As Três Vilas


As raízes da cidade de Campos do Jordão estão fincadas no Imbiri, Vila Jaguaribe, onde Matheus da Costa Pinto, iniciando um povoado, lançou as sementes desta estância.

Uma outra vila surgiu mais tarde, na segunda década do século passado. Era a Vila Nova, como diziam os habitantes de então. Mas o seu nome definitivo foi dado pelo seu fundador, Robert John Reid, que trabalhou incansavelmente pelo desenvolvimento de Campos do Jordão.

Chegando, depois de horas de penosa viagem, ficara encantado com a paisagem, a conformação topográfica da região, a vegetação abundante, os pinheirais, as lindas e maravilhosas paisagens, o clima seco e frio, o ar puro e leve.

Olhou tudo e começou a pensar em sua terra natal; a semelhança era tanta, que não pode conter as lágrimas – a sua bela Escócia, que acabava de descobrir na Serra da Mantiqueira. Ali estava um pedaço de sua terra, com um céu azul, como nunca vira dantes. Empolgado com as belezas de Campos do Jordão, resolveu, naquele momento, que ali deveria ser a sua segunda pátria. Vendia terrenos sob pagamento facilitado, a preços baixos. Também os doava. Assim se formava um novo povoado, a “Vila Nova” que é hoje, Abernéssia.

O Governo do Estado de São Paulo deu a missão de Emílio Ribas ir aos Estados Unidos e a vários países da Europa, a fim de estudar a profilaxia da tuberculose. No retorno, em contato com eminentes estudiosos da questão, em especial, Clemente Ferreira e Vitor Godinho, idealizou e construiu a Estrada de Ferro, a nossa "Estradinha", juntamente com Victor Godinho, em 1911, com a finalidade de transportar os tuberculosos para o tratamento no Alto da Mantiqueira. Propugnou com a força dos bravos, sem amolecer, até ver concluída a EFCJ. Foram, dr. Emílio Ribas e Dr. Victor Godinho que, através do empreiteiro português Sebastião de Oliveira Damas, iniciaram a construção da E. F. Campos do Jordão, unindo o Vale do Paraíba a Campos do Jordão.

Para tornar eficaz o programa que tinham traçado, tornando fácil o acesso a essa localidade, envidaram incansáveis esforços, obtendo a concessão para o traçado da Estrada de Ferro, ligando os Campos à Pindamonhangaba.

Idealizou Campos do Jordão, como estância climática para o tratamento da tuberculose.

Assim, a Vila Capivari foi fundada pelos médicos higienistas Emílio Marcondes Ribas e Victor Godinho, que ali projetaram Vila Sanitária em 1911.

A Prefeitura Sanitária de Campos do Jordão estava localizada na Avenida de Ligação, hoje, Av. Dr. Januário Miráglia, 828, ao lado do antigo Dispensário de Tuberculose, Dr. Emilio Ribas, posteriormente, Centro de Saúde II, “Dr. Silvestre Ribeiro”, nas proximidades do Correio. Esse prédio foi alugado em 11 de abril de 1928, para o primeiro Prefeito Sanitário de Campos do Jordão, Coronel Oscar Barcellos, para nela instalar a sede da Prefeitura Sanitária de Campos do Jordão, permanecendo nesse local, até 29 de julho de 1937. A partir dessa data, o segundo Prefeito Sanitário, Bento Cerqueira César, alugou outro prédio, da família Sampaio Camargo, mudou a sede da Prefeitura, onde esteve sediada por mais de 56 anos, situado ao lado do Cine Glória, atualmente, Espaço Cultural Dr. Além.

Vila Jaguaribe

Dr. Domingos Jaguaribe - o Dominguinhos de Vila Velha"


Visconde de Jaguaribe

Domingos José Nogueira Santos, pai de Domingos José Nogueira Jaguaribe Filho, jurista e político atuante, Visconde e Conselheiro do Governo Imperial, mudou seu nome para Domingos José Nogueira Jaguaribe.

Nasceu na cidade do Aracati, CE, no dia 14 de setembro de 1820, sendo seus pais o Capitão João Nogueira dos Santos e Dona Joana Maria da Conceição.

O que chama atenção é a presença de pessoas ilustres brasileiras com nome indígena, que demonstra uma grande valoração aos nossos primeiros habitantes tupis-guaranis.

JAGUARIBE, (Jaguaribe, corr. De Yaguar-y-be, segundo Teodoro Sampaio, vem do tupi, vocábulo indígena que significa "no rio das onças".

O Rio Jaguaribe banha o Estado do Ceará, nome também de um município no Estado.  Ceará outro nome indígena (tupi), quer dizer “canto de jandaia”, frase que se encontra em “Iracema”, (lábios de mel), livro publicado em 1.865, de autoria de José de Alencar, escritor cearense. Aracaty (tupi), sua terra natal, significa "Bons Ventos".

Domingos José Nogueira Jaguaribe, matriculou-se na Academia do Norte do Império, à época sediada em Olinda, na turma de 1841; e, já no 2º ano, tinha assento na Assembleia Provincial do Ceará, na qualidade de suplente de Deputado.

Bacharelou-se em Ciências jurídicas e Sociais, pela Faculdade de Direito de Pernambuco, em 1845, sendo em seguida nomeado Promotor Público de Sobral, e mais tarde da Comarca de Fortaleza.

Foi eleito Deputado Provincial para o biênio de 1850 a 1851 e ao ensejo da 1ª sessão, escolhido por seus pares, Presidente da Assembleia, com cuja função acumulou a de jornalista, redigindo o jornal periódico “Pedro II”, órgão do Partido Conservador, do qual fazia parte.

De 1853 a 1856 exerceu o cargo de Deputado junto à Assembleia Geral, da qual foi eleito 2º Secretário. Distinguiu-se na tribuna, proferindo um discurso sobre a instrução, que mereceu do Visconde de Castilho muitos elogios em carta que foi publicada no jornal do Comércio, do Rio de janeiro e transcrita no jornal “Pedro II”.

Nas legislaturas de 1857 a 1860 e de 1861 a 1864, se elege novamente Deputado Geral, respectivamente pelos Distrito Eleitorais de Baturité (4º) e Sobral (2º).

Na legislatura de 1864 a 1866, já sob o domínio liberal, reelege-se, desta feita, pelo 1º Distrito, em substituição ao Deputado Frederico Augusto Pamplona, que veio a falecer no exercício do mandato.

Fundou em 1862, em Fortaleza, o jornal Constituição, órgão do Partido Conservador, em cuja Capital, ocupou o cargo de lente de Retórica do Liceu, no qual se aposentou em 1874, tendo sido antes Diretor desse notável estabelecimento de ensino, além de Inspetor Geral da Instrução Pública.

Com a ascensão dos Conservadores ao Poder em 1867, não obstante se achasse em missão no Paraguai, torna à Assembleia Geral, igualmente pelo 1º Distrito, tendo, ademais, seu nome incluído em lista sêxtuplo senatorial logrando ser o escolhido por sua Majestade D. Pedro II, para representar a sua Província no Senado do Império a partir de 1868.

Predileto do imperador D. Pedro II, o Bacharel em Direito formado pela Academia de Olinda foi escolhido para a senatoria, em 1870, como representante do Ceará. Ficou célebre pelo fato de D. Pedro II tê-lo indicado em detrimento do romancista José de Alencar.

Na Magistratura, foi juiz de Direito das Comarcas de Inhamuns, hoje Saboeiro, do Crato e de Sobral, onde se aposentou a fim de desincompatibilizar-se para a eleição de Deputado Geral.

Integrou, como Ministro da Guerra, o Gabinete instalado a 7 de março de 1871, presidido pelo Visconde do Rio Branco, sendo condecorado com a medalha da Campanha do Paraguai.

Em 1872 foi reintegrado na Magistratura, passando a judicar como juiz dos Feitos da Corte, onde permaneceu até a proclamação da República, quando foi nomeado Desembargador da Relação de Pernambuco da qual foi removido pouco tempo depois para o Tribunal da Relação do Rio de Janeiro.

Após a libertação dos escravos, em 1888, Domingos José Nogueira "Jaguaribe" foi agraciado pelo Imperador com o título de “Visconde de Jaguaribe”, pelo Decreto de 11 de julho de1888, título originário, que acabou por usá-lo como sobrenome.

O Visconde de Jaguaribe casou-se, a 30 de dezembro de 1842, em Fortaleza, com Clodes Alexandrina Santiago de Alencar, nascida em Juiz de Fora, a 6 de novembro de 1912, filha de Leonel Pereira de Alencar (falecida no sitio Alagadiço novo, Mecejana, a 6 de janeiro de 1851) e de Maria Xavier da Silva Pereira de Carvalho.

Pelo lado paterno, era sobrinha de Bárbara de Alencar e uma irmã sua, Ana Josefina de Alencar, envolveu-se com o primo José Martiniano de Alencar. Eles foram os pais do escritor José de Alencar.

O casal gerou onze filhos:

Domingos José Nogueira Jaguaribe Filho, o “Dominguinhos”, nascido em Aracati, a 2 de novembro de 1848, morreu em Santos, a 14 de novembro de 1926);
Joaquim José Nogueira Jaguaribe, nascido no Ceará, a 11 de maio de 1850; Joana Jaguaribe Gomes de Matos, nascida em Quixeramobim, 17 de setembro de 1854, e casou -se com João Paulo Gomes de Matos, Juiz de Direito, Desembargador e Deputado provincial pelo Ceará em duas legislaturas; Maria Jaguaribe de Alencar Lima, nascida a 1 de janeiro de 1856, e se casou com o primo, engenheiro Tristão Franklin de Alencar Lima; Leonel Nogueira Jaguaribe, nascido em Crato, 24 de janeiro de 1857, e faleceu em Juiz de Fora, a 21 de agosto de 1886); Clotilde Nogueira Jaguaribe, nascida em Ceará, 6 de janeiro de 1859, casada com Paulino Nogueira Borges da Fonseca, desembargador em Fortaleza; José Nogueira Jaguaribe, nascida em Ceará, 16 de agosto de 1860, engenheiro, solteiro; João Nogueira Jaguaribe, nascido em Fortaleza, 4 de julho de 1864); Antônio Nogueira Jaguaribe, nascido em Fortaleza, 30 de março de 1866, engenheiro, e casou-se com Alice Costa, de Juiz de Fora; Ana Flora Jaguaribe, e mais um menor.

Ana Flora Jaguaribe, nascida no Ceará, a 20 de agosto de 1867, casou-se com o engenheiro português Joaquim Guilherme de Sousa Leitão Maldonado, avô de Joaquim Murillo Maldonado.

O Visconde de Jaguaribe, tão logo retornou ao Rio de janeiro, a 5 de junho de 1890, depois de visitar os conterrâneos e amigos no Ceará, morre repentinamente nessa Capital, aos 69 anos de idade. Foi sepultado no Cemitério de S. Francisco Xavier.

Domingos José Nogueira Jaguaribe Filho

O médico, político e empreendedor, Domingos José Nogueira Jaguaribe Filho, nasceu em 1848, em Fortaleza. Casou-se com Marcolina Ferraz de Campos, filha de Cândido José de Campos Ferraz, o barão de Porto feliz, foi Pai de Laura Jaguaribe, Flora Jaguaribe e Alzira Jaguaribe. 

Couberam, no inventário da filha do Barão de Porto Feliz, Marcolina Ferraz de Campos, partes de 3:500$000 cada uma, além do sítio “Imbaúba”, oferecido em dote ao deputado, com valor total de Rs. 30:000$000.

A reportagem discute que as terras teriam valor legal superior a 78 contos de reis, sendo estimados os valores pelo Governo em 20 contos a mais.

Graduado em Medicina, pela Faculdade do Rio de Janeiro, em 1874. Aperfeiçoou-se em Paris, exerceu com brilho sua profissão em São Paulo. Traçou uma trajetória característica do contexto da formação e ascensão da burguesia brasileira: combinava o “homem das ciências” ao “homem de negócios”, tendo como modelo o liberalismo americano.

Sua tese de medicina foi: "Aclimatamento das Raças sob o ponto de vista da Colonização do Brasil".
As reflexões sobre a colonização no Brasil, na área da geografia médica, dividida em dois capítulos, apresenta elementos que fundamentariam suas propostas de combate à escravidão e incentivo à imigração europeia.

 No primeiro, faz uma análise de economia política, defendendo o liberalismo e a ação empreendedora, com base nos preceitos de Adam Smith e Alexis de Tocqueville.

Imputa o atraso do país à colonização portuguesa e ao regime escravocrata, e se adianta, nesse aspecto, ao geógrafo médico Alain Bordier, para quem a colonização deveria ser conduzida cientificamente, cabendo ao Império o desenvolvimento que levaria à libertação da colônia.

O segundo capítulo consiste num tratado de geografia médica: descritivo, baseado em relatórios de expedições e estudos brasileiros, discutiu o aclimatamento, a partir de referências na área da geografia médica francesa e alemã.

O Dr. Domingos José Nogueira Jaguaribe Filho seguia a linha neo-hipocrática em voga na geografia médica: sugeria que as cidades adotassem espaços abertos para permitir a circulação de ar, insolação e iluminação, favorecedores da higiene e da salubridade.

Aportava ao ambiente natural a construção humana: as condições favoráveis para o aclimatamento dos imigrantes, além do clima, vegetação e áreas férteis, dependiam da infraestrutura urbana, incluindo edificações e equipamento sociais (escolas, cooperativas) bem como da interação com centros consumidores.

Para o Dr. Domingos José Nogueira Jaguaribe Filho, o ambiente era “objeto passível de transformação e controle” e junto com a herança (genética), modificaria o tipo (a raça), numa visão evolucionista, determinista, defensora da superioridade da raça branca e simultaneamente progressista, coerente com a formação da intelectualidade brasileira na transição para o século XX.

Livros escritos:

Reflexões sobre a colonização no Brasil (1878);
Questões sociais;
Os herdeiros de Caramuru;
Arte de formar homens de bem;
Carta a Sua majestade o Imperador;
Canalização do rio São Francisco para o Ceará;
O Município e a República;
Propaganda em favor do Município;
O veneno moderno;
O Império dos Incas;
Atlântide;
Homens e Ideias no Brasil (1889);
Brasil-Estado do Ceará - Contribuição para a Canalização do Rio São Francisco ao Rio Jaguaribe (1894);
Inteligência e Moral do Homem (1887);
Psychologie de l'alcoolique (1909).

O Brasil antigo, traduzido para o francês pela Societá dês Antiquités Americanes, mereceu medalha de ouro.

Dedicava-se a pesquisar história junto com seus amigos, Capistrano de Abreu e Benedito Calixto.

Alguns anos após formado, Jaguaribe aparece em 19 de julho de 1877 no jornal “Diário de S. Paulo”, recepcionando o Conde D´Eu, marido da Princesa Isabel, filha do imperador D. Pedro II na estação de Rio Claro, onde morava.

Segundo o jornal, Jaguaribe e seu sogro, o Barão de Porto Feliz, proprietário da Fazenda Cascalho, ofereceram um jantar aos membros da Família Imperial, às 6 da tarde do dia 15 daquele mês.

Em seguida, os ilustres visitantes vieram até a Fazenda do Cascalho, onde, conforme a reportagem, percorreram a propriedade conversando com os colonos. Destaca-se que o Barão de Porto Feliz era um dos que mais se interessavam pelo serviço dos colonos, substituindo a mão-de-obra escrava. Ressaltou-se também que o Barão de Porto Feliz fez companhia ao príncipe na visita às suas propriedades na cidade de Porto Feliz, de onde sua mãe se originava e o que permitiu o seu título.

Quatro anos depois do falecimento do barão, em 1884, o “Correio Paulistano” destacou que imigrantes açorianos, que deveriam trabalhar no Cascalho, “chegados à estação de Cordeiros, recusaram-se a ir à fazenda, fugindo para Limeira”.

Com a repercussão do fato, Jaguaribe diz que receberia colonos em sua fazenda, pagando 1:500$000 a um recrutador. Encontrando-os na estação de Campinas, foram orientados a seguir de trem até a estação de Cordeiro, para depois irem ao Cascalho de carroça. Hospedando-os na casa do administrador, começaram a chover reclamações sobre a promessa que haviam recebido, de que seriam deslocados a uma cidade, e não a uma fazenda.

No fim do dia de trabalho na lavoura, Jaguaribe foi avisado que todos teriam fugido para a estação de Cordeiros, com o objetivo de ir para uma cidade, e que teriam sido enganados. Para “resolver o problema”, Jaguaribe chamou a polícia, mas os colonos foram avisados a tempo e fugiram para Limeira.  Ao final da carta, Jaguaribe previne aos fazendeiros “de boa fé”, para que “avaliem a quanto estão expostos, quando se deixam levar por falaciosas promessas daqueles que trazem da Europa os tratantes e vadios que a própria polícia daria um prêmio a quem exportasse”. Em março de 1884 foi aprovada a lei que permitiu, além do pagamento da passagem ao imigrante que chegasse ao Brasil, a criação de núcleos coloniais, com o objetivo de atrair mais imigrantes, desta vez com a perspectiva de se conseguir um pedaço de terra próprio. 

Certamente influenciado pelos acontecimentos de sua fazenda, na qualidade de deputado provincial, conseguiu que o Governo desapropriasse uma de suas propriedades, especialmente as partes de suas filhas.

Domingos José Nogueira Jaguaribe Filho manifestou suas ideias democráticas no Congresso Agrícola de 1878 e se declarou republicano na assembleia de 6 de junho de 1889 conjuntamente com Cesário Alvim, padre João Manuel e Tavares.

