Crônicas

            Espaço Cultural dr. Além

          Em Campos do Jordão, compreendem-se como espaços culturais todos aqueles organizados e mantidos por pessoas, organizações da sociedade civil, empresas culturais, organizações culturais comunitárias, cooperativas com finalidade cultural e instituições culturais, com ou sem fins lucrativos, que sejam dedicados a realizar atividades artísticas e culturais.

            Espaços culturais podem ser: pontos de cultura; escolas de música, de capoeira e de artes e estúdios, companhias e escolas de dança; cineclubes; centros culturais, casas de cultura e centros de tradição regionais; museus comunitários, centros de memória e patrimônio; bibliotecas comunitárias; espaços de povos e comunidades tradicionais; festas populares, inclusive o carnaval e o São João, e outras de caráter regional; teatro de rua e demais expressões artísticas e culturais realizadas em espaços públicos; livrarias, editoras e sebos; empresas de diversão e produção de espetáculos; estúdios de fotografia; produtoras de cinema e audiovisual; ateliês de pintura, moda, design e artesanato; galerias de arte  e de fotografias; feiras de arte e de artesanato; espaços de apresentação musical; espaços de literatura, poesia e literatura de cordel; espaços e centros de cultura alimentar de base comunitária, agroecológica e de culturas originárias, tradicionais e populares.

                   Há outras opções ligadas à cultura alimentar, folclore, hábitos e tradições:

            Conservatório de música/artes, sociedades musicais; cutelaria; fiação artesanal; clube de tiro; sociedade de tiro; produção de gaiolas artesanais; espaços de benzedeiras; associações culturais afro-brasileiras e entidades do movimento negro; clubes sociais negros; sociedades e agremiações carnavalescas; atelier de artesanato; produção de artesanato em madeira; associação de educação em cultura popular; feiras comunitárias/culturais; associação cultural; centro de cultura e arte popular; espaços de trovadores, contadores de história; produção de culinária tradicional; grupos de dança e encenações folclóricas; medicina popular; costura tradicional ou fabricação vestuário tradicional; produção de instrumentos musicais/sonoros tradicionais e populares; cantinas de vinhos artesanais.

                                                      

HISTÓRIA DO CINEMA JORDANENSE

            O cinema em Campos do Jordão possui uma trajetória histórica em ressonância com a vida do município. A cidade completou 143 anos em 2017. As histórias de Campos do Jordão e do cinema (que já soma 97 anos desde a sua construção e inauguração) se confundem, tendo o prédio histórico sido construído com o objetivo de oferecer um espaço para os amantes da Sétima Arte. Ali, nas décadas de 1920 a 1980, funcionou o Cine Jandira e Cine Glória, respectivamente, como o “cinema oficial da cidade”. 

            Em 28 de agosto de 1942, iniciaram-se as obras da construção do “Campos do Jordão Cine Ltda.”[1], administradas pela Sociedade Construtora de Campos do Jordão. A empresa, para a construção do prédio do novo cinema, valeu-se de empréstimos do Banco de Itajubá e do Dr. Lincoln Ferreira Faria.[2]

            Trabalhou como empreiteiro de obras no novo cinema, Francisco Bento Filho[3]. O novo cinema de Campos do Jordão foi posteriormente, inaugurado com o nome de “Cine Glória”.

            A História do Cinema Jordanense não foi objeto do interesse de historiadores. Considerada um divertimento, sua história ficava a cargo de pessoas do meio cinematográfico.

            Com a Nova História e seus novos objetos, o cinema, sobretudo os filmes, são apropriados pelos historiadores como fonte. A partir dessa aproximação e por conta de mudanças nos estudos históricos e nos estudos cinematográficos, a partir dos anos 1970/80, estudiosos de cinema buscam métodos históricos de análise, e historiadores voltam-se para a atividade cinematográfica como objeto de interesse.

            O objetivo deste artigo é observar como se plasmou essa história no município, desde sua fundação até aos dias de hoje. Temos, portanto, um saldo significativo de história, de caminhos percorridos e outros mais a percorrer.

            Os artigos aqui reunidos, que compõem o dossiê Cinema-História, expressam com muita riqueza, diversidade e confluência o que são hoje os estudos em torno da História do cinema em Campos do Jordão. A coletânea de textos que o compõe está estruturada a partir da relação temática entre cinema, memória e história.

            A formação de uma sociedade está ligada à história, onde relata com o passar do tempo, períodos que vão se somando e formando a identidade de uma região. Em Campos do Jordão o destino reservou particularidades desde a sua formação, passando pelo ciclo da saúde e chegando à condição de estância turística, conhecida em todo o Brasil e internacionalmente pelas propriedades naturais do clima, da água, da arquitetura e do relevo montanhoso que faz da cidade uma das mais belas do país. A reflexão sobre a História do cinema em Campos do Jordão deve ser tomada como um objeto de interesse em si mesmo, portador de uma história particular que é pensada no âmbito da historiografia, assim como objeto de ampla reflexão da História Social e da História Cultural Local. Esse texto tem por objetivo refletir sobre as transformações que se manifestaram no cinema Jordanense.

História do Cine Jandira:

            Relata Condelac Chaves de Andrade[4] que, quando em 15 de agosto de 1910, foi inaugurado o serviço de iluminação pública, em Vila Abernéssia, João Carlquist[5], mais conhecido por "João Sueco", instalou uma máquina "Pathé Baby"[6] na carpintaria dos irmãos Fonseca, sediada à altura do atual edifício do Fórum, onde, por 30 centavos o ingresso, fazia a delícia dos antigos moradores.

            O empreendimento de João Sueco, levou Desiré Pasquier[7] a construir o Chynema Jandyra, continuando a carpintaria, como posto eleitoral e sede do reinado de Momo, no qual o "Clube Tira Prosa" brilhava em toda a linha.

            Aliás, em 1924, Desiré Pasquier foi obrigada a hipotecar metade do Chynema Jandyra ao dr. José Carlos de Macedo Soares, de quem emprestara soma de dinheiro.

            O Khynematógrafo Jandyra foi construído em terreno doado pelo dr. Robert John Reid, que condicionou a doação à exigência de se dar à casa de espetáculos a denominação de Chynema Jandyra, nome de sua filha mais velha.

            Pronto o cinema, o Dr. Robert John Reid recebeu um camarote exclusivo, que sempre utilizava com seus familiares. A empresa cinematográfica foi explorada por Germano Pattou[8], desde 1928, que se intitulava procurador das viúvas Vieira e Pasquier, fazendo-o até meados da década dos anos de 1930.

            A primeira manifestação teatral jordanense cristalizou-se na constituição do Grêmio Dramático e recreativo "Alunos de Talma[9]". Na residência de Floriano Pinheiro, em 06 de junho de 1937, em Vila Abernéssia, reuniram-se vários cidadãos para fundar a sociedade: Silvino Braga, Octávio Bittencourt, Arlindo Poli, Augusto Barsalini, Arthur Pereira Pinto, José Julião Machado, Avelino Gomes de Oliveira e o professor José Garcia Simões Rocha.

            Logo, Augusto Barsalini sugeriu que a entidade contactasse com o proprietário do Chynema Jandyra para a realização das reuniões, projetando-se 06 espetáculos anuais e um baile mensal.

            Constituiu-se uma diretoria provisória: José Garcia Simões Rocha[10] (presidente); - Octávio Bittencourt[11] (secretário) e Floriano Pinheiro (tesoureiro).

            Foi firmado um contrato de arrendamento com Waldemar J. Deus em 1937, então proprietário do Chynema Jandyra. Nessa época, João Rodrigues Pinheiro assumia o cargo de vice-presidente; Hipólito Turco o de segundo tesoureiro e José Brochado Rocha o de Superintendente.

            O Grêmio recebia novos associados: Jamil Pedro Zaiter[12]; Benedito Vaz Dias[13] e Badih Salim. No último mês de 1937, ao Grêmio era anexada a Associação de Cultura Física, cujo presidente também era Floriano Pinheiro.

            Floriano propôs, com total aprovação, que se concedesse a Próspero Olivetti[14], o diploma de sócio honorário. Para o Departamento Esportivo de cestobol foi indicado Antonio Giffoni, como Diretor, e Jaime Garcia da Luz, como Secretário. Carlos Barreto se prontificou a fazer o emblema do Grêmio, que, em face da anexação, passou a denominar Grêmio Recreativo e Artístico Jordanense, com o subtítulo: "Alunos de Talma Incorporada".

            Ainda em dezembro de 1937, no Chynema Jandyra eram aclamados membros do Conselho Fiscal e sócios fundadores, Francisco Clementino de Oliveira, Antonio Augusto Conceição, Jamil Pedro Zaiter, Nabi Narche, Edgar Jardim Bastos e Pedro João Abitante. Luiz Pires Magalhães passou a pertencer ao Departamento Esportivo e Carlos Barreto ao Departamento Artístico.

            A diretoria do Grêmio passou a receber propostas para a instalação de novos aparelhos de projeção, além de poltronas, ao mesmo tempo em que solicitava a Gastão Mesquita Filho, da Cia. de Eletricidade de Campos do Jordão, uma taxa mensal fixa para o Grêmio.

            Alexandre Rodrigues Pinheiro foi indicado Diretor Musical do Grêmio em 1937. A esse tempo, residiam no prédio do Chynema Jandyra o dentista Gastão Barroso e Carlos Barreto, como locatários. O Grêmio teve outros inquilinos, como "Sanatorinhos" e a Rádio Clube.

            Em janeiro de 1938, Horácio Padovan[15] era nomeado Suplente de Operador para ajudar na montagem técnica dos novos aparelhos do cinema: o Grêmio havia adquirido um aparelho projetor "Pathé", de propriedade de Waldemar J. Deus.

            Abriu-se uma concorrência para a exploração do bar do Chynema Jandyra, tendo concorrido Fadur Banduk, Mariano e Pires e Bernardo Santa Clara, que venceu com a melhor proposta. O primeiro porteiro do cinema foi Emiliano Barsaline. Em janeiro de 1938, ingressavam 30 novos sócios proprietários do Grêmio. Em fevereiro de 1938, Arthur Pereira Pinto foi nomeado gerente de cinema, constituindo-se o quadro de operadores: Benedito Maiolino(chefe), José Berti e Pompilio Pedroza(ajudantes).

            Benedito Afonso Pereira confeccionava os cartazes, enquanto Fernando Guarinon Zen, assessorado por Américo Antonio Nasser, encarregava-se do Departamento de Diversões. Emidio Pereira dos Santos, ajudado por Sebastião Sampaio Camargo, cuidava do Departamento de Esportes.

            Firmado o contrato de arrendamento por 5 anos, a partir de 1º de janeiro de 1938, com o proprietário do Chynema Jandyra, procede-se a inúmeras reformas e benfeitorias. Logo a 02 de janeiro o Grêmio exibia o primeiro filme para a plateia jordanense. Das reformas cuidaram Floriano Rodrigues Pinheiro e Augusto Barsalini.

            A 23 de janeiro de 1936, o Grêmio levava ao palco o drama "Um erro judiciário", com artistas jordanenses. Em 1938, foi encenado "O louco da aldeia".

            O Grêmio, para o início de suas atividades, foi obrigado a contrair empréstimos em dinheiro de Fabiano Pasquarelli e de João Rodrigues da Silva, o "Maquinista".

            Era Benedito Faria quem distribuía em Vila Capivari os programas do Chynema Jandyra, e Arthur Ramozzi, em 1939, assumiu os serviços contábeis. Nesse ano a diretoria da entidade foi reformulada.

            O carnaval de 1939, realizado no Chynema Jandyra, foi realizado com grande sucesso, e em maio, Joaquim Corrêa Cintra era nomeado gerente e o encarregado da bilheteria.

            A partir de 1940, o Grêmio passou a pagar aluguel a Bady Salim, que adquirira o imóvel de Waldemar J. Deus, e em 1941, Américo Richieri assumia a presidência do Grêmio. O último espetáculo teatral foi levado à cena em 25 de dezembro de 1939.

            O Cyne Jandyra foi palco de grandiosos espetáculos cinematográficos, teatrais e dos mais animados bailes carnavalescos nas décadas de 1920 a 1940. Seu salão foi, durante muitos anos, habilmente decorado com motivos carnavalescos, feitos com arte por Joaquim Corrêa Cintra[16] que, algumas vezes, para viabilizar a decoração do Salão, era auxiliado pelo artista plástico, Carlos Barreto[17].

            Normalmente, essa decoração era dedicada a homenagear Pierrot e Colombina. Esse cinema estava situado no mesmo local do prédio onde há alguns anos estiveram sediados o Posto Fiscal do Estado, a coletoria Estadual, a Caixa Econômica Federal e a Agência do I.N.S.S. Ao lado desse prédio, estava sediada a antiga Agência do Banco Mercantil de São Paulo[18].

            Em setembro de 1941 ocorreu um grave incidente: a Chefia de Polícia do Estado e o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) passaram a exigir, para a concessão de alvará de funcionamento, o registro do contrato social do Grêmio na Junta Comercial do Estado. Foi impossível atender-se à exigência, dado que a maioria dos sócios do Grêmio Recreativo e Artístico Jordanense, residiam, à época, em cidades distantes de Campos do Jordão. Américo Richieri propôs, então, que as instalações do Grêmio fossem arrendadas a um sócio proprietário, o que, porém, não foi aprovado.

            Não restou ao presidente outra solução senão a de propor a extinção do Grêmio em Assembleia Geral, realizada em 13 de setembro de 1941.

Era o fim de uma época de recreação, arte e entretenimento, que encantou centenas de jordanenses, desenvolvendo o espírito de comunidade e cooperação. Foram empresários do Chynema Jandyra: Waldemar J. Deus (1931); Nestor B. Brito (1932); Souza carvalho e Cia (1933) e Pedro Paulo e Cia (1935).

História do Cine Glória:

            O Cine Glória surgiu para substituir o antigo Cine Jandira. Extinto o Grêmio Recreativo e Artístico Jordanense, um punhado de cidadãos, em 13 de setembro de 1941, reuniu-se no Chynema Jandyra, para fundar uma sociedade comercial visando a exploração de um cinema e outros divertimentos. Eram os sócios remanescentes do Grêmio, aos quais se juntou Joaquim Corrêa Cintra.

            De fato, em 28 de setembro de 1941 era fundada a Empresa "Campos do Jordão Cine Ltda.", à qual se associaram também outros membros.

            O contrato social foi redigido por Enzo Júlio Trípoli, então Delegado de Polícia. Com o capital de 25 contos de réis, a empresa absorveu o ativo e o passivo do Grêmio extinto.

            A primeira diretoria do Campos do Jordão Cine Ltda, ficou assim constituída: Américo Richieri (presidente); Floriano Rodrigues Pinheiro(vice) Lourival Sabino de Carvalho e Souza (1º secretário); João Rodrigues Pinheiro (2º secretário); Arthur Ramozzi (1º tesoureiro) e Alaor de Souza Ablas (2º tesoureiro).

            Em 08 março de 1942, reuniu-se a sociedade para deliberar sobre a compra de um terreno a fim de edificar um novo cinema. Uma comissão constituída por Lourival Francisco dos Santos, Aristides de Souza Mello, Luiz de Mello Mattos, Paschoal Olivetti e Pedro João Abitante, foi nomeada para a escolha e avaliação de um terreno. Bady Salim propôs à sociedade a venda do prédio do Cinema Jandyra, do qual era proprietário, juntamente com madame Desiré Pasquier. Opôs-se à ideia, Nelson Gonçalves Barbosa, e a sociedade acabou optando pela compra de um terreno de 2.470m2, ao lado da Prefeitura. 

            Em abril de 1942, subscreviam quotas da sociedade, Lourival Francisco dos Santos, Joaquim Pinto Seabra, Pedro Paulo, Horácio Padovan, José Carvalho Jr., Luiz José de Carvalho e Mello Mattos, Rubens R. Pinheiro, Antonio Jorge Marques, Délio Rangel Pestana e Olavo Martins Parreira.

            Outra comissão fora nomeada para a elaboração do projeto de construção do novo cinema: Alexandre Mac Kerrow, Luiz Villares, Luiz de Mello Matos, Américo Richieri e Floriano Pinheiro, tendo o prefeito, Lourival Francisco dos Santos, se comprometido a abrir uma estrada em frente ao terreno.

            No dia 22 de agosto de 1942, o engenheiro civil Luiz José de Carvalho e Mello Mattos pede autorização para a construção de um prédio para cinema em Vila Abernéssia, em terreno de propriedade do Cine Campos do Jordão Ltda.

            Em 28 de agosto de 1942, era autorizado o início das obras, que, foram administradas pela Sociedade Construtora de Campos do Jordão, empresa de construção civil, montada em 25 de março de 1942, e constituída por Alexandre Mac Kerrow, Floriano Pinheiro, Alfredo Barros do Amaral, Alberto Veiga Filho e Luiz José de Carvalho e Mello Mattos. A empresa, para a construção do prédio do novo cinema, valeu-se de empréstimos do Banco de Itajubá e do Dr. Lincoln Ferreira Faria[19].

            No dia 30 de outubro de 1942, a Secretaria dos Negócios e Saúde Pública – Departamento de Saúde do Estado, encaminha ao Senhor Prefeito Sanitário de Campos do Jordão, Dr. Lourival Francisco dos Santos, as referidas plantas aprovadas em São Paulo, pela engenharia sanitária do Departamento de Saúde, assinada pelo Dr. Lincoln F. Faria.

            No dia 01 de dezembro de 1942, atendendo ao pedido do engenheiro Luiz José de Carvalho e Mello Mattos, a Prefeitura Sanitária de Campos do Jordão concede o alvará de licença para a construção do cinema. A construção foi erguida em 1942, pelo Sr. Floriano Rodrigues Pinheiro. Trabalhou como empreiteiro de obras no novo cinema, Francisco Bento Filho[20].

            Em 1943, Campos do Jordão Cine Ltda. era transformada em Sociedade Anônima com base em um estudo encomendado ao dr. Luiz Nazareno de Assumpção.     

            Devidamente instalado, o prédio passou a chamar-se “Cine Glória”, local de apresentação de filmes, peças teatrais, festivais de músicas, e frequentado pelas famílias jordanenses e cidades vizinhas.

            Concluído o prédio, Joaquim Correa Cintra continuou a desempenhar as funções de gerente.

            Conta-se que houve uma eleição para a escolha do nome da nova casa de espetáculos. Arthur Ramozzi apresentou a sua sugestão, Cine Glória e Joaquim Corrêa Cintra, Cine Vitória. Posta em votação, ganhou a primeira proposta.

            Anos mais tarde, o acervo da empresa “Campos do Jordão Cine Ltda.” foi transferido à Cia. de Cinemas do Vale do Paraíba que manteve o Cine Glória aberto até agosto de 1981, tendo sido seus últimos gerentes Romeu Godoy, Sebastião Cintra, J. Pinheiro Silva e Roberto Felix da Silva.

            A Companhia de Cinemas do Vale do Paraíba vem instalar, no Cine Glória local, o Cinemascope, uma das mais recentes e revolucionárias conquistas técnicas da Sétima Arte. Foi inaugurado em agosto de 1955, com o filme “O Príncipe Valente”. Um magnífico espetáculo até possível somente nas grandes casas da capital ou em outra cidade adiantada. O aparelhamento que a Cia. empregou foi o mais moderno possível, a começar da magnífica tela de nylon de 11 X 4 mts. Também passou por completa reforma todo o sistema de cortinas e a projeção foi consideravelmente melhorada com a instalação do mais moderno tipo de lanternas e um poderoso dínamo para corrente contínua.

            O prédio foi pintado totalmente, bem como substituído o modo obsoleto de fazer propaganda; modernos letreiros desmontáveis substituíram os antigos cartazes feitos à tinta-cola.

            Em 1983, o sr. Prefeito de Campos do Jordão, João Paulo Ismael, com o Decreto nº 1.145/83 de 17 de março de 1983, dispõe sobre Declaração de Utilidade Pública o imóvel denominado “Cine Glória”, situado na av. Januário Miráglia, 1582, que destinaria a abrigar o Centro Cultural, Artístico e Recreativo de Campos do Jordão.

            O edifício do Cine Glória foi desapropriado em 1984 pelo prefeito João Paulo Ismael e transformado em 27 de novembro de 1985 no Espaço Cultural “Dr. Além”[21]. O valor indenizatório pago à Companhia de Cinema do Vale do Paraíba, foi de CR$ 156 milhões de cruzeiros (parcelados).

            Toda a ação de desapropriação teve encerramento no dia 21 de agosto de 1987, passando definitivo à prefeitura de Campos do Jordão, o imóvel, com a área de 2470 m2 e com uma área construída de 620 m2.

História do Cineclube Araucária

             Espaço Cultural Dr. Além é um patrimônio histórico de Campos do Jordão. O prédio construído e inaugurado em meados da década de 1940, hoje abriga oficinas artísticas de teatro, danças populares, entre outros eventos culturais de pequeno porte.

            Em 1983, o então prefeito da cidade, João Paulo Ismael, entrou com processo de desapropriação que, somente em 1987 o prédio passou a ser patrimônio da Prefeitura de Campos do Jordão.

            Em 26 de março de 2011 foi fundado o Cineclube Araucária, idealizado por Cervantes Sobrinho[22] e Paulo Gomes, com apoio das proprietárias do Sabor da Província, Flávia Helena Junqueira de Andrade e Márcia Santos.

              O Cineclube Araucária é obra de um grupo de amigos que se reuniu em 2011 e começou a promover exibições de filmes premiados e cultuados pela crítica. Em 11 de outubro de 2013 foi inaugurada a Sala “Dynéas Aguiar”[23] no Espaço Cultural “Dr. Além”.

               Construído em 1942 para abrigar o Cine Glória, o Espaço Cultural Dr Além, tombado em 2013 como Patrimônio Arquitetônico, Histórico e Cultural a Cidade pelo Instituto do Patrimônio Histórico (IPHAC) recebeu no ano passado um público de quase dezoito mil pessoas, transformando-se no principal palco de apresentações culturais e artísticas do Município.

               Além das apresentações artísticas, no local são realizadas também Mostras e Oficinas de Cinema (em parceria com o Cineclube Araucária), Teatro e Dança (Grupo Olharte), além do Memorial do Cine Glória e da Biblioteca de Cinema, instalada no Centro Cultural Edmundo Ferreira da Rocha, no piso superior.

              No ano de 2017, a criação do Fundo Municipal de Manutenção e Restauro do Espaço Cultural recebeu recursos provenientes da locação do Espaço que permitiram a obtenção de receita para as reformas em andamento.

             Em 2021, quando o Festival de Inverno completa 52 anos, a ideia é que o Espaço Cultural receba apresentações e torne-se, em definitivo, mais um palco do Festival de Música Erudita, aproximando o Festival da Abernéssia.

            O Espaço Cultural Dr. Além, abriga o Memorial do Cine Glória, Biblioteca de Cinema, Oficinas de Dança, Teatro e Cinema, Mostra Mensal de Cinema, parceria Cineclube Araucária, Encontro de Idosos, Exposições e Feira de Livros.

                Devido a sua importância histórica, cultural e arquitetônica, a Secretaria Municipal de Cultura entrou com o pedido de tombamento junto ao Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat), em março de 2021, e desde então aguarda a finalização do processo para que possa iniciar as obras de preservação das características originais do prédio, conhecido hoje como Espaço Cultural Dr. Além.

             Em 16 de abril de 2015, foi inaugurada a Biblioteca de Cinema de Campos do Jordão. Junto aos projetores do antigo Cine Glória, uma sala acolhedora abrigou um bem guardado tesouro de Campos do Jordão, a Biblioteca de Cinema. O acervo, disponível, são filmes de todos os gêneros e épocas, para todos os perfis de cinéfilos.                                                                                                                                                                        Cervantes Souto Sobrinho, foi idealizador do projeto e o empreendedor por excelência de atividades ligadas ao cinema em Campos do Jordão. O acervo de base da Biblioteca de Cinema foi formado a partir da biblioteca pessoal do produtor.

            A esta coleção inicial foi acrescentada inúmeras obras e títulos com doações pessoais e de instituições. Hoje são mais de 500 publicações, 80% delas sobre cinema. Os demais livros são basicamente romances que viraram filmes. Há também uma videoteca à disposição do público.

            E, ainda, o público pode ser estimulado o tempo todo por cartazes de filmes e fotos de astros e estrelas do cinema, banhados pela luminosidade suave da montanha.

            O antigo Cine Glória ganhou poltronas novas. Pode-se acomodar para ler os preciosos e curiosos livros da coleção, sentados em emblemáticas e confortáveis poltronas que evocam o estilo art-deco[24], que estava em voga entre os anos 20 e 40 do século XX, época de ouro do cinema.

            O antigo mezanino, uma área Vip conhecida como “Pulmann” nos tempos áureos do cinema, foi decorada com pôsteres de filmes clássicos e cults e que disponibiliza centenas de obras sobre a Sétima Arte, bem como romances que inspiraram filmes célebres.

            No segundo andar do cinema foi inaugurado o Memorial Cine Glória, que recebeu uma nova tela de projeção, com tecnologias, como o dvd e o blu-ray, e projetores modernos, bem mais baratos que os tradicionais projetores de rolo.

            Também compõe o Memorial Cine Glória, o museu com projetores antigos, bombonieres restauradas, ou seja, o balcão onde eram vendidos balas e doces para quem ia assistir aos filmes; máquinas registradoras dos caixas, que emitiam o borderô – o movimento de público da sessão, - máquinas de cortar filmes, entre outros equipamentos que contam a história do cinema de Campos do Jordão.

            O nome “Complexo Cultural Edmundo Ferreira da Rocha”[25] foi uma iniciativa do Cineclube Araucária, com apoio da Secretaria Municipal de Cultura, e faz uma homenagem justa a um dos mais atuantes pesquisadores e estudiosos da história e do registro fotográfico de Campos do Jordão.

            No Memorial é possível conhecer os projetores originais do antigo cinema que foi inaugurado em 1943, e ver ao seu lado os grandes carretéis que emendavam um filme inteiro e permitiam sua projeção sem interrupções ou falhas.

            A iniciativa do Cineclube também deu origem à Oficina de Cinema, um projeto de formação audiovisual.

            Assim o cinema retornou ao cotidiano de Campos do Jordão. E o antigo Cine Glória voltou a fazer jus ao seu nome original.

            Desde 2011 a obra de mestres como Orson Welles, Glauber Rocha, Eduardo Coutinho, Alfred Hitchcock, Pedro Almodóvar, Tim Burton, Quentin Tarantino, Stanley Kubrick, e de dezenas de outros grandes diretores, voltaram a brilhar no escurinho do Cine Glória, que também passou a receber a itinerância da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

            A partir desses inúmeros enfoques e sem explorar a relação cinema e história, hoje já bastante conhecida e utilizada pelos especialistas, procuro deixar aqui uma reflexão preliminar sobre a história do cinema jordanense. É apenas um esboço e um chamado à reflexão. É também a constatação de que a história do cinema é, hoje, não só fonte de conhecimento da disciplina histórica, mas também, felizmente, seu alvo.

            Portanto, com o intuito de entender essa biografia histórico-cultural do edifício dos antigos cinemas, Cine Jandira e Cine Glória, questiona-se sobre o que ocorre quando seu uso chega ao fim. O que acontece quando algo que representava o novo e o moderno se esfacela e se torna antiquado e representativo de outra era?

            A biografia desse patrimônio, legitimamente tombado, exposta até aqui, permite entender os sistemas de construção de valores que o qualifica e que são imprescindíveis para seu entendimento.

            Tais valores foram ressignificados e criaram caminhos permeados por fases que se adicionaram à biografia deste bem cultural patrimonializado.

Referências bibliográficas:

GONÇALVES, Ricardo M. S. Biblioteca de Cinema e Memorial Cine Glória em Campos do Jordão. 2015. Disponível em: <http://www.guiacampos.com/arquivo-de-noticias/inaugurada-biblioteca-de-cinema-e-memorial-cine-gloria-em-campos-do-jordao/778>. Acesso em: 16 fev. 2018. O cinema em Campos do Jordão. 2015. Disponível em: <http://www.guiacampos.com/arquivo-de-noticias/cineclube-araucaria-fez-brilhar-o-cinema-em-campos-do-jordao-no-ano-de-2015/3609>. Acesso em: 16 fev. 2018.

PAULO FILHO, Pedro. História de Campos do Jordão. Campos do Jordão: Editora Santuário, 1986. 492 p.

LINO, Maurício de Souza. Da Freguezia do Imbery aos Campos do Jordão. Campos do Jordão: Clube de Autores, 2017. 414 p.

Jornal “A Cidade de Campos do Jordão”, Ano I e II, nº 26/102/103 de 11/18 de fevereiro de 1951

ROCHA, Edmundo Ferreira da. Campos do Jordão Cultura. 2018. Disponível em: <http://www.camposdojordaocultura.com.br/>. Acesso em: 02 mar. 2018.

http://camposdojordao.sp.gov.br/Noticia/?i=476&c=7

https://www.netcampos.com/noticias-campos-do-jordao/2009/11/espaco-cultural-dr-alem-e-um-patrimonio-historico-de-campos-do-jordao.html

Crédito das fotos:

Edmundo Ferreira da Rocha (http://www.camposdojordaocultura.com.br/);

Acervo do IPHAC - Instituto do Patrimônio Histórico, Ambiental, Artístico, Arquitetônico e Cultural de Campos do Jordão e Secretaria Municipal de Cultura.



[1] Antigo nome do Cine Glória

[2] Médico e um dos fundadores do Campos do Jordão Tênis Clube

[3] Também político e vereador

[4] Um dos primeiros historiadores de Campos do Jordão

[5] Trabalhou na instalação da Usina hidrelétrica “Evangelina Jordão”, em Campos do Jordão.

[6] Um sistema de cinema amador destinado ao público em geral criado por Charles Pathé e lançado em 1922. O sistema usava um filme 9.5 mm de largura com perfurações centrais e era o mais pequeno formato que existia naquela época

[7] Viúva construtora do primeiro cinema em Campos do Jordão

[8] Advogado procurador em Campos do Jordão

[9] Grêmio Dramático e Recreativo fundado em 1937, em Campos do Jordão

[10] Diretor e professor da Escola Dr. Domingos Jaguaribe em 1935.

[11] Redator Responsável do “Campos do Jordão Jornal”

[12] Proprietário da tradicional “Casa oriental”

[13] Vereador em Campos do Jordão

[14] Um dos primeiros comerciantes de Vila Abernéssia. Foi subprefeito de Campos do Jordão no período de 1924 a 1926, posteriormente à criação da Subprefeitura de Campos do Jordão, em 1º de janeiro de 1918.

[15] Um dos pioneiros de Campos do Jordão, chegando por volta da década de 1920, em busca da cura. Já curado passou a residir vem Campos do Jordão com toda família.

[16] Político, jornalista

[17] Mestre da Pintura, viveu em Campos do Jordão por muitos anos.

[18] Atualmente, no local, está sediada a loja das Casas Bahia, o Pet Shop – Recanto dos Bichos, a Papelaria   Aquarela e o Zé Bia decorações.

[19] Atualmente, no local, está sediada a loja das Casas Bahia, o Pet Shop – Recanto dos Bichos, a Papelaria   Aquarela e o Zé Bia decorações.

[20] Foi também político e vereador

[21] Grande médico de Campos do Jordão

[22] Produtor Cultural, Diretor e Curador do Cineclube Araucária

[23] Vice-prefeito de Campos do Jordão

[24] Um estilo artístico de caráter decorativo que surgiu na Europa na década de 1920, atingindo os Estados Unidos e outros países do mundo na década de 1930. Este estilo esteve presente na arquitetura, design industrial, mobiliário, moda e decoração.

[25] Advogado, Cientista Jurídico e Social, político e historiador.                                                            

                                         Comunidade Rainha da Paz      

Esta obra social é mantida pela Paroquia Nossa Senhora Achiropita, dirigida por padres Orionitas, da Congregação de São Luis Orione.

A Comunidade Rainha da paz começou a funcionar no dia 14 de junho de 1999 e foi fundada juridicamente no dia 21 de janeiro de 2000, já atendeu mais de 30.000 famílias e 5.000 pessoas internadas com um índice de recuperação em torno de 32% dos casos, ficando acima da média no Brasil que é de 17%.

Em fevereiro de 2013 a Comunidade Nossa Senhora Achiropita adquire um terreno em Campos do Jordão, em meio ao verde da montanha, local onde já havia sido um clube de férias de uma associação bancária, o local estava desativado há alguns anos. O propósito para esse novo local era de criar um espaço de acolhida para homens em situação de dependência química.

Em um terreno de 12 mil metros quadrados, com 20 apartamentos distribuídos em 13 casas, salão social, refeitório, área de serviço e capela, espaço de artesanato, horta comunitária e muito verde. Nascia a Casa de Acolhida Rainha da Paz.

É um espaço que abriga e auxilia homens livres da situação de dependência química, por vontade própria e buscam apoio para um retorno digno às suas famílias e sociedade.

A Comunidade Rainha da Paz procura acolher e enxergar em cada um o próprio Cristo e deseja continuar sendo o porto seguro de Jesus transfigurado em dependente químico, portador de HIV, morador de rua, gritando por socorro nas ruas, esquinas, favelas, bocas de fumo, cadeias ou quem sabe dentro da própria casa, aquele que espera ansioso por socorro imediato, ser luz para eles, assumi-los e nos deixar assumir por eles.

Por isso, em seu ministério precisa sempre optar por valores que ajudem o ser humano no seu processo de transformação e restauração.

A comunidade Rainha da Paz é um Centro de Restauração e Desenvolvimento Humano para dependentes químicos que tenham o desejo de buscar sua dignidade perdida.

Diante de tantos desafios, as drogas vêm fazendo parte da dura realidade, não só de nossa cidade, mas também de todo o país. Assim, a casa acolhe ex-dependentes químicos desejosos de uma nova oportunidade.

O objetivo é integrá-los junto aos seus familiares em um novo contexto social, educacional e familiar, visando sua reintegração através de acompanhamento e aconselhamento, prática de atividades de lazer e esporte, participação em oficinas com diversos temas, reflexão e espiritualidade. A adesão ao acolhimento se dá de forma voluntária, pois a conscientização dele é parte fundamental em sua recuperação.

O projeto nasce e ganha forma graças à generosidade e trabalho de muitos benfeitores e amigos. Uma verdadeira corrente de esperança e fé. Um presente que Deus confia.

Projeto de lei que concede à Casa de Recuperação Rainha da Paz, o título de Utilidade Pública Municipal, foi aprovado por unanimidade dos vereadores. Autoria do projeto é da vereadora Maria Joaquina dos Santos. Com o título de Utilidade Pública Municipal em mãos, a organização pode requerer o título de utilidade pública estadual e firmar convênios públicos que ofereçam recursos para financiamento das suas atividades.

Esta obra nasce e ganha forma graças à generosidade e trabalho de muitos benfeitores e amigos.

No site www.achiropita.org.br/projetos-sociais/casa-rainha-da-paz estão disponíveis as informações para as pessoas que desejarem ajudar a instituição.

A Lei Municipal que atesta esta utilidade pública é a número 3966 de 13 de março de 2019.

 

Fonte de Pesquisa:

https://www.camaracamposdojordao.sp.gov.br/camara-aprova-utilidade-publica-para-casa-rainha-da-paz/

https://www.achiropita.org.br/projetos-sociais/casa-rainha-da-paz

https://emfavordavida.webnode.com.br/sobre-nos/

 

Imagens:

Casa Rainha da Paz   (Campos do Jordão)   
                             


                                         O Vale Encantado - A Vila Imbiri - História e Necessidades

Campos do Jordão, comparada com São Paulo, é pequeníssima, mas é uma cidade agitada, não muito calma. É uma cidade muito boa, principalmente para quem quer sair da correria e fazer turismo.

Moro nesta cidade há 64 anos. Morei em Vila Jaguaribe, depois Alto da Boa Vista, e agora, Vila Imbiri, a 1,5 km distante do Vale Encantado. Alguns dos meus amigos de infância mudaram ou foram para outros bairros e cidades.

Sempre quando saio pelo bairro, encontro alguém que conheço, principalmente quando está acontecendo um evento na cidade, ou no próprio bairro (raríssimo).

 A Vila Imbiri, desde 1917, ano de sua criação, continua quase do mesmo jeito. Dificilmente vejo alguma criança brincando na rua que a corta. Há muito tempo, de pouco em pouco, as crianças pararam de brincar, pois, hoje, é mais movimentada. Acredito que foi culpa da tecnologia, do aumento de sua população, dos veículos, do asfalto... O único lugar que vejo alguém brincando com seus pais é no Parque do Vale Encantado, no final da rua onde moro.

Quero retratar o meu bairro, Vila Imbiri e Vale Encantado, que apesar daqueles que “frequentam” o único bar, dos cães abandonados, há beleza nele, há beleza na minha cidade. Posso não conhecer 100% do bairro onde moro, mas nasci e cresci em Campos do Jordão.

Historicamente, a Vila Imbiri e o Vale Encantado nasceram ao mesmo tempo. Recebendo em pagamento, em 1908, o seu quinhão, na divisão judicial da Fazenda Natal, o dr. Domingos José Nogueira Jaguaribe, constitui em 13 de abril de 1917 e 27 de fevereiro de 1918, a Companhia Brasileira de Colonização, integrada por ele próprio; Joaquim Lacerda Abreu; Rodrigo Martins de Camargo; João Martins e Miguel Arrojado Lisboa; Henrique de Villeneuve e Eduardo Pires Barros.

Essa empresa imobiliária, a mais antiga de Campos do Jordão, implantou o loteamento Imbiri, Vale Encantado, Alto da Boa Vista e muitos outros, tendo intensa atividade.

A área onde está construído o Palácio Boa Vista foi cedida ao Estado, em 1938, pela Companhia Brasileira de Colonização e por Antonio Jaguaribe Lacerda Abreu. Um dos moradores pioneiros do Vale Encantado, Eduardo Moreira da Cruz, foi administrador, por muitos anos, da Companhia Brasileira de Colonização.

Gosto daqui, e se um dia for embora, carregarei este lugar no coração. Passarinhos no ninho, maritacas, tucanos que aqui voam e lá cantam; árvores que alguns querem derrubar; pereiras que florescem todo ano; araucárias jovens e velhas; vegetação encanta os olhos de todos, este é o lugar que vivo.

Gosto muito daqui, principalmente da mata atrás de minha casa, ouvir os sons dos pássaros; o “bar do João” com sua clientela, e principalmente minha princesa do Vale Encantado, tudo está em minhas lembranças.

A casa onde moro, já foi comparada como “Casa de Bonecas”, de tão bonita e simples que foi. Essa “Casa de Bonecas”, comumente chamada, é meu querido lar, local onde sempre estou, lugar de calma e conforto, onde eu e minha princesa vivemos nossa felicidade! É lugar de família, amar...  sossegado, para relaxar, sem reclamar. É um local de amor, onde a vida nos compensa das lutas do dia-a-dia.

Na Vila Imbiri e no Vale Encantado, tem gente trabalhadora, valente, corajosa e também estudiosa. No lugar onde moro tenho vizinhos bons, diferentes, e também felizes. (o lugar onde moro também tem pobreza e pessoas desesperadas com olhares de tristeza). Tem cães na rua, gatos nos telhados; tem brigas, tem barracos, e até mansões. Tem pessoas com dificuldades, pessoas com maldades, mas também com bom coração.

O Vale Encantado tem seus problemas. Poderia citar seus pontos fracos, como velocidade exagerada dos veículos na estrada; sem passeios; casas mal estruturadas; animais abandonados; mas infelizmente, isso não se encontra apenas em Campos do Jordão, e sim em grande parte das cidades do Brasil e apesar da situação não ser agradável, é melhor do que tempos antigos.

Mas, como qualquer outro bairro, não devemos nos limitar a enxergar apenas o que é ruim, afinal são cerca de 105 anos de vida e daqui há alguns anos, tudo que vivemos hoje, será história. Vamos registrar sua memória!

Na Vila Imbiri e no Vale Encantado tem casas grandes e pequenas, casas com rachaduras, casas velhas e casas novas. O lugar onde moro fica na Avenida Eduardo Moreira da Cruz. Enfim, meu bairro é bonito, tem muito verde, árvores, pássaros e campos.

Na Vila Imbiri e no Vale Encantado tudo é diferente, tudo é encantado! As pessoas acordam sorridentes, cada um com um sorriso diferente.

Isso é o que acontece todo dia; um sorriso é o que faz o dia ficar mais lindo, um abraço é o que faz o dia ficar mais animado. Quando saio do “bar do João”, ouço efusivamente: “Um bom dia para você!”

Vila Imbiri e Vale Encantado, apesar de serem bairros muito bons, por outro lado, não há estradas ideais, todas são de terra, exceto a avenida principal. São mais afastados, e também depende da cidade para elevar seu padrão de vida e de seus habitantes.

Vila Imbiri, por exemplo, é histórica.

Aqui nasceu a bela Campos do Jordão, na fazenda do Humaitá, de outras fazendas que o português, Matheus da Costa Pinto havia adquirido do Brigadeiro Manoel Rodrigues Jordão, homem ligado ao poder, amigo de dom Pedro I, que fazia parte da lista dos dez maiores proprietários de terras da então Província de São Paulo.

O Brigadeiro Jordão mudou o nome da nova propriedade para Fazenda Natal, mas não teve jeito: todo mundo chamava o lugar de “Os campos do Jordão”.   

Atrás das casas da Vila Imbiri, há o famoso e histórico “Rio Imbiri”, que deságua no Rio Capivari, corta o município de Campos do Jordão, que vai recebendo em seu curso o rio Abernéssia, o ribeirão das Perdizes, os córregos do Guarani e do Homem Morto, depois do qual passa a denominar-se rio Sapucaí-Guaçu, e que, lá longe do município, unindo-se ao rio das Mortes, vai formar o rio Grande. Antes da construção da represa de Furnas, o rio se unia ao rio Grande nas proximidades de Alpinópolis; agora o rio Sapucaí deságua no lago formado pelas suas águas e as de dois grandes rios: o rio Grande e o rio Verde. Depois, passa a denominar-se rio Paraná até desembocar no rio da Prata, percorrendo os territórios brasileiro, paraguaio, argentino e uruguaio.

Às margens do Rio Imbiri, existia uma antiga gruta construída em pedras, dedicada à Nossa Senhora de Fátima, fins da década de 1950, onde antigos moradores, religiosos, padres e freiras, realizavam suas devoções e celebravam as missas uma vez ao mês. Sr. "Satilho" era o responsável para organizar romarias ao santuário de Aparecida.  Ali existiu uma fonte d'água, denominada "Águas Ótimas" que passava dentro da gruta, e sustentava a pequena comunidade. À frente e à direita da gruta, havia três tanques para criação de trutas.

Hoje, tanto nossos filhos, como a geração futura, sequer terão a oportunidade de brincar, nadar, pescar, se divertir e principalmente beber água no Rio Imbiri, uma vez que o homem, destruiu a natureza e poluiu o meio ambiente.

Com relação ao nome IMBIRI, planta de nome indígena, tupi-guarani sugere, Mbiri, significa “folha larga”, o que não combina com esta planta. É originária do Himalaia Oriental da Índia, sul da China e Madagascar, uma erva perene distribuída na Índia, países do sudeste asiático, Nepal e Butão, como Japão e Taiwan e aclimatada nas Américas, e foi trazida para o Brasil durante o período colonial, onde é encontrada em todo o território, sendo mais frequente nas regiões Sul e Sudeste. Hoje, está amplamente disponível em regiões tropicais e subtropicais.

Por estar localizado nas proximidades do Pico do Imbiri e Ribeirão do Imbiri (lugares que também levam o nome da planta), Matheus da Costa Pinto, o fundador da cidade, soube muito bem disso, e não é à toa que criou raízes junto ao rio que leva o nome, IMBIRI, pela extensa quantidade dessa planta, e o inspirou a dar o primeiro nome à cidade (Vila São Matheus do Imbiri). Com isso, deduz-se que estas plantas se adaptaram muito bem ao solo montanhoso de Campos do Jordão.

A planta é encontrada nas margens de lagos, à beira das matas, dos rios e serve de abrigo para a fauna silvestre em lugares úmidos ou brejos e floresce nos meses da primavera. O rio Imbiri que passa nos fundos do quintal de minha casa, tem em suas margens, muito dessa planta.

O Pico do Imbiri é o lugar mais alto de Campos do Jordão. (Pico do Itapeva fica no território de Pindamonhangaba). No alto dos seus 1.862 metros de altitude, é possível identificar várias regiões da cidade, principalmente os locais mais altos, como a Pedra do Baú; e ainda, perdem-se de vista as montanhas que fazem divisa com o Sul de Minas Gerais. Muito frio, muito vento, muito verde, muito imbiri.  A vista é encantadora com um mar de araucárias.

No Pico do Imbiri, um local calmo para quem busca paz, muitos de seus visitantes não respeitam a natureza e descartam lixo por onde passam, é uma vergonha. Outras áreas por perto já sofrem com os desmatamentos, dando lugar a novos empreendimentos imobiliários.

Não querendo dizer que uma cidade deva ser cem por cento perfeita, até porque acredito que isso não seja possível, sempre há algo para melhorar, aliás muita coisa. Apesar de alguns problemas como falta de iluminação, falta de ponto de ônibus mais próximos, etc, o bairro tem uma única área de lazer, próxima no Vale Encantado: um parque carregado de verde. Em baixo dessas árvores faziam bailes e festas, promovidas pelo Sr. Eduardo Moreira da Cruz, antigo morador do local.

As árvores são sempre verdes com lindas folhas a dançar com o vento, fazendo grande festa. Às vezes, do meu quintal, ouço assovio dos ventos que vêm do longe e se vão para mais longe ainda.  

No Vale Encantado existiu o Futsal - Vale Encantado F. C. Dentre alguns desportistas, Paulo de Oliveira, Luiz Carlos, Chacrinha, Nelson Ladeira, Zezinho, Pininha, Marinho, Faria, Reginaldo, Ré, Vicentinho...

Contudo, minha impressão desse bairro, hoje, não é muito boa. Para falar a verdade aqui é um pouco diferente de onde vim. Sei que praticamente o Brasil inteiro está assim: muito violento, drogas e desemprego, mas em minha opinião aqui tem muito mais.

Mas, antigo bairro, novas drogas...

Claro que há muita coisa boa no meio de tudo isso, nem tudo são flores, mas nem tudo são trevas. Com certeza comecei a gostar desse bairro pelo respeito que as pessoas têm uns com os outros, a alegria estampada no rosto de cada morador, mesmo com problemas e situações difíceis.

Ver que a alegria e a felicidade sobressaem em cima da violência, brigas e tantas outras situações, é lindo. Afinal, acredito que todo bairro do Brasil é lindo por natureza, tem problemas sim, mas tem também seu lado de ser que nos fascina.

Parte dos jovens faz uso de drogas para se sentir integrado a um grupo. O uso de drogas está cada dia mais frequente e banalizado. Agravante nesse consumo, pois há os que pensam: “Quem fuma maconha fica menos tímido e mais atraente.” Jovens pensam que a droga é só para “relaxar”. Uma forma enganosa de fugir dos problemas. As drogas em geral, sem esquecer a maconha, fazem mal sim, não só à saúde, mas à sociedade também, pois pessoas que não tem dinheiro para manter o vício, acabam furtando e roubando. Assim, fazendo com que cresça o tráfico.

O que me deixa triste é que os “caras” que ficam vendendo e usando entorpecentes só arruínam o lugar. O bairro, que já é distante do centro, fica mal falado e, agora, todo dia, não dá para ficar na rua, conversando com amigos, ou até mesmo brincando, como se fazia antigamente. Saber talvez que ao sair de casa por um minuto podemos ser roubados, violentados ou até mesmo sequestrados. Uma solução para o problema seria uma reforma em sua estrutura e rondas para a segurança dos moradores. Essas são medidas simples e que podem fazer a diferença na vida dos jordanenses e assim melhorar o lugar onde vivemos. Denunciar e principalmente pedir a Deus, independentemente de sua religião que ele proteja nosso bairro, nosso lar, nosso país....

Nas madrugadas de feriados e de alguns finais de semana, pode-se observar outra situação problemática. Há um grande fluxo de pessoas que se encontram em determinados lugares e colocam músicas em um volume muito elevado. Isso incomoda muito as pessoas que moram em torno do local onde ocorrem as movimentações.

Enquanto as noites são imperfeitas e os dias perfeitos não chegam, a medida mais cabível a ser tomada é o mínimo de condições de segurança. Andar na rua sem temer pela vida é o que toda pessoa de bem quer, e como morador desse bairro, que para tantos é tido como o abandonado pelas autoridades, seria confortante poder ser livre. Já sem os pés sujo de terra e os olhos turvos de injustiças.

Há falta de segurança no meu bairro. Não podemos ter uma vida social comum, uma rotina normal como antes, as crianças não podem brincar na rua, os adolescentes e jovens não podem andar com celular no bolso, na mão, ou em qualquer lugar, pois vira um alvo fácil para os bandidos, que na maioria das vezes são de outros lugares.

Os adultos não podem deixar o carro estacionado fora da garagem por muito tempo e até mesmo dentro da garagem. Essa rotina se estabeleceu quando ladrões vieram para cá e levaram do bairro, antes calmo e silencioso, veículos de seus moradores. O policiamento é precário, na verdade, raro. Com a falta de policiamento só piora a situação, recentemente foram registrados casos de estupros, assassinatos e assaltos.

A base da Polícia Militar nos arredores do bairro é muito distante, fica na Vila Capivari. Reduzir a maioridade penal para 16 anos, que é outra polêmica, que não deixa de ser uma solução justa e favorável, com certeza iria melhorar as condições de vida dos moradores.

A falta de segurança é realmente um problema sério e grave, pois atrapalha o desenvolvimento de nossas crianças e adolescentes, e são situações consideradas de risco atualmente.

O tempo passa e a falta de segurança só aumenta, mas se as devidas soluções forem tomadas, com certeza nossos bairros voltarão a serem aqueles bairros calmos, com pais despreocupados e crianças e jovens livres, vivendo sem medo.

Recordo que minha princesa, quando criança e adolescente, brincava na rua de bolinha– de –gude, de bola, peteca, esconde-esconde, pega-pega, etc. Hoje não podemos fazer mais nada, uma vez que corremos o risco de ser atropelados por um veículo automotor em alta velocidade.

O lugar onde moro, além de segurança policial, precisa de mais amor, atenção, carinho e evangelização, para cessar também a dor. Evangelização e serviço social no bairro é uma das oportunidades para falar do amor de Deus e oferecer suporte espiritual às famílias que aqui residem.

Diante do medo e da insegurança, mudanças são necessárias!

Fonte de Pesquisa:

LINO, Maurício de Souza. Da Freguezia do Imbery aos Campos do Jordão. Campos do Jordão. 2017. Ed. Clube de Autores. 613 páginas.

Imagens: autor e internet.


Coruja-buraqueira, curiosa e bela coruja de estimação e hábitos diurnos em Campos do Jordão

Então, aparece a coruja-buraqueira, de hábitos diurnos, com seu voo silencioso, seu piar "U-U" de meter medo. Sim, aqui nas madrugadas, e no crepúsculo, esvoaçam pelas matas e campos. É natural. Elas têm a capacidade de enxergar através da escuridão, conseguindo ver o que os outros não veem. A coruja-buraqueira em Campos do Jordão, impressiona mesmo.

Dessa forma, o principal nome vulgar, “buraqueira” foi dado à espécie por conta do seu costume de viver em buracos cavados no solo. E apesar de ser capaz de cavar o próprio buraco, o animal aproveita aqueles que foram abandonados por tatus, por exemplo. Também chamada de coruja-mineira, coruja-do-campo ou capotinha. É muito presente em ambientes urbanizados como nos novos loteamentos.

A coruja-buraqueira é uma das espécies menores de coruja. Com comprimento de 23 a 28 cm, a coruja-buraqueira é pequena o suficiente para ocupar habitats que antes eram usados ​​por roedores. Esses habitats são túneis subterrâneos escavados por esquilos, esquilos ou cães da pradaria.

Como seu próprio nome diz, é uma espécie terrícola, em tocas subterrâneas, buracos abertos por ela mesma, seja abandonado por tatus, e readaptados pela coruja. Vale ressaltar também que é uma das poucas que são ativas durante o dia, sendo que seu período de maior atividade é o período crepuscular; e sendo frequentemente visualizada no solo de áreas de cerrado, campos e planícies, embora seja encontrada também em áreas urbanas.

Por ser uma típica ave de rapina, a coruja-buraqueira é um animal carnívoro, que se alimenta preferencialmente de roedores, morcegos, escorpiões, marsupiais e insetos, como besouros, gafanhotos, mariposas, aranhas e abelhas, e até pequenas cobras. São ótimas predadoras de insetos, mantendo um controle biológico do meio. É muito útil ao homem, beneficiando-o na agricultura. É uma voraz predadora de invertebrados. Vale lembrar que se trata de uma espécie generalista, capaz de se alimentar de diferentes animais conforme a disponibilidade da estação em questão.

Simpática e sempre alerta, vive no chão ou em poleiros baixos, perto do buraco que faz de toca. Por isso, é comumente observada empoleira em mourões de cerca, fios e postes, montes de terra ou no solo próximo do ninho.

A coruja-buraqueira possui um comportamento peculiar, além dos próprios feitos pelas corujas, por ser vista durante o dia e ficar pousada, ereta, em locais expostos ou no solo, em postes, troncos, muros, em cimas de cactos etc. Tem o hábito de ficar sobre uma perna, o que não é copiado por outras corujas. Utiliza um buraco não somente para assentamento, mas para descansar, esconder-se, como um refúgio durante o dia e construir ninhos, normalmente ocupados por um casal. É uma coruja tímida, mas é ligeiramente tolerante à presença humana. Cava seus próprios buracos com a ajuda dos pés e do bico, ficando até mesmo toda suja na construção da toca,

Dentre as aves que mais chamam a atenção dos olhares curiosos, as espécies de coruja se destacam por sua beleza e por suas habilidades de caça. Seja a imponente coruja-de-igreja, ou a tímida corujinha-do-mato, essas aves são extremamente curiosas e inteligentes, sendo o símbolo da deusa Atena, que na mitologia grega é considerada a deusa da inteligência.

Na época da primavera o macho busca por regiões de capim baixo, local em que poderá prender os pequenos roedores e insetos com facilidade.

Assim, o casal cava um buraco com a ajuda do bico e dos pés, sendo que macho e fêmea se revezam para alargar o buraco. Logo em seguida, a cavidade é coberta por capim seco.

É completamente possível ter uma coruja-buraqueira, desde que seja de forma legal. Para isso, é importante se dirigir a um criatório legalizado por um órgão ambiental. Há vendas de maneira legal também pela internet. Para se tornar um criador certificado é preciso realizar um cadastro no SISPASS no site do IBAMA. O SISPASS é Sistema de Controle e Monitoramento da Atividade de Criação Amadora de Pássaros.

Há criatórios de aves de rapina no Brasil que permitem o envio do animal através de transporte aéreo desde que o interessado tenha licença para adquirir a ave. Diferente de outros animais domesticáveis, a coruja não pode ser comprada para outra pessoa.

O documento registrado deve constar os dados do proprietário. Caso encontre o animal na natureza, não é permitido levá-lo para casa.

Uma coruja adquirida de forma legal pode custar a partir de R$ 1.200. (2001). Considera-se a espécie, a raridade, o tamanho dentre outros fatores no momento da precificação. Há espécies em que o valor pode ultrapassar R$10.000. É necessário lembrar que o custo para se ter uma coruja legalizada inclui taxas, documentação, vistoria médica, etc.

 

Fontes de Pesquisa:

Blog “Aves de Rapina do Brasil”

Blog “Coisas da Roça”

Blog “Saúde Animal

Guia Animal

Links:

https://praiadaluz.webnode.com/animais%20da%20regi%c3%a3o/coruja/

Quer comprar coruja de estimação? Veja como, onde e o qual é o preço! | Guia Animal

Coruja-buraqueira - Saúde Animal | Saúde Animal (saudeanimal.com.br)

O que é uma coruja-buraqueira? - Spiegato

Coruja-buraqueira: o que come, habitat e quanto tempo vive (pescagerais.com.br)

Coruja-buraqueira, curiosa e bela coruja de hábitos diurnos (coisasdaroca.com)                                                


 Monumento "Marco das Quatro Nações"


No dia 29 de abril de 1959, data em que se comemorou o 85º de aniversário de Campos do Jordão, foi lançada a pedra fundamental do monumento “Marco das 4 Nações” no bairro Umuarama, em homenagem aos desbravadores das mais altas nascentes de águas brasileiras que desembocam no Rio da Prata.

Nessa oportunidade, o governador do Estado de São Paulo, Carlos Alberto de Carvalho Pinto, impossibilitado de comparecer, foi representado pelo secretário de Governo, Dr. Márcio Porto. Também presentes, entre outras personalidades representativas, o prefeito municipal de Campos do Jordão, Dr. José Antônio Padovan; o Sr. Benjamim Hunicut; o engenheiro Acácio Vilalba; e o vereador, Joaquim Corrêa Cintra.

O monumento “Marco das 4 Nações” foi projetado pelo engenheiro Acácio Vilalba, membro do Conselho Estadual de Turismo e da Sociedade Geográfica Brasileira, para ser erigido em terras de propriedade da Associação Umuarama.


Esse monumento era encimado por um bandeirante segurando uma bandeira enrolada no pedestal, sob o qual havia estampado o brasão de Campos do Jordão. Embaixo, em forma retangular, os dizeres escritos em fundo branco:

Marco das 4 Nações: Brasil, Paraguai, Argentina e Uruguai. Erigido em homenagem aos países onde caminham as mais altas águas brasileiras rumo ao rio da Prata. Inaugurado em 29 de abril de 1959, sendo Governador do Estado de São Paulo o Exmo. Sr. Prof. Carvalho Pinto e Prefeito de Campos do Jordão o Dr. José Antônio Padovan”.

Um esboço foi elaborado pelo vereador, Joaquim Correa Cintra, que na época, era Diretor Executivo do DMtur.

Concluído o portentoso monumento, infelizmente não foi implantado no local escolhido; pois, com o decorrer dos anos e o crescimento da mata, tornou-se difícil, talvez impossível, a localização física da pedra fundamental no Bairro Umuarama, onde deveria ser erigido o Monumento “Marco das 4 Nações”. E, com a obra inviabilizada, veio o seu cancelamento.

Foi instalado ao lado do Departamento Municipal de Turismo – DMTUR, cujo Diretor Executivo era também Joaquim Correa Cintra, em Vila Abernéssia, na Praça da Bandeira (lembrando que na época não havia ainda a divisão entre as 2 praças).


Nesse local, ficou instalado por algum tempo, até ser retirado para possibilitar a construção do prédio da telefônica. Foi transferido para o almoxarifado da prefeitura, quebrou-se, restando apenas a figura do Bandeirante, que foi afixada na Praça da Bandeira, em Vila Abernéssia, em Campos do Jordão.

Na véspera da comemoração do dia da Cidade, 29 de abril de 1999, quando estaria completando 125 anos de fundação, um motorista em velocidade considerável perdeu a direção do veículo que dirigia e bateu de frente no pedestal em que a estátua do Bandeirante estava afixada, derrubando-a ao chão e reduzindo-a a inúmeros pedaços. Reunidos os pedaços da estátua, foram guardados junto ao local onde estava sediada a Defesa Civil de Campos do Jordão, proximidades do Portal de Entrada da Cidade. Lá ficaram por vários meses, talvez até mais de um ano. Algum tempo depois, a estátua estava totalmente recuperada.

O local onde a estátua estava anteriormente instalada, foi transformada na praça Júlio Domingues Pereira, (Júlio Bandeirante), mais conhecida como Praça da telefônica, construído novo pedestal, maior e mais reforçado, nela, a estátua do bandeirante foi reintroduzida, em 1961.

A estátua é hoje uma testemunha discreta da história moderna de Campos do Jordão, porque muitas vezes o marco passa despercebido por moradores e turistas, há 62 anos.

Fontes de Pesquisa:

Jornal “Correio Paulistano”, de 29 de abril de 1959;

 Historiadores: Pedro Paulo Filho, Edmundo Ferreira da Rocha e Maurício de Souza Lino.


                                                                               O Cemiterio de Campos do Jordao

... o cemitério é uma escola, não há dúvida. Fala-nos da morte. Lembra nossa última realidade. Lembra Agostinho de Hipona: “que a morte seja vossa mestra!”. Palavras profundas e tão singelas! Sim, a morte é uma grande mestra. E onde ensina melhor? Onde está sua escola? No cemitério. Quantas lições não nos dá ela! Oh, se os vivos soubessem aproveitar as lições da Doutora Morte! Vamos ao cemitério com sentimentos cristãos e muito aprenderemos lá. Prega a nobreza e a santidade do corpo da pessoa humana; a grande lei da fraternidade universal e eterna; a imortalidade da alma; a ressurreição da carne. Prega a nobreza do corpo humano, cercando-o de respeito e veneração, mesmo quando ele se transforma num montão de ruínas, numa podridão, num punhado de cinzas. Respeita estas cinzas e as quer depositadas num lugar sagrado.

Uma voz parece se ouvir no cemitério como a do Senhor a Moisés: “È sagrado o lugar onde estás, esta terra que pisas”.

Lá dormem os cristãos. Como é doloroso ver-se desrespeitado e profanado o lugar dos mortos com tantas leviandades e até com o escândalo e o pecado. No cemitério conservemo-nos respeitosos como num templo. Oremos e meditemos ali. É lugar sagrado. O cemitério fala-nos que somos todos irmãos. Todos nivelados numa tumba! A diferença dos mausoléus e das sepulturas rasas não tira ao cemitério a ideia do nivelamento, do nada que somos, e da podridão de uma sepultura. Que lição para os orgulhosos! E como devemos nos amar em Cristo, nós que seremos nivelados após a morte até a ressurreição da carne! Debaixo de uma sepultura, todos iguais! Ali não há pobres nem ricos, nem grandes ou pequenos. Já o dissemos, o cemitério cristão prega-nos a imortalidade de nossa alma. Ali não se acaba tudo. Ali começa tudo. É a porta da eternidade, o pórtico da outra vida. Então, pensamos na imortalidade de nossa alma. Olhar para um cemitério com a indiferença deste grosseiro materialismo que hoje aí impera, é muito triste e horrível porque desespera. Cada sepultura é uma porta do céu para o verdadeiro cristão. Uma sementeira onde descansa um corpo que depois de apodrecido como a semente na terra, surgirá ressuscitado para unir-se à alma na eternidade, quando vier a ressurreição da carne. Ressuscitarei um dia! Que doce esperança do cristão!

Tudo isto aprende e medita o cristão num cemitério quando o visita com fé e vive o espírito da Igreja que santifica e abençoa o Campo Santo (Monsenhor Ascânio Brandão).

Conforme a obra “Sentido oculto dos ritos mortuários”, de Jean-Pierre Bayard, os primeiros cemitérios surgem em 10.000 anos a.C. Cerâmicas são encontradas juntos aos corpos e sepulturas agrupadas em torno de 8.000 anos a.C.271 Por volta de 6.000 mil anos a.C. os mortos começam a ser depositados na terra na posição fetal e voltados na direção do sol nascente.272 Em torno do ano 5.000 a.C. surgem os tumulus, monte de terra ou pedras sobre a sepultura, formando pequenas colinas (Vanderlei Mengue Bock).

No começo do século XX, foram importantes os chamados carregadores de cadáveres, que atuavam no itinerário Campos do Jordão-Pindamonhangaba, quando não havia ainda meios de comunicação civilizados.

Profissão brava, que exigia abnegação, além de uma saúde de ferro. Como Campos do Jordão, na época, já despontava como estação de cura de tuberculose, uma moléstia terminal naquela ocasião, o índice de mortes era elevadíssimo, de sorte que o Cemitério da Bazin, não comportava tantos sepultamentos. Por isto, as famílias de alguma posse transportavam seus mortos para Pindamonhangaba, com posterior embarque para São Paulo e Rio de Janeiro, ora para Pirangussú, em Minas Gerais.

O traslado dos corpos para o Vale do Paraíba ou para o território mineiro era uma verdadeira odisseia: o corpo era colocado dentro de uma rede esticada entre dois longos varais, como se fosse uma maca. Os varais eram postos sobre os ombros musculosos dos carregadores de cadáveres, que se revezavam na descida das escarpadas e tortuosas veredas da Serra da Mantiqueira.

Onde se acha, atualmente, o pátio da Estrada de Ferro Campos do Jordão, nas proximidades do armazém de abastecimento em Pindamonhangaba, havia a Capela de Santa Cruz, à margem da linha férrea da Estrada de Ferro Central do Brasil, que abrigava os corpos vindos de Campos do Jordão, os quais, depois, eram transportados, por trem, para São Paulo e Rio de Janeiro.

Eram 25 carregadores de cadáveres, que cobravam, cada um, 25 mil réis. Saíam de madrugada de Campos do Jordão, descendo pelo Alto do Toriba e logo, às cinco da tarde, estavam chegando em Pindamonhangaba. Era necessário o revezamento porque toda a viagem era feita a pé.

Dentre os carregadores de cadáveres conhecidos, registra-se os nomes dos irmãos Bravo: Benedito Frozino, José da Matta Oliveira e Matheus de Lima.

No meio do caminho ocorriam cenas dramáticas, pois, os carregadores, descendo a serra, frequentemente, cruzavam com enfermos, que subiam em liteiras e banguês as escarpas da Mantiqueira. Alguns sucumbiam no meio do caminho, em razão da tuberculose em adiantado estado e também das asperezas do caminho. Neste caso, era preciso regressar, pois de nada valeria a ação terapêutica do clima de Campos do Jordão.

O labor desses homens corajosos e destemidos, que carregavam cadáveres pela força de seus músculos e ombros, pode parecer, à primeira vista, lúgubre e desprezível, mas era uma exigência imposta pelas necessidades e agruras do tempo em que viveram. Se, atualmente, não são admirados, foram indispensáveis na época.

O primeiro cemitério existente no povoado de Campos do Jordão, fora construído em 1898, às expensas de Matheus da Costa Pinto, em decorrência das repetidas aflições dos moradores, que se viam obrigados a transladar os seus mortos a Santo Antonio do Pinhal e Pindamonhangaba, para sepultamento. Eram transportados em redes, em forma de banguês.

O dr. Domingos Jaguaribe, com as terras que adquiriu na região, (incluindo o cemitério), em 1889, transmitiu a Casemir Etienne Bazin, por ocasião da alienação das ditas terras. O velho Bazin passou a ser proprietário de uma grande área de terras localizada na Vila Velha, atual Vila Jaguaribe.

Por ordem do novo proprietário, o campo santo foi cercado e à sua volta plantados eucaliptos pelo empregado, Benedito Frozino. Situava-se à margem direita da atual avenida Januário Miráglia, no sentido Abernéssia-Jaguaribe, ao alto, entre a estrada que demanda o atual cemitério e Vila Jaguaribe.

O cemitério foi inaugurado em 29 de dezembro de 1899. Ali foram sepultados vários pioneiros, dentre eles, o engenheiro agrimensor, José de Magalhães, assassinado por João Rodrigues da Silva, o João Maquinista. Seu cadáver foi o primeiro a ser sepultado nesse cemitério, sendo numeroso o féretro. Situado no Recanto Dubieux, existia uma inscrição em um dos túmulos: “Aqui jaz o Dr. José de Magalhães, barbaramente assassinado”.

Quanto a João Rodrigues da Silva, apresentou-se à polícia em São Bento do Sapucaí, onde foi julgado por três vezes no Tribunal do Júri e por três vezes foi absolvido.

Conta-se que depois que foi sepultado Leon Casemir Felix Marie Bazin, sua esposa dona Bertha, não mais permitiu que ali fosse enterrado mais ninguém. Aí, o povo começou a chamá-lo de “Cemitério da Bazin”. Atualmente, é o recanto Dubieux. Bertha Augusta Guilhermina Bazin faz parte da história de Campos do Jordão. Era casada com o Sr. Leon Casemir Felix Marie Bazin, filho do francês, o velho Casemir Etienne Basile Bazin.

Esse cemitério situava-se à direita de quem sobe a rua Sebastião de Oliveira Damas, no início de Vila Nadir, em local, atualmente, completamente povoado, cujas terras foram doadas em 04 de maio de 1917 por Leon Casemir Felix Marie Bazin e sua esposa, dona Bertha à Câmara Municipal de São Bento do Sapucaí, sob a condição de ser interditado pela Câmara, logo que o novo estivesse cercado e trasladados, no prazo legal, os ossos ali existentes, que seriam arrasados.

O cemitério era praticamente particular e não atendia às necessidades da população, advindo daí o movimento da comunidade para a criação de uma nova necrópole.

O que de fato, surgiu, oficialmente, com o Cemitério nº 1, construído por Simão Cirineu Saraiva, às expensas do embaixador, dr. José Carlos de Macedo Soares, que foi entregue à população em 29 de outubro de 1923, pelo sub-prefeito, Guilherme Lebarrow. Simão Cirineu Saraiva, irmão de criação do dr. José Carlos de Macedo Soares, o mesmo que deu nome à Fonte Simão, foi administrador do Cemitério nº 1. Era todo cercado com muro de cimento armado e loteado em sepulturas. O seu portão de ferro, de entrada, foi doado pelo dr. Roberto Simonsen.

Já, em 1928, o Cemitério da Bazin tinha os seus muros em ruínas, vivia maltratado e devido à falta de lugar, chegou-se mesmo a enterrar na mesma cova um cadáver em cima do outro.

Esgotada a capacidade dessa necrópole, mais tarde, foi edificado o Cemitério nº 2 (atual), na Vila Nossa Senhora de Fátima (Vila Sodipe), inaugurado pelo segundo prefeito sanitário, Bento Cerqueira Cezar (Bentinho), em 01 de junho de 1930.

O necrotério foi abençoado em 06 de junho de 1930 pelo Pe. Ernesto Almírio de Arantes, vigário da paróquia de Santa Terezinha do Menino Jesus por provisão de Dom Epaminondas Nunes de Ávila e Silva, Bispo de Taubaté.

Em 1933, era instalado o Serviço Funerário, administrado até hoje pela Prefeitura Municipal por força do Decreto estadual nº 5.944, de 13 de junho de 1933. Esse serviço era feito anteriormente pela iniciativa particular; Floriano Rodrigues Pinheiro, em sua Construtora Pinheiro, era um dos que fabricavam caixões para sepultamento e Próspero Olivetti, mantinha uma funerária.

Nesse Cemitério nº 2, foi sepultado no dia 26 de novembro de 1937, o cadáver do dr. Robert John Reid. Uma das pessoas que assistiram o seu sepultamento, disse que na hora de descer o caixão à sepultura, não descia, porque a cova aberta era menor que o caixão. Foi preciso serrar um pedaço dele para que o caixão descesse os sete palmos da sepultura. E, comovido, disse entre lágrimas: “Um homem que doou tantas terras para o povo de Campos do Jordão, na hora de ser sepultado, faltou-lhe um pedacinho de terra!” (Dr. Pedro Paulo Filho, advogado e historiador).

O prefeito Orestes de Almeida Guimarães, pela Lei Municipal nº 14, de 08 de julho de 1948, autorizou a empreender a construção de um mausoléu no atual cemitério, numa homenagem póstuma ao ex-prefeito Januário Miráglia.

Em 1º de maio de 1963, sob a administração do prefeito, Dr. José Antonio Padovan, foi lançada a pedra fundamental da Capela do Cemitério nº 2, cuja inauguração ocorreu em 02 de novembro de 1964.

Quando da abertura de loteamento do Cemitério nº 1, na década de 1970, em Vila Nadir, nos serviços de terraplanagem, foram ali encontradas, pelos operários, ossadas humanas.

Durante uma epidemia de varíola no alvorecer do século XX, utilizou-se o estranho costume de sepultar os corpos, cobrindo-se o leito das covas com garrafas fincadas com o fundo para cima, fazendo uma superfície de vidro antes de depositar o caixão. Dizia-se que, assim, o vírus da moléstia não contaminava a terra. Sobre esse cemitério, ergueu-se em 1982, a Escola Municipal Irene Lopes Sodré.

