão, um escoadouro fácil e rápido para os seus magníficos produtos, que podiam ser devidamente apreciados, tanto em S. Paulo como no Rio de Jneiro, 24 horas depois de colhidos nos pomares.
A fruta era apanhada madura no pé e enviada logo ao consumidor, o que levava grande e incontestável vantagem às frutas importadas da Europa, América do Norte e Argentina, onde elas, além de serem colhidas verdes, perdiam muito de seu gosto, fazendo longas travessias em frigoríficos.
As frutas que mais se prestavam a serem plantadas em Campos do Jordão, de modo a poderem concorrer vantajosamente com as suas similares europeias, eram as maçãs, pêras, pêssegos, uvas e ameixas de todas as qualidades.
Na Chácara Abernéssia, de propriedade do Dr. Robert John Reid, pomicultor apaixonado, o número de árvores frutíferas existentes ascendia a cerca de 15 mil, havendo aproximadamente 1.000 árvores de 10 para 11 nos de idade, 1.500 de dois anos, 2.500 de um ano e mais 9.700 plantadas. Este número de árvores compunha-se de 8.000 macieiras de 80 variedades diferentes e 2.000 pereiras de 30 variedades, incluindo-se, no restante, fruteiras de pêssego, cereja, ameixas, figo, marmelo, nectarina, damasco e uva, existindo também grande número de frutas pequenas, como framboezas, morangos, groselhas e uvas de Corinto. Todo o preparo de terreno para as plantações tanto da Chácara Abernéssia como das do sr. Júlio Fracalanza e Comendador Antonio Rodrigues Alves, foi feito na época, pelo sistema moderno de dinamitização, tendo-se empregado neste serviço, mais de 12.000 cartuchos de dinamite Nobel, fornecida pelos srs. M. Almeida e Cia., da capital de São Paulo e Vieira Ferraz, de Pindamonhangaba.
Houve ainda outros pomicultores, cujas plantações eram em menor escala. Se, porém, a pomicultura nos Campos do Jordão, não se desenvolveu com mais força, na medida dos desejos dos que ali tinham empregado os seus capitais, foi devido à morosidade das alfândegas.
Pioneiros da Vila Nova
Adquiriu terras em Vila Abernéssia, passou a construir nesses terrenos, constituindo um dos fundadores de Vila Nova, nome que perdurou por muitos anos.
Grande proprietário de casas e terrenos, João Rodrigues da Silva era caridoso, deixando transparecer essa virtude, nos repetidos gestos, que tomava, doando terrenos para a construção de sanatórios e hospitais.
João Rodrigues da Silva não trabalhou na EFCJ. O apelido , João Maquinista, foi-lhe dado antes de vir para a Vila Nova, quando ainda na Fazenda do Baú, de seu sogro, lidava com máquinas e monjolos. Era homem dinâmico e de visão comercial. O velho português emprestava dinheiro a juros, suprindo a ausência de estabelecimentos bancários na cidade, e assim fazendo, estimulava o crescimento e a concretização dos negócios. Controvertida a personalidade de João Maquinista, admirado por alguns, odiado por outros.
Muitos outros homens ajudaram a fundar a Vila Nova, e Joaquim Ferreira da Rocha[7] chegou à Ferrovia. Foi um dos pioneiros de Campos do Jordão e aqui chegou junto com a Estrada de Ferro Campos do Jordão, no ano de 1914. Construiu a primeira casa em Vila Abernéssia, logo na entrada da Vila (atual Assiso).
Apesar de sua idade avançada, ainda exerceu, com eficiência o cargo de Chefe de Turmas da Prefeitura.
Era casado com Maria Guther Rocha, com quem teve 14 filhos. Por algum tempo, associou a Floriano Rodrigues Pinheiro, constituindo a firma Rocha e Pinheiro, do qual se desligou, mais tarde.
Na primeira década do século, Nhozinho São Thiago, adquirindo a casa do Major José Ignácio Camargo Penteado, fixou-se no bairro de Santa Cruz.