O Dr.  Domingos José Nogueira Jaguaribe Filho foi eleito deputado provincial pelo 8° distrito de São Paulo. Impediu a entrada de escravos, com o imposto de dois contos de reis por cabeça. Libertou os negros de sua fazenda.

Em 1888 foi eleito deputado geral pelo Ceará, na última legislatura imperial, sendo candidato da Confederação Abolicionista.

Joaquim Nabuco agradece ao Dr. Domingos José Nogueira Jaguaribe Filho, por seus discursos pró-abolição da escravidão na Assembleia de São Paulo e fala sobre a falta de recursos financeiros do partido abolicionista. Afirma que se houvesse mais recursos o partido poderia investir mais na propaganda publicando textos, poemas e estudos a favor da abolição. Cita diversas obras importantes para pesquisa histórica.

Dr. Domingos José Nogueira Jaguaribe Filho teve a honra de representar ao mesmo tempo as províncias do Ceará e de São Paulo. Foi médico, lavrador, político e escritor.

Entre 1884 e 1888, como deputado, fomentou e implementou os núcleos coloniais que havia proposto em teoria. Os núcleos coloniais para a fixação de imigrantes, implantados em áreas devolutas ou em disputa, fora do eixo cafeeiro, incentivavam o desenvolvimento autônomo da produção pelos núcleos familiares, modificando a estrutura da economia cafeeira.

Domingos José Nogueira Jaguaribe Filho, que esposara a filha do barão de Porto Feliz, um dos maiores fazendeiros do Oeste Paulista, tornava-se simultaneamente membro e voz dissonante da elite paulista. Após uma primeira bem-sucedida transação imobiliária, a partir de 1886, passou a adquirir terras de regiões despovoadas, fora do eixo cafeeiro, provavelmente por baixo preço. Em 1891, adquiriu gleba de grande extensão na região em que atualmente se situa Campos do Jordão; adquiriu terras de Silvério Rodrigues Jordão Junior, Teófilo Prado de Azambuja, Amaro de Araújo Ribeiro, Joaquim Bernardo de Gouveia, Matheus da Costa Pinto, Joaquim Henrique de Andrada e Silva, Antonio Pereira da Rosa, Antonio da Costa Pinto e de outros proprietários menores, e fixou-se na Vila de São Matheus do Imbiri. Logo se entusiasmou com o povoado, e começou a trabalhar, com afinco, para o seu desenvolvimento.

Eram dois os seus objetivos: constituir um núcleo colonial e uma “estância higiênica e hidromineral, nos padrões suíços” – a designação “Suíça brasileira”, ainda associada a Campos de Jordão, é atribuída ao médico. Uma vasta área foi comprada pelo médico Domingos José Nogueira Jaguaribe, político, escritor e fundador do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo.

Cidadão de largo prestígio, abolicionista, republicano e defensor do municipalismo, o dr. Domingos Jaguaribe empenhou toda a sua influência política para carrear benefícios públicos para a Vila de São Matheus, onde construiu moradia e fez inúmeras doações. Começou a escrever no “Jornal do Brasil” sobre as qualidades terapêuticas do clima jordanense na cura de doenças pulmonares, revelando-se pioneiro no tratamento do alcoolismo através do hipnotismo. 

Criou a legenda Campos do Jordão, a "Suíça Brasileira", escrevendo no Jornal do Brasil, do Rio de Janeiro. 

...Conhecida como a ‘suíça brasileira’ por ter uma arquitetura inspirada nas cidades alpina, o escritor Paulo Dantas que se curou nessa cidade, manteve correspondência com Manuel Bandeira. Em uma das cartas, o poeta modernista escreveu que Campos do Jordão.

“Era a Suíça sem neve, onde os pinheiros da melancolia boxam com luvas de cem onças no ar... Devido as características climáticas e paisagem semelhantes às de várias regiões da Europa, Campos do Jordão passou a receber construções com arquitetura típica dos Alpes Suíços, não tendo recebido a esmo o apelido de "Suíça Brasileira".

No mesmo ano, com outros deputados, propôs à imprensa e ao presidente da província de São Paulo a criação da Comissão Cartográfica e Geográfica para demarcar o território paulista, especialmente as terras devolutas, objeto dos interesses de concessão para a exploração das companhias de colonização.

A comissão foi instituída, e Domingos José Nogueira Jaguaribe Filho, hospedou o coordenador da equipe, Orville Derby, e o engenheiro Teodoro Sampaio em sua residência paulista.

Em 1891 foi eleito deputado para o Congresso Constituinte do Estado de São Paulo. Renunciou, porém seu mandato em outubro do mesmo ano, desgostoso por ver o seu projeto que criava a escola agrícola e de veterinária, de manifesta utilidade pública, rejeitado pela Câmara. Retirou-se da política em 1892.

Fundador e Vice-Presidente do Veloce Clube de São Paulo, entidade destinada a incrementar o ciclismo[1].

Dedicado aos problemas do campo, promoveu os Comícios Rurais, fundou e dirigiu a Sociedade Pastoril[2] e promoveu o 1° Congresso Agrícola de São Paulo. Comendador da Rosa.

Membro benemérito do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e da Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional, ajudou a fundar o Instituto Histórico de São Paulo e o Gabinete de Leitura de Rio Claro.

Professor Correspondente da Escola de Psicologia de Paris, Diretor do Instituto Psico-Fisiológico de São Paulo, Membro da Society for Physical Research de Londres.

Político influente e homem abastado, o dr. Domingos José Nogueira Jaguaribe Filho, granjeou importantes amizades, entre as quais a do dr. João Marcondes Romeiro, Juiz de Direito de São Bento do Sapucaí com as quais procurava obter benefícios para a Vila de São Matheus do Imbiri.

O Domingos José Nogueira Jaguaribe Filho participou o movimento de colonização e como seu pai, lutou contra a escravatura. Considerava que a melhor forma de combater a escravatura seria trazer mão-de-obra externa, a fim de, pela imigração, substituir a mão-de-obra escrava.

Em função desse entendimento, instalou a Companhia Brasileira de Colonização, adquirindo grandes áreas para a colonização. Uma delas, adquiriu na Fazenda natal, em Campos do Jordão. Envolveu-se também profundamente com o municipalismo, do qual foi defensor; e, alimentado essas ideias, enfrentou muitos inimigos.

De todas as suas propriedades a que mais floresceu foi a de Campos do Jordão.

Entre 1886 e 1898, as terras de Jaguaribe Filho ultrapassavam 295 mil hectares. Afastado da arena parlamentar, buscou implementar núcleos coloniais agropecuários intensivos em suas propriedades, idealizados para a produção agroindustrial.

O empreendimento privado antevia o apoio estatal na forma de concessão de terras e de favores, incluindo a construção de edifícios institucionais, e oferecia como contrapartida investimentos sociais na área da educação.

Nesse período, o médico incentivou e participou da fundação do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo (1894). Além da participação nos espaços acadêmicos médicos e geográficos, Jaguaribe Filho participava do campo das ciências agrárias.

Com a crise cafeeira, passou a defender publicamente a autonomia local, reforçando a ideia da expansão dos núcleos coloniais para áreas não ligadas à economia cafeeira. Uma proposição de especial investimento e interesse era a mudança da capital para Campos de Jordão, medida divulgada em impressos de seu jornal “O Município” e apoiada pelo IHGB.
Enfrentou graves problemas políticos, tendo o seu jornal “O Município” fechado, levando-o a abandonar a política para dedicar-se à medicina.

O Domingos José Nogueira Jaguaribe Filho subia a serra, pelo Itapeva, em lombo de burro, e as crianças, seus filhos, vinham no interior de balaios sobre as bestas. Entusiasmou-se com Campos do Jordão, defendendo suas qualidades climáticas, através de vários artigos na imprensa. Era pouco considerado nas suas campanhas.

Um incêndio de sua casa desgostou-o muito, fazendo-o abandonar a vila à que dera denominação.
A mudança do nome da Vila de São Matheus do Imbiri para Vila Jaguaribe se deu não somente graças ao seu largo prestígio, mas também, aos esforços desenvolvidos pelo dr. Domingos Jaguaribe no sentido de promover o desenvolvimento do povoado.

Com inúmeras doações, Domingos José Nogueira Jaguaribe Filho obteve algum fluxo migratório para Campos do Jordão.

Antes de 1900, trouxe a Campos do Jordão, um sueco nascido em Estocolmo, chamado Carl Wilhelm Ekman (Carlos Ekman) que construiu na atual rua Bazin, alguns chalés, entre 1896 a 1898. Casou-se com Flora Jaguaribe e tiveram os filhos Olga Jaguaribe Ekman; Silvio Jaguaribe Ekman e Olavo Jaguaribe Ekman.

Os netos de Carlos Ekman e de Flora, Olavo e Silvio, assumiram o comando da companhia.
Dr. Domingos José Nogueira Jaguaribe Filho, construiu um hotel, mais tarde chamado Hotel Mello, que pertencia a Sebastião da Silva Mello e Joaquim da Silveira Mello.

Jaguaribe deixou sua marca também em outros locais. Em Osasco, havia a “Chácara Jaguaribe”, de propriedade de seu neto, Olavo Jaguaribe Ekman, que se transformou em diversos bairros.

 Em 1915, o dr. Domingos José Nogueira Jaguaribe Filho, com seu largo prestígio, conseguiu a criação do Distrito e cartório de Paz, cujo primeiro titular foi Joaquim da Silveira Mello, e mais ainda, na antiga Vila Velha, implantou um posto de correio, que até então era transportado de Pindamonhangaba até Vila Velha em lombo de burro, obtendo a elevação do povoado à categoria de Vila. Obteve ainda a criação de uma subdelegacia de polícia e de uma escola.

Ao final de 1915, os moradores do povoado, que alguns chamavam de Capela ou Retiro de São Matheus, apelaram ao Presidente do Estado para dar-se a denominação de Vila Jaguaribe ao lugar.

O passado sanatorial da cidade é culturalmente valorizado, materialmente presente (a cidade ainda possui o maior número de leitos de tisiologia do Estado de São Paulo, em seus antigos sanatórios) e simbolicamente ressignificado: o capital ambiental sustenta, no plano simbólico, a “Suíça brasileira”. O Dr. Domingos José Nogueira Jaguaribe Filho tem o seu nome ligado à fundação da cidade de Campos do Jordão.

Documentos oficiais e de divulgação da cidade reconhecem-no como um de seus fundadores.

Na área médica, estudava e implantava novas e polêmicas proposições. Tendo conhecido na Europa o trabalho de Jean Martin Charcot e discípulos, passou a praticar o hipnotismo.

Suas experiências de cura do alcoolismo pela hipnose foram apresentadas em revistas e congressos internacionais. Participou da fundação da Liga Antialcoólica em1904, e fundou e dirigiu, em São Paulo, o Instituto Psicofisiológico em1905.

O instituto lidava com a saúde em perspectiva holística e incorporava as ideias delineadas no último trecho de sua dissertação: de acordo com a Revista Médica de São Paulo, era o primeiro “estabelecimento completo” a empregar “agentes naturais” na arte de curar. Oferecia ginástica, massagem e hidroterapia e potencializava o uso dos elementos naturais água, luz e ar pela tecnologia moderna. No campo acadêmico, o Dr. Domingos José Nogueira Jaguaribe Filho mantinha sua ligação com a geografia, participando das primeiras edições do Congresso Nacional de Geografia Social como expositor em1909 e presidente em1915. Em espaços políticos e de prática, Dr. Domingos José Nogueira Jaguaribe Filho construiu e transitou por uma ampla rede de articulação social.

Esse trânsito, somado à sua capacidade de produção teórica e visão empreendedora liberal influenciou a formação da cidade de Campos do Jordão. Investidores e proprietários de terra nascidos na “aristocracia nativa”, eram liderados   Dr. Domingos José Nogueira Jaguaribe Filho e por Francisco de Paula Vicente Azevedo, o barão de Bocaina.

 O barão de Bocaina, era político e empreendedor, responsável pela implantação de linhas de bonde em Lorena e proprietário de uma Fazenda Modelo na serra da Mantiqueira, colônia agrícola de trabalho livre.

Atuava ainda na área financeira e empresarial da cidade de São Paulo. Participavam também do grupo o irmão do barão, José Vicente de Azevedo, João Marcondes Romeiro, juiz de direito de São Bento do Sapucaí, o médico Bráulio Gomes e o francês Jules Martin.[3]

Os empreendedores buscavam num método incomum no país, uma análise de campo que pudesse maximizar o proveito das características ambientais e climáticas da serra da Mantiqueira.

Pela produção bibliográfica e relacionamentos profissionais e sociais, é coerente supor que Dr Domingos José Nogueira Jaguaribe Filho fosse responsável pela concepção da ideia e pela iniciativa do convite a seu colega Teodoro Sampaio.

A expedição partiu de Lorena e em oito dias percorreu 150km.

A primeira referência às qualidades terapêuticas do local segue a análise geomorfológica e se relaciona às águas, cuja tonalização sugere a presença de peróxido de ferro, virtuosa para “males de estômago”.

O engenheiro sugeria que uma adequada captação melhoraria o aproveitamento da água e “muito hão de concorrer para celebrizar essa localidade, atraindo para esses sítios as vistas dos que viajam por motivo de saúde”.

Clima e vegetação conferiam ao viajante a sensação de não estar “na terra clássica da luxuriante vegetação dos trópicos...”. Teodoro Sampaio identificou a localização ideal para uma estação de verão, estabeleceu comparações, analisou a potencialidade agrícola local e observou que o clima e as águas conferiam ao local “uma atmosfera e uma vista alpinas, suíças, propícias à instalação de estabelecimentos de saúde”.

No campo econômico, Teodoro Sampaio defendia a proposta dos núcleos coloniais do Dr. Domingos José Nogueira Jaguaribe Filho, tendo como horizonte, “a pequena propriedade, a agricultura familiar e a diversidade de culturas para abastecer o mercado interno, em vez da exportação”, numa produção semelhante à europeia.

Ainda em sintonia com seus contratantes, criticava a Comissão Exploradora do Planalto Central do Brasil.

Com base em argumentos que consideraram a geografia e o clima, qualificou a região dos Campos do Jordão como local superior ao planalto central para a localização da capital do país.  

À época, Teodoro Sampaio, jornalista e engenheiro, trabalhava com destaque na Secretaria de Agricultura, Comércio e Saúde Pública e na Secretaria do Interior.

As vias de comunicação para a circulação de bens, matéria-prima e pessoas receberam especial atenção. Teodoro Sampaio desenhou o plano de uma cidade e defendeu a implantação de uma Estrada de Ferro, por terras do Dr. Domingos José Nogueira Jaguaribe Filho.

Para o engenheiro, os “dispêndios por motivo de saúde pública” justificavam os gastos do Estado, pois nos “campos elevados da Mantiqueira” se encontravam e multiplicavam “condições para uma grande cidade”, pontos reforçados em relatório subsequente.

Essa oportunidade econômica e social, era reforçada pelo ideário da importância da saúde pública e da higiene pessoal como o modus vivendi urbano a que a sociedade brasileira aspirava no início da década de 1920.

Em Campos do Jordão, variados interesses do Dr. Domingos José Nogueira Jaguaribe Filho foram inter-relacionados em propostas locais de desenvolvimento urbano e econômico, justificadas por preceitos da geografia médica.

É possível conhecer sua visão a partir da compilação que organizou da própria produção literária e científica, à qual agregou documentos redigidos por outros autores com referência a Campos de Jordão ou a citações de sua autoria.

Em documento de caracterização de suas propriedades, a descrição dos Campos do Jordão foi apresentada por Teodoro Sampaio e acrescida de notas de moradores do povoado e seus ilustres visitantes.

O geógrafo afirmava: “Com razão se pode considerar a região mais saudável do Brasil”, e juntava a seus argumentos as afirmações do clínico Luiz Pereira Barreto: “A meu ver, os Campos do Jordão constituem uma estação sanitária de inestimável preço. ...

É nas moléstias do peito, nos tuberculosos pulmonares, que se mostra soberana a ação dos climas de Campos do Jordão”.

Além desses, Clemente Ferreira, o escritor Emanuel Carneiro e “médicos dos mais distintos confirmam a excelência do ‘clima dos Alpes’. O potencial econômico era amplo: da exploração de madeira à criação de gado e lavoura de frutas europeias.

Na publicação, Teodoro Sampaio discorreu sobre os aspectos geofísicos com linguagem mais técnica, porém, mantendo as apreciações positivas, como quando se refere à “beleza tranquila e solitária [dos campos] sob um céu do mais surpreendente azul”.

Não havia dúvidas: “A necessidade palpitante destas paragens é o caminho de ferro para elas diretamente construído”. As propostas que ligariam a Vila Jaguaribe ao planalto possivelmente não dariam lucro nos “primeiros tempos”, mas seriam recompensadas pelos “grandes benefícios que os Campos proporcionam à humanidade sofredora, ... mui justamente classificados como dispêndios por motivos de saúde pública” – donde nada mais natural, segundo Teodoro Sampaio, do que os poderes públicos a dotarem do necessário auxílio até que subsistisse economicamente com recursos próprios. A primeira forma de divulgação da localidade nos espaços legislativos e na mídia foi como proposição de sede da capital do país. A inviabilidade técnica e política dessa proposta elegeu a proposição sanitária como via mais plausível de desenvolvimento local. O início da discussão sobre a construção de sanatórios na vila, em 1899, foi contemporâneo tanto das análises técnicas dos Campos do Jordão como de publicações de Victor Godinho sobre os sanatórios.