Um fato trágico aconteceu em 1972. Nesse tempo, o Cemitério nº 2 ainda estava sem energia elétrica:

“Já era noite alta quando o corpo do soldado Manoel de Souza Lino Filho chegou do IML de Pindamonhangaba. Ele havia morrido afogado nas águas do Rio Paraíba em Pindamonhangaba SP, quando servia o Exército. O Batalhão do Exército responsável pelo translado atrasou a chegada, o que gerou um clima de mal-estar a todos, familiares e amigos, pois o sepultamento deveria então, ser feito à noite, sem iluminação natural. O sepultamento foi assistido por muitas pessoas, que acompanharam todo o nosso sofrimento. Eram 22h20min. Era o retrato da dor e da tristeza...

... Papai sofreu muito com a morte de Manezinho, os 12 dias sem encontrar seu corpo nas águas do Paraíba, e agora, teve que se submeter a essa cena constrangedora, sob a iluminação apenas de faroletes de algumas pessoas que estavam acompanhando o féretro. Esse sepultamento no escuro, gerou constrangimento a toda a família. Alguns meses depois, recebemos em nossa casa, a visita do nobre Vereador da Câmara Municipal, Tarcísio Coutinho, com a cópia de um ofício dirigido ao senhor prefeito municipal, solicitando que providenciasse luminárias e padrão de energia para o cemitério Municipal. A Prefeitura Municipal de Campos do Jordão, atendendo ao ofício, instalou as luminárias no Cemitério, que passara décadas, desde suas construções às escuras” (Maurício de Souza Lino, autor).

O prefeito sanitário de Campos do Jordão, Dr. José Arthur da Motta Bicudo, foi quem abriu a estrada do atual Cemitério nº 2, localizado na Vila Nossa Senhora de Fátima (Vila Sodipe).

Em 15 de setembro de 1997, o prefeito municipal, Oswaldo Gomes da Silva Filho, pela Lei Municipal nº 2.381, denomina o Cemitério nº 2, “Cemitério Santa Terezinha do Menino Jesus”, em homenagem ao centésimo aniversário da morte da padroeira de Campos do Jordão.

O Cemitério Municipal de Santa Therezinha do Menino Jesus em Campos do Jordão, guarda pedaços da História.

Muito mais do que um lugar de descanso para nossos entes queridos, o cemitério ultrapassa suas funções ritualísticas e religiosas para se tornar, também, um patrimônio arqueológico, histórico e cultural.

Andar por ele pode proporcionar muito mais do que o sentimento de tristeza. Ele oferece uma viagem no tempo.

É também um espaço de manifestações artísticas: sua arte tumular, desperta os sentidos, traz prazer ao observador. Muitas vezes, em algum tempo e espaço, observa-se canteiros de flores tão perfeitos, que mais parecem frutos de projetos paisagísticos.

Com suas coleções de túmulos, únicas, que contam e registram histórias, pode ser considerado como um museu ao ar livre.

Não sou excêntrico nem mórbido, mas, como historiador, tenho um interesse especial pelo cemitério, algo natural e instigante. Por ser de uma cidade pequena, muito me encanta sua simplicidade.

Quando passo por ali, fico a maior parte de tempo imaginando histórias que passam pela escravidão, pela religiosidade e pelo apego aos ritos, pessoas ilustres que ali estão sepultadas sob uma análise crítica de sua importância na história e na formação da nossa cidade.

Há diferentes expressões ali existentes: culturais, econômicas, políticas e religiosas, compreendendo-o, assim, como resultado de construção histórica.

Por esse foco, acredito o Cemitério Santa Teresinha possui um potencial didático, que pode ser utilizado tanto para se estudar a história local quanto para se desenvolver projetos de educação patrimonial. É um patrimônio histórico, um espaço de memórias.

Um fato triste aconteceu na madrugada do dia 05 de agosto de 2004: ladrões arrombaram e invadiram a sala de administração do cemitério, e levaram 12 livros onde estavam registrados os enterros realizados no local, desde 1930. Além dos livros, furtaram títulos de concessão perpétua de jazigos e um computador.

O registro dos nomes das pessoas enterradas a partir de 1970 estão registrados em disquetes, e não foram levados pelos ladrões. Os enterros realizados entre 1930 e 1969 foram perdidos.

A obra do velório municipal foi inaugurada ao lado do portão do cemitério. A construção é dotada de salas que permitem a realização de até 03 velórios simultâneos. Constata-se um capricho nos banheiros, amplos e bem acabados, no fraldário e na pequena cozinha.

As salas destinadas aos velórios são bem iluminadas e podem abrigar até 50 pessoas com folga, 25 das quais, sentadas. O banco de cimento é revestido de azulejo. As paredes são pintadas com tinta acrílica; isso facilita a lavagem. A estrutura de apoio inclui um espaçoso banheiro feminino, com amplos espelhos e pia de mármore com 2 mts. de comprimento. O banheiro masculino é igualmente espaçoso. Há ainda um terceiro banheiro reservado aos deficientes físicos. A cozinha é equipada com pia, prateleiras e fogão. A facilidade de se estacionar é outra vantagem, uma vez que o terreno em volta acomoda 50 carros com tranquilidade.

Em 27 de novembro de 2010, a prefeita, dra. Ana Cristina Machado Cezar, pelo decreto nº 6561, denomina o Velório Municipal, “Antonio Augusto Leitão Padovan” (Guto Padovan).

Algumas Memórias ali Registradas:

1-Dr. Arakaki Masakazu – 1925 – 2008 (advogado, escritor, vereador, prefeito).

2-Dr. Januário Miráglia – 1907 – 1947 (médico e prefeito).

3-Dr. Fausto Bueno de Arruda Camargo – 1909 - 1994 (médico, vereador, prefeito).

4-Dr. José Antonio Padovan – 1927– 2006 (médico e prefeito por 2 mandatos).

5-Miguel Lopes de Pina – 1917 – 2016 (prefeito).

6-Expedito Camargo Freire – 1908 – 1991 (professor e artista plástico).

7-Frei Orestes Girardi – 1921 – 1988 (sacerdote e fundador da SEA).

8-Fausi Paulo – 1931 – 2018 (engenheiro e prefeito por 2 mandatos).

9-Dr. Pedro Paulo Filho – 1937 – 2014 (advogado, escritor, historiador, vereador).

10-Joaquim Correa Cintra – 1916 – 1972 (jornalista, gravurista, comunicador, vereador).

11-Iracema Gonçalves Abrantes – 1924–2009 (Servidora pública, poetisa).

12-Octávio da Matta – 1900 – 1983 (pioneiro e memorialista).

13-Simão Cirineu Saraiva (Chefe de correio, servidor e homem público).

14-Gustavo Biagioni – (empreiteiro, servidor e homem público).

15-Celso Marcondes Ferreira – 1932 – 2016 (escritor, historiador e homem público).

16-Dr. Horácio Padovan – 1905 – 1993 (Vereador, comerciante).

17-Hertz Bohme – 1935 – 2008 - (Empresário e contador).

18-Pedro Paulo – 1906 – 1981 (comerciante e homem público).

19-Agripino Lopes de Moraes – 1918 – 1982 (vereador, benemérito da APAE).

20-Amadeu Carletti Junior – 1977 (Empresário, vereador).

21- Sebastião Gomes Leitão –1901 – 1986 (ferroviário).

21-Dora Lygia Cersósimo Richieri – 1940 – 1970 (educadora).

23-Floriano Rodrigues Pinheiro – 1896 – 1981 (construtor e homem público).

24-Dr. Silvestre Ribeiro – 1915 – 1965 (médico).

25-Dr. João Pedro Além – 2015 – 2009 (médico).

26-Olegário Frozino – 1917 - (Vereador, empreiteiro).

27-Luiz Cesário Richieri – 1932 – 2008 (engenheiro e homem público).

28-Dr. Franklin Alkmin Bueno Maia – 1934 – 2010 (médico e vice-prefeito).

29-José Correa Cintra – 2001

30-Noboro Oya –1929 –2011 (vereador, comerciante).

31-Mathilde Klabunde Dubieux – 1902 –1938 –(benemérita).

32-Antonio Simões dos Reis – 14/01/1974

33-Harry Mauritz Lewin –1909 –1971 (professor, educador).

34-Robert John Reid –1868 –1937 (fundador de Vila Abernéssia).

35-Monsenhor José Vita –1895 – 1972 (sacerdote e homem público).

36-João de Sá –1965 (poeta, autor do hino de Campos do Jordão).

37- Laurinda da Matta (professora).

38-Mary Bueno de Arruda Camargo 1914 – 2007 (Professora).

39-Irmã Maristela Alves Cintra – 1922 – 1988 (Religiosa).

40-Elza Mansur dos Santos – 1926 – 2002 (Funcionária pública, florista).


 

Fontes de Pesquisa:

Folha de São Paulo, 11 de agosto de 2004;

Guia Castelfranchi - Jornal “Todo Dia”, nº 11, de 16 de novembro de 2010;

Vanderlei Mengue Bock “O Culto aos Mortos Como Lugar Teológico a Partir do Tratado: O Cuidado Devido aos Mortos em Santo Agostinho.

BRANDÃO, Monsenhor Ascânio. Tenhamos Compaixão das Pobres Almas! 1948, p. 202-208;

PAULO FILHO, Pedro. História de Campos do Jordão. Campos do Jordão: Editora Santuário, 1986;

LINO, Maurício de Souza. Memórias do Soldado Lino. Diário de um Recruta. Campos do Jordão: Clube de Autores, 2016. Pp. 326.

LINO, Maurício de Souza. Da Freguezia do Imbery aos Campos do Jordão. Campos do Jordão: Clube de Autores, 2017. Pp. 616


Imagens: Amauri Dolomiti/Google



O Sanatório Militar de São Francisco dos Campos do Jordão e o Barão de Bocaina.

De tradicional família paulista, no regime imperial foi chefe do Partido Conservador do Vale do Paraíba, Francisco de Paula Vicente de Azevedo, Barão de Bocaina, nasceu em Lorena, no dia 8 de outubro de 1856.

Foi presidente da Câmara Municipal de Lorena até 1889, fundador, entre outros, do Engenho Central da cidade e da primeira linha de bondes que circulou no Norte do estado e no Sul de Minas.


Pelos serviços prestados à indústria recebeu a Comenda Imperial, a Ordem da Rosa, e em maio de 1887, foi agraciado pelo Imperador Dom Pedro II com o título de Barão da Bocaína.

Após o advento da República, exerceu a diretoria de vários bancos de diversas empresas industriais. Ao regressar de uma longa viagem à Europa, tomou a iniciativa de executar vários melhoramentos com a carta expressa em nosso país, fundando também, em São Francisco dos Campos do Jordão a primeira Estância Climática.

A fazenda foi fundada em 1.881, quando o Comendador da Ordem Imperial da Rosa - Francisco de Paula Vicente de Azevedo -, adquiriu as terras da fazenda e das propriedades ao lado.


Era sede da antiga fazenda de 1.500 alqueires pertencentes ao Barão da Bocaina a 1.700m de altitude. Verdadeira reserva ecológica, preservada a mais de 100 anos pelos descendentes do Barão. Cascatas e cachoeiras, florestas de araucárias, bosques e picos de mais de 2.000m de altitude: tudo isso nas Terras Altas da Mantiqueira.


Foi modelo internacional na criação de gado no fim do Século XIX e escolhida pelo Barão para instalar sua casa de campo, onde viveu por alguns anos com esposa e filhos. No entorno, o pereiral centenário até hoje ainda floresce no mês de setembro.

O fundador da fazenda, Barão da Bocaina, foi o responsável por introduzir a cultura de frutas europeias, e plantar em grande escala o marmelo no município (5.000), entre outras frutas de clima temperado, como pera, cereja, ameixa e pêssego.

Pela fazenda e pela Vila passaram muitas visitas convidadas pelo Barão para conhecer, pesquisar ou aproveitar a região, destacando-se os Presidentes, Marechal Deodoro da Fonseca e Marechal Hermes da Fonseca; o Visconde de Carandiru; o Conde d´Eu; seu primo Arnolpho de Azevedo; seu irmão Conde José de Azevedo; além de cientistas franceses e alemães.


A Vila de São Francisco dos Campos do Jordão foi um projeto do Marechal Deodoro da Fonseca e contava com serviços públicos como correio, escola, clínica, hotel, igreja e mercado. O correio funcionou na Vila até meados do século XX. A alguns quilômetros dali surge o bairro rural de Wenceslau Brás, onde existem algumas propriedades.

No governo de Campos Sales, o Ministro da Guerra, Marechal Mallet, propôs a criação de um Sanatório Militar para tuberculosos em local retirado e saudável.

A escolha do local para a construção no alto da Mantiqueira foi feita pessoalmente pelo Ministro Mallet (filho) em fevereiro de 1902 a convite do Barão de Bocaina. Para isso era necessária a existência de uma estrada de ferro, que veio a se concretizar em 1904 com a vinda do posterior Ministro, Marechal Argolo, definindo também o local para a construção da futura fábrica de explosivos, que para isso, em 1905, foram adquiridas as fazendas de café Sertão, Estrela do Norte e Limeira. A ideia da Fábrica de Pólvora sem fumaça surgida em 1901, é o marco da presença do Exército no Vale do Paraíba. As obras foram construídas entre 1902 e 1907, inclusive o ramal ferroviário Lorena-Piquete.

O sanatório, criado em 1906, funcionou até 1912, ou seja, fechou um ano depois da fundação do primeiro sanatório em Campos do Jordão.
O Sanatório Militar era de sólida e elegante construção e estava otimamente aparelhado para os fins a que se destinava. O Laboratório Militar de Bacteriologia estava magnificamente instalado e no gênero foi um dos principais da América e o Laboratório Químico Farmacêutico possuía excelentes gabinetes de química analítica.

A história do sanatório da Vila de São Francisco ainda é desconhecida. Houve uma tentativa entre os anos 1903-1913, consistente do Sanatório Militar em São Francisco dos Campos do Jordão no alto da Serra da Mantiqueira. Esta tentativa fracassou por diversas razões.

Desativado e saqueado após o seu fechamento por moradores, restou somente ruínas e vestígios.


No mesmo lugar da Vila São Francisco, em 1.969, o filho mais velho do Barão, Francisco, construiu, em homenagem ao pai, o Hotel Pousada do Barão que atualmente se denomina, Hotel Vista da Mata, totalmente restaurado.

Restam da antiga Vila São Francisco dos Campos do Jordão a capela, de 1.894, disponível para visitas; a casa do Barão, em reforma e o pereiral. Há também um memorial (em criação) com informações históricas, obtidas nos arquivos do Barão e de seu filho Francisco.

Fontes de Pesquisa:

Cel. Claudio Moreira Bento, Presidente da Academia de História Militar Terrestre do Brasil.

_______________. Cidades, a força do interior. 2019. Disponível em: <http://spcidades.com.br/cidade.asp?codigo=365>. Acesso em: 15 dez. 2019.

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 "Circo de Tório", o Primeiro Circo em Campos do Jordão e o Circo Las Vegas


Sou de uma geração que ainda teve o privilégio de conviver com o apogeu do circo. Naquela época, a chegada de algum circo na cidade era um momento glorioso. Palhaços, mágicos, trapezistas e feras amestradas eram algumas das atrações que faziam questão em divulgar onde desfilavam pelas principais ruas das cidades, convidando a população em geral.

O tempo foi passando e o espetáculo realizado em picadeiro, aos poucos, foi perdendo o apogeu, ao ponto que a crise se tornou tão forte que quase não se vê mais circo nas grandes cidades. Mas qual ou quais os motivos para o desaparecimento do circo?

O primeiro deles é que quase não há espaço urbano para que possa ser armado; o segundo motivo encontra-se atrelado à falta de inovação nos espetáculos.

Embora enfrentem um período de crise na atualidade, os circos ainda fazem sucesso, principalmente nas reuniões do interior do Brasil.



Em nossa cidade, o Circo Las Vegas está armado na Av. Paulo Ribas, Capivari, ao lado do Tenis Clube Campos do Jordão, levando alegria e diversão aos alunos e crianças da montanha jordanense.

Las Vegas é um circo diferente o qual não tem animais engaiolados ou adestrados. É uma apresentação com acrobatas, contorcionistas, globo da morte, mágicos, malabaristas, trapézios, palhaços, shows e outras peripécias circenses.

Nesse mundo da gente, o circo ensina muita coisa. Existe várias profissões dentro do circo. É uma faculdade em que você aprende de tudo na vida. Shows musicais, malabaristas, equilibristas, apresentadores, acrobatas, mágicos e trapezistas. 

A história do circo, trazendo alegria e magia para o público foi construída com muito trabalho e luta diante das adversidades. Levando alegria e diversão às crianças da montanha jordanense.

Atrações de alto nível que certamente são apresentadas, como também pela descontração que os palhaços levam aos presentes com piadas novas, bem atuais e contextualizadas para a realidade do município. Os profissionais do riso prendem a atenção da plateia e ao mesmo tempo interagem com o público.

Destaque para os malabaristas, os palhaços, artistas que levam alegria ao público de todas as idades. Bravíssimo!

São artistas e funcionários com um belo e primoroso trabalho, que mantém viva a arte maravilhosa do circo de tradição. Um espetáculo de qualidade para toda a família.

Quem ainda não foi, aproveite e vá passar um momento de lazer com sua família no ótimo espetáculo do Circo Las Vegas. Pode levar sua família, pois, trata-se de um excelente espetáculo com atrações de alto nível.

Historicamente, os primeiros registros de eventos de touradas no Brasil datam da década de 1870 e, em geral, ocorriam no Rio de Janeiro. Durante o século XIX e começo do XX, os paulistanos se divertiam com esse tipo de evento, também conhecido como tauromaquia. 

Campos do Jordão não foi diferente na apresentação de espetáculos “Tauromáquicos”.

Noutras épocas, eram bastantes populares no interior do Brasil, os circos de touradas. Não tinham o charme nem as custosas produções que tinham no início deste século os rodeios, cujo modelo foi importado dos Estados Unidos da América, com suas enormes arenas, capazes de acomodar com conforto milhares de aficionados. Os circos de touradas eram geralmente pobres, decadentes e mambembeavam de uma cidade a outra, com seus toureiros de araque, embora corajosos.

Campos do Jordão, gostava de um circo de touradas. Com sua arquibancada circular em volta da arena, onde cabiam talvez 100 pessoas, nem todos eles eram cobertos.

Na maioria dos circos, lona mesmo só em volta das arquibancadas, tapando a visão de quem era muito pão-duro ou não tinha a merreca para pagar o ingresso. A plateia vibrava quando um boi (ninguém falava touro) derrubava o toureiro (ninguém falava peão), pois apesar de quase sempre perder a parada, os bois tinham a favor toda a plateia presente. E não se competia para saber qual toureiro permanecia mais tempo montado no bicho. O toureiro tinha de pegar o touro à unha, literalmente, contando apenas com o uso da capa. Era tourada mesmo, à moda caipira.

Longe das touradas espanholas, os bois eram arrumados pelos fazendeiros locais, muitas vezes bois mansos, que reagiam mais pelo susto do ambiente hostil, numa arena pequena e zuada.

José Benedito Bicudo Junior, em seu livro, intitulado “Os Campos do Jordão do Zé Benedito”, de leitura suave, mas de cunho histórico, registrou algumas histórias de seu pai, José Benedito Bicudo, em Campos do Jordão.

Foi no começo do século XIX, que a família aportou por estas bandas, em viagens de trole, puxado por quatro cavalos, quando ainda se construía a Estrada de Ferro Campos do Jordão. Dentre muitas, a de um pequeno circo de touradas e rodeio, também chamado, pelos mais antigos, como “Circo de Tório”.

Sem televisão, as noites jordanenses limitavam-se à missa na Igreja, ao Cine Jandyra, palco de grandiosos espetáculos cinematográficos, teatrais e dos mais animados bailes carnavalescos nas décadas de 1920 a 1940, e de vez em quando a rotina era quebrada pela chegada de um Circo. Esses espetáculos agradavam a população local... Eram considerados eventos sociais, recreativos e artísticos, atraindo humildes e abonados.

“O primeiro circo em Campos do Jordão aconteceu numa tarde de domingo. Veio gente de toda a redondeza: do Baú; da Campista; dos Correntinos; do Homem Morto; do Lageado; do Barreiro; dos Mellos. Nem se fala do Capivari, de Vila Velha!

Da Vila Nova estavam todos: o Zé benedito e dona Glorinha, trazendo a filha, Aída e o Zezinho, todos de roupa domingueira; João maquinista e dona Sinhá; o Carlquist (João Sueco) e toda família.

O dr. Reid e dona Emília com a saudável filharada; o Rodolfo barbeiro; os da Matta; os Rocha; os Pinheiro; os Frozino; o carpinteiro Moreira com a mulher e as filhas Ana e Alzira; o Felício Raimundo acompanhado da família; Nagib José e a esposa Nazah e os filhos Cecília, Vitória, Raimundo, Nagib e Felício Raimundo Netto.

Vinha com eles o primo Jamil Abrão, recém-chegado da América do Norte, onde fazia sapatos, que a todos chamava de “Shoemaker”, o que lhe valeu, por parte da caboclada, o apelido de “Chumega”, pela profissão que exercia lá. Ele tinha um bar em frente a Estação de Vila Nova, o “Bar do Chumega”, onde o pessoal promovia bailes e fazia reuniões.

Cada vez mais a concentração jordanense aumentava. Agora a família Fracalanza, o Aldo Degli Esposti da Olaria, o Próspero Olivetti e o filho Paschoal, o Lazinho; o Zé-Pão-de Ló; o Guilherme Labarrow e dona Coleta; o Zé Espanhol, primeiro guarda-noturno local que, dias antes, fora atacado, a pau e a navalha, quando em serviço, fazia a ronda. O atacante nunca fora descoberto.

O Neco soldado, com o seu uniforme azul e vermelho, que só vestia quando ia receber o soldo com os metais dourados faiscando, gordo, bonachão, amigo das crianças, dando-se com todos. Antes de assentar praça na gloriosa Força Pública, era carreiro; o Silveirinho com os filhos; o Felipe Salim; o Bejane; os Santa Clara; o Leandro; o Rogério que veio da Fazenda da Guarda junto com outros caboclos; o Nhozinho Santiago com as suas bonitas filhas, que despertavam a curiosidade geral, pois eram cariocas; a dona Ruth, professora da Escola Mista de Abernéssia, de namoro com famoso jóquei do Rio de janeiro chamado Ferreira.

A turma da Pensão Azul era a mais animada. O português Nogueira soltava piadas que provocavam risos gerais. Depois, desfilaram os toureiros montados em cavalos com os arreios enfeitados de fitas coloridas. 

Na frente, o Júlio Toureiro, o dono do Circo. Depois soltaram o primeiro touro, que não mostrava vontade de atacar ninguém. Um caboclinho gritou: _ isso não é touro, é vaca... O Júlio Toureiro se ofendeu e quis briga. O caboclinho era o Vico (Octávio da Matta). Os ânimos se acalmaram e o espetáculo continuou com pegadas à unha de touros.

Foi uma tarde memorável para a Vila Nova, que liderava os acontecimentos em Campos do Jordão”.

As touradas foram proibidas pelo presidente Getúlio Vargas em 1934. O decreto vetou a realização de “lutas entre animais da mesma espécie ou de espécie diferente, touradas e simulacros de touradas”. Já a Constituição de 1988 proíbe as práticas que submetam os animais a crueldade.

Respeitável Circo Las Vegas, parabenizo seus artistas e funcionários pelo belo e primoroso trabalho em manter viva a arte maravilhosa do circo de tradição, onde durante minha infância foi o grande divertimento para mim e meus irmãos quando o circo chegava em nossa pequena cidade e meus pais nos levavam. Vocês são o máximo!

Um espetáculo de qualidade para toda a família. Parabéns a todos vocês; brilhem e encantem adultos e crianças. Parabéns pelo trabalho e que Deus sempre ilumine para que tragam alegria mais vezes em nossa cidade!

Felicitações à organização da companhia circense pelas atrações de alto nível que certamente serão apresentadas, como também pela descontração que os palhaços levarão aos presentes com piadas novas, bem atuais e contextualizadas para a realidade do município. Os profissionais do riso prendem a atenção da plateia e ao mesmo tempo interagem com o público.

E, viva o circo!


















Fontes:

BICUDO JUNIOR, José Benedito. Os Campos do Jordão do Zé Benedito. Campos do Jordão. 1900.
PAULO FILHO, Pedro Paulo. História de Campos do Jordão. Campos do Jordão. Editora Santuário. 1986. Pp.784
Museu Histórico de Pará de Minas.                         


Precipitações de Neve em Campos do Jordão


A neve é um fenômeno meteorológico que ocorre a partir do vapor de água existente dentro das nuvens. Se estiver frio o bastante, este vapor não se condensará em gotículas de água, mas sim como pequeninos cristais de gelo, ocorrendo a sublimação. À medida que o cristal de neve se move pela nuvem, mais partículas de água e neve vão se agregando ao cristal. O acúmulo de cristais individuais forma o floco de neve. À medida que vai ficando mais pesado, o floco de neve cai em direção a terra. Se a temperatura em todo o percurso até o chão estiver fria o suficiente, o floco ainda estará congelado quando chegar ao solo.

Nevada no Brasil não chega a ser um fenômeno raro, porque em Santa Catarina e no Paraná, de tempos em tempos, o campo amanhece coberto por um lençol branco.

A grande dificuldade para a ocorrência da neve na Serra da Mantiqueira reside do fato de ela estar em latitudes tropicais, o que ocasiona um regime de chuvas que tende a se concentrar durante o verão. A redução na média pluviométrica durante o inverno registrada em Campos do Jordão, não ocorre nas serras gaúchas e catarinenses, que tem neve em praticamente todos os anos.

O registro de neve na Serra da Mantiqueira não é uma exclusividade jordanense. Já ocorreram precipitações em Monte Verde, Pedralva e Camanducaia, todas no sul de Minas. No Maciço de Itatiaia no Rio de Janeiro, o fenômeno ainda se apresenta em média uma vez a cada três anos. A nevada ocorrida no alto do Itatiaia em 12 de junho de 1985 foi tão intensa e espetacular, que da rodovia Presidente Dutra, na altura de Resende-RJ, foi possível avistar os cumes das montanhas brancos e com um intenso brilho provocado pela neve, que teimou em permanecer nos picos por quatro dias, apesar do sol.

Na Mantiqueira e no sul do Brasil, a neve segue a linha das araucárias, ou seja, onde há esta árvore, significa que, teoricamente, há possibilidade de queda de neve, mas em geral, nos estados da região sudeste o fenômeno sempre ocorrerá acima dos 1.500 metros de altitude.



O clima de Campos do Jordão já não é mais o mesmo e está bem mais quente que no passado.

Estudos dizem que nos dias atuais, as temperaturas médias durante o inverno, estão pelo menos 1.7ºC mais altas que as temperaturas do início do século XX, e para este mesmo período, hoje chove pelo menos 33 mm a menos do que naquela época.


Campos do Jordão está hoje com um clima mais amenos devido ao aumento das temperaturas dos últimos anos, aumento da malha urbana, diminuição da área florestal com a derrubada das matas nativas etc. Com isso, o fenômeno da neve, definitivamente deixou de existir na cidade. Mesmo entre os moradores da cidade existe o consenso de que o clima da cidade mudou muito.

E de pensar que em 1951, Campos do Jordão já chegou a ter mais de 20 mil pés de maçã, hoje o clima já está muito quente para este tipo de cultura, hoje já é até possível encontrar pés de abacate e limoeiros na cidade, árvores típicas de climas bem mais quentes que Campos. Até as geadas, que no passado, ocorriam em média 46 dias por ano, hoje estão cada vez mais escassas.

● 1892 - Segundo relatos, entre 1892 e 1896 ocorreram outras duas nevadas, mas todas de pouca intensidade:


Em maio começa o inverno nos Campos do Jordão. É o tempo das grandes geadas noturnas, o dos claros dias, lindíssimos, de deliciosa pureza celeste, o frio seco e o ar muito fino, de uma doçura divina.

● 1896 - Sob o fino lençol de neve, que amanhece pelos cerros, e que o primeiro sol derrete, murcham, então, rapidamente as ervas todas. O campo adquire um tom pardacento e tristonho. Só os pinheirais resistem verdes, enquanto o mais, arbustos e árvores despidas, esperam, na melancolia esquelética dos seus braços hirtos, pelas alegres rejuvenescências verdes e ridentes de setembro promissor.

● 1916 - Antigamente, em dias frios com formação de geada, havia formações de grossas placas de gelo nas poças d´água, onde o gelo se mantinha, em alguns casos, até ao meio dia.


No belíssimo livro de Balthazar de Godoy Moreira, intitulado, há um comentário sobre o frio de antigamente, numa passagem o autor descreve:

“Em 1916, na Guarda (hoje Horto Florestal), fazíamos sorvete às 03 horas da tarde com o gelo que colhíamos de manhã, nas poças d´água ou bacias que deixávamos cheias ao relento…”. (Balthazar de Godoy Moreira - E os Campos do Jordão foram Pindamonhangaba).

● 1921 - Em Campos do Jordão, a linda e pitoresca estância tão recomendada para os enfermos de moléstias dos brônquios, o termômetro marcou, nos dias 16, 17 e 18 de junho de 1921, - 12º. Frio siberiano, temperatura polar. A neve, num vasto e imaculado lençol, cobriu os campos, atulhou de gelo as estradas e as encostas das montanhas, destruindo, requeimando vinhedos e outras plantações. (Jornal Arealense de 18 de junho de 1921).

● 1928 - No longínquo ano de 1928, mais precisamente em 31 de julho, a neve veio forte e intensa naquele dia, e começou a cair por volta das 2h da madrugada, estendendo-se sem parar até às 10h da manhã, acumulando 20 cm de espessura e se tornando a mais intensa nevada ocorrida na cidade. Junto com aquele frio todo vieram alguns percalços provocados pelo excesso de congelamento que provocaram o estouro dos canos d´água, fazendo com que as torneiras se negassem a fornecer água. Os galhos das árvores arqueados pelo peso da neve que se quebravam aqui e ali. A cena foi presenciada por pouco mais de uns 5000 moradores que habitavam a cidade, que mais parecia uma vila naquela época.

● 1933 – Comunicam de Campos do Jordão que a onda de frio que se vem estendendo, há dias, do Sul, atingiu dia 21 de junho àquela cidade tendo caído uma forte camada de neve. O panorama local foi transformado, parecendo que sobre os campos havia sido colocado um interminável lençol (Diário da Noite, 22 de junho de 1933).

● 1936 – Frio que mata! Nas outras cidades, onde tem caído intensas geadas, a temperatura é de 6 graus abaixo de zero. Receia-se que as geadas tenham causado enormes estragos á lavoura. Campos do Jordão está coberto de neve desde sábado de manhã. Continua a soprar do sul vento muito frio.

● 1939 – No dia 30 de abril, enquanto o carioca se queixa do calor nesta temperatura senegalesca que nos abafa, a todos, a poucas horas do Rio de Janeiro, ali em Campos do Jordão, cai neve. (O Estado, 08 de março de 1939).

Nevada no Brasil não chega a ser um fenômeno raro, porque em Santa Catarina e no Paraná, de tempos em tempos, o campo amanhece coberto por um lençol branco. A queda de neve em Campos do Jordão, constitui, certamente, um motivo de curiosidade e de interesse.

No dia 30 de setembro de 1939, já na estação da primavera, de acordo com o calendário oficial, Campos do Jordão foi visitado pela neve e chuva de pedra.

Os jardins, as casas e a campanha ficaram atapetados de branco. E era interessante ver as árvores verdes, surgindo da terra gelada, como se a primavera houvesse rebentado antes do degelo. (Revista O Malho, 1939).

● 1947 - Outra nevada que proporcionou um charme todo especial à cidade, ocorreu em 11 de junho de 1947, quando nevou por 3 horas consecutivas.

● 1951 – Campos do Jordão foi sempre chamada “A Suíça Brasileira”. Não quis a cidade, desmentir o título. E o confirmou até nos detalhes, quando, de manhã de um frígido dia de julho, a casa da Vila Natal, de propriedade do sr. Oscar Reynaldo Muller Caravellas, despertou coberta por um manto alvo. Era a neve. Foi uma cena europeia.

● 1953 – Nesta data, 09 de julho de 1953, segundo notícias procedentes de Campos do Jordão, a temperatura nesta localidade está abaixo de zero, nevando constantemente. (Rio, ASAPRESS).

● 1964 – Sombras no termômetro, de recordes negativos. Construindo barreira de gelo nas nuvens e até baixando neve em Campos do Jordão. A neve voltou a encantar os moradores e turistas na noite de 27 de julho de 1964, quando nevou em Campos do Jordão durante uma hora. Naquela noite havia tanto gelo na atmosfera, que a ponte aérea Rio – São Paulo teve que ser fechada, pois o acúmulo de gelo nos aviões fazia com que esta rota se torna demasiadamente perigosa para a segurança dos voos. O frio era muito intenso e provavelmente neste dia foi registrada uma das menores temperaturas já registradas na cidade, -8.0ºC. (Correio da Manhã, 02 de agosto de 1964).

● 2021 - E desde este ano de 1964, até os dias de hoje, não mais ocorreram precipitações de neve no município, mas ocorreram em outras regiões da Mantiqueira. Hoje em dia a geada está escassa e visivelmente mais fraca, formando um gelinho aqui outro ali e que mal dura até às 9h da manhã.








Fontes de Pesquisa:

Jornal “Diário de Notícias”, de 25 de agosto de 1891;

Jornal "Diário da Noite", de 22 de junho de 1933;

Jornal do Brasil, de 22 de junho de 1933;

Jornal "O Estado", de 08 de setembro de 1939;

Jornal de Notícias, 02 de setembro de 1951;

"O Jornal", de 31 de julho de 1928;

Jornal "Correio Paulistano", 09 de julho de 1953;

Jornal “Correio da Manhã”, de 02 de agosto de 1964.

Pedro Paulo Filho, História de Campos do Jordão, 1986; Estórias e Lendas do Povo de Campos do Jordão,1988;

Rodolfo Souza, A Neve no Brasil - Dissertação de mestrado – FFLCH – USP;

Revista “Aero Magazine”, Rubens J. Villela, artigo sobre formação de gelo em aeronaves;

Balthazar de Godoy Moreira, "E os Campos do Jordão foram Pindamonhangaba".


Crédito das fotos:


Marcelo Romão: especialista em Meteorologia - marcromao@hotmail.com

Revista “O Malho”, 1939;

Condelac Chaves de Andrade, Almanaque - ano 1940.


Links:



Mercado Municipal de Campos do Jordão




Mercado Municipal é um prédio histórico localizado no centro da Vila Abernéssia. Foi projetado pelos Arquitetos Walter e Paola Pestalozzi. O prefeito nomeado, Dr. Antonio Nicola Padula, nomeou o futuro prefeito, engenheiro civil, Fausi Paulo, a partir de 01 de janeiro de 1956 para a sua construção, e em 1957 foi iniciada pela administração direta da Prefeitura Municipal, usando pessoal de seu quadro de funcionários, repassando uma verba no valor de Cr$ 5.700.000,00 (cinco milhões e setecentos mil cruzeiros), do Departamento de Obras Sanitárias do Estado de São Paulo – D.O.S. Sua inauguração ocorreu em 16 de novembro de 1958, quando ainda tinha a cobertura central, espaço por muitos anos utilizado pelas diversas bancas de frutas e verduras.

Uma nova cobertura central foi introduzida, onde permaneceu por algumas décadas abrigando os comerciantes estabelecidos com comércio de frutas e verduras.
Alguns anos atrás, a cobertura foi totalmente retirada, e os comerciantes estabelecidos nesse espaço foram obrigados a procurar outros locais para seus estabelecimentos. O espaço foi, até há pouco tempo, utilizado para ajardinamento.

Depois de quase 10 anos de obras e modificações estruturais, o Mercado Municipal de Campos do Jordão finalmente é entregue aos permissionários e à população devidamente reformado e atualizado.

Com as obras encerradas, o Mercado Municipal volta a ser utilizado por usuários e permissionários para atendimento da população jordanense e está pronto para abrigar as tradicionais bancas de hortifrutigranjeiros, novas atividades e eventos especiais.

O objetivo é resgatar a importância do Mercado Municipal para a comercialização de pequenos produtores, bem como um centro de convivência para aqueles que procuram produtos alimentícios de qualidade, com feiras livres para venda de produtos orgânicos e regionais; exposição e feira de flores; venda e exposição de artesanato; e aos domingos comercialização de comidas, preparadas pelos melhores restaurantes da Vila Capivari, para serem levados para casa.

Um local agradável e tradicionalmente preparado para a realização de atrações culturais e eventos que atendam as expectativas da população.




Mapa em azulejos na parede do Mercado Municipal


Sobre as habilidades artísticas de Joaquim Corrêa Cintra, influenciadas por seu pai, há de se destacar os desenhos e pinturas, que também faziam parte de sua rotina artística. Fazia decorações das paredes e de palco do cinema, para bailes de carnaval.

Porque Joaquim Correa Cintra tinha facilidade para o desenho e a pintura, sua produção de mapas de Campos do Jordão, foi intensa. No período em que foi Diretor do Turismo, muitos folhetos de propaganda com desenhos de Campos do Jordão e mapas turísticos foram feitos e publicados por ele.

Traçou um mapa turístico, para o catálogo de programação do Dia da Cidade, em 1959, e um outro mapa da cidade, feito em 1967, originalmente colorido tem sua autoria. Um painel com um colorido mapa da cidade esteve por alguns anos decorando a parede da DMTur e uma outra proposta de mapa, também de Joaquim, atualmente enfeita a parede ao lado do mercado municipal, em Vila Abernéssia, tendo sido elaborado com pequenos azulejos.

Suas artes ficaram para a posteridade, contando um pouco da história da cidade que o recebeu.

Fontes:

HARGER, Adriana. O "Seu Cintra": A História de Joaquim Corrêa Cintra. Campos do Jordão: Tachion Editora, 2016. 248 p.






















Lírio-do-brejo - Imbiri - Canna Glauca - Albará - Hedychium Coronarium -
 Neve Doce...
Originárias das altas montanhas do Himalaia, sempre perenes, hoje possuem famílias em todas as regiões dos trópicos; no Brasil, especificamente, têm representantes nos Estados de Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Espírito Santo e São Paulo, nas áreas de medicina, gastronomia, perfumaria e paisagismo. Trata-se do lírio-do-brejo, o imbiri.
Ainda é incerto quando se deu sua introdução neste país; especula-se que durante o período colonial, a planta chegou ao Brasil, oriunda do continente africano, carregada em navios negreiros, pelas palhadas utilizadas como camas dos escravos nos navios, e depois para fazer camas nas senzalas, cuja palha do colchão consistia de lírio-do-brejo e diversas gramíneas.

Seus registros mais antigos no país consistem em um espécime em Kew Garden, coletado pelo dr. Glaziou, em 1860, e na elaboração da Flora Brasiliensis por Martius e Schumann K. (entre 1840 1906 – Royal Botanical Gardens, 1912). No Brasil, o livro, “Dicionário de Botânica Brasileira”, de Joaquim de Almeida Pinto, de 1873; e “Dicionário de Plantas Medicinais Brasileiras”, de Nicolau Joaquim Moreira, de 1862, descrevem brevemente sobre o termo Imbiri.

O que se sabe da Flora Brasileira, com poucas exceções, foi referido pelo Jesuíta, Pe. Jose Anchieta, Pe. Gabriel Soares, e pelo cronista, Simon de Vasconcellos.

Os naturalistas que mais se ocuparam dela, foram Willen Guilherme Pison e Greog Macgraves, que acompanharam ao Brasil, o príncipe Maurício, conde de Nassau, em 23 de janeiro de 1637, e João Vigier, únicos, dos tempos primitivos do Brasil.

Depois, D. Alexandre Rodrigues Ferreira, Dr. Martius, Saint-Hilaire, e Dr. Lacerda, no Maranhão, que fez estudos especiais em si, em relação a terapêutica, cujos manuscritos estão na Biblioteca Pública do Rio de Janeiro, bem conservados.

Sob o seu comando, na missão científica, dois pintores, o latinista e poeta Franciscus Plante, o astrônomo e naturalista Greog Macgraves, e os médicos Willevan Milaenen e Willen Guilherme Pison, tinham eles a tarefa de documentar a flora, a fauna e os habitantes da terra sob as ordens da Companhia das Índias Ocidentais, nos territórios conquistados na faixa nordestina do litoral brasileiro, compreendendo atualmente desde o Estado de Sergipe ao Estado do Maranhão.

Willen Guilherme Pison, holandês, com conhecimentos em história natural, desembarcou no Brasil em fins de 1613, e como médico pessoal, acompanhou e cuidou do príncipe Maurício de Nassau, governador de Pernambuco, durante a ocupação holandesa. Realizou um levantamento científico do Brasil, aproveitou a estadia para estudar a patologia tropical e recolher coleções de história natural. Por sete anos esteve no Brasil. Foi um dos primeiros a se ocupar da botânica médica. Esteve no Rio de Janeiro em 1637. Ao retornar à Holanda escreveu em 1644 um compêndio intitulado “De Medicina Brasiliense”, e a primeira parte da obra “História Naturalis Brasiliae”. Foi luminar da medicina exótica, e é considerado um dos fundadores da medicina tropical. Cientista, médico e naturalista, nasceu no ano de 1611. Médico do Palácio, destemeroso batedor de sertões, estranho sábio rústico que andava pelos matos a escrever a sua clássica História, “Naturalis Brisiliae”.

Em 1651, Willen Guilherme Pison menciona outra espécie, conhecida popularmente como Albara ou Pacivira, que crescia em lugares escuros e úmidos, entre os trópicos. Essa espécie era a Canna angustifolia, posteriormente, reclassificada como Canna glauca. Diz o naturalista que os negros, comiam suas raízes e serviam-se delas cozidas para madurecer as postemas. Assim, maturativas, fazia supurar tumores.

Segundo Pison, o nome de albará pertence o imbiri. Sinonímia: Albará, imbiri, coquilho, erva-dos-feridos, bananeira--do-mato, caeté-imbiri, maracá, muru. O naturalista Pison morreu em 1678.

Dentre as espécies ornamentais, lista elaborada com base no cruzamento com as informações contidas no livro, “Plantas Ornamentais no Brasil” de Harri Lorenzi e Hermes Moreira de Souza, consta a Canna glauca, com o nome popular “Caeté-imbiri”, uma herbácea.

Imbiri, Canna glauca (verde). Gr. Ymbiri = Cannace. As (Junco d'agua), da família das Canáceas. Sobre o substantivo á, que serve de gênero, uá; e yuá ou ybá, temos a dizer que á ou uá significa propriamente fruto, em geral, e que yuá ou ibá devido este, è pronúncia castelhana, exprime somente a fruta das árvores, e uá o fruto, como, ybirá, que degenerou em ymirá, mbyrá, ibirá, muirá, myrá, mará, e até em guirá, se deriva, também, de yb e byr, que se eleva, que cresce, com o sufixo á.

É notável que a etmologia de ybirá seja idêntica à que originou o termo arbor, árvore, arbre, tree, dendron, pelo sânscrito dru, druma e vrikhsha, significando também o que cresce, o que se eleva. A este termo dão também no Paraguay outra interpretação, aliás errônea. Fazem derivar de yby, terra, e á, fruto, o fruto da terra, do solo. Não se deve confundir yba com ybá, porque o primeiro significa árvore e o segundo, fruto. O a do primeiro é um sufixo da índole portuguesa de adicionar esta vogal às palavras abanheengas (tupy), que a não tem, isto com o fim de aportuguesá-las. Daí nasceu uma das corruptelas que separa o Tupy, do Guarany. Dividem os indígenas as plantas, como vimos, em ybyrá, ou mbyrá, árvores, kaá, ervas ou arbustos ou scypó ou cipó, trepadeiras.

Apesar de sua distribuição original ser predominantemente asiática, foi introduzida no Brasil como planta ornamental há mais de 400 anos. Extrapolou os limites dos jardins, estabelecendo populações que avançam e dominam ambientes úmidos e alagados, causando impactos ambientais e danos econômicos.

Como tantas outras espécies exóticas, tem um enorme potencial de modificar sistemas naturais, o que as torna, invasoras, fora da região do Himalaia, seu centro dispersor. Alguns agricultores e pesquisadores a consideram planta daninha, invasora, por apresentar crescimento rápido e negativo, o que, em muitos casos, pode resultar em perda para a biodiversidade local. Substituindo a vegetação original, expulsando-as ao seu redor, espalhou-se por todo o bioma da Mata Atlântica, em sua zona litorânea, dificultando que outras nativas brotem, pois, forma densas infestações que obstruem pequenos riachos e canais.

Por ser uma planta vigorosa, é utilizada para contenção de encostas. A maioria das invasoras no Brasil veio da América e África, ainda na época da colonização. Doutra sorte, sempre perenes, o lírio-do-brejo é possuidor de grande importância econômica.

São utilizadas na limpeza de esgotos, pois possuem no extrato do rizoma, atividade antimicrobiana, eficiência sobre patógenos, e usadas na roça, como um filtro natural de água, quando plantadas na beira e ao longo de um córrego.

A espécie fornece fibras têxteis e celulose para fabricação de papel, destacando-se como matéria-prima na produção de papel em décadas passadas utilizada em Morretes no Estado do Paraná, já que a sua haste contém de 43 a 48% de celulose, e as suas folhas possuem uma grande quantidade de lignina.

Atende ao paisagismo, sobressaindo-se como ornamental, devido à sua delicadeza e especialmente quanto ao perfume muito agradável exalado de suas flores brancas, e à sua folhagem.

Usam seu perfume intenso em velórios, na ornamentação de eventos fúnebres e para a feitura de ramalhetes e guirlandas. Por ser uma linda flor, é frequentemente usada em buquês nupciais. Ecologicamente, fornecem néctar para as abelhas.

Seu nome científico é Hedychium Coronarium. A palavra, Hedychium, vem do grego: “hedys”, que significa doce, e “chion”, que significa neve, em alusão à cor branca e ao perfume agradável da espécie. Significa, “neve doce”. A palavra coronarium, do latim, “corona”, significa coroa. O sobrenome foi-lhe dado porque antigamente servia para as grinaldas e coroas que davam aos vencedores dos jogos olímpicos na Grécia antiga.

Outras espécies do gênero, da mesma família, são cultivadas no Brasil: Hedychium coccineum, que difere pela inflorescência densa de flores vermelhas a rosadas; Hedychium gardnerianum Roscoe, que difere pelas flores amareladas em inflorescência mais densa; Esterhazya splendida.

Ficaram tão conhecidas, popularmente, que chegaram a receber outros nomes: bastão de São José; gengibre-do-brejo; gengibre-branco; Mariazinha-do-brejo; lírio-branco; lírio de maio; lírio-d’água; lírio-convalaria; lágrima-de-moça; lágrima-de-vênus; maracá; coquilho; albará; bananeira-do-campo, jasmim-do-brejo; jasmim-borboleta; erva-dos- feridos; e outras denominações. Até em Cuba, foi promovida como Flor-Símbolo da nação: Lírio-borboleta, devido ao formato de sua flor.

O lírio-do-brejo, na Idade Média, era colhida para festejar as noivas e, na França do Renascimento, Charles IX recebeu um galho no dia 1° de maio, instituindo, a partir de então, o costume de oferecer muguets – lírio do vale – às damas da corte nesta data. Tornou-se um símbolo do mês de maio, que é tempo de primavera na Europa.

O costume se espalhou ainda entre as costureiras do país que ofereciam como um símbolo de boa sorte às crianças na mesma data. Transformaram essa flor em um belo símbolo da festa do trabalho.

No Estado do Rio Grande do Sul, o interesse pelo estudo da flor lírio-do-brejo se deve ao fato de que ainda não havia sido estudada para obtenção de ativos naturais destinados à produção de cosméticos ou outras finalidades.

Um estudo se desenvolveu no contexto do MBA Business Intuition: “O Empreendedor e a Cultura Humanista”, da Faculdade Antônio Meneghetti e contou com a colaboração do Laboratório de Farmacognosia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e do Laboratório Herbarium, de Curitiba para a identificação dos ativos da flor. A elaboração dos produtos é da Farmácia Essencial com sede em Porto Alegre.

As premissas do desenvolvimento sustentável permearam o trabalho que se apresentou e os resultados alcançados até a presente data são a elaboração e comercialização de mais de trinta produtos da marca Lilium Recanto. Com perfume forte e agradável idêntico ao do jasmim, sua raiz e seu óleo, aromático, começou a ser usado na perfumaria, na indústria cosmética, na fabricação de perfumes, óleos essenciais e cremes.

Nesse distrito, Recanto Maestro, em São João do Polêsine e Restinga Seca, RS., o Lilium se destacou na arte dos perfumes.

Esta localidade é famosa por abrigar vários condomínios de luxo e os vários empreendimentos feitos pelo italiano Antonio Meneghetti, como a Antonio Meneghetti Faculdade; a Fundação Antonio Meneghetti; e a Associação Brasileira de Ontopsicologia. Produziu um filme, intitulado “Recanto Maestro: De um Local Abandonado a um Centro Internacional de Arte de Cultura Humanista”, mostrando a evolução do distrito, desde o registro histórico sobre a imigração italiana até os dias atuais.

A Lilium Recanto é uma linha de cosméticos desenvolvidos com as flores brancas e delicadas do lírio-do-brejo, enriquecido com os nobres efeitos do aloe vera. A flor é uma espécie delicada que exala um aroma suave e desenvolve-se facilmente no verão nas encostas dos riachos do Estado do Rio Grande do Sul e outros Estados do Brasil.

Este estudo é fruto de uma minuciosa pesquisa realizada pela farmacêutica e bioquímica, Maria Lúcia Carrara, sobre a flor – Hedychium Coronarium, popularmente conhecida como lírio-do-brejo – durante o MBA da Antônio Meneghetti Faculdade, constatando-se propriedades químicas relevantes para a utilização e produtos cosméticos.

Pesquisa inédita, fez com que um princípio ativo natural até então inexplorado pudesse ser utilizado para o benefício do ser humano por meio do potencial medicinal e estético da flor.

Como resultado do desenvolvimento, uma fábrica sustentável de cosméticos foi implementada no distrito, possibilitando o avanço na pesquisa brasileira e oportunizando geração de empregos na região central do Estado, com respeito das diretrizes ambientais.

A combinação da delicada flor do lírio-do-brejo aos nobres efeitos do aloe vera permite uma ação antioxidante, prevenindo o envelhecimento, auxiliando na melhoria da microcirculação, assim como, na ação calmante, hidratante, nutritiva e regeneradora da pele.

Todos os produtos são fabricados com o extrato e óleo essencial das pétalas desta flor brasileira, cuja pesquisa inédita foi desenvolvida no Distrito Recanto Maestro, local que é referência internacional por aplicar um novo modelo de desenvolvimento e inovação sustentável, em consonância com os Oito Objetivos de Desenvolvimento do Milênio da Nações Unidas.

O lírio-do-brejo também se destacou na área gastronômica. Se não se pode vencê-la, come-se! Assim se faz com as plantas que invadem os lugares e se multiplicam sem pedir permissão. Sempre conhecidas como “pragas”, agora foram alçadas ao status de PANCS: Plantas Comestíveis Não Convencionais, ou seja, dá pra comer, mas não temos o hábito. O que é fenomenal, pois é uma forma de aproveitar alimentos que geralmente não aproveitamos, e que na maioria das vezes, são espontâneos e baratos. Isso acontece também com o conhecido com o lírio do brejo.

O termo “PANC”, -Plantas Alimentícias Não Convencionais no Brasil - foi cunhado pelo fluminense biólogo, pesquisador, botânico e professor do Instituto Federal do Amazonas, Valdely Ferreira Kinupp. Em 2007, ele apresentou sua tese de doutorado sobre PANCs da região metropolitana de Porto Alegre. A tese fez barulho no meio acadêmico e acabou apresentando o trabalho em várias cidades do País.

Quando ainda estava na graduação, em 2000, Valdely Kinupp estreitou laços com o engenheiro agrônomo, Harri Lorenzi, autor de livros de botânica e idealizador do Instituto Plantarum em Nova Odessa, SP, um viveiro de quase 4 mil espécies, aberto à visitação.

O contato entre os dois pesquisadores virou colaboração intensa e, ao longo de dez anos, a dupla viajou pelo Brasil para identificar plantas com potencial culinário. O resultado foi publicado em 2014: “Plantas Alimentícias Não Convencionais no Brasil” - PANCs.

O livro virou a Bíblia do movimento, com a identificação, tabela nutricional e receitas de 351 espécies de plantas até há pouco tempo, consideradas daninhas, como o Hedychium coronarium, muito comum na Mata Atlântica do Estado de São Paulo.

De seus rizomas, parentes do gengibre, rico em amido, novos e frescos, quando se extrai a fécula, transformada em polvilho, pode virar biscoitos, farofas, cremes, pães, mingaus, doces, mousses e pudins.

Para transformar em farinha (polvilho), bate no liquidificador com água, espere decantar e secar a “pasta” – deixando pendurado num pano, como queijo, para escorrer. Depois de seco, está pronto para virar pãozinho. A fécula comestível, é usada também na alimentação de animais de criação.

O gengibre tem um picante delicioso, floral e aromático. Dá para usar como refresco, em sucos, molhos, sorvetes, quentão e para perfumar bebidas como infusões e licores. Vinagrete de raiz de lírio-do-brejo.

A flor pode ser consumida crua na salada, tendo um sabor adocicado e com um pequeno toque picante no final, ótima cardiotônica (capacidade de aumentar a força de contração dos músculos cardíacos, prolongando o tempo de condução do átrio para o ventrículo, resumindo aumentar a força contrátil do coração). A flor branca fresca e crua, combina muito bem numa salada de folhas verdes. Pode ser rapidamente aferventada e recheada a gosto ou, ainda, transformada em infusão e usada em geleias e mousses. Outra opção, é acrescentar a flor na finalização de um risoto.

O processo de tentar aproveitar o lírio ao máximo: polvilho, geleia, compotas, conservas, chá. Sempre você pode colher umas flores e deixar enfeitando e perfumando, enquanto faz geleia de lírio-do-brejo nas tábuas de queijos e embutidos; flores frescas em um risoto de lírio-do-brejo e cogumelos da Mantiqueira.

Gelatina de leite de coco e leite de cabra, com lírio-do-brejo. As folhas podem enrolar as carnes que assam nas brasas. Chá gelado de picão preto com lírio-do-brejo.

A família do Lírio-do-brejo também se destacou na tradicional medicina popular. De acordo com Lorenzi, Souza (2001), na família, há espécies que podem atuar como medicinais, béquico, excitante, tônico e anti-reumático.

Um dos representantes mais importantes da família pertence ao gênero Zingiber(gengibre). É repleta de propriedades farmacêuticas, principalmente os seus rizomas e óleos. A estrutura, composta por parte do caule e da raiz, produz o gengibre-branco, cujo óleo liberado, torna-se eficaz para o tratamento de vômitos, inflamações e problemas pulmonares.

Acalma a tosse, problemas na garganta e irritações da faringe e diminui os gases. Suas flores e folhas, na forma de infusão, apresentam potente efeito diurético e redutor da pressão arterial. O chá de suas folhas também é empregado, em uso externo, contra coceiras e micoses, e o suco é empregado nas otites. Possui folhas tão macias e frescas, que quando aplicadas e socadas sobre feridas, úlceras, queimaduras e lugares vesicados, a propriedade cicatrizante impressiona e tornando-se um grande antisséptico, combatendo bactérias. De acordo com a medicina tradicional chinesa, suas folhas e seus rizomas servem contra dores de cabeça, dores intensas, contusões e reumatismo, e seu extrato, usado no tratamento de dores e infecções em geral. Na Índia, o rizoma seco ou moído, mexido com leite de vaca, é potente no tratamento da diabetes; isso devido ao comprovado óleo hipoglicêmico, encontrado na espécie de mesmo gênero; mas, ainda não há estudos conclusivos que mostrem o efeito dessa flor sobre os diabéticos.

O patrimônio cultural se fez presente no Festival de Inverno de Ouro Preto e Mariana – Fórum das Artes, 2013. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) promoveu o Encontro “ProExt – Extensão Universitária na Preservação do Patrimônio Cultural – Práticas e Reflexões” com o tema “Gastronomia de Quintal”, em uma de suas oficinas. Do tradicional ao contemporâneo, o objetivo foi resgatar e desvendar os sabores e saberes da identidade cultural da culinária mineira, a boa cozinha e o jeitinho mineiro de ser aliada a gastronomia atual com toques de modernidade. Trazendo novo olhar ao a tradicional fazendo paralelo com outras culturas culinárias e alimentares nacionais e internacionais. Propondo a utilização de insumos dos quintais mineiros como limão capeta, urtiga, lírio-do-brejo, lagrima de Nossa Senhora, ipê amarelo na produção de geleias, conservas, compotas, quitandas, chutneys, pratos salgados e doces.

O lírio-do-brejo conquistou as áreas alagáveis da América Tropical, sendo uma das espécies mais comuns no Brasil nesse tipo de ambiente. Flor da região da Serra da Mantiqueira, onde há muitas variedades dela nas áreas de vegetação secundária e de mata ciliar no sopé da serra, é mais frequente nas regiões Sul e Sudeste, tropicais e subtropicais, na Mata Atlântica. Adaptou-se muito bem no solo montanhoso de Campos do Jordão. Dá aos montes no mato, frequentemente encontrada nas margens de lagos, à beira das matas, dos rios, lugares pantanosos, onde o solo é úmido e rico em matéria orgânica, o que facilita seu desenvolvimento, serve de abrigo para a fauna silvestre em lugares úmidos ou brejos e floresce nos meses da primavera. Por estar localizada nas proximidades do Pico do Imbiri e Ribeirão do Imbiri, lugares que também levam o nome da planta, Matheus da Costa Pinto, o fundador da cidade, soube muito bem disso, e não é à toa que criou raízes junto ao rio que leva o nome, IMBIRI, pela extensa quantidade da planta, e deve ter se inspirado a dar o primeiro nome à cidade (Vila São Matheus do Imbiri). 

Fontes:

Dicionário de Botânica Brasileira de Joaquim de Almeida Pinto. Rio de Janeiro. 1873.
Dicionário de Plantas Medicinais Brasileiras de Nicolau Joaquim Moreira. Rio de Janeiro. 1862.
HOEHNE, F.C. Plantas e Substâncias Vegetais Tóxicas e Medicinais. São Paulo, Graphicars, 1939.
LORENZI, H. & Souza, H. M. 1999. Plantas Ornamentais do Brasil: arbustivas, herbáceas e trepadeiras. Nova Odessa, SP. Instituto Plantarum.
MARCGRAVE, Jorge. História Natural do Brasil. Trad. Mons. Dr. José Procópio de Magalhães. Edição Comemorativa do cinquentenário da Fundação Imprensa Oficial do Estado de São Paulo. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 1942.
PISON, Guilherme Willem. História Natural do Brasil. Trad. Prof. Alexandre Correia. Edição Comemorativa do 1º cinquentenário do Museu Paulista. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1948. (escrito em Latim em 1648).
RIZZINI, C.T. (1997). Tratado de fitogeografia do Brasil: aspectos ecológicos, sociológicos e florísticos. 2a edição. Rio de Janeiro, Âmbito Cultural, 1997. Volume único.
ROYAL BOTANICAL GARDENS. New Sources of paper (hedychium coronarium, Koen, and allies). Bulletin of Miscellaneous Information (Royal Garden, Kew), p.373-378, 1912.
SAFFORD, H.D. 1999. Brazilian Páramos I: An introduction to the physical environment and vegetation of the campos de altitude. J. Biogeogr. 26(99):693-712.
VASCONCELOS, M.F. 2011. O que são campos rupestres e campos de altitude nos topos de montanha do Leste do Brasil? Revista Brasileira de Botânica 34(2): 241-246;
VASCONCELOS, Simão de. Notícias curiosas e necessárias das cousas do Brasil. Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses. Lisboa, 2001;
A Flora Nacional na Medicina Doméstica. Afonso Balbach;
IPHAN - O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional;
O Botânico Aprendiz na Terra dos Espantos;
Plantas Medicinais - Irmão Cirilo;
Plantas para Jardim no Brasil - herbáceas, arbustivas e trepadeiras - Harri Lorenzi;
Tudo Verde - Francesco Bianchini e Azzura Carrara Pântano;
Kamer & Maas 2003; Kissmann & Groth 1995; Lorenzi 2000;
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Links para consulta:

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http://cassiopea.ipt.br/teses/2013_TA_Ana_Carolina_Cunha.pdf

https://www.picuki.com/tag/gengibrebranco

http://www.bdtd.unitau.br/tedesimplificado/tde_arquivos/1/TDE-2012-08-16T180553Z-136/Publico/Admilson%20Clayton%20Barbosa_1.pdf

https://g1.globo.com/sp/campinas-regiao/terra-da-gente/noticia/2018/10/15/lirio-do-brejo-combate-olheiras-e-antisseptico-e-contem-a-poluicao.ghtml

https://siambiental.ucs.br/congresso/getArtigo.php?id=147&ano=_terceiro

https://archive.org/stream/repositoriodeno00unkngoog/repositoriodeno00unkngoog_djvu.txt

https://pt.wikipedia.org/wiki/Recanto_Maestro

https://www.saintvinsaint.com.br/2016/03/cha-de-lirio-geleia-de-lirio-risotto-de/

Imagens

Imbiri - Canna angustifolia, Canna glauca... Canguçu RS, Campos do Jordão SP, Brasil; Loila Teresinha Cunha de Matos.

Lembretes:

"Nada é veneno; tudo é veneno. A diferença está na dose." (Paracelso);

Não usar plantas medicinais sem orientação de um especialista. 


A Eletrificação da EFCJ e a Usina Izabel

Foi em 1924, que a EFCJ adotou a tração elétrica para movimentar suas automotrizes. O presidente do Estado, Carlos de Campos, veio especialmente para o ato solene da inauguração. A comitiva teria chegado em Pindamonhangaba às 2h15, madrugada do dia 21 de dezembro daquele ano. O trem presidencial ficou em um desvio da Estrada de Ferro Central do Brasil e, pela manhã, após um chocolate servido pela direção da EFCJ, vieram para Campos do Jordão, onde o presidente do Estado declarou oficialmente inaugurada a eletrificação da ferrovia. 

No início, a EFCJ dispunha de duas locomotivas a vapor: Catarina e Piracuama; em 1916 estas foram substituídas por locomotivas a gasolina; em 1924, surgiram as automotrizes elétricas e posteriormente vieram os bondes do extinto Tramway do Guarujá, que trafegam na ferrovia até hoje.

A empresa responsável pela execução do serviço foi a “The Electric Co.” A corrente adotada foi a contínua, de 1.500 volts, em que se converte, na subestação da estrada, em Eugênio Lefévre, à corrente trifásica recebida da Light and Power sob tensão de 30 mil volts.

O local de onde vinha a energia elétrica que fazia movimentar as automotrizes da ferrovia no ano de 1941 foi a histórica hidrelétrica Izabel, localizada em Pindamonhangaba, no sopé da Mantiqueira, no Bairro do Ribeirão Grande. 

A história da Usina Isabel teve início em 1911, quando foi criada, na capital, a Empresa de Eletricidade São Paulo & Rio. Nesse mesmo ano, a companhia obteve 20 alqueires da Fazenda Ribeirão Grande, local de construção da usina. Em 1913, a empresa se preparava, com a montagem da hidrelétrica e das obras correlatas - as subestações de energia em Lorena e Taubaté -, para ampliar o fornecimento de eletricidade à região. Naquele ano, dos 4.500 prédios existentes nas cidades de Taubaté, Tremembé e Lorena, apenas 1.000 possuíam sistema de luz instalada - até então, a energia consumida provinha de duas termelétricas e um gasômetro. 

A Usina Isabel iniciou suas operações em 1º de maio de 1915, com capacidade de geração de 2,6 megawatts/hora. 
Isabel, originalmente grafada como Izabel, era uma homenagem à esposa do diretor da Empresa São Paulo & Rio, Ataliba Valle. Em 1927, o grupo Light adquiriu o controle acionário da companhia e, em 1929, a usina foi interligada ao sistema elétrico do conglomerado canadense.

A pequena central hidrelétrica centenária, detém a maior queda livre de água da América do Sul e a 3ª do mundo, com 930 metros de desnível. a maior queda d'água do Estado de São Paulo utilizada para geração de energia, estancado a 2.200 metros de altitude. As estruturas da usina estendem-se ao longo do Ribeirão Sacatrapo, afluente do Rio Paraíba, aproveitando um desnível de aproximadamente um quilômetro. 

Com maquinário todo importado, geradores canadenses e turbinas alemãs, a usina inicialmente abastecia Taubaté, Tremembé, Pindamonhangaba e Lorena, até a década de 50.
Após décadas de operação, a hidrelétrica foi desativada por completo em 1979, e reinserida no sistema de geração em 1986, já sob o controle da Eletropaulo - Eletricidade de São Paulo S.A., permanecendo operante até 1994. Em 1998, com a privatização e divisão da estatal em quatro empresas, a Usina Isabel passou à geradora EMAE - Empresa Metropolitana de Águas e Energia S.A.

A Fundação Energia e Saneamento recebeu, em doação da EMAE - Empresa Metropolitana de Águas e Energia S.A., documentação textual da Usina Isabel, composta por 62 livros que incluem relatórios de ocorrências, diários de funcionamento da usina e livro de visitas, datados entre 1916 e 1991. Todo o material passou por um processo de organização, higienização e acondicionamento, com o objetivo de preparar a documentação para a consulta de pesquisadores.

Em 2017, a usina foi integrada ao patrimônio da SZO Empreendimentos LTDA.
A Usina Hidrelétrica Isabel está situada no final da estrada do Ribeirão Grande. Depois da Fazenda Nova Gokula, saindo de Pindamonhangaba, sobe a Serra da Mantiqueira pela Trilha das Borboletas até chegar no Pico do Itapeva e de lá continua pela crista, rumo leste até chegar próximo ao Horto Florestal.

Fontes:

FELIX, Isabel. Fundação Energia e Saneamento. 2017. Disponível em: <http://museudaenergia.org.br/not%C3%ADcias/boletim/boletim-outubro-2017-(1).aspx>. Acesso em: 13 dez. 2019.

CARVALHO, Altair Fernandes. História: A inauguração da eletrificação da EFCJ. 2018. Disponível em: <http://jornaltribunadonorte.net/noticias/a-inauguracao-da-eletrificacao-da-efcj/>. Acesso em: 13 dez. 2019.

____________________. Usina Hidrelétrica Izabel. 2014. Disponível em: <http://wikimapia.org/12820991/pt/Usina-Hidrel%C3%A9trica-Izabel>. Acesso em: 13 dez. 2029

“As Ferrovias do Brasil”, de João Emílio Gerodetti e Carlos Cornejo (Solaris Edições Culturais, São Paulo - SP, 2005)

Jornal Tribuna do Norte, edição de 13/12/1931, edição de 23/9/2005.

Lembranças de São Paulo (2003), na transcrição de um artigo de Mário de Sampaio Ferraz.

Folha do Norte (extinto) edição de 28/12/1924.



                                                        As Bromélias de Campos do Jordão

São as bromélias as espécies mais exóticas da mata de Campos do Jordão. São "plantas hospedeiras" que nascem, geralmente, nos galhos das árvores, sobrevivem em ambientes com pouca luz e florescem uma vez por ano. Já foram mais raras e caras. 

Campos do Jordão, por seu clima notadamente frio, é um local excepcionalmente adequado para o cultivo e pesquisa de bromélias e orquídeas, que podem ser encontradas in natura nos bosques e matas de toda a região. As inúmeras trilhas do Horto Florestal, a estrada dos Alpes de São José, são ricas nessas plantas que, com suas flores, emprestam ainda mais beleza à paisagem. É um jardim paradisíaco preservado em Campos do Jordão. Ali podem ser encontradas bromélias nativas. Na cidade mais alta do Brasil, as bromélias, são exuberantes, resistentes, de fácil cultivo, com a vantagem de não atraírem os mosquitos da dengue, são flores com a cara do verão e servem como ornamento para jardins e varandas ou mesmo para espaços internos da casa ou ambientes públicos, tamanho seu poder de adaptação e resistência. Com suas cores e belezas variadas, proporcionam paisagens que merecem um segundo olhar.

O nome bromélia foi dado para a primeira planta descrita dessa família, em homenagem a Olaus Bromel, um médico sueco. Em consequência, toda a família recebeu o nome de Bromeliaceae. Popularmente são conhecidas como bromélias, caraguatás ou gravatás. Existem cerca de 4 mil espécies, sendo cerca de 1.250 no Brasil, que podem viver no solo, rocha ou árvore, em ecossistemas sendo restingas, regiões montanhosas, cerrado e caatinga, sendo cerca de 43% nativas do Brasil e distribuídas em territórios como Floresta Amazônica, Mata Atlântica, caatinga, restingas e campos de altitude, como campos do Jordão.

São xerófitas, isto é, adaptadas para a vida em condições de seca, suportando também temperaturas extremas. Típico destas plantas, é o fato de armazenarem água da chuva entre suas folhas. A sincronia da floração na estação chuvosa possibilita uma maior diversificação de oferta de alimento, principalmente para os vetores de pólen. 

Algumas destas plantas formam um tanque, de acordo com a conformação de suas folhas, podendo acumular água, restos de folhas, sementes e outras formas de matéria orgânica, proporcionando um ambiente com boas condições para formação de um ecossistema.
Isso beneficia muitos seres vivos como insetos, aracnídeos, anfíbios e répteis, aves e mamíferos, atraídos pelas flores e frutos. Os beija-flores são apontados como os principais vetores de pólen de 85% das bromélias, sendo as demais espécies visitadas por morcegos e, em menor quantidade, as abelhas. As bromélias não são parasitas como muitas pessoas pensam. Florescem somente uma vez durante seu tempo de vida. Após a floração, a planta geralmente desenvolve uma brotação lateral que substituirá a planta que irá morrer. A família das bromélias caracteriza-se pelo agrupamento de folhas em forma de roseta.

Uma considerável diversidade e riqueza de espécies de bromélias em altitudes maiores que 1.500 m. registraram sete espécies no município de Campos do Jordão.

Com exceção de uma espécie nativa do oeste africano, todas as outras plantas dessa família têm distribuição restrita às Américas, desde a Argentina e Chile, até o norte do estado da Virgínia, nos Estados Unidos da América.

Nada menos que 40% de todas as espécies de bromélias ocorrem no Brasil. As bromélias estão presentes em diversos tipos de ambiente na natureza.
O abacaxi é a mais popular delas. Só no Brasil, existem mais de 1500 espécies.

A maioria das espécies de um mesmo gênero tem características e exigências iguais. Bromélia imperial, Caraguatá-do-mato, Bromélia-cora, Porto-seguro, Abacaxi-ornamental, Guzmânia, Bromélia-zebra, gravatá.

Outras espécies mais conhecidas são: Macambira, gravatá-mineiro, gravatá-sulino, gravatá-de-Blumenau, gravatá-monjola, gravatá-pimenta.

A Bromélia é a flor-símbolo de Gravataí porque o nome do município é originado de um exemplar denominado gravatá (do tupi-guarani – Gravatahy), muito encontrado nas margens do Rio que corta a região. O gravatá é uma das cerca de 2.500 espécies de Bromélias existentes no Brasil.

Todo ano, normalmente no mês de abril, a Prefeitura promove a Festa das Bromélias com sua primeira edição em 2004. O público alvo da Festa são os admiradores e colecionadores de Bromélias, estudantes, comunidade local, floriculturas e turistas de outras regiões.
A Festa serve para divulgar o nome do município, suas potencialidades turísticas e o patrimônio histórico e cultural, fortalecendo sua identidade e colocando-o em evidência junto ao calendário de eventos do RS. Além disso, a Festa estimula o cultivo e fortalece a imagem da Bromélia, flor-símbolo do município, conforme a lei municipal 1983, de 15 de agosto de 2003.