O crescimento de Vila Nova foi de tal ordem que a olaria de Robert John Reid, que se situava á altura da atual Casa da Lavoura, depois de fornecer materiais para a construção das casas de Joaquim Ferreira da Rocha, José de Magalhães, Guilherme Lebarrow e Vila Flora, acabou se tornando insuficiente. Outra foi montada, nas proximidades da atual Parada Fracalanza para suprir as necessidades da construção do prédio do Instituto Dom Bosco, dos Padres Salesianos. Essa olaria, fora montada para a construção da residência de Júlio Fracalanza, e, em seguida passou a ser explorada por José de Araújo Negrão.
Membro da Colônia Britânica de São Paulo, conseguiu levar para Campos do Jordão alguns membros da comunidade. Entre eles, os Wilson, que iniciaram uma fazenda de carneiros, tendo como gerentes os Backer, que, posteriormente, formaram a Pensão Inglesa.
Levou também James Mac lean, que iniciou uma fazenda de gado em Vila Capivari, e levou também os Davids e outros.
Foi responsável pelo fornecimento de água para a localidade, de sua construção e manutenção. Loteou a Vila Abernéssia, abriu ruas e construiu estradas e rodovias.
Robert John Reid e a EFCJ
Forneceu área para a construção de uma escola, onde era o auditório da Sociedade de Educação e Assistência “Frei Orestes”, hoje, Câmara Municipal.
O Dr. Robert John Reid foi, embora estrangeiro, chefe político. Por muitos anos ele foi o 1º Juiz de Paz, quando Campos do Jordão ainda era Distrito de São Bento de Sapucaí.
Dr. Robert John Reid e a Usina Hidrelétrica
Quando, em maio de 1918, Alfredo Jordão Junior se dispôs a iniciar os serviços de construção da usina hidrelétrica de Campos do Jordão, os seus amigos e conhecidos acharam essa resolução produto de assombroso arrojo, dada as condições de vida do lugar e bem assim os grandes tropêços que fatalmente se oporiam à marcha regular das obras.
Realmente, sem se tratando da construção de uma usina no alto da Mantiqueira justamente quando a conflagração europeia trazia para empreendimentos dessa natureza os mais caprichosos obstáculos, muita gente preconizou completa desilusão para Jordão Junior, muito embora fosse conhecida a sua energia e disposição para os mais difíceis trabalhos.
Contrariamente ao que todos esperavam, esse moço, disposto a dar fiel cumprimento ao plano que havia organizado, obteve o privilégio da Câmara de São Bento do Sapucahy para a iluminação do Distrito de Campos do Jordão, e resolutamente tratou de adquirir os acessórios materiais para que a construção tivesse início.
Para a organização das turmas de trabalhadores, Jordão Junior viu-se na contingência de reunir pessoal de localidades distantes e essa gente, como sempre, rebelde à boa ordem, muito levou a submeter-se ao modo de trabalho conveniente.
Assim, lentamente, operou-se a seleção e após 4 meses de luta Jordão Junior pode, com sarisfação, considerar o seu pessoal habilotado para o invariável prosseguimento das obras.
A par de seu natural espírito de perseverança e administração, o jovem paulista muito se distinguiu pelos seus incontestáveis conhecimentos técnicos, o que se verifica pelo irrepreensível funcionamento da usina “Abernéssia”, cujos planos, produto dos mais complicados estudos de alta engenharia, foram esboçados e executados exclusivamente por ele.
Todas as suas previsões se realizaram matematicamente nas experiências de máquinas, quer na parte hidráulica, e, após 12 meses de grandes sacrifícios e forte tensão de trabalho, foi brilhantemente inaugurado o serviço de iluminação pública e particular e fornecimento de força em “Abernéssia”ne Vila Jaguaribe.
Essas localidades já famosas pelo seu salubérrimo clima, gozam de mais um imprescindível elemento de vida, tendo-se em vista a comodidade proporcionada pela força elétrica em suas diversas aplicações.
E Alfredo Jordão Junior, promotor e executor desse grande melhoramento, seria certamente lembrado pelos moradores de campos do Jordão e bem assim por todas as pessoas que procuram o alto da Mantiqueira, quer por motivo de saúde, quer por viagem de recreio.