Coincidiu, igualmente, com o início do parcelamento da propriedade do Dr. Domingos José Nogueira Jaguaribe Filho. Em um primeiro momento (1898), o empreendedor doou terras ao Estado, “uma área de magnífico terreno com pinheiros e água corrente medindo 30 hectares para o fim que for julgado mais apropriado” e obteve a garantia do presidente do Estado, Campos Salles, da execução da Estrada de Ferro: “Na Suíça, as localidades que gozam de uma altitude considerável e oferecem golpes de vista favorecidos pela simples situação são todas elas servidas pelas estradas à custa do governo federal, com maioria de razão, em São Paulo devia o governo auxiliar a única localidade que dentro do estado está servindo com um ‘sanatório de inexcedível valor’”.

Em 1910, entre as melhorias instituídas no povoado, o Dr. Domingos José Nogueira Jaguaribe Filho incluiu a medição judicial, os acordos para a instalação de agência de correio e posto policial, a instalação de equipamento para medidas meteorológicas e a cessão de terrenos.

Alguns lotes foram disponibilizados para a Igreja e o Estado, outros foram ofertados gratuitamente a proprietários particulares, com plantas de residências que deveriam ser erguidas no período de dois anos – para tanto, a Vila dispunha da abundância de materiais naturais, de serralheria e apoio técnico fornecido por um arquiteto especializado na construção de casas de madeira, trazido pelo Dr. Domingos José Nogueira Jaguaribe Filho de São Paulo. Feito “o núcleo da povoação”, restava “o desenvolver do melhor modo”.

Um capítulo da compilação sobre os Campos do Jordão foi dedicado aos sanatórios.

O Dr. Domingos José Nogueira Jaguaribe Filho defendia a manutenção de hospitais para pobres nas cidades e que casas de saúde, com especialistas, fossem situadas em lugares remotos, com serviços organizados para atrair “os ricos ... [que] preferem vir aos lugares remotos ... a fim de se tratarem mais convenientemente”.

Investia em melhoramentos urbanos, para os quais solicitava a parceria do poder público e promovia a estância para as classes mais abastadas, tendo como modelo as requintadas estâncias europeias e seus touristes.

Para o Dr. Domingos José Nogueira Jaguaribe Filho, (1915), os fundos necessários à fundação de sanatórios deveriam vir “da caridade, ou das rendas do Estado”.

Defendia a doação, por “parte de cada homem que tem fortuna” para a fundação de “um sanatório para os pobres tuberculosos nos Campos do Jordão, em lugares isolados” – à semelhança do que ele próprio havia feito, doando “uma grande fazenda, com mil alqueires de terra, nos campos da Bocaina” à Liga Nacional contra a Tuberculose, que lhe valeu (e à sua esposa) o título de sócios beneméritos, em 1908.

A instalação da estação meteorológica propiciou detalhada medição, a cargo de J. N. Belfort de Mattos. As características climáticas eram favoravelmente comparadas a Davos, na Suíça: “Clima temperado e muito mais regular, maior número de dias de bom tempo, ventos mais fracos, temperaturas menos extremadas e, sobretudo, céu mais claro, fato este tão propício à cura pela luz”.

A lei de instalação do primeiro sanatório em Campos do Jordão foi aprovada em 1911.

O Serviço Sanitário do Estado então se descentralizava, e Ribas e Godinho retornavam da viagem aos sanatórios europeus.

Nesse mesmo ano, ambos adquiriram 720.000m2 de terras jordanenses com o intuito de fundar uma vila sanitária, “com fins de exploração turística”, tendo constituído uma empresa e firmado contrato com a Câmara de São Bento do Sapucaí.

A conhecida análise de Clemente Ferreira, o relatório de Teodoro Sampaio e as observações meteorológicas foram apresentadas como justificativa para o empreendimento.

O jornal local “Tribuna do Norte”, anunciava com ares de pompa o projeto urbanístico que o acompanharia, na Vila Capivari.

Com incentivos tributários estendidos a empresas para a construção de moradias, ambos teriam o privilégio da exploração dos serviços de luz, força e esgoto pelo prazo de sessenta anos, sendo que o prazo para a construção de cem casas era de dez anos, o mesmo estimado para a inauguração da Estrada de Ferro Campos do Jordão.

O empenho do Dr. Domingos José Nogueira Jaguaribe Filho e dos demais empreendedores de Campos do Jordão, legitimados pelas justificativas técnicas, fizeram com que, em 1912, “após quase 90 anos de abandono ... os drs. Emílio Ribas e Victor Godinho [tomassem] a feliz iniciativa do primeiro dos melhoramentos reclamados pelos Campos do Jordão”: a construção da Estrada de Ferro.

O Estado concedeu a ambos a construção da ferrovia “ligando a cidade de Pindamonhangaba às imediações da Vila Jaguaribe, com um ramal a terminar nos limites do Estado de S. Paulo com o de Minas Gerais.

Passando pelo município e cidade de S. Bento do Sapucaí, com os favores do privilégio de zona e garantia de juros de 6% ao ano até ao máximo de quatro mil contos de réis”.

A despeito do ufanismo da inauguração, as obras da ferrovia foram interrompidas com apenas 45km de extensão, e o Estado a encamparia em 1915, investindo novos recursos em 1923. A linha permaneceu deficitária, e o aglomerado urbano de Capivari, modesto: até 1920, reduzia-se a 24 casas, com três hotéis hospedando doentes e sãos.

A ferrovia promoveu a imagem da cidade estância, idealizada em relação às reais condições urbanas.
Gradativamente, as notícias divulgadas, a vinda de homens distintos (como Campos Salles, hospedado em propriedade do Dr. Domingos José Nogueira Jaguaribe Filho), de doentes e a inauguração do sanatório atraíam para a cidade médicos com experiência em sanatórios no exterior. Em 1922, com a presença do diretor do Serviço Sanitário do Estado, Geraldo de Paula Souza, a Liga Beneficente de Campos do Jordão foi fundada. Um de seus fundadores, José Carlos de Macedo Soares, doou terras a instituições filantrópicas de combate à tuberculose, estruturando a chamada zona sanatorial da cidade.

A liga teve curta existência – criada com o intuito de arrecadar fundos para a construção de um dispensário, em seis anos extinguia suas atividades, doando um prédio inacabado ao governo do estado, que em 1930 inauguraria o dispensário e posto de higiene. A partir desses movimentos, a “Suíça brasileira” concretizou-se, apoiada na ideia da estância.

Em 14 de novembro de 1926, Dr. Domingos José Nogueira Jaguaribe Filho, morreu.

Campos do Jordão foi reconhecida como Estância Climática para o tratamento da tuberculose, identidade que foi reforçada nos anos que se seguiram pelo corpo médico.

Em 1935, a cidade abrigava 40% dos leitos para tuberculose do Estado em oito sanatórios, sendo 32% pagos.

A participação da cidade no total de leitos do país se manteve alta após a ampliação de leitos públicos, impulsionada pela Campanha Nacional Contra a Tuberculose, instituída em 1945, liderada por Rafael Paula Souza.

O sanitarista Paula Souza, foi tísico e tisiologista; tratou-se, clinicou e dirigiu instituições filantrópicas em Campos do Jordão.

A representatividade dos leitos pagos da cidade não se alterou até a década de 1950, demonstrando o papel econômico diferenciado dos sanatórios naquela estância.

No aspecto social, estudos nas áreas de história e sociologia; analisaram o quanto, médicos e doentes, nas primeiras décadas do século XX, modificaram as regras sociais, as circularidades no âmbito do espaço, mesclando medo e preconceito generalizado com expectativas de vida e sociabilidade.


[1] O Primeiro Clube de Ciclismo de São Paulo (Veloce Clube Olímpico Paulista).
[2] Uma associação nacional de agricultores. Domingos Jaguaribe Filho foi o fundador da Sociedade Pastoril e Agrícola.
[3] Artista plástico e empreendedor, conhecido como idealizador, construtor e primeiro concessionário do Viaduto do Chá.


Vila Capivari

Dr. Emílio Marcondes Ribas e a Vila Sanitária de Capivari

Dr. Emílio Cândido Marcondes Ribas, um dos bravos sanitaristas brasileiros do fim do século XIX e início do século XX, juntamente com Oswaldo Cruz, Adolfo Lutz, Vital Brasil, Victor Godinho e Carlos Chagas, lutaram para livrar a cidade e os campos das epidemias e endemias que assolavam o país.

Guiado apenas pela intuição, Emílio Ribas combateu a febre amarela, exterminando com êxito o mosquito transmissor da doença (hoje conhecido por Aedes aegyptii) nas cidades paulistas de São Caetano, Pirassununga, Pilar, Campinas e Jaú, o que lhe valeu a nomeação, em 1898, para diretor do Serviço Sanitário do Estado de São Paulo.

Sofreu forte oposição dos que acreditavam que a doença era transmitida por contágio entre pessoas e para provar que esta tese estava errada, deixou-se picar pelo inseto contaminado, junto com os colegas Adolfo Lutz e Oscar Moreira.

Foi a partir da contaminação de Emílio Marcondes Ribas que Oswaldo Cruz empreendeu a eliminação dos focos de mosquito no Rio de Janeiro.

Dr. Emílio Marcondes Ribas foi fundador do Instituto Soroterápico do Butantã, construído numa fazenda nos arredores de São Paulo, e colaborou para a fundação do Sanatório de Campos do Jordão para tratamento da tuberculose, além de ter idealizado e construído a Estrada de Ferro Campos do Jordão.

Em 1902, Emílio Ribas trabalhou em São Simão (São Paulo), para deter a terceira epidemia de febre amarela. Só saiu da cidade quando conseguiu com uma equipe de médicos e voluntários acabar com a grave epidemia, mandando limpar o rio que corta a cidade, e tomando medidas para melhorar o Saneamento básico na cidade que, ao chegar, descreveu-a de forma pouco lisonjeira: 530 prédios, mal construídos, 90% sem assoalho ou forro, e com péssimo saneamento básico, o que era verdade.

Em sua homenagem o nome do Dr. Emílio Marcondes Ribas batiza o principal Centro de Estudos de pesquisa Infecto-contagiosas e um Hospital a ele ligado o Instituto de Infectologia Emílio Ribas.

Dados Biográficos

Emílio Cândido Marcondes Ribas nasceu aos 11 de abril de 1862, na cidade de Pindamonhangaba (SP).

Pindamonhangaba, que ostenta entre seus títulos os de “Princesa do Norte” e “Cidade Imperial”, pode atribuir-se, também, o de “Berço da Inteligência”.

Historiadores e cronistas, nacionais e estrangeiros, já lhe assinalaram, desde seus primórdios, essa característica que a singulariza, através do tempo. Emílio Ribas foi desses filhos predestinados de Pindamonhangaba, que “alcandoraram o vôo”.

E, como poucos, ele soube honrar a sua terra. Já se disse – e muitas vezes – que ele foi um precursor no campo da medicina sanitária. E de fato o foi.

Se tivéssemos de eleger um título para melhor o qualificar, penso que o mais próprio, seria o de “Bandeirante da Higiene Brasileira”.

As obras de Emílio Ribas devem ser avaliadas em todo o seu imenso valor a projetar-se além, muito além dos quadros da medicina profilática e terapêutica, no vasto campo onde se equacionam os problemas vitais da nacionalidade. Aí, então, entramos no terreno da política, não dessa política mesquinha, que divide os povos e os cidadãos, em nome de falsos ideais e baixos interesses; mas da política que cuida da sobrevivência das nacionalidades e da salvaguarda de bens essenciais à personalidade humana.

Nesse âmbito, a política da saúde, que é, por assim dizer, a mais nobre das atividades do homem, pois seu objetivo é manter a vida, fonte e razão de nossa existência.

Era filho de Cândido Marcondes Ribas, lavrador, que faleceu em 01 de novembro de 1900, e de Andradina Marcondes Machado Ribas, e seu avô, Cândido Marcondes Ribas, quando criança, viveu na fazenda Tucum, distrito de Socavão, Castro, Paraná.

 Formou-se na Faculdade de Medicina no Rio de Janeiro, em 1987.                                                      

Depois de formado, retornou à sua terra natal onde se casou com Maria Carolina Bulcão Ribas, seguindo, logo depois, para Santa Rita do Passa Quatro, onde iniciou sua atividade clínica. Mudou-se depois para Tatuí.

Seus filhos foram: Dr. Paulo Bulcão Ribas, médico, casado com dona Ilia natividade Ribas; dona Maria José Ribas de Castilhos, casada com o dr. Honório de Castilhos, advogado; senhorita Ruth Bulcão Ribas, dr. José Carlos Ribas, que foi assistente veterinário do Instituto Butantã, e Félix Bulcão Ribas, estudante de Direito; Marieta Ribas. Suas irmãs foram dona Maria Affonsina Ribas Villela e dona Ana Vicentina Ribas de Lima

 Sua Brilhante Carreira Profissional

Formou-se o dr. Emílio Marcondes Ribas em 1887, pela Faculdade do Rio de Janeiro, tendo conquistado com brilhantismo o título acadêmico.

Em seguida, veio exercer a profissão médica no seu Estado natal, clinicou em Tatuí e Santa Rita do Passa Quatro, onde granjeou boa clientela e grande número de amigos dedicados.

Por ocasião da revolta da Armada, prestou serviço às Forças Expedicionárias destacadas no sul do Estado.

Foi em 1895, dentro desse panorama desalentador, que o Dr. Emílio Marcondes Ribas deixou sua clínica, em Santa Rita do Passa Quatro, para o exercício de funções no Serviço Sanitário do Estado. Ia iniciar-se, nos domínios da medicina pública, uma grande tarefa, em benefício não só de São Paulo, mas do Brasil.

Era o homem que a providência destinara para o cumprimento dessa nobre missão.

Foi nomeado inspetor sanitário em 11 de setembro de 1895, iniciando sua carreira como auxiliar de diretor do dr. Diogo Teixeira de Faria, no Desinfetório Central, em 1896.

Depois desempenhou comissões sanitárias em Rio Claro, Araraquara, Pirassununga, Pilar, São Caetano, Jaú e Campinas.

A esta última cidade, como chefe da comissão, prestou serviços muito importantes, por ocasião das epidemias de febre amarela que assolavam, desmerecendo-lhe a fama, serviços que ficaram consignados em minuciosos relatórios apresentados ao governo do Estado.

Esses relatórios puseram o seu nome em evidência, como administrador competente e dedicado à causa pública, pelo que, em 1898, quando o dr. Silva Pinto, deixou o cargo de diretor do Serviço Sanitário para ser eleito senador, o dr. Peixoto Gomide confiou ao dr. Emílio Marcondes Ribas a direção dos serviços de higiene, cargo que exerceu efetivamente, com habilidade rara.

Teve oportunidade de combater várias epidemias, não só na capital, mas também no interior, principalmente de febre amarela, exterminando com êxito o mosquito transmissor da doença, – hoje, conhecido por Aedes aegyptii – nas cidades paulistas de São Caetano, Jaú, Pilar, Rio Claro, Araraquara, Pirassununga e Campinas. Promovido a chefe da comissão sanitária de Campinas em 1896, permaneceu até 15 de abril de 1898, data em que foi nomeado diretor-geral do Serviço Sanitário.

Exerceu o cargo por quase vinte anos consecutivos, tendo-se aposentado em 1917.

O começo de sua administração foi de um trabalho encarniçado e exaustivo. Duas epidemias sucediam-se no Estado, enchendo de terror a população e afugentando a imigração: a febre amarela no verão e a varíola no inverno. Mais tarde, em 1899, veio juntar-se a estas a peste bubônica, que surgia em Santos e atingiu outras cidades do Estado, a capital, Taubaté, Pindamonhangaba, Sorocaba, e embora com pequenos surtos epidêmicos. Comissões sanitárias eram destacadas para os pontos contaminados. O dr. Diretor do Serviço Sanitário era solícito em visitas às comissões do interior, procurando atender, de acordo com os respectivos chefes às necessidades de higiene e preencher as lacunas do serviço. Dr. Emílio Marcondes Ribas já tinha enfrentado a febre amarela na região de Campinas no final do século XIX, contando com o apoio do cientista Adolfo Lutz, então diretor do Instituto Bacteriológico. Publicou, em 1901, o trabalho “O Mosquito Considerado como Agente de Propagação da Febre Amarela”, que encontrou forte oposição de médicos importantes de São Paulo. Em 1902, Emílio Ribas trabalhou em São Simão (SP) para deter a terceira epidemia de febre amarela.

Só saiu da cidade quando conseguiu com uma equipe de médicos e voluntários acabar com a grave epidemia, mandando limpar o rio que corta o município, e tomando medidas para melhorar o saneamento básico na cidade que, ao chegar, descreveu de forma pouco lisonjeira:

“530 prédios, mal construídos; 90% sem assoalho ou forro, e com péssimo saneamento básico” – o que era verdade. Com o desenvolvimento que teve o Instituto Vacinogênico que pôde fornecer profusamente vacina a todas as localidades do Estado e até mesmo aos demais Estados da União, as epidemias de varíola foram dominadas até que a famosa questão da vacina obrigatória no Rio de Janeiro, e como consequência uma vasta epidemia ali e nos Estados vizinhos, abriu de novo as portas de S. Paulo a essa infecção.