A realização da festa pela Prefeitura de Gravataí e Agratur conta ainda com o apoio do Sebrae, Senac, Sistema Fecomércio, Sindilojas, Acigra, Emater, Avigra, Aflori e Sociedade Brasileira de Bromélias.

Fontes:

BRAGA, Rômulo Cavalcanti. Gravataí. 2010. Disponível em: <http://pro.casa.abril.com.br/group/cronicasdoourover de/forum/topics/gravatai-rs>. Acesso em: 31 dez. 2016.

LINO, Maurício de Souza. Da Freguezia do Imbery aos Campos do Jordão. Campos do Jordão: Clube de Autores, 2017. 613 p.

                                                                                                  

                                                                                                A Saga do Baú


Conhecida e admirada por muitos viajantes desde tempos remotos, a Pedra do Baú sempre chamou a atenção na paisagem por seu contorno único e beleza cênica. Atingindo 1950m de altitude em seu topo, em plena Mantiqueira Paulista, a Pedra e seu entorno está envolta não apenas na cerração da manhã e dos dias nublados, mas também em diversas lendas, originárias da imaginação popular sobre o “gigante adormecido no seio da mata virgem” (LIMA SILVA, Isaura). A mais famosa localmente é a dos Três Irmãos, mas há ainda: a Mãe do Ouro, o Reino do Rei Beijaúme, o Baú e seu tesouro, a Toca e outras baseadas em casos relatados e “aumentados”. Fonte de inspiração ainda de sonetos, como “A mágoa do granito” (Affonso José de Carvalho, 1918), “Pedra do Bahú” (Plínio Salgado, 1915) e “Pedra do Baú” (Bento Cortez, 1962).

Os pioneiros
Pode-se dizer que existe um marco na história do Baú, que é o ano de 1940. Até esta data, não há registro histórico de que alguém tenha conseguido chegar ao seu topo, esta proeza se deu com dois irmãos sambentistas extremamente corajosos e determinados: os “irmãos Cortez” Antônio Teixeira de Souza e João Teixeira de Souza. Ambos eram conhecidos como Cortez devido ao sobrenome da avó paterna, dona Gertrudes Eufrosina Cortez.


Após sonhar com o grande feito desde a infância, foi precisamente no dia 12 de agosto do ano de 1940, quando o irmão mais velho (Antônio) já contava 51 anos de idade, que ele e, logo em seguida, o caçula (João) tiveram a honra de descortinar o topo da enorme pedra granítica.

Existem ao menos duas versões sobre um sonho relatado por Antônio antes de conseguir escalar a Pedra. O fato é que, após um sonho, ele decidiu fazer a tentativa pela face Sul (voltada ao bairro do Baú), onde é possível se comprovar, nos dias atuais, que a subida é um pouco menos íngreme, mais arborizada, a rocha menos nua. Ainda assim, foi necessário vencer obstáculos como paredões de rocha lisa de, aproximadamente, oito metros de altura, intercalado com matas onde se encontravam plantas com espinhos que, vez ou outra, rasgavam suas vestes e faziam cortes em suas peles. Utilizaram o tronco de uma árvore e as próprias mãos apoiadas às “trincas” ou “fissuras” da rocha. E foi desta forma que, primeiro Antônio e depois João chegaram pela primeira vez ao topo da famosa e cobiçada Pedra.

Após a subida dos dois irmãos, Antônio levou também sua esposa, que ficou conhecida como a primeira mulher a subir a Pedra, e também seus filhos. Finalmente, aos 22 de junho de 1945 foi registrada a primeira descida de Antônio Cortez pela face norte, com cordas (o rapel daquela época).

Oficializando
É perfeitamente compreensível que tenha sido difícil acreditar no sucesso desta empreita àquela época. Mesmo diante de tamanha euforia, seria necessário provar diante de outros olhos que a Pedra do Baú não era mais um local inexplorado e que, finalmente, muitos poderiam realizar o sonho de conhecer seu topo, observar São Bento e a região do alto, matando uma curiosidade que é intrínseca ao ser humano. Para tanto, uma nova data foi marcada para que uma caravana acompanhasse os irmãos na segunda escalada, para testemunharem o feito. Na primeira subida, apenas alguns poucos matutos da redondeza presenciaram, incrédulos, e seus familiares os receberam de volta felizes por estarem sãos e salvos.
Marcaram a nova escalada para o dia 19 de agosto de 1940. Foram reunidas autoridades sambentistas da época e convidados de São Bento e outras cidades vizinhas. Conforme relatos, foi por volta de 12h que os irmãos apontaram sobre a Pedra e hastearam uma bandeira do Brasil, enquanto os expectadores aplaudiam entusiasmados do Bauzinho. A banda da cidade ali presente também tocou o Hino Nacional. Neste mesmo ano era comemorado o cinquentenário da instalação da Comarca e, em edição especial, o jornal local Correio de São Bento, fundado por Plínio Salgado, incluiu um artigo sobre a conquista do cimo do Baú, de autoria e redação de José Vicente Costa, escrivão da polícia. Na sequência, a notícia chegou à capital paulista e se espalhou por outras regiões do Estado, sendo divulgada em outros jornais. Nestes anos de turbulência política do governo de Getúlio Vargas, em regime do Estado Novo, o estado de São Paulo era governado sob intervenção federal por Adhemar Pereira de Barros, que recebeu a notícia através de um telegrama.

                                       Villares, grampos e o primeiro Refúgio de Montanha do Brasil

No ano de 1943 teve início a construção das famosas escadinhas. Alguns degraus feitos de ferro, outros de pedra quebrada. O transporte nos ombros dos trabalhadores. Seiscentos e dois degraus no final. Como tudo começou? Bem, de alguma forma, Antônio Cortez conheceu um certo Dr. Luiz Dumont Villares, o que não se sabe ao certo nos dias atuais por existirem duas versões para este primeiro encontro. O fato é que nasceu uma importante amizade entre os dois, que rendeu bons frutos, no final das contas, ao município. Conta-se até mesmo que o Sr. Villares, além de patrocinar a construção das escadinhas, ajudou financeiramente o amigo até o final de seus dias.

Luiz Dumont Villares era sobrinho de Alberto Santos Dumont. Tornou-se um grande amigo de São Bento por seus feitos que incluem, além dos benefícios à Pedra, a fundação do Acampamento Técnico Educacional Paiol Grande, hoje Acampamento Paiol Grande. Em 1956 recebeu o título de Cidadão Honorário deste município. Engenheiro eletricista de formação, aos vinte e dois anos ingressou na firma Pirie, Villares & Cia., substituindo seu irmão Carlos, cofundador nesta empresa que inicialmente produzia elevadores, escadas rolantes e motores elétricos, desde 1918.

Em 1944, Luiz funda a Villares Metals, que está no mercado até os dias de hoje. A empresa atualmente atua em vários segmentos no mercado 
e ainda contém parte de seu capital composto por ações de descendentes dos fundadores.
As escadas e o Refúgio de Montanha foram construídos na mesma época. Luis Villares comprou terras do entorno da Pedra para garantir o acesso às pessoas. Esta informação pode ser comprovada em registros de cartório. Em seguida, Villares contratou a construtora “Floriano Rodrigues Pinheiro”, que levava o material para a construção do abrigo até onde havia caminho para o caminhão, depois os animais de carga faziam o restante do trajeto até a base da Pedra. A partir de 30 de agosto de 1943, foram instaladas as escadas da face sul (lado do bairro Baú) e em momento posterior, as da face norte (Paiol Grande).

No dia 1º de abril de 1945 foi feita a demarcação da casa, que deveria ocupar um espaço de 4m de largura por 14m de comprimento. No dia 10 de abril, houve o início das obras: pedras do alto do Baú foram dinamitadas para os alicerces, e os outros materiais necessários à obra foram transportados por uma bica de tábua, puxada por carretilhas pedra acima e pelos ombros dos funcionários. Para concluir a obra o tempo gasto foi de um ano e dez meses.

Infelizmente, o Refúgio logo após ter sido inaugurado já começou a sofrer os danos do vandalismo. Pouco depois de inaugurado, um grupo de visitantes que lá havia pernoitado atirou nas paredes e no livro de assinaturas que havia no local, preso por uma corrente de aço inoxidável, para o registro dos visitantes. A ocorrência foi feita na Delegacia e houve um acordo em que os réus pagaram as despesas do conserto, porém, o livro dos visitantes nunca mais foi visto após este incidente. Ao longo dos anos, o vandalismo continuou até que, na década de 1980, havia apenas a chaminé da lareira e os alicerces. Hoje, podemos observar apenas partes do alicerce.

A Pedra hoje
Desde o ano de 2010, o complexo rochoso da Pedra do Baú foi instituído Monumento Natural Estadual, com gestão compartilhada entre o município de São Bento do Sapucaí – gestão municipal, por sua localização geográfica – e pela Fundação Florestal – gestão estadual. Existe ainda um Conselho do Mona Pedra do Baú, composto por dez conselheiros e seus respectivos suplentes, ou seja, além de uma gestão compartilhada, regida por uma Lei específica, ainda existe um grupo de pessoas de diferentes segmentos preocupados com o uso público, a gestão ambiental e a aplicação dos recursos provenientes da Taxa de Conservação.

É preciso paciência para vislumbrar grandes avanços no local, uma vez que a máquina pública tem seus entraves, entretanto, melhorias têm sido feitas ao longo destes últimos anos. Breve estará em execução a construção da guarita e dos sanitários de alvenaria, para organizar melhor a recepção aos turistas na portaria; já é previsto o Plano de Manejo para o ano de 2017, pela Fundação Florestal; a manutenção das escadas será feita para oferecer maior segurança e o acesso aos não escaladores; placas informativas existem no local.

A Femesp – Fundação de Montanhismo do Estado de São Paulo está trabalhando junto ao Conselho e aos gestores para, futuramente, implantar o Museu do Mona, com o intuito de manter vivo o aspecto histórico-cultural da localidade, resgatando toda a história da Pedra e ainda com foco educacional e informativo. Além do museu, estão previstos o Centro de Visitantes com souvenires e a oferta de cursos e treinamentos.

Vale a todos os apaixonados pela Pedra do Baú - tanto os escaladores quanto os turistas e visitantes locais - sonhar com tudo o que é possível, desde que ecologicamente e socialmente correto e sustentável, que não deprecie o ambiente e sua memória, bem como possa promover benefícios ao turismo e à comunidade.

Não nos esqueçamos ainda dos grandes homens que escreveram as páginas iniciais desta linda saga do Baú: os irmãos “Cortêz” Antônio e João Teixeira de Souza, de quem ninguém pode tirar o mérito de terem sido os pioneiros a escalar a Pedra, abrindo caminho a nós que estamos aqui hoje e o Sr. Luiz Drumond Villares, grande amigo desta cidade que foi o bem feitor das obras que facilitaram a subida a todos quantos queiram admirar a bela vista do alto. Aos operários que arriscaram suas vidas nesta árdua tarefa de afixar as escadas e os grampos na rocha e ousaram vencer a gravidade para construir um refúgio no local mais improvável, nossos aplausos. Às primeiras mulheres e crianças que subiram antes das escadinhas, aos familiares que ficavam apreensivos a cada subida dos irmãos e dos operários, nossa admiração. A todos estes homens bravos e de coragem, somos eternamente gratos.

Fontes:

Texto: Jane Soldtner
Fotos: extraídas do livro “Pedra do Baú – um mito, uma maravilha, uma justiça”, de Isaura Aparecida de Lima Silva.

Nota: a principal referência para este compilado foi a obra “Pedra do Baú – Um mito, uma maravilha, uma justiça”, da autoria de Isaura Aparecida de Lima Silva. Outras informações que aparecem no texto foram buscadas em sites da internet ou coletadas com munícipes.



Raízes Culturais do Povo Jordanense


Sem dúvida, a verdadeira identidade do povo jordanense está na sua cultura. Sem ela, perdemos não apenas nossa identidade, mas nossos valores e princípios.

A cultura popular adquire dezenas de formas, a maior parte sem autores identificados, é o caso além dos contos, dos mitos, das lendas, dos festejos e diversões, das crendices e superstições e também da culinária, do vestuário e muito mais; popular, entendendo isso, como tudo aquilo que é construído pelos seus moradores. Inclui os mitos, símbolos, ritos, todas as crenças, todo o conjunto de conhecimentos e todo o comportamento, etc., portanto, conhecer e valorizar a nossa cultura são autoafirmações do que somos.

Preservemos nossa música, nosso Festival da Viola, nossas quermesses dos dias santos, nosso folclore, a Festa do Pinhão, das Cerejeiras em Flor, nossos artesãos, bordadeiras, tricoteiras e rendeiras; as lendas de nossos pinheiros, rios, lagos, matas, cachoeiras, morros e lombas; nosso hino, nossos símbolos, nossas frutas, ervas e plantas.

Preservemos nossa literatura, começando com os livros de poesia e de história e os novos e bons autores de nossa cidade (esses cantam os nossos valores, o nosso ambiente cultural, a nossa cidade). Vamos valorizar nosso cinema, as danças populares e clássicas, como o pagode e o balet, as bandas, a fanfarra, as cantigas, as antigas brincadeiras de rua, de pular corda, lata-manteiga, taco, queimada, salva, (ao ver nossas crianças brincando, sabemos que nossa cultura está sendo preservada), e toda sorte de expressão cultural do povo montanhês – um tesouro inesgotável.

São exemplos das manifestações da cultura erudita: o Festival Internacional de Inverno; de pintores como de Camargo Freire ou Francisco Prohane; de compositores como Jordão e Jordel ou Condelac Chaves de Andrade, de arquitetos e engenheiros como José Roberto Damas Cintra e Eduardo Moreira da Cruz, entre outras.

A cultura jordanense é fonte rica de diferenciais criativos e agrega valor. Parte do seu patrimônio é sua diversidade cultural, que abrange vários aspectos incluídos na hoje reconhecida economia criativa. Esta envolve diversas vertentes: folclore, música, artesanato, modos e modas de vestir e gastronomia.

Ainda existem focos de preservação e amor à nossa cultura, mas muito pouco dela resiste nas escolas tradicionais. Creio que a Educação deve assumir a responsabilidade pela preservação do patrimônio cultural da nossa infância. Acredito que a escola, detentora do papel histórico de transmitir a cultura e adequar as novas gerações aos valores e símbolos de sua cultura, deveria ser o carro chefe de toda sorte de resgate cultural, tão necessário em nossa cidade, atualmente. Esse resgate às raízes culturais, torna-o um cidadão mais sensível e consciente da sua identidade, para preservação de sua história.

Vamos vivenciar, identificar e absorver as manifestações culturais e folclóricas de nossa querida Campos do Jordão. Também somos construtores da cultura. O município de Campos do Jordão é negro, índio, mulher, LGBT, criança, jovem, estudante e trabalhador. Campos do Jordão é miscigenação, é diversidade, é linda. Desde Vila Maria no Bairro Santa Cruz, até ao Retiro, no Horto Florestal, Campos do Jordão é povo.

A cultura jordanense deve ser exaltada e não extinguida, pois, um povo sem cultura é um povo sem identidade, sem raiz. Ouça a história sobre Campos do Jordão e a sua cultura, seus hábitos e suas tradições e aprenda a compreender a vida na montanha magnífica, através de seu belo povo.Vamos manter acesa a chama da identidade do povo…   
                          

Amoras e Framboesas em Campos do Jordão


Na Volta Fria, em Campos do Jordão, havia um amoreiral silvestre, nativa da região. Na época dos seus frutos, entre os meses de janeiro e março, a quantidade de amoras produzidas por essas amoreiras era muito grande. Nos meus 12 anos, caminhava por esse pomar, e por serem silvestres, tinham seus ramos totalmente revestidos de espinhos que espetavam as mãos, braços, pés e pernas. Chegava em casa todo colorido e espetado. Mas, sem arrependimentos.

Voltando no tempo, no período entre 1926 até a década de 70, nossa cidade teve importante papel na fruticultura, com cultivo em larga escala principalmente de macieiras, pereiras e oliveiras, até 1950. A framboesa chegou ao Brasil no início dos anos 50, sendo introduzida primeiramente em Campos do Jordão. As frutas vermelhas implantadas nessa década tiveram ótima adaptação ao solo e ao clima tropical de altitude da região, excelente, com estações bem definidas para o desenvolvimento das pequenas frutas, onde muitos pequenos agricultores iniciaram as atividades para o seu cultivo. As frutas vermelhas, principalmente as mais delicadas como as framboesas, amoras e mirtilos, encontraram nessa região montanhosa, as condições ideais, favoráveis para se desenvolverem, sobretudo sob clima frio. 

A “Fazenda Baronesa” foi a responsável pela introdução da framboesa no Brasil, graças aos seus proprietários, Barão e Baronesa Von Leithner, que haviam chegado ao País em 1926, e na cidade, em 1953. Apaixonando-se pelo local, fundaram o Sítio Natal. Para aproveitar melhor as promissoras e férteis terras nas montanhas, o casal contrata um especialista em agronomia, Max Ambuhl, que trouxe as primeiras mudas de framboesa que se tem registro no Brasil, e também um híbrido de amora e framboesa, conhecido como boysenberry. 

O plantio de frutas teve sua importância histórica e econômica principalmente entre as décadas de 50 e 70. Com uma economia baseada na agricultura, envolvendo mais de 200 famílias, a cidade se abastecia de produção própria e chegava a enviar parte da sua produção para São Paulo e Rio de Janeiro. 

O auge da produção da framboesa ocorreu entre 1970 e 1990, com a fundação da “Agroindustrial Alto da Boa Vista”, cujo prédio, por exigência da Baronesa Von Leithner, foi construído em estilo europeu, para manter-se em harmonia com a paisagem da fazenda. 

Produzia geleias e xaropes de framboesa e amora com a marca “Homemade”, posteriormente vendida à Cica, e uma bebida destilada de framboesa conhecida como "Eau de Vie", ou "Água da Vida". 

Com a morte do casal Von Leithner, encerrou-se as atividades da fábrica, e assim a produção agrícola foi reduzindo gradativamente. 

Os pomares foram abandonados e somente duas décadas depois, ou seja, 2003, a fazenda teve seu retorno às atividades, quando os atuais proprietários reiniciaram de imediato as atividades agrícolas de produção de geleias e destilado. A recuperação foi para preservar a história da baronesa e a preocupação ambiental. 

Além das lavouras de amora e framboesa reativadas, novas atividades foram introduzidas como o mirtilo e a framboesa negra. Além disso, a fazenda trabalha com pesquisas e experimentos de diversas outras frutas vermelhas que se adaptam ao clima. 

Hoje, 60 anos depois, a framboesa é protagonista da gastronomia local e conta com um festival em sua homenagem que acontece todo ano no mês de dezembro. A partir deste mês, inicia-se a temporada de frutas vermelhas em Campos do Jordão. A cidade é a maior produtora das frutas do Estado de São Paulo.

Fonte:
Jornal "O Estado de São Paulo"
Fazenda Baronesa
Net Campos


                                                             Flor-do-Tigre

O lírio Flor-do-Tigre, também é conhecida por Flor-de-um-dia ou Tigridia é uma planta nativa do continente americano, ocorrendo desde o México até o Chile. Conhecida e cultivada entre os Astecas, há milhares de anos, era chamada de Flor do Tigre (Jaguar), devido as manchas das flores, que se apresentam estampadas em cachos, parecidas com a pelagem de um tigre em suas pétalas. No México, atualmente, é chamada de Cacomite; isto é, flor da casca mexicana, um tesouro do jardim de meados de final de verão. 

Elas têm um ciclo de floração interessante: floresce apenas por um dia, abrindo-se uma à uma, ao nascer do sol, ou umas horas mais tarde caso o dia esteja nublado, entre as 6:30 ou 7 da manhã, e começa a murchar por volta das 4 da tarde, sendo que em algumas variedades não chegam a durar um dia inteiro, e murchando ao final da tarde as que duram mais tempo. Mas como cada planta produz uma abundância de caules, o período da floração, na realidade, dura várias semanas. 

A Flor do Tigre possui forma de concha chamando muito a atenção por seu brilho, e surgem em uma variedade de cores: fortíssimas e belíssimas estampas, e várias flores normalmente crescem a partir do mesmo caule. Suas grandes flores queimadas são vivamente coloridas e vêm em combinações de dois tons emparelhando branco, rosa, vermelho, amarelo ou laranja, com pontos centrais contrastantes. 

Florescem nos meses mais quentes, e passam por um período de dormência nos meses mais frios, quando suas flores e folhas murcham. Sua batata permanece, começando a formar-se o fruto em formato alongado, separado em três gomos verticais, onde serão produzidas as sementes que também podem ser usadas para a reprodução da planta, voltando a florescer no verão seguinte, multiplicando suas mudas. De variedade exótica, destacando-se muito entre outras flores, podendo sair muitas flores no mesmo caule. Resistente à seca, veados e coelhos.    

Fontes:




                                    Orquídea Estrela de Fogo

Essa flor, conhecida como Estrela de Fogo é muito encontrada em Campos do Jordão, e nasce espontaneamente nas margens de estrada e locais com sol pleno. Cresce nessas montanhas de janeiro até fevereiro, 
Apresenta inflorescências longas, com flores pequenas de coloração vermelho-alaranjadas ou amarelas.

É comum encontrar em terrenos baldios touceiras enormes vicejando sem nenhum cuidado humano, mas isso apenas quando a planta já é suficiente para conter seu avanço.

Tem sua origem na África do Sul, mas não na natureza: em 1880 o botânico Victor Lemoine fez um cruzamento de 2 plantas – Crocosmia Aurea e Crocosmia Pottsii. Do cruzamento surgiram as variedades desta flor, que apresenta colorações variando do amarelo vivo ao vermelho sangue. 

Do cruzamento de duas plantas sul-africanas pouco vistosas, um horticultor francês conseguiu obter há pouco mais de cem anos este notável híbrido que, entretanto, se espalhou pelo mundo. É uma bulbosa muito interessante que combina bem com fúcsias (brincos-de-princesa). As flores tubulares são geralmente de cor de laranja avermelhada e brilhante que aqui abrem em março. Noutras regiões e conforme os solos, abrem no verão e até no outono. É rica em néctar. Por isso atrai insetos que aproveitam para igualmente darem caça aos pulgões doutras plantas e certos pássaros como o beija-flor. Prefere alguma sombra e muita água no período de crescimento, mas sobrevive razoavelmente à seca. No Brasil ela recebeu o nome de estrela de Fogo porque a flor tem seis pétalas distribuídas de forma bastante simétrica, que lembram a estrela de David. A coloração lembra uma labareda de fogo, portanto, o nome parece justo. Em outros países os nomes mais comuns são Tritônia ou Montbretia. 

O nome científico, Crocosmia crocosmiiflora, teve origem em outra característica interessante: apesar de não ter nenhum apelo medicinal ou alimentício, se macerarmos as folhas desta planta o perfume será de açafrão. O nome “Kroko” significa açafrão em grego, e o termo “osme” significa perfume. Daí o nome de crocosmia ou perfume de açafrão. Por incrível que pareça, esta bela e delicada flor pode se tornar uma invasora. Origem: Ásia, África e Mediterrâneo.

Nomes populares: Gladíolo, Palma-de-Santa-Rita, Tritônia, Crocosmia, Estrela-de-fogo, crocosmiiflora, orquídea-crucifixo; orquídea-beija-flor, etc.

Após a floração, durante qualquer época do ano, suas folhas secam, porém, os bulbos se multiplicam e é durante a primavera e o verão que sua floração atinge o auge, brotando novamente. As folhas,  parecidas com a dos lírios ou com a dos gladíolos, são mais estreitas como lâminas verdes compridas e suas flores, com grande variedade de tamanhos e formas, cores e combinações: branca, verde, creme, laranja, salmão, cor-de-rosa, vermelha, lilás, azul.

Fontes:

http://hortaaporta.blogspot.com
http://plantadasemana.blogspot.com
https://ohistoriadordamantiqueira.blogspot.com/p/igreja.html



                                                                               Da Cana Glaucca à Sakura

Campos do Jordão, o paraíso terrestre, é dominada por uma rica vegetação; sua flora é parte do ecossistema da Mata Atlântica e suas matas estão repletas de diversas espécies de árvores, como a Quaresmeira, o Ipê, o Pinho Bravo, bosques de Araucária, dentre outras. 

Também há flores que enfeitam a vida, brotando na primavera multicolorida da Serra da Mantiqueira: Manacás, camélias, glicínias, quaresmeiras, antúrios, cloxínias, lobélias – é um festival luxuriante, natural, das cores primaveris. Miosótis, petúnias, gerânios, margaridas, tulipas, lírios, verbenas, rosas – é o arco-íris de Deus nos anteplanos formosos da Montanha. Jasmins, sempre-vivas, copos de leite, hortênsias, cravos, goivos, liz, gérberas, açucenas- é a explosão cromática de matizes e tons florais. 

Azaléias, dracenas, melindres, samambaias, papoulas, amarílis, zínias e acácias - é o caleidoscópio febricitante de luzes, cores e amores. 

A grande maioria da vegetação introduzida na paisagem jordanense, é diferente da vegetação nativa dos Campos do Jordão. Foram introduzidas diversas espécies de vegetação importada como: o plátano, o liquidâmbar, os áceres, os “pinus” de diversas espécies e procedências, magnólias, rododendros, diversos tipos de cedros, enfim, vários tipos de vegetação que engrandeceram e embelezaram a paisagem, mas também, que trouxeram, inclusive, vários prejuízos ao clima privilegiado. 

É verdade que o clima de Campos do Jordão é mais baixo e geralmente o friozinho toma conta da cidade, mas isso não impede que ela seja colorida pelas flores. A flora é especial sim, já que as flores mais belas e de aromas mais encantadores, são também as mais resistentes à baixa temperatura!


Dentes-de-leão

Originário da Europa, o dente-de-leão, aparentemente frágil, é capaz de resistir a climas frios e a geadas em regiões temperadas e subtropicais. No Brasil, é encontrado no Sudeste e no Sul. Estamos na estação das flores, na época mais florida do ano! Em Campos do Jordão, proliferam os dentes-de-leão! 


O nome pelo qual a planta dente-de-leão é popularmente conhecida parece ter origem na aparência da planta: as suas folhas são muito dentadas e as suas flores amarelas parecem com a juba de um leão. Em determinada fase, quando a flor é soprada ela se desfaz com facilidade. 

Em determinada fase, quando a flor é soprada ela se desfaz com facilidade. As sementes são levadas pelo vento, se espalham e, no período certo, florescem novamente. Quem não fez isto, quando criança? 

Devido a essa característica é também conhecida pelo nome "esperança". A frase "abre as janelas e deixa a esperança entrar na tua casa trazida pelo vento da tarde" é uma referência ao Dente-de-leão. Ao soprar, as pessoas desejam ver suas plumas se desprender e voarem livremente. Assim as sementes são levadas pelo vento, espalham-se e, no período certo, florescem novamente. Essa característica remete a esperança, sendo comum antes de soprar suas pétalas plumadas, as pessoas fecharem os olhos e evocarem um desejo silencioso. 

A lenda 

As lendas nos contam que o dente-de-leão, esta plantinha que nasce entre as gramas e nos buraquinhos das calçadas, formou-se pela poeira deixada pela carruagem do Sol, em suas andanças diárias, porque suas flores amarelas se abrem ao nascer do dia e se fecham ao cair da tarde. Seu nome parece derivar da palavra grega Taraxos, que significa doença e akos que significa remédio. No século X já era usado pelos médicos árabes e no século XVI já era um dos principais medicamentos nas boticas da Inglaterra. 

No século XIX, na Europa e nos Estados Unidos, era muito comum e quase todo mundo tinha ao menos uma muda num vaso. Com o passar do tempo caiu no esquecimento. No Brasil, ainda é considerado uma erva daninha, que depois da tiririca deve ser a erva mais detestada pelos jardineiros que certamente desconhecem suas qualidades fantásticas. É ótimo companheiro das árvores frutíferas e um dia seu grande valor será reconhecido outra vez.


                                                                                    O Símbolo da Flor do Maracujá 

Nos tempos de namoro com minha Princesa (2003), chamava-a de "Flor do Maracujá". (Meu pai sempre chamava assim, à minha mãe). 

O homem como a flor do campo assim floresce; apenas é tocada pelo vento, já não existe; nem o seu lugar a conhece mais. (Salmos 102, 15-16). 

Por que a flor do Maracujá é conhecida como "florda-paixão".  O maracujá é o fruto da paixão - Missionários estrangeiros viram nessa flor e fruto muito mais do que beleza e perfume. Os religiosos viram naquela formação complexa e admirável, um verdadeiro presente de Deus para iluminar seu trabalho de catequese, encontrando em suas formas e cores exóticas, a metáfora perfeita para explicar aos infiéis indígenas a "truculenta história da Paixão de Cristo". (BECKER, 1999). A flor do maracujá, por causa da disposição das suas pétalas, em forma de estrela, frequentemente tornou-se símbolo do Sol, da órbita terrestre ou do Centro (por exemplo, a flor de lótus no sudeste asiático). Muitas flores vistosas eram admiradas por motivos estéticos e por conterem substâncias psicotrópicas. São também concebidas como mensageiras da Primavera, mas também como símbolos do desejo sexual.  

As flores de uma forma neutra simbolizam a força vital e a alegria de viver, o fim do Inverno e a vitória sobre a morte.  Na simbologia cristã, o cálice aberto para cima é referência à recepção das dádivas divinas, da alegria infantil pela natureza do paraíso, mas também da transitoriedade de toda a beleza terrena, que só pode ser duradoura nos jardins do céu.  Na Bíblia a flor é referência ao que é aprazível a Deus, como o comprovam as varas de José e de Aarão.  

Um pau seco de onde brotam flores é também, em muitas sagas e lendas símbolo da complacência divina e da esperança. As cores das flores também são consideradas simbolicamente (branco: inocência, pureza, morte; vermelho: vitalidade, sangue; azul: segredo, dedicação interior; amarelo: sol, calor, ouro). O simbolismo tântrico-taoísta da Flor de Ouro é também o resultado do mais elevado alcance espiritual: a floração é o resultado de uma alquimia interior, da união da essência (tsing) e do sopro (k’i), da água e do fogo. A flor é idêntica ao Elixir da vida; a floração é o regresso ao Centro e à Unidade. Na arte japonesa de arranjo floral (Ikebana), a flor é considerada como o modelo de desenvolvimento da manifestação, da arte espontânea.  

O arranjo floral é efetuado segundo um esquema ternário: o raminho superior é o do céu, o médio, do ser humano, o inferior é o da Terra. Assim se exprime o ritmo da tríade universal, na qual o ser humano é o mediado entre o céu e a terra. (GHEERBRANT E BIEDERMANN, 1993) Uma das poucas plantas incluídas nas nossas tradições religiosas é o maracujá. Isso se deve aos jesuítas que conheceram na América tropical as plantas de maracujá. Os jesuítas ficaram impressionados com a beleza da flor do maracujá e viram na planta várias características que eles associaram à paixão de cristo. Daí o nome flor da paixão. Por essa razão, Lineu deu à planta o nome científico passiflora: florda-paixão, em português. (MANICA, 2005).  

Representa a Paixão de Cristo, o período ocorrido da traição à crucificação, as últimas 12 horas de Jesus.  O episódio é relembrado pelos cristãos durante a Sexta-feira Santa, que termina com a celebração da Páscoa no domingo. A morte de Jesus antecedeu o principal evento dos judeus, também chamado Festa dos Pães Ázimos, em memória à libertação do Egito. O período entre a morte e ressurreição de Cristo foi incorporado à comemoração pascal, que remete à esperança, passagem e renovação. O simbolismo desse evento cristão está representado no maracujazeiro.  

E a concepção foi definida no Brasil do século XVI, após o Descobrimento. Os missionários europeus que chegaram ao país identificaram na flor do maracujá a imagem da Paixão de Cristo. O fruto brasileiro, marcante no cheiro e paladar, foi eleito para representar a principal história bíblica.  

Existe uma associação da flor com a paixão de Jesus Cristo: A coroa floral representava a coroa de espinhos, os três estigmas da flor simbolizavam os três cravos que prenderam Cristo na cruz; e as cinco anteras florais, as cinco chagas de Cristo; as gavinhas eram os chicotes com que o açoitaram e o fruto redondo representa o mundo a que Cristo veio salvar. (MANICA, 2005).  

Tratou-se de uma estratégia lúdica e didática para explicar princípios bíblicos por meio da comida para os nativos, alvos da evangelização cristã. Todos nós não importamos a vocação, trabalhamos a partir de certas metáforas básicas.  Essas metáforas não são propriamente filosóficas conscientes, cuidadosamente elaboradas, mas antes, atitudes semiconscientes enraizadas na própria estrutura da psique. (HILLMAN, 1993 [1964]).  O maracujazeiro era louvado por suas flores, pela sombra fresca e pelos frutos, que abrigavam colonos, viajantes e missionários nas tardes quentes da América Tropical.  

No século XVI além de ser apreciado pelo sabor e o cheiro, era utilizado pelas propriedades medicinais. As folhas, por exemplo, eram bem pisadas e colocadas em cima de feridas para “tirar o fogo e câncer que tiver”, devido a sua natureza fria. Além da pré-disposição religiosa, a fruta é rica em vitamina C e potássio, o que a torna um diurético natural. A polpa também é rica em fibras, tem efeito sedativo e hipotensor. Além das suas folhas serem usadas como emplastros em queimaduras. (MANICA 2005)                                                    
                                                         
                                                                         

Festa do Pinhão, a mais antiga do gênero no Brasil. 


Desde o pinheirinho do Natal até nos dias chuvosos e frios da serra, com uma lareira abastecida com "nós de pinho", a araucária sempre esteve presente na vida humana. Os povos indígenas, puris, Goytacazes e botocudos, que habitaram a Serra da Mantiqueira há mais de 500 anos, foram os primeiros a usufruírem da araucária. O hábito de comer pinhão foi herdado por essas tribos indígenas. Esses antigos habitantes, viviam da caça, e da coleta do pinhão, que representou um alimento fundamental. Os pinhões também serviam de alimento para muitos animais da região; logo, além de importante na alimentação, a fartura de pinhões também significava uma boa caça para esses índios. O apreço da semente era restrito a quem vivia nas regiões mais frias e altas da Mantiqueira, onde as araucárias domavam os vales e campos. Consumiam o pinhão na sapecada: o pinhão era coberto com as folhas (grimpas) da araucária e se colocava fogo, assando o pinhão que depois era descascado e consumido na floresta. Até hoje, muitos usam as próprias folhagens do pinheiro para assar e deixar o pinhão no ponto exato para o consumo.

A presença do pinhão remonta a importância que tem como alimento para as primeiras populações das serras. Os bandeirantes do Vale do Paraíba, por exemplo, marcavam a saída das incursões em datas que fizessem coincidir com a passagem pela Serra da Mantiqueira, com a safra de pinhão. Assim, garantiam uma alimentação farta e de alto poder alimentício e energético. Consumida há milhares de anos pelas tribos indígenas, a semente de araucária se destaca por conter uma grande quantidade de fibras. Cozido em grandes panelas ou assados na brasa, é uma festa e a sua degustação coletiva se transforma em uma verdadeira comunhão.

As Imponentes árvores que são conhecidas por muitos simplesmente como pinheiro fazem parte da história e formam as lindas paisagens de Campos do Jordão na Serra da Mantiqueira. Elas demoram até 20 anos para produzir os seus primeiros pinhões na natureza e é normalmente no mês de abril (no início do outono) que os pinhões começam a cair devido à mudança do clima.

Nada chama tanto a atenção na paisagem de Campos do Jordão quanto a araucária, com seus 50 metros de altura e uma copa, imensa, que se abre em forma de taça. Além do porte imponente, outro atrativo da espécie é sua semente, o pinhão, que amadurece na chegada do outono e anuncia os dias claros e secos do inverno na Serra da Mantiqueira. Nascido de árvores fêmeas, essa parte comestível da imponente planta é ingrediente importante da cultura e da gastronomia locais. É comum no período de abril a junho, quando as sementes se soltam das pinhas maduras e se espalham pelo chão, famílias se reunirem para, como os jordanenses dizem, “catar pinhão”. A atividade consiste em ir até as regiões com grande número de pinheiros e retornar com sacos cheios de sementes, que mais tarde serão consumidas entre parentes e amigos.

Para muitas famílias, o pinhão é sinônimo de renda. É comum ver vendedores da semente, circulando pelas ruas centrais da cidade; muito pinhão é vendido diretamente ao consumidor na beira da estrada ou para atravessadores que compram na montanha e repassam para os centros comerciais.

Até mesmo um evento foi criado para celebrar a curiosa opção gastronômica. A Festa do Pinhão, realizada anualmente, conta com apresentações culturais e muitas delícias feitas com a semente, como bolos, tortas, cozidos e assados que são oferecidos aos visitantes. Com o sabor protegido por uma espessa casca, o pinhão tanto pode ser consumido como aperitivo, após ser cozido em panela de pressão, quanto em pratos acompanhado com carnes e legumes.

Realizada desde 1961 pelo Lions Clube e oficializada pela Prefeitura Municipal de Campos do Jordão em 1969, a Festa do Pinhão é reconhecida como a mais antiga do gênero no Brasil. O evento celebra um dos maiores símbolos da Serra da Mantiqueira em receitas criativas e exóticas, destacando o pinhão como ingrediente versátil e importante.

A festa que tem como temática o fruto da araucária, o pinhão, que nela se faz presente em pratos especiais, vai além da gastronomia, contando com várias atrações culturais como: teatro, ballet e música clássica e também com escolha da rainha da festa e dos melhores pratos típicos feitos com pinhão. Espécie em perigo de extinção, sua apropriação temática pela festa além de possível contribuição à preservação da planta, possui significados culturais e sociais, por sua inserção na comunidade.

Na festa valoriza-se mais o aspecto subjetivo da cultura do pinhão: a importância está no seu significado ao turismo, cultura gastronômica e atrativo de cidade serrana. É uma expressão de cultura altamente apreciada pelos turistas e, indispensáveis na composição do produto turístico jordanense. Esse patrimônio cultural é tão rico que passa a ser objeto de roteiros gastronômicos.

Fontes:

SCHMITZ, Pedro Ignácio. A araucária e os povos indígenas. 2006. Disponível em: <http://amaivos.uol.com.br/amaivos2015/?pg=noticias&cod_canal=41&cod_noticia=7133>. Acesso em: 15 fev. 2018.

LINO, Maurício de Souza. Da Freguezia do Imbery aos Campos do Jordão. Campos do Jordão: Clube de Autores, 2017. 414 p.

______________. Pinhão.2018. Disponível em: <http://www.portalsaofrancisco.com.br/alimentos/pinhao>. Acesso em: 15 fev. 2018.


                                
Campos do Jordão, a 8ª Maravilha do Brasil


Estação de Vila Abernéssia, 1925
O Brasil também tem as suas sete maravilhas, e os Campos do Jordão hão de ser a oitava, forçosamente.
Uma viagem de acaso me levou a rever agora os Campos do Jordão, onde residi em 1922 e 1923, à procura de “melhores climas”, conforme o verso do sr. Alberto de Oliveira.

O Brasil também tem as suas sete maravilhas e os Campos do Jordão hão de ser a oitava, forçosamente.

Oh! Que delícia de ar puro, de ar seco e frio, entre aquelas montanhas onde jamais nos surpreende o mínimo calor! Que panoramas encantadores, com as lombas de suave relevo desdobrando grotões d’onde emerge a multidão inumerável dos pinheiros bravos, os exclamativos pinheiros de braços abertos, agradecendo ao céu azul! Como a vida física se torna um prazer de todas as horas!

A mil e seiscentos metros de altitude, pelos vales em que se espalham as três povoações irmãs(Vila Abernéssia, Vila Jaguaribe e Vila Capivari), multiplicaram-se as casinholas primitivas de há quinze anos e agora se estendem os telhados vermelhos de uns quinhentos bangalôs, chalés, palacetes e vivendas graciosas de todas as formas.

No meu tempo – que é de ontem – a Vila Capivari ia nascendo. Tinha somente oito telhados: o da velha Pensão Inglesa Filial, um armazém de secos e molhados e seis bangalôs. Era só o que se avistava no largo, estupendo vale que fica entre o Morro do Elefante, o morro da Caixa d’água e as lombas do Poço Fundo. Agora, que diferença! Umas cem casas novas, branco e vermelho, todas elas deliciosos vitlinos de moderno estilo, dão coloridos e volumes alegres à antiga pastagem verde.

A agitação constante dos automóveis e das charretes levanta a poeira amarela das ruas – a poeira em que o sol, em quatro horas de incidência direta, assassina a fauna traiçoeira de Koch, o alemão. (O francês cuidava de romances gaiatos; - não confundir).

Um sol como o de Portugal

O sol! O belo sol de campos do Jordão! O ilustre escritor sr. José Vieira, meu querido amigo, quando andou pela Serra da Estrela, em Portugal, também à procura “de melhores climas”, compôs um livro, de observação e de amor, sobre as terras que lhe restituíram a saúde. Esse livro é “Sol de Portugal”. Nunca me conformarei com a impossibilidade de dar um título análogo a certo livro inédito, que escrevi sobre a Suíça brasileira. É preciso, desgraçadamente, respeitar a propriedade literária...

Sol de Campos do Jordão! Como encontrar, porém, outras palavras que resumam essas montanhas maravilhosas?

O sol é a mais forte impressão que nos dá aquela região amorável. Nítido, puro, alto, parece o dono das montanhas e dos campos, a zelar pelo seu esplendor e pela sua eficiência. Ocultos em solários de tábuas ou de pano, no alto das lombas, alguns doentes, no último período da cura, consolidam os seus pulmões reconstituídos, expondo-se nus aos raios intensos, riquíssimos dos ultravioletas. Esse detalhe fere a vista porque parece conter todo um destino: o destino dos Campos do Jordão, estação de cura, presente de Deus a todos os tísicos do mundo.


                                                                                       A Vida nos Campos do Jordão

Matriz de Vila velha, 1927
As curas radicais, absolutamente verificadas, no clima excepcional de campos do Jordão, deslumbram os mais céticos. Infelizmente, só agora se começa a construir sanatórios. Até aqui, em longos anos de utilidade progressiva, os Campos do Jordão estão entregues ao acaso das pensões e das residências particulares: faça regime quem quiser; cure-se quem puder.

A natureza, no entanto, é maternal. E muitas vezes perdoa a falta de juízo dos doentes, que ao primeiro surto de vitalidade renovada só acreditam já curados e desembestam a fazer todos os excessos.

Nem se pense, porém, que se tenha a impressão de chegar a uma povoação de tuberculosos, quando o trem elétrico, que sobe de Pindamonhangaba, atinge Vila Abernéssia depois de duas horas de viagem. A população que se agita na estação, ou pelas ruas (que aliás são por enquanto meras estradas), apresenta um ar distraído ou festivo, nunca um ar de quem está curando o corpo.

Somente, nas varandas das casas tranquilas, as cadeiras de lona, em que repousam os “fundos”, recordam ao viajante o lugar em que ele está.

Aliás, esses rapazes de cores excelentes e essas moças palradoras, em grupos na gare ou nas estradas – tossem.

Três Vila Irmãs

A Vila Abernéssia é o centro comercial da estância. Nem lhe falta, para ter uma aparência de verdadeira cidade, a instalação severa de um posto policial. A Vila Jaguaribe, que fica logo a seguir, foi o primeiro centro de população. Pertence quase toda a uma rica propriedade, que não se resolve a mandar derrubar umas tristes casas de madeira, podres, infectas. Somente há pouco tempo começaram a surgir os telhados novos das primeiras residências confortáveis de tijolos. Depois, vem a Vila Capivari, a povoação de luxo. Avistam-se apenas casas ricas. É a primeira classe da tuberculose nacional, uma tuberculose elegante e pudica, afetando ares enjoados de doenças do estômago e vísceras vizinhas. Uma tuberculose que finge veranear. Essas povoações ficam quilometro e meio, uma da outra.
Vila Velha, 1927

Ameia légua que vai da Vila Abernéssia à Vila Capivari, separa dois mundos incompatíveis e hostis, como outrora Roma e Cartago... Se a Vila Capivari é a residência da plutocracia dos milionários paulistas, que tem sempre na família uma moça pálida (em convalescença de uma operação) ou um rapaz fraco (por causa do fígado), a Vila Abernéssia, composta de uma burguesia modesta e franca, bate no peito e exclama, desdenhosa de subterfúgios:
_ O que nós temos é tuberculose! Eis ai!

Afinal, tanto se curam uns como outros. Porque Deus é bom e deu ao Brasil os Campos do Jordão, oitava maravilha deste lindo país.

Fonte:

De Ribeiro Couto, especial para o Jornal “A Província” de Pernambuco, nº 200, de quarta-feira, 28 de agosto de 1928.



E o mundo não se acabou...


No momento atual, só uma canção me vem a mente:

Anunciaram e garantiram que o mundo ia se acabar / Por causa disso minha gente lá de casa
Começou a rezar...
E até disseram que o sol ia nascer antes da madrugada / Por causa disso nessa noite lá no morro
Não se fez batucada...
Acreditei nessa conversa mole, pensei que o mundo ia se acabar / E fui tratando de me despedir
E sem demora fui tratando de aproveitar...
Beijei a boca de quem não devia / Peguei na mão de quem não conhecia
Dancei um samba em traje de maiô / E o tal do mundo não se acabou...
Anunciaram e garantiram
Que o mundo ia se acabar
Por causa disso
Minha gente lá de casa
Começou a rezar...
E até disseram que o sol ia nascer antes da madrugada / Por causa disso nessa noite
lá no morro não se fez batucada...
Chamei um gajo com quem não me dava / E perdoei a sua ingratidão
E festejando o acontecimento / Gastei com ele mais de quinhentão...
Agora eu soube que o gajo anda / Dizendo coisa que não se passou
É, vai ter barulho e vai ter confusão
Porque o mundo não se acabou... 

Talvez muitos conheçam os intérpretes da canção, além de estarem familiarizados como nunca com o tema. Na voz de Carmem Miranda e Adriana Calcanhoto, este atualíssimo samba ultrapassou fronteiras, sem nunca dar o crédito ao verdadeiro compositor : Assis Valente. É natural do ser humano, e observável até para mim, um espécime com 32 rotações, que todos adoram um fim do mundo. Ultrapassei alguns fins de mundo incólume, posso afirmar. Quem é da minha geração lembra de 1999. Se já não bastasse as especulações com as coincidências de número, que sempre impressionam ( eu sei, eu sei, mas só o Papa Gregório e uns incautos se lembravam que a passagem de século e milênio seriam em 2000 para 2001. Eu também sabia, mas diabos, pra que perder a festa? ) a mudança seria tecnológica! Por algum motivo obscuro, os computadores tinham o contador do ano com os dois últimos dígitos, logo, depois de 99 viria o 00, que deixaria todos os computadores inoperantes e traria o caos. Pessoas estocaram comida, com medo de algo que eles não entendiam muito bem, mas sabiam que era bem ruim. Foi uma época de medo, mas qualquer pessoa minimamente instruída sabia que esse medo era estúpido, mesmo que ele saísse na Times. O que, francamente não quer dizer muito. 


Acabou que o medo era meio infundado, as máquinas não se revoltariam e exterminariam a humanidade, nem os computadores que regulam as Bolsas de Valores e as Usinas Hidrelétricas seriam prejudicadas. A população ficou em pânico, mesmo sem saber o que era um computador e o que ele fazia, mas se passava no jornal era algo preocupante, decididamente. Crianças em casa e comida estocada. Eu vi, sério.

Aprendemos algo entre esse dois fins de mundo. Uma coisa é clara : a mídia está menos alarmista. No último fim de mundo que vi anunciaram que até os dados bancário seriam apagados. Desespero, mas não pude deixar de notar alguns olhares de satisfação.

O motivo deste fim de mundo é muito semelhante ao último. Um cataclisma que levará a sociedade como conhecemos ao caos e a destruição; um motivo meio que absurdo, mas que é repetido tanto a exaustão por “especialistas” de tv que alguns engolem; Uma crença absoluta na conexão de tantos pequenos detalhes que é necessário um sentimento de “ quero mesmo que tudo vá a merda” ou uma estupidez fora do normal; a falta de conhecimento de elementos básicos para entender o que está acontecendo, que se estende, infelizmente, a outros fatores da vida. E têm que se mencionar – o desejo do ser humano pelo fim.

Esse é o ponto mais interessante de tudo isso – o desejo pelo fim. O ser humano anseia pelo fim, não de si próprio, mas de toda humanidade. É facilmente observável : em todos os momento da humanidade o homem escreveu o fim do mundo. No Antigo Testamento, o mundo acaba para renascer de novo. O apocalipse de João fala sobre o fim, mas não um distante, como gostam de interpretar, mas próximo de sua realidade. A perseguição aos cristão na sua época era tão ferrenha e cruel que cabia um cataclisma, para separar os bons dos maus, e isto está escrito lá, obviamente, em linguagem figurada, típica de quem vive em regimes autoritários e de exceção. Não achavam que haveria mundo após a queda de Roma, e, mesmo, eu sou muito curioso sobre qual conversa que o Papa teve com Átila, o Huno, antes de invadir e destruir a civilização ocidental. Imagino que as imagens apocalípticas devem ter feito a cabeça do bárbaro. Não sei. De 999 para 1000 disseram que o mundo ia acabar também, e não duvido que esta crença motivou as cruzadas, já que nesta época a terra santa pertencia aos árabes, e os cristãos a recuperaram 99 anos depois. A peste negra também foi considerada o fim da humanidade. Matando mais de 70 milhões de pessoas, esta praga que hoje acredita -se ser, como outras, oriundas da ásia ( cortesia do Sr. Khan ) Foi o Fim do mundo para muitos. Cidades desertas, e a crença que a Dona Morte estava estava em toda parte eliminaram boa parte da população européia. E em 1899 para 1900 também houve pânico. O desenvolvimento das artes e a independência dos artistas ( estes depravados ) deixou muita gente em desespero. Sem falar de vários falsos profetas que enxergavam em desastres naturais, incêndios ( comuns na Revolução industrial ), nos poetas românticos e nas danças (? ) os sinais para o fim do mundo. Podiam incluir aí o Darwinismo e o Marxismo. Compreensível, até. As monarquias definitivamente falharam e a arte mudava a passos largos. Apocalipse? De idéias, talvez.

Não esqueçamos das guerras em seguida e da guerra fria, no qual o noticiário popular ameaçava acabar com o mundo toda semana, mas eu era pequeno. Lembro de algumas coisas como o arsenal soviético poder destruir o mundo x vezes. Mas eu não me importava. O meu Comandos em Ação, na minha opinião na época, ia dar conta. E o 11/9 foi senão, uma gafe com milhares de vítimas, por mais que eu fui acordado pelo meu pai, achando que a terceira guerra havia começado.

O egoísta homem deseja que o mundo acabe durante o seu período de vida, para que nada, nada mais aconteça após ele partir. E a nossa fixação atual por apocalipses, sejam eles meteoros, tsunamis, Nibirus, radiações, Et´s, intraterrenos, zumbis, doenças, previsões improváveis de uma civilização extinta, só mostra o desejo imenso da nossa geração em abandonar a vida em conjunto. Rejeitamos a morte, mas “se todo mundo morrer, tudo bem”.O fim do mundo é mais um espetáculo, que, ansiosos, aguardamos para ver em nossas tv´s de plasma e nos ressentir falsamente pela desgraça alheia ( somos bons nisso ) ou sermos atingidos em meio a orações e devaneios, com o orgulho dos mártires ou daqueles que fazem parte do espetáculo. Participamos do último momento, do último click, do último close deste planeta que nunca cuidamos direito, de nossas vidas que nunca significaram muito para nós, já que não somos rock stars ou artistas de cinema. Talvez o verdadeiro significado do calendário maia ( calendário significa, rusticamente falando, chamada, convocação, entre os romanos. Era quando líderes informavam as obrigações religiosas dos meses lunares ) de renovação de energias, de outro ciclo – sim, é um ciclo – que expurgue as energias negativas e comece tudo de novo. E nós precisamos muito de começar de novo, pois até aqui não demos muito certo.                                        

O mundo acaba sim, todo dia, para quem morre. Como acabou para Assis Valente, da música do início. Baiano, de Santo Amaro, Boêmio, Negro e possivelmente homossexual, seus versos inteligentes firmaram a base do samba Brasileiro. Gravado Por Carmem Miranda, Marlene, Luiz Gonzaga, Ney Matogrosso, Adriana Calcanhoto, Maria Bethânia, Nara Leão entre outros, viu acabar o mundo ao se suicidar, em março de 58. Deixou clássicos intocáveis, como ”Brasil Pandeiro” e “Cai cai balão” e a música supracitada, além de influenciar Moreira da Silva, Chico Buarque, Paulinho da Viola, Cartola, entre outros. Assis buscou o seu próprio fim de mundo em um frasco de formicida, por desilusão e tristeza. Esquecido, mesmo tendo ensinado o país a sambar e com letras que até hoje são relevantes e atuais. E até hoje têm uma obra reverenciada, que sobreviveu a sua parca humanidade. Vivamos, senhores. Vivamos. (Por Rodrigo Pompeu)



A voz de Joaquim Correa Cintra. Sobre a devastação das matas, aos incêndios e queimadas
.
A minha conversa hoje, com o benigno leitor, é sobre uma coisa séria, uma responsabilidade coletiva: estamos preparando a desgraça para os nossos filhos, se não cuidarmos cada um de nós, dentro de nossa esfera de ação, do reflorestamento. Não é um assunto banal. Não. É uma verdade axiomática. Sim, já provou sobejamente o inigualável Euclides da Cunha, que o homem coopera enormemente na construção ou na destruição de desertos.

Seria longo demais, historiarmos, valendo-nos da exposição desse insigne patrício, as causas secas no nordeste brasileiro e da fertilidade da Tunísia, na África.

O deserto!... Que mal-estar nos causa, o simples fato de imaginarmos uma hipótese, mesmo que seja remota, de um dia termos de habitar um deserto!...

Mas estamos nesse caminho!

Ainda bem, que os governantes estejam preocupados com esse problema. Praza a Deus que os nossos legisladores não tardem em cuidar seriamente do assunto. Que venham leis enérgicas contra os devastadores de matas. Que venham estímulos poderosos para os reflorestadores. Que não tenhamos o falso pejo de copiar as coisas boas dos outros povos. Da Argentina temos muito que copiar em muitas coisas. Dos estados Unidos da América do Norte, igualmente podemos aprender muito. Por exemplo, a lei de proteção à floresta: “Se, se derrubar uma árvore, que se plante duas em seu lugar”.

Meu leitor amigo, o reflorestamento é uma responsabilidade coletiva. E a nossa responsabilidade neste setor, não é mais das lisonjeiras(...).

É, portanto, uma tarefa de todos nós. Se não quisermos que os nossos filhos ou netos tenham por herança um Brasil deserto, de solo estéril, de clima supliciante. Tudo isso está cientificamente provado que está ligado ao problemático reflorestamento: a proteção à fertilidade do solo, aos mananciais, ao afastamento do flagelo da estiagem.

Assim, pois, não podemos assistir de braços cruzados à devastação das matas, aos incêndios e queimadas, ao caboclismo no plantio das roças, à preguiça dos que n]ao cultivam racionalmente o solo. A todos inconscientes e criminosos, que por qualquer pretexto destroem uma árvore.

Reflorestar. Reflorestar é um programa de governo. Reflorestar é um problema para o povo. Reflorestar é um dever de patriotismo. Reflorestar é uma responsabilidade coletiva.

Urge formar a opinião pública e a consciência dos brasileiros. É um grande roteiro. Aliás é também uma oportunidade para todos os que quiserem ser úteis pois já foi dito por um grande pensador: ”quem não quiser passar a vida em brancas nuvens, deverá ou ter um filho ou escrever um livro, ou plantar uma árvore.

E no presente caso, não se trata de ser útil, e sim de um dever: ensinar, propagar, promover, realizar o reflorestamento geral.

Fontes:

CINTRA, Joaquim Corrêa. Verdade Axiomática. A Cidade: Campos do Jordão. Campos do Jordão, 13 mar. 1949. p. 1-4.



Reescrevendo a história de um herói bandeirante: o mito do Oyaguara

Durante o século XIX a historiografia brasileira valorizou os bandeirantes a tal ponto de qualificá-los de “heróis”. Nos livros didáticos até um tempo atrás era comum chamá-los de a “raça de gigantes”, ou seja, aqueles homens que tiveram a coragem de desbravar os sertões e expandir a fronteira, homens corajosos e virtuosos que enfrentavam as adversidades do ambiente. Os manuais escolares narravam os “grandes” feitos de conhecidos bandeirantes; porém, com o revisionismo historiográfico da segunda metade do século XX, a questão sobre os bandeirantes foi dissecada e de “heróis” passaram a “vilões”.

Os bandeirantes - os homens que participavam das bandeiras e entradas - eram principalmente paulistas, que, entre os séculos XVI e XVII atuaram na captura de escravos fugitivos, destruição de quilombos, aprisionamento de indígenas, mapeamento de territórios e na procura de pedras e metais preciosos.

Apesar do romantismo e heroísmo apresentado pela história brasileira, a realidade vivenciada pelos bandeirantes era precária. Andavam descalços, as roupas em farrapos, e era comum sofrerem de fome, doenças e ataques de animas selvagens e índios hostis. Essa dureza das expedições tornava os bandeirantes homens extremamente violentos, ambiciosos e rudes, características muito utilizadas para a escravização de índios e combate aos quilombos.

Um grande número de pessoas é incapaz de pensar sozinha, precisa de uma liderança, um herói que o diga o que e quando fazer algo. Talvez uma fraqueza do ser humano explorada há milhares de anos, pelas religiões e pelos oportunistas. Infelizmente, brasileiro é carente de heróis e brasileiro como todo ser humano procura heróis para idolatrar. 

Vou citar um herói nacional, vale-paraibano: Gaspar Vaz da Cunha, o Oyaguara. Este, vai quebrar paradigmas.

Minas Gerais ainda era um protótipo quando o taubateano Jaguara era temido em seus povoados. Matador por ofício- opinião de seus detratores- que fez (má) fama na Minas Gerais dos primeiros tempos aterrorizando a população local. Diziam que ele semeava as ruas de chumbo.

Jaguara foi comparado a um personagem da mitologia grega: Cérbero, o cão de três cabeças que guardava os portões do inferno. Pelo menos foi assim que ele foi retratado por seus desafetos em documentos históricos. Saiu de Taubaté, alcançou Campos do Jordão, atravessou a Serra da Mantiqueira até o rio das Mortes, na futura Minas Gerais. Isso tudo na última década do século XVII. Antes de transpor a Serra da Mantiqueira, o Capitão Gaspar Vaz da Cunha, fez por merecer uma estátua na Suíça brasileira: foi o primeiro homem branco a pisar em Campos do Jordão. Por volta de 1703, ao pôr os pés na região se deparou com belas paisagens e tribos indígenas. Bruto e cruel, como a maioria dos bandeirantes, logo passou a ser chamado de “Oyaguara” (algo como cão feroz ou lobo) pelos índios. Apesar da falta de compaixão demonstrada com os indígenas, Oyaguara é uma figura importante no descobrimento de Campos do Jordão, uma espécie de primeiro agente de turismo da história da cidade. 

Atraído pelo ciclo do ouro, Oyaguara permaneceu pouco tempo em terras jordanenses e logo migrou para seu destino final, a região de Itajubá, no sul de Minas Gerais. Chegando lá contou extasiado aos mineiros sobre a exuberante natureza, o multicolorido das flores silvestres, a elegância dos pinheirais, as águas das cachoeiras, o frio cortante e o impressionante céu azul. “Um paraíso na terra”, teria dito. Segundo outros relatos, em terras mineiras, o Oyaguara não se ocupou apenas de divulgar as belezas da futura Campos do Jordão.

Na visão de alguns de seus contemporâneos, o sertanista foi, literalmente, o terror do pedaço.

“Um taubateano cognominado Oyaguara, que pela língua da terra é o mesmo que cachorro bravo, o qual quando se embriagava tomava por empresa o fazer-se pôr a cavalo e, armado com os seus escravos, encaminhar-se por distância de mais de uma légua para este arraial, e entrava por ele dando mostras de sua bebacidade pelas bocas de suas espingardas, semeando as ruas de chumbo, e pela sua mesma boca com tais latidos que o mesmo era Oyaguara neste arraial que o Cérbero no inferno, e em tudo o mesmo, porque se o Cérbero no inferno era faminto das almas o Oyaguara nas Minas o era das vidas, em que ceava a sua fome e a de alguns amigos que se queriam valer da sua boa vontade”. (Relato de José Álvares de Oliveira em História do distrito do Rio das Mortes, sua descrição, descobrimentos das suas minas, casos nele acontecidos entre paulistas e emboabas e ereção das suas vilas). Códice Costa Matoso p. 278-79.

Segundo a obra “São Francisco das Chagas de Taubaté, de José Bernardo Ortiz, o Capitão Gaspar Vaz da Cunha, apelidado o Oyaguara ou o Jaguaretê, morador de Taubaté, foi juiz ordinário e de órfãos em 1678 e recebeu sesmaria no bairro de Piracuama, em 1700.

Em 1703 fez abrir caminho, provavelmente cortando essa sesmaria, unindo o bairro de Pindamonhangaba ao Sapucaí, o que facilitou o acesso às regiões auríferas pela garganta de Piracuama. Foi um bandeirante destemido, que partindo de Taubaté demandou o rio das Mortes no final da última década seiscentista. Incluiu-se entre os pioneiros no descobrimento de ouro nessa região, em que acampou com sua bandeira e onde os índios lhe mostraram o metal precioso no capim, sob forma de folhetas e grãos. Aí instalou ele suas lavras e se tornou um ferrenho inimigo dos emboabas.

Em um trecho do livro "Boa Ventura! A Corrida do Ouro no Brasil", lançado em 2011, o jornalista Lucas Figueiredo conta uma versão bem diferente sobre a identidade e o destino do terrível Jaguara.

José Machado, o Oyaguara, um taubateano odiado pelos emboabas, tido como “matador por ofício” e arruaceiro violento, desentendeu-se com o reinol Domingos Ribeiro. Depois da discussão, Oyaguara se refugiou na casa de um ferreiro, à espera que um tio seu, o rico e poderoso Simão Pereira de Faro, viesse resgatá-lo. O tio de fato foi ao encontro do sobrinho, mas encontrou uma turba enfurecida. Resultado: os forasteiros mataram Oyaguara e seu tio e depois botaram fogo na casa do ferreiro.

A visão crítica da História nos ensina que não devemos julgar nem bandeirantes nem jesuítas pelos parâmetros de hoje, mas entendê-los como indivíduos sujeitos às condições de sua época. 

A fama de mal não foi empecilho para que o Oyaguara fosse homenageado pelos jordanenses. O bandeirante surge como um bravo herói nacional responsável por desbravar novos limites da região da Mantiqueira. Há mais de 50 anos ele ganhou um monumento em Campos do Jordão, num dos mais valorizados centros turísticos do Brasil. Na vila Abernéssia, centro comercial, uma estátua localizada na Praça Júlio Domingues Pereira, mais conhecida como Praça da Telefônica, presta homenagem ao desbravador desde 1961. Para além de história do monumento (da qual podemos discordar, mas para isso temos que conhecer), existe um artista e uma obra de arte. E estas obras, criadas por encomenda para legitimar ideias são determinantes também para desconstruir estas ideias.

A ciência histórica não tem a função de colocar o passado no tribunal e julgá-lo. Ela visa explicar e compreender determinados comportamentos humano no tempo. Se os bandeirantes foram heróis ou vilões, depende do momento, depende do que se quer mostrar.
Certamente eles alargaram nossas fronteiras nacionais, mas também escravizaram e mataram muitos nativos, além de levar doenças que dizimaram povos inteiros.

Precisamos tomar cuidado com duas coisas: o anacronismo e o maniqueismo. Educar para a cidade e civilidade é agregar, não subtrair. Ou nós estaremos no caminho de ser o Estado Islâmico que dinamitou obras fundamentais para a construção do conhecimento e da história humana, por discordar da função destas, em relação a visão de mundo que eles têm atualmente.

O objetivo desse texto é mostrar as duas vertentes interpretativas sobre os bandeirantes. Uma baseada no positivismo, que os consideram como heróis e outra pautada no materialismo histórico que denuncia o caráter violento deles. Penso que nenhuma nem outra é a mais "verdadeira".

O importante é percebê-los dentro de um contexto, onde viveram as contradições humanas. Isso tudo sem justificar as atrocidades cometidas contra as populações indígenas. Encarar esses personagens como mocinhos ou vilões rouba-lhes a verdade histórica e a única riqueza que talvez tenham conquistado - já que, segundo os testamentos da época, comprovou-se que a maioria morreu pobre: a de ter lutado por interesses próprios e, por acaso, ajudado a traçar a história de um país.

O material aqui disponibilizado trata-se de pesquisas de terceiros, e estou colocando para análise de todos. Em tempos de desinformação em massa, é sempre bom obter fontes paralelas à grande mídia.

Fontes:

CAMPOS, Maria Verônica, Luciano Raposo de Almeida Figueiredo. Códice Costa Matoso. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, 1999.

ORTIZ, José Bernardo. São Francisco das Chagas de Taubaté. Taubaté: Prefeitura Municipal de Taubaté, 1996.

FIGUEIREDO, Lucas. Boa Ventura! A corrida do ouro no Brasil. 3. ed. São Paulo: Record, 2011.

RUBIM, Angelo, Mariana Tchmola e Pedro Rubim. Jaguara, o bandeirante faminto por vidas. 2016. Disponível em: <http://almanaquetaubate.com.br/index.php/2017/05/23/jaguara-o-bandeirante-faminto-por-vidas/>. Acesso em: 03 set. 2017.



        Memórias Destruídas, Memórias Apagadas

Na Região Sudeste, existem verdadeiros museus a céu aberto onde as obras de arte se expõem aos olhos de todos, ao longo das ruas em pequenas e acolhedoras cidades erguidas entre as montanhas ou junto ao mar e emolduradas pela vegetação da Mata Atlântica. O ouro, mola propulsora do processo de desbravamento e ocupação do interior do Brasil durante a colonização portuguesa, gerou a riqueza com a qual foi construído esse patrimônio cultural. Motivados pela busca das minas de ouro e diamantes, os bandeirantes paulistas fundaram grande parte das povoações que dariam origem a muitas cidades da região.

Campos do Jordão localiza-se na Serra da Mantiqueira. Ficou conhecida como a “Suíça Brasileira” devido à atração que exercia sobre os visitantes em busca de tranquilidade, clima de montanha e uma atmosfera de cidade europeia. Seus monumentos e movimentos artísticos, históricos, as paisagens notáveis, os lugares de particular beleza, as reservas, os parques e as estações ecológicas, as localidades e os acidentes naturais grandiosos exercem forte atração, especialmente dos visitantes.

Quando o frio chega, turistas de todos os cantos invadem o alto da serra. A qualidade do clima e do ar que se respira são indiscutivelmente saudáveis. O fim de semana sempre é perfeito para quem quer curtir o inverno. É um dos destinos mais procurados, pela baixa temperatura.


O descaso com o patrimônio histórico e com a memória coletiva é gritante, revoltante e desalentador. Perdemos muito cada vez que nosso patrimônio é demolido, descaracterizado ou mutilado. É como se apagassem uma página de nossa história. São danos irreversíveis. Derrubam seus patrimônios com facilidade e mesmo com o choro de muitos a depredação continua. Infelizmente isso vem acontecendo com vários edifícios históricos de nossa cidade. Nosso patrimônio histórico, entendido como um conjunto de bens e valores representativos da região, deve ser entendido como herança do povo, como “uma página de nossa história” e, portanto, é preciso que seja visto cada vez mais como uma questão da comunidade, e não apenas do poder público, mas da sociedade como um todo. Sim, é preciso que haja uma maior conscientização por parte da sociedade. 

Sem as ações de órgãos como Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) e IPHAC (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico), a situação seria terrível. Mas não podemos e não devemos transferir a responsabilidade da preservação unicamente aos organismos públicos. E a nossa responsabilidade pessoal, onde está? Como e quando, como cidadãos, lutamos pela preservação?

A memória coletiva da cidade de Campos do Jordão está em seus velhos edifícios. Eles são o testemunho mudo, porém valioso, de um passado distante. Servem para transmitir às gerações posteriores os episódios históricos que neles tiveram lugar e também como referência urbana e arquitetônica para o nosso momento atual. Preservá-los não só para os turistas tirarem fotos ou para mostrar aos nossos filhos e netos, mas para que as gerações futuras possam sentir “in loco” a visão de uma cidade humana e como se vive nela. É claro que, da mesma forma que a cultura usada como estratégia de mercado, priorizando questões econômicas acerca da preservação do patrimônio histórico cultural, pode ser também uma grande aliada na conservação de prédios e monumentos históricos. 

Entretanto, a preservação deve ter, além do caráter estilístico, embelezador, uma preocupação social com a população tradicional do lugar, que na maioria das vezes é retirada do local para que o lugar se transforme num lugar de lazer para o incremento do turismo.

Campos do Jordão não é um local onde apenas se ganha dinheiro com bares, restaurantes e hotéis, não se resume em ser apenas uma “Descansópolis” para turistas que peregrinam em certas estações do ano.

Aqui vivem seres humanos que possuem memória própria e são parte integrante da nossa história.
Por esse motivo, não passa despercebido pelos seus moradores a destruição da casa de seus antepassados, do antigo cinema, bares, clubes, imóveis sanatoriais e outros prédios históricos, como por exemplo o Palacete Olivetti. 
Toda essa “destruição do patrimônio” deixa nossa cidade descaracterizada, sem emoção e seus habitantes perde um pouco da identidade e identificação com o local onde vivem.

Campos do Jordão está sendo criada com um interesse estritamente comercial, através de uma tematização, ou seja, destinações turísticas recebem denominações que os identificarão no mercado, espaços estão sendo produzidos por setores econômicos, como é o caso do turismo, dessa forma criando ambientes para serem incessantemente usados pelo mercado. Esse processo leva a criação do não-lugar, da não-identidade, pois não há um vínculo com o indivíduo, não se caracteriza como um espaço de produção humana, construído a partir da relação homem-espaço, através dos tempos. São espaços não identificáveis pelo jordanense que aqui vivem, não produzem o sentimento de pertencimento, de identidade, já que são voltados para atender a lógica do mercado. É um absurdo, mas a especulação imobiliária tem sido um fator decisivo na destruição da memória histórica da cidade.

Com uns poucos pedaços da memória jordanense, hoje, ainda não preservados, correm o risco de se tornarem ainda menores.  A Santa Casa, por exemplo, tem pedaços inteiros do forro do teto arrancados, deixando parte do telhado à mostra. E com isso a água da chuva entra com facilidade no prédio, aumentando as infiltrações nas paredes. O cenário de degradação está longe de ser uma realidade distante.

Um povo sem história não existe, e para tanto é necessário conservar na memória certos fatos relevantes, para que fatos dessa natureza não caiam no esquecimento. É triste afirmar, mas o mundo civilizado esqueceu que um povo sem história não existe.

Mas porque ainda há tanto descaso em relação a imóveis, monumentos e paisagens que deveriam ser tombados e não são? E em relação aos que são tombados, mas que não têm a preservação e o restauro que deveriam ter? 

Denuncio as condições de imóveis e monumentos que, abandonados, sofrem a deterioração do tempo e atos de vandalismo.

Uma solução que urge é, talvez, a mudança da mentalidade.

O tombamento não é a única solução para a preservação, mas serve como um instrumento, uma forma de salientar a importância de alguns prédios ou objetos que merecem atenção especial. O ideal seria que houvesse uma maior conscientização da importância da salvaguarda de nossos referenciais, de nossa memória. Devemos preservar os patrimônios históricos não só por que são construções antigas, mas sim porque fazem parte da nossa história.