Em 15 de agosto de 1919 era inaugurado o serviço de iluminação pública de Vila Nova, sob a responsabilidade de Robert John Reid e Alfredo Jordão Junior, descendente do Brigadeiro Jordão, com a denominação de “Evangelina Faria Jordão”, em homenagem à esposa de Alfredo Jordão Junior.
Essa usina, posteriormente, passou a ser conhecida como Usina Velha de Abernéssia ou Usina de Baixo. Em 1921, Robert John Reid criou a Empresa Elétrica de Campos do Jordão que, a partir de 1928, passou a ser denominada Companhia de Eletricidade de Campos do Jordão, e foi a responsável pela construção, por volta de 1930, da Usina do Fojo, nas proximidades da Lagoinha. Essas duas pequenas hidrelétricas abasteceram a cidade com energia elétrica por vários anos.
Posteriormente, a distribuição passou para a Companhia Sul Mineira de Eletricidade, Centrais Elétricas de Minas Gerais - CEMIG e Companhia Energética de São Paulo - CESP.
Seu Passamento
Seu falecimento foi anunciado no “Correio Paulistano”, em 30 de novembro de 1937 (terça-feira) e em 5 de dezembro de 1937 (domingo), onde constou ter deixado a esposa Emília da Silva Reid e os seguintes filhos:
Jandyra (filha de D. Emília com seu ex-esposo Guilherme Stoffei Mayer), casada com Curt Hering; Flora Maria Reid, casada em 1ª núpcias com Egydio Nery Baweli, tendo o filho Robert John Reid Neri; em 2ª núpcias com Alfredo Donald Howell, tendo a filha Mary Jane Reid Howell, casada com Richard Desmond, com os filhos Sean Desmond e Joanna Desmond, em 3ª núpcias com Esteve Felton, sem sucessão; Charles Edward Reid; George Reid, engenheiro, casado em 1ª núpcias com Dalila Gomes e, em 2ª núpcias com Maria Helena Duprat; Srta. Isabela Majorie Reid; Shona Frances Reid, casada com João Gomes Pinheiro, tiveram os filhos Lilibeth Cynthia Reid Pinheiro, casada com Moysés Benarros Israel, que residiram em Manaus, AM; João Eduardo Reid Pinheiro, casado com Nancy Gisela Viete; Lillimay Maisie Pinheiro; e Douglas James Myles Reid. Em 1965, Douglas James Myles Reid, foi Diretor Presidente da RCA Eletrônica Brasileira S. A, casado, em 2ª núpcias, com Ana Maria da Silva, Artemis, SP, ela já estando viúva em 24 de setembro de 2012.
Com seu falecimento, Campos do Jordão perdeu um “grande benfeitor”. O povo, consternado, acompanhou o seu enterro, e o comércio, prestando sua homenagem, cerrou as suas portas, às 16 horas.
Robert John Reid foi um homem de coração largo, um mão aberta, que deu a própria vida por Campos do Jordão.
De homem rico morreu pobre e como morto passou por um constrangimento em seu sepultamento, pois na hora de descer o caixão à sepultura, ele não coube, pois, a cova aberta no cemitério local era menor do que o caixão. Assim foi preciso serrar um pedaço do caixão para que ele descesse os sete palmos da sepultura.
[3]
Depoimento do Eng. George
Reid, filho do Dr. Reid, prestado a Pedro Paulo Filho, em 1978.
[4] Trata-se de uma procuração dada de próprio punho pelo Dr.
Roberto John Reid, fundador de Vila Abernéssia, a Floriano Rodrigues Pinheiro.
[5] Jornal “Correio Paulistano”, de 21 de dezembro de 1924
[6] Jornal “Correio
Paulistano”, de 12 de julho de 1926
[7] Do Livro ”História de Campos do Jordão”, da autoria de Pedro Paulo Filho – Editora Santuário – 1986, Página 164
Fontes:
Links:
https://vidacigana.com/highlands-terras-altas-escocia/
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