A esse tempo também os sertanejos da Bahia vinham pelo interior do país, até às zonas cafeeiras do chamado oeste de S. Paulo, transportando os germens da mesma moléstia. Sitiado por essa forma, o Estado de S. Paulo viu a varíola tomar desenvolvimento já desconhecido dentro das suas fronteiras no ano de 1912. Foram as últimas epidemias de varíola ali registradas. A peste em Santos em 1899, causou o mais profundo abalo no espírito público, que receava ver implantar-se mais uma moléstia pestilencial e exótica, comprometendo os foros sanitários do país e afugentando ainda mais a imigração tão necessária para o desenvolvimento das lavouras do café. O dr. Emílio Marcondes Ribas foi reconhecidamente incansável no combate à infecção pestilenta e conseguiu dominá-la em Santos, S. Paulo, Taubaté, Pindamonhangaba, Guaratinguetá, isto é, por toda parte onde surgira.

O perigo da infecção pessoal nunca o amedrontou, não exercendo também influência no espírito dos seus auxiliares.

Foi para Cuba acompanhar estudos dos médicos Walter Reed e Carlos Finley. Em janeiro e fevereiro de 1903, resolveu fazer uma experiência semelhante à realizada em Cuba. Unindo-se ao médico e amigo Adolfo Lutz e a mais dois voluntários, Oscar Marques Moreira e Domingos Pereira Vaz, deixaram-se picar por mosquitos que estiveram em contato com doentes graves de febre amarela. 

A experiência ocorreu no interior do Hospital de Isolamento de São Paulo, atual Instituto de Infectologia Emílio Ribas, sendo o diretor à época dr. Cândido Espinheira e o médico interno dr. Victor Godinho.

Repetiram a experiência com dois novos voluntários, Januário Fiori e André Ramos, realizando o mesmo procedimento anterior.

Uma nova experiência foi realizada em abril de 1903, dessa vez, com três imigrantes italianos, pagos para permanecerem entre secreções e lençóis usados por doentes com febre amarela. As provas foram acompanhadas por médicos que não endossavam essas teses.

Os resultados provaram: a transmissão da febre amarela era pela picada de mosquitos infectados por pessoas atingidas por essa moléstia, e não por contágio, através do contato com roupas e objetos usados e sujos dos doentes.

À frente do Serviço Sanitário, combateu ainda a peste bubônica em Santos e preparou, com dr. Vital Brasil, o soro antipestoso. Em 1903 essa experiência foi apresentada no 5º Congresso Brasileiro de Medicina e Cirurgia, onde dr. Emílio Ribas defendeu a tese de que os meios de defesa válidos para a eliminação da moléstia deveriam dirigir-se à eliminação dos mosquitos vetores, e não aos meios apregoados pelos “contagionistas”.

Nesse mesmo ano, a febre amarela foi declarada extinta em todo o Estado de São Paulo.

Em 1908, o Governo do Estado de São Paulo deu a missão de dr. Emílio Marcondes Ribas ir aos Estados Unidos e a vários países da Europa, a fim de estudar a profilaxia da tuberculose.

No retorno, em contato com eminentes estudiosos da questão, em especial, dr. Clemente Ferreira e dr. Vitor Godinho, idealizou a "Estradinha", com a finalidade de transportar os tuberculosos para o tratamento no Alto da Mantiqueira.

Propugnou com a força dos bravos, sem amolecer, até ver concluída a Estrada de Ferro de Campos do Jordão.

Emílio Ribas foi homenageado em vida, quando a Câmara Municipal de Pindamonhangaba, em 1903, aprovou uma indicação que se denominou Praça Emílio Ribas, a praça central da cidade.

Quando se aposentou, ofereceram-lhe um prêmio de 200 contos de réis, mas ele acabou recusando.

Sua produção científica, aliada à atuação em campo e à capacidade de administração foram extraordinárias. Pronunciou sua última conferência sobre febre amarela no Centro Acadêmico da Faculdade de Medicina de São Paulo, em 1922. O cientista, dr. Emílio Marcondes Ribas, preocupou-se com outras doenças, em especial a lepra.

Defendeu o isolamento dos leprosos, contanto que não ferisse a dignidade dos doentes, assegurando-lhes conforto e bem-estar. Em um de seus trabalhos, assim escreveu: “Acho indispensável o isolamento; sou de parecer que essa medida só deve ser executada depois de feitas instalações realmente capazes de oferecer conforto, higiene e cuidados médicos!”.

Sua personalidade era a de bom samaritano, trasbordante de sentimento de amor ao próximo, de esperança e de fé naqueles que padecem.

Pensador profundo da transitoriedade terrena, abrigava no seu âmago a certeza de quem conhece a própria estrada, jamais admitindo que a névoa do pessimismo lhe nublasse as perspectivas do futuro.

Olhos voltados para frente, seguia firme, leal, sem, contudo, deixar de contemplar as margens do caminho, ao longo do qual, distribuía, como um missionário, as benesses da sua seara privilegiada.

Dr. Emilio Marcondes Ribas foi o pioneiro na luta contra a febre amarela no Brasil e na América do Sul. Criou o Instituto Butantã, construindo numa fazenda nos arredores de São Paulo, na época em que a peste grassava no Brasil, em 1899.

Idealizou Campos do Jordão, como estância climática para o tratamento da tuberculose, além de ter idealizado e construído a Estrada de Ferro, juntamente com Victor Godinho, em 1911.

Idealizou o Sanatório de Santo Ângelo, o primeiro com características mais humanas de assistência aos hansenianos no Brasil.

Fundação do Instituto Butantã

O soro curativo da peste era dificilmente obtido – o Instituto Pasteur de Paris só o cedia mediante requisição diplomática, tantas eram as solicitações que diariamente recebia. Por esse motivo, o dr. Emílio Marcondes Ribas propôs ao Coronel Fernando Prestes, presidente do Estado, a fundação do Instituto Serumitherápico de Butantã, confiando a sua direção ao eminente sorentista dr. Vital Brasil, que estabeleceu o diagnóstico da peste em Santos, que contraíra a moléstia no hospital daquela cidade que já fazia estudos sobre a soroterapia antiofídica. Ao cabo de pouco tempo o Instituto Butantã estava habilitado a fornecer todos os soros antidiftéricos e antiofídicos, que foram profundamente modificados e aperfeiçoados.

A fundação do Instituto Butantã foi uma das obras mais meritórias da administração do dr. Emílio Marcondes Ribas.

Impressionado pela mortalidade infantil em S. Paulo, o dr. Emílio Marcondes Ribas fundou também a seção de Proteção à Primeira Infância, fazendo examinar as amas de leite mercenárias e prestar auxílio médico gratuito aos lactantes indigentes.

O problema difícil da tuberculose mereceu sempre o seu especial cuidado. Graças aos seus esforços e aos do dr. Victor Godinho, construiu-se a EFCJ, hoje, propriedade do Estado, com o intuito de lá se construírem sanatórios para tuberculosos e uma Vila Sanitária para o robustecimento da saúde dos combalidos ou para descanso dos abastados daquele clima ideal e privilegiado.

A febre tifóide, a disenteria, a meningite cérebro espinhal, o impaludismo, a ankylostomiase e a difteria mereceram sempre a sua solícita atenção como se vê dos seus trabalhos e relatórios.

Combate à Febre Amarela

O problema sanitário em que os seus serviços ao Estado foram mais memoráveis foi sem dúvida, o da febre amarela.

Convencido de que por meio das desinfecções não se conseguia combater a febre amarela, aceitou com entusiasmo a doutrina havanesa da transmissão da febre amarela pelo mosquito “stegomya calopus”. Assim, a doutrina de Finlay foi aceita pelo diretor do Serviço Sanitário do Estado de S. Paulo quando ainda não tinha merecido a aprovação do governo americano. O dr. Emílio Marcondes Ribas, um mês antes da guerra contra o mosquito em Havana, publicava e fazia distribuir largamente as primeiras instruções preventivas da febre amarela, aconselhando francamente a luta contra os mosquitos.

O Estado de S. Paulo procedeu desse modo ao governo americano em Cuba na campanha contra o agente transmissor da febre amarela. Em S. Paulo e Ribeirão Preto, em 1902, as comissões sanitárias agiram de acordo com os princípios formulados pelo diretor do serviço Sanitário. O dr. Emílio Marcondes Ribas decidiu repetir em S. Paulo as experiências dos médicos cubanos e americanos.

S. Paulo oferecia condições excepcionais para essas experiências por que a febre amarela não existia na cidade afastando-se deste modo as suspeitas, que por terem sido as experiências de Havana realizadas na vizinhança de uma cidade secularmente infectada pela febre amarela, os doentes inoculados artificialmente por mosquitos poderiam já estar com a infecção incubada.

Vencendo dificuldades de toda a sorte, inclusive o escrúpulo do Presidente do Estado, dr. Bernardino de Campos, que relutava em consentir que o dr. Emílio Marcondes Ribas, diretor do Serviço Sanitário e seu amigo se expusesse em primeiro lugar, como pretendia, as picadas por mosquitos infectados, conseguiu o ilustre cientista, apoiado pelo dr. Bento Bueno, Secretário do Interior, repetir as experiências de Havana, e fortalecer o seu espírito na convicção de que o combate à febre amarela devia resumir-se na guerra ao mosquito e na proteção dos doentes contra as picadas desses insetos. Essas experiências constaram de duas séries. Na primeira, foram picados o dr. Emílio Marcondes Ribas, o dr. Adolfo Lutz e mais três pessoas, não imunes, por mosquitos criados no Instituto Bacteriológico e infectados sugando sangue de amarelentos em S. Simão, SP, nos dois primeiros dias da moléstia.

Dois doentes tiveram febre, albuminúria e outros sintomas, deixando convencidos os experimentadores de que tinham produzido uma febre amarela, felizmente benigna e terminando pela cura.

A segunda série consistiu em fazer com que pessoas não imunes dormissem durante dez dias em camas forradas por colchões, fronhas, lençóis e cobertores cheios de sangue e produtos de eliminação de amarelentos, peças de camas com que se tinham coberto doentes de febre amarela em Taubaté, e para aqui cautelosamente transportadas.

Os homens que se prestaram às experiências estiveram recolhidos no Hospital do Isolamento em quartos protegidos contra mosquitos e sob a vigilância imediata dos médicos encarregados de acompanharem as experiências: dr. Luiz Pereira Barreto, Adriano de Barros, Silva Rodrigues, além do pessoal do hospital. A segunda parte das experiências foi brilhante. Nenhum dos homens sentiu o mais pequeno incômodo.

Quanto a primeira série de experiências houve dúvida no espírito de muitos clínicos, dúvidas originadas na crença daquela época de ser a febre amarela devida ao bacilo de Sanarelli e repugnar-lhes admitir que os mosquitos transmitissem um bacilo por picada.

Só pela doutrina havanesa combateu as epidemias de Sorocaba (no fim da epidemia), de Taubaté, S. Simão, Ribeirão Preto e Santos vendo com satisfação coroados os seus esforços, cantando afinal vitória, depois de ingentes lutas.

Algum tempo depois eram repetidas as experiências da transmissão da febre amarela pelos mosquitos no Rio de janeiro, sob a direção de Marchoux e Salimbeni.

Honras Recebidas e Declinadas

Eleito Presidente da República, o conselheiro Rodrigues Alves, e nomeado Diretor Geral de Saúde Pública, o imortal brassileiro que se chamou Oswaldo Cruz, o dr. Emílo Marcondes Ribas teve a satisfação de receber desse saudoso cientista a carta que se segue:

“Rio, 21 de abril de 1903. _ Exmo. Amigo dr. Emílio Marcondes Ribas,

De todas as manifestações recebidas por ocasião da minha nomeação, nenhuma me foi tão grata, afirmo-o, quanto ao ofício dirigido pelo ilustrado Diretor do Serviço Sanitário do meu Estado natal. Para mim os termos daquele honroso documento firmado pelo sábio profissional que fez o saneamento de campinas e S. Paulo, tem um valor inestimável e o apoio moral que nele encontro dá-me coragem e entusiasmo para a árdua campanha em que estou empenhado. Peço, pois, que aceite com as mais cordiais saudações os mais vivos agradecimentos e o reconhecimento do colega e amigo muito grato. (a) Gonçalves Cruz – Voluntários da Pátria, 165_A”[1]

Tendo ainda o dr. Emílio Marcondes Ribas, por essa ocasião, a glória de ver aplicada no Rio de Janeiro com extremo rigor toda a doutrina americana e aprovadas e louvadas pelo 5º Congresso Brasileiro de Medicina e Cirurgia as memórias que apresentou, relatando as experiências realizadas no Hospital do Isolamento de S. Paulo, e os resultados práticos da sua aplicação em várias cidades do Estado de S. Paulo. Tendo em conta esses relevantes serviços, o governo do estado ofereceu-lhe em sessão pública e solene, uma medalha de ouro e um diploma com a seguinte inscrição:

“Salus Pública. O Governo do Estado de S. Paulo, tendo em consideração o trabalho humanitário do sr. dr. Emílio Marcondes Ribas, que se sujeitou espontaneamente a experiências realizadas no Hospital de Isolamento desta capital, no intuito de demonstrar a transmissão da febre amarela, pelo stegomya faselata, confere-lhe uma medalha de ouro em testemunho de apreço e reconhecimento. S. Paulo, 12 de outubro de 1903. O Presidente de Estado, Bernardino de campos. O Secretário do Interior, Bento Bueno”.[2]

Além disso um dos deputados de então, ao Congresso do Estado, o dr. Cezário Travassos, pretendeu apresentar um projeto mandando dar ao dr. Emílio Marcondes Ribas, um prêmio de 200:000$000 e o direito à aposentadoria em qualquer época, com todos os vencimentos.

Informado desses desígnios, o dr. Emílio Marcondes Ribas apressou-se em solicitar de seu colega que desistisse de seus nobres intentos, pois que se julgava retribuído com a consciência de ter bem servido ao Estado e com as demonstrações de apreço recebidas do governo.

Outros Trabalhos

Alguns anos depois, achando-se em Paris, em comissão do governo, foi o dr. Emílio Marcondes Ribas convidado pelo governo francês para tomar parte em uma comissão sanitária que deveria combater a febre amarela na Martinica, convite extremamente honroso a que, com pesar, não pode aceder.

Perante a Sociedade de Medicina Tropical de Londres, dr. Emílio Marcondes Ribas, expôs a um auditório o mais seleto o que foi a luta e a vitória contra a febre amarela entre os brasileiros.

Bem se pode avaliar pelo número de “Lancet” de 06 de março de 1909, o grau de interesse e a profunda gratidão com que ele foi ouvido pelos médicos ingleses.

Em 1918, o governo do Estado deu ao dr. Emílio Marcondes Ribas a incumbência de estudar o problema da lepra, com o intuito de resolver essa importantíssima questão.

As medidas lembradas pelo distinto higienista foram conhecidas de todos os membros do Primeiro Congresso Médico Paulista perante os quais o dr. Emílio Marcondes Ribas leu uma conferência interessantíssima sob todos os pontos de vista e que constituiu uma das comunicações mais brilhantes desse certame científico, o que também aconteceu no Primeiro Congresso Sul-Americano de Dermatologia e Sifilografia que se reuniu na cidade do Rio de janeiro em 1918, sendo então as suas conclusões unanimemente aprovadas.

Mais recentemente, tendo surgido dúvidas suscitadas por divergências de opiniões sobre a profilaxia da lepra, o professor Aguiar Pupo, em reunião havida na Sociedade de Medicina e Cirurgia, especialmente convocada para elucidação desse problema sanitário, renovou as conclusões do dr. Emílio Marcondes Ribas que foram mais uma vez, apoiadas.

Tendo, portanto, o problema da lepra aumentado ainda os seus títulos de benemerência, aprovando, mais uma vez, o zelo com que sempre desempenhou as incumbências recebidas, o critério e a prudência com que as encarou, a firmeza inabalável nas suas convicções e a dedicação à causa pública.

No ano de 1918, quando a pandemia de gripe assolou a capital de S. Paulo, dr. Emílio Marcondes Ribas, já com a sua saúde combalida pela arteriosclerose que lhe foi fatal, em um supremo apelo de energias de seu físico em derrocada, conseguiu tratar concomitantemente aos leprosos de Guapira, também gripados, mais de 500 doentes no Hospital do Seminário Episcopal.

Foram cogitações do dr. Emílio Marcondes Ribas, durante o seu período administrativo, a incineração do lixo em S. Paulo e o abastecimento da capital.

Em 1906, criou o Serviço de Profilaxia e Tratamento gratuito do trachoma nos postos anti-trachomatosos.

Reorganizou o Instituto Bacteriológico, Desinfectório Central, Hospital de Isolamento, Laboratório de Análises Clínicas e Laboratório Farmacêutico. Pediu no seu relatório, no ano de 1906, na página 32, a elaboração de uma lei mais rigorosa sobre a fiscalização dos alimentos.

Reorganizando o Serviço Sanitário em 1911, não só criou novos serviços como deu grande ampliação à organização sanitária do Estado.

O dr. Emílio Marcondes Ribas era, desde 1898, o chefe consagrado do Serviço Sanitário de S. Paulo, o Estado líder da federação brasileira: serviço sanitário modelar admirado por todos, profissionais e leigos, que o conheciam de perto ou dele tiveram experimentado a salutar influência.

O dr Victor Godinho, médico interno do Hospital de Isolamento da época, também de S. Paulo, distinguiu-se neste posto desde 1901.

Com a tuberculose e meios de combatê-la têm-se preocupado ininterruptamente, concorrendo com trabalhos originais para o encaminhamento e solução do terrível problema tuberculoso.