De acordo com as motivações dos turistas, classifica-se o tipo de turismo, em turismo de férias, cultural, de negócios, desportivo, de saúde, religioso. Para essa reflexão, no momento, é de suma importância a compreensão do que seja o turismo cultural. As suas características básicas ou fundamentais não se expressam pela viagem em si, mas por suas motivações, fundadas na disposição e no esforço de conhecer, pesquisar e analisar dados, obras ou fatos, em suas variadas manifestações. 

O turismo cultural abrange as atividades de deslocamento voltadas para a satisfação de objetivos de encontro com emoções artísticas, científicas, de formação e de informação, em decorrência das próprias riquezas de inteligência e da criatividade humanas. 

O turismo cultural se subdivide em dois subtipos: o turismo científico e o turismo de congressos.

No turismo científico, o interesse ou a necessidade de realização de estudos e pesquisas é o elemento motivador. São as viagens de estudo e pesquisa, as excursões científicas, de modo que o autêntico turismo científico pode realizar-se tanto em locais e regiões desprovidos da suficiente estrutura urbana, como em regiões poupadas em sua natureza primitiva, ou em locais e regiões dotados de maior nível de desenvolvimento turístico. No turismo científico, o lazer e o repouso são elementos secundários e, não raro, inexistem, em virtude da própria programação ou dos objetivos dos turistas ou visitantes.

O turismo de congressos, ou turismo de convenções, é o conjunto de atividades exercidas pelas pessoas interessadas em participar de congressos, convenções, assembleias, simpósios, seminários, reuniões, ciclos, sínodos, concílios e demais encontros que visam ao estudo de alternativas, de dimensionamentos ou de interesses de determinada categoria profissional, associação, clube, crença religiosa, corrente científica ou organizações com objetivos nos campos científicos, técnicos e religiosos, visando o aperfeiçoamento profissional, cultural, técnico, científico, etc... 

Pânico na Serra em 1910...

A história revela que o grande acontecimento de 1910 foi a passagem do Cometa Halley, que segundo registros semeou uma onda de pânico global.
Muitas especulações existiam sobre o cometa, tal como sobre o suposto efeito letal do gás de sua cauda, causaram tal perplexidade e medo, que culminou com a morte de várias pessoas que, não querendo morrer envenenadas pelo “gás letal”, preferiam se suicidar.

A mística do Halley é escrita com muitas lendas, superstições, avanços científicos e tragédias. Ele era até a pouco tempo uma espécie de popstar dos objetos astronômicos.

A visita do Halley no início do século XX foi muito comentada porque era a primeira feita com a existência de tecnologias de gravação. O cometa foi fotografado pela primeira vez e ganhou esta fama mundial.

Encontrar quem tenha visto e deixado registro do fenômeno, sempre traz surpresas da pandemia que se criou na época.

É o caso do relato de Octávio da Matta, conhecido como “Vico” que então com 10 anos na ocasião da passagem do cometa, deixou o relato abaixo, registrado em seu livro “Campos do Jordão a cidade que vi nascer”

“Em meados de junho é comum Campos do Jordão amanhecer toda coberta de geada e sob intenso frio que, logo a seguir, dá lugar a um sol brilhante e quente que se projeta de límpido céu azul.

Em 1910, contudo, o dia 24 de junho apresentou um aspecto completamente diferente do normal.

Às 9 horas da manhã tinha-se a impressão do sol estar raiando, razão pela qual toda a população olhava para o céu em busca de uma explicação que ninguém sabia dar. Uns, mais metidos a “sabidos” mas bem ignorantes, diziam que o sol estava se apagando, o que motivou um certo terror entre a criançada e mesmo entre muitos adultos.

Eu e meus irmãos costumávamos lenhar numa pequena mata situada onde hoje se encontra a Vila Guarani. Naquela manhã, como de costume, nos dirigimos para lá, mas, percebendo que algo de anormal se passava, ao invés de lenhar ficamos observando o céu. Em dado momento um de nós percebeu bem próximo ao sol uma estrela muito brilhante que parecia desprender uma chama, que logo passamos a chamar de rabo.

A estrela de rabo permaneceu vários dias visível e aumentando progressivamente, enquanto nós, os garotos, tínhamos nossos temores aumentados pelas opiniões dos adultos que pareciam cada vez mais convencidos da aproximação do fim do mundo.

Uma madrugada meu pai acordou a mim e meus irmãos chamando-nos para assistir um espetáculo realmente grandioso.
A estrela brilhava com enorme intensidade e sua cauda atingia grande parte do céu. Pouco a pouco ela foi diminuindo o seu brilho e a cauda foi diminuindo até se extinguir totalmente.

Mais tarde, em conversa com um salesiano chamado Crispim, fui informado tratar-se do Cometa Halley, visível de 76 em 76 anos, aproximadamente e que nada tinha a ver com o “fim do mundo” preconizado pelos “sábios” locais.”

Infelizmente Vico não pode também presenciar o retorno do cometa em 1985/1986, pois falecera em 13 de outubro de 1983, contudo sua cidade querida, junto com as cidades vizinhas de São Bento do Sapucaí e Santo Antonio do Pinhal se prepararam para o evento, pois esta região nos altos da Mantiqueira se tornara os melhores pontos astronômicos para observação.

Só Campos do Jordão recebeu em seus hotéis e pousadas 21 mil americanos, 9 mil europeus e milhares de brasileiros e sul americanos e de outras localidades para observar o famoso cometa.

Mas contrariando os temores e expectativas, não foi um espetáculo memorável, tal como em 1910, deixando todos decepcionados….

Fontes:

Narrativa: © Campos do Jordão a cidade que vi nascer, Octávio da Matta – B. L. Ferrari. 1ª edição, Campos do Jordão, 2011
Gazeta da Física – Volume 8, Janeiro 1985, Portugal
Campos do Jordão, na rota do Halley – INPE (URLib em md-m09.sid.inpe.br), 1986)



Nossa História nas Estrelas



Existe uma história escrita nas estrelas. As estrelas contam histórias... Olhar para o céu é ver o passado. Olhe a noite, veja o céu em sua devasta escuridão, mas olhe além, olhe as estrelas que lhe mostrarão o passado, presente e futuro. As estrelas contam histórias de vidas, mortes, mistérios, amores, coisas terríveis; as estrelas tudo veem, nada se escondem delas...nem mesmo os segredos mais bem guardados; tudo o que elas veem elas sabem. Você nunca estará só se olhar para o céu e ver as estrelas! Olhar para as estrelas em um momento de reflexão, é como olhar a nossa história, as estrelas contam toda a nossa trajetória de vida. O incio e o fim! O passado e o futuro!

Olhar para o espaço é uma viagem no tempo, na história. É olhar para o passado. No Universo, não existe o presente, o agora, o instante atual. Tudo que vemos é passado. Quando olhamos para as estrelas, estamos vendo o passado delas. Se a estrela estiver bem longe, bem longe mesmo, ela pode até nem mais existir da forma como a conhecemos hoje - e inclusive ter se transformado em outro corpo celeste. Devido ao tempo que a luz leva para viajar no espaço, quanto maior a distância a que olhamos, mais remoto o passado que vemos. O presente, infelizmente, só será visível no futuro. 

As estrelas, são representações de algo que já não corresponde ao presente. Podemos vê-las, mas pertencem a outro tempo e outro espaço, a exemplo do que são as próprias fotografias, que nos contam histórias de algo que já não está mais ali.  Grande parte dos pontos brilhantes que vemos no céu à noite são apenas projeções de um passado muito distante, de corpos celestes ou galáxias inteiras que podem até não existir mais! Assim, todas as informações que nos chegam são de coisas que já aconteceram há bastante tempo.

Estudamos o universo através da luz de estrelas e galáxias distantes. Quando observamos uma estrela, estamos captando a luz que ela emitiu para o espaço. A luz não é instantânea, é por isto que estamos sempre vendo o passado quando olhamos para o céu noturno. A luz é uma forma de energia que viaja extremamente rápido pelos padrões terrestres com a incrível velocidade de 300000 km/s., entretanto, mesmo a luz leva um tempo considerável para viajar as vastas distâncias no espaço. Por exemplo, a luz leva 1 segundo para viajar a distância entre a Terra e a Lua, e leva 8 minutos para viajar a distância entre a Terra e o Sol. Uma velocidade com a qual é possível dar 8 voltas em torno da Terra em apenas 1 segundo. A luz das outras estrelas leva anos para chegar até nós, por isso medimos as distâncias entre as estrelas em unidades chamadas anos-luz.  Um ano-luz é a distância percorrida pela luz em 1 ano, em torno de 10 trilhões de km. Note que o ano-luz é uma unidade de distância, e não de tempo.
Mas como a distância entre os corpos celestes também é grande, pode levar um bom tempo para que a luz da estrela chegue até nós. Talvez você saiba que ao olhar para as estrelas, não está as vendo realmente, mas sim, uma representação do que elas eram no momento em que sua imagem (luz) começa a viagem, da origem até nosso campo de visão. Dependendo do quão distante a estrela está de nós, esse trajeto pode durar centenas ou milhares de anos-luz para ser concluído, o que implica que a visão que temos pode corresponder até mesmo a uma estrela que já não mais existe.

Se olhamos uma galáxia que está a 10 milhões de anos-luz de distância, nós a vemos como era há 10 milhões de anos. Se observamos um aglomerado de galáxias distante 1 bilhão de anos-luz, nós o vemos como era 1 bilhão de anos atrás. Por fim, a velocidade da luz limita a porção do universo que podemos ver. Se o universo tem 14 bilhões de anos de idade, então a luz de galáxias mais distantes do que 14 bilhões de anos-luz não teve tempo de nos alcançar. Nós podemos dizer que o universo observável se estende por um raio de 14 bilhões de anos-luz da Terra. Quando olhamos para aquelas fotos magníficas do telescópio Hubble, por exemplo, estamos vendo o universo como ele era no passado, não como ele é hoje. Quanto mais fundo o Hubble olha dentro do Cosmos, mais para trás no tempo ele vê, uma vez que a luz leva bilhões de anos para atravessar o Universo Observável. Esta característica transforma o Hubble em uma poderosa ‘máquina do tempo’ que permite aos astrônomos verem as galáxias como elas se apresentavam há 14 bilhões de anos, entre 600 e 800 milhões de anos após o Big Bang e nos permite atingir a visão do início da história do Universo.

Para nós, o tempo só anda para frente. De acordo com essa nossa realidade, olhamos para objetos no espaço como se eles fossem coisas fixas, como as montanhas ou o mar.

Uma vez que a luz tem que viajar uma distância imensa, chegará até nós muito tempo depois do evento ocorrer. Quanto mais longe algo acontece, mais tempo leva para chegar a nossos olhos.

Quando olhamos para o céu, estamos olhando para os últimos segundos, minutos, anos, séculos e milênios de distância. O universo é a mais incrível das máquinas do tempo.
Só podemos enxergar um determinado objeto se a luz, produzida ou refletida, sair do objeto e, atingindo nossos olhos, estimulá-los. Logo, podemos entender que a luz sempre gastará um determinado intervalo de tempo para deixar o corpo observado e chegar até o observador. Em situações cotidianas, as distâncias entre os olhos e os objetos são muito pequenas diante da velocidade de propagação da luz. Assim, o intervalo de tempo para que o estímulo dos olhos ocorra é infinitamente pequeno. As distâncias entre os corpos celestes e a Terra são tão grandes que o tempo gasto pela luz não pode ser desconsiderado. Assim, as imagens captadas por telescópios não são atuais, mas representam o estado do objeto observado levando-se em consideração o tempo de chegada da luz. Quanto mais longe observamos, mais para trás viajamos no tempo, o que permite estudar os primeiros “momentos” do universo. A imagem de um objeto a 5.000 anos-luz da Terra representa o estado desse objeto 5.000 anos atrás!

A estrela mais brilhante do céu noturno, Sirius, está a 8 anos-luz de distância, o que significa que quando enxergamos Sirius a vemos como era 8 anos atrás.

A nebulosa de Orion, uma região de formação estelar visível a olho nu como uma pequena nebulosidade acima das Três Marias, na constelação de Orion, está a 1500 anos-luz da Terra. Portanto, nós vemos a nebulosa de Orion como ela era há 1500 anos, mais ou menos na época da queda do Império Romano. Qualquer evento que tenha acontecido, na nebulosa de Órion daquela época para cá não pode ser observado por ninguém, pois a luz desses eventos não pode ainda nos alcançar.

Que mensagem para nós se encontra dispersa pelo universo? Que palavras são gatafunhadas pelas estrelas nos quadros de ardósia da noite escura? Podemos seguir os vestígios das raízes na nossa árvore genealógica até ao início do universo, há 14 bilhões de anos. Nessa altura, claro, não havia sinais de vida, mas o potencial da vida estava no esquema do universo, tal como o esquema de uma árvore está contido na sua semente.

Nenhum de nós é insignificante. Podemos ser pequenos e ter poderes limitados, mas conseguimos compreender a nossa história nas estrelas e sabemos que o universo não está completo sem nós.

Não se trata de uma fábula nem de uma fantasia romântica, mas de mil fatos significativos. Também sabemos que não somos apenas uma parte inseparável e necessária do universo, mas que o próprio plano do cosmos fez tudo para que acabássemos por aparecer. As teorias do Big Bang e da Evolução são reais, não contradizem o cristianismo e fazem parte dos planos divinos. O Big Bang não contradiz a intervenção criadora, mas a exige. O desenvolvimento de cada criatura não contrasta com o conceito de criação, pois a evolução pressupõe a criação de seres que evoluem. Há pessoas que leem o Gênesis e entendem que Deus agiu “como um mago, com uma varinha mágica capaz de criar todas as coisas; Deus é mágico, lembra? Ele sacode sua varinha fantástica e puff, está explicado”.

Você já teve oportunidade de olhar para o céu numa noite estrelada? Já pensou em como o brilho das estrelas faz toda a diferença no azul escuro do céu? Tentou imaginar como o céu ficaria se não houvesse estrelas?
Com certeza, seria muito sem graça e provavelmente ninguém olharia para cima nas noites quentes de verão porque tudo já seria muito conhecido. Mas, com as estrelas a enfeitar o céu é tudo diferente! Numa noite estrelada, a claridade das estrelas sempre traz novas nuances, novos espaços para descobrir e desenhos imaginários a realizar, sensações que nos fazem sonhar acordados e agradecer a Deus por ser tão criativo e meticuloso, por pintar o céu com uma imensidão de pontinhos luminosos que enriquecem o azul escuro.

Se olharmos para o céu escuro e imaginarmos que cada estrela tem um propósito definido, uma missão única, que mais ninguém pode realizar por ela, podemos compreender completamente o que o Criador deseja: que sejam instrumentos únicos, especiais e irrepetíveis do Seu grande amor por toda a humanidade, que vive oprimida nas sombras de uma vida vazia, sem brilho, esquecidos em suas lutas diárias, solitários, vivendo de forma perversa e degradante.

Eu e você, pequenas estrelas no universo, temos um chamamento específico, temos uma tarefa que, em princípio, pode parecer insignificante diante das atrocidades do mundo sem Deus, mas que faz uma grande diferença em pessoas queridas, que são nossos companheiros no trabalho, na escola, na família e esperam, com ansiedade por um pouco de luz em suas vidas. As estrelas cantam, ainda que em vida nunca possamos ouvi-las, contemplar a magnifica beleza criada por Deus e imaginar que estas cantam jubilando sua criação é sem dúvida muito belo.


                                                                            Cantando Nossos Valores...


Meu propósito é o de fomentar uma reflexão sobre a importância das raízes culturais do povo jordanense, no sentido da afirmação de sua identidade e levantar discussões que possam vir a contribuir para o despertar da consciência coletiva sobre a importância dessas raízes. Sem dúvida, a verdadeira identidade do povo jordanense está na sua cultura. Sem ela, perdemos não apenas nossa identidade, mas nossos valores e princípios.

São exemplos das manifestações da cultura erudita: o Festival Internacional de Inverno; de pintores como de Camargo Freire ou Francisco Prohane; de compositores como Jordão e Jordel ou Condelac Chaves de Andrade, de arquitetos e engenheiros como José Roberto Damas Cintra e Eduardo Moreira da Cruz entre outras.

Quanto a cultura popular adquire dezenas de formas, a maior parte sem autores identificados, é o caso além dos contos, dos mitos, das lendas, dos festejos e diversões, das crendices e superstições e também da culinária, do vestuário e muito mais; popular, entendendo isso, como tudo aquilo que é construído pelos seus moradores. Inclui os mitos, símbolos, ritos, todas as crenças, todo o conjunto de conhecimentos e todo o comportamento, etc., portanto, conhecer e valorizar a nossa cultura são autoafirmações do que somos.


Preservemos nossa música, nosso Festival da Viola, nossas quermesses dos dias santos, nosso folclore, a Festa do Pinhão, das Cerejeiras em Flor, nossos artesãos, bordadeiras, tricoteiras e rendeiras; as lendas de nossos rios, lagos, matas, cachoeiras, morros e lombas; nosso hino, nossos símbolos, nossas frutas, ervas e plantas. 



Preservemos nossa literatura, começando com os livros de poesia e de história e os novos e bons autores de nossa cidade (esses cantam os nossos valores, o nosso ambiente cultural, a nossa cidade). 

Vamos valorizar nosso cinema, as danças populares e clássicas, como o pagode e o balet, as bandas, a fanfarra, as cantigas, as antigas brincadeiras de rua, de pular corda, lata-manteiga, taco, queimada, salva, (ao ver nossas crianças brincando, sabemos que nossa cultura está sendo preservada), e toda sorte de expressão cultural do povo montanhês – um tesouro inesgotável.

A cultura jordanense é fonte rica de diferenciais criativos e agrega valor. Parte do seu patrimônio é sua diversidade cultural, que abrange vários aspectos incluídos na hoje reconhecida economia criativa. Esta envolve diversas vertentes: folclore, música, artesanato, modos e modas de vestir e gastronomia.


Ainda existem focos de preservação e amor à nossa cultura, mas muito pouco dela resiste nas escolas tradicionais. Creio que a Educação deve assumir a responsabilidade pela preservação do patrimônio cultural da nossa infância. Acredito que a escola, detentora do papel histórico de transmitir a cultura e adequar as novas gerações aos valores e símbolos de sua cultura, deveria ser o carro chefe de toda sorte de resgate cultural, tão necessário em nossa cidade, atualmente. Esse resgate às raízes culturais, torna-o um cidadão mais sensível e consciente da sua identidade, para preservação de sua história. 


Vamos vivenciar, identificar e absorver as manifestações culturais e folclóricas de nossa querida Campos do Jordão. Também somos construtores da cultura. O município de Campos do Jordão é negro, índio, mulher, LGBT, criança, jovem, estudante e trabalhador. Campos do Jordão é miscigenação, é diversidade, é linda. Desde Vila Maria no Bairro Santa Cruz, até ao Retiro, no Horto Florestal, Campos do Jordão é povo.


Repito mais uma vez: a cultura jordanense deve ser exaltada e não extinguida, pois, um povo sem cultura é um povo sem identidade, sem raiz. Ouça a história sobre Campos do Jordão e a sua cultura, seus hábitos e suas tradições e aprenda a compreender a vida na montanha magnífica, através de seu belo povo. Vamos manter acesa a chama da identidade do povo…



              Hortênsia em Campos do Jordão

Na estação do calor em Campos do Jordão, é possível se encantar com o espetáculo natural das hortênsias, flores nativas da região. Vários lugares da cidade apresentam corredores da flor e boa parte das margens da estrada de ferro de Campos do Jordão é ornamentada por elas. De diferentes cores, as hortênsias são um espetáculo para os olhos e encantam os turistas que visitam a cidade nas férias de fim de ano.

É originária da Ásia e no Japão é considera a flor símbolo do verão nipônico; mas, atualmente cultivado como planta ornamental em todas as regiões temperadas e subtropicais. Chamada de Ajisai pelos japoneses, a flor é celebrada em diversos festivais do país e tratada como um símbolo que expressa os sentimentos mais sinceros, seja de desculpas, de agradecimento, de alegria ou de tristeza. 

Como florescem somente durante o verão quente e chuvoso, a temporada para aprecia-las é bastante curta, durando em média apenas dois meses.


Campos do Jordão apresenta um verão bastante parecido com o de algumas regiões do Japão, mas a temporada das hortênsias na cidade, talvez por se tratar de uma região de floresta tropical de altitude, dura um pouco mais, cerca de três meses e meio, indo de meados de novembro a fevereiro. E, assim como os japoneses, um festival celebra o florescer das hortênsias.

Na Suíça brasileira, onde as hortênsias são muito cultivadas e que conferem uma beleza indescritível em vários locais particulares e públicos onde estão sendo cultivadas, com a finalidade decorativa, normalmente, na primeira quinzena dos meses de dezembro, são realizadas as tradicionais "Festas das Hortênsias". Essas festas são realizadas por idealização e iniciativa da laboriosa Colônia Japonesa da cidade, através do Clube Cultural e Recreativo Cereja, com apoio da Beneficência Nipo-Brasileira de São Paulo e da Prefeitura Municipal. São sediadas no tradicional Parque das Cerejeiras ou Recanto Sakura Home, localizado na Vila Albertina. 

Esse parque mantém um lindo e até bucólico bosque, especial para caminhadas tranquilas e reconfortantes junto à natureza e vegetação maravilhosa, ouvindo-se o melodioso canto de diversos tipos de pássaros da região, possibilitando, ainda, apreciar as flores de cada época do ano, de julho a setembro, as cerejeiras em flor e em dezembro, as lindas hortênsias. A Festa das Hortênsias costuma acontecer no último final de semana de novembro ou no primeiro final de semana de dezembro. Toda decorada com as flores, a festa é muito bonita. Durante os meses da primavera, visitantes e moradores da cidade têm a oportunidade de ver a graciosidade das flores das hortênsias, que colorem e enfeitam ruas e jardins da estância, exibindo seus tons claros de azul e violeta. Hortênsias azuladas preenchem o verde do parque e seduzem os olhos dos visitantes. O ajardinamento acolhe as caminhadas tranquilas dentro do bosque. Além de apreciar as flores, os visitantes que forem ao festival ainda contam com pratos típicos da culinária japonesa como o tempurá, o sushi e o sashimi, as iguarias da cozinha oriental; compram artesanatos feitos na cidade, além de produtos de malharia, e assistem apresentações de danças folclóricas e músicas tradicionais do Japão, além de outras atividades programadas pela organização da festa.

A hortênsia, também conhecida pelo nome vulgarizado de hidrângea, “bebedora de água”, novelão ou hidranja, é originária do Japão e da China. 

No Brasil chegou a ser difundido a pedido da família real no início do século XIX, que usou a flor na decoração dos jardins de Petrópolis e Teresópolis. Nas mãos de imigrantes italianos e alemães foram para o Sul, e hoje podemos encontrá-la nas diversas cores, um total de 40 tipos que vão desde azul, até rosas, chegando a tons de branco, lilás e violetas.

O nome Hortênsia foi dada à planta em homenagem a uma dama francesa do século XVIII, Hortense Lepante, que era mulher de um amigo do naturalista Philibert Commerson, responsável pela introdução desta planta na Europa.

Pertencem a três grandes grupos hortícolas: “Japonica”, “Hortênsia” e “Stellata”, cada um com numerosas variedades. 

O período de florada dessa planta é entre a primavera e verão, nas regiões onde a presença das chuvas é abundante, com as estações do ano bem definidas e com as temperaturas bem amenas. 

Nos Açores é considerada invasora e perigosa para a flora nativa. 

Embora as hortênsias sejam plantas de rara beleza, que se presta a diversas finalidades decorativas, inclusive depois de desidratadas e colorizadas artificialmente, possibilitando a sua preservação em decorações diversas, por grandes períodos, nunca devemos esquecer que deve ser cultivada com muito cuidado e precaução considerando que possuem o princípio ativo denominado "glicosídeo cianogênico", denominado hidrangina que lhes confere a triste e temida condição de planta venenosa. Esta sua característica, pode causar cianose, dores abdominais, letargias, vômitos, convulsões, flacidez muscular e até coma. Por esta sua característica especial recomenda-se cuidado. 

Nas montanhas podem-se observar de longe como que "muros" coloridos de hortênsias, o que impressiona os turistas pelo efeito. 

No sul do Brasil, Rio Grande do Sul, existe um lugar chamado "Região das Hortênsias", caracterizado pelo ajardinamento de casas e rodovias com esta espécie. Gramado, cidade mais representativa desta região turística, tem a hortênsia como sua flor símbolo. Em função da altitude e do clima ameno, a hortênsia está extremamente difundida em Campos do Jordão. Apenas as regiões altas e frias do Sudeste são coloridas, no outono, pelo azul e o rosa arroxeado das hortênsias que crescem em pequenos arbustos.

Cultivadas para ornamentar parques e praças nessas regiões, elas começam a se espalhar espontaneamente pelas margens de trilhas e rodovias. Embora exóticas, essas flores compõem os cartões postais de Gramado (RS), Campos do Jordão (SP), Petrópolis e Teresópolis (RJ), São Lourenço e Caxambu (MG), entre outras cidades montanhosas e frias.


                                                Um Sarau no Tempo do Imperador

Aconteceu em 22 de outubro o Sarau Imperial, em belas manifestações artísticas, reunindo alunos da Faculdade de História e Pedagogia da Universidade do Vale do Paraíba – UNIVAP, sob a Coordenação da Prof.ª Enedi, que mais uma vez esteve à frente da organização desse trabalho realizado junto a nós, universitários.

O sarau chegou ao Brasil com a família real movido a erudição, requinte e luxo; sarau feito por pessoas da corte, refinado. 

Era no tempo do imperador! 

No Cineteatro do Museu Imperial de Petrópolis, RJ, vimos um retrato do século XIX, da vida da família imperial em seu palácio de verão no ano de 1878, com apresentações de temas econômicos, sociais, culturais e políticos, como a abolição da escravatura, notícias dos acontecimentos da época, e o cotidiano daquele período, como a rotina de vida da princesa Isabel, moda, costumes, e apresentação de poesias e modinhas retiradas da correspondência particular da família imperial.

Um convite muito especial. Um espetáculo encantador! Que interpretação, que talento! A celebração do diálogo entre poesia, história e música com diversas apresentações e interações. 

Sarau de poesia... sarau de música... sarau de história... sarau de teatro.... Belas composições musicais. Muita emoção.

As atrizes elaboraram um espetáculo de aproximadamente 45 minutos, misturando várias técnicas de encenação, improviso, comprometendo um estado de presença e prontidão, priorizando grande interação, fazendo do espaço somado de palco e plateia, um território lúdico e permeável. Realizaram uma relação direta conosco, suscitando comparações entre o passado e o presente, estimulando a reflexão crítica sobre as mudanças ocorridas no país. Instigaram a nossa atenção.

Foi um sucesso, porque garantiu a nossa participação ativa antes, durante e depois do evento. Conquistou-nos e nos divertiu, desde o primeiro momento. São poucos os profissionais que conseguem efetivamente interagir com o público. A apresentação fez uso de diversas linguagens artísticas nos números encenados, com a nossa participação. Esse linguajar específico da época retratada, levou-nos a fazer a distinção de tempo. 

Uma interação cultural, de partilha, de escuta... apresentações musicais, leituras dramáticas e muita interatividade. Fiquei em dúvida, se nosso lugar seria na cadeira ou no palco, porque marcada pela constante interação. 

Os mais belos figurinos, fazendo o elo dos personagens com o século XIX, réplicas dos utilizados na época. Peças ricas em detalhes, roupas sofisticadas em tons claros, alegres e tecidos leves, vaporosos, e outras, em cores escuras, fortes e exuberantes, marcando a oposição entre as personagens. Alguém orientou o desenho das roupas e a escolha das cores. Parabéns! Penso que o elenco necessitou também estudar o comportamento e o gestual próprios da época, sem mencionar os elementos existentes no sarau – o microfone aberto, o recital de poemas, outra vez a interação com o público...

Parabéns pela equipe de incansáveis e qualificadas atividades em prol da literatura e da história! Que beleza de arte, que beleza de tarde! Parabéns aos organizadores do Sarau pela agradável experiência de compartilhar essa boa energia ao misturar cultura, história, arte e turismo. 

Gostaria de parabenizar os organizadores pelo lindo trabalho do Sarau: aderecista, assistente de cenografia, assistente de direção, assistente de iluminação, assistente de produção, assistente de figurinista, assistente de visagista, camareira, cenotécnico, contrarregra. À produtora responsável, Xdaquestão Produções, na pessoa de Maurício Araújo, parabéns!

No elenco, as atrizes Andréa Dutra, Flávia Miranda, Maria Claudia Paladino, Vânia Moreira e a pianista Ruth Godinho. (Perdoem-me se esqueço outras). Parabéns pelo evento! Gostei muito! Tudo muito caprichoso! E com muita arte! Que dinâmica! Que encanto! Digno de uma princesa, digno de um imperador! 

E o maravilhoso espetáculo não terminou ali. Após conhecer um pouco mais a história, em performances poéticas, depois de praticamente 45 minutos, o elenco permaneceu no local e quis interagir mais uma vez conosco, universitários de Campos do Jordão. Que proposta! Ficamos encantados.

Retomando o espaço privilegiado que possuía outrora, manifestações como esta devem acontecer com mais frequência; que a história, a música, a poesia possa fazer mais parte de nosso cotidiano. 

Oportunamente, estamos cientes que as apresentações do Sarau Imperial nos moldes das festas promovidas pela Princesa Isabel que acontecia há 16 anos, foram canceladas pelo governo federal por falta de verbas, devido à crise que está passando. Entretanto, atividades voltadas para escolas, ONGs e entidades diversas, são sérias, não podem parar. Cadê o recurso necessário do Fundo Nacional de Cultura do Ministério da Cultura? Vemos que não falta só dinheiro, falta a presença do Estado. Onde está o Estado? E o Conselho Municipal de Cultura? Pode dar continuidade dos projetos culturais cortados pelo governo?

Esperamos que o Iphan, por sua vez, busque junto ao Minc a solução para o problema. Se pelos caminhos tradicionais não está sendo possível a captação de recursos, porque não apelar para a mídia que de uma maneira ou de outra saberá colocar a situação. 

E o pagamento do laudêmio à família imperial (o imposto que até hoje é pago à família imperial no Brasil)? Já que o Museu Imperial enobrece a família de D. Pedro II, que tal se uma porcentagem do valor seja revertida para a cultura de Petrópolis? Abraços.



Campos do Jordão, Mamãe e as Dálias da Saudade

Hoje, trouxe dálias.

No jardim de nossa casa em Campos do Jordão, mamãe cultivava dálias, muitas dálias. Eram as suas flores prediletas. Qual a sua flor favorita? Mamãe tinha uma queda pelas dálias. As brancas então... seu coração batia forte! As flores prediletas fazem um bem enorme para a alma. É só bater o olho nela que a gente sorri por dentro.

Dália é uma flor que lembra a minha infância. Mamãe tinha muitas espécies e a cada ano enterrava mais alguns bulbos na terra que ela recebia de uma vizinha ou amiga. Mamãe retirava e juntava as cinzas do fogão à lenha e, posteriormente, utilizava como adubo no cultivo da flor. Eu me lembro que era de fácil cultivo e o resultado me fascinava. Dálias lindas, carismáticas e imponentes.


A dália teve sua origem no México, e foi declarada flor nacional daquele país em 1963. A maioria dos cultivares foi criado a partir de ancestrais que cresciam selvagens em montanhas da América Central, do México até a Colômbia. Habitantes nativos da região já estavam cruzando dálias antes mesmo dos Europeus chegarem. Foi pela primeira vez observada no século XVII. Os índios dessa região foram os primeiros a cultivá-las, ainda no período do Império Asteca. Criavam e cultivavam dálias em seus jardins pela sua beleza, como comida para animais e propriedades medicinais muito antes dos espanhóis chegarem. Extratos de tubérculos eram utilizados para o tratamento de doenças renais. Passaram-se, contudo, mais 200 anos até que fosse cultivada na Europa. 

Por volta do final do século XVIII, o diretor do Jardim Botânico de Madri encantou-se com a flor, durante uma visita ao México. Foi o suficiente para que a dália viajasse de sua terra nativa, México, até Madrid, Espanha, atravessasse o oceano e chegasse à Europa, onde se adaptou muito bem ao clima temperado. Cultivada inicialmente pelas qualidades nutricionais dos seus tubérculos bulbosos, não tardou muito para que esta planta fosse também reconhecida pelas suas flores ricas e vibrantes. Os holandeses e os franceses foram os maiores incentivadores do cultivo e da produção de inúmeras espécies híbridas de dálias. Com a imigração holandesa surgiu a propagação desta flor no Brasil. Também é cultivada no Japão, principalmente pelo tipo de clima ameno, ao qual a flor se adapta muito bem. Seu cultivo também tem grande aceitação da comunidade japonesa que vive no Brasil.

Na cidade de Suzano SP, acontece todos os anos a Festa das Dálias; uma das raras Festas da Dália da América Latina. O evento, é realizado pela Beneficência Nipo-Brasileira de São Paulo (Enkyo) e Casa de Repouso Suzano Ipelândia Home, e apoio da Prefeitura Municipal, com apresentações de música, dança e comidas típicas do Japão. 

Também há uma festa na cidade de Taquaritinga do Norte, a Dália da Serra, como é carinhosamente conhecida no Estado de Pernambuco. O evento é uma realização do Governo do Estado, em parceria com a Prefeitura Municipal. A cidade enfeita-se neste período para receber um vasto leque de opções culturais gratuitas como grandes shows, mostra de cinema itinerante, encontros literários, apresentações de cultura popular, teatro, circo, além de oficinas e seminários.

Em Campos do Jordão, devido ao clima fresco e úmido, se adapta bem. Onde faz bastante frio as folhas morrem no inverno, porém reaparecem assim que o tempo esquenta. Os jordanenses têm paixão por essa espécie. Há uma razoável quantidade dessa flor existente em algumas praças e jardins nessa região serrana; observamos muitos quintais floridos com dálias multicoloridas, mesmo com a falta de chuva e o excesso de calor dos últimos tempos. Apresenta grande variedade de tons, entre rosas, vermelhos, amarelos, laranja, além da cor branca. As floradas não decepcionam os jordanenses e visitantes.

Hoje, graças ao surgimento de vários híbridos, podemos encontrar diversos tipos de dálias, o que resulta numa grande variedade de formas (pompom, bola, decorativa etc.) e cores (branca, alaranjada, vermelha, amarela, rosa). São mais de 3.000 variedades resultantes de cruzamentos com outras espécies, como os crisântemos, por exemplo. Entre os tipos de dálias temos a Dália Flor de Outono, Dália Rosa Pôr do Sol, Dália Fogo da Lua, Dália Pom Pom e Dália Horst Athalie.

As dálias estão presentes em algumas telas da artista plástica Frida Kahlo. Em seus autorretratos, a flor aparece como adorno de cabelo. Segundo Clarisse, isso acontece pelo interesse da artista em valorizar a cultura mexicana, além de apreciar as cores fortes.
As pétalas da flor são muito usadas em saladas. A raiz pode ser cozida e utilizada como legume. Dessas também se extrai um extrato doce do tubérculo, chamado 'dacopa', que é utilizado como bebida ou como aromatizante. É misturado com água fria ou quente e polvilhadas de sorvete. A raiz é rica em amido inulina cujo sabor adocicado combina com as características de café, chá e chocolate. Embora não seja absorvido pelo organismo, esse amido pode ser convertido em frutose, uma substância edulcorante para utilização pelos diabéticos. (Engenheira Agrônoma, MSc. Márcia de Nazaré Oliveira Ribeiro; Engenheira Agrônoma, DSc. Patrícia Duarte de Oliveira Paiva).

Sempre que vejo uma dália florescida, me lembro de mamãe. Se pudesse, certamente a levaria para dentro de casa e a colocaria num vaso. Nossa casa tinha um imenso jardim e grande variedade de flores. Entre elas, dálias coloridas, rosas, hortênsias, begônias, cravos, glicínias e uma infinidade de samambaias e trepadeiras espalhadas nos cantos e pelos troncos das árvores do quintal. Mamãe possuía mãos abençoadas - todos diziam isso. Sempre que saía para um passeio, voltava com uma nova muda de uma flor diferente e nosso jardim crescia sempre e vivia florido. Deus a colocou na minha vida para cuidar dos meus passos, atendendo meus caprichos e colorindo nossa casa com suas dálias.


A Morte do Lago Itatinga


Mais uma vez as ações sem limites do homem levando à destruição o que resta de natureza da nossa cidade! É difícil acreditar que o mesmo homem racional que necessita de tudo que vem do meio ambiente, retribui de forma tão trágica!

A Represa da Usina Abernéssia, durante muito tempo conhecida como Represa da Vila Britânia, e hoje, como Lago do Monte Carlo ou Lago Itatinga, está situada no caminho de acesso ao antigo Sanatório Ebenezer e ao tradicional Hotel Umuarama, no Bairro do mesmo nome. Itatinga é influenciado pela cultura indígena tupi, significando "pedra branca, clara, alva; prata; mina de prata". Este paraíso ecológico está inserido no exuberante e frágil bioma da Mata Atlântica, em Campos do Jordão.

A represa da Usina, que pertencia à antiga Companhia de Eletricidade de Campos do Jordão, passou posteriormente para a CSME - Companhia Sul Mineira de Eletricidade. Tinha finalidade de represar as águas dos rios da região ao longo do caminho de acesso ao Bairro do Umuarama. Essas águas, com o necessário peso, adquirido pelo represamento, através de tubulação especial de grosso calibre, eram transportadas por um percurso de aproximadamente 900 metros, até à Usina Evangelina Jordão. 

A Usina foi construída por Alfredo Jordão Junior e Robert John Reid, sendo inaugurada em 15 de agosto de 1919, e estava situada no final da atual Rua Álvaro Alvim, no bairro conhecido com Bairro da Usina. Na Usina essa água tubulada, impulsionava as turbinas necessárias à geração da energia elétrica que seria distribuída para o abastecimento de parte da cidade de Campos do Jordão. Outra parte da cidade recebia eletricidade gerada pela Usina do Fojo.

O grande Lago Itatinga era uma bela e florescente indústria de turismo, lugar excelente para uma caminhada, piquenique, tirar fotos, ir em família, casal ou amigos, e já foi cartão postal da cidade de Campos do Jordão...

.... Hoje, com muita tristeza, vemos o lago morrendo, agonizando, secando. Onde era represa, o cenário é desanimador. Onde haviam águas, hoje o cenário é desértico: apenas um filete... sobre uma campina... onde havia água, é relva! Está com o anúncio de extinção a cada dia mais próximo. 

O Lago Itatinga está morrendo. Um cenário assustador. Não é desastre da natureza, obra do acaso; é desastre humano, crônica de morte anunciada! O Lago Itatinga morre à míngua e sofre por descaso. E a agonia do lago é a do povo. A população reclama que Itatinga está morrendo à míngua, por causa da omissão do poder público. Está agonizando por imprudência. É a agonia do lago. 

Todos sabem que não há paz na agonia. Sofre o lago na pele dos jordanenses. E já se ouvem seus gemidos, seu estertor. O lago seca por falta de identidade: Pedra branca!

A ação do homem está gerando impactos negativos no local. Obra dos bárbaros que escoaram as águas do lago. São bárbaros os que o destruíram. Ou é o poder que não conhece limites, que não possui sensibilidade, inteligência, e desconhece civilização. A construção de imóveis próxima ao lago é uma das principais causas da morte do lago. Está morrendo, e a urbanização é a culpada. Está morrendo e sua expectativa de vida diminui a cada ano, devido à urbanização nas áreas próximas. 

Onde existia uma linda represa, parte da nossa história, agora há vários loteamentos populares que tomam conta da nobre região. Outra causa dos impactos ambientais, segundo pesquisadores, é a falta de políticas públicas de contenção de sedimentos, e a limpeza e restauro do lago, que clarifica as águas e restaura a capacidade de armazenamento original sem drenagem ou escavações. Processo simples que passa despercebido às pessoas não envolvidas ou residentes na área. 

Parece que a vida do lago não preocupa as autoridades. Não há um projeto sério de grandes proporções pela revitalização. A represa encontra-se em área de preservação ambiental, e em se tratando de APA, quem deve responder pelo dano e manutenção é a Prefeitura Municipal. As Secretarias do Meio Ambiente, de Serviços Públicos, Agricultura, tem projetos para a revitalização do lago? É necessário abrir os olhos com intervenções urgentes; urge empenho na sua revitalização hidrográfica, que só será possível com trabalho de manejo bem feito e de forma constante, a educação-ambiental integrando a comunidade local, e a vontade de querer fazer. 

Ainda desejo ver este paraíso lindo, com a natureza ao vivo e a cores.


                                         Álamo - A Árvore do Outono Colorido

Em Campos do Jordão, no caminho do Horto Florestal, logo após o Borboletário, há uma colônia de álamos, exuberantes. Ladeiam uma margem da avenida, conferindo à paisagem uma coloração deslumbrante. Lindo de se ver!
Os álamos são imponentes e exibem orgulhosamente a sua verticalidade, com sua delicada e vibrante folhagem e o brilho ameno que lançam sobre as montanhas. Possuem um atrativo emocional. Sou um amante dessas árvores. 

Existe definitivamente algo de poderoso, quando contemplo seu brilho amarelo, saudáveis da Serra da Mantiqueira. Árvore de regiões frias, temperadas e úmidas é típica das florestas de montanha e vales.

Álamo – Choupo ou álamo (genero Populus) é uma árvore da família Salicaceae (à qual também pertence o salgueiro). É uma árvore exótica, florestal, com folhas caducas e que cresce rapidamente, apresenta pouca resistência à poluição e exige poucos cuidados. Esta árvore é de crescimento rápido, copa ampla e ramos fortes, pode chegar a um raio de 1,5 e viver até 400 anos. Seu tamanho é médio ou grande, a sua casca em árvores jovens é liso, branco ao verde ou cinza escuro, e velhas árvores permanece lisa em algumas espécies, mas áspera e rachada. O álamo-branco, o álamo-negro e o álamo-tremulante podem atingir 27 metros de altura; o álamo-dentuço chega a 18 metros. Nas cidades é muito utilizado porque o seu crescimento em altura permite complementar a forma dos prédios.

É frequentemente plantada em parques, avenidas, jardins, são árvores conhecidas pelas folhas em constante movimento das florestas frias, do hemisfério Norte. O caule longo, delicado e achatado permite que suas folhas se mexam ao menor sopro de brisa.

De modo geral, seu tronco é cinza-esverdeado ou branco e suas folhas são verde-vivas. No outono, antes de caírem da árvore, as folhas se tornam amarelo-brilhantes.

O álamo é usado na fabricação de papel, móveis, cadeiras e bancos. É apreciado por sua beleza e pela sombra que proporciona.  Também é usado na indústria de snowboard por causa de sua grande flexibilidade. É muito comum usado para pinturas do painel como a Mona Lisa e a maioria das pinturas italianas. Campos do Jordão é agraciado pela exuberância dessas árvores.


                                                      Os Pinheirais Gigantes

Vale Encantado: Um lindo parque com um pequeno lago de nenúfares, plantas típicas e exóticas; um lugar gostoso em meio à natureza intocada e exuberante.

Sobre os pinheiros - A Araucária é um gênero de árvores coníferas da família Araucariaceae. Existem 19 espécies no gênero, com distribuições altamentes separadas na Nova Caledônia (ali treze espécies são endêmicas), Ilha Norfolk, oeste da Austrália, Nova Guiné, Argentina, Chile, e centro-sul do Brasil. A Araucaria angustifolia ou pinheiro-do-paraná (também conhecida pelo nome de origem indígena, curi) é a única espécie do gênero encontrada no Brasil.

É uma árvore de grande beleza. Tem a copa alta em formato de cálice e distingue-se de todas as outras árvores brasileiras pela forma original. Sua presença em uma paisagem lhe confere dimensões especiais.

No passado, antes que a lavoura de café e cereais se espalhasse pelas terras paranaenses e antes que os trigais cobrissem os campos gaúchos, sua presença era tão comum que os índios chamaram de "Curitiba" (que significa "imensidão de pinheiros") toda uma extensa região onde ela predominava. E a palavra acabou imortalizada, denominando a capital do Paraná.
Presente no planeta desde a última glaciação - que começou há mais de um milhão e quinhentos mil anos, é uma espécie resistente, tolera até incêndios rasos em razão de sua casca grossa que funciona como isolante térmico. Tem alta capacidade de germinação que chega a 90% em pinhões recém-colhidos. Árvore de grande porte, atinge cerca de 50 m de altura, e seu tronco pode medir até 8,5 m de circunferência. Seu fruto, a pinha, contém de 10 a 150 sementes - os famosos pinhões - deliciosas e nutritivas, servindo de alimento a aves, animais selvagens e ao ser humano.

Na maturidade, a pinha da araucária se desmancha soltando os pinhões e as escamas murchas. Quando chega a época da reprodução, o vento transporta o pólen das inflorescências masculinas para as femininas. Uma árvore feminina produz uma média anual de 80 inflorescências, cada uma com cerca de 90 pinhões.

A semente da araucária, o pinhão, é sem dúvida muito nutritiva. Pesquisas históricas e arqueológicas sobre as populações indígenas que viveram no planalto sul-brasileiro, de 6000 anos até os nossos dias, registram a importância do pinhão no cotidiano desses grupos. Restos de cascas de pinhões aparecem em meio aos carvões das fogueiras acesas pelos antigos habitantes das matas com araucária. Os pinhões, que já eram importantes na alimentação indígena, ainda hoje inspiram muitas receitas. Medem cerca de quinze milímetros de largura na parte mais larga e cerca de dez centímetros de comprimento.
As pinhas pesam vários quilos e podem atingir o diâmetro de aproximadamente trinta centímetros.

O pinheiro é uma árvore generosa. Pode-se dizer que oferece tudo de si: desde a amêndoa, no interior dos pinhões, até a resina que, destilada fornece alcatrão, óleos diversos, terebintina e breu (usados na indústria). Ricas em amido, proteínas e gorduras, suas sementem são de grande valor nutricional.

Um depósito de restos de pinhões no meio de uma espessa camada de argila evidencia não apenas a existência do pinhão na dieta diária dos grupos, como também uma engenhosa solução para conservá-lo durante longos períodos, evitando o risco de deterioração ou do ataque de animais. Sabe-se que o pinhão servia de alimento para inúmeras espécies animais, inclusive caititus selvagens (espécie de porco), atraindo-os durante a época de amadurecimento das pinhas.  Assim, ao lado da coleta anual do pinhão, os indígenas os caçavam.

É comum ver bandos de pássaros, principalmente periquitos e papagaios, pousados nos galhos das araucárias, bicando as amêndoas.
E serelepes, que inclusive contribuem para a sua propagação, já que costumam enterrá-las (e da maneira correta para brotar, com a ponta para baixo).

Uma enorme diversidade de animais, desde grandes mamíferos até os menores invertebrados, vive na floresta de araucárias - e depende dela.

Quando os pinhões amadurecem, a fartura de alimento altera toda a vida na mata. A gralha-azul, por exemplo, que utiliza a araucária para fazer seu ninho, esconde seu alimento no oco dessas árvores.

Já o macaco bugio e o ouriço são dotados de uma curiosa habilidade: debulham cuidadosamente as pinhas que guardam os pinhões. O que sobra é aproveitado por besouros, formigas e uma infinidade de insetos.

A fauna original tinha onças, bugios, cotias, catetos e a gralha-azul, pássaro que dispersa o pinhão, essa deliciosa semente do pinheiro.

Os pinheirais formam um ecossistema denominado floresta ombrófila mista, que integra o bioma da Mata Atlântica. A copada majestosa das araucárias, voltadas para o céu a cinquenta metros de altura, lhe confere um desenho característico. Canelas, imbuias e cedros formam um segundo extrato que cobre sub-bosques de erva-mate e xaxim. A madeira, por sua vez, pode ter várias aplicações na construção, na fabricação de palitos fósforos e ainda fornece uma pasta de celulose utilizada na indústria do papel. Sua madeira serviu até como mastros em embarcações; em aplicações rústicas, os galhos podem ser apenas descascados e polidos, transformando-se em cabos de ferramentas agrícolas. Este, na verdade, é seu único uso sustentável.

Um ecossistema sob risco de extinção, mas poucos se dão conta. A araucária, que já compôs extensa formação nos estados do centro-sul do Brasil, está hoje corre hoje o risco de se extinguir.

Se antes da presença dos colonizadores suas florestas ocupavam mais de metade da região dos Estados do Paraná e de Santa Catarina, hoje restam apenas fragmentos que, somados, não atingem 1% da área original. A maioria dos remanescentes se encontra em áreas particulares de indústrias madeireiras. Estão ameaçados por assentamentos de sem-terra ou ilhados por plantações de pinus e soja. No ano passado, o governo federal aprovou a inundação do lago da hidrelétrica de Barra Grande (da Alcoa), na divisa de Santa Catarina com o Rio Grande do Sul. O lago vai inundar um vale com um dos últimos remanescentes das florestas de araucárias. As famosas "medidas mitigatórias" estão prometidas, mas como tem acontecido em outras questões que envolvem a preservação ambiental, certamente não sairão do papel.

A araucária é árvore símbolo do estado do Paraná, da cidade Curitiba e de Campos do Jordão, no estado de São Paulo. Mas, apesar de sua importância e do estado grave de ameaça, há poucas unidades de conservação para esse ecossistema. Os parques nacionais de Aparados da Serra (RS) e do Iguaçu têm pequenas áreas de florestas com araucárias que, no total, não chegam a 3 mil hectares.

Sua beleza e imponência dão um charme todo especial à paisagem da cidade. Desafiando o frio e o vento, suas folhas permanecem verdes mesmo no auge do inverno. Seu fruto, o pinhão, despenca graciosamente de seus altos galhos para nutrir os homens e os animais.

A Araucária angustifolia ocupa uma área muito grande nos três estados do sul do Brasil, alcançando também, manchas esparsas no sudeste e nordeste de São Paulo, sul de Minas Gerais, sudoeste do Rio de Janeiro e no leste da Província de Misiones (Argentina). A zona de vegetação ocupada pela Araucária situa-se entre o paralelo 29º 30' sul, no Rio Grande do Sul (a partir de 400 m de altitude), e o paralelo 20º sul, em Minas Gerais (altitudes superiores a 1000 m).

Presente no planeta desde a última glaciação - que começou há mais de um milhão e quinhentos mil anos, a Araucaria angustifolia já ocupou área equivalente a 200 mil quilômetros quadrados no Brasil, predominando nos territórios do Paraná (80.000 km²), Santa Catarina (62.000 km²) e Rio Grande do Sul (50.000 km²), com manchas esparsas em Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro, que juntas, não ultrapassam 4% dessa área originalmente ocupada.

No Brasil, o limite sul da ocorrência natural desta conífera situa-se nos bordos da Serra Geral, no Rio Grande do Sul. Uma linha leste-oeste, de Torres a Santa Maria, beirando os contrafortes da serra referida, separa a Floresta Subtropical da encosta da Floresta de Araucária.

Os campos do planalto riograndense oferecem uma paisagem muito bonita. São proporcionalmente maiores que a área de mata de Araucária. Os campos estão salpicados de capões, matas de galeria, matas nas encostas úmidas nos lados sul e leste, e também com pinheiros isolados.

Delimitação da área natural da Araucária no Rio Grande do Sul: Pelo oeste, a linha partia de São Martinho, seguia para o noroeste, passando por Cruz Alta e Pinhal. Ao norte de Tenente Portela, o pinheiral nativo alcançava o leste e perto do Parque Estadual do turvo, sempre pela parte alta. Pelo norte do estado o pinheiral ocupava somente a parte alta do vale do Rio Uruguai. O pinheiral não descia até este vale nem a parte baixa dos afluentes daquele rio. Estes lugares são ocupados pela vegetação subtropical do Alto Uruguai. Este tipo de vegetação segue pelo Rio Uruguai até a barra do Rio Canoas com o Rio Pelotas. Até este ponto, a vegetação subtropical do Rio Uruguai alcança até quase a parte alta do vale. Depois, segue até a barra do Rio Pelotinhas com o Rio Pelotas, o qual ocupa apenas a parte baixa das margens deste último ponto.

Em direção leste, os pinheiros se espalham pela parte alta nos dois lados do vale. Da barra dos dois rios citados acima, a linha delimitante dos pinheirais do Rio Grande do Sul segue pelo Rio das Contas, afluente pela esquerda do Rio Pelotas, até encontrar os bordos da Serra Geral. Dirigindo para o sul, esta linha a cerca de 10 km ao sul de São Francisco de Paula, volta-se para a direita, em direção de Canela. Os pinheirais mais densos encontravam-se na região dos Campos de Cima da Serra, no noroeste do planalto. Ocupavam as nascentes e vales superiores dos grandes rios (Rio Jacuí, Rio Caí, Rio das Antas, Rio Pelotas e Rio Taquari).

No estado de Santa Catarina temos a ocupação do vale do Rio Uruguai pela floresta subtropical, e no planalto, em altitudes superiores a 500 metros, pela Mata de Araucárias. O Rio Pelotas e o Rio das Contas, até as fraldas da Serra Geral, neste Estado, completam a linha sul de onde começam as florestas de Araucária.

Pelo leste este tipo de vegetação ora penetra em faixas irregulares e estreitas, partindo da região de Rancho Queimado e bifurcando para o nordeste e para o noroeste, ora partindo dos arredores de Nova Cultura em direção ao sul penetra até perto do Rio do Sul. Uma pequena mancha em forma de ferradura se encontra na região de Anitápolis. Vários tipos de núcleos de Araucária encontram-se espalhados pela região da Mata Pluvial Atlântica. No nordeste do Estado, o pinheiral vai até perto da BR 101, pela Serra do Mar, na nascente do Rio Negro. Pelo norte, praticamente é todo coberto de pinheiros.

Araucária angustifolia

No estado do Paraná, a Araucária ocupa altitudes superiores a 600 metros. A sua ocorrência no oeste, vai até a fronteira com a Argentina (no Rio Santo Antônio) de Barracão para o norte até a barra do Rio Santo Antônio com o Rio Iguaçu. Deste ponto a área de pinheiros se retrai em forma de cunha para leste.

Depois, a linha delimitante volta e torna a direção norte, passando mais ou menos por Cascavel. A linha continua até mais ou menos Cafelândia. Daqui, vai para o leste, também em forma de cunha e volta em direção noroeste, mais ou menos para Campo Mourão. Pelo norte, uma linha abre um pouquinho na direção de São José da Boa Vista, limitando para o sul, com algumas e profundas reintrâncias, a área de pinheiros. A leste de Sengés a linha segue até cerca de Pinhalzinho.

Depois, uma linha curva ampla leva a linha até cerca de Ilha Grande, próximo ao Rio Capivari. Outra Linha, ligeiramente curva, segue para o sul pelo leste de Curitiba, encerrando assim a área de pinheiros no estado do Paraná.

Dos 7.500.000 hectares de primitivas florestas de araucária, no Paraná existem ainda 400.000 hectares, sendo que as maiores reservas se localizam na região de General Carneiro e Bituruna, em uma linha que vai de União da Vitória a Palmas.

No Estado de São Paulo, os pinheiros ocorrem em certas regiões distintas entre si e em altitudes superiores a 800 m, alcançando até cerca de 1700 msm (Campos do Jordão). Ao sul, a área de ocorrência desta conífera está limitada pela divisa com o Estado do Paraná, de Itararé para leste, até cerca de Apiaí.

Daqui, segue para o norte, a oeste da Serra de Paranapiacaba, em direção de Capão Bonito e Buri, numa faixa estreita que passa pela esquerda de Ribeirão Branco. Nos arredores de São Paulo, passando por Mogi das Cruzes, Paraibuna e Bocaina, ainda pelo leste do Estado, são regiões de Araucária.

Na região da grande São Paulo, podemos mencionar Diadema, Itapecerica da Serra, passando mais ou menos pelo Km 34 da rodovia Raposo Tavares, cerca do limite deste com o município de Cotia. No Jardim Botânico de São Paulo, podem ser vistos dois pinheiros nativos. Neste Estado, na encosta da Serra de Poços de Caldas, há pinheiros nativos. De Cascata, na divisa com Minas Gerais, uma faixa com cerca de 2 km de largura, alcança a Fazenda da Fartura, a 8 km noroeste de São Roque da Fartura. Daqui, a linha volta mais ou menos pelos bordos da Serra até a estrada Andradas-Poços de Caldas. Campos do Jordão possui seus pinheirais principalmente nos vales, a uma altitude entre 1400 e 1700 m.

No Estado de Minas Gerais, os pinheiros acham-se numa altitude que chega até 1800 m, na Serra da Mantiqueira. Em Camanducaia, no local de Rio Verde, em direção à divisa com Campos do Jordão, há um núcleo de pinheiros nativos. Há outra região, cuja linha de delimitação, passando entre Itajubá e Pedralva, segue para Pinhal, passando pela direita de Conceição das Pedras, chegando perto da rodovia Natércia - Olímpio de Noronha (ao sul desta cidade), segue para oeste e desce para o sul, em direção de Cristina, onde foram vistos pinheiros nativos, velhos.

Outra região onde ocorria pinheiros nativos, no sul de Minas Gerais, é a seguinte: uma linha que passa por Pé do Morro, perto de Passa Quatro, segue em direção de Airuoca.

Nesta zona, já não existia mais pinheiros nativos, mas em 1970, foram encontrados nós de pinho e cerne de madeiras enterrados em lugares de onde tiravam barro para uma olaria e, também, num leito de um rio recém aberto sob traçado novo. De Airuoca, a linha segue até 7 km ao norte de Serranos (onde existiam pinheiros numa pequena bacia). A linha volta-se para Sudeste, passando perto e a leste de Carvalhos, onde existiam bonitos capões de pinheiros. A linha referida segue para leste, para alcançar Liberdade, de onde torna a direção sudoeste, passando a poucos quilômetros a leste de Bocaina, a leste de Santo Antônio e de Mirantão. Por fim, encosta na região de pinheiros do norte do Estado do Rio de Janeiro. Todas estas regiões citadas, estão intensamente exploradas. Continuando a linha de delimitação do pinheiro, no sul de Minas Gerais, ainda segue pelo norte das encostas da Serra da Mantiqueira, passando em frente a Mauá, depois, ao norte de Agulhas Negras, seguindo pelo alto da Cordilheira até atravessar a rodovia Piquete-Delfim Moreira, para voltar pelo norte até encontrar Pé do Morro, citado acima. O pinheiral existente na Fazenda dos Criminosos, perto de Olímpio de Noronha, é nativo. Outra grande mancha de pinheiros nativos, encontra-se na região de Camanducaia.

No Estado do Rio de Janeiro esta planta existe nas matas do alto do Itatiaia, na Serra da Mantiqueira, em altitudes que vão até 1800 msm. BRADE (1956): "Só nas escarpas sulinas em altitudes entre 1880 e 2300 metros, pode-se observar exemplares solitários, ou às vezes, pequenas formações. No outro lado da Serra, na Estrada Nova, acima de Registro, aparece a referida espécie, espontaneamente, já em altitude de 1600 m mais ou menos. Uma formação considerável de Araucária acha-se no lado sudeste das Agulhas Negras, em virtude bastante prejudicada pelo fogo que lavrou em épocas anteriores à existência do Parque Nacional do Itatiaia e já algumas vezes na existência deste".
Fonte: www.araucariaswebsite.hpg.ig.com.br

Flora
A diversidade do clima brasileiro reflete-se claramente em sua cobertura vegetal. A vegetação natural do Brasil pode ser grupada em três domínios principais: as florestas, as formações de transição e os campos ou regiões abertas.

As florestas se subdividem em outras três classes, de acordo com a localização e a fisionomia: a Selva Amazônica, a Mata Atlântica e a Mata de Araucárias. A primeira, denominada Hiléia pelo naturalista alemão Alexander von Humboldt (do grego, hilayos, "da floresta", "selvagem") é a maior mata equatorial do mundo. Reveste uma área de 5.000.000 km2, equivalente a quase o dobro do território da Argentina.

Florestas
A Hileia, do ponto de vista de sua ecologia, divide-se em: mata de igapó, mata de várzea e mata de terra firme. A primeira fica inundada durante cerca de dez meses no ano e é rica em palmeiras, como o açaí; os solos são arenosos e não cultiváveis nas condições em que se encontram. A mata de várzea é inundada somente nas enchentes dos rios; tem muitas essências de valor comercial e de madeiras brancas, como a seringueira, o cacaueiro, a copaíba, a sumaúma e o gigantesco açacu. A mata de igapó e a mata de várzea, as duas primeiras divisões da hileia, têm árvores de folhas perenes.

Os solos das várzeas são intrazonais, argilosos ou limosos. A mata de terra firme, que corresponde a cerca de 90% da Floresta Amazônica, nunca fica inundada.

É uma mata plenamente desenvolvida, composta de quatro andares de vegetação: as árvores emergentes, que chegam a 50 m ou mais; a abóbada foliar, geralmente entre 20 m e 35 m, onde as copas das árvores disputam a luz solar; o andar arbóreo inferior, entre 5 m e 20 m, com árvores adultas de troncos finos ou espécimes jovens, adaptados à vida na penumbra; e o sub-bosque, com samambaias e plantas de folhas largas. Cipós pendentes das árvores entrelaçam os diferentes andares. Epífitas, como as orquídeas, e vegetais inferiores, como os cogumelos, liquens, fungos e musgos, convivem com a vegetação e aumentam sua complexidade.

A mata de terra firme é geralmente semidecídua: 10% ou mais de suas árvores perdem as folhas na estiagem. Árvores típicas da terra firme são a castanheira, a balata, o mogno e o pau-rosa. A heterogeneidade da floresta dificulta sua exploração econômica, salvo onde ocorrem concentrações.

O tipo de solo predominante na hileia é o latossolo. A mata da encosta atlântica estende-se como uma faixa costeira, do Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul. Suas árvores mais altas chegam, geralmente, a 25 m ou 30 m. No Sul da Bahia e na vertente marítima da Serra do Mar, é perenifólia; mais para o interior e em lugares menos úmidos, é semidecídua.

Do Paraná para o Sul, toma um caráter subtropical: é de menor altura (10 m a 15 m), perenifólia, mais pobre em cipós e mais rica em epífitas. A peroba, o cedro, o jacarandá, o palmito e o pau-brasil foram espécies exploradas na Mata Atlântica. Além de madeira, a Mata Atlântica contribuiu muito com seus solos para o desenvolvimento econômico do Brasil. A maior parte deles pertence ao grande grupo dos latossolos vermelho-amarelos, entre os quais se inclui a terra roxa, e nos quais se instalaram várias culturas, como café, cana-de-açúcar, milho e cacau. O terceiro tipo de floresta é a Mata de Araucárias. Fisionomicamente, é uma floresta mista de coníferas e latifoliadas perenifólias. Ocorre no Planalto Meridional, em terras submetidas a geadas anuais.

Das matas brasileiras, é a de menor área, porém de maior valor econômico, por ser a mais homogênea.
Suas árvores úteis mais típicas são: o pinheiro-do-paraná, produtor de madeira branca; a imbuia, madeira de lei, escura, utilizada em marcenaria; e a erva-mate, com cujas folhas tostadas se faz uma infusão semelhante ao chá, muito apreciada nos países do Prata.
Formações de Transição

A caatinga, o cerrado e o manguezal são os tipos mais característicos da vegetação de transição. As caatingas predominam nas áreas semi-áridas da Região Nordeste e envolvem grande variedade de formações, desde a mata decídua (caatinga alta) até a estepe de arbustos espinhentos. Suas árvores e arbustos são em geral providos de folhas miúdas, que caem na estiagem, e armados de espinhos. São a jurema, a faveleira, o pereiro, a catingueira, o marmeleiro. São também típicas as cactáceas, como o xiquexique, o facheiro, o mandacaru e outras do gênero Opuntia. Nos vales planos são freqüentes os carnaubais. Os cerrados, ou campos cerrados, predominam no Planalto Central, desde o Oeste de Minas Gerais até o Sul do Maranhão.

São formações constituídas de tufos de pequenas árvores, até 10 m ou 12 m de altura, retorcidas, de casca grossa e folhas coriáceas, dispersos num tapete de gramíneas até um metro de altura, que na estiagem se transforma em um manto de palha. Os cerrados penetram no pantanal mato-grossense, onde se misturam a savanas e formações florestais e formam um conjunto complexo. Os manguezais ocorrem em formações de 4 m a 5 m de altura, na costa tropical.

Regiões Abertas
As áreas de vegetação aberta, no Brasil, se agrupam em tipos variados. Os campos de terra firme da Amazônia, como os campos do rio Branco (Roraima), os de Puciari-Humaitá (Amazonas) e os do Ererê (Pará), são savanas de gramíneas baixas, com diversas árvores isoladas típicas do cerrado, como o caimbé, a carobeira e a mangabeira. Os campos de várzea do médio e baixo Amazonas e do Pantanal (rio Paraguai) são savanas sem árvores, com gramíneas de um metro ou mais de altura.

Os campos limpos são estepes úmidas que ocorrem na campanha gaúcha, em partes do Planalto Meridional (campos de Vacaria, no Rio Grande do Sul; campos de Lajes e Curitibanos, em Santa Catarina; campos gerais, campos de Curitiba e de Guarapuava, no Paraná) e no extremo Oeste baiano (os gerais). Têm solos geralmente pobres, salvo na campanha, onde se enquadram no tipo prairie degradado. Fonte: www.geocities.com.br

A Mata das Araucárias, ao contrário da Floresta Amazônica, constitui uma formação aberta, homogênea, que permite facilmente a extração de madeiras (chamadas duras), as Araucárias, constituem a nossa única floresta subtropical, ou temperada quente. Essa formação é a floresta mais desmatada em nosso país quando da instalação dos imigrantes europeus para construção de suas casas. Entretanto, foi a zona pioneira em reflorestamento. Além do pinheiro-do-paraná (Araucária angustifolia) que é predominante, existem outras espécies de pinheiros, além de gramíneas e samambaias.

Sendo uma floresta subtropical mista, com ocorrência do pinheiro (Araucária angustifolia), estão associados a esta, outras espécies, como cedro, canela, imbuía, caviúna, erva-mate, etc.
A mata das araucárias caracteriza-se por ser uma floresta:

Homogênea (com poucas espécies);
Aberta e de fácil penetração;
Aciculifoliada

Sendo uma floresta homogênea, de fácil penetração e localizada próximo a grandes mercados consumidores, a mata dos pinhais tem sido muito explorada economicamente no país, atendendo tanto ao mercado interno (papel e madeira) como às exportações, sendo o estado do Paraná o maior produtor desta madeira de boa qualidade.
Fonte: geografia.igeo.uerj.br

FLORESTA ARAUCÁRIA

Localiza-se principalmente na região sul, ocorrendo também em elevadas altitudes na região sudeste. O pinheiro-do-paraná (Araucaria angustifolia) é a espécie que se destaca neste tipo de floresta. O pinheiro se associa a outras espécies da Floresta Pluvial Atlântica, dando origem a variadas comunidades florestais mistas, recebendo o nome de pinheirais ou pinhais. Cientistas revelaram que os pinheirais são antes fases sucessionais do que comunidades maduras e integradas.

Segundo eles, o pinheiro-do-paraná é uma espécie pioneira, que por ser fortemente heliófita (necessita de luz solar direta para se desenvolver), avança sobre as áreas campestres abertas e não se regenera mais quando a sombra se torna intensa. Os grupamentos de pinheiros são pouco a pouco invadidos por arvoretas e arbustos, dando início à sucessão.

O clima característico nas regiões de ocorrência da Floresta de Araucária é o subtropical, com chuvas relativamente regulares o ano todo, e temperaturas relativamente baixas. O pinheiro pode atingir até 50m de altura, produzindo sementes comestíveis, conhecidas como pinhões, e tem seus ramos distribuídos em torno do tronco central. Por existir pouca diversidade florística, devido ao clima frio, e a alelopatia (inibição do crescimento de outras plantas próximas, fato comum em pinheiro), as araucárias se sobressaem, ficando isoladas, o que torna extremamente fácil a sua localização e extração, fato que as colocou à beira de extinção, bem como aos demais organismos relacionados a ela.

Existem algumas plantas que se beneficiam da alelopatia, como por exemplo a erva-mate, elemento importante para a economia de muitas comunidades. Podemos encontrar neste tipo de vegetação, espécies como a canela-lageana, a imbuia, o cedro, dentre outras.
Para expandir a área plantada no sul do Brasil, colonos alemães e italianos iniciaram, na primeira metade do século, a exploração indiscriminada de madeira.

Árvores gigantescas e centenárias foram derrubadas e queimadas para dar lugar ao cultivo de milho, trigo e videira, principalmente. A mata das araucárias ou pinheiros-do-paraná, de porte alto e copa em forma de prato, estendia-se do sul de Minas Gerais e São Paulo até o Rio Grande do Sul, formando cerca de 100.000 km2 de matas de pinhais.

Na sua sombra cresciam espécies como a imbuia, o cedro, a canela, entre outras. Hoje mais da metade desse bioma foi destruído, assim como diversas espécies de roedores que se alimentavam do pinhão, aves e insetos. O que resta está confinado a áreas de conservação ou preservação. Por mais de 100 anos a mata dos pinhais alimentou a indústria madeireira do sul. O pinho, madeira bastante popular na região, foi muito usado na construção de casas e móveis.

Antigamente, a Mata das Araucárias ou dos Pinheiros-do-Paraná, estendia-se do sul dos estados de Minas Gerais e São Paulo até o sul do Rio Grande do Sul, avançando pelo extremo Nordeste da Argentina. Sua extensão era 100.000 km2. Na sombra dos pinheiros, cresciam muitas outras espécies, como o cedro, a imbuia, a canela, a gameleira, a timbuia e o angico.

Mas este ecossistema está praticamente extinto e com ele, diversas espécies de roedores, inúmeras aves e insetos que se alimentavam do pinhão, fruto dos pinheiros, também estão ameaçados de extinção pois durante 150 anos, a Mata dos Pinhais alimentou a indústria madeireira do Sul, que a empregava na construção de casas e no fabrico de móveis. Mais tarde, por volta dos anos 20 a 60, descobriu-se o mercado externo para a araucária, e a consequente escassez dos pinheiros.

Hoje, metade das araucárias ainda restantes está confinada em "museus", ou seja, as áreas de preservação aos cuidados dos estados e do governo federal.

Restam menos de 300.000 hectares, área equivalente a uma das grandes fazendas do Norte do País, que representam a adaptação da Mata Atlântica a um clima subtropical, mais temperado.

CARACTERÍSTICAS GERAIS

A presença da mata de Araucária, sem dúvida, é o elemento que mais se distingue na fitofisionomia do Sul do Brasil. Ela se encontra ao longo do Planalto Meridional, nos estados do Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. De modo geral pode-se dizer que seu aparecimento se acha ligado ao clima, que é condicionado pelo relevo e pela altitude.

Os planaltos constituem o seu habitat por excelência, sendo evitados os vales dos grandes rios. Essa região caracteriza-se por alto índice pluviométrico e por temperaturas moderadas. Para a Mata de Araucária, o solo não parece ser um fator primordialmente limitante, pois esta ocorre nos mais variados tipos de solos. Geralmente a quantidade de húmus no solo é muito grande. A araucária tem preferência por lençóis freáticos pouco profundos.
O pinheiro tem extrato arbóreo homogêneo, as folhas são muito agudas e sésseis. A árvore pode ter até 25 metros de altura e o tronco até 2 metros de diâmetro. Essa mata subtropical está associada à epífitas, palmeiras e samambaias.

DEGRADAÇÃO

Para a economia florestal e madeireira do país esta é a região mais importante. A Araucária e a Imbuia são usadas pelas indústrias moveleiras e de papel celulose.

A exploração madeireira é a responsável direta pela ameaça à Imbuia, assim como ao Pinheiro-do-Paraná, que é uma das espécies mais extraídas do sul do Brasil. A destruição dessas matas, sem deixar reservas em seu lugar, vem aumentando gradativamente a variação das precipitações na região Sul.