O serviço sanitário do Estado de São Paulo foi criador por Cezário Mota, e confiado à competência técnica de Emílio Marcondes Ribas.

Todo o serviço geral de higiene foi confiado a ele, respeitado e considerado profissional, que há mais de 19 anos dirigiu esse serviço, com notável zelo, dedicação e interesse, poderosamente coadjuvado por 30 inspetores sanitários, cumpridores severos dos seus deveres e como ele, interessados na manutenção da saúde pública.

Vila Sanitária de Campos do Jordão

As terras de Vila Capivari remontam à divisão judicial da Fazenda Natal, em 1908, quando a Société Commérciale et Financièré Franco Brésilenne recebeu o seu quinhão, em pagamento. A empresa alienou parte de suas terras, 535 hectares, aos médicos higienistas, drs. Emílio Marcondes Ribas e Victor Godinho, em 18 de abril de 1911, à margem direita do Ribeirão Capivari até o Ribeirão das Perdizes, onde pretendiam implantar ali uma Vila Sanitária; e para esse fim, adquiriram o sítio do Capivari, próximo da Vila Jaguaribe, com 22 alqueires de terra, um terreno de propriedade do sr. W. S. Wilson. 

É este o parecer sobre o requerimento dos drs. Emílio Marcondes Ribas e Victor Godinho, pedindo ao Congresso Federal favores para a construção de um sanatório para tuberculosos e de uma Vila Sanitária nos Campos do Jordão, apresentado pelo deputado sr. Dr. João Penido Filho:

“Construção nos Campos do Jordão, imediações da Vila Jaguaribe, de sanatórios para o tratamento de tuberculosos, e de uma Vila Sanitária na estação climatérica destinada a receber pessoas fracas por natureza ou enfraquecidas por moléstias: Anêmicos, linfáticos, raquíticos, artríticos, neurastênicos, todos aqueles que procurem um bom clima, calma e repouso, como sejam os convalescentes de todas as moléstias agudas”.

Já não era sem tempo que despertasse a iniciativa individual, embora recorrendo aos poderes públicos para ampará-la no propósito benfazejo de criar, em país onde nenhum existe, estabelecimentos apropriados ao tratamento de certas classes de enfermos e de certas categorias de tuberculosos curáveis exclusivamente no regime senatorial.

Ainda bem que a primeira tentativa surge sob fagueiros auspícios, amparada pelos nomes respeitáveis de dois clínicos distintos, com larga messe de louros colhidos em serviços prestados ao país, com posições definidas na hierarquia médica, ambos apresentando dragonas de general, conquistadas no desempenho de delicadas funções oficiais, principalmente no alentado Estado de S. Paulo.

O Dr. Emílio Marcondes Ribas foi, desde 1898, o chefe consagrado do Serviço Sanitário de S. Paulo. o Estado líder da federação brasileira:

Serviço sanitário modelar admirado por todos, profissionais e leigos, que o conhecem de perto e dele têm experimentado a salutar influência.

O Dr. Victor Godinho, médico interno do Hospital de Isolamento também de S. Paulo, vem se distinguindo neste ponto desde 1901.

Com a tuberculose e meios de combatê-la tem-se preocupado ininterruptamente, concorrendo com trabalhos originais para o encaminhamento e solução do terrível problema tuberculoso.

Foi um dos fundadores e um dos diretores da Liga Paulista contra a tuberculose e diretor da excelente revista: “Órgão Oficial da Liga”.

Escreveu magnífica monografia em salientar a competência, a idoneidade científica e moral dos proponentes à instalação do primeiro sanatório em nosso meio, justifica-se pela razão de que esses estabelecimentos conseguem prosperar, preenchem seus fins higiênicos e terapêuticos, se dirigidos, se assistidos efetivamente por profissionais especialistas, clínicos abalizados e higienistas devotados à grande causa da tuberculose.

Nos diversos países onde a previsão higiênica dos médicos, a capacidade monetária do tesouro, os recursos financeiros de associações beneficentes ou das mutualidades facilitaram a criação dos poderosos instrumentos senatoriais no combate à tuberculose, estiveram sempre, na direção suprema desses preciosos institutos, verdadeiros apóstolos consagrados, de corpo e alma, à causa santa, fisioterapeutas de nomeada incontrastável.

De outra forma, fatal o insucesso de tais empresas.

Assim, nos EUA, dirige vários sanatórios modelos, o dr. Koofn, o grande Lama desta cruzada.

Na Alemanha, no célebre estabelecimento de Falhenstein, pontificava o afamado dr. D. Tweiller; na Suíça, o dr. Turban fiscaliza o assaz conhecido sanatório de Davos Platz.

Em França, na Côte d’Azur, o dr. Malibran dirige o sanatório de Górbio, continuando o reputado estabelecimento de Kauteville sob a direção proficiente do dr. Dumarest. Certo, o êxito dessas empresas depende precipuamente da confiança que possam inspirar as pessoas que as organizam e dirigem. No caso brasileiro, submetido ao exame da Comissão de Saúde Pública, esta naturalmente aprecia no seu devido valor a idoneidade dos proponentes.

Na proposta há duas questões a examinar: a questão técnica e a questão financeira, esta em rigor, mais da alçada da Comissão de Finanças.

A vantagem dos sanatórios, seu papel eficiente no tratamento e cura da tuberculose, tem sido discutido, largamente não só na imprensa médica como nos diversos congressos da Tuberculose.

Quaisquer que sejam as divergências quanto ao grau de utilidade ou da necessidade dos dispensários e dos sanatórios em princípio, ambos devem ser reconhecidos úteis ou necessários conforme as instituições, os costumes e os recursos de cada país.

É merecedora de aplausos aqueles ilustres médicos que tiveram a inspiração de escolher para instalação do sanatório e da moderna Vila Sanitária um contraforte da Serra da Mantiqueira, cujo clima rivaliza senão supera os melhores do mundo.

Haverá outra localidade que apresente melhores condições climáticas do que os Campos?

Haverá outra estação cujo clima apresente mais frisantes elementos de uma uniformidade amena e salutar? Onde está o inverno rigoroso de que tanto se fala, sem o menor fundamento?

Os sanatórios de Davos, Samaden e Saint-Moritz, tão preconizados na Europa e reputados como as melhores estações médicas para os pneumáticos, longe estão de apresentar tão acentuado o complexo de caracteres constitutivos de um clima ideal. (Clemente Ferreira).

Uma estação sanitária, para ser perfeita, deve possuir, além das condições climatéricas apropriadas, um certo grupo de condições sanitárias, higiênicas e de recursos terapêuticos.

Sob o ponto de vista de elementos climatológicos, os Campos do Jordão realizam plenamente esse desideratum; as suas condições sanitárias são também as melhores possíveis.

Falta-lhes, pois, apenas certos predicados higiênicos e diversos recursos terapêuticos que só os progressos da arte e o entusiasmo, a dedicação e o estudo dos clínicos lhes darão em futuro talvez próximo.

É fácil de se depreender a monumental soma de incalculáveis benefícios que vai prestar às famílias, à sociedade brasileira e à pátria a fundação de um estabelecimento higioterápico nos Campos.

Façamos um ardente apelo aos tuberculosos e aos tísicos, aos distróficos diversos, aos linfáticos, e aos escrofulosos, etc., pedindo-lhes encarecidamente em nome da ciência moderna e dos progressos da climatologia médica, que sem hesitar em um só momento e o mais precocemente que lhes seja possível, recorram aos Campos do Jordão, que lá encontrarão na maioria das vezes a saúde que lhes escasseia, as forças que lhes falecem, a vida que lhes quase esquiva, zombando das mais valentes armas do arsenal farmacológico. (Clemente Ferreira). A comissão da saúde pública da Câmara dos deputados deu parecer favorável ao requerimento dos drs. Emílio Marcondes Ribas e Victor Godinho, sobre a construção do sanatório para tuberculosos e Vila Sanitária, nos Campos do Jordão, imediações da Vila Jaguaribe.

O projeto teve os aplausos gerais da Câmara[3].

O Deputado Federal Nogueira Pemento, do Ministério do Interior autorizando o governo a contratar com os mesmos drs., Emílio Marcondes Ribas e Victor Godinho, ou quem mais vantagens oferecer, não só a construção de um sanatório ou Vila Sanitária nos Campos do Jordão, como também a construção de uma Estrada de Ferro de Pindamonhangaba àquela localidade.                            Em virtude da autorização do Congresso Legislativo, o governo do Estado concedeu aos drs. Victor e Emílio uma subvenção anual para a construção de sanatórios para tuberculosos em Campos do Jordão[4]. Como início de execução do plano, os srs. Drs. Emílio Marcondes Ribas e Victor Godinho adquiriram nos Campos do Jordão as terras de que precisavam para a fundação da Vila sanitária e dos sanatórios, que ficariam situados em lugar afastado da Vila sanitária, mas na mesma região climatérica. Estas instalações ficariam no sítio denominado “Capivari”, 4 quilômetros além da Vila Jaguaribe, e que é pensamento da Companhia transformar numa “cidade-jardim”. A nova Vila sanitária e os sanatórios seriam iluminados à luz elétrica e aquecidos pela eletricidade, precaução esta necessária devido ao frio que se faz sentir. A Companhia já possui privilégio, não só para a Vila Sanitária como para todo o vale do Capivari, do fornecimento da luz e força, bem como tem a concessão para água e esgotos. A força geradora de luz e energia elétricas era fornecida pela cascata “Abernéssia”, situada a 1 quilômetro da Vila Jaguaribe e de propriedade do adiantado pomicultor, sr. Dr. Robert John Reid, residente ali há muitos anos.

Em 1911, os srs. Drs. Emílio Marcondes Ribas e Victor Godinho obtiveram concessões especiais para a “Vila Sanitária”, que seria localizada em terras adquiridas ao sr. Dr. Robert John Reid, próximas à confluência do Ribeirão das Perdizes com o Capivari. No dia 12 de abril de 1911, partiram para Campos do Jordão a fim de escolher um local definitivo para a construção de uma Vila Sanitária e sanatório de tuberculose.

O sítio do Capivari ficaria nos Campos do Jordão, local apontado por abalizados facultativos como o melhor, no Brasil, para o estabelecimento de sanatórios para tuberculosos. Dando execução ao programa traçado por aqueles clínicos, a Cia Campos do Jordão, fundada em 1920, procedeu aos estudos técnicos para a construção da “Vila Campos do Jordão”, construindo vários “bungallows” e dotando-as de serviço de água e esgotos, etc. Nessa localidade encontravam-se todas as condições favoráveis não só para a construção de sanatórios, como de uma Vila Sanitária com todo o conforto moderno, larga extensão para edificações, excelente e abundante água potável, cachoeira para força e luz, e pitoresca situação topográfica. Era esta a localidade que melhor convinha aos intuitos dos dois facultativos que esperavam realizar breve os melhoramentos higiênicos indicados.

O vale do Capivari na altitude de seiscentos e tantos metros, dava muita graça e beleza no local. A nova Vila Sanitária seria uma estação climatérica semelhante a muitas existentes no Velho Continente. As condições topográficas da região e os intuitos dos ilustres profissionais faziam esperar que a futura Vila Sanitária estaria destinada a uma frequência extraordinária, em certas épocas do ano, com proveito para a saúde pública, por eles tida em grande conta.

É assim que, antes da edificação dos prédios, pretendiam eles dotar o local de melhoramentos higiênicos, como água potável, rede de esgotos e iluminação elétrica.

O deputado Dr. João Penido Filho apresentou o parecer dando concessão aos srs. Emilio Ribas e Victor Godinho para a construção de sanatórios e Vila Sanitária, mediante os seguintes favores: Garantia de juros de 6% ao ano durante 30 anos para o capital de 2.000 contos; isenção de direitos para o material de construção, mobília, rouparia e baixela destinados aos sanatórios, e também para o material de construção das 100 primeiras casas da Vila Sanitária.

O sanatório reverteria à União no fim de 30 anos, independente de indenização pecuniária.

Dr. Emílio Marcondes Ribas e Victor Godinho, visaram a realização de um empreendimento de inestimável utilidade geral, qual seja, o estabelecimento de sanatórios para tuberculosos e de uma Vila Sanitária em ponto o mais adequado para tal fim, empreendimento esse que é, no gênero, o primeiro a realizar-se no país; considerando que, a construção de um ramal férreo que, partindo de um ponto conveniente da projetada linha de Pindamonhangaba aos Campos do Jordão vá ter à sede do município de S. Bento do Sapucai, ligando-se com a rede sul mineira em construção para São José do Paraíso (Paraíso), além de proporcionar fácil transporte aos doentes procedentes do Estado de Minas Gerais, seria uma fonte de desenvolvimento e prosperidade para aquele importante município paulista.

O projeto não foi levado à frente, porém, em 1922, o Embaixador José Carlos de Macedo Soares comprou as referidas terras e fundou a Companhia de Melhoramentos Capivari, responsável pela edificação da aristocrática e bela Vila Capivari.

Foram, dr. Emílio Ribas e Dr. Victor Godinho que, através do empreiteiro português Sebastião de Oliveira Damas, iniciaram a construção da E. F. Campos do Jordão, unindo o Vale do Paraíba a Campos do Jordão.

Para tornar eficaz o programa que tinham traçado, tornando fácil o acesso a essa localidade, envidaram incansáveis esforços, obtendo a concessão para o traçado da Estrada de Ferro, ligando os Campos à Pindamonhangaba.

Assim, a Vila Capivari foi fundada pelos médicos higienistas Emílio Marcondes Ribas e Victor Godinho, que ali projetaram Vila Sanitária em 1911. 

Estrada de Ferro Campos do Jordão

Em 26 de março de 1909, o dr. Emilio Marcondes Ribas pediu demissão do cargo de Diretor do Serviço Sanitário do Estado, a fim de dedicar-se exclusivamente aos sanatórios de tuberculose. Juntamente com o Dr. Victor Godinho, outro Médico Sanitarista, idealizaram e construíram a Estrada de Ferro Campos do Jordão. Esse importante trabalho foi, também, o ponto de partida para a fundação dos Sanatórios de Campos do Jordão, especializados no tratamento da tuberculose. O principal objetivo da construção da ferrovia era facilitar aos seus pacientes e doentes acometidos pela tuberculose, um acesso mais rápido e confortável para Campos do Jordão, por ser uma Vila no alto da Serra da Mantiqueira, com clima de montanha ideal para as pessoas que procuravam e necessitavam de tratamento para a cura do mal do século XX. Considerado o local ideal para as pessoas se tratarem da enfermidade, que até então, somente era possível a pé, lombos de cavalos, burros, mulas e carroças, ou, para os mais abastados economicamente, em liteiras e banguês, desde o Vale do Paraíba até o alto da Serra da Mantiqueira.

Antes da Ferrovia, “o transporte de pessoas a Campos do Jordão era precaríssimo, pois, em 1877, foi criada a “Cia. De Transporte para Campos do Jordão”, que conduzia os passageiros, em troles, de Pindamonhangaba até a raíz da Serra (atualmente Piracuama). Pernoitavam em uma pensão e no dia seguinte, os que tinham saúde subiam a serra a cavalo, e as pessoas enfermas seguiam em liteiras e banguês” (Pedro Paulo Filho).

Dessa maneira, colaboraram também, para a fundação dos Sanatórios de Campos do Jordão, especializados no tratamento da tuberculose.

Somente o clima especial e privilegiado de Campos do Jordão, aliado ao repouso regrado, vigiado e obrigatório e boa alimentação, eram a esperança na tentativa da cura da tuberculose; pois, os medicamentos eficazes somente começaram a ser utilizados com sucesso a partir da década de 1940. Apesar dos primeiros passos para a construção da ferrovia, que ligaria a cidade de Pindamonhangaba a Campos do Jordão terem sido dados em 1908, a empresa teve que aguardar até 1910 pela autorização definitiva para sua construção, o que se deu através da Lei nº 1.221, de 28 de novembro, assinada pelo então Presidente do Estado de São Paulo, Sr. Manuel Joaquim Albuquerque Lins, com concessão dos serviços para 60 anos. Foi constituído um sindicato franco-inglês, sob o patrocínio da Societé Financière et Comeciale Franco–Brasilienne, para explorar a construção da EFCJ, de que são concessionários os drs. Emilio Marcondes Ribas e Victor Godinho[5], para a construção de uma estrada de ferro de bitola de 60 cm., de sistema misto, ligando a Estação de Pindamonhangaba às imediações de Vila Jaguaribe, município de São Bento do Sapucai. Obtida a concessão, contrataram o empreiteiro português Sebastião de Oliveira Damas, especialista na construção de ferrovias.

No dia 27 de abril de 1912, foi cravada a primeira estaca para a construção da ferrovia. Apesar dos grandes obstáculos que se apresentaram na época, dados aos aspectos geológicos e geofísicos, foi iniciada no dia 01 de outubro de 1912.

Dois anos e 45 dias depois, a ferrovia foi concluída, e a sua inauguração se deu em 15 de novembro de 1914, recebendo a denominação de “S. A. Estrada de Ferro Campos do Jordão”.

Neste dia, aproximadamente 300 pessoas se esforçaram para que a pequena locomotiva a vapor, denominada “Catarina”, subisse a serra puxando um vagão.

A Estrada de Ferro Campos do Jordão, foi aberta a partir da Estação Ferroviária de Pindamonhangaba, na E. F. Central do Brasil, pelos médicos sanitaristas, para o transporte de doentes respiratórios para o hospital na então Vila de Campos do Jordão.