Com os loteamentos, a derrubada de árvores em encostas íngremes, as queimadas para formação de pastos e a instalação de indústrias, terminam por provocar deslizamentos de terra e enchentes, dos quais o homem acaba sendo a principal vítima.

Mata dos Pinhais (Araucárias)

A Mata das Araucárias, ou dos Pinhais, ao contrário da Floresta Amazônica, constitui uma formação aberta, homogênea, que permite facilmente a extração de madeiras (chamadas duras). Aparece no Sul do país, nos Estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Também era encontrada em São Paulo.

No Brasil, a Mata dos Pinhais, ou das Araucárias, constitui a nossa única floresta subtropical, ou temperada quente. Essa formação é a floresta mais desmatada em nosso país quando da instalação dos migrantes europeus para construção de suas casas. Entretanto, foi a zona pioneira em reflorestamento.

Além do pinheiro-do-paraná (Araucaria angustifolia) que é predominante, existem outras espécies de pinheiros, além de gramíneas e samambaias. Atualmente encontram-se praticamente extinta. Fonte: www.frigoletto.com.br

A história da araucária, ou pinheiro-do-paraná (Araucária angustifolia), pode ter um triste fim com a extinção da espécie em menos de um século de exploração predatória. Inseridas no domínio da Mata Atlântica e classificadas cientificamente como Floresta Ombrófila Mista, as florestas de araucárias ocorriam originalmente numa área contínua na região compreendida entre os estados do Rio Grande do Sul e Paraná, com manchas em São Paulo e Minas Gerais. Atualmente estão reduzidas a aproximadamente 1,2% da área original.

Matas de Araucária: Pinheiros do Paraná à Beira da Extinção
por João Paulo Capobianco.

Estudos revelam a existência de nove variedades de araucárias ocorrendo em diferentes associações com espécies vegetais de grande importância econômica, como a imbuia, a canela lageana, o pinheiro-bravo, a canela sassafrás e a erva-mate. Esta última também tem valor ambiental, pois é explorada no sub-bosque da floresta.

Atualmente, do pouco que restou das matas de araucárias, apenas 40.774 hectares encontram-se legalmente protegidos em 17 Unidades de Conservação, perfazendo um total de 0,22% da área original. Fonte: www.mre.gov.br

DOMÍNIO DAS ARAUCÁRIAS

Esse domínio está localizado nos Planaltos e Chapadas da Bacia do Paraná, onde se observa uma estrutura geológica que alterna camadas de arenito e basalto, que contribui para a ocorrência dos solos de terra-roxa, de elevada fertilidade natural devido à constituição argilosa e ao alto teor de ferro presente em sua constituição.

A Floresta de Araucárias está associada com a ocorrência do clima Subtropical de temperaturas moderadas, com chuvas bem distribuídas no decorrer do ano e elevadas amplitudes térmicas, sofrendo a influência da massa Polar Atlântica.

Essa floresta adapta-se ao clima úmido, com precipitações superiores à 1200 mm por ano, e à altitudes mais elevadas; no Sul do país sempre ocorre acima de 600 m e na Serra da Mantiqueira, localizada no Brasil tropical, só aparece nas áreas acima de 1200m.
A floresta subtropical brasileira é aciculifoliada e homogênea com o predomínio do pinheiro da Araucária Angustifólia e do Podocarpus, associados com algumas outras espécies, como é o caso da Erva-mate e da Canela. Esse é o hábitat da Gralha Azul, a principal ave responsável pela dispersão das espécies vegetais.

A Mata de Araucárias também já sofreu uma grande devastação e dela restam apenas alguns pequenos núcleos de floresta original. O seu desaparecimento deve-se à extração de madeiras e também esteve relacionado coma expansão da agricultura, só que, nesse caso foi a pequena produção comercial desenvolvida pelas famílias dos descendentes de imigrantes que ocuparam o sul do país.

Fontes:

www.tree4life.com
www.vivaterra.org.br
www2.uol.com.br



           O Lago de Nenúfares do Vale Encantado


Presente no lago do Vale Encantado em Campos do Jordão SP, o nenúfar é rei e senhor. Encantados pela beleza da sua flor, traz fascinação aos olhos de quem o vislumbra. Como jangada ou como plataforma de mergulho, veneram-no as rãs. Ali namorei minha princesa!

A visita ao lago, sempre foi um ritual de verão. (No verão a sombra do nenúfar evita que a água aqueça excessivamente). Seu habitat são as águas doces estagnadas ou de corrente fraca (remansos de rios, charcos, lagoas).

Conhecido nos EUA como alligator bonnet – à letra seria “boné de crocodilo”, provavelmente porque em alguns lagos daquele continente coexistem Nenúfares e crocodilos que, quando assomam à superfície por debaixo das folhas, parecem ter bonés nas cabeças… – esta planta é compacta, produz um efeito espetacular e as flores são muito aromáticas. O nome do gene vem de Nympha, uma deusa da natureza na mitologia grega e romana.

No seu lugar de origem, África e partes da Ásia, crescem espontaneamente em lagoas e lagos sem corrente, e podem crescer em climas temperados e frios, perenes cuja floração começa no outono e, ainda, em lugares tropicais nos quais perdem as folhas no inverno, o que facilita a entrada de luz no lago. O Nenúfar é uma planta perene, que hiberna no inverno até chegarem os primeiros dias quentes da primavera.

As pétalas abrem de manhã e fecham-se ao fim do dia; recolhe à noite, para logo reabrir pela manhã. Cada flor dura cerca de três a quatro dias, mas quando retirada do seu habitat natural para ser colocada numa jarra por exemplo, dura muito menos.

No Vale Encantado, os nenúfares que ali existem são dos mais pequenos de todos. Eles dão cor e brilho à área em torno do Lago, onde atinge todo o seu esplendor. Além de oferecer um belo colorido, são compatíveis com peixes ornamentais e outras espécies vegetais. Crescem espontaneamente em Campos do Jordão, porque o clima é frio a temperado. Suas flores são de rara beleza, exalando um sabor delicado. Existem várias seleções de cores e tipos diferentes: há todos os tons: branco, creme, rosa pálido, amarelo, azul e até roxo.

São conhecidos também com Lírios d’água, Flor de Lótus e ninfeia. As flores têm pétalas muito brancas com um centro amarelo e aveludado. A flor é aromática, atinge 10-23 cm de diâmetro e dura todo o verão em praticamente todas as regiões da Serra da Mantiqueira. Quando as folhas se desenvolvem e ocupam muita da superfície da água -  o que acontece com frequência - as flores que normalmente flutuariam à superfície crescerão um pouco mais à procura de espaço e de luz e elevam-se uns centímetros acima da água, com grande elegância.

Os eslavos acreditavam que o lírio poderia proteger as pessoas de várias aflições e problemas durante suas viagens. Indo em uma viagem longa, as pessoas costuravam em pequenos sacos, amuletos deixavam o lírio de água e flores, usado como um amuleto para si mesmo.

Os gregos antigos estabelecidas a lenda de uma ninfa jovem que ama Heracles e ligou o amor não correspondido de uma flor encantadora.
Todas as manhãs, ele abre as pétalas em direção ao sol e à espera de seu amante. Na Roma antiga, também, amava o lírio-d'água.

Em um dos afrescos descobertos em Pompéia templo você pode ver as flores de nenúfares que adornam os deuses alados. Muito poético dizer da origem da água lírio é uma antiga lenda de índios norte-americanos.

Um dos grandes chefes indígenas, morrendo, deixe a seta céu dourado. Gostei muito deste boom Vênus e a Estrela do Norte. Ambos queriam pegá-la, correu para seu rosto e assim que caiu a faíscas terra estrela. Dessas faíscas nasceram belas flores de nenúfares.


                   A Beleza Invernal dos Rubros Rododendros em Flor.

Em Campos do Jordão SP, na Serra da Mantiqueira, todas as primaveras e início do verão, ao longo da avenida que segue sentido Capivari, no trecho compreendido desde a Parada Damas até a Estação de Emílio Ribas, é marcada pela profusa floração de rododendros.

A cidade se renova, ganhando novas e atrativas tonalidades, ficando ainda mais colorida com as cores dos rododendros, que florescem às vésperas da Primavera. Enchem as avenidas de cores e vida. São parte da paisagem urbana. As flores do rododendro cor-de-rosa também dão fulgor à Estação de Abernéssia, magníficos, imponentes, explodindo em cor, manchas carmesins num jogo de cores maravilhoso. Um aspecto contorcido de grande beleza.

São arbustos que se apresentam carregadas de flores cor de rosa, vibrante e bem integradas na envolvência verdejante de um agradável gramado. São resistentes ao frio, e comportam-se bem em zonas de vegetação. Suas folhas tem um tom verde vivo e sua floração é farta, formando belos ramalhetes com grande impacto visual. Desde árvores a pequenos arbustos, surgem nestes canteiros com folha caduca ou persistente, de flor pequena ou de grandes dimensões, com uma grande gama de tons – do rosa, violeta ou vermelho. Apelativas flores cheias de cor, a maioria floresce durante um curto período de tempo anualmente, durante o qual adquirem cores muito vivas. São flores muito populares da época, que na Serra da Mantiqueira encontram as condições ideais de desenvolvimento: solo ácido, humidade, precipitação e temperaturas amenas.

Vamos conhecer o rododendro:

Rododendro é o nome comum dado ás plantas do género Rhododendron , da família das ericaceas. Existe em forma de árvore, arbusto, pequena planta ou bonsai... Pode ter folha caduca ou persistente...

Existem mais de 500 espécies (wikipédia diz que mais de 1000!) e inúmeras variedades e híbridos que incluem as Azáleas... Como já disse o tamanho dos rododendros varia muito e vai desde as variedades anãs alpinas até ás árvores de grande porte com 18m de altura. No entanto a maioria das espécies sã arbustos de jardim que variam entre os 1,5 e os 3 metros.

 Encontram-se flores de todas as cores, sendo normalmente de forma afunilada, tubulares, em forma de sino ou redondas, nascendo em cachos ou individualmente. Geralmente florescem no final do Inverno ou na Primavera.

A maior parte dos Rododendros é proveniente das regiões dos Himalaias da Índia, da China, da Birmânia, e do Tibete... mas hoje em dia encontram-se em praticamente todos os continentes.

Todos os rododendros contêm uma toxina chamada Graianotoxina no polén e no néctar, e por isso o mel produzido a partir dessas plantas é muito venenoso. O resto da planta é venenosa para os cavalos, especialmente as folhas

Conheça a lenda:

"Na Primavera de 401 a.c. o anfitrião grego foi pelo caminho da montanha de Colchis para encontrar o Tosão de Oiro. Tribos marciais locais atacaram os conquistadores, mas todas as tentativas falharam. Os gregos ficaram contentes porque tudo lhes estava a correr de feição. Contudo, algo trágico aconteceu ao anfitrião ateniense. Alguns soldados encontraram um grande ninho de abelhas, provaram o mel e caíram inconscientes. Xinofonte, o comandante do exército descreveu o acontecimento: " Não havia nada de suspeito, mas havia muitas colmeias e todos os soldados que provaram o mel caíram inconscientes. Havia muitos soldados doentes, como se tivessem saído de uma batalha. Mas no dia seguinte ninguém havia morrido. Eles começaram a recuperar a consciência e após o terceiro e quarto dia todos eles já se sentiam melhor."

Mais tarde descobriram que os soldados comeram muito mel proveniente das flores silvestres rododendro, flor da família das azáleas. A mais famosa da família das azáleas é a azálea indiana. As suas flores estão cheias de néctar, mas o mel possui características específicas e tem alguns alcalóides perigosos.

Fonte: 

http://marciasinistra.blogspot.com/


                                                                                 Alpes de Campos do Jordão



Um dia, visitei os Alpes de Campos do Jordão a trabalho, então chamado “São José dos Alpes”. Com mais de dois mil metros de altitude e com o tempo bom, de lá se avista mais de dez cidades do Vale do Paraíba e Sul de Minas Gerais.
O acesso a São José dos Alpes se dá através de uma estradinha de terra que se inicia junto ao Horto Florestal. De lá até o cume da montanha são aproximadamente sete quilômetros de subida dura, íngreme, mas que vale qualquer sacrifício por suas belezas naturais.

Ao se chegar no topo outras surpresas, como topografia suave e a presença de um lago de águas cristalinas, talvez o mais alto do Brasil. A vegetação e a fauna se destacam pela diversidade e preservação, já que o local é pouco visitado.

Ali chegando, pude avistar para antegozo de minha alma, os montes e campos que formam aquela bela paisagem alpina com seus recantos de flores exóticas, pássaros raros, animais silvestres, regatos e nascentes. As bromélias se estendem e debruçam pelas margens da estrada.

Ao meio do caminho, como que no cimo da montanha, observei uma fina neblina que surgia à frente, tirando-me toda aquela deslumbrante e encantadora visão. Era puro russo. Era nuvem. Aos poucos foi se tornando mais densa, até ao ponto de não poder ver mais coisa alguma que porventura pudesse saltar aos olhos. Nada de estrada, campos, regatos, montes, morros, árvores, pássaros, flores, subidas e descidas e coisas assim. 

Tudo russo. 

Senti também um frio tão intenso como se estivesse dentro de um freezer. Estava, sim, envolvido por uma espessa nuvem. Preocupado com a mudança repentina daquela vista panorâmica, comecei então a pensar e a imaginar qual seria o sentimento, o prazer, e a emoção de estar inteiramente envolvido no meio de uma nuvem gigantesca. E realmente, era o que estava acontecendo naquele momento. Fiquei extasiado com a rara beleza natural.

Um pouco mais adiante, vi que estava à margem da estrada (dentro do veículo onde me encontrava, é claro) e ao meu lado, via também o despenhadeiro, se é que posso chamar assim, de onde, olhando para baixo, vislumbrava um lindo vale, extenso, grande, cortado por um longo rio cheio de curvas largas e estreitas. À sua volta, algumas cidadezinhas...

De repente, mais que de repente, aquela cena ofusca-se e volto novamente a ver a densa neblina, tapando toda aquela beleza alpina. Assim, conforme avançava pela estrada, subindo e descendo, ora vislumbrava o vale, ora não via nada, além daquele russo cinza, branco e frio.

Guardei no meu coração esta deslumbrante cena para poder em outra ocasião, ponderar sobre o fato. E assim aconteceu.

Trouxe a memória, uns anos atrás quando morava numa das cidadezinhas daquele vale, um dia em que o tempo não estava lá tão belo assim. Tempo fechado, sem sol, sem um pedacinho da cor azul do céu, apenas grossas, pesadas e negras nuvens anunciando uma chuva para daqui a algumas horas. Olhava para o alto na direção daquelas montanhas e Alpes, só via nuvens e mais nuvens, nada mais.

Ora, a fé é a certeza de que vamos receber as coisas que esperamos e a prova de que existem coisas que não podemos ver.

Contemplando este fascinante retrato da natureza, cheguei a conclusão que o homem, às vezes, exerce sua fé da mesma maneira que aquele fenômeno natural: ele oscila, ora para o resplendor e o brilho, ora para a sombra e a escuridão. É o vai-e-vem de uma fé não desenvolvida e exercitada o necessário para o seu progresso espiritual. Sim, nossa fé também é da mesma forma. E o que mais me chamou a atenção, é que quando estava no topo da montanha e olhava para baixo, não podendo ver nada além da neblina, sabia sem dúvida alguma que lá embaixo existiam cidadezinhas, vales, rios... E, quando vivi no vale e olhava para as montanhas com suas intempéries, não vendo nada além das grossas nuvens, sabia também sem sombra de dúvidas, que além, existia uma linda região alpina com seus picos, montes, morros, árvores, flores exóticas, pássaros e nascentes cristalinos!

Aprendi que a fé nos faz ver além, tanto coisas do céu como as da terra, visíveis e invisíveis, físicas e espirituais; mesmo não as vendo, elas existem e estão lá, fixas, sempre e eternamente, no mesmo lugar onde Deus as criou e as mantém, para o serviço do homem. O homem viverá de fé.

“Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam e a prova das coisas que se não veem” (Hb. 11,1)


O Portal de Campos do Jordão


Um magnífico Portal de Entrada dá as boas-vindas aos visitantes que chegam à cidade de Campos do Jordão. Sua arquitetura de estilo alpino lhe confere um charme todo especial, sendo um cartão de visitas da cidade. Está localizado na entrada de Campos do Jordão para quem chega pela via de acesso principal, a SP-123, atual Rodovia Floriano Rodrigues Pinheiro, a 1.604m. acima do nível do mar.


No ano de 1981, o então prefeito Fausi Paulo, calcado em um projeto do arquiteto José Roberto Damas Cintra, iniciou algumas providências e se propôs a providenciar a edificação de um portal em estilo alpino, com a finalidade de orientar o estacionamento de ônibus e veículos, através de postos de recepção e informação, guias, mapas, informações de hotéis, sanitários, polícias urbana, rodoviária e florestal, comunicações, restaurante e lanchonete. O objetivo era que o portal marcasse a imagem do município, levando o seu nome, ainda mais além das fronteiras.

Contudo, em 1984, o prefeito João Paulo Ismael, contratou o arquiteto paulistano, Selmo Roberto Santos, para a elaboração de um novo projeto do portal, dando início às obras

O arquiteto, Selmo Roberto Santos, nasceu em São Paulo. Em 1972, formou-se na instituição de ensino Policursos, e em 1976, na instituição de ensino FAU Braz Cubas de Mogi das Cruzes SP, onde mora atualmente. Casado com Maria do Carmo Reipert, pai de 3 filhos. É Vice-Presidente do Conselho de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Artístico de Mogi das Cruzes SP e membro da Associação de Engenheiros, Arquitetos e Agrônomos daquela cidade

O arquiteto Selmo Roberto Santos trouxe para Campos do Jordão um estilo arquitetônico de fora do país, pós segunda guerra mundial, inspirando-se na arquitetura de países de clima frio, como os alpes suíços, com seus telhados agudos de grande caimento íngreme e beirais avançados e largos, diferente das construções suíças que não chega até o chão, mas mantém uma inclinação tradicional de 75%, e varandas com floreios típicos da arquitetura tirolesa; aliás, característica marcante da maioria das construções de Campos do Jordão, digna para o jordanense se orgulhar ainda mais da sua terra.

Sua construção, mostrou os novos tempos que os jordanenses vivem e serve de incentivo, fomento e apoio ao nosso turismo

Uma releitura moderna dos tradicionais chalés suíços, com dois chalés de dois pavimentos cada e beirais todo ornamentados, duas casas unidas pelo seu teto, construída a cada um dos lados da principal via de acesso à cidade.

Inaugurado em 1987, uma verdadeira obra-prima de montanha que faz pensar a vida nos Alpes com seus chalés aconchegantes. Um lado encantadoramente bucólico e simples na vida da montanha magnífica.

A entrada de nossa cidade é marcada justamente por este Portal; realmente, um dos cartões postais mais belos e fotografados. Como símbolo de Campos do Jordão, impressiona pela sua beleza. Nenhum Portal é tão bem cuidado como este, além de um local amplo para se estacionar. O jardim é muito bem cuidado com diversas opções de flores, com uma conservação maravilhosa

No decorrer dos anos, um sistema multimídia desenvolvido pela MultiView foi instalado. Computadores Pentium e um quiosque com tela sensível ao toque fornecem informações completas sobre a cidade. Os visitantes podem se cadastrar para receberem informações sobre eventos, e recebem mapas, revistas e outros materiais de divulgação das suas principais atrações.

Em 2017, o Portal foi totalmente reformado, com fraldário, banheiros adaptados para deficientes físicos, e um eficiente centro de atendimento ao turista com informações sobre hotéis, shoppings, lojas, restaurantes, compras. O Portal também faz a vez de espaço cultural, especialmente o segundo piso, utilizado regularmente para abrigar exposições de produtos e serviços de empresas da cidade e do Cone Leste Paulista.

Esse belíssimo portal deixa Campos do Jordão mais bela e atrativa, transformada numa nova atração turística, acolhendo de braços abertos aqueles que a visitam de maneira imponente.

                      

                         Dr. Domingos Jaguaribe e o Velódromo Paulista

Poucos sabem que em 1895, foi inaugurado o Velódromo Paulista, com uma pista original de saibro.

A iniciativa de construção coube ao conselheiro Antonio da Silva Prado, um dos responsáveis, ao lado do cunhado Elias Pacheco Chaves, pelo loteamento de chácaras que deram origem aos bairros de Campos Elíseos e Barra Funda. O Velódromo foi construído dentro dos limites da antiga chácara de dona Veridiana Prado. Provavelmente, Prado autorizou a construção do equipamento esportivo para atender a um desejo dos filhos. A elite paulistana provavelmente tomou contato com bicicletas, à época caríssimas, em Paris.

Naquele tempo não havia entidade para dirigir o ciclismo. Apenas um clube existia: "Veloce Clube Olympico Paulista", grêmio fundado por Dr. Domingos Jaguaribe, presidente, Dr. Borba e outros distintos esportistas daquele tempo.

A diretoria do Veloce Clube Olympico foi composta não só por jovens ciclistas. Ela incluía figuras conhecidas na cidade, escolhidas pelo prestígio. O primeiro presidente, Dr. Domingos José Nogueira Jaguaribe Filho, em nada se parecia com os velocemen do clube. Era um médico positivista, cearense, filho do ex-ministro da guerra, o visconde Jaguaribe, e genro de um cafeicultor paulista, o barão de porto Feliz. Estava radicado na cidade de São Paulo há muitos anos e clinicava na Santa Casa de Misericórdia.

Foi em setembro de 1895 que se efetuou a primeira prova, na inauguração do Velódromo, com pista de terra, situada nos terrenos da Rua dona Viridiana, hoje Rua Florisbela. Nesta ocasião participava mais de 30 ciclistas, no programa geral de várias provas. O público foi numeroso e o entusiasmo ultrapassou todas as expectativas. Esse Velódromo foi reformado, em janeiro de l896 com pista de cimento armado, mandado construir pelo conselheiro Antonio Prado, ficando uma obra de alto valor.

Nesta ocasião antes da inauguração foi estabelecido um Record de 50 km em 1 hora e 11 minutos, tempo que até hoje não alcançado no Brasil, até 1949. Na inauguração oficial do novo Velódromo foram realizadas oito provas, cada qual melhor organizada e bonita. O público foi numeroso e aplaudiu todos os ciclistas (perto de 60) que constituía um Record, na ocasião. Se hoje ainda tivéssemos esse Velódromo, o ciclismo seria um esporte principal em São Paulo, com o elemento organizado, e com os jovens que praticam o ciclismo atualmente.

Naquele tempo havia dificuldade em se uniformizarem e aparecerem assim em público. Depois de 06 meses de magnífico funcionamento do Velódromo, onde se realizou provas das mais interessantes e disputadíssimas, competiu entre os ciclistas estrangeiros, Tonglet, Busson, Prefort, Bayard e outros, que foram batidos várias vezes pelos nossos ciclistas nas provas de que participaram, marcando nossos campeões resultados técnicos dignos de nota e que por esse motivo, merecem aplausos dos próprios adversários.

No mesmo Velódromo, em 1897, em fevereiro, foi realizada a grande prova de 300 km, na pista, entre Oliviere e Otto Hufembasch, um grande campeão ciclista da época.

O resultado dessa prova, realizada com enorme interesse e entusiasmo e assistida por grande público, foi favorável a Otto que venceu com 10 horas e 35 minutos de percurso para 309 quilômetros! Oliviere marcou para os 300 quilômetros e 200 metros, 10 horas e 32 minutos. A prova levou o dia todo das 06 às 18 horas.

 Fontes:

GAMBETA, Wilson. A bola rolou. São Paulo: Sesi-sp  Editora, 2015. 432 p.

ROCHA, Wilba. Primeiro Clube de Ciclismo de São Paulo. 2018. Disponível em: <http://wrpbjb-ciclocompcombr.blogspot.com.br/2009/09/o-primeiro-clube-de-ciclismo-de-sao.html>. Acesso em: 01 abr. 2018.




HISTÓRIA DO CINEMA JORDANENSE


O cinema em Campos do Jordão possui uma trajetória histórica em ressonância com a vida do município. A cidade completou 143 anos em 2017. As histórias de Campos do Jordão e do cinema (que já soma 97 anos desde a sua construção e inauguração) se confundem, tendo o prédio histórico sido construído com o objetivo de oferecer um espaço para os amantes da Sétima Arte. Ali, nas décadas de 1920 a 1980, funcionou o Cine Jandira e Cine Glória, respectivamente, como o “cinema oficial da cidade”.

Em 28 de agosto de 1942, iniciaram-se as obras da construção do “Campos do Jordão Cine Ltda.”, administradas pela Sociedade Construtora de Campos do Jordão. A empresa, para a construção do prédio do novo cinema, valeu-se de empréstimos do Banco de Itajubá e do Dr. Lincoln Ferreira Faria. Trabalhou como empreiteiro de obras no novo cinema, Francisco Bento Filho. O novo cinema de Campos do Jordão foi posteriormente, inaugurado com o nome de “Cine Glória”

A História do Cinema Jordanense não foi objeto do interesse de historiadores. Considerada um divertimento, sua história ficava a cargo de pessoas do meio cinematográfico.

Com a Nova História e seus novos objetos, o cinema, sobretudo os filmes, são apropriados pelos historiadores como fonte.

A partir dessa aproximação e por conta de mudanças nos estudos históricos e nos estudos cinematográficos, a partir dos anos 1970/80, estudiosos de cinema buscam métodos históricos de análise, e historiadores voltam-se para a atividade cinematográfica como objeto de interesse

O objetivo deste artigo é observar como se plasmou essa história no município, desde sua fundação até aos dias de hoje. Temos, portanto, um saldo significativo de história, de caminhos percorridos e outros mais a percorrer.

Introdução:

Os artigos aqui reunidos, que compõem o dossiê Cinema-História, expressam com muita riqueza, diversidade e confluência o que são hoje os estudos em torno da História do cinema em Campos do Jordão. A coletânea de textos que o compõe está estruturada a partir da relação temática entre cinema, memória e história.

A formação de uma sociedade está ligada à história, onde relata com o passar do tempo, períodos que vão se somando e formando a identidade de uma região. Em Campos do Jordão o destino reservou particularidades desde a sua formação, passando pelo ciclo da saúde e chegando à condição de estância turística, conhecida em todo o Brasil e internacionalmente pelas propriedades naturais do clima, da água, da arquitetura e do relevo montanhoso que faz da cidade uma das mais belas do país.

A reflexão sobre a História do cinema em Campos do Jordão deve ser tomada como um objeto de interesse em si mesmo, portador de uma história particular que é pensada no âmbito da historiografia, assim como objeto de ampla reflexão da História Social e da História Cultural Local. Esse texto tem por objetivo refletir sobre as transformações que se manifestaram no cinema Jordanense. Procurarei observar como se plasmou essa história ao longo do tempo e que mudanças ocorreram e em que sentido têm apontado. Isso permitirá observar as oscilações na forma de abordagem e na definição do objeto da história do cinema Jordanense.

História do Cine Jandira

O antigo Chynema Jandyra, o primeiro de Campos do Jordão, foi construído por Desiré Pasquier, em terreno doado pelo benemérito Dr. Robert John Reid. A doação do terreno para a construção do Cinema foi condicionada à exigência de que o mesmo fosse denominado "Chynema Jandyra", nome da filha mais velha do Dr. Robert John Reid. “Kinema Jandira” com ‘k’, pois, entendia-se que a palavra cinema que se origina do grego Kinematos (movimento), deveria guardar a letra ‘k’ em sua grafia; e por muitos anos, ficou escrito: “kinema Jandira”.

Relata Condelac Chaves de Andrade que, quando em 15 de agosto de 1910, foi inaugurado o serviço de iluminação pública, em Vila Abernéssia, João Carlquist, mais conhecido por "João Sueco", instalou uma máquina "Pathé Baby" na carpintaria dos irmãos Fonseca, sediada à altura do atual edifício do Forum, onde, por 30 centavos o ingresso, fazia a delícia dos antigos moradores.

O empreendimento de João Sueco, levou Desiré Pasquier a construir o Chynema Jandyra, continuando a carpintaria, como posto eleitoral e sede do reinado de Momo, no qual o "Clube Tira Prosa" brilhava em toda a linha. Aliás, em 1924, Desiré Pasquier foi obrigada a hipotecar metade do Chynema Jandyra ao dr. José Carlos de macedo Soares, de quem emprestara soma de dinheiro.

O Khynematógrafo Jandyra foi construído em terreno doado pelo dr. Robert John Reid, que condicionou a doação à exigência de se dar à casa de espetáculos a denominação de Chynema jandyra, nome de sua filha mais velha. Pronto o cinema, o dr. Robert John reid recebeu um camarote exclusivo, que sempre utilizava com seus familiares. A empresa cinematográfica foi explorada por Germano Pattou, desde 1928, que se intitulava procurador das viúvas Vieira e Pasquier, fazendo-o até meados da década dos anos de 1930.

A primeira manifestação teatral jordanense cristalizou-se na constituição do Grêmio Dramático e recreativo "Alunos de Talma". Na residência de Floriano Pinheiro, em 06 de junho de 1937,  em Vila Abernéssia, reuniram-se vários cidadãos para fundar a sociedade: Silvino Braga,  Octávio Bittencourt, Arlindo Poli, Augusto Barsalini, Arthur pereira Pinto, José Julião Machado, Avelino Gomes de Oliveira e o professor José Garcia Simões Rocha.

Logo, Augusto Barsalini sugeriu que a entidade contactasse com o proprietário do Chynema jandira para a realização das reuniões, projetando-se 06 espetáculos anuais e um baile mensal.

Constitui-se uma diretoria provisória: José Garcia Simões Rocha (presidente); - Octávio Bittencourt(secretário) e Floriano Pinheiro(tesoureiro).

Foi firmado jm contrato de arrendamento com Waldemar J. Deus,  em 1937, então proprietário do Chynema Jandyra. Nessa época, João Rodrigues Pinheiro assumia o cargo de vice-presidente; Hipólito Turco o de segundo tesoureiro e José brochado Rocha o de superintendente.

O Grêmio recebia novos associados: Jamil Pedro Zaiter; Benedito Vaz Dias e Badih Salim. No último mês de 1937, ao Grêmio era anexada a Associação de Cultura Física, cujo presidente também era Floriano Pinheiro.

Floriano propôs,  com total aprovação,  que se concedesse a próspero Olivetti, o diploma de sócio honorário. Para o departamento esportivo de cestobol foi indicado Antonio Giffoni, como diretor, e Jaime Garcia da Luz, como secretário.

Carlos Barreto se prontificou a fazer o emblema do Grêmio, que, em face da anexação, passou a denominar Grêmio Recreativo e Artístico Jordanense,  com o sub-título: "Alunos de Talma Incorporada".

Ainda em dezembro de 1937, no Chynema Jandyra eram aclamados membros do Conselho Fiscal e sócios fundadores, Francisco Clementino de Oliveira, Antonio Augusto Conceição, Jamil Pedro Zaiter, Nabi Narche, Edgar Jardim Bastos e Pedro João Abitante. Luiz Pires Magalhães passou a pertencer ao departamento esportivo e Carlos Barreto ao departamento artístico.

A diretoria do Grêmio passou a receber propostas para a instalação de novos aparelhos de projeção, além de poltronas, ao mesmo tempo em que solicitava a Gastão Mesquita Filho, da Cia. de Eletricidade de Campos do Jordão, uma taxa mensal fixa para o Grêmio.

Alexandre Rodrigues Pinheiro foi indicado diretor musical do grêmio em 1937. A esse tempo, residiam no prédio do Chynema Jandyra o dentista Gastão Barroso e Carlos Barreto, como locatários. O Grêmio teve outros inquilinos, como "Sanatorinhos" e a Rádio Clube.

Em janeiro de 1938, Horácio Padovan era nomeado suplente de operador para ajudar na montagem técnica dos novos aparelhos do cinema: o Grêmio havia adquirido um aparelho projetor "Pathé", de propriedade de Waldemar J. Deus.

Abriu-se uma concorrência para a exploração do bar do Chynema Jandyra, tendo concorrido Fadur Banduk, Mariano e Pires e Bernardo santa Clara, que venceu com a melhor proposta. O primeiro porteiro do cinema foi Emiliano Barsaline.

Em janeiro de 1938, ingressavam 30 novos sócios proprietários do Grêmio.

Em fevereiro de 1938, Arthur Pereira Pinto foi nomeado gerente de cinema, constituindo-se o quadro de operadores: Benedito Maiolino(chefe), José Berti e Pompilio Pedroza(ajudantes).

Benedito Afonso Pereira confeccionava os cartazes, enquanto Fernando Guarinon Zen, assessorado por Américo Antonio Nasser, encarregava-se do departamento de diversões.

Emidio Pereira dos santos, ajudado por Sebastião Sampaio camargo, cuidava do departamento de esportes.

Firmado o contrato de arrendamento por 5 anos, a partir de 1º de janeiro de 1938, com o proprietário do Chynema Jandira, procede-se a inúmeras reformas e benfeitorias.

Logo a 02 de janeiro o Grêmio exibia o primeiro filme para a plateia jordanense.

Das reformas cuidaram Floriano Rodrigues Pinheiro e Augusto Barsalini.

A 23 de janeiro de 1936, o Grêmio levava ao palco o drama "Um êrro juduciário", com artistas jordanenses. Em 1938, foi encenado "O louco da aldeia".

O Grêmio, para o início de suas atividades, foi obrigado a contrair empréstimos em dinheiro de Fabiano Pasquarelli e de João Rodrigues da Silva, o "Maquinista".

Era Benedito faria quem distribuía em Vila capivari os programas do Chynema Jandyra, e Arthur Ramozzi, em 1939, assumiu os serviços contábeis. Nesse ano a diretoria da entidade foi reformulada.

O carnaval de 1939, realizado no Chynema Jandyra, foi realizado com grande sucesso, e em maio, Joaquim Corrêa Cintra era nomeado gerente e o encarregado da bilheteria.

A partir de 1940, o Grêmio passou a pagar aluguel a Bady Salim, que adquirira o imóvel de Waldemar J. Deus, e em 1941, Américo Richieri assumia a presidência do Grêmio. O último espetáculo teatral foi levado à cena em 25 de dezembro de 1939.

O Cine Jandyra foi palco de grandiosos espetáculos cinematográficos, teatrais e dos mais animados bailes carnavalescos nas décadas de 1920 a 1940. Seu salão foi, durante muitos anos, habilmente decorado com motivos carnavalescos, feitos com arte por Joaquim Corrêa Cintra que, algumas vezes, para viabilizar a decoração do Salão, era auxiliado pelo artista plástico, Carlos Barreto . Normalmente, essa decoração era dedicada a homenagear Pierrot e Colombina. Esse cinema estava situado no mesmo local do prédio onde há alguns anos estiveram sediados o Posto Fiscal do Estado, a coletoria Estadual, a Caixa Econômica Federal e a Agência do I.N.S.S. Ao lado desse prédio, estava sediada a antiga Agência do Banco Mercantil de São Paulo.

Em setembro de 1941 ocorreu um grave incidente: a Chefia de polícia do estado e o Departamento de Imprensa e propaganda (DIP) passaram a exigir, para a concessão de alvará de funcionamento, o registro do contrato social do Grêmio na Junta Comercial do Estado. Foi impossível atender-se à exigência, dado que a maioria dos sócios do Grêmio Recreativo e Artístico Jordanense, residiam, à época, em cidades distantes de Campos do Jordão; Américo Richieri propôs, então,  que as instalações do Grêmio fossem arrendadas a um sócio proprietário, o que, porém, não foi aprovado.

Não restou ao presidente outra solução senão a de propor a extinção do Grêmio em Assembleia Geral, realizada em 13 de setembro de 1941.

Era o fim de uma época de recreação, arte e entretenimento, que encantou centenas de jordanenses, desenvolvendo o espírito de comunidade e cooperação.

Foram empresários do Chynema Jandyra: Waldemar J. Deus(1931); Nestor B. Brito(1932); Souza carvalho e Cia(1933) e Pedro Paulo e Cia(1935).

História do Cine Glória:

O Cine Glória surgiu para substituir o antigo Cine Jandira.

Extinto o Grêmio Recreativo e Artístico Jordanense, um punhado de cidadãos, em 13 de setembro de 1941, reuniu-se no Chynema Jandyra, para fundar uma sociedade comercial visando a exploração de um cinema e outros divertimentos. Eram os sócios remanescentes do Grêmio, aos quais se juntou Joaquim Corrêa Cintra.

De fato, em em 28 de setembro de 1941 era fundada a Empresa "Campos do Jordão Cine Ltda.", à qual se associaram também outros membros.

O contrato social foi redigido por Enzo Júlio trípoli, então delegado de polícia. Com o capital de 25 contos de réis, a empresa absorveu o ativo e o passivo do Grêmio extinto.

A primeira diretoria do Campos do Jordão Cine Ltda, ficou assim constituída: Américo Richieri(presidente);Floriano Rodrigues Pinheiro(vice);Lourival Sabino de Carvalho e Souza(1º secretário);João Rodrigues Pinheiro(2º secretário); Arthur Ramozzi(1º tesoureiro) e Alaor de Souza Ablas(2º tesoureiro).

Em 08 março de 1942, reuniu-se a sociedade para deliberar sobre a compra de um terreno a fim de edificar um novo cinema. Uma comissão constituída por Lourival francisco dos santos, Aristides de Souza Mello, Luiz de Mello Mattos, Paschoal Olivetti e pedro joão Abitante, foi nomeada para a escolha e avaliação de jm terreno. Bady Salim propôs à sociedade a venda do prédio do Cinema Jandyra, do qual era proprietário, juntamente com madame Desiré Pasquier. Opôs-se à ideia, Nelson Gonçalves Barbosa, e a sociedade acabou optando pela compra de um terreno de 2.470m2, ao lado da Prefeitura. 

Em abril de 1942, subscreviam quotas da sociedade, Lourival Francisco dos Santos, Joaquim Pinto Seabra, Pedro Paulo, Horácio Padovan, José Carvalho Jr., Luiz José de Carvalho e Mello Mattos, Rubens R. Pinheiro, Antonio Jorge Marques, Délio Rangel Pestana e Olavo Martins Parreira. Outra comissão fora nomeada para a elaboração do projeto de construção do novo cinema: Alexandre Mac Kerrow, Luiz Villares, Luiz de Mello Matos, Américo Richieri e Floriano Pinheiro, tendo o prefeito  Lourival Francisco dos santos se comprometido a abrir uma estrada em frente ao terreno.

No dia 22 de agosto de 1942, o engenheiro civil Luiz José de Carvalho e Mello Mattos pede autorização para a construção de um prédio para cinema em Vila Abernéssia, em terreno de propriedade do Cine Campos do Jordão Ltda.

Em 28 de agosto de 1942, era autorizado o início das obras, que, foram administradas pela Sociedade Construtora de Campos do Jordão, empresa de construção civil, montada em 25 de março de 1942, e constituída por Alexandre Mac Kerrow, Floriano Pinheiro, Alfredo Barros do Amaral, Alberto Veiga Filho e Luiz José de Carvalho e Mello Mattos. A empresa, para a construção do prédio do novo cinema, valeu-se de empréstimos do Banco de Itajubá e do Dr. Lincoln Ferreira Faria . No dia 30 de outubro de 1942, a Secretaria dos Negócios e Saúde Pública – Departamento de Saúde do Estado, encaminha ao Senhor Prefeito Sanitário de Campos do Jordão, Dr. Lourival Francisco dos Santos, as referidas plantas aprovadas em São Paulo, pela engenharia sanitária do Departamento de Saúde, assinada pelo Dr. Lincoln F. Faria

No dia 01 de dezembro de 1942, atendendo ao pedido do engenheiro Luiz José de Carvalho e Mello Mattos, a prefeitura sanitária de Campos do Jordão concede o Alvará de Licença para a construção do cinema. A construção foi erguida em 1942, pelo Sr. Floriano Rodrigues Pinheiro. Trabalhou como empreiteiro de obras no novo cinema, Francisco Bento Filho.

 Em 1943, Campos do Jordão Cine Ltda. era transformada em sociedade anônima com base em um estudo encomendado ao dr. Luiz Nazareno de Assumpção. Devidamente instalado, o prédio passou a chamar-se “Cine Glória”, local de apresentação de filmes, peças teatrais, festivais de músicas, e frequentado pelas famílias jordanenses e cidades vizinhas. Concluído o prédio, Joaquim Correa Cintra continuou a desempenhar as funções de gerente.

Conta-se que houve uma eleição para a escolha do nome da nova casa de espetáculos. Arthur Ramozzi apresentou a sua sugestão, Cine Glória e Joaquim Corrêa Cintra, Cine Vitória. Posta em votação, ganhou a primeira proposta

Anos mais tarde, o acervo da empresa “Campos do Jordão Cine Ltda.” foi transferido à Cia. de Cinemas do Vale do Paraíba que manteve o Cine Glória aberto até agosto de 1981, tendo sido seus últimos gerentes Romeu Godoy, Sebastião Cintra, J. Pinheiro Silva e Roberto Felix da Silva.

A Companhia de Cinemas do Vale do Paraíba vem instalar, no Cine Glória local, o Cinemascope, uma das mais recentes e revolucionárias conquistas técnicas da Sétima Arte. Foi inaugurado em agosto de 1955, com o filme “O Príncipe Valente”. Um magnífico espetáculo até possível somente nas grandes casas da capital ou em outra cidade adiantada. O aparelhamento que a Cia. empregou foi o mais moderno possível, a começar da magnífica tela de nylon de 11 X 4 mts.

Também passou por completa reforma todo o sistema de cortinas e a projeção foi consideravelmente melhorada com a instalação do mais moderno tipo de lanternas e um poderoso dínamo para corrente contínua.

O prédio foi pintado totalmente, bem como substituído o modo obsoleto de fazer propaganda; modernos letreiros desmontáveis substituíram os antigos cartazes feitos à tinta-cola.

Em 1983, o sr. Prefeito de Campos do Jordão, João Paulo Ismael, com o Decreto nº 1.145/83 de 17 de março de 1983, dispõe sobre declaração de utilidade Pública o imóvel denominado “Cine Glória”, situado na av. Januário Miráglia, 1582, que destinará a abrigar o Centro Cultural, Artístico e Recreativo de Campos do Jordão

O edifício do Cine Glória foi desapropriado em 1984 pelo prefeito João Paulo Ismael e transformado em 27 de novembro de 1985 no Espaço Cultural “Dr. Além ”. O valor indenizatório pago à Companhia de Cinema do Vale do Paraíba, foi de CR$ 156 milhões de cruzeiros (parcelados).

Toda a ação de desapropriação teve encerramento no dia 21 de agosto de 1987, passando definitivo à prefeitura de Campos do Jordão, o imóvel, com a área de 2470 m2 e com uma área construída de 620 m2.

História do Cineclube Araucária

Em 26 de março de 2011 foi fundado o Cineclube Araucária, idealizado por Cervantes Sobrinho e Paulo Gomes, com apoio das proprietárias do Sabor da Província, Flávia Helena Junqueira de Andrade e Márcia Santos. O Cineclube Araucária é obra de um grupo de amigos que se reuniu em 2011 e começou a promover exibições de filmes premiados e cultuados pela crítica.

Em 11 de outubro de 2013 foi inaugurada a sala “Dynéas Aguiar” no espaço Cultural Dr. Além.

Em 16 de abril de 2015, foi inaugurada a Biblioteca de Cinema de Campos do Jordão. Junto aos projetores do antigo Cine Glória, uma sala acolhedora abrigou um bem guardado tesouro de Campos do Jordão, a Biblioteca de Cinema. O acervo, disponível, são filmes de todos os gêneros e épocas, para todos os perfis de cinéfilos.

Cervantes Souto Sobrinho , foi idealizador do projeto e o empreendedor por excelência de atividades ligadas ao cinema em Campos do Jordão. O acervo de base da Biblioteca de Cinema foi formado a partir da biblioteca pessoal de Cervantes.

A esta coleção inicial foi acrescentada inúmeras obras e títulos com doações pessoais e de instituições. Hoje são mais de 500 publicações, 80% delas sobre cinema. Os demais livros são basicamente romances que viraram filmes. Há também uma videoteca à disposição do público. E, ainda, o público pode ser estimulado o tempo todo por cartazes de filmes e fotos de astros e estrelas do cinema, banhados pela luminosidade suave da montanha

O antigo Cine Glória ganhou poltronas novas. Pode-se acomodar para ler os preciosos e curiosos livros da coleção, sentados em emblemáticas e confortáveis poltronas que evocam o estilo art-deco , que estava em voga entre os anos 20 e 40 do século XX, época de ouro do cinema.

O antigo mezanino, uma área Vip conhecida como “Pulmann” nos tempos áureos do cinema, foi decorada com pôsteres de filmes clássicos e cults e que disponibiliza centenas de obras sobre a Sétima Arte, bem como romances que inspiraram filmes célebres.

No segundo andar do cinema foi inaugurado o Memorial Cine Glória, que recebeu uma nova tela de projeção, com tecnologias, como o dvd e o blu-ray, e projetores modernos, bem mais baratos que os tradicionais projetores de rolo.

Também compõe o Memorial Cine Glória, o museu com projetores antigos, bombonieres restauradas, ou seja, o balcão onde eram vendidos balas e doces para quem ia assistir aos filmes; máquinas registradoras dos caixas, que emitiam o borderô – o movimento de público da sessão, - máquinas de cortar filmes, entre outros equipamentos que contam a história do cinema de Campos do Jordão.

O nome “Complexo Cultural Edmundo Ferreira da Rocha ” foi uma iniciativa do Cineclube Araucária, com apoio da Secretaria Municipal de Cultura, e faz uma homenagem justa a um dos mais atuantes pesquisadores e estudiosos da história e do registro fotográfico de Campos do Jordão

No Memorial é possível conhecer os projetores originais do antigo cinema que foi inaugurado em 1943, e ver ao seu lado os grandes carretéis que emendavam um filme inteiro e permitiam sua projeção sem interrupções ou falhas. A iniciativa do Cineclube também deu origem à Oficina de Cinema, um projeto de formação audiovisual. Assim o cinema retornou ao cotidiano de Campos do Jordão. E o antigo Cine Glória voltou a fazer jus ao seu nome original.

Desde 2011 a obra de mestres como Orson Welles, Glauber Rocha, Eduardo Coutinho, Alfred Hitchcock, Pedro Almodóvar, Tim Burton, Quentin Tarantino, Stanley Kubrick, e de dezenas de outros grandes diretores, voltaram a brilhar no escurinho do Cine Glória, que também passou a receber a itinerância da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

No dia 16 de abril, com o apoio do ProAC e em parceria com a Secretaria Municipal de Cultura, a Associação dos Amigos de Campos do Jordão -AMECampos, a Oficina de Artes Rosina Pagan, a Escola Estadual de Vila Albertina e o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia - Campus Campos do Jordão, o Cineclube Araucária inaugurou, no primeiro andar o Espaço Cultural Dr. Além a primeira Biblioteca especializada em Cinema de Campos do Jordão. Na ocasião, no mesmo local, foi aberto ao público o Memorial Cine Glória.

A partir desses inúmeros enfoques e sem explorar a relação cinema e história, hoje já bastante conhecida e utilizada pelos especialistas, procuro deixar aqui uma reflexão preliminar sobre a história do cinema jordanense. É apenas um esboço e um chamado à reflexão. É também a constatação de que a história do cinema é, hoje, não só fonte de conhecimento da disciplina histórica, mas também, felizmente, seu alvo.

Portanto, com o intuito de entender essa biografia histórico-cultural do edifício dos antigos cinemas, Cine Jandira e Cine Glória, questiono-me sobre o que ocorre quando seu uso chega ao fim. O que acontece quando algo que representava o novo e o moderno se esfacela e se torna antiquado e representativo de outra era?

A biografia desse patrimônio, legitimamente tombado, exposta até aqui, permite entender os sistemas de construção de valores que o qualifica e que são imprescindíveis para seu entendimento.

Tais valores foram ressignificados e criaram caminhos permeados por fases que se adicionaram à biografia deste bem cultural patrimonializado.

Fontes:

GONÇALVES, Ricardo M. S. Biblioteca de Cinema e Memorial Cine Glória em Campos do Jordão. 2015. Disponível em: <http://www.guiacampos.com/arquivo-de-noticias/inaugurada-biblioteca-de-cinema-e-memorial-cine-gloria-em-campos-do-jordao/778>. Acesso em: 16 fev. 2018.

GONÇALVES, Ricardo M. S. O cinema em Campos do Jordão. 2015. Disponível em: <http://www.guiacampos.com/arquivo-de-noticias/cineclube-araucaria-fez-brilhar-o-cinema-em-campos-do-jordao-no-ano-de-2015/3609>. Acesso em: 16 fev. 2018.

Jornal “A Cidade de Campos do Jordão, Ano I e II, nº 26/102/103 de 11/18 de fevereiro de 1951

Edmundo Ferreira da Rocha (http://www.camposdojordaocultura.com.br/)

LINO, Maurício de Souza. Da Freguezia do Imbery aos Campos do Jordão. Campos do Jordão: Clube de Autores, 2017. 414 p.

 

                            Colônia de Férias da Força Pública


No dia 22 de maio de 1949, esteve na cidade de Campos do Jordão uma brilhante caravana de oficiais da Força Pública, com o fim especial de estudarem a possibilidade da fundação nesta estância, de uma colônia de férias para oficiais e praças e suas respectivas famílias, em terreno doado pelo Estado nas proximidades do Hotel dos Lagos.

Fizeram parte da caravana, os seguintes oficiais: Cel Odilon Aquino de Oliveira, Chefe do Estado Maior da Força Pública e Presidente do Clube Militar; Cel Aníbal de Andrade, Diretor geral de Instrução do Exército; Cap. Germano Scartezzini; 1º Tem. Carlos D. G. Ambrogio; 1º Tem. Paulo Afonso Fonseca Pires, todos integrantes da Diretoria do Clube Militar e o 1º Tem. Vasco Mil Homens do Q. G. da Força Pública.

Os ilustres visitantes em companhia dos srs. Paulo Bockmann, Diretor da Fazenda da Guarda; Paulo Cury, Presidente da Câmara Municipal; André Vicente Cazzaniga, gerente do Banco de Itajubá, percorreram todos os pontos importantes e pitorescos de Campos do Jordão, não escondendo o seu entusiasmo pelo que lhes foi dado ver e observar. Na sua visita à Fazenda do Estado, teceram os mais lisonjeiros comentários ao trabalho, tenacidade e a firmeza da administração do Diretor daquele próprio estadual

O casal Paulo Bockmann, com sua proverbial gentileza, ofereceu à oficialidade um “drink” em sua residência, usando da palavra nessa ocasião, o sr. Paulo Cury que em brilhante improviso saudou em nome da municipalidade os ilustres visitantes, tendo, o Cel Odilon Aquino de Oliveira, agradecido a homenagem, em termos de grande cordialidade

Às 13 horas foi realizado no Hotel Refúgio Alpino, um almoço com que a municipalidade brindou os visitantes. A certa altura do ágape, o Cel. Aníbal de Andrade discorreu em prosa viva e interessante sobre o valor do soldado brasileiro no campo de batalha, ilustrada com a narração de empolgantes episódios da última guerra.

Vários outros assuntos foram ventilados e todos os membros da caravana mostraram-se maravilhados com a beleza e desenvolvimento desta estância e entusiasmados, prometeram fundar o mais breve possível, a Colônia de Férias.

Em 1º de junho de 1949 foi definitivamente resolvida a questão do terreno para a construção da Colônia de Férias para Oficiais e Praças da Força Pública do Estado
As últimas arestas foram aparadas na capital bandeirante pelo prefeito dr. Orestes de Almeida Guimarães, que recebeu do presidente da Cia Brasileira de Colonização, Sylvio Jaguaribe Ekman, a seguinte carta:

“S. Paulo, 1º de junho de 1949.
Exmo. Sr. Dr. Orestes de Almeida Guimarães
M. D. Prefeito Sanitário de Campos do Jordão.

Cordiais saudações:

De acordo com o nosso entendimento verbal declaro em nome da Cia. Brasileira de Colonização e, na qualidade de seu representante, estar de acordo com o cancelamento da cláusula que dá destinação certa – construção de um matadouro – ao terreno doado pela Cia. Brasileira de Colonização a Fazenda do estado, em Campos do Jordão, Alto do Taquaral, medindo 10 alqueires de 24.200m2, conforme escritura lavrado no 11º Tabelião L. 633, fls. 23 v. em 26.03.1940, para o fim de ser o mesmo cedido ou doado à Força Pública do Estado ou Clube Militar dessa Corporação, para o estabelecimento de uma colônia de férias para pessoas sãs, para o que a Companhia dá o seu expresso ‘consentimento, concordando em assinar escritura pública nesse sentido e com a expedição de decreto governamental cedendo ou doando à Força Pública ou Clube Militar, o referido imóvel, para o fim expresso, não podendo ter outra utilização.

Para todos os efeitos fica ainda estipulado que a Cessionária ou Donatária obriga-se por si ou por seus sucessores a manter os caminhos públicos já existentes mencionados na referida escritura e representados nas plantas nº 1 e 2 que fazem parte integrante da mesma:

“Que vão da Vila Jaguaribe a Campista e Água Santa e que ligam o Alto da Raia, Pico do Imbiry e Alto da pedra do Fogo”, ou o traçado retificado dos referidos caminhos transformados em estradas com uma faixa de servidão pública com um mínimo de 12 (doze) metros de largura.

Sem mais, subscrevo-me atenciosamente.
COMPANHIA BRASILEIRA DE COLONIZAÇÃO.

a) Sylvio Jaguaribe Ekman
Presidente.

Às 12,30 horas do dia 11 de fevereiro de 1951, aconteceu a solenidade inaugural do primeiro núcleo residencial da Colônia de Férias que o Clube Militar da Força Pública, sob a presidência do Cel. Odilon Aquino de Oliveira.

A cerimônia contou com a presença do dr. Elpídio Reale, Secretário da Segurança Pública do Governo do Estado e representante do Governador Lucas Nogueira Garcez; do Cel. Eleutério Brun Ferlich, Comandante geral da Força Pública; do Cel. Odilon Aquino de Oliveira, presidente do Clube Militar, oficiais e seus familiares, além das autoridades locais e convidados, teve lugar a inauguração do 1º grupo de 10 residências que fazem parte da Colônia de Férias que o Clube Militar da Força Pública do Estado de São Paulo estava construindo na estância, nas proximidades do Hotel dos Lagos.

Foi evidente o contentamento geral de oficiais e praças, bem como de seus familiares que se encontravam no local. É que a realização da Colônia de Férias veio ao encontro de uma antiga aspiração dos membros da Força Pública, os quais, doravante, encontrariam ali, no recôncavo destas montanhas, um lugar aprazível, saudável, ideal mesmo, para uma merecida vilegiatura.

O Cel. Odilon Aquino de Oliveira, Presidente do Clube Militar, abriu a cerimônia inaugural, falando com brilhante improviso, enaltecendo a colaboração decisiva do sr. Adhemar de Barros para a concretização daquele objetivo.

Agradeceu também o apoio do Comandante Geral da Força Pública, Cel. Eleutério Brun Ferlich, bem como a todos os oficiais, praças e operários, à cuja dedicação, disciplina e amor ao trabalho, deveu-se em grande parte o sucesso do cometimento.

O Cel. Odilon Aquino de Oliveira, terminou sua oração, fazendo carinhosa referência ao Ten. Yolando Prado.

Secundou-o na palavra, o Comandante Geral da Força Pública, congratulando-se, em nome da mesma, com o Cel. Odilon Aquino de Oliveira, a quem se devia, segundo suas palavras, todo o êxito da Colônia de Férias.

Finalmente, falou o Secretário da Segurança Pública, dr. Elpídio Reale, congratulando-se pela realização da obra e declarando inaugurada, em nome do Governo do Estado, a Colônia de Férias do Clube Militar da Força Pública do Estado de São Paulo.

Após o ato cívico, as autoridades e todos os presentes percorreram o grupo de casas construídas, visitando-as e verificando as suas instalações que atendem – dentro de um ambiente rústico, todas as exigências de conforto.

Seguiu-se depois um suculento churrasco, servido fartamente à todos os presentes, sob o som de deliciosas músicas executadas por um conjunto de jazz da Força Pública.

Era de ver-se o contentamento estampado no semblante de todos os presentes. No regaço amigo da Mantiqueira, nestes campos do Jordão, confraternizaram-se com os oficiais e suas famílias, autoridades e convidados, comemorando mais uma etapa decisiva para o imprevisível progresso da estância que se projetou cada vez mais no cenário da comunidade brasileira.

O prefeito sr. Paulo Cury, representou, no ato, o sr. Adhemar de Barros, o sr. Loureiro Jr, secretário da Justiça e o sr. José Barone Mercadante.

Fontes:
Jornal “A Cidade de Campos do Jordão, Ano I e II, nº 26/102/103 de 11/18 de fevereiro de 1951.


A Capela da Saúde


Incrustada no sopé do Morro das Bandeiras, em cujo dorso, Ignácio Caetano, em nome de S. Majestade Fidelíssima, Rei do Portugal e do Algarve, desfraldara as Bandeiras de posse de sua Sesmaria, a Vila São Matheus do Imbiri ia crescendo aos olhos dos tuberculosos, como uma fonte perene de saúde... Uma bênção de Deus!

E lá estava, emoldurada pelas densas matas e pinheirais seculares que ensombravam o Vale do Imbiri, branca como a pureza e humilde como a crença, a capela edificada, às expensas do capitão do mato Matheus da Costa Pinto, pelo engenheiro Diogo Granja de Mendonça que dava ao povoado o aspecto de um presépio, realçado, ainda mais, por uma “mangueira” que lhe ficava próxima e o gado que pastava, solto ao redor.

Ao domingos e dias santos, a pitoresca vilazinha se engalanava toda com as vestes de festas dos seus moradores e ganhava um pouco mais de movimentação, com a presença de pessoas de todas as partes dos “Campos” notadamente do Hotel do Salto, de propriedade de Nicolau Aredes Tavares, pai do proeminente político Dr. Mário Tavares que aqui passou sua infância. Demandavam todos à capela, em cujo terreiro, após a missa, ficavam reunidos, confraternizados num mesmo sentimento de fé e de esperança, em melhores dias.

A capela fundada em 02 de fevereiro de 1879, sob a invocação de N.S. da Conceição, constava apenas de um nicho onde ficava um quadro de S. Matheus. Em 1883, dr. Salvador Miranda doou-lhe três sinos, ficando eles pendurados em uma espécie de estaleiro, erguido do lado de fora. Em 1885 o nicho foi substituído por um altar, quando, então, foi construído o coro.

Já então o misticismo dos enfermos havia batizado o templo com o nome de capela da Saúde!

No dia em que a venerável imagem também adquirida no Rio de janeiro, como fora o altar, aqui chegou numa charola armada num carro de bois, foi um Deus nos acuda!

A foguetaria estrugia incessantemente, abafando a bandinha de pífaros que viera de São Bento. As mulheres, faceiramente vestidas com saias de roda e corpetes coleantes, apinhavam-se no caminho que conduzia à casa da saúde, onde a santa se hospedara, enchendo tudo de belezas e risos, contrastando, sobremodo, com o ar casmurro e importante dos homens espremidos em suas calças de funil, casacos e coletes alinhavados ao corpo. João Maquinista, que então era gerente da Casa da Saúde, por certo, longe mesmo estava a imaginar que uma meninota de tranças que ali também se achava, iria tornar-se a Sinhá do Maquinista.

Se a recepção da padroeira dos “Campos” fora imponente, sua entronização foi deslumbrante!

O dia 19 de março de 1885, apesar de garoento e frio, despontara festivo. Era uma festa íntima, capaz de transformar a aridez de um deserto num oásis em flor... O milagre da fé!

Logo cedo, o caminho que levava ao Imbiri encontrava-se apinhado de fieis. O chão apresentava-se atapetado de flores e, em toda a extensão, haviam sido armados arcos de ramos, aumentando, assim, a imponência da procissão de transladação da santa, tendo à frente Monsenhor Joaquim Antonio Siqueira, vigário de São Bento. Celebrada a missa solene, com comunhão geral, foram iniciadas outras festividades, que culminaram com uma garbosa e reluzente cavalhada.

Mas, o tempo, o implacável, o inexorável tempo, levou tudo para o mundo silencioso das evocações, deixando, apenas, uma tristeza vaga... indefinida... no coração dos que me narraram esta reminiscência...

O tempo passou. Pôs abaixo a capela de N. S. da Conceição e, no esquecimento, os nomes dos que a construíram. Modificou a paisagem bucólica da Vila de São Matheus do Imbiri, tornando-a Vila Jaguaribe.

Mas, o tempo também trouxe, no seu bojo incomensurável, as maravilhas do progresso, retratadas no moderno templo de concreto que está sendo construído no mesmo lugar, onde as paredes de taipa da Capela da Saúde fez florescer este altar de solidariedade humana, que é Campos do Jordão. Campos do Jordão, 17 de julho de 1948.

Fontes:

ANDRADE, Condelac Chaves de. A Capela da Saúde: Esboço histórico. A Cidade de Campos do Jordão. Campos do Jordão, 31 jul. 1949. p. 3-5.



O Palácio dos Ventos Uivantes


Excelentíssimo Professor Carlos Alberto A. de Carvalho Pinto, Digníssimo Governador do Estado de São Paulo:

A comissão do Palácio Boa Vista, nomeada pela Câmara Municipal para estudar os meios de aproveitamento do Palácio Boa Vista, e oferecer sugestões ao Governo do Estado tendentes ao seu aproveitamento, neste ato representada por todas as autoridades, associações e órgãos municipais, a saber: Prefeito Municipal, Presidente da Câmara Municipal, Presidente da Associação Rural, Presidente da Associação Médica, Presidente da Associação Comercial, Presidente do Departamento Municipal de Turismo, Presidente da Sociedade de Educação e Assistência, Presidente do Rotary Clube, Presidente do Lyons Clube, Presidente do Sindicato dos Empregados no Comércio Hoteleiro e Similares, Presidente do Sindicato dos Empregados na Construção Civil e Imobiliário, Presidente do Sindicato Patronal dos Hoteleiros, Diretor da Rádio Emissora de Campos do Jordão, e Redator do Jornal “A Cidade de Campos do Jordão”, todos abaixo-assinados, vem respeitosamente perante Vossa Excelência ponderar que:

1) O Palácio Boa Vista é um edifício de propriedade do Governo do Estado de São Paulo, tendo sido iniciada as suas obras em 1941 sem que até o presente momento elas estejam concluídas;

2) O referido edifício foi projetado e construído na sua arquitetura e dependências especialmente para ser Palácio de Verão do Governo do Estado;

3) Situa-se ele a apenas 2 quilômetros do centro da cidade, tendo sido edificado em um parque de 7 alqueires, e composto de 78 compartimentos, 18 gabinetes sanitários, 3 torres com salões, 3 salas no subsolo, e casa de máquinas para aquecimento central;

4) Há 21 anos permanece o referido prédio de linhas arrojadas e estilo palaciano ao desgaste do tempo e das intempéries, sem que qualquer governo procurasse dar-lhe uma finalidade construtiva;

5) O volume de capital nele investido transformado hoje em cruzeiros, representaria uma soma imensa de bilhões de cruzeiros, numerário público esse que até hoje não pode converter-se em benefício público;

6) Constitui-se o Palácio Boa Vista em motivo inesgotável de explorações políticas de toda ordem, tendo já adquirido pelo seu abandono, a significativa denominação de “Palácio dos Ventos Uivantes”;

7) Situa-se ele dentro dos limites geográficos do município, tendo se transformado, na ausência de outra finalidade, em simples recanto de atração turística municipal;

8) É público e notório que o governo de Vossa Excelência sempre se concentrou com elevado interesse e apego na resolução dos graves problemas estaduais, até então considerados insolúveis;

9) Campos do Jordão tem justificado interesse não só no imediato aproveitamento do Palácio Boa Vista, mas antes e sobretudo, na destinação a ser dada pelo governo do estado, em virtude de que, conforme seja ela, incalculáveis benefícios ou irremediáveis prejuízos serão carreados ao município;

A Comissão do Palácio Boa Vista, deliberou apresentar ao clarividente espírito público de Vossa Excelência, o presente relatório, contendo um plano de prioridade, as sugestões que Campos do Jordão reputa as mais satisfatórias e benéficas ao progresso e prosperidade de sua população, e que são as seguintes:

PRIMEIRA SUGESTÃO: PALÁCIO DE VERÃO DO GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO.

SEGUNDA SUGESTÃO: UNIVERSIDADE DE MÚSICA, OU QUALQUER OUTRA FINALIDADE DE CARÁTER CULTURAL, SOCIAL OU CIENTÍFICO.

TERCEIRA SUGESTÃO: FACULDADE DE MEDICINA.



1. PALÁCIO DE VERÃO DO GOVERNO DO ESTADO

Como é do conhecimento de Vossa Excelência, o Palácio Boa Vista foi construído em 1941, para servir de residência de verão do Governo do Estado de São Paulo.

Medida que, já naquela época se impunha como imperativo da própria dinâmica da administração pública, a qual, na sua extrema complexidade e acúmulo de funções, muito naturalmente se fazia sentir na própria pessoa física do governador, não poucas vezes merecedor de repouso não só no benefício de sua pessoa, como antes e sobretudo no da administração pública.

Não foi por outra razão naturalmente, que o Palácio do Rio Negro, situado em Petrópolis, vem servindo tradicionalmente como residência de verão de todos os ocupantes da Presidência da República.

Se já naquela época esses fatos já se faziam sentir, muito naturalmente hoje, em que o espírito dinâmico de Vossa Excelência repercutiu em todos os setores da vida administrativa de São Paulo, o desgaste físico, o número incalculável de funções e serviços, a estafa mental, tão prejudicial ao organismo e ao bom desenvolvimento dos serviços públicos, aumentaram proporcionalmente, não só em função dos anos passados, assim como pela própria dinamização imprimida por Vossa Excelência em todo o estado de São Paulo.

É relevante ressaltar que, o edifício do Palácio Boa Vista foi projetado especialmente para servir à destinação supracitada, não só na sua arquitetura, como também na disposição das suas dependências, todas elas já completamente delineadas, uma vez que o prédio em fase de acabamento, não suportará outras modificações supervenientes sem prejuízo para a sua própria estrutura e funcionalidade, sem se mencionar o considerável numerário público a ser dispendido, se porventura vier ele ser objeto de adaptações.

É compreensível a grande luta que Campos do Jordão tem desenvolvido durante o decorrer de todas as administrações, dado que a instalação do mencionado Palácio de verão do Governo Paulista, consubstanciando-se no ardente desejo do povo jordanense, carrearia uma formicidade nacional, capaz de dar ao seu turismo – fonte de renda de seu povo – o sopro alentador de progresso e bonança.

O povo de Campos do Jordão, na sua esmagadora maioria, representado neste ato por todas as suas autoridades e entidades de classe, dirige um veemente apelo à Vossa Excelência, na certeza de que o espírito que norteia o governo de austeridade no trato de coisa pública, há de determinar incontinentemente, a imediata conclusão das obras do Palácio Boa Vista, para servir de Palácio de Verão da administração de São Paulo, solução alta e equidistante dos interesses políticos, interessados em perturbar o progresso de Campos do Jordão, e a decisão serena e acertada de Vossa Excelência.

2. UNIVERSIDADE DE MÚSICA

O maestro Eleazar de Carvalho tem promovido de um certo tempo a esta parte gestões com o governo de Vossa Excelência no sentido do aproveitamento do Palácio Boa Vista como uma Universidade de Música, obra singular na América Latina.

Logo que foi dado conhecimento da ideia ao sr. Chefe do Executivo Municipal, dr. José Antonio Padovan, e ao povo de campos do Jordão, houve um regozijo geral, por parte das camadas culturais da população jordanense que viram e deslumbraram na iniciativa pioneira uma feliz oportunidade de tornar o município, alvo das atenções artísticas e culturais do país.

No entanto, parece que a ideia não germinou, dado que paralisaram as gestões que vinham sendo desenvolvidas neste sentido, sem embargo da imediata aceitação e unânime apoio dado pelos poderes públicos municipais, que anteviram na ideia oportuna, pelo menos uma solução para problema tão grave e tão antigo.

Compreenderá, Vossa Excelência, que, não vingando, por motivos imperiosos a instalação de uma Universidade de Música no edifício do Palácio Boa Vista, uma outra destinação há de ser-lhe dada, atendendo-se às possibilidades governamentais, mas de qualquer forma, uma destinação de caráter cultural, social ou científico, que corresponda a grande inversão de capital, as majestosas dependências do edifício, e, principalmente aos superiores interesses da coletividade de Campos do Jordão.

Evidentemente a segunda sugestão, tendo, como realmente tem, um sentido supletivo e substitutivo, é submetido à apreciação de Vossa Excelência, na absoluta e total impossibilidade de ser instalado no Palácio Boa Vista a destinação para a qual ele foi construído, qual seja, Palácio de Verão do Governo do Estado de São Paulo.

3. FACULDADE DE MEDICINA

A terceira sugestão que a Comissão do Palácio Boa Vista oferece ao criterioso estudo de Vossa Excelência, é o de aproveitamento para uma Faculdade de Medicina.

Nada mais justo, se atentar a inúmeras circunstâncias que reforçam sobremodo a sugestão, criando um clima propício e absolutamente exequível para a instalação dessa espécie de estabelecimento de grau superior.

O próprio clima e a elevada altitude do município em última análise, constituem-se fator de grande valia onde poderão desenvolver-se com tranquilidade e eficiência estudos científicos, distante do burburinho e da agitação das grandes metrópoles.

As amplas e espaçosas instalações do Palácio Boa Vista, poderão receber funcionalmente todo o equipamento necessário e sofrer possíveis adaptações nesse sentido, sem grande dispêndio de numerário.

Condições outras facilitariam a medida, tais como o vasto campo de estudo e pesquisa, sendo Campos do Jordão, como de fato é, cidade de tratamento da tuberculose, e, colocando à disposição de uma Faculdade de medicina, não somente um hospital, mas uma série deles, onde poder-se-iam desenvolver regularmente o aprendizado e o estudo da medicina.

CONCLUSÃO

A Comissão do palácio Boa Vista entendeu ter prestado dessa forma uma colaboração ao Governo de Vossa Excelência, oferecendo sugestões, as quais, se estão colocadas em uma escala de prioridade, o foram atendendo-se aos interesses do município, cujo progresso está modulamente ligado à decisão a ser tomada nesse sentido, e, mais ainda do que isto, à perfeita exequibilidade das reivindicações oferecidas.

A Comissão do Palácio Boa Vista nasceu do inconformismo da população, ante a paralisação porque sofreu a construção do edifício, e à ausência de uma determinação governamental que viesse definitivamente a dar uma finalidade de interesse público do Palácio Boa Vista.

O povo de Campos do Jordão, representado pelas forças vivas que o dirigem e o sustentam, e integrantes da Comissão do Palácio Boa Vista, acreditam piamente que Vossa Excelência, no estudo e na análise das sugestões propostas, há de optar por aquela que mais intrinsecamente tangencia o interesse, a prosperidade e o progresso não só de Campos do Jordão, assim como, do próprio Governo do estado, qual seja, a de destinar-se o edifício em questão para o Palácio de verão do governo paulista, solução que colocará a administração de Vossa Excelência a 1.700 metros de altitude, onde a altura há de dignificar o governo, o clima robustece-lo, e as belezas naturais, a inspirá-lo. 03/04/1961

Assinaturas...

Fontes:

Protocolo nº 165, de 03/04/1961 da Câmara Municipal de Campos do Jordão.



Associação Comercial de Campos do Jordão



A Associação Comercial de Campos do Jordão, já vinha funcionando, regularmente, desde 07 de outubro de 1948, no Auditório da extinta Rádio Emissora.
 
O desenvolvimento notável do comércio em nossa cidade, estava a reclamar a criação de um órgão de classe dessa natureza, para defender os seus altos interesses perante os poderes públicos, sempre que isso viesse a se tornar necessário.
 