Um ano depois, a sociedade concessionária da EFCJ passou a apresentar dificuldades financeiras, em grande parte devido à eclosão da Primeira Guerra Mundial, o que dificultou acesso a linhas de crédito para empréstimos e financiamentos.

Os acionistas da ferrovia, por essa razão, autorizaram a encampação da Estrada de Ferro pelo Governo do Estado de São Paulo, o que foi efetivado em 1916. 

Os primeiros trens eram a vapor, substituídos por trens a gasolina em 1916 e pelos elétricos em 1924. A partir de 1972 passou a ser gerida pela Secretaria de Turismo do Estado. Os trens passaram a ser turísticos, embora praticamente diários.

 A linha original da EFCJ chegava apenas até os sanatórios e neste ano foi prolongada até Vila Abernéssia, que deu o nome à Estação.

Nos anos 1940, a Estação teve o nome alterado para Campos do Jordão, mas o nome Abernéssia permaneceu nomeando a Vila. 

Foi construída no que foi a primitiva área urbana da cidade de Campos do Jordão, em 1919.

Era um prédio simples de madeira, que, nos anos 1920, provavelmente com a eletrificação da ferrovia, em 1924, foi ampliado.

A partir de meados da primeira metade da década de 1920, com o crescimento de Campos do Jordão, a ferrovia foi se consolidando como principal meio de acesso à região, atendendo às necessidades de seus moradores e visitantes, transportando não só passageiros, mas carga geral e também veículos, dada a precariedade das vias de acesso rodoviário que conectavam Pindamonhangaba ao alto da serra.

Realizações do Dr. Emílio Ribas

Realizações do médico Emílio Marcondes Ribas:

- Pioneiro na luta contra a febre amarela no Brasil e na América do Sul;

- Criador do Instituto Butantan, na época em que a peste invadiu o Brasil (1899); - Idealizador de Campos do Jordão como estância climática, juntamente com Victor Godinho, em 1911;

- Estudou a forma atenuada da varíola, levando os seus estudos aos grandes centros científicos, onde foram discutidos e acatados;

- Reorganizou o Serviço Sanitário, remodelando o Desinfectório Central, o Hospital de Isolamento, os Laboratórios de Análises Clínicas e Bromatológicas, o Farmacêutico e a Seção de Engenharia Sanitária.

– Idealizador do Sanatório de Santo Ângelo, o primeiro com características mais humanas de assistência aos hansenianos no Brasil.

Seu Passamento

Dr. Emílio Marcondes Ribas faleceu no dia 19 de dezembro de 1925, às 11 horas, na capital, São Paulo, aos 63 anos.

O antigo Diretor do Serviço Sanitário do Estado foi um dos mais ilustres elementos da classe médica brasileira.

Pelos seus profundos conhecimentos, como pelo seu admirável espírito de sacrifício e de dedicação à ciência, que abraçou, deixou o traço de uma fecunda existência, inteiramente votada ao bem público, em cuja causa não hesitou empenhar, muitas vezes, a própria vida.

O seu sepultamento realizou-se às 10 horas do dia 20, saindo da Rua Cardoso de Almeida, 21, para o cemitério da Consolação, em S. Paulo.

Logo que teve conhecimento do trespasse do dr. Emílio Marcondes Ribas, o sr. Dr. Carlos de Campos, Presidente do Estado, mandou apresentar condolências à sua Exma. família, da qual solicitou permissão para que o Estado realizasse os funerais, que foram feitos às expensas do Governo.

Recebeu muitas homenagens póstumas:

Seu nome foi dado a uma rua na cidade de São Paulo, Poá e Caraguatatuba; ao Hospital de Isolamento, hoje, Hospital Emílio Ribas; a uma Estação da Estrada de Ferro de Campos do Jordão em Vila Capivari; e ao Centro de Saúde de Pindamonhangaba, cujo solo guarda os restos mortais do ilustre conterrâneo. Seu nome é honrado como patrono da cadeira nº 56 da augusta Academia de Medicina de São Paulo e da cadeira nº 109 do Instituto Histórico e Geográfico de Santos. 

Através da lei 4.903 de 19/12/1985, oriunda de um projeto do deputado Geraldo José Rodrigues Alckmin Filho, foi instituída pelo Governo de Franco Montoro, a Semana Estadual da Higiene e Saúde Pública e Ocupacional, a ser comemorada anualmente dia 18 de outubro, dia do médico, que tem como patrono o precursor do sanitarismo no Brasil, Dr. Emílio Marcondes Ribas.


[1] Jornal “Correio Paulistano, 20 de dezembro de 1925

[2] Jornal “Correio Paulistano, de 20 de dezembro de 1925

[3] Jornal “A República”, de 27.08.1911.

[4] Jornal “O Commercio de São Paulo, 06.11.1909.

[5] Jornal “O Commércio de S. Paulo, de 28.05.1912


Vila Abernéssia

Dr. Robert John Reid, o Escocês de Vila Nova

As Highlands da Escócia


Histórica e geograficamente o território escocês é dividido em duas grandes regiões: as Terras Baixas e as Terras Altas.

Nas Terras Baixas, no sudeste escocês, ficam concentradas as grandes cidades, como Edimburgo, Glasgow, Stirling e Dundee, mas por lá não há grandes destaques na paisagem.

Já as Terras Altas, localizadas no Noroeste, são muito pouco povoadas, com a única cidade de destaque sendo Inverness, na margem norte do Lago Ness.

É nas “Terras Altas” da Escócia que aquela visão de montanhas nevadas, cobertas por névoa e separadas umas das outras por lagos de azul profundo se materializa. É lá que se visita a Escócia clássica do Lago Ness, dos castelos icônicos, da típica raça de gado escocês (vaca de franja, como chamamos carinhosamente), e onde são destilados os mais tradicionais whiskies da região.

As “terras altas”, são uma imensidão de bosques e montanhas sobre um planalto do tamanho do Estado de Santa Catarina.

Um recanto pleno de natureza, onde o panorama nativo só é interrompido por castelos, pequenas cidades ou por vales e lagos de contornos dramáticos – sempre estreitos e muito compridos.

Ali persistem os costumes e tradições centenárias, como usar o kilt (a saia masculina) e tocar a gaita de foles. Um dos maiores sucessos do ex-Beatle Paul McCartney, a canção Mull of Kintyre, faz menção a isso, remetendo à vida na península de mesmo nome – um dos pontos mais isolados da Escócia.

Uma pequena curiosidade que liga as Terras Altas”, Highlands ao Brasil: em Campos do Jordão, SP, há uma vila chamada Abernéssia.

Essa palavra é a união de Aberdeen e Inverness, duas das principais cidades do norte escocês – uma homenagem a Robert John Reid, um highlander que adotou o Brasil para morar em 1896 e ajudou a fundar a estância montanhosa paulista.

Aberdeen é uma cidade portuária no nordeste da Escócia, onde os rios Dee e Don encontram o Mar do Norte.

Com uma indústria de petróleo em alto-mar, a cidade abriga uma população internacional e também é conhecida como a "cidade de granito", por conta do grande número de construções antigas de calcário, e por haver muitos edifícios edificados à base dessa matéria-prima.

É uma das cidades com menor nível de desemprego do Reino Unido, graças principalmente à indústria energética, tem duas universidades, uma praia, muitas gaivotas e foi eleita em 2012 a cidade mais feliz do Reino Unido em uma pesquisa, baseada em sucesso econômico e qualidade de vida.

Aberdeen tornou-se em 1996, sob uma lei do parlamento escocês de 1994, uma Área de Conselho, subvisão administrativa similar aos nossos estados brasileiros. 220.000 habitantes.

Aberdeen é a terceira maior da Escócia. Sua economia baseia-se principalmente na indústria de energia, em especial petróleo e gás natural, mas também renováveis, o que deu à cidade o título de Capital Europeia de Energia. Muita gente que vem do Brasil pra cá trabalha para empresas multinacionais da indústria energética ou faz pesquisa para o setor. O porto também é bem movimentado. Aberdeen é conhecida como a "cidade do granito" por haver muitos edifícios construídos à base dessa matéria-prima. É banhada pelo Mar do Norte e fica situada na foz dos rios Dee e Don.

Explorar a histórica identidade naval de Aberdeen e conhecer a cidade velha, com suas ruas de paralelepípedo e graciosas construções de granito, é uma viagem no tempo. Com um porto movimentado e um enorme mercado de peixes, Aberdeen também é excelente para degustar frutos do mar.

Inverness significa "boca do rio Ness" é uma cidade da Escócia, capital das “Terras Altas”. Possui mercado agro-pecuário e indústria têxtil. É centro comercial de lã. A sua catedral data do século XIX.

No local afirma-se ter visto o Monstro do Lago Ness, localizado ao sul da cidade. Diz a lenda que sob a superfície escura do lago vive o famoso Monstro do Lago Ness, carinhosamente conhecido como Nessie.

As primeiras aparições datam do século 6 e há o relato do surgimento do monstro em uma imagem de satélite feita pela Apple Maps, em 2014. Independentemente da veracidade desses fatos, o monstro é sinônimo de lenda e folclore, além de objeto de inúmeras fraudes.

É uma cidade na costa nordeste da Escócia, onde o rio Ness se encontra com o braço de mar Moray. Ela é a maior cidade e capital cultural das Terras Altas.

Inverness, hoje, possui 82 mil habitantes e foi fundada há 1400 anos. É a 5ª cidade no ranking britânico de qualidade de vida. Seu principal atrativo é o Castelo de Inverness, construído em 1847 e hoje sede da polícia local e do Inverness Museum & Art Gallery. É a maior cidade do Norte da Escócia e capital das terras altas, conhecidas como Highlands, local de muitas lendas e tradições.

Robert John Reid nasceu em Kirkill, condado de Inverness, na Escócia, a 22 de dezembro de 1868 na longínqua Aberdeen, um importante porto do Mar do Norte.

O Lago Ness, é um lugar do interior da Escócia onde um suposto monstro aquático intriga turistas, cientistas e curiosos há décadas.

O Prisioneiro de Azkaban, lembra da enorme e assustadora ponte onde uma criatura maligna, o Dementador, detém o trem para Hogwarts em busca de Harry Poter.

Esses lugares, pessoas e fatos nos remetem às Highlands, a mais mística e selvagem região da Escócia.

As Highlands, “terras altas”, em inglês, são uma imensidão de bosques e montanhas sobre um planalto do tamanho do Estado de Santa Catarina.

Um recanto pleno de natureza, onde o panorama nativo só é interrompido por castelos, pequenas cidades ou por vales e lagos de contornos dramáticos – sempre estreitos e muito compridos. Surgiram no fim da era glacial, quando massas gigantescas de gelo retrocederam para o norte, arrastando consigo bilhões de toneladas de terra e rochas e, assim, recortando a paisagem de forma única. Diversas espécies de animais e plantas que se extinguiram no continente europeu continuam vivos ali. Sem contar os aspectos culturais.

Ali persistem os costumes e tradições centenárias, como usar o kilt (a saia masculina) e tocar a gaita de foles. Um dos maiores sucessos do ex-Beatle Paul McCartney, a canção Mull of Kintyre, faz menção a isso, remetendo à vida na península de mesmo nome – um dos pontos mais isolados da Escócia.

Uma pequena curiosidade que liga as Highlands ao Brasil: se você já veio a Campos do Jordão, em São Paulo, deparou-se com um bairro chamado Abernéssia.

Essa palavra é a união de Aberdeen e Inverness, duas das principais cidades do norte escocês – uma homenagem a Robert John Reid, um highlander que adotou o Brasil para morar em 1896 e ajudou a fundar a estância montanhosa paulista.

Inverness, hoje (2018), possui 80 mil habitantes e foi fundada há 1400 anos. 
 
É a 5ª cidade no ranking britânico de qualidade de vida. Seu principal atrativo é o Castelo de Inverness, construído em 1847 e hoje sede da polícia local e do Inverness Museum & Art Gallery.

É a maior cidade do Norte da Escócia e capital das terras altas, conhecidas como Highlands, local de muitas lendas e tradições. Inverness é uma cidade pequena e tranqüila, cortada pelo Rio Ness.

Aberdeen é conhecida como a "cidade do granito" por haver muitos edifícios construídos à base dessa matéria-prima. É banhada pelo Mar do Norte e fica situada na foz dos rios Dee e Don.


Família de Dr. Robert John Reid


Robert John Reid nasceu em Kirkill, condado de Inverness, na Escócia, a 22 de dezembro de 1868 na longínqua Aberdeen, um importante porto do Mar do Norte; hoje, com cerca de 216.000 habitantes.

Filho de James Reid, Upper Balfour, Aberdeenshire, Inchberry, Condado de Aberdeen, Conselho de Aberdeenshire, e de Isabella Thomson Walker, Falconcliff, invernessshire, Escócia.      
   
Casou-se com a viúva de Guilherme Stoffel Mayer, de quem já tinha uma filha, Jandyra. Com dona Emília, teve seis filhos: Flora, Charles, George, Isabella, Shona e Douglas.

A irmandade do Dr. Robert John Reid, se constituía na seguinte sequência:

● Anna Bella Reid, nasceu em 17.12.1864, em Inchberry, Aberdeenshire, Escócia, e morreu em 10.9.1942, em Inverness, Invernessshire, Escócia;
● Elizabeth Helen (Leila) Reid, nasceu em 19.7.1866, em Inchberry, Aber­deenshire, Escócia, e morreu em 13.12.1898;
● Robert John Reid, nasceu em 22.12.1868, Inchberry, Aberdeenshire, Escócia, e morreu em 26.11.1937 em Campos do Jordão, SP, Brasil;
● James Alexander Reid, nasceu em 18.6.1871, em Inchberry, Aberdeenshire, Escócia, e morreu em 17.5.1901;
● William Walker Reid, nasceu em 30.4.1873, Inchberry, Aberdeenshire, Escócia, e morreu em 25.2.1946, Aberdeen, Aberde­enshire, Escócia;
● Maria Margaret (Marie) Reid, nasceu em 18.9.1876, Inchberry, Aber­deenshire, Escócia.
Robert John Reid casou-se com a viúva de Guilherme Stoffel Mayer, de quem já tinha uma filha, Jandyra. Com dona Emília, teve seis filhos: Flora, Charles, George, Isabella, Shona e Douglas.
 

Fundador de Olímpia

Robert John Reid foi um engenheiro próspero, formado pela Universidade de Oxford, Inglaterra. Depois de ter passado cerca de 7 anos na Argentina, veio para o Brasil em 1896, onde trabalhou na locação da Companhia Paulista de Estradas de Ferro.  [1] 

Esteve durante cerca de 6 anos no oeste de São Paulo, fazendo importantíssimas divisões de patrimônios. Adquirindo terras em Barretos SP, constituiu fazenda de café. Desempenhou um importante papel na formação do povoado da cidade de Olímpia, convencendo os condôminos da fazenda Olhos D’água a doar parte de suas terras para constituir o patrimônio do povoado de São João Batista. Traçou a planta da futura vila, projetou e traçou a rua dessa cidade e sugeriu a alteração do nome para Vila Olímpia, em homenagem à filha de seu compadre, Dr. Antonio Olímpio Rodrigues Vieira, promotor cearense residente na região.

A cidade surgiu por volta de 1859, emancipando-se de Barretos em 1920.[2]


Sua Chegada em Campos do Jordão


Tendo vendido a sua fazenda de Barretos, em 1903 veio para Campos do Jordão. Subiu a serra em lombo de burro, pelo antigo caminho de tropas, por onde também subiam as liteiras transportando doentes. 


Chegando, depois de horas de penosa viagem, ficara encantado com a paisagem, a conformação topográfica da região, a vegetação abundante, os pinheirais, as lindas e maravilhosas paisagens, o clima seco e frio, o ar puro e leve. Olhou   tudo e começou a pensar em sua terra natal; a semelhança era tanta, que não pode conter as lágrimas – a sua bela Escócia, que acabava de descobrir na Serra da Mantiqueira.


Ali estava um pedaço de sua terra, com um céu azul, como nunca vira dantes. Empolgado com as belezas de Campos do Jordão, resolveu, naquele momento, que ali deveria ser a sua segunda pátria.

Sua chegada à cidade não foi diferente dos demais aventureiros, bandeirantes, exploradores, pois chegou em lombo de burro, hospedando-se no Hotel Imbiri, na antiga Vila Velha (hoje Vila Jaguaribe).

Era um belo chalé de perto da antiga igreja, também, de madeira, onde hoje se ergue a Igreja N.S da Saúde. Havia, também, junto ao templo, um armazém que pertencia ao alemão Guilherme Stoffel Mayer.

Demarcação das Terras de Vila Natal

Em Campos do Jordão, em 01 de dezembro de1896, deu-se entrada em uma Ação Judicial de Divisão e Demarcação de aproximadamente 800 alqueires das terras da Vila Natal, na Serra da Mantiqueira, até então com terreno “pró-indiviso”, que era constituída pela grande maioria das terras que formavam o Município dos Campos do Jordão.

O primeiro agrimensor nomeado foi morto, em 28 de dezembro de 1899, por um dos condôminos; o segundo, por doença, desistiu da empreitada; e o terceiro, não demonstrou interesse. Diante disto, a Ação encontrava-se paralisada. Um dos proprietários condôminos era a “Casa Natham e Companhia”, de São Paulo, SP, que em 17 de janeiro de 1907, decidiu dar prosseguimento à Ação.