Uma associação dessa natureza reuniria em torno de si os representantes das classes produtoras, tornando-se, por via disso, uma força coesa e forte, impondo-se ao prestígio dos governos estaduais e municipais na defesa das classes que representa. A sua ação benéfica e construtora se fez sentir em todos os setores de atividade do município, quer vindo de encontro às mais elevadas aspirações do comércio, da lavoura e indústria, interferindo junto aos poderes públicos sobre qualquer reinvindicação pelos mesmos pleiteada, quer ainda influindo, de certo modo, na administração municipal, pelos assuntos que foram ventilados em seu recinto, pela boca de seus mais autorizados representantes.
 
Filiada à Associação Comercial de São Paulo, teria amplos recursos para prestar inestimáveis serviços aos seus associados. Mas para que possa levar a termo os seus objetivos, foi imprescindível que todos unissem fileiras em torno dela, amparando-a moral e materialmente. Tornou-se assim mais forte e prestigiada e seus fecundos resultados práticos refletem em benefício da própria coletividade.
 
Assim, essa entidade de classe foi inaugurada, oficialmente, no dia 13 de março de 1949, às 15 horas, com sede instalada no Palacete João Rodrigues Pinheiro (Irmão do construtor Floriano Rodrigues Pinheiro).
 
No ato de inauguração, estiveram presentes todos os associados, representantes do comércio e indústria e os diretores da Rádio Emissora e do Jornal “A Cidade de Campos do Jordão”.

O Presidente da entidade, Luiz Alves de Souza, presidiu o ato solene, discorrendo sobre a alta finalidade da associação, que tinha como missão agregar os empresários locais para o fortalecimento e o desenvolvimento do comércio. Fez referência aos serviços por ela já prestados aos seus associados na sua curta gestão, entre eles a redução conseguida para o Imposto de Indústrias e Profissões. Salientou os trabalhos que estavam sendo desenvolvidos para se conseguir a instalação nesta cidade de uma filial do Banco do Estado de São Paulo e ainda, que o Imposto de Renda poderia ser pago ali mesmo, para o que já havia entendimentos com o Coletor Federal de São Bento do Sapucaí.
 
O Diretor do jornal “A Cidade de Campos do Jordão”, Joaquim Corrêa Cintra, congratulou-se pelos brilhantes trabalhos já apresentados pela Diretoria, hipotecando o inteiro apoio da “A Cidade”, para acompanhar de perto o desenvolvimento da agremiação em prol da coletividade. A sua primeira Diretoria ficou assim constituída:
 
Presidente: Luiz Alves de Souza;
1º Vice-Presidente: Sebastião Gomes Leitão;
2º Vice-Presidente: Pedro Paulo
1º Secretário: Orlando Lauretti;
2º Secretário: Alaor de Souza Ablas;
1º Tesoureiro: Salathiel de Oliveira;
2º Tesoureiro: Victor Gonçalves.
 
No decorrer de sua existência, a ACE contou com a colaboração de doze presidentes.
 
Conselho Consultivo:
Júlio Domingues Pereira, Joaquim Corrêa Cintra, Américo Richieri, João Alves Teixeira, Paulo Cury, André Vicente Cazzariga, Nabi Narche, João Barbosa de Carvalho, Aziz Maluf, Bráulio Almeida Ramos Filho, Dr. Osório P. de Oliveira e Domingos Pelegrino.
 
Hoje, a ACE participa de decisões importantes em defesa do empresário local, promove ações de fomento e de capacitação empresarial e é atuante em diversos Conselhos Municipais entre eles COMTUR – Conselho Municipal de Turismo. Além disso, promove ações de interesse do comércio e está sempre atenta a situações que possam causar prejuízos ao comércio local associado. Entre seus serviços e produtos estão as consultas de crédito, treinamentos cursos e palestras, consultoria jurídica e de comunicação, convênio médico e odontológico e parcerias com empresas associadas que oferecem vantagens aos demais associados, informativo impresso mensal com informações de interesse do comércio, entre outros serviços.

Fontes:

CINTRA, Joaquim Corrêa. Associação Comercial de Campos do Jordão: Inauguração. A Cidade de Campos do Jordão. Campos do Jordão, 13 mar. 1949. p. 1 4.                                                                                     


Estrada de Ferro Campos do Jordão


Em 28 de novembro de 1910 o Governo do Estado de São Paulo autorizou a construção da EFCJ, com concessão dos serviços por 60 anos.

A obra foi iniciada em 1912 e, em tempo recorde para a época, foi inaugurada em 15 de novembro de 1914. Nesse mesmo ano, a sociedade concessionária da EFCJ passou a apresentar dificuldades financeiras, em grande parte devido à eclosão da Primeira Guerra Mundial, que dificultou acesso a linhas de crédito para empréstimos e financiamentos. Os acionistas da ferrovia, por essa razão, autorizaram que o Governo do Estado de São Paulo tomasse posse da EFCJ, o que foi efetivado em 1916. 1915 Houve greve dos trabalhadores da EFCJ. Em dezembro, lei autoriza a encampação da estrada pelo governo do estado e esta passa a se chamar Estrada de Ferro Campos do Jordão.

Em 2011, a gestão da Estrada de Ferro Campos do Jordão passa para a Secretaria de Transportes Metropolitanos.

HISTÓRICO DA LINHA: 

A EFCJ foi aberta a partir da estação ferroviária de Pindamonhangaba, na E. F. Central do Brasil, pelos médicos sanitaristas Emílio Ribas e Victor Godinho em 1914, para o transporte de doentes respiratórios para o hospital na então vila de Campos do Jordão. Um ano depois a ferrovia, com problemas financeiros, foi encampada pelo Governo do Estado. Os primeiros trens eram a vapor, substituídos por trens a gasolina em 1916 e pelos elétricos em 1924. A partir de 1972 passou a ser gerida pela Secretaria de Turismo do Estado. Os trens passaram a ser turísticos, embora praticamente diários. O trecho da baixada, até Piracuama, continua a ter trens de subúrbio da cidade de Pindamonhangaba. No trecho da ferrovia que fica na área urbana de Campos do Jordão, bondes elétricos fazem também o percurso.

A ESTAÇÃO: 

Quando doou um terreno para a construção de uma Estação da Estrada de Ferro Campos do Jordão, Robert John Reid sugeriu que fosse denominada Abernéssia, mesmo nome de sua Chácara (antigo Conventinho da atual Vila Britânia).

Esta estação foi construída no que foi a primitiva área urbana da cidade de Campos do Jordão, em 1919. A estação ferroviária de Vila Abernéssia era o ponto terminal da EFCJ e constituía uma tosca estaçãozinha de madeira. Ali também funcionava o posto telefônico da ferrovia, com telefones a magneto. Era um prédio simples de madeira, que, nos anos 1920, provavelmente com a eletrificação da ferrovia, em 1924, foi ampliado.

A linha original da EFCJ chegava apenas até os Sanatórios e neste ano foi prolongada até Vila Abernéssia, que deu o nome à estação.

Nos anos 1940, a estação teve o nome alterado para Campos do Jordão, mas o nome Abernéssia permaneceu nomeando a vila. Mais tarde, com o desenvolvimento do turismo na cidade, a ponta da linha se desenvolveu mais (Vila Capivari) e Abernéssia perdeu em importância.

Atualmente, a estação parece ser conhecida de novo pelo nome do bairro, mas o prédio já é outro, construído em 1975, com estilo alpino.

Ficou sem ser parada por mais de 20 anos até que em junho de 2014 voltou a ser parada dos trens vindos de Pindamonhangaba, funcionando como local de venda de passagens de seus trens e como ponto de embarque e desembarque de passageiros de seus bondes turísticos. Para isso seu interior foi reformado, instalado sistema de venda informatizada de passagens, bem como isolada a plataforma, que se transformou em área paga, sendo liberado o acesso após o final do horário operacional.

Além de estimular a vinda de turistas de Capivari para Abernéssia, a bilheteria dessa estação ajuda a descongestionar a venda de passagens na estação de Emilio Ribas, em Capivari, a mais movimentada da rede.

Pedido de encampação

A Tribuna do Norte, edição de 31/1/1915 (a EFCJ havia sido inaugurada em 15 de novembro 1914), em matéria de capa, informava seus leitores que estava em poder do Estado, para estudos, uma proposta do empreiteiro da construção da estrada, o português Sebastião de Oliveira Damas, na qualidade de maior credor da empresa, para a encampação da ferrovia pelo governo, em conformidade com pedido da diretoria.

Como motivo para pedir a encampação é relembrado no referido artigo a construção da estrada. “No princípio, com relativa facilidade que havia em obter dinheiro, correram as obras sem maiores embaraços; veio depois a crise, a cessação dos recursos, e então o empreiteiro, para não deixar paralisada a construção, empregou nela uma parte avultada de capitais particulares, e que, ainda assim, não lhe foi possível concluir a empreitada, pelo que teve que recorrer ao governo, pedindo a encampação em condições vantajosíssimas (para o Estado)”.

No ponto que havia atingido sua construção a ferrovia não poderia mais ser abandonada sem grandes prejuízos para particulares e para a região de seu traçado. “Seria um erro gravíssimo sacrificá-la, como tem acontecido a tantas outras”, ressaltava a TN, recordando o caso da não concluída estrada de ferro que ligaria Taubaté a Ubatuba. “Na qual se perderam capitais, material, estudos e o estabelecimento de um excelente porto no estado”.

Avaliação para a encampação

Já em sua edição de 14/2/1915, a TN divulga a visita do diretor da repartição da viação da Secretaria da Agricultura, Dr. Theofilo Monteiro de Souza, que viera acompanhado do engenheiro fiscal da EFCJ, Dr. Benedicto Azevedo Marques e do empreiteiro Sebastião Damas. Em Pinda eles se juntaram aos engenheiros da ferrovia, Guilherme Winter e José Antonio Salgado, ao repórter da Tribuna e ao correspondente do jornal O Estado de São Paulo, seguindo em direção aos Campos do Jordão. A locomotiva que os conduziu foi a “Dr. Prudente de Moraes”, cujo vagão fora fabricado nas oficinas da EFCJ.

Na viagem, o representante do Estado pôde conferir tudo que havia sido construído: a ponte sobre o rio Paraíba e as estações de Bom Sucesso, Raiz da Serra e Alto da Serra. Durante o trajeto os engenheiros iam fornecendo informações sobre os trabalhos que estavam sendo realizados.

No alto da serra, na residência de Sebastião Damas, uma parada para um lanche e, em seguida, a continuação da viagem. Segundo o representante da TN que fazia a cobertura da viagem, às 15 horas haviam chegado na vila Jaguaribe “e dali até o fim da linha, onde se pretendia fundar o sanatório”.

Ainda na residência de Sebastião Damas, a comitiva desfrutou de “jantar regado com vinho vindo da fábrica do anfitrião, estabelecida em Portugal”. Após o jantar iniciou-se a viagem de retorno. Na descida, o representante do governo teve a oportunidade de continuar contemplando “os trabalhos que o construtor Sebastião Damas executara em tão pouco tempo” (dois anos).

Foi a partir desse passeio que o Dr. Theofilo Monteiro de Souza elaborou o relatório que seria apresentado ao governador (era o guaratinguetaense Francisco de Paula Rodrigues Alves). Documento este que naturalmente foi favorável à encampação.

Em artigo publicado no O Estado de São Paulo (11/2/1915), o escritor Adolpho Pinto descreve os Campos do Jordão, a construção da estrada de ferro ligando Pinda àquela localidade, elogia o empreiteiro da construção, Sebastião Damas, a iniciativa dos doutores Emílio Ribas e Victor Godinho, e se coloca favorável à encampação da ferrovia pelo governo. “Apesar da difícil situação financeira que o Estado atravessa, parece-me que o negócio, pelo menos em princípio, não pode deixar de merecer do governo a mais carinhosa e simpática acolhida”, justificava o escritor.

A encampação foi oficializada pela lei 1486, de 15/12/1915, lei promulgada pelo governador Rodrigues Alves.

Parte da existência da EFCJ foi dedicada a proporcionar o acesso aos sanatórios de Campos do Jordão, razão de sua criação, e do escoamento da produção agrícola serrana. Em 1970, com o fortalecimento das atividades turísticas, que vinham de encontro às suas características, começou a ser utilizada, quase que unicamente para passeios turísticos reveladores da beleza natural do Vale do Paraíba e Serra da Mantiqueira. Foi quando passou a ser subordinada à Secretaria dos Transportes Metropolitanos do Estado de São Paulo.

Fontes:


__________________. Cem anos unindo o Vale à Mantiqueira. 2015. Disponível em: <http://jornaltribunadonorte.com.br/cem-anos-unindo-o-vale-a-mantiqueira/>. Acesso em: 17 jan. 2017. 

GIESBRECHT, Ralph Mennucci. Estações Ferroviárias do Brasil. 2017. Disponível em: <http://www.estacoesferroviarias.com.br/c/camposjordao.htm>. Acesso em: 17 jan. 2018.


Campos do Jordão tem as fontes de água mineral mais altas do Brasil!


Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a cidade, encravada na serra da Mantiqueira, uma das mais expressivas cadeias de montanhas do Brasil, tem a sede administrativa mais elevada do país, atingindo 1628 metros, o que colabora para que ela também seja a mais fria, de acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET): média de 8,1 ºC, calculada ao longo dos últimos 30 anos.

As altitudes nos arredores do município atingem mais de 2 mil metros em alguns picos. Nessa região também se localizam algumas das cidades mais altas do Brasil como Senador Amaral-MG 1.500, Maria da Fé-MG 1.370, Munhoz- MG 1.260.

Em levantamento junto ao Departamento Nacional da Produção Mineral - DNPM e do IBGE confrontando-se informações de fontes de águas minerais e municípios brasileiros reconhecidamente com maiores altitudes constatou-se que somente as fontes Céu Azul localizadas na Prana Fazenda fluem em altitudes superiores aos demais pontos cadastrados no órgão. Portanto, são as fontes de água mineral mais altas do Brasil oficialmente cadastradas, com altitudes variando entre 1.815 e 1.840 metros.

Dentro da Serra da Mantiqueira, numa das suas regiões mais preservadas do Município de Campos do Jordao, surgem das profundezas das rochas, várias nascentes de água mineral com características que as colocam entre as mais puras e leves águas minerais do mundo. Pela altitude das fontes, entre as mais altas do Brasil, a mais de 1.800 metros, já se nota que não existe nada acima delas que possa poluí-las. Estão localizadas no meio da Mata Atlântica, na parte mais alta da Serra, com um grande cinturão verde a sua volta.

O relevo regional teve sua origem através de processos de epirogênese (movimento vertical da crosta que provoca soerguimento ou rebaixamento) em torno de 70 milhões de anos atrás. O clima da cidade já foi objeto de estudo, em que o congresso de climatologia realizado em Paris, em 1957, o classificou como sendo o melhor do mundo. Superando cidades como Davos, na Suíça e Chamonix, na França. Segundo Regnard, podemos classificar o clima de uma localidade, atenta à sua altitude, em uma das três zonas seguintes:

Estações intermediárias - entre a montanha e a planície, abaixo de 1.200m.

Estações de altitude - entre 1.200 a 1.800m.

Estações altas - entre 1.800 a 2.000m.

Assim sendo, fica o clima de Campos do Jordão na classe das Estações de Altitude e em condições superiores a Les Avante (1.000m), Caux (1.100m), Leisin (1.450m), Davos (1.558m), Zermat (1.620m) e St. Moritz (1.769 m), com exceção desta última.

O clima de altitude reúne um conjunto de condições particularmente favoráveis, representadas pela secura e pureza do ar, rarefação da atmosfera, favorecendo a ventilação pulmonar, intensidade de irradiação solar, mesmo no inverno, temperatura moderada no verão, condições essas que ativam as combustões internas, acoroçoam a hematopoise e aguçam as funções orgânicas:

É um clima essencialmente, tônico, vivificante, qualidade esta apreciável, sobre tudo, nas estações invernosas, o que faz indicado na maior parte dos estados de enfraquecimento ou debilidade orgânica. O clima de Campos do Jordão, comparado à região alpina de Davos Platz na Suíça, acusou supremacia nos graus de nebulosidade, nas taxas de insolação, oscilações térmicas e nos índices de precipitação pluviométrica. A nebulosidade média em Davos Platz era de cerca de 6% mais elevada. No que tange aos dias claros, as pesquisas deram 52% de dias claros para Campos do Jordão, enquanto que em Davos Platz verificou-se apenas 41%. As diferenças de temperaturas médias do mês mais quente para o mês mais frio, não foram além de 8°C em Campos do Jordão, ao contrário daquela cidade Suíça, em que as diferenças chegaram a 20°C. O teor de oxigenação e ozônio de Campos do Jordão foi considerado superior ao de Chamonix, famosa estância francesa, pela pureza de seu ar, a 2.800 m de altitude.

As fontes mais altas da Bacia do Prata

As fontes Céu Azul da Prana Fazenda estão entre as mais altas da Bacia do Prata. As análises laboratoriais das águas das fontes, foram feitas pelo LAMIN, que é o laboratório oficial do Governo do Brasil e também pelo IPEN, Instituto de Pesquisas Energéticas da USP. Os equipamentos mais sofisticados do IPEN permitiram uma análise muito mais precisa e detalhada. Suas águas nascem a mais de 1.800 metros e alimentam o Ribeirão do Fojo que deságua no Rio Sapucaí Guaçu e, este, no Rio Sapucaí, que segue em direção a Minas Gerais desaguando no Lago de Furnas (antigamente, diretamente no Rio Grande) num percurso de 343 km. As águas prosseguem por mais 1.300 km até encontrar o Rio Paranaíba e formar o Rio Paraná. O Rio Paraná demarca a fronteira entre Brasil e Paraguai numa extensão de 190 km até à foz do rio Iguaçu, onde o rio muda para direção oeste e passa a ser o limite natural entre Argentina e Paraguai. Na confluência do rio Paraguai o rio entra inteiramente em terras argentinas e passa a percorrer a direção sul, desaguando no delta do Paraná e, consequentemente, no Rio da Prata.

Histórico

O rio Sapucaí foi descoberto em 1596 pelo sertanista João Pereira Botafogo entres os municípios de Paraguaçu e Carmo do Rio Claro.  Serviu de rota, durante os séculos XVII e XVIII, para as Bandeiras, que partiam das Capitanias do Rio de Janeiro e São Paulo em busca de ouro para a Corte portuguesa.

Em 1737, o ouvidor de São João Del Rei, Cypriano José da Rocha, organizou uma expedição para desbravar o rio Sapucaí. Iniciou-se então a exploração aurífera nas cabeceiras do rio e de sua intensificação nasceram, os primeiros núcleos de povoamento no vale, como São Gonçalo do Sapucaí, Santana do Sapucaí (Silvianópolis) e Itajubá. Outros lugarejos foram despontando às margens do rio Sapucaí e seus afluentes, como Santa Rita do Sapucaí, Pouso Alegre e Careaçu. O rio Sapucaí recebeu o nome pela abundância de sapucaias existentes em suas margens. São árvores da família das lecticidáceas e produzem frutos oleosos e comestíveis, semelhantes à castanha-do-pará.  Sua madeira é pesada, dura e resistente, muito utilizada na produção de dormentes e na construção civil e naval. Em tupi, significa "fruto que faz saltar os olhos" que "grita", que "canta".

A BACIA DO RIO SAPUCAÍ

Compõem a bacia do rio Sapucaí os seguintes municípios no Estado de São Paulo: Campos do Jordão, Santo Antonio do Pinhal e São Bento do Sapucaí. No território mineiro, o rio percorre os seguintes municípios: Borda da Mata, Brasópolis, Cachoeira de Minas, Cambuí, Careaçu, Carvalhópolis, Conceição das Pedras, Conceição dos Ouros, Congonhal, Consolação, Cordilandia, Córrego do Bom Jesus, Delfim Moreira, Elói Mendes, Espírito Santo do Dourado, Estiva, Gonçalves, Heliodora, Itajubá, Lambari, Machado, Marmelópolis, Maria da Fé, Monsenhor Paulo, Natércia, Pedralva, Paraisópolis, Paraguaçu, Piranguçu, Piranguinho, Poço Fundo, Pouso Alegre, Santa Rita do Sapucaí, São Gonçalo do Sapucaí, São João da Mata, São José do Alegre, São Sebastião da Bela Vista, Sapucaí-Mirim, Senador José Bento, Silvianópolis, Turvolandia, Virgínia e Wenceslau Brás.

Antes da construção da represa de Furnas, o rio se unia ao Rio Grande nas proximidades de Alpinópolis; agora o rio Sapucaí deságua no lago formado pelas suas águas e as de dois grandes rios: o Rio Grande e o Rio Verde. Depois, passa a denominar-se rio Paraná até desembocar no rio da Prata, percorrendo os territórios brasileiro, paraguaio, argentino e uruguaio.

O rio da Prata constitui-se em estuário de cerca de 270 km de extensão entre o Uruguai e a Argentina, no sudeste da América do Sul, formando um vale alagado por rios e fazem parte da plataforma continental. Tem cerca de 30 km de largura na cabeceira, onde recebe os rios Paraná e Uruguai e se alarga até 190 km na sua embocadura no Oceano Atlântico. Seus rios drenam coletivamente uma bacia de aproximadamente 4 milhões de km² e transportam enormes quantidades de sedimentos que formam barrancos e longo banco de areia, especialmente no sul.

O doutor Domingos José Nogueira Jaguaribe em conferência pronunciada em 16 de janeiro de 1.917 no Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, sob o tema "Combate ao Alcoolismo", proclamou:

"Poderemos mandar vir dos Campos do Jordão, para os que fizerem encomendas, as águas das nascentes mais altas do rio da Prata, que formam o rio Sapucaí, que nasce em nossa propriedade, a 1.800 metros de altitude, a fim de fornecer essa ideia, que nasceu da leitura de uma carta do meu amigo, Dr. Alberto Torres.  Parece-nos que algumas casas ou agências deveriam tomar a si essa ideia, ou mesmo a repartição de águas do Estado."

Fontes:
 
_____________________. Campos do Jordão tem as fontes de água mineral mais altas do Brasil! 2017. Disponível em: <http://www.flow-water.com/nascentes.php>. Acesso em: 20 ago. 2017.
 
PAULO FILHO, Pedro. As nascentes jordanenses. 2009. Disponível em: <http://www.pedropaulofilho.com.br/cronica_02_nascente.php>. Acesso em: 20 ago. 2017.
 
LINO, Maurício de Souza. Da Freguezia do Imbery aos Campos do Jordão. Campos do Jordão: Clube de Autores, 2017. 414 p. 

    Biblioteca “Prof. Harry Mauritz Lewin”


Sobre a Biblioteca Pública Municipal, é de nosso conhecimento que a Prefeitura Municipal de Campos do Jordão fez aprovar a Lei nº 25, de 12 de novembro de 1948, criando o Ginásio Municipal de Campos do Jordão, que funcionou no Grupo Escolar “Dr. Domingos Jaguaribe daquele ano. Uma biblioteca fora montada no então Ginásio Municipal em 21 de julho de 1949, graças aos esforços de dona Leonor Mendes de Barros, com a denominação “Biblioteca 21 de julho”, em homenagem ao dia do aniversário da 1ª Dama do Estado de São Paulo. Posteriormente, a biblioteca recebeu o nome do grande mestre Harry Mauritz Lewin, em novo prédio e com maiores dimensões, livros e equipamentos. É a primeira biblioteca do município.
 
Em 03 de maio de 1953, sob a presidência do governador Garcez, instalou-se na capital paulista, o Centro Brasileiro de Estudos, que teve por finalidade, incentivar o desenvolvimento cultural no interior do Estado e como objetivo principal assegurar, por doações particulares, a instalação de uma biblioteca em cada cidade paulista. Campos do Jordão alegrou-se por isso.
 
O projeto de lei de 02 de setembro de 1957, visando a criação da Biblioteca Municipal de Campos do Jordão foi da autoria do vereador Miguel Lopes Pina, e aprovada pelo parecer nº 51/59 de 21 de dezembro de 1959 da Câmara Municipal.
 
No documento constava que “a Biblioteca Municipal deveria exigir obrigatoriamente que todos os seus frequentadores apresentassem atestado de que não sofriam de moléstia infecto-contagiosa, passado por médico especialista”, parecer este manuscrito e sem assinatura, e que foi aprovado pela Câmara Municipal de Campos do Jordão em sua 3ª Legislatura (01.01.1956 a 31.12.1959), em 23 de dezembro de 1959, em parecer assinado pelo então presidente da Câmara Municipal, Dr. Fausto Bueno de Arruda Camargo e pelo primeiro secretário Arakaki Masakasu.
 
Ela foi criada através da Lei nº 301 de 28 de dezembro de 1959, promulgada pelo Prefeito Municipal, Dr. José Antonio Padovan (01/01/1959 a 31/12/1962).
 
Quando da sua inauguração em 1960, a Biblioteca Municipal de Campos do Jordão, foi instalada em salas do mesmo prédio onde estava instalada a Rádio Emissora de Campos do Jordão, pertencente ao Sr. Aziz Elias, situado na Av. Dr. Januário Miráglia, 1337, localizado em frente à Estação de Vila Abernéssia, da Estrada de Ferro Campos do Jordão. Estiveram presentes o prefeito Municipal, Dr. José Antonio Padovan; o vereador e Diretor do Departamento Municipal de Turismo – D.M.TUR, Joaquim Corrêa Cintra; o professor Harry Mauritz Lewin, responsável pela Biblioteca; Milton Valim da Coletoria Federal de Campos do Jordão; o Sr. Waldomiro Buozzi e outros convidados. Ao longo dos anos, a Biblioteca ocupou vários endereços e passou por inúmeras transformações.
 
Em 1969, o Jornal “A Cidade de Campos do Jordão” noticia a presença na Cidade do escritor Jorge Amado, de sua filha Zélia e de sua filha Paloma, hóspedes do Grande Hotel. Na ocasião, o escritor esteve na Biblioteca Municipal, sendo recebido pelo professor Harry Mauritz Lewin e pelo Diretor de Turismo, Cultura e Esportes do Município, Joaquim Correa Cintra, e mais um grupo de estudantes locais.
 
O professor Harry Mauritz Lewin, juntamente com um grupo de amigos, prestou atividades na Biblioteca Municipal de Campos do Jordão por muitos anos, desde a época do prefeito Dr. José Antonio Padovan, até a sua morte em 07 de março de 1971. Na Biblioteca, além de orientar e participar efetivamente de toda a sua organização e montagem, organizou diversos cursos dos quais era o professor: admissão ao Ginásio e principalmente a matemática e o inglês.
 
O professor Theodoro Corrêa Cintra, Educador por vocação, aportou em Campos do Jordão em 1948, quando a semente do Ginásio Municipal havia sido lançada. Nessa época, instalou-se com seus 11 filhos em casa residencial na Rua Altino Arantes, onde hoje está instalada a Biblioteca Municipal “Prof. Harry Mauritz Lewin”.
 
Em 02 de abril de 1972, o prefeito Dr. José Antonio Padovan, determinou estudos à Diretoria de Turismo, Cultura e Esportes, então responsável pelo setor da Biblioteca Municipal, no sentido de instalar esse serviço público no prédio que até ao fim do ano passado serviu para o curso primário, anexo ao Colégio Estadual que, no corrente ano, já se achava em pleno funcionamento no novo colégio integrado da vila paulista.
 
Pelo Decreto nº 1348 de 03 de maio de 1985, o prefeito municipal de Campos do Jordão, João Paulo Ismael, considerando que Harry Mauritz Lewin foi professor de inglês nesta cidade, contribuindo de forma efetiva na formação cultural dos jovens jordanenses, e pelo muito que fez pela divulgação cultural, dá o seu nome ao prédio da Biblioteca Pública Municipal em reconhecimento a sua dedicação à causa pública.
 
Aos 24 de abril de 2002, na administração do prefeito Lélio Gomes, a Biblioteca “Prof. Harry Mauritz Lewin”, passou por uma reforma e ampliação. Contou com a presença de autoridades, educadores, alunos, membros da Academia Jordanense de letras e familiares do prof. Harry. Foi também inaugurada a sala profª Maria José Ávila, dedicada aos professores da estância.
 
Em 15 de outubro de 2013, pela portaria nº 06/SME/13, a Biblioteca Infantil Guilherme Monteiro Lobato é transferida para o prédio da Biblioteca Municipal “Prof. Harry Mauritz Lewin”, com todo o seu acervo bibliográfico, mobiliários e demais pertences necessários, que até então situava-se em uma casa alugada na Av. Brigadeiro Jordão. Esta mudança trouxe para o local um público diferente: os alunos das escolas próximas, que passaram a encontrar na Biblioteca uma extensão da sala de aula, com atividades lúdicas, contações de histórias, entre outros.
 
A Biblioteca existe há 70 anos e é a principal Biblioteca de Campos do Jordão. São 26.000 livros, audiolivros, livros em Braille, revistas, CDs de música popular e erudita brasileira, internacional, cartazes de cinema, DVDs técnicos, documentários, filmes, TV, uma biblioteca Infantil, folhetos de cordel, computadores e revistas em ambiente Wi-Fi. Um impressionante acervo de livros de arte, que com sua riqueza e beleza desvenda a criação de artistas consagrados e explora os movimentos artísticos de diferentes épocas e as mais espetaculares coleções de museus do Brasil e do mundo. Um prazer visual único, capaz de transformar conceitos, opiniões e ampliar enormemente o repertório estético de cada leitor. Todo um mundo de cultura e lazer aberto ao público.
 
É enorme a gama de títulos nas mais variadas áreas do conhecimento humano. Uma abrangente coleção de literatura brasileira e estrangeira, bem como de poesia, pronta para ter suas páginas abertas e iluminar a imaginação de cada leitor. São inúmeros os livros de autores jordanenses presentes no acervo. Os livros de não-ficção podem despertar a curiosidade e informar sobre os mais diferentes assuntos.
 
Além disso, a Biblioteca realiza oficinas culturais, saraus, clubes de leituras, palestras de escritores e poetas, exposições de arte, aulas de pintura do grupo Prohane de Artes, a cargo do artista Luiz Pereira Moisés, o Tubarão, atendendo de 2013 a 2017, aproximadamente 930 alunos; aulas de língua e cultura italiana, com a professora Adriana Harger; curso de “Mangá; todas as atividades gratuitas, e para que sua inserção nesse espaço público não seja apenas física, mas também cultural.
 
Até esta data, atendeu aproximadamente 61.000 consultas. Atualmente, a Biblioteca Prof. Harry Mauritz Lewin esforça-se no sentido de servir à população em relação ao atendimento, objetivando aumentar o número de visitantes e consulentes presenciais (hoje, este número está em torno de 6.000 consultas por ano). Com uma tecnologia informatizada, do ano 2003 até 2017, recebeu aproximadamente 22.400 usuários.

Fontes:


PAULO FILHO, Pedro. TCC, A Luta e a Vitória. 2017. Disponível em: <http://www.pedropaulofilho.com.br/cronica_61_tcc.php>. Acesso em: 31 mar. 2017.

ROCHA, Edmundo Ferreira da. Prof. Harry, Mestre Maravilhoso e seu Clubinho de Inglês. 1990. Disponível em: <http://www.camposdojordaocultura.com.br/ver-cronicas.asp?Id_cronica=56>. Acesso em: 31 mar. 2017.

Jornal “A Cidade de Campos do Jordão", de 03/05/1953 e 02/04/1972

Jornal “Impacto Vale News” de 20 a 30 de abril de 2002


                                                     Tiro ao Pombo no Clube de Tiro

 
O Clube de Tiro de Campos do Jordão, também chamado Tiro ao Pombo, ficava no Alto da Boa Vista, entre a Mata Comprida e a Igreja de São Lázaro. As Pedanas de Tiro, ao Prato "Dr. Renato Penteado Abate" foram promovidas e fundadas pelos engenheiros Arthur Hirsch, Augusto Pagliaci, Geminiano Rondon Filho, Plínio Vasconcellos de Oliveira e outros. O entusiasta esportista  Hirsch, que já participou de inúmeros torneios internacionais de tiro ao qual coube, por justiça a presidência da novel entidade que recebeu de pronto todo o apoio da administração municipal. No dia 30 de janeiro de 1972, no Sítio Mata Comprida, ao lado da Vila Siomara, próximo ao Palácio Boa Vista foi inaugurado o campo de tiro, com duas pedanas,  realizando-se a primeira grande prova que se denominou "Prefeito Padovan".
 
Esse antigo Clube de Tiro existiu nesse local até meados da década de 1970. Os seus frequentadores usavam espingardas de chumbinho para atirar em pratos de barro que eram lançados ao ar por máquinas e em pombos que eram soltos por funcionários do Clube. O desafio era acertar os discos de argila voadores com muita concentração e olho vivo. Apesar de todo o glamour, foram palco de uma matança singular na história: o Tiro ao Pombo, que consistia em premiar quem matasse o maior número possível de pássaros, caracterizava-se pelo uso de pombos vivos em pleno voo como alvo, e pela desumanidade de seus praticantes.
 
A utilização de alvos de argila foi apresentada como um substituto para pombos vivos, considerando o uso dos pratos mais consentâneo com os tempos atuais por não exigir o sacrifício das aves, embora, concordando, com algum “expert”do tiro: os pombos criam maior sensação ao atirador. Os pratos eram feitos de material de fácil desintegração ao impacto do cartucho disparado por arma de calibre 12. Na verdade, um dos nomes para os pratos utilizados em jogos de tiro era pombos de barro. O Tiro ao Prato foi originalmente desenvolvido, em parte, para aumentar a caça de aves e de fornecer um método de treino para os caçadores.
 
O esporte do Tiro ao Prato foi criado no final do século 18, quando eram usadas aves reais geralmente da espécie pombo-passageiro (Passenger Pigeon). Foi provavelmente a ave mais abundante no planeta. Estima-se que tenham chegado a existir mais de 5 bilhões nos Estados Unidos.
 
As aves eram colocadas embaixo de chapéus ou em armadilhas e eram então liberados. Daí surgiria o nome Trapshooting (Trap= Armadilha e Shoot = Tiro, em inglês). Mais tarde pássaros artificiais foram introduzidos na época da Guerra Civil Americana. Bolas de vidro (Bogardus) e, posteriormente, alvos de argila foram introduzidos após o ano de 1800, ganhando ampla aceitação, mas o tiro em aves vivas ainda é praticado em algumas partes dos Estados Unidos com o controle dos órgãos ambientais.
 
O Tiro ao Prato, é um dos poucos esportes que requer muita disciplina, concentração e agilidade em alvos em movimento. É praticado em todos os países do mundo. O acerto constante em várias posições e ângulos diferentes exige muito autocontrole e um atirador profissional chega acertar todos os 100 de 100 pratos ou erra somente 1 ou 2 em 200 pratos lançados. Este atirador é de classe AAA. Existem algumas variações de modalidades como Fossa Olímpica; Trap Americano, Trap Double, etc, (Algumas dessas são modalidades Olímpicas). A modalidade Trap americano é a versão predominante nos Estados Unidos e Canadá. Os EUA são referência, possuem dois órgãos gestores do esporte. O Amador Trapshooting Association (ATA) realiza eventos em todo os Estados Unidos e Canadá, bem como a Pacific International Trapshooting Association (PITA) que sanciona eventos na Costa Oeste da América do Norte.
 
Hoje o Tiro ao Prato evoluiu. Antigamente, os lances de pratos eram feitos manualmente com as mãos ou mesmo com máquinas manuais. Hoje as máquinas são 100% automáticas e inteligentes, com sensor de voz para o atirador "chamar" o prato.
 
A máquina normalmente é colocada dentro de um traphouse (casa de máquinas). A casa oferece proteção da máquina (por exemplo, chuva, e tiros errantes) e também atua para esconder a posição oscilante do arremesso. Você nunca saberá de onde o prato vai sair.
 
Modernas máquinas automáticas de arremesso podem armazenar centenas de alvos de argila em um magazine e sistematicamente auto recarregar os pratos para o próximo lançamento.
Já as máquinas manuais elétricas requerem uma pessoa no traphouse para colocar o prato sobre o braço da máquina. Para ambos, as máquinas precisam de um sinal elétrico para arremesso assim que o atirador "chamar" o prato, pode ser um interruptor normal ou um sensor de voz.

Fontes:

http://tiroaoprato.com/tiroaoprato/oesporte


                   Eletrificação da Estrada de Ferro Campos do Jordão


A tuberculose era um grave problema de saúde pública no Brasil antes do advento de antibióticos e outros poderosos medicamentos que surgiram em meados do século XX. Até então uma das poucas formas que os enfermos tinham de se curar ou, ao menos, controlar o curso dessa enfermidade dos pulmões era passar por tratamento especial em sanatórios localizados em regiões de clima frio e seco. No Brasil esse clima salutar era encontrado nas encostas da Serra da Mantiqueira ao longo do Vale do Paraíba, entre Taubaté e Guaratinguetá. Nessa região destacavam-se os chamados Campos do Jordão, a 1.700 metros de altitude e a aproximadamente a 50 quilômetros de Pindamonhangaba. Esse era o nome da região onde estavam localizados os povoados de Vila Jaguaribe, Vila Abernéssia e Vila Emílio Ribas. Os primeiros registros de estabelecimentos especialmente voltados ao tratamento dos doentes de tuberculose nessa região são encontrados por volta de 1874.

Os primeiros registros de intenções para a construção de uma ferrovia para se facilitar o acesso a essa região vêm de 1877, dada a significativa afluência de pessoas doentes à busca de tratamento. O acesso a Campos de Jordão era muito difícil na época já que, justamente por sua grande altitude, o relevo da região era muito irregular. Isso motivou os médicos Emílio Marcondes Ribas e Victor Godinho a solicitar uma concessão ao Governo do Estado de São Paulo visando a construção de uma ferrovia entre a estação ferroviária de Pindamonhangaba, no quilômetro 325,9 da linha Rio de Janeiro-São Paulo da E.F. Central do Brasil, e as imediações da Vila Jaguaribe, então pertencente ao município de São Bento do Sapucaí. Essa concessão foi somente foi outorgada em 1910. Talvez esta tenha sido a única ferrovia brasileira construída com finalidades exclusivamente terapêuticas!

A construção da estrada de ferro iniciou-se imediatamente. Seu ponto inicial, Pindamonhangaba, está a 552 metros do mar. Os primeiros 21 quilômetros se situam em terreno relativamente ao plano, atravessando o vale do Rio Paraíba do Sul. A seguir vem a travessia do rio, iniciando-se então o difícil trecho de subida da Serra da Mantiqueira.

O projeto da ferrovia já previa sua eletrificação, dadas as características severas da topografia da região. Contudo, em função da carência de recursos - um mal recorrente nas ferrovias brasileiras de então, agravado neste caso pelo relevo muito adverso a ser vencido - ela foi construída sob condições técnicas bastante precárias: bitola métrica, simples aderência com trechos com rampa máxima de 10,5% (!) e boa parte da linha sem empedramento. E, obviamente, não eletrificada.

De toda forma, não havia como justificar a aplicação de maiores recursos em recursos técnicos mais sofisticados como, por exemplo, em tração por cremalheira, uma vez que já se sabia que a ferrovia iria ter movimento quase que exclusivo de passageiros e pequenas cargas. A inauguração da ferrovia se deu em 15 de novembro de 1914, tendo 46,67 quilômetros de extensão. Já naquela época ela conquistou o recorde ferroviário brasileiro de altitude: 1.743 metros no local chamado Alto do Lajeado; a partir daí a ferrovia passa por leve descida, alcançando Campos de Jordão aos 1.585 metros de altitude. Outro recorde, desta vez mundial, é o de declividade numa ferrovia de aderência simples: 12,5%. Ambos são mantidos até hoje. O material rodante da época era constituído por duas locomotivas a vapor, oito automóveis adaptados para rodar sobre trilhos, carros para bagagem e vagões de carga.

A precariedade das instalações e equipamentos da ferrovia tornou sua operação inconstante e deficitária: afinal, eram realizadas apenas três viagens semanais. A esses problemas se juntaram as dificuldades financeiras decorrentes da I Guerra Mundial, afetando o fluxo de caixa da ferrovia. Esses problemas começaram a ameaçar a sobrevivência da empresa, forçando o Governo do Estado de São Paulo a assumir seu controle em maio de 1916. A partir daí a ferrovia passou a ter respaldo para melhorar seus equipamentos e instalações, incluindo melhorias nas condições de seu traçado. O principal melhoramento planejado foi sua eletrificação, que era particularmente oportuna em função do relevo acidentado da região que atravessava. Os estudos preliminares para sua implantação começaram logo após o fim do conflito mundial.

O empreendimento era bastante oportuno, uma vez que em 1918 era concedida a Alfredo Jordão Júnior a concessão para fornecimento de eletricidade ao então distrito de Campos de Jordão. Ele associou-se a Roberto J. Reid, proprietário das terras onde se localizava um salto de 46 metros do Ribeirão Abernéssia, para constituir a firma Jordão Júnior & Cia, que tinha por objetivo construir uma hidrelétrica no local. Com efeito, foi construída uma barragem entre dois morros no local, com 80 metros de comprimento e 12 de altura. A partir da represa saía uma adutora com comprimento de 1.060 metros que alimentava a usina, que tinha potência total de 260 HP. A mesma empresa também se propôs a eletrificar a E.F. Campos do Jordão. Seu projeto propunha dividir os 47 quilômetros da estrada em cinco setores iguais, cada um dotado de uma subestação retificadora rotativa. Elas seriam alimentadas a partir de uma linha com 6 kV e gerariam corrente de 550 ou 600 volts para alimentar os bondes e automotrizes da ferrovia. A energia para a ferrovia viria da hidrelétrica recém construída em Campos do Jordão e também de um reforço de 450 HP que seria fornecido por uma empresa de Paraisópolis.

Contudo, a concorrência pública aberta na época foi vencida pela The English Electric Co., que em meados da década de 1940 também ganharia outro contrato para a eletrificação de uma ferrovia brasileira, a E.F. Santos a Jundiaí. O contrato entre a ferrovia e a empresa inglesa foi assinado a 20 de julho de 1923. Tendo sido definida para esta eletrificação o padrão de 1.500 volts em corrente contínua, com as automotrizes sendo alimentadas por rede aérea de contato. Esta foi uma das eletrificações ferroviárias pioneiras no Brasil, muito embora o caráter da E.F. Campos de Jordão seja mais o de uma linha de bondes interurbanos do que propriamente uma ferrovia.

A energia necessária para a ferrovia era fornecida pela Empresa de Eletricidade São Paulo e Rio, filiada à Companhia Carris, Luz e Força do Rio de Janeiro, a famosa Light. O ponto de entrada de energia ficava no quilômetro 5 da ferrovia, sendo fornecida a 30 kV, trifásica, 60 ciclos, com potência reservada de 500 kW. A partir daí ela era transportada através de linha de transmissão de propriedade da ferrovia até sua única subestação retificadora, instalada a meio caminho entre Pindamonhangaba e Campos do Jordão, na localidade de Eugênio Lefevre, na Serra da Mantiqueira. Neste ponto a voltagem da energia fornecida era abaixada para 2.000 volts, sendo então alimentada a dois grupos moto-geradores de 250 kW cada um. Cada grupo moto-gerador era constituído de um transformador de 700 kVA, que reduzia a corrente de 3.000 volts para 2.000 volts, um motor síncrono de 580 kVA e dois geradores de corrente contínua de 250 kW e 750 volts ligados em série. O equipamento era capaz de suportar uma sobrecarga de 50% por duas horas.

A corrente elétrica retificada de 1,5 kV era distribuída a dois circuitos diferentes, denominados circuito de Pindamonhangaba e circuito de Campos de Jordão. A rede aérea era suportada por postes de ferro, constituídos de dois trilhos gêmeos com 9 metros de altura, apoiados nas curvas por cabos de aço de 50 mm² de seção. Esses postes também sustentavam a linha de transmissão com a corrente de 30 kV fornecida pela concessionária pública. O circuito negativo era constituído pelos trilhos, ligados por bonds constituídos de cabos de cobre. A rede era seccionada de seis em seis quilômetros por meio de chaves de faca.

O material rodante era constituído de quatro automotrizes elétricas de 240 HP cada, sendo duas para passageiros e duas do tipo fechado para cargas e bagagens. As automotrizes para passageiros dispunham de cabine dupla de comando, dois compartimentos para passageiros, separados por um compartimento central de cinco metros quadrados para o transporte das bagagens dos passageiros, além de dois sanitários. Seu comprimento total era de aproximadamente 17,350 metros e peso de 23 toneladas. Elas tinham capacidade para transportar quarenta passageiros, sentados em bancos de palhinha. Elas foram construídas pela Midland Railway Carriage & Wagon Company, em Birmingham, Inglaterra, usando equipamento elétrico da English Electric, incluindo quatro motores DK30 de 60 HP e 750 volts. Em função dos pesados gradientes no trecho de serra foi dada particular atenção aos dispositivos para frenagem dos carros.

As automotrizes eram capazes de executar frenagem regenerativa, usando seus motores para gerar eletricidade quando estavam nos trechos de descida.

Contudo, uma vez que a subestação não dispunha de equipamentos para lidar com a energia regenerativa proveniente das composições, a energia gerada por elas era dissipada em resistências elétricas montadas abaixo do carro. Além desse freio reostático, essas automotrizes também dispunham de freio Westinghouse a ar comprimido para uso durante sua movimentação, um freio de mão para estacionamento e um freio de emergência magnético atuando sobre os trilhos. A energia para os compressores de ar e para o freio magnético era proporcionada pela corrente de 1,5 kV coletada na catenária. As automotrizes de carga tinham capacidade para carregar 10 toneladas de carga e seu equipamento elétrico era idêntico às automotrizes de passageiros.
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O primeiro teste do sistema de eletrificação da E.F. Campos do Jordão ocorreu em fins de novembro de 1924; uma automotriz de carga levando algumas pessoas percorreu o trecho de Pindamonhangaba até a localidade conhecida como Botequim, no quilômetro 26 da ferrovia, um pouco além da metade do percurso total. Segundo o relato da revista Brasil Ferro Carril a experiência foi coroada de êxito.

A inauguração oficial da eletrificação na E.F. Campos do Jordão ocorreu em 21 de dezembro de 1924, com a presença do Presidente do Estado, Carlos de Campos e do Secretário da Agricultura, Viação e Obras Públicas, Gabriel Ribeiro dos Santos. Lamentavelmente, três dias após, na véspera do Natal, ocorreria o primeiro acidente com uma automotriz elétrica, vindo a falecer um empregado da estrada e outro da The English Electric Co. Além disso, a eletrificação da estrada prejudicou enormemente o funcionamento das ligações telefônicas entre Pindamonhangaba e Campos de Jordão, devido à indução provocada pela alta tensão. Isso requereu uma reforma nos troncos telefônicos então existentes. Apesar desses maus presságios iniciais, a eletrificação logo revelou-se ser um sucesso: houve grande melhoria nas condições do serviço prestado por essa ferrovia.

Em 1927 a E.F. Campos de Jordão adquiriu, também da English Electric, mais uma automotriz para passageiros e cinco automotrizes do tipo gôndola para o transporte de automóveis e cargas. Essas últimas unidades eram responsáveis pelo transporte de carros de turistas, um serviço de auto-trem que alcançou grande sucesso, uma vez que naquela época as condições das estradas de rodagem da região eram péssimas. Uma quarta automotriz para passageiros foi montada em 1932 nas oficinas da estrada em Pindamonhangaba, com material sobressalente fornecido pela English Electric - uma prática bastante comum nas ferrovias brasileiras. Na mesma época foram recebidas mais duas automotrizes para carga, também com 240 HP de potência, desta vez fabricadas pela Siemens-Schuckert alemã.

A extinção do Tramway do Guarujá, ocorrida em julho de 1956, beneficiou a E.F. Campos de Jordão, que "herdou" da finada ferrovia três bondes elétricos e uma pequena locomotiva elétrica do tipo steeple-cab, todos também fabricados pela Siemens Schuckert alemã, além de vários carros de passageiros. Esses bondes elétricos substituiríam os antigos a gasolina que ainda trabalhavam na seção plana entre Abernéssia e Emílio Ribas. É interessante notar que esse material rodante proveniente do Tramway do Guarujá era alimentado por tensão de 750 volts, corrente contínua. Não se sabe exatamente como ele foi adaptado para rodar na E.F. Campos de Jordão, onde a catenária era de 1.500 volts; há indícios de que os sistemas de controle dos bondes foram adaptados de forma a trabalhar com os motores elétricos de tração exclusivamente em série.

Desde então essa ferrovia não adquiriu mais material rodante. Afinal, a E.F. Campos do Jordão também acabou por ser afetada pela irrefreável expansão do rodoviarismo. Já na década de 1940 havia serviço comercial de ônibus ligando diretamente Campos de Jordão à capital paulista, via São José dos Campos. No final dessa década a inauguração da rodovia Presidente Dutra, entre São Paulo e Rio de Janeiro facilitou o acesso rodoviário à cidade. A partir da década de 1960 os automóveis tornaram-se acessíveis à classe média, que passou a depender cada vez menos do transporte público para alcançar Campos do Jordão. De fato, o tráfego de passageiros nos bondes urbanos de Campos de Jordão ou mesmo nas rotas entre essa cidade Santo Antonio do Pinhal manteve-se sempre forte, em função de seu caráter eminentemente turístico; por outro lado, diminuía cada vez mais a importância dessa ferrovia como um efetivo meio de transporte entre Pindamonhangaba e Campos de Jordão.
Apesar de sofrer dos mesmos problemas das demais ferrovias controladas pelo Governo do Estado de São Paulo a E.F. Campos do Jordão não foi integrada à Ferrovia Paulista S.A. - FEPASA, empresa que reuniu todas elas numa só. A E.F. Campos do Jordão continuou vinculada à Secretaria Estadual de Turismo, uma decisão lógica dada a natureza específica de seus serviços e o seu isolamento em relação à malha das ferrovias estaduais paulistas.

Essa queda no movimento de passageiros certamente deve ter contribuído para a decisão tomada pela ferrovia em 1972, que fez com que a locomotiva elétrica T1 fosse imobilizada para tracionar o teleférico instalado pela ferrovia, que leva turistas desde a estação terminal da ferrovia em Campos de Jordão, Emílio Ribas, até o alto do Morro do Elefante. A inauguração de uma moderna rodovia entre Taubaté e Campos do Jordão em 1977 obrigou ao término do antigo serviço de auto-trem e afetou severamente o tráfego entre Pindamonhangaba e Santo Antonio do Pinhal. Em 1982 chuvas torrenciais provocaram quedas de barreiras e levaram à supressão do tráfego nesse trecho. Contudo, ele foi recuperado e o tráfego retornou, mas só em outubro de 1986.

Por volta dessa mesma época a E.F. Campos do Jordão recebeu uma série de equipamentos, incluindo uma subestação móvel Siemens, provenientes da supressão da eletrificação nas linhas da antiga Rede Mineira de Viação

Em 1994 Kelso Médici fez um inventário do material rodante disponível na E.F. Campos do Jordão, o qual foi publicado na edição de maio de 1995 do boletim Centro-Oeste:

4 automotrizes, numeradas como A-1, A-2, A-3 e A-4, fornecidas em 1924;
3 automotrizes (bondes), numeradas como A-5, A-6 e A-7, recebidas em 1956 do extinto Tramway do Guarujá;
1 automotriz de luxo, numerada como AL-1, fornecida em 1924;
3 gôndolas, numeradas como G-1, G-2 e G-3, fornecidas em 1928;
2 vagões, numerados como V-1 e V-2, fornecidos em 1927.

Nesse mesmo ano a ferrovia criou o Bike-Trem, um vagão-gôndola que transportava ciclistas e suas respectivas bicicletas entre Campos de Jordão e Piracuama, já no vale do Rio Paraíba. Os ciclistas desceriam em pontos determinados na Serra da Mantiqueira, percorrendo trilhas alternativas até o ponto final do trem, onde o tomariam de volta para Campos do Jordão. Lamentavelmente a iniciativa abortou após o descarrilamento do trem durante a inauguração do serviço. Atualmente o vagão-gôndola que faria esse serviço se encontra encostado na estação de Pindamonhangaba.

Lamentavelmente as mazelas brasileiras volta e meia ameaçam essa pequena ferrovia, como o racionamento de energia elétrica verificado entre maio de 2001 e fevereiro de 2002, que obrigou ao corte de circulação de vários de seus bondes e automotrizes. Seus usuários viram-se forçados a procurar outros meios de transporte e não retornaram completamente à ferrovia após o fim do racionamento, criando uma situação preocupante.

O extraordinário sucesso de Campos de Jordão como estância turística tem viabilizado comercialmente a E.F. Campos de Jordão. Seu material rodante, apesar de antigo, passa por manutenções constantes de forma a sempre oferecer o máximo de conforto e segurança. Infelizmente eles já se encontram bem descaracterizados em relação a seu projeto original, em razão da falta de peças de reposição originais e restrições econômicas, além de proporcionar melhor conforto ao usuário. Por exemplo, as automotrizes fornecidas pela English Electric tiveram sua caixa reconstruída em alumínio e foram dotadas de ar condicionado e sistema de som. Além disso, perderam a cabine de comando numa das extremidades, obrigando ao uso de viradores para sua reversão. Por outro lado, essa descaracterização é um preço relativamente baixo a se pagar para se manter uma das raras ferrovias elétricas - ou linhas de bonde - que o Brasil ainda possui.

 Fontes:

ANON. Campos do Jordão Railway, Brazil - Electrification by The English Electric Co. The Locomotive, February 14, 1924, pág. 38-39.

ANON. E.F. Campos do Jordão. Estradas de Ferro do Brasil - 1945, Suplemento da Revista Ferroviária, 1945, p. 225-229.

ANON. A Electrificação da E. de Ferro de Campos do Jordão - Usina Hydro-Electrica. Revista A Cigarra, Abril 1919.

ANON. Revista Brazil Ferro Carril, 11.9.1924 (pág. 269); 4.12.1924 (pág. 512)

CAVALCANTI, F. Estado Reativa E.F. Campos do Jordão para o Turismo. Centro-Oeste, Outubro-Novembro 1986, p. 4-6.

COELHO, E. Eletrificação Ferroviária no Brasil VIII: A E.F. Campos do Jordão. Revista Ferroviária, Junho 1989, 46.

GORNI, A.A. (webmaster). E.F. Campos do Jordão. Photo Album of the Brazilian Railroads, 1998-2002.

HERETH, J. Uma Alemãzinha para o Brasil, Centro-Oeste, Março 1993.

MEDICI, K. (webmaster). E.F. Campos do Jordão, 1999-2002

MEYER-GRAHL, A. Die EFCJ, eine elektrische Gebirgsschmalspurbahn im Staate São Paulo, in: Das Eisenbahnwesen in Brasilien, 1979, p. 31-33.

MORRISON, A. The Tramways of Brazil - A 130-Year Survey, Bonde Press, New York, 1989, pág. 143-146.

MORRISON, A. (webmaster). E.F. Campos do Jordão, 1998-2002.

PIMENTA, D.J. Estradas de Ferro Eletrificadas do Brasil, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística/Rede Mineira de Viação, Janeiro de 1957. 80 p.

STIEL, W.C. História do Transporte Urbano no Brasil. Editora Pini Ltda, Brasília, 1984, pág. 79-88.

UEBEL, L. & RICHTER, W.D. (editores). 150 Jahre Schienfahrzeuge aus Nurnberg, EK-Verlag Freiburg, 1994, 495 p.

GORNI, Antonio Augusto. A eletrificação nas ferrovias brasileiras. 2002. Disponível em: <http://www.pell.portland.or.us/~efbrazil/electro/efcj.html>. Acesso em: 08 jun. 2017.

 

      A Conquista da Pedra do Baú


A primeira escalada da Pedra do Baú, o impressionante maciço que se ergue a 1950 metros do nível do mar e constitui uma das mais originais configurações da Mantiqueira e se situa no vizinho município de São Bento do Sapucaí, nas fronteiras de Campos do Jordão. O intrépido autor desse feito, que teve o condão de abrir aos turistas nacionais e estrangeiros uma visão panorâmica extraordinária, além de proporcionar uma subida emocionante pelos seiscentos e tantos degraus que levam o visitante da base até ao cimo da famosa pedra, foi Antonio Cortez, natural de São Bento do Sapucaí, cidadão simples e humilde, mas que se agigantou aos olhos de todos os amantes dos arrojados feitos pela sua coragem singular, dado que o cometimento foi dos mais arriscados, e a sua empresa só pode ser levada a bom termo por um espírito obstinado, já que inúmeras tentativas anteriormente feitas, todas elas frustradas, não animavam a empreitada.
 
Entretanto, Antonio Cortez, aos 51 anos de idade, venceu as culminâncias do basalto e, no seu cume, proclamou a vitória do espírito sobre a matéria, conquistando-a para os homens, em nome do seu município, o tradicional São Bento do Sapucaí. Muitos ignoraram a importância desse feito que proporcionava a turistas – embora com a respiração em suspenso - facilidade para galgar os seus seiscentos degraus e, lá em cima, encontrar um confortável rancho onde, durante horas, e mesmo em um agradável pernoite, podiam gozar das belezas do panorama.
 
Esses importantes serviços foram ali executados pelas mãos hábeis de Cortez, mercê do financiamento que lhe permitiu a clarividência e não menor amor às coisas da natureza do Dr. Luiz Dumont Villares, o dinâmico empreendedor da Colônia de Férias do Paiol Grande, situada nas proximidades da pedra.
 
Fontes:
 
Jornal "A Cidade de Campos do Jordão", de 15 de agosto de 1954.
 

 
                    Primórdios de Campos do Jordão             
 
 
Entre os anos de 1703 e 1713, talvez por 1709, Gaspar Vaz, por antonomásia, O Jaguará, foi o primeiro sertanista conhecido que viu a paisagem alpestre e sentiu o frio dos Campos do Jordão, quando a “auri sacra fames” o compeliu a abrir o caminho de Pindamonhangaba ao rio Sapucaí pela Mantiqueira, então chamada Amantiqueira, passando pelos campos ou campanhas do Capivari, afluente daquele rio. Em certos documentos esta serra tem o nome local de Serra do Paraíba, Serra do Rio Paraíba, Serrote do Rio Paraíba e até serra Preta, parecendo os dois últimos topônimos, creio que hoje, esquecidos, balizas do caminho. Em todo caso, a denominação Mantiqueira teria sido extensão de um nome local, creio que aí pela garganta do Embaú, aberto pela natureza para os caminhos indígenas e civilizados. Campos além e sobre Serra do Paraíba. (1).
 
A seguir o bandeirante Miguel Garcia descobriu nesse rumo as minas do Itajubá e o caminho se prolongou até São João Del rei. Trata-se do Itajubá velho, donde se mudou o povoado para o atual. Grafa-se também Itagiba e algumas testemunhas confundem Itajubá com Caxambú. O requerente da justificação dá mesmo o nome intermediário de Caxabá. Digam os sábios da escritura se é possível semelhante transmutação. E assim os africanos teriam mesmo influído no étimo indígena do conhecido morro, que Antonil celebrou em 1711, com uma agradável perspectiva que se tem desde a Boa Vista(2).
 
As minas de Itajubá foram novamente povoadas, de 1741 a 1742, pelo capitão-mor Francisco Ramos da Silva e até do século davam ouro de baixo quilate, tanto assim que, enquanto no Registro o Rei comprava o ouro em pó por 12 tostões a oitava, os comerciantes de Pinda o não aceitavam senão por 10 tostões(Era o tempo da balancinha de ouro).(3). O caminho era frequentado, não havia registro, porque logo as raias de São Paulo e Minas foram estabelecidas pelo acidente mais apropriado, o Sapucaí.
 
Autoridades de São João Del rei e Pindamonhangaba, atravessando esses despenhadeiros, encontraram-se festivamente numa pedra no meio do rio... A paz acabou em 1764 com  a ocupação de Itajubá pelo governador Dom Luiz Diogo Lobo da Silva. Muita tinta se derramou, muito prelo gemeu, houve escaramuças, põe marco, tira marco, e a questão dos limites que chegavam até Franca se eternizou só se resolvendo na década de 80. A documentação desses entreveros fornece achegas à história dos municípios lindeiros. Muitos mineiros da região da Mantiqueira pagavam dízimos ao poder civil e conhecenças ao eclesiástico de Pindamonhangaba. O Bispo de São Paulo continuava a ter jurisdição em Minas até o Sapucaí em plena república, quando foi criado o Bispado de Pouso Alegre.
 
Porém, antes de 1764, já em 1742 ou 1743 (as testemunhas fazem as contas por tradição oral e mesmos algumas assistiram aos fatos, mas anão assentaram exatamente a data) nesses anos, pois, um freguês ou paroquiano da Piedade (Lorena) abriu caminho de sua terra para Itajubá e o qual, por ser melhor, eclipsou o outro, que continuou menos frequentado, mas basta que tenha existido a picada, para o nosso intento. O herói desse novo caminho chamava-se Lauro Fernandes.
 
Mas o trecho correspondente a Pinda-Campos do Jordão continuou frequentado pelos que “iam à caça e ao pinhão”.
 
Depoimento valioso para a história do povoamento pelos caçadores pindenses e pelos paulistas comedores de pinhão, segundo o costume dos índios e dos bandeirantes. Ainda se vê a araucária na região, mas as onças foram exterminadas, principalmente pelos proprietários da fazenda.
 
Nos campos de Capivari e Rocinha o capitão-mor de Pinda, Manoel Antonio Francisco Pimentel, estabeleceu juma fazenda de criar gado vacum e cavalar bem antes de 1773. Há uma referência certa possível, porque nesse ano era falecido, nas ilhas, para onde se retirava com toda a família, seguindo a frase feita “Papagaio real para Portugal...”
 
Não pôde vender a fazenda com o gado em pé. Transportou-o à vila, vendendo-o parceladamente e deixou devolutas, prontas para uma sesmaria em regra, os campos do Capivari.
 
Em 1771 entrou Inácio Caetano Vieira de Carvalho naqueles campos, fazendo a posse preliminar à petição de sesmaria em 1773. Só se arquivou a que parece uma confirmação em 1790(5). Mas esta, segunda e nova carta de sesmaria, se estende a dois outros condôminos, João de brito Marinho e Manoel José Botelho Mosqueira, era de 3 léguas de extensão e sem limites localizáveis pormenorizadamente.
 
Em 1772 ou 1773, João da Costa manso, de Taubaté, situou-se além do Capivari, limitando com o pindense que o precedera, mas prestou obediência a Minas, derrubando os marcos. Associou-se-lhe o depois juiz ordinário de Taubaté, Domingos Ferreira da Silva, que em 1794, com o Costa Manso, um camarada e um soldado mineiro prendeu o fazendeiro(6) de Inácio Caetano por uma questão levantada pelo dizimeiro de Baependi ou Aiuruoca, Henrique Dias de Vasconcellos(7). Aliás, o Capivari nasce nos campos que antes de 1796 pertenceram a Manoel Galvão de França, outro povoador da região.
 
O Pimentel e parece que mais alguns que tentaram a posse das terras antes de Inácio Caetano foram desiludidos pelo estrago das onças nas criações e pelo frio(8). Porém, Inácio Caetano devia ser filho de pai teimoso, porque na realidade transladou-se para o Capivari, com os filhos e escravos, e ele pessoalmente e os filhos “tem extinguido” os felinos(9).
 
Continuaram as questões de divisas. Os herdeiros de Inácio Caetano venderam parte das terras, em 1825, ao rico paulistano Brigadeiro Manoel Rodrigues Jordão. Essa é outra história.
 
Fontes:
 
1. Depoimento de testemunhas na Vila real de Nossa Senhora do Bom Sucesso de Pindamonhangaba a 19 de outubro de 1773, apud Documentos Interessantes, publicação do Arquivo de São Paulo, Vol. XI, 1896, pág. 489
2. Idem, ibidem
3. Ibidem, pág. 490
4. Ibidem
5. Ibidem (516). Declaração do próprio Inácio
6. fazendeiro era o preposto do verdadeiro fazendeiro com o sentido atual, nas fazendas de gado. Tem o mesmo significado de curraleiro, na Bahia. O historiador Pedro Taques tinha um fazendeiro em São Pedro do Itararé.
7. Doc. Interessantes, cit. Pág. 516
8. Idem (510)
9Ib idem (519)
 
Aluísio de Almeida, “Suplemento Literário” de 17 de outubro de 1971.  


Pedra do Baú

...Mas o panorama por excelência é o quadro soberbo e majestoso da Pedra do Baú. Entre os bairros do Baú e do Paiol Grande, no cimo da Serra dos Soares, alteia-se a famosa pedra, dominando as culminâncias, com a invejável estrutura gigantesca de 1810 metros sobre o nível do mar. Com a forma de uma grande canastra, sulcada de profundas rugas escuras, ela surge nas grimpas da montanha, calcando um terreno fértil que a circunda, na base, de um maciço tapete de verdura. Ladeiam-na duas outras pedras de enormes dimensões: uma, a uns mil e tantos metros de altitude, inacessível como a pedra principal, rugosa, áspera, arredondada; a outra é um fim bizarro de espigão, a mil e tantos metros de altura, denominada com acerto “Bico de Papagaio”, espécie de muralha antiga que o tempo decepou dando a aparência de uma afiada faca de mato.

Seguindo pela cumieira do espigão, galgando os alcantis, intrometendo-se por debaixo de emaranhadas folhagens, o curioso encontra, depois de algumas horas, o pinto culminante do Bico.

Então a vista se espraia pelas terras mineiras, espraia-se pelas terras paulistas, perde-se pela amplidão e o espírito se embriaga e se extasia, elevado ao máximo dos deslumbramentos.

Entretanto o conjunto das três pedras observado de vários pontos do município de São bento do Sapucaí e mesmo de outros municípios, também tem uma beleza deslumbrante. Mesmo da cidade, do Monte da Glória, da Várzea, ou da rua denominada do Aterrado, em dias claros, o espetáculo é deveras majestoso.

Em noites luarentas, ao despontar das madrugadas, ao descair suave dos crepúsculos vespertinos, a Pedra do Baú tem belíssimos aspectos.

A forma do gigante varia, conforme o ponto tomado pelo observador.

Vista das proximidades de Santana do Sapucaí Mirim, ela tem o formato de uma pirâmide; dos Campos do Jordão, é mais chata, mais larga, mais baú; de Pouso Alegre é muito chata e muito larga.

O místico roceiro da região circundou-a de legenda na consagração das fábulas. Por lá desliza, dentro da noite e do silêncio, o Encantado, bom gênio das alturas, senhor do ouro e do diamante. No cimo da pedra, dorme espelhando os céus, a grande lagoa onde a mãe de ouro toma o seu banho, rejuvenescendo o ígneo fulgor esverdeado.

(Pedra do Baú é uma das candidatas a Maravilha do Vale do Paraíba). Atração turística fica a quase dois mil metros acima do nível do mar. Para subir até o topo da pedra, são necessárias três horas de caminhada.

Foi decretado a 27/12/2010, a criação do Monumento Natural da Pedra do Baú, localizado em uma área de 3.154 hectares no município de São Bento do Sapucaí, no Vale do Paraíba. O local será administrado pela Fundação para a Conservação e a Produção Florestal do Estado de São Paulo (FF), vinculada à Secretaria do Meio Ambiente, e tem como objetivo proteger a biodiversidade, os recursos hídricos e organizar a visitação turística e o uso esportivo do complexo rochoso.

Segundo o governo do Estado, nos três anos do processo para a criação do monumento foram realizados discussões públicas, estudos e análises e consistiu em um suporte especializado, com justificativa técnica, elaboração de mapas e consultoria, com aprovação do Conselho Estadual de Meio Ambiente (Consema) no dia 14 de outubro de 2010.

Histórico

O monumento está situado em duas Áreas de Proteção Ambiental: a da Serra da Mantiqueira, federal, e a de São Bento do Sapucaí, estadual. Localizada a cerca de 12 quilômetros da sede do município de São Bento do Sapucaí, a Pedra do Baú, chamada pelos primeiros habitantes de Embahú ("ponto de vigia" em tupi-guarani), recebeu ainda o nome de Canastra (baú grande de guardar pertences), nome dado pelos tropeiros e caboclos da região.

A Pedra do Baú atinge 1.950 metros de altitude e foi escalada pela primeira vez pelos irmãos Antônio e João Cortez. Com equipamentos rudimentares para a escalada, os aventureiros atingiram o topo em 12 de agosto de 1940.

Atualmente, o acesso ao Complexo do Baú, conjunto de montanhas rochosas constituídas pelo Bauzinho, Pedra do Baú e Ana Chata, é acessível desde as cidades de São Bento do Sapucaí e Campos do Jordão por estrada asfaltada que interliga os dois municípios.

Fontes:

Anuário do Jornal do Brasil, ano 1930
http://www.extremos.com.br         

                                                    Picaria de Bestas Novas (1857)

O Brasil do século 19 moveu-se no lombo de bestas. Os muares tornaram-se o meio de transporte por excelência das regiões não-litorâneas do Brasil imperial. As culturas do café e da cana-de-açúcar, centros dinâmicos da economia brasileira no período, dependeram funcionalmente dos serviços das tropas de bestas, tanto para o escoamento de sua produção quanto para o abastecimento regional com gêneros de outras localidades. Sem as bestas de carga o Brasil teria andado ainda mais lentamente do que de fato andou.

Estas unidades fiscais, encarregada de recolher os tributos que incidiam sobre a entrada de animais soltos (i.e., sem carga) na província de São Paulo e Minas gerais, além de arrecadar vultosas quantias para os cofres provinciais, deram origem a uma extensa e rica herança documental. A Recebedoria, ou Estações Fiscais existiam, dentre outros objetivos, para arrecadar impostos e taxas itinerárias fixas e proporcionais nas barreiras, sobre o uso de estradas de comunicação da província com a capital do Império, direitos de passagens de rios, produto das barreiras que se achavam estabelecidas, e o de fiscalizar nos respectivos municípios a exportação de gado e importação de bestas novas.

Na região da Serra da Mantiqueira, havia 4 recebedorias: Picú, Mantiqueira, Itajubá e Sapucahy-Mirim. Foram criados os pontos de vigias nos lugares denominados – Santa Bárbara e Campos do Jordão – os quais ficariam sujeitos à recebedoria do Sapucahy-Mirim, e bem assim arbitrados em 35$000 mensais os vencimentos de cada um dos respectivos empregados. Eram funcionários, administradores, encarregados de fiscalizar a Estação, a exportação de gado e a entrada e o direito sobre bestas novas, coletores e escrivães. Os objetos sujeitos ao pagamento dos direitos eram: cada pessoa a pé; cada pessoa a cavalo; cada ovelha, cabra ou porco; cada animal cavalar vacum, ou muar, sem sela, freio ou cangalha; cada dito com sela, freio, ou cangalha, sem cavaleiro, ou carga; cada carro; cada carga de um animal; cada dita de um carro.

No ano de 1857, do comandante do destacamento da Recebedoria do Sapucahy-mirim, consta haver sido assassinado o soldado do corpo policial Damaso da Matta, que em companhia do Cabo Silvério Quirino Alves voltava dos Campos do Jordão (SP), onde se achava em diligência de vedar o extravio de bestas novas dali importadas. O cabo foi recolhido à prisão como indiciado de tal crime.

Em 11 de janeiro de 1868, ficou o governo autorizado a reformar o regulamento número 55, aumentando o número de vigias nos pontos intermédios à recebedoria do Picú, e da Ponte Alta, elevados os respectivos vencimentos, e os dos recebedores em ordem a granjear um pessoal apto, expedindo ordens aos coletores para fiscalizar nos respectivos municípios a importação de bestas novas, gratificando os referidos coletores com 20% sobre os valores dos extravios arrecadados; e para melhor fiscalização da arrecadação deste imposto, o presidente desta província entender-se-á com o de S. Paulo, afim de consentir que se coloquem vigias em Lorena, Pindamonhangaba, Campos do Jordão e Taubaté.

Os burros e as bestas - Cruzamento da égua com o jumento, são muares. A geração do cruzamento é um animal híbrido, estéril. São resistentes e considerados animais de carga, usados pelos homens como meio de transporte de materiais carregados sobre o dorso do animal. Eram bestas novas, mansas, superiores, arreadas com cangalhas, próprias para todo e qualquer serviço e transporte. Muito bem amestradas, prontas para trabalhar em cordões, prontas para carro. Bestas próprias para sela, carro e carroça. Próprias para viagem. Também eram ensinadas, para Tilburi, carro de duas rodas e dois assentos (tilbureiro e passageiro), sem boleia, com capota, e tirado por um só animal.

Havia nessa região pastagem muito boa para as bestas; pastagens nativas e sem nenhuma presença de agrotóxicos. As vacas pastoreavam diversas espécies de gramíneas e leguminosas nativas, e outras espécies vegetais.

Fontes:

Diário de Minas, 11 de janeiro de 1868

Novo e Completo Índice Cronológico da História do Brasil - 1842 a 1889

A Província de Minas, 18 de novembro de 1886

Livro da lei Mineira - Ouro Preto - 1846




Palácio Boa Vista



Em 1946, o Interventor em São Paulo, Dr. Adhemar de Barros, presidiu, em Campos do Jordão, as solenidades do lançamento da pedra fundamental do “Palácio Boa Vista” e do “Grande Hotel” que ali seriam construídos pelo Estado.
 
Campos do Jordão, como ninguém desconhece, é uma das zonas mais salubres do Brasil e, sem dúvida, do mundo. Clima admirável, paisagem europeia, chama-lhe, os maníacos das comparações, “Suíça Brasileira”. Uma homenagem à Suíça? Talvez. O fato, entretanto, é que pela riqueza de seus ares balsâmicos, Campos do Jordão foi o refúgio para os doentes que ali revigoraram o corpo combalido e, muitas das vezes, o espírito atormentado.
 
O Dr. Adhemar de Barros, como médico, como administrador e, sobretudo suas vistas para este recanto privilegiado do Brasil que governa, mandou ejetar, para execução imediata, uma larga série de obras públicas. Primeiro, o “Palácio Boa Vista” e o “Grande Hotel” e em seguida muitas outras realizações.
 
Nos verões, S. Paulo é quente; o sol, chegando primeiro no famoso planalto de onde os “bandeirantes” partiram para a conquista da metade das terras que o Brasil hoje possui _ o sol, como ia dizendo, chegando ai primeiro, é feroz. O governo paulista resolveu com a construção do “Palácio Boa Vista”, ter seu palácio de verão, muito justo, aliás, uma vez que os governadores precisam de descanso sadio, como qualquer mortal e, talvez, mesmo, mais do que qualquer mortal. Mas, o Dr. Adhemar de Barros une o útil ao agradável. Parece-nos, mesmo que o agradável nesse caso, só entra aí em função de sua utilidade.
 
De fato, Campos do Jordão não alcançaria o alto grau de progresso que merece e precisa, porque está muito longe do centro da administração paulista. Não havendo outro modo de aproximar as distâncias, o interventor Dr. Adhemar de Barros resolveu, sabiamente, que os governadores de São Paulo residam naquela magnífica zona um, dois ou três meses, ao ano.
 
Assim sendo, milhares de pessoas também se transportarão para ali, gente da administração, da política e da sociedade... vão ver como as coisas se passarão. Em breve, como acontece com Petrópolis, Campos do Jordão disputará como cidade de elegância e saúde, à sua orgulhosa rival da Serra da Estrela...
 
Boa e útil iniciativa a do interventor Dr. Adhemar de barros, com as obras com que vai dotar a zona paulista, que lhe merece especial simpatia.
 
“Palácio Boa Vista”... _ o nome nos recorda os títulos que se davam às casas solarengas em recente passado histórico, no qual miramos uma época de grandeza do Brasil, quando os barões do Império civilizaram o interior do país com as suas casas residenciais, que ainda hoje admiramos.
 
O estilo do “Palácio Boa Vista” é, como se vê, junto ao nome, uma volta necessária à arquitetura natural em nosso país, porque reúne o bom gosto e a tradição.
 
Fontes:

Jornal "O Radical" 01/06/1946
 
 

                        Petição para a Divisão da Fazenda Natal em 1892

 
O cidadão Orlando Brasil, Juiz Municipal, 1º suplente em exercício nesta cidade de São Bento do Sapucahy, etc.
 
Faço saber que por parte do Doutor Domingos José Nogueira Jaguaribe, Barão de Bocaina e Major José Ignácio de Camargo Penteado e suas mulheres me foi feita a petição seguinte:
 
Dizem o Doutor Domingos José Nogueira Jaguaribe, o Barão de Bocaina e o Major José Ignácio de Camargo Penteado que são senhores e possuidores de grandes partes de terras na fazenda denominada Natal, nos Campos do Jordão, comarca de São Bento do Sapucahy, deste Estado, por compra que fizeram: o primeiro suplicante a Matheus da Costa Pinto e sua mulher; Antonio da Costa Pinto e sua mulher; Capitão Joaquim Bernardes de Gouvêa e sua mulher; doutor Joaquim Henriques de Andrada e Silva; Silvério Rodrigues Jordão Junior e sua mulher; Theóphilo Prado de Azambuja e sua mulher; doutor Amaro de Araújo Ribeiro e sua mulher; o segundo a José da Costa Pinto e sua mulher; João Fernandes de Moura Rangel e sua mulher; Paulino Marcondes Monteiro e sua mulher; José Basílio Monteiro; dona Maria Delfina de Moura Rangel e dona Marianna de Mora Rangel; o terceiro a dona Maria Thereza Raposo de Almeida e sua mulher, conforme as respectivas escripturas, extractos e certidões e transcripções juntas e outras que se juntarão.
 
Esta fazenda Natal tem as confrontações seguintes: começa pelo espigão do Bahú, segue pelo espigão do Campista, pela Água Santa, pelos Correntinos, Charco, Burequy, nos limites com Itajubá, segue pelo lado oposto pelas vertentes das serras chamadas do Parahyba, em toda a sua extensão desde os municípios de Lorena, Guaratinguetá, Pindamonhangaba, e São Bento do Sapucahy, ao qual pertence a maior parte dos Campos até o alto do Piracuama, e deste a unir-se com o Bahú, onde começou, sendo calculada a sua extensão em cerca de dez léguas de comprimento por três a quatro de largura.
 
São condôminos da fazenda do Natal o Barão de Lessa, a viscondessa do Parahybuna, o autor Francisco Marcondes de Moura Romeiro, Nicolao Aredes Tavares, doutor Elias Marcondes Homem de Mello, Antonio Amador Bueno de Godoy, José Benedicto Marcondes Machado, doutor João Antonio Cezar, Matheus da Costa Pinto, doutor Júlio Pinto Rebello Pestana, Antonio Pereira da Rosa, residente em Pindamonhangaba, a Companhia Alpestre Balneária com sede na capital, doutor Augusto Cezar de Miranda Azevedo, doutor Braulio Gomes, doutor José Vicente de Azevedo, residentes em São Paulo, o conde de Moreira Lima, residente em Lorena, Casimiro Bazin, residente na capital federal, Bebiano Pereira da Rosa, residente na Vargem Grande, Estado de Minas Geraes, e Joaquim Pereira da Rosa, morador na fazenda dividenda.
Os suplicantes possuem diversas benfeitorias, sendo que outros de entre os condôminos suplicados no-las tem no sítio dividendo.
 
Estando o referido Natal pró-indiviso e não convindo aos suplicantes manter por mais tempo a actual comunhão, querem promover a divisão dela afim de ser separado e demarcado o quinhão que em a mesma lhe cabe, à vista dos seus títulos, de modo a cessar completa e definitivamente aquelle estado de comunhão.
E, pois, requerem a V. S. digne-se ordenar a citação do condômino Joaquim Pereira da Rosa, residente nesta comarca na referida fazenda no lugar denominado Bahú, e bem assim a dos condôminos e interessados que na comarca forem encontrados, nos termos do art. 1º do regulamento 720, de 5 de setembro de 1890, e a citação por edital com prazo de 30 dias, nos termos do art. 4º § 1º do referido regulamento 720, para os condôminos acima nomeados residentes em Pindamonhangaba, São Paulo, Lorena, Capital Federal, e a citação por edital com prazo de 90 dias, nos termos do art. 4º §2º, a Bebiano Pereira da Rosa, residente na Vargem Grande, Estado de Minas, e a de todos os condôminos e interessados incertos e desconhecidos que se julgarem com qualquer direito nas terras dividendas, e dos representantes legítimos de que se verificam que forem incapazes para comparecerem na primeira audiência em que forem acusadas as citações nos termos do art. 10º §1º do regulamento mencionado, a fim de se louvarem com os suplicantes em agrimensor e arbitradores que procedam aquela divisão para reciprocamente se abonarem as despesas que com a mesma forem feitas, ficando desde já citados para todos os termos e atos judiciais da causa até final sentença e sua execução, sob pena de revelia.
 
Avalia-se a presente causa em cento e cincoenta contos de réis (150:000$000) P.P.N.N. inclusive o depoimento das partes e testemunhas e de informantes, quando mister. Outrossim requerem os suplicantes as diligências da remessa dos editais sobre registro para o juízo das comarcas, Pindamonhangaba, Lorena, São Paulo, Vargem Grande e Capital Federal, e as mais diligências legais juntam-se os títulos de jus in re dos autores e as devidas procurações. Nestes termos pedem a V.S. que autuada esta com os documentos juntos, seja esse deferido prosseguindo-se nos termos ulteriores da lei.
Juntam-se seis documentos, P.P. juntar mais e esperam receber mercê.
 
São Bento do Sapucahy, 29 de maio de mil oitocentos e noventa e dois. O bacharel advogado Antonio Martins Fontes Junior. Seguem duas estampilhas de duzentos reis devidamente inutilizadas _ E porque justificam o deduzido em sua petição lhes mandei passar a presente carta de edital com o prazo de 90 dias, pela qual cito, chamo e requeiro a Bebiano Pereira da Rosa, residente em São Caetano da Vargem Grande, Estado de Minas Geraes, os sucessores e representantes deste, caso tenha o mesmo falecido, e todos os condôminos desconhecidos e ausentes incertos e interessados que se julgarem com qualquer direito nas terras dividendas e a intervir na divisão requerida, a fim de que venham todos à primeira audiência deste juízo que se fizer, findo o dito termo de 90 dias, se louvar com os autores em agrimensor e arbitradores que procedam a divisão da referida fazenda e para reciprocamente abonarem as despesas, sob pena de revelia, tudo na forma da lei, sendo as audiências deste juízo na sala das sessões da intendência municipal aos sábados ao meio-dia.
E, para que chegue ao conhecimento de todos, mandei passar o presente que será publicado pelo jornal da Vargem Grande e publicado no jornal oficial do Estado de Minas. Dado e passado nesta cidade de São Bento do Sapucahy, 1º de junho de mil oitocentos e noventa e dois. Eu Albino Vieira Xavier de Castro, escrivão, o escrevi. Carta de editos de 90 dias pela qual são citados Bebiano Pereira da Rosa, e todos os condôminos nos Campos do Jordão e fazenda do Natal, esta neste município, para o fim da mesma declarado. _ Orlando Brasil
Está conforme e conferida por mim escrivão, Albino Vieira Xavier de Castro, que a subscrevi e assino. _ Albino Vieira Xavier de Castro.

Fontes:
Diário Oficial
Minas Geraes – Órgão Oficial dos Poderes do Estado
Ano I Quinta-feira, 11 de agosto de 1892

IMBIRI   


Originária do Himalaia, China e Madagascar, e aclimatada nas Américas, principalmente no Brasil, onde é encontrada em todo o território, sendo mais frequente nas regiões Sul e Sudeste. Com isso, estas floridas plantas se adaptaram bem ao solo montanhoso de Campos do Jordão. Matheus da Costa Pinto soube muito bem disso, e não é à toa que formou vila junto ao rio que leva o nome da planta: IMBIRI.

É uma planta canácea, também conhecida pelos nomes comuns de bastão de São José; maracá; coquilho; albará; bananeira-do-campo; lágrima-de-vênus, lírio-branco, lírio-borboleta, jasmim-do-brejo, gengibre-branco, Albara. Bananeirinha, Beri; Biri; Bananeirinha-da-india; Bananeirinha-do-mato; Caite; Caite-conta-de-rosario; Caite-conta-de-rosario-compacto; Caite-conta-de-rosario-da-india; Caite-conta-de-rosario-de-blumenau; Caite-conta-de-rosario-de-otto; Caite-conta-de-rosario-denudado; caite-conta-de-rosario-flacido; Caite-conta-de-rosario-geral; Caite-conta-de-rosario-glauco; Caite-conta-de-rosario-glauco-angusto; Caite-dos-jardins; Caite-imbiri; Cana ottonis; Cana-da-india; Canna compacta; Canna confusa; Canna denudata; Canna flaccida; Canna glauca; Canna indica; Canna x generalis; Coquilho; Embiri; Imbiri; Muru.lírio de maio, (nome da espécie, recorre ao mês de maio, época em que a planta floresce); lírio convallaria (O nome de gênero, Convallaria, em latim significa “dos vales”); lágrima-de-moça; jasmim-borboleta, Mariazinha.

O IMBIRI é encontrada nas margens de lagos, à beira das matas, ribeirões e serve de abrigo para a fauna silvestre em lugares úmidos ou brejos e floresce nos meses da primavera. Como o nome indígena tupi-guarani sugere, Mbiri, significa “folha larga”, o que não combina com esta planta. É frequentemente encontrada em regiões de brejo, pantanosos, onde o solo é úmido e rico em matéria orgânica, o que facilita seu desenvolvimento, infestando margens de lagoas, canais de drenagem e pastagem em baixadas úmidas. Muito vigorosa, forma densas infestações que obstruem pequenos riachos e canais. A flor é branca ou de coloração amarelada, muito perfumada e lembra o jasmim.

Possui uma natureza exuberante, água abundante e solo rico em material orgânico o que propicia o desenvolvimento e propagação desta espécie vegetal. Possui uma folhagem verde brilhante muito ornamental. Esta planta palustre é muito vistosa. Seu crescimento é muito rápido e pode ser cultivada em grupos para melhor valorização de seu efeito paisagístico. Trata-se de uma herbácea ereta, florífera e aromática. Vale dizer: suas flores também fornecem néctar para abelhas. Suas folhas e caules são simples e as sementes de forma ovalada e coloração avermelhada. Aprecia solos ricos em matéria orgânica e brejosos, isto é, permanentemente molhados, sem, no entanto, ficar abaixo da água. Seu porte varia entre 1,5-2,5 metros de altura. Deve ser cultivada à sombra. Multiplica-se por divisão das touceiras, tomando o cuidado de deixar uma boa parte de rizoma e folhas em cada muda. Sua flor é perfumada com cheiro parecido com outras espécies de jasmim.

Foi verificado que o lírio-do-brejo, como tantas outras espécies exóticas, tem um enorme potencial de modificar sistemas naturais, o que torna as plantas exóticas invasoras a segunda maior ameaça mundial à biodiversidade. É uma macrófita aquática considerada exótica e invasora fora da região do Himalaia, seu centro dispersor. Devido ao rápido crescimento e dispersão, apresenta potencial invasivo, expulsando espécies nativas ao seu redor, o que, em muitos casos, pode resultar em perda da biodiversidade local. É considerada planta daninha por agricultores e pesquisadores, substituindo a vegetação original. É usada também na produção de papel, já que a haste contém de 43 a 48% de celulose, e as folhas da flor possuem uma grande quantidade de lignina, substância também utilizada na fabricação de papel. Sua raiz costuma ser usada na indústria cosmética, na fabricação de perfumes, óleos essenciais e cremes, mas é muito caro e frequentemente é substituído por substâncias sintéticas. Seu perfume é de frescor e delicadeza.

O interesse pelo estudo da flor lírio do brejo se deve ao fato de que ainda não havia sido estudada para obtenção de ativos naturais destinados à produção de cosméticos ou outras finalidades. Um estudo se desenvolveu no contexto do MBA Business Intuition: O Empreendedor e a Cultura Humanista, da Faculdade Antônio Meneghetti e contou com a colaboração do Laboratório de Farmacognosia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e do Laboratório Herbarium, de Curitiba para a identificação dos ativos da flor. A elaboração dos produtos é da Farmácia Essencial com sede em Porto Alegre. As premissas do desenvolvimento sustentável permearam o trabalho que se apresenta e os resultados alcançados até a presente data são a elaboração e comercialização de mais de trinta produtos da marca Lilium Recanto. Apesar de comestível, é pouco utilizada na gastronomia. De seus rizomas (caules), é possível obter uma fécula comestível.

O amido presente no rizoma da planta é usado na alimentação de animais de criação, e deste também se extrai a fécula que é utilizada para a confecção de doces e biscoitos. Na medicina popular, é usada como béquica (acalma a tosse e as irritações da faringe), diurética, excitante, tônica, antirreumática, problemas na garganta, gases e também para reduzir a pressão alta.

O chá das folhas é empregado, em uso externo, contra coceiras e micoses. O rizoma é diurético. Possui folha tão macia que serve para curar feridas, suas folhas frescas aplicam-se, socadas, sobre as feridas, úlceras, queimaduras e lugares vesicados. O extrato do lírio-do-brejo é usado no tratamento de dores, ferimentos, infecções em geral. Na Índia, o rizoma seco ou moído, mexido com leite de vaca, é potente no tratamento da diabetes; isso devido ao comprovado óleo hipoglicêmico, encontrado na espécie de mesmo gênero; mas, ainda não há estudos que mostrem o efeito da flor sobre diabéticos. De acordo com a medicina tradicional chinesa, os rizomas servem contra dores de cabeça, dores intensas, contusões e reumatismo. Experimentos comprovaram eficiência do extrato do rizoma, tanto seco quanto fresco, em atividade antimicrobiana contra Bacillus subtilis, Pseudômonas aeruginosa, Cândida albicans e Trichoderma sp., sendo as duas últimas causadoras de dermatites; o óleo volátil tem ação anti-helmíntica. Extrato do caule obtido por decocção e infusão mostrou-se ativo para Bacillus subtilis e pseudômonas aeruginosa. As folhas apresentaram potente efeito diurético e anti-hipertensivo. Possui a propriedade de inibir o aumento da permeabilidade vascular e produção de óxido nítrico em ratos.

Já as flores, sob forma de infusão, também possuem efeito diurético e redutor da pressão arterial.

O suco da planta, emprega-se, exteriormente, nas otites. Para uso externo, duas colheres de sopa da raiz picada de imbiri; coar e pingar duas gotas em cada ouvido três vezes ao dia, tapar o ouvido com algodão para o suco não escoar. Estudos na área de ciências agronômicas, salientam as maneiras de se empregar o lírio-do-brejo no tratamento de esgotos. A planta apresentou muita eficiência na remoção de poluentes, redução de DBO (demanda bioquímica de oxigênio), na oxigenação do substrato amoniacal e na remoção de coliformes, demonstrando que o tratamento é bastante eficiente na remoção de sólidos, matéria orgânica e micro-organismos; um potencial em tratamento de efluentes, pois esta mostrou 99,58% de redução de coliformes totais da água contaminada com microrganismos.

Também é uma planta vigorosa, utilizada para contenção de encostas, mas que dificulta que outras nativas brotem. A lenda diz que que o lírio-de-maio foi um presente de Apolo para Esculápio, deus da cura. O lírio por ser uma linda flor, é frequentemente usada em buquês nupciais.

Fontes:
Plantas Medicinais - Irmão Cirilo
Tudo Verde - Francesco Bianchini e Azzura Carrara Pantano
A Flora Nacional na Medicina Doméstica - A. Balbach
Plantas para Jardim no Brasil - herbáceas, arbustivas e trepadeiras - Harri Lorenzi
Lembretes:
Há muitas variedades de imbiris. Nome científico: Canna Glauca. (Glauco= esverdeado). Família: Canáceas. Canna X generallis L. H. Bailey
Não usar plantas medicinais sem orientação de um especialista.
Os rizomas das canáceas são ricos em amido.
"Nada é veneno; tudo é veneno. A diferença está na dose." (Paracelso)
Imagens: Imbiri - Canna angustifolia, Canna glauca... Canguçu RS, Campos do Jordão SP, Brasil


Calvila, o Primeiro Calvados Brasileiro em Campos do Jordão

Além da fabricação de excelentes sucos e geleias de frutas, doces e bebidas, a Sociedade Belfruta Ltda., destacou-se a nível nacional, com a fabricação da famosa “Calvila”, aguardente de maçã, maravilhosa, finíssima e deliciosa.

Um destilado feito da sidra, suco fermentado de maçã, de finíssima qualidade e saborosíssimo paladar. Servida pura e gelada, porém alguns a saboreiam como refresco, misturada com água tônica e uma fatia de limão.

O primeiro calvados brasileiro[1], produzido com muito esmero em Campos do Jordão, em larga escala na década de 1950, que obteve sucesso nos mercados consumidores do País.

Em 1957, acabou a fabricação da Calvila, o primeiro “calvados” brasileiro.

Na década de 60, no Sítio Natal de propriedade do Barão e Baronesa Von Lightner, localizado nas proximidades do Palácio Boa Vista, por meio de muito esforço e dedicação do administrador Max Ambühl, um suíço radicado em Campos do Jordão, e dos empregados daquela Fazenda.

A Agroindustrial Campos do Jordão Ltda., responsável pela fabricação de excelentes produtos, incluindo diversos tipos de geleias de frutas e conservas, com a marca HOMEMADE, conseguiu fabricar por mais de duas décadas, um outro destilado de maçã, talvez o segundo “calvados” jordanense e brasileiro de outras frutas, denominado “Eaux-de-vie”, muito apreciado e distribuído aos mercados do País.

Em 1993, a fabricação também foi paralisada pelos proprietários que assumiram a propriedade.

[1] Calvados é a designação de uma bebida alcoólica destilada, originária da Baixa-Normandia, França, feita à base de maçã, da qual é extraída a sidra que depois é fermentada e destilada.


Uma Viagem aos Campos do Jordão em 26 de Outubro de 1885 

 
O expresso que parte da Côrte às 5 horas da manhã chega à 1 hora e 37 minutos da tarde a Pindamonhangaba, ponto escolhido como o melhor para aqueles que se dirigem aos Campos do Jordão, 40 km. Distante dessa cidade.

Pindamonhangaba está situada na margem esquerda do rio Paraíba, a montante, na parte mais elevada, pelo que domina toda a planície que se estende ao sul até a cordilheira.

Chegando-se à estação não se descobre a cidade em sua maior parte, por causada disposição de terreno, e de uma grande construção de taipas que há junto à estrada de ferro.

De todo o norte de S. Paulo é incontestavelmente essa cidade a mais bonita, pelo que foi mui justamente chamada: Princesa do Norte.

Entretanto é inacreditável que em tal cidade só houvesse um hotel, aliás modesto, e que, atualmente, esse mesmo tenha fechado as portas, por falta de hóspedes!

Por esse fato hoje, o viajante que se dirigir aos Campos do Jordão, e não tiver conhecimentos na cidade, tem forçosamente de procurar recursos em Taubaté, cidade colocada mais ao sul três léguas, o que não aumenta a distância para os Campos, felizmente para ele.

Ao sair da cidade pela porta sul, que é o caminho a seguir, tem o viajante diante de si uma vasta planície, cujo longínquo limite é a cordilheira conhecida por Serra da Mantiqueira.

Comunica a cidade com a margem oposta do Paraíba pelo Aterrado, que é uma estrada reta na extensão de quilometro e meio, atravessando um grande brejo, que finda junto à ponte que atravessa aquele rio, o qual nesse ponto tem muito aproximadamente 100 metros de largura e bastante profundidade.

A dois quilômetros além da ponte encontra-se a estação dos vapores que navegam até a Cachoeira, ponto terminal, no ramal de S. Paulo, da ferrovia D. Pedro II.

Um quilometro mais além, o viajante que parar na estrada e voltar-se avistará sobre uma elevação a cidade de Pindamonhangaba.

Pelas torres das igrejas, pelos terraços dos palacetes e grandes edifícios e pela alvura das paredes, de todo esse conjunto de edificações, assemelha-se a juma cidade árabe no deserto, tantas vezes vista nessas gravuras de folhas ilustradas.

Adiante do lugar chamado Bom Sucesso, começa a estrada a costear o rio Piracuama, acompanhando a margem direita.

As águas desse rio correm em leito pedregoso e arenoso, vendo-se o fundo, onde muitas vezes há mais de 2 metros de profundidade, tão limpas e cristalinas são.

Quando o tempo ameaça chuva ouve-se a duas léguas distante o roncar da cachoeira na serra, lugar onde o rio tem a sua nascente.

Seis quilômetros antes da serra atravessa-se o rio para a margem esquerda, e desse ponto em diante a estrada não o acompanha, oera se afasta, mas, ouvindo sempre o viajante o marulhar das águas nos inúmeros rápidos de seu leito; seguindo-se assim até o ponto chamado Bicudo, ponto onde se repousa um pouco antes de se tentar a subida da Serra, o que se leva a efeito nunca antes de duas horas depois da partida.

No ponto culminante da Serra, à esquerda, há um atalho que conduz a um despenhadeiro, onde a rocha é cortada a pique na altura talvez de u800 metros. Chegado a esse lugar, o viajante dá por bem paga a fadiga para gozar do surpreendente panorama que dali se divulga, um dos mais grandiosos, sem dúvida, dessa parte da província de S. Paulo.

Estando a atmosfera límpida e não pairando sobre a planície esses vapores que interceptam a vista de quem se acha nos pontos elevados, ver-se-á ao norte, distante aproximadamente dez léguas, emergindo do fundo pardacento peculiar das planícies observadas de longe, uma pequena mancha, esbranquiçada como um lenço sobre um campo: é a cidade de Guaratinguetá.
 
Em frente ao viajante, 4 léguas apenas, e claramente visível, Pindamonhangaba; mais ao sul, igualmente visível, Taubaté, tendo próximo o Tremembé, lugar notável pela festa que anualmente ali se faz.

À mesma distância daquela primeira cidade, e pouco visível, demora Caçapava.

Com o auxílio de um binóculo ver-se-á juma linha escura com lampejos metálicos de longe em longe, atravessando toda a planície em curvas caprichosas e passando junto a esses pontos esbranquiçados: é o grandioso Paraíba, tão temido em suas cheias.

Embaixo, nas proximidades da Serra, veem-se algumas fazendas com as respectivas plantações e, espalhadas por entre a mata, palhoças de gente pobre, palhoças que assemelham casas de castores, vistas à grande distância em que estão.

Urgindo partir, afasta-se o viajante desse lugar aprazível e após alguns passos na descida da serra para o lado da freguesia de Santo Antonio do Pinhal, pode, se estiver sequioso, saciar a sede com a água de juma pequena nascente que há, a melhor água talvez de toda a província de S. Paulo; bebe-se mesmo sem sede, só pelo gosto de beber, tão fria e cristalina é ela.

Uma hora depois da partida desse ponto, chega-se ao centro do povoado da freguesia, lugar em que, à esquerda da estrada, fica a igreja matriz, em frente da qual, a poucos metros, ao mando do celebre frei Caetano de Messina foi alçado um enorme Cruzeiro.

Esse grosso madeiro, para ser posto em tal lugar, seria mister despender-se alguns centos de mil réis, e no entanto, em seguida a uma prédica daquele missionário, foi erguido sem demora e sem dispêndio para a Paróquia!

Ess freguesia está metida entre altas montanhas; a da direita é a Serra, em cujo cimo principia a zona dos Campos, e a da esquerda é um importante contraforte, em seguida do qual continua a Mantiqueira.

O aspecto da povoação é triste e silencioso, desse silêncio nato da indolência dos habitantes do local.

As casas estão em alinhamento acompanhando a estrada que corta a freguesia, à direita e à esquerda, sem ordem nem método.

Nas imediações há algumas choupanas no meio de terreno inculto, e igualmente incultos estão todos os quintais e mais terrenos pertencentes às casas restantes, o que atesta sem dúvida a ignorância de princípios de boa economia resultante da pequena lavoura, ou mais claramente dito, a muita aversão ao trabalho.

Isso que se nota nesse lugar é infelizmente a cópia do que se passa em outros lugares do interior de nossas províncias.

No entanto, essa freguezia possui todos os elementos para chamar parte da concorrência que se dirige para os Campos do Jordão, e se tal não acontece é devido unicamente à falta de recursos no local, onde muitas vezes o viajante a custo obtém um almoço ou jantar, quando transita.

O clima é magnífico, o terreno bastante rico, o ar contrário dos Campos, é mais abrigado dos ventos dominantes.

Apesar da indolência dos seus habitantes e do pouco trato que a si próprio dão, é raro ver-se um indivíduo com a fisionomia indicando pouca saúde, como em outros pontos é comum encontrar-se, por exemplo na nossa província do Rio ou mesmo em alguns lugares de Minas.

De Pindamonhangaba a Santo Antonio do Pinhal a viagem é feita em boas condições, porém, desse último lugar até aos campos do Jordão, as estradas são péssimas, e, se o caminhar torna-se penoso para viajantes acostumados a esses caminhos o que não sofrerão pessoas enfermas?

É talvez uma das causas da pouca concorrência, essa falta de meios fáceis de transporte, o que aliás é para lamentar, porquanro num clima tão vivificante devia ser aproveitado pelos que sofrem e a quem a mudança de ares é aconselhada.

Os tuberculosos, cujo estado mórbido seja extremo, não devem tentar tal viagem, mesmo porque nenhum resultado obteria, e a razão, adiante a darei.

A estrada que tem de ser transitada é extremamente acidentada, subindo-se em certos lugares planos inclinados de 40 graus.

Estrada é um modo de dizer: o que há são verdadeiros atalhos e caminhos de cabras; chega-se mesmo a percorrer o leito pedregoso de um pequeno regato na extensão de 200 metros.

Alguns quilômetros além do lugar chamado Campo do Barbudo avista-se a Pedra do Bahú, rocha imponente e despida de vegetação, e locada na base sul da montanha que enfrenta com a pequena cidade de S. Bento do Sapucaí, quase na divisa da província de Minas.

Essa pedra é notável pelas figuras que, com muita semelhança, representa, quando vista de pontos diversos.
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Aqui, vê-se um gigantesco nariz; ali uma mitra perfeitamente contornada; além, uma pirâmide, e sempre mudando as figuras segundo a colocação do viajante.

Deixando se a estrada para tomar-se o caminho que conduz aos campos, começam as dificuldades da ascensão.

Esse caminho é em subida íngreme, e de uma largura que mal deixa passar um animal, cujo cavaleiro vê-se em sérios embaraços para livrar-se da ramagem das árvores, algumas guarnecidas de espinhos, que põem em risco os olhos de quem sobe.

Não descreverei o que se passa e o que é mister fazer, quando em sentido oposto duas conduções de viajante se encontram: uma tem forçosamente de mergulhar no mato para ceder o passo à outra.

Finalmente, depois de muitos incômodos chega-se ao termo da subida, lugar onde principiam as lombas que formam os Campos do Jordão, cuja área não é totalmente plana. Todavia sua extensão é tal que, as duas cidades reunidas do Rio de Janeiro e Londres, com os respectivos arrabaldes, aí ficariam muito à vontade.

Os campos do Jordão começam um pouco aquém da Soledade, na província de Minas, estendem-se para o sul até próximo de S. Bento do Sapucaí, na província de S. Paulo, e prolongam-se ao norte até à Cachoeira de Lorena na mesma província: pode-se, portanto, sem receio de contestação, avaliar-lhes a extensão em círculo mui aproximadamente a 200 léguas.

Esses campos são, como já ficou dito, no cimo da cordilheira, da qual fazem parte as Mantiqueira do sul e do norte, o Itatiaia, etc; a largura é vária; todavia, para ser atravessada, é mister o auxílio de um prático, ou de juma bússola quando se saiba usar desse instrumento.

Quem desprezar este ou aquele auxílio e não tiver a prática precisa, há de infalivelmente perder-se nesse vasto Saara de verdura.

A constituição do solo dos campos é interessante porque consta de juma infinidade de lombas, pequenas elevações do terreno assemelhando-se a grandes e alongadas termiteiras achatadas, em cujo cimo há opulenta vegetação de gramíneas, onde em outros pontos são substituídas por pinheiros formando extensas florestas.

Nesses campos só há uma indústria: a pastoril; explorada, porém, como nos tempos primitivos, limita-se a ter o gado solto nos campos, marcar uma ou outra rez nascida e criada no mato, mugir o leite de algumas vacas e arrebanhar quando é preciso vender, e a... não saber o proprietário ao certo quantos animais possui.

Grande é o número de gado bravio que é apanhado sem marca, o que denota dono desconhecido; entretanto, quem apanha o animal marca-o em ato contínuo, ficando firmada a sua propriedade.

Os criadores mais importantes do local são o Barão Romeiro e Matheus  da Costa Pinto.
A fauna da zona dos campos é riquíssima; em aves encontra-se em quantidade a codorna, a perdiz, o jacú, a jaó, o marreco, a galinhola, a jurití, o tucano, etc.; em caça de pelo abunda a paca, tamanduá, veado, caetitú, queixada, e o que é mais importante e perigoso, a onça e o tigre, aquela mais comum do que este, felizmente.

Todavia, não é raro encontrar-se uma onça cuja corpulência e força sejam tais que, com a mesma facilidade apanha um veado ou abate um novilho de ano.

Exceto os pontos ocupados pelos retiros do Matheus Pinto e do Salto, e por algumas palhoças dispersas, toda a zona restante é desabitada, e creio mesmo que, há muitos lugares dos campos, ainda não chegaram exploradores.

O lugar mais frequentado é o retiro do Matheus da Costa Pinto, onde está o melhor hotel para acomodar os enfermos que necessitam do ar puro e saudável dos campos.

O retiro do Salto, um pouco mais ao sul, também recebia enfermos; mas, por motivos que não vêm ao caso, liquidou, deixando de funcionar. Parece-me que atualmente só o primeiro existe.

A residência nos campos é triste, mormente para os que não sabem ou não podem montar a cavalo; além disso, se forem necessários outros recursos fora dos que dá o hotel, só em Pindamonhangaba podem ser encontrados; estando-se nos campos, está-se mais ou menos num deserto.

Quando a atmosfera está límpida, gozam-se panoramas esplêndidos, quer do alto para as planícies, quer nos próprios campos.

Os densos nevoeiros, ali chamados garoa, são frigidíssimos e nas ocasiões em que eles aparecem, a estrada fora de casa é simplesmente insuportável.

O leite é delicioso e abundante, a carne de porco, ovos e galinhas constituem a base da alimentação, não sucedendo o mesmo com a carne fresca, que não é de primeira qualidade, o que é estranhável tratando-se de um lugar em que a única indústria é a criação de gado.

Chegando-se aos Campos começa-se a sentir sensações novas e um certo bem-estar; dir-se-ia os pulões se dilatam com a absorção desse ar vivificante, muitíssimo oxigenado e saturado de princípios resinosos, provenientes das florestas de pinheiros que se estendem em toda a zona dos campos, por toda a encosta da montanha e em suas vertentes ou fraldas.
 
Nessas condições, esse ar penetrará com máxima facilidade nas cavernas pulmonares, e secundado poderosamente do uso de águas puras e cristalinas e de juma alimentação em extremo azotada, fará sentir inevitavelmente ao enfermo os mais salutares benefícios, e a cura não se fará esperar naquele cujo estado mórbido esteja em começo, sendo nessa circunstância mister a permanência por espaço de seis a oito meses para obter-se cura radical e sem receio de recaída.

Quando a tuberculose atinge o segundo período, a permanência dos enfermos nos campos deve ser muito prolongada para obter a paralisação do mal, ou por outra, para torná-lo crônico.

Alguns doentes, satisfeitos com as primeiras melhoras têm regressado, e pouco depois ficam reduzidos ao primitivo estado, o que tem sido observado por muitas pessoas.

Quanto, porém, aos tuberculosos no terceiro período, apenas conseguiram com a sua estada nos campos mais alguns dias de vida, apesar de toda essa abundância de oxigênio e de princípios resinosos, que é a vida respirada nesse lugar privilegiado pela natureza.

Os casos de cura obtidos são devidos única e exclusivamente ao salutar clima, porquanto outros auxílios não têm os enfermos que vão aos Campos.

O doente entrega-se à própria natureza, torna-a por isso o único médico, do qual tem de esperar o auxílio preciso.

Conclui-se, portanto que melhores benefícios tiraríamos enfermos se a natureza fosse ajudada pela ciência médica; então talvez fosse possível a cura da tuberculose em terceiro período nos doentes que se dirigissem para os Campos do Jordão.

Fontes:
Sir Toave
Jornal “Diário de Notícias", 26 de outubro de 1885


                                                                Hospital "Adhemar Pereira de Barros"


Logo após o prefeito sanitário dr. José Arthur da Motta Bicudo ter assumido o cargo com que o honrou o sr. Interventor Federal, dr. Adhemar de Barros, procurou auscultar os principais anseios do povo e notou conversando com uns e com outros que a falta de um Hospital Geral ou Santa Casa, se ressaltava entre as demais necessidades desta Estância que, dado o seu caráter de clima privilegiado, tornou-se uma Estância essencialmente de cura de tuberculose.
 
Foi assim lamentavelmente relegada para um segundo plano a assistência ao operário, quer urbano quer rural. Desse modo,  a Administração via-se assoberbada com a assistência e abrigo aos doentes não somente portadores de tuberculose como também de várias outras afecções e com a assistência à parturiente pobre.
 
Raro era o dia em que não tinham um caso doloroso a resolver e sentiam a consciência tranquila quando ainda chegavam a tempo e então, na maioria das vezes, solicitavam a internação quer na Santa Casa de Pindamonhangaba, quer na de Taubaté, as quais não obstante, sempre receberam os doentes com o maior carinho e eficiência. Reitera-se aqui uma eterna gratidão.
 
Constantemente vinha o macabro pedido do carro fúnebre para o transporte do corpo de uma falecida de parto. Alguma coisa tinham o dever de fazer para solucionar o problema da assistência ao paciente não tuberculoso.
 
Após algumas reuniões com pequeno número de amigos, conseguiram idealizar uma obra que, mesmo modesta, preenchesse as finalidades previstas e assim, foram lançadas as bases de um futuro Hospital geral que cresceria com o tempo e com a própria evolução de Campos do Jordão.
Foram lançadas em terreno fértil, as sementes do bom fruto.
 
No entanto, um óbice ponderável se depara! E o dinheiro? E o terreno? Desanimar? Não!
 
A ideia estava lançada e tinham que submeter o esforço deles à dura prova da resistência. Deviam persistir com o bom e sadio otimismo para vencer. Sofreram bastante, pois, o caminho era áspero e escuro e apenas contavam com a luz da vontade.
 
Dois meses apenas de administração, não davam credenciais para enfrentar o encargo de levar uma obra grandiosa e não os autorizavam a fazer qualquer solicitação oficial de auxílio para tal empreendimento.
 
Por esse tempo, chega ao conhecimento deles que o saudoso ancião João Rodrigues da Silva, então pessoa de recursos, manifestara intenção de os auxiliarem e com esse objetivo poria à disposição deles um terreno e certa quantia em dinheiro. Procuraram incontinenti se aproximarem desse já benemérito de Campos do Jordão e dos primeiros contatos, tiveram a convicção de que grande seria sua colaboração na concretização do ideal deles.
 
Este começou a criar corpo, até que a o9 de outubro de 1938, conseguiu-se reunir grande número de amigos, neste mesmo local, onde foi exposta a ideia que mereceu aprovação unânime. Sentiram que a vitória lhes sorria, porque além da aprovação de todo o povo, tinham conseguido para essa reunião a presença do ancião que unia o seu, ao ideal deles – João Maquinista comparecia acompanhado dos srs. Drs. Gama Rodrigues, Urbano Figueira, José Cembranelli e Hugo de Comenico, que de Taubaté se transportaram para ali, o dr. Gama para afirmar em público, não somente seu apoio sincero à ideia deles, como também para endossar e garantir a boa vontade do sr. João Maquinista em colaborar com seus recursos, na obra que se esboçava.
 
Essa reunião foi entusiasmo e esperança, compromissos de trabalho e apoio! Sem descrer!
 
Foi então aclamada uma diretoria provisória, com a incumbência de elaborar os estatutos da nova Sociedade Filantrópica que se fundava em Campos do Jordão. Esta diretoria, que teve também ao seu encargo, legalizar a instituição e angariar os primeiros donativos, ficou assim constituída:
Presidente de honra: dr. Gama Rodrigues; presidente: dr. Motta Bicudo; vice-presidente: João Rodrigues da Silva: 1º secretário: Eginhard de Mello Menezes; 2º secretário: Eduardo Moreira da Cruz; 1º tesoureiro: O. L. Cardoso; 2º tesoureiro: Aldo Olivieri.
 
Foi marcado o dia 15 de novembro de 1938 para nova assembleia geral, que se realizou neste mesmo local, a estas mesmas horas., ficando então consagrado, este dia, uma data nacional, o dia do aniversário do Hospital de Campos do Jordão “Dr. Adhemar de barros”, em homenagem ao chefe que por essa época já se impunha à gratidão de todos os brasileiros de S. Paulo, pela sua grande vontade de dar ao povo de sua terra, a assistência médico-social de que tanto se ressentia e que tantas vezes lhe fora prometida pelos governos passados em troca de sua adesão e de seu voto.
 
A homenagem que então se prestou ao grande chefe, tinha sua razão de ser, pois todos tinham ciência do que fora feito de então, pelo governo do Estado, com o objetivo de minorar o sofrimento e a dor. E, nesse setor médico-social, Campos do Jordão já tinha sentido os efeitos benéficos da ação do governo, cujo amparo tanto se ressentia a massa que construiu a grandeza da terra bandeirante. O que foi feito de então, pelo Chefe do governo, para minorar o sofrimento e a dor, todos conheceram. Esta referência é porque o Hospital fundado em 1938, tomou o nome honrado e digno de Adhemar de Barros. A denominação de Hospital de Campos do Jordão “Dr. Adhemar de Barros”, digno e já tantas vezes consagrado até fora da terra bandeirante, mas tão somente de pagar uma pequena prestação de uma grande dívida, que esta terra contraiu com o único Chefe de Estado que resolveu fazer brilhar este diamante esquecido.
 
Na memorável assembleia geral de 15 de novembro de 1938, às 10,30 mhoras da manhã, neste mesmo salão, com todas as portas escancaradas e com grande massa de povo – foi definitivamente fundado o Hospital. A então diretoria provisória apresentou o resultado de seus trabalhos, sugerindo aquela assembleia o anteprojeto dos estatutos de que fora outorgada elaborar. Estes, após animada discussão, foram aprovados, após o que, foi eleita a nova diretoria, que foi solenemente empossada, às 22 horas, com grande manifestação de carinho por parte de todos que alimentavam a esperança de ver concretizado um anseio que até então fora apenas um sonho! Esta diretoria, cujo mandato expirou em 15 de novembro de 1941, e que todos conheciam bem, teve a consciência tranquila por ter cumprido nesse interregno o seu dever de corresponder à com fiança nela depositada.
Entretanto, faltou um companheiro!
 
Onde estava? Desertou? Não! Foi roubado do convívio deles – João Maquinista, o homem que ajudou a plantar a boa semente faleceu antes de ver concluída a obra. Foi lamentável também naquele momento, a morte do grande colega dr. Urbano Figueira, que compôs a brilhante representação do corpo médico de Taubaté, quando da primeira assembleia. Geral.
 
Os companheiros são: Vice-presidente: dr. Moura Coutinho; 1º secretário: Eginhard de Mello Menezes; 2º secretário: Antonio carvalho; 1º tesoureiro: Francisco Clementino de Oliveira; 2º tesoureiro: João Ferreira Cardoso.
 
E, para a satisfação da nova diretoria, esteve presente o dr. Lincoln Ferreira de Faria, representando S. Excia o sr. Interventor Federal, que veio testemunhar neste grande dia, a prestação de contas da diretoria do Hospital.
 
O Hospital de Campos do Jordão “Dr. Adhemar de Barros” foi fundado em 1938. Foi lhe dado juma personalidade jurídica, registrando na sede da Comarca e no então Serviço de Assistência Hospitalar do Estado. Incontinenti, deram início às suas atividades, que foram bastante árduas, e tornava-se mister aproveitar inteligentemente a colaboração de todos, e principalmente a do sr. João Rodrigues da Silva que se obrigara a doar a área necessária para a futura construção, bem como oferecera a importância de 40 contos de réis, que depois elevou a 60 contos em dinheiro, com a com dição de ser construído anexo ao Hospital um pavilhão para parturientes. As demarches continuaram sem solução de continuidade, até que em 14 de março de 1939, foi lavrada a escritura de doação da área de 15.000 m2 aproximadamente, em cuja escritura ainda se comprometeu o sr. João Maquinista a efetuar o pagamento dos 60 contos, de acordo com o andamento das obras, conforme cláusulas da referida escritura. Desse modo, o Hospital começava a entrar numa fase de maior objetividade e então, foi incumbido da elaboração do projeto, o sr. Paulo Krause que, de acordo com a orientação da diretoria, desempenhou sua missão com brilhantismo e graciosamente. Este projeto, que teve a aprovação da S. Excia. O sr. Interventor federal, mereceu ainda a aprovação do Serviço de Assistência Hospitalar e, após ser submetido à apreciação da diretoria, em sessão de 13 de abril de 1939, foi posto em concorrência entre os construtores locais e alguns de outras localidades tendo apenas um, o sr. Pedro João Abitante, apresentado sua proposta que, devidamente apreciada pela diretoria e após alguns entendimentos pessoais com esta, foi aprovada, ficando assentado que a construção seria feita sob administração da mão de obra. Ao apresentar o projeto da construção do futuro Hospital de Campos do Jordão, ao Exmo. Sr. Interventor federal, e notificar S. Excia. Da fundação nesta estância da nova associação filantrópica, tiveram a promessa espontânea do custeio integral das obras, não pelo Governo, mas pessoalmente por S. Excia, que reservaria para tal uma parte da verba de sua representação pessoal o das economias que estava fazendo nas despesas própprias do Palácio dos Campos Ellyseos.
 
A promessa foi em breve concretizada, com o primeiro donativo feito pessoalmente pela digna esposa do sr. Interventor, que assinou no Livro de Ouro do Hospital a quantia de 20 contos. Com essa expectativa promissora, solenemente lançaram a pedra fundamental da Casa, a 29 de julho de 1939, na presença do saudoso e inesquecível dr. Álvaro Guião, representando o sr. Interventor federal, e no pequeno espaço de tempo de 3 meses e meio, lançaram a 15 de novembro de 1939, isto é, precisamente no 1º aniversário do Hospital, a última telha do pavilhão da Maternidade, na presença de grande massa de povo, que assistiu a esse ato singelo, como testemunha de juma realidade insofismável e de uma promessa que se cumpria pela primeira vez nesta terra. Daí por diante, todos ficaram cientes, o Hospital passou a ser construído pessoalmente pelo sr. Interventor.[1]
 
Como é do conhecimento de todos, S. Excia. Não somente tomou a si, o encargo da construção do Hospital, como também pelo mesmo, um interesse particular, fazendo questão de examinar pessoalmente as obras, nas diversas vezes que veio a campos do Jordão. Ao seu interesse particular, devemos ainda a desapropriação de mais uma área de 3.200 m2, contígua aos 15.000 já pertencentes ao Hospital, o que soma um total de 18.200 m2, mais ou menos.[2]
 
Em terrenos doados pelos antigos e abastados moradores de “Vila Abernéssia”, Sr. João Rodrigues da Silva e esposa, com iniciativa patrocinada pelo prefeito sanitário, dr. José Arthur da Motta Bicudo, que, nessa colaboração, conseguiu isenção do imposto de transmissão “inter-vivos”, sobre a aquisição que vai fazer o hospital “Dr. Adhemar de barros”, do aludido terreno, com a área de 14.000 m2, conforme decisão do ilustre sr. dr. A. C. Salles Junior, secretário da Fazenda.
 
No ano de 1939, no regime redentor do estado Novo, fundou-se na estância climatérica de Campos do Jordão a Santa Casa de Misericórdia, na sua alta expressão filantrópica de assistência aos pobres e doentes comuns.
 
Este instituto nada teve a ver com os hospitais e sanatórios para tuberculosos, existentes na serra jordanense, construindo uma fundação inteiramente à parte dos moldes pias obras do gênero, espalhadas por todo o interior de São Paulo.
 
Residiu em Campos do Jordão, talvez como seu mais antigo habitante, o sr. João Rodrigues da Silva, naquela época octogenário e homem que durante toda a sua vida, deu duro para conseguir amealhar meia dúzia de patacas.
 
Trabalhador rude e infatigável, mesmo até bem pouco tempo, as suas atividades impressionavam pelo acerto dos negócios, senso das operações e magnífica visão dos acontecimentos civilizadores que culminaram a serra na sua temperatura privilegiada.
 
Logo que soube da fundação da Santa Casa, o sr. João Rodrigues Silva, espontaneamente, nas suas atitudes naturais de homem bom, doou, como já antes havia doado aos Sanatorinhos de Campos, cerca de 15.000 m2 dos seus terrenos valorizadíssimos em Vila Abernéssia, para que aí se construísse o hospital. Avaliada por baixo, essa dádiva valia 60 contos. Mas não foi aí o rasgo habitual e generoso do sr. Silva; ampliando tal oferta, sugeriu aos iniciadores da grande obra, que se construísse especialmente um pavilhão destinado à “Maternidade das Mulheres”, segundo a sua frase portuguesa explícita, para que não se interpretasse de outro modo o seu pensamento...
 
Esse pavilhão correu exclusivamente por sua conta, fora da doação feita, e se dispôs a gastar nele, 60, até 100 contos. Ainda não para aí a arrancada filantrópica do sr. João Rodrigues: comprometeu-se igualmente, como já o fez para outras casas de saúde em Campos, a levar água ao hospital, fornecendo todo o encanamento e os mananciais de sua propriedade, numa distância considerável.
 
Às 11 horas em Campos do Jordão, com a presença de altas autoridades do Estado, a solenidade do lançamento da pedra fundamental do “Hospital Dr. Adhemar de Barros” foi realizada, em 29 de julho de 1939.
 
O Chefe do governo paulista foi representado, nessas festividades, pelo dr. Álvaro de Figueiredo Guião, Secretário da Educação e Saúde Pública de São Paulo, representando o Interventor Adhemar Pereira de Barros. A 25 de janeiro de 1944, era oficialmente inaugurado o Hospital de Campos do Jordão “Dr. Adhemar de Barros”, em presença do próprio ex-interventor e sua esposa, a primeira-dama do Estado, dona Leonor Mendes de Barros. Estiveram presentes, o Bispo Diocesano de Taubaté, Dom Francisco Borja do Amaral e o Mons. João José de Azevedo, Vigário Capitular da Diocese. Sob o coro dos Padres Salesianos, o frei João Crisóstomo Arns, da Ordem dos Frades Menores - O.F.M., (irmão do Cardeal Arcebispo de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns e da saudosa cidadã honorária D. Zilda Arns, fundadora e coordenadora internacional da Pastoral da Criança), que celebrou uma missa em ação de graças, seguindo-se a inauguração do busto de Adhemar Pereira de Barros, ocasião em que o Dr. José Arthur da Motta Bicudo discursou em nome da Diretoria do Hospital.
 
Um trágico acontecimento, porém, estava reservado ao povo de Campos do Jordão: na madrugada do dia 29 de julho de 1945, exatamente 6 anos após o lançamento da pedra fundamental, irrompeu pavoroso incêndio que destruiu o Hospital.
 
 A 1° de maio de 1946 era lançada a pedra fundamental das obras de reconstrução do Hospital, presentes o Cardeal Arcebispo de São Paulo, Dom Carlos Carmelo de Vasconcelos Mota, o Interventor Federal, José Carlos de Macedo Soares, Antonio Cintra Godinho, Secretário da Fazenda, o prefeito Lourival Francisco dos Santos, o Juiz de Direito, Nelson Filizola, Roberto Simonsen, Presidente da Federação das Indústrias, Monsenhor João José de Azevedo e o Dr. Adhemar Pereira de Barros.
 
Em 8 de dezembro de 1955, foi reinaugurada a Maternidade e Pronto Socorro do Hospital, após 10 anos de interrupção, com missa celebrada em sua Capela por Frei Getúlio Reimann, O.F.M., tendo o Monsenhor José Vita procedido a bênção das instalações.

No Jubileu de Prata, realizado em 6 de janeiro de 1964, contou com a presença do Governador do Estado de São Paulo, Dr. Adhemar Pereira de Barros e sua esposa dona Leonor Mendes de Barros, que assistiram missa celebrada pelo frei Dídimo Strunck, O.F.M. na Capela do nosocômio, ocasião em que o Governador de S. Paulo inaugurou o pavilhão superior.

Infelizmente, o referido hospital foi fechado em 2005, por diversos problemas, especialmente financeiros, sem apoio necessário das diversas autoridades governamentais. Atualmente, encontra-se praticamente abandonado.

[1] Desse modo, e com o espírito voltado serenamente para a imparcialidade, não podemos deixar de lamentar neste momento, a conduta posterior do sr. João maquinista que, após ter assumido o compromisso sagrado da doação de 60 contos para a construção do pavilhão da maternidade do Hospital, e após ter entregue ao sr. construtor duas prestações no montante de 24 (vinte e quatro contos de réis), negou-se a prosseguir na doação prometida, o que os levou à uma ação judicial. Esta, cujo “veredictum” do MM. Juiz da comarca foi favorável, transitou no tribunal, por ter o referido sr. João Maquinista recorrido do julgamento.

[2] Correio Paulistano, 24 de novembro de 1940


                                       Primeira Missa Celebrada em Campos do Jordão

No dia 16 de fevereiro de 1879 foi celebrada a primeira missa em Campos do Jordão, no Retiro de São Matheus do Imbery, na casa de Dr. Diogo de Mendonça Pinto, pelo reverendo padre João Francisco de Siqueira Andrade, que teve faculdade concedida pela Santa Sé para levantar altar e celebrar missa em qualquer ponto do império. Graças à Providência, celebrou nesta mesma casa mais duas missas em dois domingos.

Da entrada dos Campos à Capela de São Matheus, onde já existia um núcleo de povoação com 5 prédios, além de alguns ranchos, formada pelo cidadão Matheus da Costa Pinto, que projetava construir outras habitações, engalanava-se a Vila de São Matheus do Imbiri, para uma solenidade especial: é que o Bispo diocesano da província de São Paulo, Dom Lino Deodato Rodrigues de Carvalho, lançava a pedra fundamental da Capela de N.S. da Conceição dos Campos do Jordão. O lançamento foi anunciado por salvas de uma peça e foguetes, levantando-se nessa mesma ocasião uma cruz próxima ao lugar da capela e um grande mastro, onde içaram várias bandeiras e no topo, as bandeiras brasileira e portuguesa.

A pedra de mármore com a inscrição 2 de fevereiro de 1879 foi oferecida pelo Sr. Joaquim Antonio dos Santos, e encerrada dentro de uma caixa de cobre contendo o auto, algumas moedas correntes do império, de cobre, níquel e prata, o jornal Província de S. Paulo nº 1176 que contém uma descrição dos Campos do Jordão e outros jornais da província de S. Paulo e alguns da Corte. O auto de lançamento foi assignado pelas pessoas presentes.  Estiveram presentes cerca de 80 pessoas.

Em 1883, Dr. Salvador Miranda doou três sinos, que ficaram pendurados em uma espécie de estaleiro erguido do lado de fora.

Em 19 de março de 1885, a capela constava apenas de um nicho, onde ficava o quadro de São Matheus, que foi substituído por um altar, quando, então foi construído o coro. A Capela da Saúde, foi inaugurada com o nome de Nossa Senhora da Saúde. Anos mais tarde, a capela recebeu bem ao centro da sua fachada, uma pequena torre que modificou bastante seu visual. Nesse mesmo local, posteriormente, foi edificada a atual Igreja de Nossa Senhora da Saúde.

O Padre João Francisco de Siqueira Andrade, nasceu em Jacareí, SP, no dia 15 de julho de 1837. Seus pais: Miguel Nunes de Siqueira e Claudina Maria de Andrade. Foi aluno do Seminário Diocesano de São Paulo onde fez seus estudos, partindo depois para a Província de São Pedro, no Rio Grande do Sul, quando foi recebido pelo Bispo Dom Sebastião Dias Laranjeiras, e ordenado sacerdote em 08 de dezembro de 1864.

No tempo de seminário, já sentia a força do seu carisma: “Como estudante, a minha grande preocupação era a educação da juventude brasileira. Decidi que depois de ordenado, fundaria uma Casa para educar meninas pobres”.

Estuda seriamente a situação do Brasil e conclui que o bem-estar religioso e social depende da boa educação que se oferece ao povo.

Ao iniciar-se a Guerra da Tríplice Aliança, serve, como voluntário da Pátria, na Guerra do Paraguai, partindo para o teatro da luta, onde tornou-se capelão de 7º Batalhão de Voluntários da Pátria e ao regressar, buscando alívio para a tuberculose, vem a Petrópolis. Sua débil constituição física não lhe permitira ficar por muito tempo no desempenho de suas funções religiosas. Doente, já atacado pela tuberculose, voltou à terra natal, vindo em seguida viver na Corte, sendo acolhido por D. Ana Leocádia da Cunha Moreira Guimarães, que vivia gostosamente em sua chácara nas Laranjeiras.

Diante da orfandade, fruto da guerra, do sofrimento e da miséria a que estavam expostas, principalmente as meninas, diante do desprezo pela educação da mulher e dos primeiros anúncios sobre a emancipação dos escravos, em 1866, trazendo outras urgências para a nação quanto ao trabalho livre, Padre Siqueira vê nos acontecimentos o apelo de Deus e a hora de iniciar sua Obra de educação.

Escreve seu projeto de educação e o apresenta ao Imperador Dom Pedro II, em 15 de julho de 1868 e dois meses depois, ao dar aprovação, o Monarca acrescenta que a ideia era boa e humanitária, porém dificílima. Posterior a aprovação do projeto, seguiu buscando recursos em todo o estado para edificação da escola. Em 1871 inaugura a Escola Doméstica de Nossa Senhora do Amparo. Ele fundou, com muita luta, a primeira escola para mulheres do Brasil, ideia tão abençoada pelo céu e acolhida de almas filantrópicas, que ele já conseguira arrecadar mais de 300 contos de réis, e construir em Petrópolis um grande edifício por concluir, tendo já para sua sustentação um patrimônio de cerca de 100 contos de réis, e onde na época se educaram 40 e tantas desvalidas e esperava em breve com auxílio de pessoas caridosas elevar ao número de 300, como tudo colheram de seu relatório.

Consta que essa instituição se achava adaptada ao preenchimento do seu duplo destino, podendo logo irem lá se prover o Estado de verdadeiras mestras, e as famílias de criadas devidamente instruídas e morigeradas.

Hoje, a Escola Doméstica Cecília Monteiro de Barros, exerce em Barra Mansa RJ, sua função evangelizadora e educativa diretamente com a classe pobre. Funciona em regime de semi-internato e externato, mantendo os cursos de Educação Infantil até a 4ª série do Ensino Fundamental.

Inicia suas grandes peregrinações pelas fazendas do interior do Rio de Janeiro, Minas e São Paulo. Fraco, andando a cavalo, exposto ao sol e à chuva, às tempestades, a crítica e violência, nunca cedeu ao desânimo. “Caminharei de rua em rua, de casa em casa, até percorrer a cidade toda… com ânimo, disposto a aceitar, em nome de Deus, qualquer escola que me queira dar”. (Pe. Siqueira – Jornal Mercantil, em 05/05/1875)

Padre Siqueira tinha consciência da missão que recebera de Deus. “É justo que tendo feito o voto mais firme de minha existência em prol da infância desvalida e me consagrado ao bem da Igreja e da nossa Pátria, use de toda a franqueza para com o público, confessando diante de Deus, a quem nada se oculta, a sinceridade e a abnegação com que trabalho, embora o último selo desta declaração seja uma propriedade de futuro, juiz infalível e implacável do passado. Longe de mim a presunção de alguma virtude extraordinária.

Oh! Bem sei que o meu espinhoso caminho está há muito traçado pela mão da Providência, e que não é outro senão o da humildade e da resignação. Na verdade, compreendo bem a responsabilidade que tenho assumido.

Porém é também certo que, há muito tempo, não vivo mais para mim, e que todos os sacrifícios por que possa ainda passar estão de antemão oferecidos a Deus no altar da caridade”.  Pe. Siqueira – Jornal Mercantil, em 05/05/1875). O Reverendo Padre João Francisco de Siqueira Andrade gozava de nomeada principalmente na província de São Paulo e nas do Rio de Janeiro e Minas. Como esses vultos históricos, que sob inspiração providencial, se levantam da obscuridade a fulgidos destinos, esse digno sacerdote sentindo-se, desde que se lhe desabrochou a razão, com vocação a devotar-se ao bem da humanidade, ao saber que a “fala do trono” recomendara a emancipação do ventre escravo, tomou a peito peregrinar pelas referidas três províncias a fim de, com o obulo da caridade, erguer um asilo de meninas pobres, onde se instruíssem e adestrassem as funções do magistério primário e ao serviço doméstico.

O mencionado sacerdote dirigiu-se aos Campos do Jordão em busca de seu restabelecimento de seus incômodos, que felizmente não passaram de cansaço por trabalhos a que por admirável abnegação de si próprio, se tinha entregue há anos para levar a efeito a sua grande obra humanitária.

Graças à Providência ele se fortaleceu de tal sorte que contava celebrar na dita casa, missa em mais dois domingos, e retirar-se a 03 de março de 1879.

Fontes:

Breves Café:

http://brevescafe.net/mdbarros_escola.html

Congregação das Irmãs Franciscanas de Nossa Senhora do Amparo:

http://www.franciscanasdoamparo.org.br/fundadores/

Resgates Petropolitanos:

http://ihp.org.br/26072015/lib_ihp/docs/fjrv20120730t.htm

Jornal “O Apóstolo” Anos: 1866-1901


                                                                                                  Os Puris da Mantiqueira


Quem esteve por Campos do Jordão pela primeira vez? Pouco se sabe sobre aqueles que foram os primeiros habitantes desta região da Serra da Mantiqueira: os índios Puris. Se você caminha de Capivari em direção ao Itapeva, olhando a paisagem da Pedra do Baú que vai ficando às suas costas, e depois segue em direção ao Horto Florestal, contornado pelo rio Canhambora, você sente que esta região, fria, exuberante por seus acidentes geográficos e por suas matas serranas, poderia ter sido um dia habitada por índios, apesar de poucos historiadores terem mencionado o fato. E, se você pensar melhor a respeito dos nomes que surgem pelo caminho descrito acima, Capivari, Itapeva, o (Em) baú e o Canhambora, como também o Sapucaí e outros nomes da língua tupi, concluirá que só pode ter existido ou mesmo passado por nossa região as mais diversas tribos que formaram a grande nação indígena. E, se habitavam ou apenas passavam pela região, a que tribo pertenciam?
 
Com abertura do Caminho Novo em 1727-85, ligando as cidades do Rio de Janeiro e São Paulo, para por ela conduzir os quintos de ouro provenientes de Cuiabá, a salvo da ação de piratas, os puris começaram a buscar proteção no território entre o rio Paraíba e a Serra da Mantiqueira paulista e fluminense. A onda povoadora do caminho Novo, no trecho entre Lorena (então vila da Piedade) e São Marcos (hoje submersa por represa do Ribeirão das Lajes), obrigou os índios em foco a se embrenharem, gradativamente na Mantiqueira paulista e fluminense, onde vão ser alcançados pelo Ciclo do Café no Vale do Paraíba.
 
Os indígenas do Vale do Paraíba entraram em contato com o homem branco acerca do ano de 1587, na exploração comandada por Domingos Luis Grou, uma das primeiras expedições a percorrer o Vale. Porém, em 1562, já existem escassos registros dos índios Puris próximos às margens do Rio Paraíba do Sul. Uma reunião na Câmara de São Paulo, no ano de 1591, refere-se à presença de "gente, no Paraíba, e Guaramirins e os índios do sertão. Os índios Puris habitaram grande parte do Vale do Paraíba, iniciando seus relatos em São José dos Campos, Caçapava, Taubaté, Guaratinguetá, Lorena, Canas, Cachoeira Paulista, Bananal e chegando a áreas de Minas Gerais e Rio de Janeiro em Angra dos Reis. Os Puris tiveram seus grupos distribuídos desde o Rio Paraíba até o Espírito Santo.
 
O território do Vale do Paraíba era habitado por tapuias, entre os quais se mencionam os maromonis, puris, temiminós e, talvez também os guaianazes e tamoios. Os índios puris habitaram grande parte do Vale do Paraíba, concentrando-se principalmente entre as Serras do Mar e da Mantiqueira, entre os caminhos Velho e Novo do Rio de Janeiro para Minas Gerais: Caminho Velho balizado por Parati-Cunha-Lorena-Garganta do Embau-Minas. Caminho Novo balizado pelo Rio de Janeiro-Paraíba do Sul- Minas. Esse lado da Mantiqueira foi frequentado pelos índios Puris, do Vale do Paraíba; pelos Cataguazes, que vinham do Sul de Minas e também pelos caetés, vindos do Vale do Sapucaí. Nessa região, é bom lembrar, está a Pedra do Baú, que, ao contrário da versão que corre sobre seu nome, por parecer um baú, chamava-se anteriormente Embaú, que em tupi quer dizer pedra da vigia. Entre as várias gargantas da região duas possuem interesse histórico – a do Rio Buquira e a do Piracuama, utilizadas pelas bandeiras para alcançar Minas Gerais, especialmente a região aurífera de Itajiba.
 
Otávio Bitencourt, historiador, escrevia sobre índios, de forma afirmativa, junto às bandeiras que subiram a serra em direção à região aurífera de Minas. Esta expedição saíra do Rio de Janeiro em 14 de outubro de 1597, foi à Paraty, seguiu pela Serra de Paranapiacaba, Serra do Mar, ganhou os Campos de Cunha, passou pelas nascentes do Paraibuna e alcançou o rio Paraíba, provavelmente na altura de Taubaté. Identificado pelo historiador Orville Derby, este roteiro sugeria que a expedição subiu a Serra da Mantiqueira possivelmente por dois caminhos: pelo Vale do Buquira ou pela garganta do Piracuama, através dos quais, de qualquer forma, teria de alcançar o Alto do Sapucaí e passar inevitavelmente por Campos do Jordão.
 
Seja pela proximidade geográfica ou pela entrada das bandeiras em direção às Minas, os índios estiveram presentes em Campos do Jordão. Não se justifica a versão de que os índios tiveram evitado a região por causa do frio ou da altitude. Os índios Puris frequentavam regiões altas e frias próximas ao município, conforme relatado nos “Diários de Viagem” de Antônio Knivet, que rememorou a expedição de Martim Corrêa de Sá, em 1530.
 
A atual Campos do Jordão teve uma marcante presença indígena. Eram índios Puris, Caetés, Guarulhos e Cataguás, que deixaram suas marcas na cultura e principalmente nos nomes de diversos locais como a própria Serra da Mantiqueira, as Vilas Capivari e Jaguaribe, os rios Sapucaí e Canhambora, dentre outros tantos.
 
Morador de Campos do Jordão, Dino Godoy contou que em 1918 chegou a ver índios no Pico do Itapeva. Eles faziam barracas, andavam nus e possuíam cabelos compridos. Faziam flechas de palmito. Eram homens, mulheres e crianças. Outro morador, Paulo Reis da Cunha, depôs que no Charco, antes de São Francisco dos Campos, encontrou um cemitério de índios. Havia em média 100 covas e quando ali recavou encontrou os ossos. O cemitério tem 400 metros quadrados, em lomba limpa, onde colocaram um cruzeiro. Moradores do local encontraram apetrechos indígenas no local. O cemitério acha-se ao lado do Córrego Quente, na Fazenda do Charco.
 
No Bairro Renópolis, município de Santo Antônio do Pinhal, pela primeira vez, uma família japonesa chegou à colônia em 1929, e com o cultivo da terra, em serviços de terraplanagem, encontraram machadinhas, bodoques, cuias e pilões, todos artefatos Indígenas e ainda hoje conservados por alguns dos descendentes dos primeiros japoneses. No centro urbano da cidade também foram encontrados outros artefatos, comprovando, assim, a passagem dos índios pela região. Os indígenas que percorriam a região, considerados nômades, deixaram suas marcas, o que foi constatado no quilometro 10 da SP – 123.
 
Gaspar Vaz da Cunha, o Oyaguara, que esteve em Campos do Jordão em 1703, não foi o primeiro homem que pisou terras jordanenses.
 
O temperamento dos índios Puris, segundo alguns historiadores, era calmo, apático e conformado com sua condição, porém quando enfurecidos, tornavam-se vingativos, não esquecendo uma ofensa.
Possuíam estatura baixa, rosto largo, nariz curto, dentes magníficos, olhos oblíquos. Tinham braços musculosos, pelo de coloração acobreada, cabelos negros e grossos, compridos e abundantes.
 
Plantavam, em pequena escala, fava mangalês, batata-doce, banana e milho. Utilizavam também em sua alimentação, cará branco, mandioca e abóbora que comiam crus ou cozidos. Apreciavam o araçá, ananás, abacaxi, goiaba, mamão e coco de vários tipos, sendo a banana, considerada por eles, fruta nobre. Para eles, o mel representava saboroso alimento. Usavam uma cuia, feita de certos frutos silvestres secos, como a cuité, a cabaça e postados de cócoras, faziam suas refeições. Da caça e da pesca dependia quase que totalmente sua sobrevivência. Como técnica de pescaria utilizavam o cipó chamado "Timbó" que, eles embebedavam o peixe. Usavam um tipo de balaio com tampa e dispositivo para desarmar quando o peixe entrava em seu interior. Possuíam um método incomum de pescar, que consistia em amarrar algumas minhocas na ponta de uma linha (trazidas pelos aventureiros) e joga-las dentro d'água. Ao sentirem que o peixe engoliu a isca, puxavam a linha de repente e, com ela, vinha o peixe. A caça também era abundante, nessas paragens como: anta, capivara, paca e outros animais silvestres, sem contar com a grande variedade de aves; muitas vezes, nem as levava ao fogo, comendo-as cruas.

A dança era um dos divertimentos favoritos dos Puris e a eles era reputada a fama de grandes dançarinos. Suas danças eram acompanhadas de cantigas que produziam um "alarido infernal", executadas por um grupo de cinco índios; o ritmo variava segundo a finalidade. As danças religiosas eram realizadas em louvor ao "Sol" e aos "Astros", de preferência as "Estrelas". 

Fontes:

LINO, Maurício de Souza. Os Puris da Mantiqueira. 2016. Disponível em: <https://www.clubedeautores.com.br/backstage/my_books/published>. Acesso em: 24 dez. 2016.

FILHO, Pedro Paulo. História de Campos do Jordão, 1986


O Trem da Serra


A ferrovia revolucionou os meios de transporte terrestre, tornando-se sucesso nos países europeus, principalmente a Inglaterra, e nos Estados Unidos da América. O chamado mundo “civilizado” vivia a euforia causada pela Revolução Industrial, cujo ápice foi a invenção da máquina a vapor em fins do século XVIII, ocorrida na mesma Inglaterra. Com o acelerado processo de industrialização no Ocidente e a implantação de indústrias, primeiro nas metrópoles e, em seguida nas colônias, ou em países com atraso econômico e tecnológico, o escoamento da produção – tanto industrial como agrícola – necessitava de maior rapidez e diminuição dos custos dos transportes. Na esteira da máquina a vapor, surge a locomotiva, criada por George Stephenson na segunda década do século XIX, conforme já mencionado no referido artigo anterior. 