Em 2 de maio de 1907, a “Societé Financiere Franco-Brasillienne”, de Paris, França, informou em juízo que, em 26 de fevereiro de 1907, adquiriu as terras da firma Casa Natham e Companhia, e que passaria a ser a promovente da presente Ação, e que a grande maioria dos condôminos havia assinado o Contrato em 01 de maio de 1907, nomeando o Dr. Robert John Reid para os serviços de medição e divisão das terras da Fazenda Natal, que mais tarde foi transformada na Estância de Campos do Jordão, em processo que transitava em São Bento do Sapucaí, do qual Campos do Jordão era distrito.  Foi contratado para elaborar serviços de topografia visando a demarcação e a divisão judicial da imensa Fazenda Natal, nas terras da Mantiqueira que, na realidade, era constituída pela grande maioria das terras que formavam o Município dos Campos do Jordão. 

Concluídos os serviços, em 14 de novembro de 1907, o Dr. Robert John Reid apresentava ao Juiz de São Bento de Sapucaí, o “Memorial Descritivo de Medição do perímetro da Fazenda Natal”.

Em 31 de agosto de 1908, foi lavrado o Termo de Encerramento da audiência e conclusão da divisão da referida Fazenda, que foi retalhada em 107 quinhões, e a cada um de seus proprietários, atribuiu-se o respectivo título de domínio, em terra demarcada e certa.

Em 28 de outubro de 1908, o Juiz de Direito de São Bento de Sapucaí proferia a sentença, encerrando a querela, em primeiro grau. No Processo, contendo 12 volumes, houve diversos recursos de condôminos, fazendo com que a Sentença final da Divisão Judicial só fosse confirmada pela Suprema Corte do país, em 12 de junho de 1913. Por proposta dos proprietários da firma Societé Financiere Franco-Brasi­llienne, que estava por extinguir, o Dr. Robert John Reid recebeu em pagamento, por procuração em “causa própria”, de 08 de março de 1913, lavrada no 7º Tabelião de São Paulo, livro 15, fls. 103, em que dita empresa foi representada por William Smith Wilson, grande parte das terras, excetuando as da Vila de Jaguaribe, compreendendo todo o Vale de Campos do Jordão até a divisa com Minas Gerais, numa extensão média de 6 a 18 quilômetros de largura. Por isso é que, amiúde, encontram-se escrituras lavradas pela Societè Finnancière nos cartórios jordanenses, figurando como procurador o próprio Dr. Robert John Reid. Para se ter uma ideia do valor das terras, Dr. Reid não conseguia vender a uma pataca o alqueire. Foi assim que tornou-se proprietário em Campos do Jordão.[3]

Dono de Terras em Campos do Jordão


Robert John Reid acabou adquirindo uma quantidade enorme de terras em Campos do Jordão e doou inúmeras áreas situadas na sua Vila Abernéssia ao Poder Público da Cidade, a particulares e entidades.

 

Primeiramente, residiu na Vila Nova como era conhecida, numa antiga casa que já havia sido Casa de Saúde, de propriedade de Plínio de Godoy e João Marcondes Romeiro, e antiga moradia de Ignácio Caetano Vieira de Carvalho, nas proximidades da atual Escola “Dr. Tancredo de Almeida Neves”.

 Com suas economias, comprou a Casa de Saúde Santa Isabel, que pertencera a Ignácio Caetano Vieira de Carvalho no passado, e depois a William Fowles.

A casa fora construída por escravos e era de taipa, com paredes de 0,50 m. de espessura, e montou uma olaria.

A Chácara “Abernéssia”


A “Chácara Abernéssia”, que alguns chamavam de Fazenda, constituía uma das grande propriedades, que formavam a Fazenda Natal, como a Fazenda do Banco do Estado no bairro de Santa Cruz, a Fazenda do Salto onde se iniciou o primeiro manancial e represa do mesmo nome, a Fazenda Correntinos atualmente Descansópolis, a Fazenda da Guarda, onde se acha o Parque Estadual de Campos do Jordão, a Fazenda do Retiro, a Fazenda do Baú, a Fazenda da Campista e a Fazenda Capivari, entre outras.

Residiu durante muitos anos na chácara situada na atual Vila Britânia, em seu famoso sobrado que tinha o nome de Vila Abernéssia, que lhe serviu de residência por longo tempo e onde criava gado e cultivava árvores frutíferas.

Anos mais tarde esse sobrado foi vendido pela família do Dr. Robert John Reid, no ano de 1944, para o Conde Eduardo Matarazzo e Dona Bianca. Posteriormente, ali se instalou o “Conventinho dos Padres Franciscanos”, demolido por volta de 1970. 
 
O primeiro núcleo de desenvolvimento de Vila Abernéssia chegou com os trilhos da Estrada de Ferro de Campos do Jordão, à beiras dos quais ela nasceu e se desenvolveu, recebendo o nome de Vila Nova, o que bem demonstrava o seu estado embrionário.
 
Quando doou um terreno para a construção da EFCJ, Robert Jonh Reid sugeriu que fosse denominada Abernéssia. Retirou a primeira sílaba do nome da primeira ABER e a esta anexou a última sílaba do nome da segunda, NESS o que resultou em ABERNESS.
 
Antes de concluir seu trabalho, acabou por acrescer o pequeno sufixo IA da Escócia, sua terra natal. Concluindo, denominou a Nova Vila ou Vila Nova, como muitos a chamaram durante vários anos, de Vila Abernéssia (ABER + NESS + IA).
 
Forneceu energia elétrica e água para os moradores de Vila Nova. Em reconhecimento à sua ação política, as autoridades deram à Vila Nova a denominação de Vila Abernéssia.

Nasceu a Vila Nova em 12 de novembro de 1919, quando da inauguração do novo edifício da Estação em contraposição à Vila, já existente, que o povo chamava de Vila Velha, atualmente Vila Jaguaribe. 
 
Muitos dos trabalhadores e funcionários da Ferrovia que chegaram à Vila Nova, encantados com a beleza da terra, resolveram ficar e começar a vida.


Vila Abernéssia

Nasceu “Vila Nova” e transformou-se depois em Abernéssia, composição aportuguesada dos nomes “Aberdeen” e “Inverness”, cidade e condado da Escócia, berço natal de Robert John Reid, agrimensor contratado pela Societé Financière et Comerciale Franco – Brésilienne para fazer a demarcação judicial da Fazenda Natal, a fim de localizar com precisão as terras que eram de sua propriedade.

O pagamento que lhe faziam eram em terras e assim, proprietário de razoável patrimônio imobiliário ao fim de certo tempo, fundou a “Vila Nova”, a atual Abernéssia.

Homem de visão, com espírito comunitário, Robert John Reid fez trabalhos de sua especialidade profissional para outros proprietários.

E assim foi integrando na comunidade, passando a ser também proprietário e um dos fatores do desenvolvimento do novo núcleo que passaria a ser o centro comercial e administrativo de Campos do Jordão.

Para isso contribuiu,  em seu nome e, através da Societé Financiére et Comérciale com doações valiosas ao patrimônio do Estado onde se ergueram depois, o Mercado, a Cadeia, o Almoxarifado, instalações de administração municipal, etc.

O antigo prédio do cinema, denominado “Cynema Jandyra” fora construído em terreno doado também pelo sr. Robert John Reid. 

O terreno situado à Rua Ignácio Caetano onde a comunidade fransciscana construiu um grande pavilhão para reuniões de instituições paroquiais fora também doação do bondoso e progressista escocê-abernessiano.

Em seu tempo, João Rodrigues da Silva (João Maquinista), Joaquim Ferreira da Rocha e Júlio Fracalanza e outros, formaram com ele uma equipe de trabalho que impulsionou o desenvolvimento extraordinário de Abernéssia.

Depois de receber o impacto progressista dos trilhos da EFCJ em 1912, tornou-se o ocentro comercial, administrativo e político da cidade, já então caracterizada por três núcleos populacionais distintos,  característica que até hoje conserva, muito embora numerosas outras vilas tenham surgido, outros bairros agregados à tais centros de densidade demográfica mais acentuada e cada um com um como um “modus próprio”.

Entre os seus feitos,  há a construção da reprêsa da Cia. De Eletricidade, da qual foi um dos cofundadores.


As Doações de Robert John Reid

Grande benemérito da estância de Campos do Jordão, foram suas iniciativas e realizações, a construção da Igreja, Estação Ferroviária, Mercado e Posto Policial. Doou terras para as construções dos sanatórios Ebenezer e Retiro dos Médicos, fazendo outras doações pequenas a particulares, desprovidos de recursos. A pobreza encontrou, sempre, no coração do Dr. Robert John Reid, um refúgio salvador.


Foi também proprietário da Empresa Elétrica de Campos do Jordão e do fornecimento de águas, de sua construção e manutenção. Loteou toda a Vila de sua fundação, abriu ruas, construiu rodovias e pleiteou, durante anos, a construção da strada de Ferro, em cujos esforços foi coadjuvado pelos Drs. Emílio Ribas,  Dr. Altino Arantes.


E não se pode negar que os trabalhos de conclusão da divisão judicial da Fazenda Natal, que marcaram a extinção do estado de comunhão da Fazenda, permitiram à terra acelerar o processo de seu desenvolvimento.


Para que a cidade progredisse, Robert John Reid doou diversos lotes àqueles que, dentro de seis meses, iniciassem a sua construção.


Doou o terreno para o mercado, onde hoje situa-se o Fórum; para a Igreja, onde atualmente é a Praça da Bandeira; para a cadeia, ao lado do Fórum.


A área de terras situada à Rua Ignácio Caetano, onde se edificaram a Igreja Matriz e Casa Paroquial, também foram objetos de doação.


Doou terreno para a EFCJ, e, em troca exigiu que essa se chamasse Abernéssia, porém,  a política, trocou o seu nome, muito embora, seu filho tenha conseguido da Câmara dos Vereadores e da Prefeitura que voltasse ao primeiro nome em homenagem àquele que tudo fez por Campos do Jordão.

Além das doações já mencionadas, o Dr. Robert John Reid doou um terreno para a construção de um cinema, sob a condição de se lhe dar o nome de sua filha Jandyra, e logo foi erguido o Cynema Jandyra, por Desiré Pasquier, que se situava no retângulo constituído pela Avenida Januário Miráglia, Rua Brigadeiro Jordão e Travessa São Vicente de Paulo, demolido por volta de 1946.


Em documento manuscrito, datado de 20 de setembro de 1920, o Dr. Robert John Reid doou à comissão organizada para a construção da Igreja Santa Isabel de Vila Abernéssia, uma área de 3.500 mts. quadrados, próxima à Estação Ferroviária, com a condição de ser ali construída uma praça com a denominação “Praça da Vitória” (atualmente Praça da Bandeira), em cujo centro seria edificada uma capela ou Igreja sob o patrocínio de Santa Isabel, em memória de sua falecida progenitora, Isabella Walker Reid. A área seria depois transferida ao domínio do Bispado, de Taubaté ou à Prefeitura.


“Dentro da área doada o outorgante reserva para si e seus sucessores, um espaço de 5 mts. em quadro, destinada à construção de um monumento comemorativo da vitória das armas das Nações Aliadas na Guerra Europeia de 1914 a 1918. Os nomes “Praça da Vitória” e “ Igreja Santa Isabel”, serão conservados em perpétuo”.[4]

 

A pequena Igreja, em louvor a Santa Isabel, erguida no centro da Praça da Bandeira, foi demolida nos anos 30, e portanto nenhuma das condições impostas pelo doador, foi cumprida.


A Igreja de Santa Isabel

João Rodrigues da Silva (João Maquinista), era um grande proprietário em Vila Nova. Bom administrador de suas economias, as ia aplicando em aquisição de terrenos, que, à época, valiam 100 réis o metro quadrado, e sobre eles, erguia barracões para alugar, à beira da linha férrea.

Em um deles instalara a sua residência, na atual avenida Januário Miráglia, à altura do número 593, em casa existente até pouco tempo.

João Maquinista cedeu um barracão para a realização de cultos religiosos, mais ou menos no número 909 daquela avenida, e ali nasceu a Capelinha de Santa Isabel, em Vila Nova, que posteriormente foi transferida para a pequena igreja de Santa Isabel, que ficava bem no centro da atual Praça da Bandeira. O terreno para a construção dessa igrejinha foi doado pelo dr. Robert John Reid, em 18 de setembro de 1920.

Realizou-se uma concorrida quermesse, cujo fim foi auxiliar a construção da igreja a ser levantada naquela vila.

Mui grado a indemência do tempo, os festejos correram bastante animados, sendo apreciável as quantias arrecadadas nas diversas barracas pelo vigário da paróquia, que foi um dos organizadores da quermesse.

Com grande pompa realizou-se essa quermesse em benefício da construção da Igreja de Santa Isabel da Vila Nova, a qual concorreram muitas pessoas das diversas zonas deste distrito, de pindamonhangaba e outras localidades.

Tocou durante todos os festejos a banda musical “Coronel Ribeiro da Luz”, de São Bento do Sapucai.

Em amplo campo achavam-se lindamente ornamentadas três barraquinhas, azul, vermelha e outra da Pensão Sans-Soucé, que continham numerosas prendas e guloseimas vendidas e servidas aos assistentes por senhoritas que foram infatigáveis para o bom desempenho de sua incumbência.

Eram elas as senhoritas Jeny Barros, Helena Reiny, Lívia e Haydée Fernandes, Nenê P. Lima e outras da barraquinha Sans-Soucé; Rosenha Olivetti, Anna Moreira, Adélia e Maria Olivetti, Nenen e Mariquinhas Sampaio, Aurora e Adélia Damas, Lourdes Costa e outras das barraquinhas azul e vermelha.

Desempenharam-se muito bem de seus cargos as presidentes e tesoureiras das barracas, sras. Colleta Lubarraw, Antonieta Torres, Emília Perroni e Evangelina Sampaio.

Houve um concurso de beleza feminina, obtendo o primeiro lugar  a senhorita, filha do Dr. Robert John Reid, Jandyra Reid, e o segundo, a senhorita Beatriz Azevedo.

Houve tômbola e uma partida de futebol entre os jogadores locais e os da vizinha cidade de Pindamonhangaba, resultando um empate de 2X2. Atuou como juiz o sr. Giacomo Furlanetta, veranista nesta localidade.

Abastecimento de Água Potável

No Govêrno do Sr. Conselheiro Rodrigues Alves fez-se a EFCJ; o sr. Dr. Altino Arantes acampou-a; o sr. Dr. Washington Luis iniciou a eletrificaçção, e o sr. Dr. Carlos de Campos terminou.

Na clarividência, porém, de seu atilado espírito patriótico, não poderia parar ai a sua operosidade: era preciso completar a sua obra beneméritaa, pois era uma medida de salvação pública.

A Vila Abernéssia, perto de 200 prédios(1924), não poderia continuar sem rede de esgotos e água encanada. Isto constituia, até, um perigo para a saúde pública.

O apelo que toda a população fez ao sr. presidente do Brasil e a todos os membros do governo seria o estabelecimento da Prefeitura Sanitária em Campos do Jordão, - conforme a lei – o dotar a Vila Abernéssia, da qual comercialmente e politicamente dependiiam as demais povoações dos Campos, de rede de esgotos e água encanada, sem o que nunca poderia haver o mais leve indício de higiene.[5]

O abastecimento de água potável, feito por Robert John Reid, à grande parte de população de Vila Abernéssia, quando a ele pertenciam as terras em que foi implantada a vila, tratava-se de água de primeira qualidade, pura e limpa, como atestava o ilustre médico Dr. Almeida Salles, chefe do serviço de análises do Estado de São Paulo, quando captada em seus mananciais. Em 1º de juhlo de 1926, realizou-se mais uma sessão da Câmara Municipal de São Bento do Sapucaí, da qual Campos do Jordão foi distrito. No expediente, foi lido um ofício do sr. Dr. Jonathas Luiz Monteiro da Silva, comunicando haver assumido o cargo de Juiz de Direito desta comarca, para o qual foi recentemente nomeado; requerimento dos srs. Drs. Robert John Reid e dr. Miguel Covello Junior, pedindo concessão para o serviço de abastecimento de água potável e rede de esgotos em Vila Abernéssia, no distrito de Campos do Jordão. Passando-se à ordem do dia, foi pelo vereador Perrone Netto, apresentado um projeto de lei, autorizando o sr. prefeito a conceder provilégio aos srs. Drs. Robert John Reid e Miguel Covello Junior, ou empresa que organizarem, para o serviço de abastecimento de água e rede de esgotos, em Vila Abernéssia, em Campos do Jordão.[6]

O abastecimento de água em Vila Abernéssia iniciou-se em 1934,  por duas redes: uma que vinha do Brejo Grande, em vala aberta, na extensão de dois quilometros, recebendo depois manilha de 6¨, que foi executada e depois explorada pelo engenheiro Robert John Reid. A água era boa, mas chegava às casas ccompletamente poluída. A outra rede, era de João Rodrigues da Silva (João Maquinista, menor que a primeira, e servia as suas propriedades e de seus amigos. Só um milagre evitou uma epidemia de tifo.

O Dr. Robert John Reid servia gratuitamente, a EFCJ, o Mercado, Posto Policial, Grupo Escolar, e em virtude de concessões antigas, as residências do dr. Claro Cezar e do Comendador Antonio Rodrigues Alves.

O Pomicultor Robert John Reid

As terras de Campos do Jordão prestavam-se e ali se davam admiravelmente para a cultura das frutas europeias, e eram plantadas em larga escala.

Com a construção da Estrada de Ferro já bastante adiantada, tinham os pomicultores dos Campos do Jordão, um escoadouro fácil e rápido para os seus magníficos produtos, que podiam ser devidamente apreciados, tanto em S. Paulo como no Rio de Jneiro, 24 horas depois de colhidos nos pomares.

A fruta era apanhada madura no pé e enviada logo ao consumidor, o que levava grande e incontestável vantagem às frutas importadas da Europa, América do Norte e Argentina, onde elas, além de serem colhidas verdes, perdiam muito de seu gosto, fazendo longas travessias em frigoríficos.

As frutas que mais se prestavam a serem plantadas em Campos do Jordão, de modo a poderem concorrer vantajosamente com as suas similares europeias, eram as maçãs, pêras, pêssegos, uvas e ameixas de todas as qualidades.

Na Chácara Abernéssia, de propriedade do Dr. Robert John Reid, pomicultor apaixonado, o número de árvores frutíferas existentes ascendia a cerca de 15 mil, havendo aproximadamente 1.000 árvores de 10 para 11 nos de idade, 1.500 de dois anos, 2.500 de um ano e mais 9.700 plantadas. Este número de árvores compunha-se de 8.000 macieiras de 80 variedades diferentes e 2.000 pereiras de 30 variedades, incluindo-se, no restante, fruteiras de pêssego, cereja, ameixas, figo, marmelo, nectarina, damasco e uva, existindo também grande número de frutas pequenas, como framboezas, morangos, groselhas e uvas de Corinto. Todo o preparo de terreno para as plantações tanto da Chácara Abernéssia como das do sr. Júlio Fracalanza e Comendador Antonio Rodrigues Alves, foi feito na época, pelo sistema moderno de dinamitização, tendo-se empregado neste serviço, mais de 12.000 cartuchos de dinamite Nobel, fornecida pelos srs. M. Almeida e Cia., da capital de São Paulo e Vieira Ferraz, de Pindamonhangaba.

Houve ainda outros pomicultores, cujas plantações eram em menor escala. Se, porém, a pomicultura nos Campos do Jordão, não se desenvolveu com mais força, na medida dos desejos dos que ali tinham empregado os seus capitais, foi devido à morosidade das alfândegas.

Pioneiros da Vila Nova

 Muitos homens ajudaram a fundar a Vila Nova, dentre eles, João Rodrigues da Silva, o João Maquinista, que veio para Campos do Jordão na última década do século XIX. Residiu em Vila Velha, hoje Vila Jaguaribe.

Adquiriu terras em Vila Abernéssia, passou a construir nesses terrenos, constituindo um dos fundadores de Vila Nova, nome que perdurou por muitos anos.

Grande proprietário de casas e terrenos, João Rodrigues da Silva era caridoso, deixando transparecer essa virtude, nos repetidos gestos, que tomava, doando terrenos para a construção de sanatórios e hospitais.
 
João Rodrigues da Silva não trabalhou na EFCJ. O apelido , João Maquinista, foi-lhe dado antes de vir para a Vila Nova, quando ainda na Fazenda do Baú, de seu sogro, lidava com máquinas e monjolos. Era homem dinâmico e de visão comercial. O velho português emprestava dinheiro a juros, suprindo a ausência de estabelecimentos bancários na cidade, e assim fazendo, estimulava o crescimento e a concretização dos negócios. Controvertida a personalidade de João Maquinista, admirado por alguns, odiado por outros.
 
Muitos outros homens ajudaram a fundar a Vila Nova, e Joaquim Ferreira da Rocha[7] chegou à Ferrovia. Foi um dos pioneiros de Campos do Jordão e aqui chegou junto com a Estrada de Ferro Campos do Jordão, no ano de 1914. Construiu a primeira casa em Vila Abernéssia, logo na entrada da Vila (atual Assiso).

Apesar de sua idade avançada, ainda exerceu, com eficiência o cargo de Chefe de Turmas da Prefeitura.

Era casado com Maria Guther Rocha, com quem teve 14 filhos. Por algum tempo, associou a Floriano Rodrigues Pinheiro, constituindo a firma Rocha e Pinheiro, do qual se desligou, mais tarde.
 
Na primeira década do século, Nhozinho São Thiago, adquirindo a casa do Major José Ignácio Camargo Penteado, fixou-se no bairro de Santa Cruz.

O crescimento de Vila Nova foi de tal ordem que a olaria de Robert John Reid, que se situava á altura da atual Casa da Lavoura, depois de fornecer materiais para a construção das casas de Joaquim Ferreira da Rocha, José de Magalhães, Guilherme Lebarrow e Vila Flora, acabou se tornando insuficiente. Outra foi montada, nas proximidades da atual Parada Fracalanza para suprir as necessidades da construção do prédio do Instituto Dom Bosco, dos Padres Salesianos. Essa olaria, fora montada para a construção da residência de Júlio Fracalanza, e, em seguida passou a ser explorada por José de Araújo Negrão.

Membro da Colônia Britânica de São Paulo, conseguiu levar para Campos do Jordão alguns membros da comunidade. Entre eles, os Wilson, que iniciaram uma fazenda de carneiros, tendo como gerentes os Backer, que, posteriormente, formaram a Pensão Inglesa.

Levou também James Mac lean, que iniciou uma fazenda de gado em Vila Capivari, e levou também os Davids e outros.

Foi responsável pelo fornecimento de água para a localidade, de sua construção e manutenção. Loteou a Vila Abernéssia, abriu ruas e construiu estradas e rodovias.
 
Pelos seus esforços, auxiliado pelo Dr. Emílio Ribas, Dr. Altino Arantes, Victor Go­dinho e Sebastião de Oliveira Damas, conseguiram a construção da Estrada de Ferro para Campos do Jordão, ferrovia que alavancou a cidade, tanto como estação de cura de tuberculose, quanto como estância de turismo.


Robert John Reid e a EFCJ


Com o Dr. Emílio Ribas e Sebastião de Oliveira Damas, tudo fez pela construção da EFCJ, e, sendo amigo de políticos, lutou para que a Estrada fosse construída,  e evitou que durante a guerra de 1914, o Govêrno do Estado vendesse os trilhos para a Cia. Paulista de Estradas de Ferro durante a crise financeira que Emílio Ribas e Victor Godinho enfrentaram. Deu terras para a construção do Sanatório Ebenézer; doou a metade das terras para a Sociedade Mackenzie, no Umuarama.
 
Forneceu área para a construção de uma escola, onde era o auditório da Sociedade de Educação e Assistência “Frei Orestes”, hoje, Câmara Municipal.

O Dr. Robert John Reid foi, embora estrangeiro, chefe político. Por muitos anos ele foi o 1º Juiz de Paz, quando Campos do Jordão ainda era Distrito de São Bento de Sapucaí.


Dr. Robert John Reid e a Usina Hidrelétrica


Com o empréstimo de particulares e suas economias, construiu a primeira Usina hidrelétrica de Campos do Jordão. Robert John Reid e Alfredo Jordão Junior tomaram a iniciativa da construção da usina, cujas obras ficaram a cargo do construtor Floriano Rodrigues Pinheiro.
 
Quando, em maio de 1918, Alfredo Jordão Junior se dispôs a iniciar os serviços de construção da usina hidrelétrica de Campos do Jordão, os seus amigos e conhecidos acharam essa resolução produto de assombroso arrojo, dada as condições de vida do lugar e bem assim os grandes tropêços que fatalmente se oporiam à marcha regular das obras.

Realmente, sem se tratando da construção de uma usina no alto da Mantiqueira justamente quando a conflagração europeia trazia para empreendimentos dessa natureza os mais caprichosos obstáculos, muita gente preconizou completa desilusão para Jordão Junior, muito embora fosse conhecida a sua energia e disposição para os mais difíceis trabalhos.
 
Contrariamente ao que todos esperavam, esse moço, disposto a dar fiel cumprimento ao plano que havia organizado, obteve o privilégio da Câmara de São Bento do Sapucahy para a iluminação do Distrito de Campos do Jordão, e resolutamente tratou de adquirir os acessórios materiais para que a construção tivesse início.

Para a organização das turmas de trabalhadores, Jordão Junior viu-se na contingência de reunir pessoal de localidades distantes e essa gente, como sempre, rebelde à boa ordem, muito levou a submeter-se ao modo de trabalho conveniente.
 
Assim, lentamente, operou-se a seleção e após 4 meses de luta Jordão Junior pode, com sarisfação, considerar o seu pessoal habilotado para o invariável prosseguimento das obras.
A par de seu natural espírito de perseverança e administração, o jovem paulista muito se distinguiu pelos seus incontestáveis conhecimentos técnicos, o que se verifica pelo irrepreensível funcionamento da usina “Abernéssia”, cujos planos, produto dos mais complicados estudos de alta engenharia, foram esboçados e executados exclusivamente por ele.
 
Todas as suas previsões se realizaram matematicamente nas experiências de máquinas, quer na parte hidráulica, e, após 12 meses de grandes sacrifícios e forte tensão de trabalho, foi brilhantemente inaugurado o serviço de iluminação pública e particular e fornecimento de força em “Abernéssia”ne Vila Jaguaribe.
 
Essas localidades já famosas pelo seu salubérrimo clima, gozam de mais um imprescindível elemento de vida, tendo-se em vista a comodidade proporcionada pela força elétrica em suas diversas aplicações.
 
E Alfredo Jordão Junior, promotor e executor desse grande melhoramento, seria certamente lembrado pelos moradores de campos do Jordão e bem assim por todas as pessoas que procuram o alto da Mantiqueira, quer por motivo de saúde, quer por viagem de recreio.

Em 15 de agosto de 1919 era inaugurado o serviço de iluminação pública de Vila Nova, sob a responsabilidade de Robert John Reid e Alfredo Jordão Junior, descendente do Brigadeiro Jordão, com a denominação de “Evangelina Faria Jordão”, em homenagem à esposa de Alfredo Jordão Junior.
 
Essa usina, posteriormente, passou a ser conhecida como Usina Velha de Abernéssia ou Usina de Baixo. Em 1921, Robert John Reid criou a Empresa Elétrica de Campos do Jordão que, a partir de 1928, passou a ser denominada Companhia de Eletricidade de Campos do Jordão, e foi a responsável pela construção, por volta de 1930, da Usina do Fojo, nas proximidades da Lagoinha. Essas duas pequenas hidrelétricas abasteceram a cidade com energia elétrica por vários anos.
 
Posteriormente, a distribuição passou para a Companhia Sul Mineira de Eletricidade, Centrais Elétricas de Minas Gerais - CEMIG e Companhia Energética de São Paulo - CESP.


Seu Passamento


Seu maior defeito foi justamente ser político, e gostar, como todo bom escocês, de um bom whisky. Dado a esses vícios, perdeu tudo e morreu na miséria, em 26 de novembro de 1937, com 69 anos de idade, de “peritonite aguda”, quando caiu e quebrou o pescoço, em Campos de Jordão, SP. Perdeu, com a sua morte, a estância climatérica um grande benfeitor.
 
Vitimado por terrível moléstia, perdeu campos do Jordão o seu fundador e grande benemérito. Pelo progresso de Campos do Jordão, foi o Dr. Robert John Reid, um batalhador incansável.
 
Proprietário da quase totalidade das terras de Vila Abernéssia podia ele findar os seus dias com todo o conforto. Entretanto tal não se deu, pois, possuidor de um grande coração, distribuiu, fartamente, essas terras a instituições de caridade, a amigos e a necessitado, vindo a falecer em quase que situação de penúria.

Seu falecimento foi anunciado no “Correio Paulistano”, em 30 de novembro de 1937 (terça-feira) e em 5 de dezembro de 1937 (domingo), onde constou ter deixado a esposa Emília da Silva Reid e os seguintes filhos:

Jandyra (filha de D. Emília com seu ex-esposo Guilherme Stoffei Mayer), casada com Curt Hering; Flora Maria Reid, casada em 1ª núpcias com Egydio Nery Baweli, tendo o filho Robert John Reid Neri; em 2ª núpcias com Alfredo Donald Howell, tendo a filha Mary Jane Reid Howell, casada com Richard Desmond, com os filhos Sean Desmond e Joanna Desmond, em 3ª núpcias com Esteve Felton, sem sucessão; Charles Edward Reid; George Reid, engenheiro, casado em 1ª núpcias com Dalila Gomes e, em 2ª núpcias com Maria Helena Duprat; Srta. Isabela Majorie Reid; Shona Frances Reid, casada com João Gomes Pinheiro, tiveram os filhos Lilibeth Cynthia Reid Pinheiro, casada com Moysés Benarros Israel, que residiram em Manaus, AM; João Eduardo Reid Pinheiro, casado com Nancy Gisela Viete; Lillimay Maisie Pinheiro; e Douglas James Myles Reid. Em 1965, Douglas James Myles Reid, foi Diretor Presidente da RCA Eletrônica Brasileira S. A, casado, em 2ª núpcias, com Ana Maria da Silva, Artemis, SP, ela já estando viúva em 24 de setembro de 2012.         

Com seu falecimento, Campos do Jordão perdeu um “grande benfeitor”. O povo, consternado, acompanhou o seu enterro, e o comércio, prestando sua homenagem, cerrou as suas portas, às 16 horas.
 
A prefeitura, em homenagem ao fundador de Vila Abernéssia, promoveu o sepultamento sem despesas para a família.
 
Às 17 horas saiu o féretro, acompanhado por todos os automóveis de Campos do Jordão.
 
O sr. prefeito, também acompanhou o enterro e pôs ainda à disposição das pessoas que não dispunham de meios de condução, os 3 autocaminhões da prefeitura que ficaram lotados. A população prestou, dessa forma, uma justa homenagem ao grande benfeitor.
 
O Prefeito Municipal Dr. Antônio Gavião Gonzaga, decretou feriado municipal, ordenando que o enterro fosse feito às expensas da Prefeitura, e doando à família do extinto, uma sepultura perpétua no cemitério local. Foi sepultado, com sua mulher e uma neta no cemitério local. O gesto do sr. Prefeito, digno de elogios, mereceu o aplauso de toda a população. Foi homenageado com seu nome em uma rua. 
 
Ao tempo de seu falecimento residia em velho casarão, hoje demolido, situado na confluência das Ruas Ignácio Caetano e Pereira Barreto, onde atualmente, ergue-se a creche da Sociedade de Educação e Assistência “Frei Orestes”.
 
Robert John Reid foi um homem de coração largo, um mão aberta, que deu a própria vida por Campos do Jordão.
 
De homem rico morreu pobre e como morto passou por um constrangimento em seu sepultamento, pois na hora de descer o caixão à sepultura, ele não coube, pois, a cova aberta no cemitério local era menor do que o caixão. Assim foi preciso serrar um pedaço do caixão para que ele descesse os sete palmos da sepultura.
 
Comovido, um amigo afirmou entre lágrimas: “Um homem que doou tantas terras para o povo de Campos do Jordão, na hora de ser sepultado, faltou-lhe um pedacinho de terra!”





[1] A Companhia Paulista de Estradas de Ferro foi uma companhia ferroviária brasileira situada no Estado de São Paulo. Ela ficou conhecida pelo seu alto padrão de qualidade no atendimento ao público.

[2] Posseiros doam parte de suas glebas para a formação do povoado. Primeira doação vem de Joaquim Miguel dos Santos.

[3] Depoimento do Eng. George Reid, filho do Dr. Reid, prestado a Pedro Paulo Filho, em 1978.

[4] Trata-se de uma procuração dada de próprio punho pelo Dr. Roberto John Reid, fundador de Vila Abernéssia, a Floriano Rodrigues Pinheiro.

[5] Jornal “Correio Paulistano”, de 21 de dezembro de 1924

[6] Jornal “Correio Paulistano”, de 12 de julho de 1926

[7] Do Livro ”História de Campos do Jordão”, da autoria de Pedro Paulo Filho – Editora Santuário – 1986, Página 164

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Dados genealógicos citados:

http://www.genealogy.com/ftm/s/h/o/Andrew-D-Shore/WEBSITE-0001/UHP-0488.html

Artigos publicados pelo Dr. Pedro Paulo Filho (N-4.9.1937, Pindamonhangaba, SP, F-15.11.2017, de uma parada cardíaca, em Campos do Jordão, SP), advogado, jurista, poeta, contista, cronista, historiador, memorialista, conferencista, orador e residente em Campos do Jordão, com acesso nos seguintes links:

http://www.pedropaulofilho.com.br/cj_abernessia.php http://www.pedropaulofilho.com.br/cronica_92_jordanense.php, http://www.camposdojordaocultura.com.br/ver-cronicas.asp?Id_cronica=96, como também vasto material de sua autoria, que enviou-me em correspondência de 22.4.2013.

Artigo publicado no Correio Paulistano, de 5.12.1937, em https://albumhistoricocj.blogspot.com.br/p/cosmovisao-rista.html?m=1e http://memoria.bn.br/DocReader/Hotpage HotpageBN. aspx?bib=090972_08&pagfis=19330&pesq=&url=http://memoria.bn.br/docreader#, fazendo a busca pelo nome dele.

Artigo do Sr. Edmundo Ferreira da Rocha, em http://www.camposdojordaocultura.com.br/fotografiassemanais2.asp?Semana=223

Artigo do Sr. Victor Emanuel Vilela Barbuy, em http://www.integralismo.org.br/?cont=781&ox=330#.WpSX1_nwbIV

Links: 

http://www.qualviagem.com.br/

https://vidacigana.com/highlands-terras-altas-escocia/

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