Entrementes, baseado nas teorias de Adam Smith, o sistema capitalista consolida-se com a já citada Revolução Industrial, a qual ajuda a acentuar a ideia da economia de mercado, relacionada com a produção exclusivamente em função do mesmo mercado, propriedade privada e trabalho assalariado. De acordo com a análise das professoras Vera Vilhena de Toledo, Maria Odette Brancatelli e Helena Lopes, o século XIX “foi, por excelência, o século de afirmação do sistema capitalista e da ferrovia”. A ferrovia, atendendo às características do capitalismo, foi um “investimento rentável porque permitiu maior precisão no horário e encurtou as distâncias, barateando o custo dos transportes”. Com o “boom” ferroviário na Europa, que proporcionou lucros vultosos para os acionistas das diversas companhias de estradas de ferro, bem como para seus respectivos governos, o modelo de transporte por via férrea é exportado para as nações periféricas, subdesenvolvidas, exclusivamente agrícolas ou meras colônias. Com isso, os capitalistas almejavam – e conseguiram – aumentar ainda mais os seus lucros, explorando mão de obra barata, além de usufruir de privilégios concedidos por governos onde se instalassem as ferrovias.
 
No Brasil, a implantação da ferrovia coube à iniciativa do empresário Irineu Evangelista de Souza, posteriormente agraciado pelo Império com os títulos de Barão e Visconde de Mauá, ainda que atuando em conjunto com investidores estrangeiros. A estrada de ferro, porém, chegava um pouco tarde, pois em 1854, quando Mauá inaugura a Imperial Companhia de Estrada de Ferro de Petrópolis, com a viagem da “Baroneza”, países como Argentina, México, Peru, Chile e, até Cuba, então colônia da Espanha, já construíam suas respectivas ferrovias e os EUA já haviam construído mais de 14 mil quilômetros de caminhos férreos. Mesmo assim, o sistema ferroviário no Brasil alavancou, atendendo a diversos interesses de grupos como o dos fazendeiros, que desejavam o rápido escoamento de sua produção, principalmente o café; o dos políticos, que apoiavam a construção de ferrovias nas suas províncias, almejando apoio e prestígio e, particularmente o dos acionistas, tanto nacionais, no caso, Mauá, como de estrangeiros, que esperavam um retorno rápido com a garantia de juros concedida pelas autoridades. Investidores ingleses, franceses, belgas, alemães, etc, obtiveram lucros astronômicos com o sucesso do sistema ferroviário. Sendo assim, várias estradas de ferro foram construídas no Brasil, entre o final do Império e o início da República, como a E.F. Pedro II, a E.F Santos-Jundiaí, a Cia. Paulista de Estradas de Ferro, a Minas and Rio Railway, a E.F. São Paulo-Rio de Janeiro, etc. Quando o Governo Republicano se consolida, a E.F. Pedro II e a São Paulo-Rio são unificadas, formando a Central do Brasil, enquanto que a Minas and Rio passa a integrar a Rede Sul-Mineira, mais tarde Rede Mineira de Viação.
 
Todavia, se por um lado a ferrovia dinamizou o transporte de mercadorias, ela garantiu também aos acionistas e ao Estado um sucesso com o transporte de passageiros, que viam no trem o símbolo e a imagem do progresso e civilização, comparando-se com a Europa, no que diz respeito a então chamada “belle epoque”. Algumas localidades, no entanto ficaram sem a presença redentora e fascinante da ferrovia, sendo que poucas conseguiram seus próprios ramais, hoje extintos quase que totalmente. No Vale do Paraíba, em especial no trecho paulista foram construídos ramais ou estradas que se entroncavam com a Central do Brasil, ligando-a com cidades distantes do eixo ferroviário principal. É o caso de Bananal, que com a Estrada de Ferro Bananalense, construída pelos senhores do café, ligava a então capital econômica do Império a Estação da Saudade, no município fluminense de Barra Mansa, entroncando-se com a Estrada de Ferro Pedro II (Central do Brasil). Antes de Bananal, que inaugurara sua ferrovia em 1889, é inaugurada a Estrada de Ferro Minas and Rio Railway, a qual tinha início na Vila do Cruzeiro (cuja sede era então no Embaú), em terras da Fazenda Boa Vista, de propriedade de Manoel de Freitas Novaes, fazendo entroncamento com a “Pedro II” no Km 252. Na realidade, trata-se de uma nova estrada e, não apenas de um ramal, pois após 170 km de percurso, atinge o ponto final na cidade de Três Corações em Minas Gerais. E temos também mais dois exemplos: O Ramal de Benfica, ligando Lorena a Piquete e a Estrada de Ferro Campos do Jordão. Algumas cidades tiveram seus projetos de construção para integrarem-se no eixo férreo entre o Rio de Janeiro e São Paulo, o que não se concretizou devido ao fracasso dos planos, conforme abordamos no já citado artigo anterior. Para termos uma ideia da exclusão da ferrovia em determinadas regiões, citemos o caso da transferência da sede municipal em Cruzeiro em 1901 e, na decadência do Vale Histórico com as suas “Cidades Mortas” parafraseando aqui o ilustre escritor Monteiro Lobato, mesmo Bananal já estar inserida no sistema ferroviário, como mencionado anteriormente.
 
Entretanto, se por um lado majoritário, o sistema ferroviário atendeu às necessidades econômicas, representadas no caso ora estudado, pelo café que, segundo Hilton Federici, “ampliou a necessidade de melhores condições de circulação de bens e mercadorias”, por outro em pequena escala atendeu a outras funções, como a de transportar doentes para regiões de clima propício à saúde humana. Para ilustrar esse exemplo, citemos a Estrada de Ferro Campos do Jordão, citada acima, que liga a cidade de Pindamonhangaba à região serrana. Segundo a análise de Acrilson de Carvalho e Levy Tenório da Costa, os planos para essa via férrea remontam ao ano de 1892, quando chegou a ser constituída uma empresa para gerenciar as obras, sem apresentar nenhum resultado positivo. Apesar de São José dos Campos ser considerada na época, cidade de clima saudável para o tratamento de doenças pulmonares, principalmente a tuberculose, Campos do Jordão, acabou por arrebatar-lhe, em pouco tempo, seu status. No ano de 1911, o cidadão Emílio Marcondes Ribas, renomado médico sanitarista, famoso pela descoberta do método de transmissão da febre amarela, lança uma campanha em prol da retomada da ideia de uma ferrovia, de Pindamonhangaba a Campos do Jordão, então Distrito de Jaguaribe, pertencente ao Município de São Bento do Sapucaí. Mesmo prosseguindo os estudos sobre a tuberculose e a lepra, o médico Emílio Ribas renova os esforços para a tão almejada estrada de ferro, sendo auxiliado por outro colega da medicina, o Dr.Vitor Godinho. Ambos alcançam êxito quando a Câmara Municipal de Pindamonhangaba concede autorização para o referido empreendimento. Logo em seguida, conseguem também a autorização do Congresso Estadual para levarem os trilhos até a futura Campos do Jordão. Aproveitemos o espaço para explicar ao leitor que até 1930, as Assembléias Estaduais eram bicamerais, isto é, cada Estado possuía a Câmara dos Deputados Estaduais e, também do Senado Estadual, idêntico ao Congresso Nacional. Tal sistema legislativo nos Estados iniciou-se com o período republicano, chegando ao seu epílogo com a Revolução de 1930, a qual levou Getúlio Vargas ao Catete. Retornando à ferrovia, conferimos que, ainda em 1911 é elaborado o projeto inicial para a obra, por Mário Roxo, projeto esse que seria alterado, no entanto, pela Lei Estadual, de n° 1.265-A, datada de 28 de outubro de 1911. No dia 27 de abril de 1912, durante cerimônia pública, realizada com a presença de altos dignatários do Estado de São Paulo e do Município de Pindamonhangaba, é fincada a estaca inicial do traçado ferroviário. Porém, as obras só começam efetivamente em outubro de 1912, pois o empreiteiro português, Sebastião de Oliveira Damas, contratado no Velho Mundo, exclusivamente para o referido projeto, assinou o contrato no mês de julho.
 
Sendo assim, as obras para a concretização do ideal de Emílio Marcondes Ribas, duram, aproximadamente dois anos, sendo orientado pelo engenheiro Antônio Prudente de Morais, sendo por sua vez auxiliado, pelos também engenheiros José Antônio Salgado e Guilherme Winther. No dia 15 de novembro de 1914, finalmente é inaugurada a ferrovia com a viagem na locomotiva “Prudente de Morais”. Movida a vapor, a referida composição parte de Pindamonhangaba, no entroncamento com a Central do Brasil, e após percorrer 47 km chega ao seu destino, em meio à enormes festividades. Em obra conceituada, as professoras Vera Vilhena de Toledo, Maria Odete Brancatelli e Helena Lopes afirmam que as festas populares que eram realizadas com a chegada do trem simbolizavam o progresso e crescimento das cidades, pois com a inauguração dos caminhos de ferro “desenvolveram-se oficinas de reparo de material ferroviário, hotéis, armazéns”, etc. Também surgiram “quarteirões industriais e bairros proletários junto às estações e às margens dos trilhos. As estações também criaram ou atraíram os centros comerciais”. Mesmo sendo um transporte para doentes pulmonares, a chegada dos trilhos à futura “Suíça” brasileira impulsionou atividades econômicas, em particular, a comercial que, mais tarde alavancaria o turismo, como iremos mencionar adiante. Nesse ínterim, o primeiro diretor da nova ferrovia, foi o engenheiro José Mascarenhas Neves, segundo a análise de Acrilson de Carvalho e Levy Tenório da Costa que afirmam também que, inicialmente “o tráfego era feito com três locomotivas a vapor, dois automóveis (sic.) e trinta vagões”. Os autores João Emílio Gerodetti e Carlos Cornejo afirmam por sua vez que a ferrovia era operada inicialmente por apenas duas locomotivas, a Piracuama e a Catarina, ambas movidas a vapor. Porém, pouco tempo após a inauguração, a Estrada de Ferro Campos do Jordão passou a enfrentar dificuldades financeiras, sendo por isso encampada pelo Estado, através da Lei n°1.486, de 15 de dezembro de 1915, iniciando, então alguns projetos de melhoria e modernização. Em 1916, por exemplo, as locomotivas a vapor foram substituídos por composições impulsionadas a gasolina. Outra transformação ocorre através da Lei n°1.940, datada de 21 de dezembro de 1922, com a eletrificação de todo o percurso férreo, o qual foi solenemente inaugurado em dezembro de 1924 com a presença de Carlos de Campos, Presidente do Estado de São Paulo. Com a eletrificação, as locomotivas movidas a gasolina, são substituídas, de acordo com João Emílio Gerodetti e Carlos Cornejo, por “automotrizes elétricas e posteriormente pelos bondes que vieram do extinto Tramway do Guarujá, que trafegam na Estrada de Ferro Campos do Jordão até hoje”. Conhecida, no início, pejorativamente como “trem dos tuberculosos”, a ferrovia realizava o seu trajeto, com o trem partindo da Estação de Pindamonhangaba, no entroncamento com a Estrada de Ferro Central do Brasil, como já afirmamos acima; percorria 47 Km até o seu destino, na antiga Estação Campos do Jordão, atualmente denominada Abernéssia. Desse ponto em diante, havia um ramal exclusivo para o bairro de Sanatórios que, como o próprio nome diz, indicava o local dos estabelecimentos médicos para os doentes; na década de 1940, o local contava com aproximadamente 14 desses estabelecimentos, além de pensões que hospedavam enfermos à espera de vagas. Com a mencionada eletrificação, os trilhos chegam até a Estação Emílio Ribas, atual Capivari. Um fato curioso é o nome “Abnérssia” que, segundo Gerodetti e Cornejo, é derivado “da junção de partes das palavras Aberdeen, Inverness e Escócia, regiões de origem de dois cidadãos escoceses, filho e pai, dentre as primeiras pessoas que ali residiram”. Até o final da década de 1940, a ferrovia que, além da função inicial passou a transportar passageiros comuns, transitava entre Pindamonhangaba e Campos do Jordão, passando por 27 estações entre grandes e pequenas. Além da Estação da Central haviam a Mombaça, Cerâmica São Geraldo, Agente Hely, Expedicionária, Quilômetro 16, Quilômetro 18, Pedreira da Estrada, Piracuama, Quilômetro 25, Eugênio Lefréve (em Santo Antônio do Pinhal ), Pagé, Renópolis, Quilômetro 33, Quilômetro 34, Sapé, Gavião Gonzaga, Cacique – este o ponto culminante de todas as ferrovias do Brasil, a 1.743 metros de altitude - , Toriba, São Cristóvão, Sanatórios, Fracalanza, Campos do Jordão (Abernéssia), Jaguaribe, Grande Hotel, Damas e Emílio Ribas ( Capivari). Entre os anos de 1922 e 1924, é construído um prédio para abrigar os escritórios da administração da EFCJ, próximo à Estação da Central em Pindamonhangaba. Tal edifício passou a funcionar como estação única da EFCJ, a partir de 1971, com a decadência dos trens da Central entre o Rio de Janeiro e São Paulo.
 
Contudo, a partir da década de 1950, com o avanço da medicina para a cura das moléstias pulmonares, como a já citada tuberculose, o fator do clima puro e saudável deixou de ser condição sine-quanon para o pleno restabelecimento da saúde. A cidade de São José dos Campos há muito deixara de ser considerada para tal e, em Campos do Jordão, as clínicas, hospitais e pensões foram sendo fechadas gradativamente. A cidade, porém, diversificou a sua função, buscando – e conseguindo – no turismo a receita de seu sucesso, tornando-se um dos principais centros turísticos e de lazer não só do Estado de São Paulo, mas de todo o Brasil. Com a mudança ocorrida, a ferrovia sobreviveu à extinção de sua função primordial e, nas mãos do Governo do Estado de São Paulo desde 1915, passou a ser administrada pela Secretária de Esportes e Turismo, tornando-se uma empresa rentável e eficiente, mesmo com o fim dos trens regulares de passageiros no Brasil. Com a atividade exclusiva turística, a EFCJ escapou do período hediondo das privatizações no setor ferroviário da década de 1990 e, atualmente a viagem em finais de semana e feriados é realizada com litorinas de luxo, incluindo serviço de bordo e um guia para informações históricas e geográficas. Em todo o percurso, o Trem da Serra faz somente duas paradas, sendo a primeira em Piracuama, no Reino das Águas Claras e a segunda em Santo Antônio do Pinhal; dessa cidade parte um circuito especial de ida e volta a Campos do Jordão. Na área urbana de Campos do Jordão a EFCJ, opera o serviço de bondes que fazem o trajeto ligando as estações de São Cristóvão, Abernéssia, Jaguaribe e Capivari. O sucesso da Estrada de Ferro Campos do Jordão, como empresa volta à exploração do turismo e administrada pelo Estado é prova de que a atividade turística deveria ser impulsionada, principalmente onde existem fatores propícios para isso. No caso do turismo ferroviário, no Vale do Paraíba, poderíamos citar, por exemplo, a reativação do trecho principal Rio-São Paulo e, através de Cruzeiro, o Sul de Minas Gerais, aproveitando o potencial do turismo religioso proporcionado pelas cidades de Aparecida, Guaratinguetá e Cachoeira Paulista.

Fontes:

CARVALHO e COSTA, Acrilson de e Levy Tenório da. A Ferrovia no Vale do Paraíba. Opulência e Decadência. Trabalho de Graduação em História pela UNIVAP. Edição mimeografada. São José dos Campos, 1996.

FEDERICI, Hilton. História de Cruzeiro. Vol.II. Da instalação do Município até a transferência da sua sede (1873-1901). Academia Campinense de Letras. Campinas, 1979.

GERODETTI e CORNEJO, João Emílio e Carlos. As Ferrovias do Brasil, nos Cartões-Postais e Álbuns de Lembrança. Solaris Edições Culturais. São Paulo, 2005.

SOBRINHO, Alves Motta. A Civilização do Café. Editora Brasiliense. São Paulo, 1978.

TOLEDO, BRANCATELLI e LOPES, Vera Vilhena de, Maria Odette e Helena. A Riqueza nos Trilhos. História das ferrovias no Brasil. Editora Moderna. São Paulo, 1998.

INTERNET:

www.estacoesferroviarias.com.br

http://redescobrindoovale.blogspot.com.br/search?updated-max=2016-09-07T17:05:00-07:00&max-results=7&start=13&by-date=false

 

                                 Matheus da Costa Pinto e o Caso do Hotel Imbery


Na localidade de Campos, tão recomendada pelo aprazível clima, bons ares e excelente água, havia para alugar duas casas, próxima à capela, com cômodos para família e alguma mobília, uma por $50 e outra por $60º mensais; sendo alugadas por semestre, fazia-se abatimento. Para tratar, no Hotel Imbery nos mesmos Campos, e para informações em São Paulo, rua do Imperador nº 4, sobrado. Este Hotel convenientemente localizado, com bons cômodos, asseio, e mesa substancial e higiênica, recebia hóspedes a $120 mensais, fazendo-se abatimento às famílias e às pessoas cuja estadia excedesse a dois meses. O clima de Campos extremamente seco, livre de alterações bruscas de temperatura, era o único no Brasil adequado para residência de quem sofria de moléstias pulmonares e recomendava-se a todos cujo organismo carecia do ar puro e fortemente oxigenado das montanhas.
 
A estrada, partindo da Freguezia do Imbery, do Hotel nos Campos, vinha entroncar-se, no alto da Serra da Mantiqueira, na estrada de Pindamonhangaba a São Bento do Sapucahy-Mirim, numa extensão de 16.450 metros. O seu leito tinha uma largura viável de 3 metros e uma declividade que admitia trânsito de trolys. Era uma necessidade palpitante a fatura de uma estrada para aquelas paragens, graças aos esforços da distinta comissão composta dos cavalheiros: Joaquim Gomes leitão, Dr. Antonio Pereira da Silva Barros e Matheus da Costa Pinto, comissão esta que soube desempenhar brilhantemente o cargo para o qual fora nomeada.
 
Já não era mais uma dificuldade se ir visitar os belos Campos do Jordão, gozar da amenidade de seu excelente clima. Executados os reparos que necessitava a estrada do troly de Pindamonhangaba à Serra da Mantiqueira, em 5 horas de viagem, partindo de Pindamonhangaba de troly, chegava-se aos Campos do Jordão com a máxima facilidade.
 
A viagem, a partir de Pindamonhangaba, fazia-se a cavalo, de troly ou em liteira. Na raiz da serra havia bons cômodos para descansar ou pernoitar, seguindo daí a estrada para os Campos, ultimamente reconstruída pela superintendência de obras públicas de São Paulo, nas melhores condições de trânsito.
 
Os srs. Vicente Judice e Araújo & irmão em Pindamonhangaba prestam-se obsequiosamente a mandar buscar a condução e dar as informações necessárias.
 
Invejáveis dotes o adornaram, e justificaram plenamente a sua bem merecida popularidade de que gozou em Pindamonhangaba, São Bento do Sapucaí e na numerosa população do bairro do Baú.
 
Sua vida fora longa prova de grandeza d’alma e de extrema bondade de seu coração até para com os seus mais pronunciados adversários.
 
Quando se tratava de favores ou benefícios, Matheus da Costa Pinto não fazia distinção entre o rico e o pobre: entre o homem livre e o escravo: entre o amigo e o adversário; a todos estendia paternal solicitude, prezando-se de seu fino trato, amabilidades e generosidades; sendo franca, desinteressada e desvelada a hospitalidade em suas três casas das fazendas do Humaitá, Baú, e de Campos com todos os transeuntes.
 
De entre as inequívocas e abundantes provas de seu gênio serviçal, benfazejo e caridoso, socorreram dos seguintes fatos: em relação a infância, institui em 1872, e manteve à sua custa no bairro do Baú uma escola de Primeiras Letras com a admissão gratuita de alunos, fornecendo a estes os utensílios precisos; e ao professor, casa, mobília e ordenado. A fruição de tão precioso benefício afluiu numerosos meninos.
 
Essa escola viveu na obscuridade do lugarejo a que tão proveitosa fora, e desapareceu após 3 anos de existência pela retirada do seu professor, não restando senão encômios traçados pelas hábeis penas do Sr. Dr. Bulcão, então juiz de órfãos, e do distinto literato português Sr. Dr. Raposo d’Almeida que conjuntamente com o reverendo Sr. Padre Miné, e finado engenheiro Trigo de Loureiro que a seu convite procederam a exame.
 
No ano 1874, diligenciou a fundação de outra instituição igual que foi de efêmera exigência pelo abandono em que, seduzido por outas ambições, o professor Sr. Fortunato de Paula Campos a deixou. E no princípio do ano de 1875, instalou nova escola de Instrução Primária, para a infância de dia, e para adultos à noite, a que anexou uma aula para criação de uma banda de música, ambas ao cargo do Sr. José Gomes Coutinho que recebia de Matheus da Costa Pinto, sustento e casa.
 
Em relação a enfermos ainda não eram conhecidos na província nem de nome estes Campos, e já Matheus da Costa Pinto se fazia o extremoso pai desses infelizes, posto que, raros que começavam a demandar tão abençoado clima. De então para cá numerosas foram as vítimas das afecções pulmonares que a sua caridosa hospitalidade há acolhido, por vezes até no adio de sua família: triste e perigosa tarefa, em que inspirada nos exemplos de seu chefe, tanto ela se tem distinguido, e se recomendado ao reconhecimento das almas nobres.
 
Desses enfermos alguns recuperaram a saúde, outros em estado desesperado infelizmente sucumbiram; e alguns nos próprios braços de Matheus da Costa Pinto. Entre os segundos ocorreu-se os finados dr. Avelino de Freitas, de Niterói; o pardo Luiz, escravo do Sr. José Francisco Marcondes Machado, Antonio Pereira de Souza Guimarães, português; Antonio Carlos de Almeida, do Maranhão; Francisco Correa leite, de Pindamonhangaba e José Gonçalves Guimarães, português.
 
Também foi geralmente sabido que o Hotel Imbery deste retiro, teve hospedado por longo tempo, e muito frequentemente hóspedes por pessoas tanto doentes, como sadias, e tanto de suas relações de como desconhecidas e desvalidas, com ordem de não lhes apresentar a conta das despesas, por correrem elas a seu cargo.
 
Para que os enfermos contassem com moradia a seu cômodo, e nas condições higiênicas requeridas, Matheus da Costa Pinto mandou construir um vasto prédio para o Hotel, o que não foi propriamente especulação mercantil; nunca teve Hotel; desde o começo o prédio achou-se entregue a outros para que, por conta e interesse próprio montassem uma empresa lucrativa, sendo-lhe mister por vezes superar dificuldades para conseguir quem se prestasse a tomá-la a si, e até servir de fiador a compras de objetos precisos. Os lucros, pois, couberam a tais empresários. Para protegê-los o prédio nunca lhes foi alugado: o aluguel quase que absorveria os lucros.
 
A maior afluência de hóspedes foi no estio: nas outras estações poderia dizer que o hotel se fechava; vivendo então o hoteleiro de outros recursos. Por isso, Matheus da Costa Pinto se contentara de exigir como indenização do alto dispêndio um tanto por cada hóspede. Mas o termo médio destes ainda durante o estio não excedia a 3 ou 4; de sorte que o rendimento não se podia calcular nem em 4% anuais do capital empregado.
 
Haveria quem razoavelmente pretendesse a redução por que os inquilinos padeciam dos pulmões? As suas várias casas pequenas e cobertas de palha, sempre foram habitadas por pessoas pobres e sem pagamento algum.
 
Para conforto dos doentes, e socorros espirituais da igreja, Matheus da Costa Pinto erigiu uma capela com considerável dispêndio por insuficiência dos donativos agenciados.
 
Sem dúvida por interesse, para cômodos dos doentes, construiu algumas casas que por muitas vezes as tivera cedido grátis. É verdade que quando alugadas, as tinham sido por preços altos; mas atendendo a que era somente na curta estação do estio que em regra se apresentavam alugadores, suporiam indubitavelmente que os capitais a elas aplicados, igualmente não alcançariam os juros da lei.
 
A princípio, e por muito tempo, as vacas de leite que lhe pertenciam foram cedidas a todos gratuitamente; e se mais tarde desapareceu esse uso, proveio da grande mortalidade dos bezerros a correspondente prejuízo, resultante do indevido tratamento deles.
 
Não há quem não saiba que das avultadas somas desembolsadas, e que tanto foram aproveitadas aos enfermos, Matheus da Costa Pinto não colheu senão prejuízos, e em reconhecimento a recentes agressões.
 
Pelo que respeita aos habitantes dos Campos, se houve um lugar de geral expansão da caridade cristã, foi este.
 
Uma denúncia: o Sr. Dr. Samuel Aguiar Figueiredo retirou-se dos Campos muitos meses depois de ficar órfão de mãe, na absoluta ignorância de sua infelicidade, que logo chegou ao conhecimento de todos; por que todos a porfia, em atenção ao seu grave estado de saúde, curaram de guardar inviolável segredo sob as esmeradas cautelas que requer povoação habitada também por escravos, camaradas e criados.
 
Todos conheceram estas paragens que, segundo se via, houve um único responsável por tudo, e esse foi Matheus da Costa Pinto. Ignoraram que no Hotel pelo habitual fornecimento em tais casas incluindo o leite, cada hóspede pagava a diária de 4$000; se isto seria cobrar o ar que respiravam, não coube a responsabilidade a Matheus da Costa Pinto que nunca teve Hotel.
 
Ignoraram mais, que a distância de uma légua houve do hotel do Salto, para onde apelaram, e do qual só tinham ouvido dos elogios ao proprietário, o estimável Sr. Nicoláo Arede Tavares, e a sua tão caridosa e hospitaleira família.
 
A prova de que não foi mister dispor de colossal fortuna para viver neste lugar, é que não esteve povoado de Cresos, e que nem foram Cresos os que para ali vinham, antes na máxima parte foram pessoas destituídas de fortuna; de que foi exemplo o finado padrasto do ilustre deputado Sr. Muniz de Souza, por Matheus da Costa Pinto, tão obsequiado.
 
Esse senhor afirmara que Matheus da Costa Pinto impôs vexames a aqueles que queriam ali se estabelecer. Sua boa-fé, porém, fora esquecida. Não constou que ninguém desistisse. Tão cavalheiro, não seria capaz de vexar alguém, neste ponto não o poderia.
 
Consta que o Sr. Dr. Júlio, assim como o Sr. Arede Tavares franquiavam terras grátis e sem condições. Logo os adversários não tinham necessidade de se sujeitarem a cláusulas inaceitáveis.
 
Dissera ele que a povoação ali crescia todos os dias; e de duas uma: ou foram inverídicas as tais imposições; ou aquele mundo de outrora se compunha de pessoas que docilmente e por puro prazer se curvavam às opressões de um particular.
 
Mas por que tão grande celeuma contra um homem e um lugar?
 
Quando se decretavam providências inspiradas por louváveis intenções e essas providências vinham em nome de inculcado bem público ferir legítimos interesses de numerosas pessoas, cumpria-se dizer a verdade.
 
Alguém residente mais de ano por motivo ignorado, e devendo a Matheus da Costa Pinto obséquios, apresentou-se como seu pronunciado adversário, do que não fazia mistério, emprestando-lhe qualidades, e referindo a todos, fatos que o desairassem e o tornassem odioso. Apesar da publicidade de semelhante procedimento não declinaram seu nome. Souberam-lhes muitas pessoas.
 
Entre outros meios de prejudicá-lo que levou ali a efeito, compreendeu-se a atração a si de algumas pessoas para formação de um partido hostil; e a ideia de tomar-lhe as terras por desapropriação.
 
De fato, aproveitando a sua ausência, conseguiu tornar aderentes alguns indivíduos que não o conheciam. E não faltou também quem se regozijasse com a lembrança da desapropriação; contando que, por distribuição gratuita de datas, como em S. Paulo, alcançariam à custa da província, terrenos na extensão que lhes aprouvesse.
 
Eis a fonte primitiva das falsidades.
 
Ao impulso da simpatia natural pela sorte dos oprimidos, surgiram beneméritos cidadãos ambiciosos da glória de hastear também neste solo de opressão, a bandeira da liberdade.
 
Um deles escreveu estas informações, preferindo as aleivosias de um adversário que ali não tinha casa, à verdade que poderia ser indagada; a saber: que Matheus da Costa Pinto estabeleceu como condições aos proprietários, a quem concedeu terras, de não poderem receber hóspedes para não prejudicarem o hotel; quando diariamente os estavam recebendo sem que alguém lhes desse ainda notícia de semelhante proibição; e que, decorridos 10 anos, as casas ficariam pertencendo a Matheus da Costa Pinto: exigência da qual jamais ninguém falara. De resto, as respectivas escrituras, lavradas pelo tabelião de S. Bento pulverizaram essas invectivas que, sobre negócio em que a prova é documental, só a desfaçatez pôde forjar.
 
O ilustrado Sr. Dr. Clemente Ferreira que veio visitar estes campos para escrever a sua luminosa e volumosa obra sobre a Tísica, apresentada à Faculdade de Medicina da corte disse o seguinte, falando deste lugar:
 
“É sobretudo ao benemérito Sr. Matheus da Costa Pinto importante fazendeiro, que se devem os melhoramentos e progressos dessa esplêndida localidade. Incansável e cuidadoso, ele se tem empenhado com afã na construção de casas pitorescas, que em grande número se oferecem agora ao agasalho e acomodação de tantas pessoas, que lá vão buscar lenitivo aos seus males.
 
Cheio de entusiasmo pelos campos o Sr. Matheus dedica a sua vida ao engrandecimento e renome do lugar, envida seus esforços para que a confortabilidade desejável caiba aos doentes, tratando mesmo de proporciona-lhes passatempos e distrações agradáveis, que possam amenizar a vida aos que aborrecem os recessos agrestes. ”
 
A fácil credulidade porém de outros, apenas transeuntes, transportou além como verdades, e além da boa-fé aceitou, e pôs em obra as encrespações injuriosas daquele desafeto que ali esteve morando, forjadas para apresentar como fautor de opressões neste retiro de seu próprio dono, e aqueles que ali estiveram, que por cotidiano trato o conheceram, os supostos oprimidos, declararam bem alto: que aquele desafeto só conseguiu deslustrar os anais parlamentares daquela gloriosa província; porque felizmente um dia a luz da verdade haveria de raiar no espírito daqueles que, na Assembleia ou fora dela, puseram em circulação, com louvável intento, as falsidades da malevolência, como galardão a serviços patrióticos.
 
Até lá fizeram votos para que, aquele a quem as hipocrisias não iludiriam, desmoronasse os tropeços que a injustiça, e ingratidão estivesse levantando na exemplar vereda em que Matheus da Costa Pinto tinha se mantido.
 
A perseverar ali, não deixou de ser incentivo a alta consideração na estima que lhe votaram os homens de bem, que o conheceram; e a cujos olhos o pronunciamento hostil de alguns ilustres deputados só provaram duas coisas: - uma que não o conheceram; e outra que, sem o quererem, se fizeram servidores de alheias e gratuitas paixões odientas.
 
Fontes:
Correio Paulistano, 24 de abril de 1884
http://memoria.bn.br/
Imagens: Google


Prisioneiros Alemães da II Grande Guerra no Grande Hotel

 

Há uma história sobre o Grande Hotel Campos do Jordão – hoje funcionando como hotel-escola do SENAC – que remonta à participação do Brasil na 2ª Guerra Mundial.
 
Em dezembro de 1939, um luxuoso navio de turismo alemão de nome Windhuk, fugindo da perseguição da marinha inglesa que rondava a costa africana, desembarcou seus passageiros na Cidade do Cabo, disfarçou-se de navio japonês (na pintura e nas bandeiras) e, partindo do porto de Lobito, em Angola, cruzou o Atlântico e aportou em Santos com o nome falso de Santos Maru. O verdadeiro Santos Maru japonês desatracara um dia antes do porto santista, o que causou grande rebuliço entre as autoridades e na cidade.
 
O Brasil era então neutro no conflito. Não obstante, o Windhuk foi detido e seus 244 tripulantes impedidos de deixar o país. Passaram a morar no próprio navio, e também em pensões e hotéis santistas. Em férias forçadas, recebiam seus soldos do consulado alemão.
 
Em agosto de 1942, contudo, o Brasil declarou guerra ao Eixo. Pouco antes, fora divulgada a notícia de que o Windhuk seria confiscado pelo governo federal e vendido aos Estados Unidos. Os tripulantes então sabotaram a embarcação, atirando toneladas de areia, pedra e cimento nas caldeiras, o que custou a prisão de todos os tripulantes, incluindo o capitão Willy Brauer.
 
Os 244 prisioneiros foram encaminhados para a Casa de Detenção do Carandiru, em São Paulo. Porém, eram presos de guerra estrangeiros e o governo brasileiro não podia mantê-los detidos como criminosos comuns, de modo que foram instalados em prisões provisórias em Pirassununga, Bauru e Ribeirão Preto, até ficarem concluídas as obras de dois campos de concentração, um em Guaratinguetá e o outro em Pindamonhangaba.
 
Na Europa, os vinte e cinco mil soldados da FEB embarcados para o cenário de guerra lutavam junto dos norte-americanos contra a resistência nazista nas montanhas geladas da Itália, onde fizeram mais de vinte mil prisioneiros, especialmente com a rendição em peso da 148ª Divisão alemã em abril de 1945. Depois da vitória brasileira em Montese, os alemães da 148ª cercados em Fornovo, convencidos de que a guerra como um todo estava perdida, ademais sem comida e munição, e com mais de quatrocentos feridos sem atendimento, temiam ser entregues a um batalhão exclusivo de negros (comandados por oficiais brancos) dos norte-americanos, conhecido por sua brutalidade para com os prisioneiros, e preferiram aproveitar a oportunidade de se render aos brasileiros (que, a propósito, constituíam a única força miscigenada não oficialmente segregacionista entre as tropas aliadas). Também foi aceito o pedido alemão, nos termos de rendição, de que os italianos que compunham a força nazifascista fossem tratados como prisioneiros de guerra, pois costumavam ser fuzilados pelos italianos comunistas que integravam as tropas aliadas. Outro item do termo era de que conservassem suas medalhas de honra adquiridas em combate.
 
O acordo foi fechado entre brasileiros e alemães, mas um grave imprevisto quase pôs tudo a perder. Eis o que sucedeu, segundo relato do general Dionísio ao pesquisador coronel Hiram Reis e Silva:
 
“Combinada a rendição, cessou o fogo dos dois lados. Na manhã seguinte vieram as formações marchando garbosamente, cantando a canção Velhos Camaradas, também conhecida no nosso Exército. A cerimônia era tocante. Era até mais cordial do que o final de uma partida de futebol. Podíamos ser inimigos, mas nos respeitávamos e parecia até haver alguma afeição.
 
Eles vinham marchando e cada companhia colocava suas armas numa pilha, continuando em forma, e seu comandante apresentava a tropa ao oficial brasileiro que lhe destinava um local de estacionamento. Só então os comandantes alemães se desarmavam. A primeira unidade combatente a chegar foi o 36º Regimento de Infantaria da 9° Divisão Panzer Grenadier. Seguiram-se mais de 14 mil homens, na maioria alemães, da 148° Divisão de Infantaria e da Divisão Bessaglieri Itália que os acompanhava.
 
Entretanto houve um trágico incidente: um nosso soldado, num impulso de momento, não se conteve e arrancou a Cruz de Ferro do peito de um sargento alemão. O sargento, sem olhar para o soldado, pediu licença a seu comandante para sair de forma, pegou uma metralhadora em uma pilha de armas a seu lado e atirou no peito do brasileiro, largou a arma na pilha e entrou novamente em forma antes que todos se refizessem da surpresa. Por um momento ninguém sabia o que fazer. Já vários dos nossos empunhavam suas armas quando o oficial alemão sacou da sua e atirou na cabeça do seu sargento, que esperou o tiro em forma, olhando firme para frente. Um frio percorreu a espinha de todos, mas foi a melhor solução.”
 
Durante toda a campanha da Itália, a 148ª Divisão foi a única divisão alemã capturada integralmente por uma força aliada antes da rendição total das forças alemãs ser oficializada em 2 de maio de 1945, pois todas as demais divisões conseguiram se retirar ao norte sem se render. Ao todo, a Força Expedicionária Brasileira aprisionou 2 generais, 493 oficiais e 19.679 soldados inimigos.
 
No Brasil, os 244 tripulantes do Windhuk permaneceram nos campos de concentração até 1945. Em Guaratinguetá o sistema era mais rígido, e os alemães não tinham contato com os brasileiros.

Já em Pindamonhangaba o negócio era mais brando. Permitia-se que os prisioneiros recebessem visitas, saíssem para fazer compras na cidade e tocassem em festas. Os soldados brasileiros que guardavam o campo até tomavam caipirinha com os prisioneiros.

Quando libertados em 1945, muitos alemães subiram de Pindamonhangaba para Campos do Jordão, atraídos principalmente pela oportunidade de trabalho nos recém-construídos hotéis de luxo Toriba (1943) e Grande Hotel (1944, este funcionando também como cassino), cujo sócio majoritário era o alemão Heinz Hillebrecht.
 
Heinz Bohme, cabeleireiro do Windhuk, chegou em 1946 a Campos do Jordão. Este seu depoimento (assim como os demais) consta do livro Memória Sentimental de Campos do Jordão, no capítulo dedicado ao jornalista e escritor Camões Filho, que publicou o livro intitulado O Canto do Vento, tradução livre de Windhuk (wind – vento, huk – canto). Assim relatou Heinz Bohme:
 
“Campos do Jordão, naquela época, não tinha um metro quadrado de rua asfaltada. Na minha primeira viagem para lá, levei 7 horas para chegar. Era uma cidade de tratamento de tuberculosos e só tinha três hotéis, o Toriba, o Vila Inglesa e o Grande Hotel, onde fui trabalhar. Foram mais de cinquenta alemães, saídos do campo de concentração, trabalhar lá, a orquestra toda, garçons, cozinheiros, jardineiro, porteiro, tinha de tudo. Nós iniciamos a hotelaria em Campos do Jordão, cidade que eu amo e onde moro há 47 anos. Não havia no Brasil treinamento de pessoal. Esses estabelecimentos lucraram com a nossa presença. Naquele tempo, o hotel atendia uma clientela exclusiva. Campos do Jordão era uma surpresa para nós. A gente ficava no campo de concentração preso, admirando aquela serra azul da Mantiqueira.”
 
Werner Ruhig, que foi cozinheiro do Grande Hotel, e chegou a abrir em Campos a famosa boate 1.003 (localizada nesse número da rua Brigadeiro Jordão), contou que “transportados para os campos de concentração de Pindamonhangaba e Guaratinguetá pela Polícia Especial de Getúlio Vargas, as pessoas olhavam para nós e diziam: Olha os nazistas! Coitados de nós. Não tínhamos nada com a guerra nem com a política. O governo brasileiro não sabia o que fazer com a gente.”
 
Contou ainda o cozinheiro Werner Ruhig que, certa feita, um grupo de alemães necessitado de atendimento dentário foi transportado, com escolta, ao centro de Pindamonhangaba, mas na volta pararam todos no Bar Central para relaxar: “Os soldados quase não tinham dinheiro e começamos a pagar cerveja para eles. E eles ficaram bêbados. Aí falamos: agora, precisamos voltar ao campo. Então voltamos, nós na frente com os fuzis e todos os soldados bêbados atrás”.
 
Outra patuscada foi a de Paul Scherer, garçom por muitos anos no Grande Hotel, que, enquanto estava no campo de Pindamonhangaba, foi certo dia ao mercado da cidade quando ainda não falava nem entendia nada de português, e, por isso, acabou se perdendo. Somente chegou de volta ao campo de concentração à noite, mas o guarda não quis deixá-lo entrar, tendo-lhe custado muito convencer os soldados de que era preso, havia se perdido e que precisava retornar ao campo de concentração.

Willi Schlote, que foi barman do grande Hotel, declarou que, em Pindamonhangaba, “a vida era boa. Nós cuidávamos da limpeza, plantio, colheita e silagem. Os engenheiros ajudaram a recuperar máquinas e tratores. Morávamos em um enorme estábulo, transformado em dormitório, mas recebemos autorização e material para construirmos cabanas individuais, onde podíamos receber visitas. Chegaram a ser construídas quase cem cabanas de madeira e sapé.”
 
O futebol era de lei nas tardes de domingo dos alemães, que, segundo o barman Willi Schlote, venciam constantemente os amistosos contra a equipe dos funcionários da Estrada de Ferro Campos do Jordão.
 
Talvez algo que adivinhasse, em pleno território nacional, a catástrofe dos 7 a 1 do Mineiraço, 70 anos depois. Mas nada que parasse Ronaldo, Rivaldo, Ronaldinho Gaúcho, Roberto Carlos e Cafu na conquista do penta em cima da Alemanha de Oliver Kahn.
 
Fontes:
André Luiz Torres
https://diariodacabana.wordpress.com


                                                                               O Abrigo da Pedra do Baú…

O esplendor da Pedra do Baú, aqui vista em sua face Sul, de Campos do Jordão, coleciona uma bela história de desbravamento.

Não há quem suba a Serra da Mantiqueira, rumo as cidades de Santo Antonio do Pinhal, Campos do Jordão e São Bento do Sapucaí, que não deixe de admirar uma formação rochosa, a Pedra do Baú. Adorada por montanhistas, ela é atração visual principalmente nas cidades de Campos do Jordão e São Bento do Sapucaí, cidade a qual pertence a curiosa “montanha”.

Mas ao retornarmos a primeira metade do século passado, acharemos uma verdadeira história de conquista da tão difícil escalada a Pera do Baú.

Conta Ricardo Lenz, neto do Dr. Luiz Dumont Villares (1899-1979), pioneiro da indústria de elevadores no Brasil e sobrinho de Santos Dumont, que quando o Hotel Toriba em Campos do Jordão estava sendo construído (e que foi aberto em 1943), seu avô tinha, junto a frente do famoso Hotel, o privilégio da vista da Pedra do Baú em sua face Sul e que sonhava em conquistá-la.

Esta era a visão que Luiz Dumont Villares tinha da Pedra do Baú, do local onde estava sendo construído o Hotel Toriba em Campos do Jordão, naqueles anos 40, do século passado

Entre uma e outra pesquisa acabou por descobrir que em 1940, os irmãos João e Antônio Teixeira de Souza, os irmãos Cortez de São Bento de Sapucaí já tinham escalado a pedra do Baú pela primeira vez. O então rico empresário, se pôs a dirigir por aquelas barrentas estradas, entre Campos do Jordão e São Bento para encontrar os irmãos quando facilmente localizou na pequena São Bento , o Antonio “Cortez”.

O empresário, que era um apaixonado pela região de toda a Mantiqueira resolveu então contratar os dois irmãos para levá-lo ao topo da Pedra.

Nascia ali então uma parceria de dois sonhadores, em “domar” a famosa Pedra. Alguns dias depois, o Dr. Luiz retornou a São Bento encontrando Cortez com todo material e provisões necessárias e uma equipe de apoiadores.

Após longa e difícil trajetória chegaram na base da Pedra e quando olharam para cima, se depararam com muitos desafios e recursos rudimentares para escalar o paredão. Enfrentando a escalada, chegaram ao topo, e ficaram durante bom tempo contemplando a enorme beleza da paisagem numa visão deslumbrante de 360º quando então resolveram retornar. Apesar de todo esforço e desafios Luiz Villares ficou tão impressionado com a beleza do local e que já como grande admirador da “Pedra”, patrocinou em 1947 a construção de escadas (a primeira e a segunda escada [Via Ferrata] do Baú) e do primeiro abrigo de montanha do Brasil construído a mais de 1950 metros em nível do mar, chamado de “Abrigo Montanhês”.

Achado na Villares, pelo sobrinho de Luiz Dumont Villares, Fernando Stickel, um detalhamento do projeto do Abrigo/Refúgio do Baú

Foi construído exatamente no topo da Pedra do Baú feita com tijolos, telhado de cobre e bem servida de água, pois havia compartimentos para receber e armazenar águas da chuva, construída por Floriano Rodrigues Pinheiro, e para hospedagem das pessoas que tinha ainda como conforto, lareira, beliches (treze) e uma cozinha com fogão.

Um lugar para aproveitar confortavelmente ainda mais a beleza e vista do local. Imaginem como deveria bem fora do contexto uma casa no topo da Pedra, a 1950m de altitude, com o tamanho do prazer e da vista maravilhosa que você desfrutaria ao amanhecer e ao entardecer interagindo com uma exuberante natureza. Chegou também a existir um livro de registro de visitantes que ficava à disposição de todos que passavam e dormiam no abrigo.

Algumas cenas da saga da conquista e da construção do abrigo/refúgio:

Todos da família Dumont Villares sempre foram grandes apoiadores destas aventuras, tal o apreço que o Dr. Luiz Dumont Villares tinha pela região e por uma motivação ainda maior como relatou Paulo Diederichsen Villares, em “A HISTÓRIA DO PAIOL GRANDE”:

“Após o término da Segunda Guerra Mundial, lá pelos anos de 1946, meu pai, Luiz Dumont Villares, foi procurado por um grande amigo seu, o Dr Job Lane, que era dono do Hospital Samaritano em São Paulo. Disse ele à meu pai:

“Luiz eu conheci um americano lá nos Estados Unidos, que tem um Acampamento de Férias para jovens e perdeu seus dois filhos na Guerra. Em homenagem e lembrança de esses dois filhos, ele gostaria de tocar um acampamento de férias aqui no Brasil, semelhante ao dele, mas precisa de quem de apoio a ele. Você não gostaria de conhecê-lo? “

Assim foi que meu pai numa próxima ida sua para os Estados Unidos, convidou o Mr. Donald D. Kennedy para um jantar em Nova Iorque e o diálogo dos dois foi mais ou menos assim, segundo meu pai:

“Mr. Kennedy, o que é um acampamento de férias para jovens?“

Mr. Kennedy então explicou e explicou, contando o que ele e a mulher dele, Harriet, faziam, no chamado “Camp Kieve”, em Vermont. Era uma oportunidade para jovens meninos, entre onze e quinze anos de idade, aprenderem a desfrutar a natureza, a fazer amigos, através de muito esporte, num ambiente longe da cidade e longe das “saias das mães”.

Meu pai ficou muito impressionado e disse :

“Não temos nada parecido no Brasil”

Mr. Kennedy então respondeu:

“Por isso mesmo que eu tive a ideia de fazer algo semelhante ao que eu tenho aqui, em memória aos meus filhos que perdi na Guerra”

Meu pai voltou para o Brasil, chamou o Dr. Job Lane e ambos juntos resolveram procurar amigos que topassem a ideia de implantar o primeiro acampamento de férias do Brasil.

Não foi difícil reunir um punhado de amigos. O difícil foi realizar a tarefa no curto espaço de tempo que restava, pois o compromisso de meu pai com o Mr. Kennedy, foi o de ter um acampamento de férias pronto para funcionar no verão de 1947!!

Como foi escolhido o local?

Em 1943, no final da construção do Hotel Toriba, em Campos do Jordão, que meu pai fazia com meu avô, Ernesto Diederichsen, o famoso empreiteiro Floriano Pinheiro, que construía o Hotel, apresentou a ele o humilde pedreiro, Antonio Cortez que havia acabado de subir a Pedra do Baú, até então nunca escalada. Era plena Segunda Guerra, mas meu pai ficou tão entusiasmado, aos ter sido levado pelo Antonio, para também escalar a Pedra, que resolveu comprá-la, com ideia de fazer uma escada, e mais tarde, lá em cima, um abrigo, do tipo dos que existiam no Alpes da Suíça, País onde havia estudado.

Queria que “todo o mundo” pudesse escalar a Pedra, afim de desfrutar daquela empolgante natureza.

Foi assim que, anos depois, justamente quando meu pai resolveu levar para a frente a ideia do Mr. Kennedy, que o tal abrigo, em cima da Pedra do Baú estava sendo feito. E numa ida dele, para ver como andava a construção da casinha, em que eu também estava presente; lá de cima, me lembro do seguinte diálogo de meu pai com o Antonio Cortez, que não só havia colocado as escadas e os degraus, mas estava também construindo a casinha. Disse ele:

“Antonio, presta bem atenção. Eu vou explicar para você o que é um Acampamento de Férias para Jovens”

Respondeu o Antonio :

“Pois não Doutor, pode falar ! “

E meu pai, com muita paciência, explicou e explicou, tudo o que havia apreendido do Mr. Kennedy, terminou e perguntou :

“Antonio, você entendeu o que eu falei?“

Respondeu o Antonio:

“Entendi sim, doutor”

Meu pai então perguntou :

“Então me diga aonde posso fazer esse Acampamento?“

“Lá em baixo“

Respondeu prontamente o Antonio Cortez, apontando, lá de cima do Baú, para o vale lá em baixo, onde hoje é o Acampamento Paiol Grande.

Meu pai voltou para São Paulo, reuniu seus amigos, e compraram as terras onde hoje está o Acampamento Paiol Grande.

Porque o nome Acampamento Paiol Grande?

Porque o Acampamento está no Vale do Paiol Grande. A Pedra do Baú está no meio de dois vales. Um chama-se Vale do Baú, fica no lado de campos e Jordão, e ou outro, Vale do Paiol Grande.

E daí?

Daí, após a compra do terreno, foi uma correria incrível!! O Acampamento tinha que ficar pronto em poucos meses! Não dava tempo de contratar um arquiteto. Então, meu pai, pegou os desenhistas do departamento de projetos da Elevadores Atlas, que projetavam as cabines dos elevadores, e juntos foram projetando os primeiros chalés de madeira.

Meu pai havia acabado de comprar seu primeiro avião, um Beechcraft Bonanza,e conseguiu com o Prefeito de São Bento do Sapucaí que fizesse um campinho de aviação na cidade, para assim ele poder sair na hora do almoço do Campo de Marte, onde guardava o seu avião e dar um pulo até o Paiol, afim de ver como andavam as obras. Nos domingos ele me convidava:

“Paulo, vamos dar um pulinho até São Bento, para ver como andam as obras do Acampamento?“

Eu tinha só dez aninhos de idade, mas lá ia de “co-pila”

Como foi a primeira temporada ?

Foi uma aventura total. A piscina não tinha ficado pronta. Era uma piscina de terra, mas muito divertida. Uma lama só ! O prédio do refeitório estava pronto, felizmente, então a gente tinha onde comer, mas o Ranchão, onde a gente iria fazer os eventos fechados, não estava. Faltavam as paredes laterais.

E aí o que aconteceu?

Deu um “pé de vento” e o teto do Ranchão desabou! Ficamos sem o Ranchão no primeiro ano.

E os chalés ?

Tudo bem, mas não tinham água quente. Aliás, assim foi por muito tempo, pois apesar das primeiras temporadas serem de dois meses, era verão, então o Mr. Kennedy entendia que não precisávamos de água quente. Só mais tarde, quando começaram as temporadas das moças, em Julho, com era inverno, então os chalés ganharam água quente.

Resumo da primeira temporada, não havia meio termo, alguns Paioleiros adoraram, mas outros, entre os “grandes”, que ficaram no chalé dos Ventos, detestaram a tal ponto que até FUGIRAM do Paiol.

Qual era a programação no primeiro ano?

Muito esporte, piscina de barro, lutas de Box, longas cavalgadas, banhos de rio de descoberta de cachoeiras, campeonatos de arco e flecha e é claro, muitas subidas na Pedra do Baú. Muitas porque eram dois meses!

Nas cavalgadas, sempre acampávamos em barracas e nunca sabíamos direito para onde estávamos indo, pois não haviam trilhas. Era só mato. À noite, é claro, sempre ouvíamos miados de onças. Não sabíamos que onça não mia e só “esturra” !!!

FOI UMA EXPERIÊNCIA INESQUECIVEL

Bom, o acampamento é um bela e consolidada realidade, já o Abrigo Montanhês no topo da Pedra do Baú, não resistiu pois sofreu 2 atos de vandalismo. No primeiro, atearam fogo nas camas e jogaram o sino do alto da Pedra. Mas Luiz Dumont Villares restaurou todo o abrigo e o sino.

Num segundo ato de vandalismo, o abrigo foi totalmente destruído. Atearam fogo em tudo e destruíram a construção e desta vez o Sr. Villares desistiu de reconstruí-lo, tendo em vista os inúmeros atos de vandalismo e destruição do local.

Até o livro de registro de viajantes também foi roubado, e uma parte da história foi perdida com este lastimável ato. Quem sabe um dia quem pegou resolva devolver este imenso patrimônio histórico. O local que teve vários nomes, como Abrigo Montanhês, Refúgio do Bahú, Abrigo do Baú, abrigo Antonio Cortez, etc. e o que restou foram apenas os alicerces da casa, em meio a vegetação local.

 FONTES:

Matta, Octávio da – Campos do Jordão, a cidade que vi nascer – B.L.Ferrari, Campos do Jordão, 2011

Svevo, Celia e Nedopetalski, Sandra – O Toriba na cultura de Campos do Jordão – Metalivros, São Paulo, 2007

Campos do Jordão, Histórias de – Jornal Eu amo CJ – #1 – Campos do Jordão, 28/09/2012

Acervo Erico Stickel

Villares, Paulo Diederichsen – A história do Paiol Grande – Fernando Stickel, 2012



A História de S. Matheus do Imbery, 20 de fevereiro de 1884.

 

Ilmo. Sr. Matheus da Costa Pinto. – Foi com a maior surpresa e descontentamento que chegou ao conhecimento dos habitantes deste lugar as asserções agressivas ouvidas na Assembleia Provincial em referência a V.S. A tal procedimento, unanimes e espontaneamente, nós os proprietários abaixo assignados, vimos manifestar a V.S. a nossa desaprovação e sincero pesar em pura homenagem a verdade. Justiça ao mérito, e gratidão a serviços patrióticos e humanitários.
 
Mas ante inverdades e injustiças de ilustres deputados que não o conhecem, e que dão assim testemunho de quanto abusaram de sua credulidade, é mister em defesa desmentido público da parte daqueles que o conhecem, para que as falsidades aqui forjadas, e que acabam tão solemnemente de achoar no recinto da representação provincial não continuem sem protesto a fazer prosélitos, e menos possam ir ao encontro de homens honrados e benfeitores a desalentá-los em seu caminho.
 
Permita-nos pois V.S. que neste intuito, e sem ânimo de ofender sua modéstia, nos tornemos explícitos e circunstanciados.
 
Não há ninguém que entretendo relações com V.S., ignore os invejáveis dotes que o adornam, e que justificam plenamente a bem merecida popularidade, de que goza em Pindamonhangaba, S. Bento, na numerosa população do bairro do Bahú e aqui. Para dizermos tudo em uma frase, a vida de V.S. tem sido longa prova de grandeza d’alma, e de extrema bondade de seu coração até para com os seus mais pronunciados adversários. Quando se trata de favores ou benefícios V.S. não faz distinção entre o rico e o pobre: entre o homem livre e o escravo: entre o amigo e o adversário; a todos estende paternal solicitude, presando-se de seu fino trato, amabilidades e generosidades; sendo franca, desinteressada e desvelada a hospitalidade em suas três casas das fazendas do Humaytá, Bahú, e daqui com todos os transeuntes.
 
Não tecemos panegírico à vontade, como a vontade à maledicência urdiu falsidades que o degradassem.
De entre as inequívocas e abundantes provas de seu gênio serviçal, benfazejo e caridoso, nos socorremos dos seguintes factos, uns conhecidos de todos os abaixo assignados e outros de parte deles.
Em relação a infância, V.S. institui em 1872, e manteve a sua custa no bairro do Bahú uma escola de 1as. Letras com a admissão gratuita de alumnos, fornecendo a estes os utensílios precisos; e ao professor casa, mobília e ordenado. A fruição de tão precioso benefício afluiu numerosos meninos.
 
Essa escola viveu na obscuridade do lugarejo a que tão proveitosa fora, e desapareceu após 3 annos de existência pela retirada do seu professor, não restando senão encômios traçados pelas hábeis penas do Sr. Dr. Bulcão, então juiz de órfãos, e do distincto literato portuguez Sr. Dr. Raposo d’Almeida que conjunctamente com o reverendo Sr. Padre Miné, e finado engenheiro Trigo de Loureiro que a seu convite procederam a exame.
 
Ainda no anno atrasado V.S. diligenciou a fundação aqui de outra instituição igual que foi de efêmera exigência pelo abandono em que, seduzido por outas ambições, o professor Sr. Fortunato de Paula Campos a deixou.
 
E no princípio do corrente anno instalou nova escola de instrucção primária, para a infância de dia, e para adultos a noite, a que anexou uma aula para creação de uma banda de música, ambas ao cargo do Sr. José Gomes Coutinho que recebe de V.S. sustento e casa.
 
Em relação a enfermos ainda não eram conhecidos na província nem de nome estes Campos, e já V.S. se fazia o extremoso pai desses infelizes, posto que, raros que começavam a demandar tão abençoado clima. De então para cá numerosas hão sido as víctimas das afecções pulmonares que a sua caridosa hospitalidade há acolhido, por vezes até no adio de sua exma. Família: triste e perigosa tarefa, em que inspirada nos exemplos de seu chefe, tanto ella se tem distinguido, e se recomendado ao reconhecimento das almas nobres.
 
Desses enfermos alguns recuperaram a saúde, outros em estado desesperado infelizmente sucumbiram; e alguns nos próprios braços de V.S. Entre os segundos ocorre-nos os finados dr. Avelino de Freitas, de Nictheroy; o pardo Luiz, escravo do Sr. José Francisco Marcondes Machado, Antonio Pereira de Souza Guimarães, portuguez; Antonio Carlos de Almeida, do Maranhão; Francisco Correa leite, de Pindamonhangaba e José Gonçalves Guimarães, portuguez.
Também é geralmente aqui sabido que o hotel deste retiro tem hospedado por longo tempo, e muito frequentemente hóspedes por dissá pessoas tanto doentes, como sadias, e tanto das relações de V.S. como desconhecidas e desvalidas, com ordem de não lhes apresentar a conta das despesas, por correrem ellas a seu cargo.
Este acolhimento que tenta ocultar o que não é fácil em casa pública, os abaixo assignados não têm a mesma razão de calar.
 
Para que os enfermos contassem com moradia a seu commodo, e nas condições hygiênicas requeridas, mandou construir um vasto prédio para hotel, o que não foi propriamente especulação mercantil; V.S. nunca teve hotel; desde o começo o prédio achou-se entregue a outros para que, por conta e interesse próprio montassem uma empresa lucrativa, sendo-lhe mister por veze superar dificuldades para conseguir quem se prestasse a toma-la a si, e até servir de fiador a compras de objetos precisos.
 
Os lucros, pois, couberam a tais empresários.
 
Para protege-los o prédio nunca lhes foi alugado: o aluguel quase que absorveria os lucros.
 
A maior afluência de hóspedes é no estio: nas outras estações pode-se dizer que o hotel se fecha; vivendo então o hoteleiro de outros recursos.
 
Por isso V.S. tem se contentado de exigir como indemnização do alto dispêndio um tanto por cada hóspede.
 
Mas o termo médio destes ainda durante o estio não excede a 3 ou 4; de sorte que o rendimento não se pode calcular nem em 4% annuaes do capital empegado.
 
Sem dúvida por interesse, para cômodos dos doentes, V.S. construiu algumas casas que por muitas vezes as tem cedido grátis. É verdade que quando alugadas, o tem sido por preços altos; mas atendendo a que é somente na curta estação do estio que em regra se apresentam alugadores, supomos indubitavelmente que os capitães a ellas aplicados, igualmente não alcançam os juros da lei.
 
Haverá quem razoavelmente pretenda a redução por que os inquilinos padecem dos pulmões?
As suas várias casas pequenas e cobertas de palha, são e sempre foram habitadas por pessoas pobres e sem pagamento algum.
 
Para conforto dos doentes, e socorros espirituais da igreja, V.S. erigiu uma capella com considerável dispêndio por insuficiência dos donativos agenciados pelo primeiro abaixo assignado.
 
A princípio, e por muito tempo, as vacas de leite que lhe pertencem foram cedidas a todos gratuitamente; e se mais tarde desapareceu esse uso, proveio da grande mortalidade dos bezerros a correspondente prejuízo, resultante do indevido tratamento deles.
 
Não há aqui quem não saiba que das avultadas somas desembolsadas, e que tanto hão aproveitado aos enfermos, V.S. não tem colhido senão prejuízos, e em reconhecimento a recentes agressões.
 
Pelo que respeita aos habitantes dos Campos, se há um lugar de geral expansão da caridade christã, é este.
 
Em comiseração o espírito predominante este facto denúncia. – O Sr. Dr. Samuel Aguiar Figueiredo retirou-se dos Campos muitos meses depois de ficar orphão de mãe, na absoluta ignorância dessa sua infelicidade, que logo chegou ao conhecimento de todos; por que todos a porfia, em atenção ao seu gravo estado de saúde, curaram de guardar inviolável segredo sob as esmeradas cautelas que requer povoação habitada também por escravos, camaradas e criados.
 
Em que pois se fundaram aquelles que da eminencia da tribuna exclamaram que esta localidade geme sob a prepotência de seu dono, e que para gosar da salubridade deste clima cumpre “trazer a bolça cheia de ouro dos Cresos e dá-los aos vilões sem charidade, de humanos que mercadejam até o ar que se respira? ” Nós vivemos sob o jugo da prepotência, e o ignoramos! É lá ao longe que o sabem! Que há aqui vilões de humanos, também é de lá que nos vem a notícia! Quais são os actos de prepotência e os vilões, não o disseram.
Entretanto os ilustres oradores conhecem de todo estas paragens que, segundo se vê de debate, há um único responsável por tudo, e esse é V.S. Ignoram que no hotel pelo habitual fornecimento em tais casas incluindo o leite, cada hóspede paga a diária 4$000; se isto é cobrar o ar que respiram, não cabe a responsabilidade a V.S. que nunca teve hotel.
 
Ignoram mais que a distância de uma légua há o hotel do Salto, para onde apelarem, e do qual só temos ouvido dos elogios ao proprietário, o estimável Sr. Nicoláo Arede Tavares, e a sua tão caridosa e hospitaleira família.
 
A prova de que não é mister dispor de colossal fortuna para viver neste lugar, é que não está povoado de Cresos, e que nem são Cresos os que para aqui vem, antes na máxima parte são pessoas destituídas de fortuna; de que é exemplo o finado padrasto do ilustre deputado Sr. Muniz de Souza, por V.S. aqui tão obsequiado.
 
Esse senhor afirmou que V.S. impõe vexames a aquelles que querem aqui se estabelecer. Sua boa-fé, porém, foi illsquesda. Não nos consta que ninguém desistisse, seja porque motivo for de decidido intento de o fazer: todos os que o pretenderam conseguiram, e todos os que o conseguiram são os abaixo assignados, com a exceção de dois ausentes; e os abaixo assignados declaram que a ninguém deram procuração para irem informar os Srs. Deputados de semelhantes imaginários sofrimentos; e que dispensam oficiosos curadores a zelarem de seus interesses. Nenhum de nós se sente disposto a se conservar silencioso e submisso a prepotência seja de quem for; nenhum jamais deu direito a alguém de crer que abdicamos o amor a própria dignidade. Nem quando V.S., tão cavalheiro, fosse capaz de vexar alguém, neste ponto não o poderia.
 
Consta que o Sr. Dr. Júlio, assim como o Sr. Arede Tavares franquiam terras grátis e sem condições. Logo os abaixo assignados não tinham necessidade de se sujeitar a clausulas inaceitáveis. Felizmente no próprio discurso do Sr. Deputado está o desmentido.

Disse ele que a povoação aqui cresce todos os dias; e de duas uma: ou são inverídicas as taes imposições; ou o mundo hoje se compõem de pessoas que docilmente e por puro prazer se curvam as opressões de um particular.
 
Mas por que tão grande celeuma contra um homem e um lugar?

Quando se decretam providências inspiradas por louváveis intenções e essas providências vão em nome de inculcado bem público ferir legítimos interesses de numerosas pessoas, cumpre dizer a verdade.

Alguém aqui residente mais de anno por motivo ignorado, e devendo a V.S. obséquios, apresentou-se seu pronunciado adversário, do que não fazia mystério, emprestando-lhe qualidades, e referindo a todos, factos que o desairassem e o tornassem odioso. Era esse seu primeiro cuidado no trato com aquelles que aqui chegaram.

Apesar da publicidade de semelhante procedimento não declinaremos seu nome. Sabem-lhes muitas pessoas.

Entre outros meios de prejudicá-lo que levou aqui a efeito, compreende-se a attracção a si de algumas pessoas para formação de um partido hostil; e a ideia de tomar-lhe as terras por desapropriação.

De facto, aproveitando a sua ausência, conseguio tornar aderentes alguns indivíduos que não o conheciam. E não faltou também quem se regozijasse com a lembrança da desapropriação; contando que, por distribuição gratuita de datas, coo em S. Paulo, alcançariam à custa da província, terrenos na extensão que lhes aprouvesse.

Eis a fonte primitiva das falsidades.

Ao impulso da sympatia natural pela sorte dos oprimidos, surgiram beneméritos cidadãos ambiciosos da glória de hastear também neste sólo de oppressão, a bandeira da liberdade.

Um deles escreveu estas informações, preferindo as aleivosias de um adversário que aqui não tem casa, à verdade que podia ser indagada; a saber: que V.S. estabeleceu como condições aos proprietários, a quem concedeu terras, de não poderem receber hóspedes para não prejudicarem o hotel; quando diariamente os estamos recebendo sem que alguém nos desse ainda notícia de semelhante proibição; e que, decorridos 10 annos nossas casas ficam pertencendo a V.S.: exigência da qual jamais ninguém nos falou. De resto, as respectivas escripturas, lavradas pelo tabelião de S. Bento pulverizam essas invectivas que, sobre negócio em que a prova é documental, só a desfaçatez pode forjar.
 
O ilustrado Sr. Dr. Clemente Ferreira que veio visitar estes campos para escrever a sua luminosa e volumosa obra sobre a Ptysica, apresentada à Faculdade de Medicina da corte ahi o seguinte, falando deste lugar:
 
“É sobretudo ao benemérito Sr. Matheus da Costa Pinto importante fazendeiro, que se devem os melhoramentos e progressos dessa esplêndida localidade.

Incansável e cuidadoso ele se tem empenhado com afan na construção de casas pitorescas, que em grande número se oferecem agora ao agasalho e acomodação de tantas pessoas, que lá vão buscar lenitivo aos seus males.

Cheio de entusiasmo pelos campos o Sr. Matheus, dedica a sua vida ao engrandecimento e renome do lugar, envida seus esforços para que a confortabilidade desejável caiba aos doentes, tratando mesmo de proporciona-lhes passatempos e distracções agradáveis, que possam amenizar a vida aos que aborrecem os recessos agrestes. ”
 
A fácil credulidade porém de outros, apenas transeuntes, transportou além como verdades, e além da boa-fé aceitou, e pôs em obra as increpações injuriosas desse desaffecto que aqui esteve morando, forjadas para apresentar como fauctor de opressões neste retiro seu próprio dono, e nós que aqui estamos, que por quotidiano trato o conhecemos, nós os supostos oprimidos, vimos declarar bem alto: que esse desaffecto só conseguiu deslustrar os annaes parlamentares de nossa gloriosa província; porque felizmente um dia a luz da verdade há de raiar no espírito daqueles, que, na Assembleia ou fora dela, puseram em circulação, com louvável in tento, as falsidades da malevolência, como galardão a serviços patrióticos.
Até lá fazemos votos para que, Aquelle a quem as hypocrisias não iludem, desmorone os tropeços que a injustiça, e ingratidão estão levantando na exemplar vereda em que V.S. tem se mantido.
 
A perseverar ahi não deixa de ser incentivo a alta consideração ne estima que lhe votam os homens de bem, que o conhecem; e a cujos olhos o pronunciamento hostil de alguns ilustres deputados só prova duas cousas: - uma que não o conhecem; e outra que, sem o quererem, se fizeram servidores de alheias e gratuitas paixões odientas.
 
Diego de Mendonça Pinto, residente em S. Paulo.
Joaquim Gomes Leitão, dito em Jacarehy.
José Abelhos Fortes Bustamante Sá, dito em S. Paulo.
José Benedicto Marcondes Ribeiro, dito em Pindamonhangaba.
José Benedicto Marcondes Machado, dito em Vassouras.
Felix Martins Correa, dito em Campos do Jordão.
Antonio Publio da Granja Mendonça, residente em S. Paulo.
Manoel Hortense Vargas, dito neste bairro.
Manoel Rodrigues Barcellos, idem
Jeremias Gonçalves de Oliveira, idem.
Ignácio Gonçalves de Oliveira, idem.
Angelo Franciullis, idem.
Obs. (Os erros ortográficos são dos originais)

Fontes:
Correio Paulistano, 24 de abril de 1884
http://memoria.bn.br/


              Puris - Os primeiros Habitantes


A região da atual Campos do Jordão teve uma marcante presença indígena, eram índios Puris, Caetés, Guarulhos e Cataguás, que deixaram suas marcas na cultura e principalmente nos nomes de diversos locais como a própria Serra da Mantiqueira, as Vilas Capivari e Jaguaribe, os rios Sapucaí e Canhambora, dentre outros tantos.

Outra presença a se destacar foi a dos escravos que procuraram refúgio em locais como a Gruta dos Crioulos, quando fugiam da perseguição de feitores.

Os mais renomados historiadores “falam de uma expedição narrada por Antonio Knivet, na qual Martim, filho de Salvador Correia de Sá, (governador da capitania do Rio de Janeiro), comandava 700 portugueses e 2 mil índios com a finalidade de auxiliar os índios aliados guaianazes contra os tamoios, que se encontravam em batalhas violentas.

Em sua “Narração de viagens”, Knivet afirma ter encontrado na última década do século XVI índios puris (ou poris), localizados entre a Serra do Itapeva (que significa pedra chata, em tupi) e as margens do Paraíba. Eram nômades.

Por sua vez, em outra fonte levantada por Pedro Paulo Filho, o professor Benedito de Abreu, (que escreveu “Pindamonhangaba, tempo e face”) afirma que o território do Vale do Paraíba era habitado por tapuias, entre os quais se mencionam os maromonis, puris, temiminós e, talvez também os guaianazes e tamoios.

O professor Paulo Pereira dos Reis, em “O Indígena do Vale do Paraíba”, depois de fazer referência à expedição de Knivet, também menciona a presença de poriês (puris) e tamoios que, expulsos do litoral se refugiaram no local denominado Parahyba Wereob ou, segundo Teodoro Sampaio, Parahyba Yrioba, que significa nascentes do Paraíba.

Nosso lado de Mantiqueira foi frequentada pelos Puris, do Vale do Paraíba; pelos Cataguazes, que vinham do Sul de Minas e também pelos caetés, vindos do Vale do Sapucaí.

Nessa região, é bom lembrar, está a Pedra do Baú, que, ao contrário da versão que corre sobre seu nome, por parecer um baú, chamava-se anteriormente Embaú, que em tupi quer dizer pedra da vigia. Seja pela proximidade geográfica ou pela entrada das bandeiras em direção à Minas, os índios estiveram presentes em Campos do Jordão.

“Não se justifica versão de que os índios tiveram evitado a região de Campos do Jordão por causa do frio ou da altitude”, – contesta Pedro Paulo Filho.

Capistrano de Abreu e João Ribeiro, fazendo remissão a trabalhos de Gentil de Moura, trata dos roteiros das bandeiras na Mantiqueira, afirmam que entre as várias gargantas da região duas possuem interesse histórico – a do Rio Buquira e a do Piracuama, utilizadas pelas bandeiras para alcançar Minas Gerais, especialmente a região aurífera de Itajiba.

“Com base nestes estudos, posso afirmar que Gaspar Vaz da Cunha, o Oyaguara, que esteve em Campos do Jordão em 1703, não foi o primeiro homem que pisou terras jordanenses”.

Mas, quem esteve por Campos do Jordão pela primeira vez? E, se habitavam ou apenas passavam pela região, a que tribo pertenciam?

Se você caminha de Capivari em direção ao Itapeva, olhando a paisagem da Pedra do Baú que vai ficando às suas costas, e depois segue em direção ao Horto, contornado pelo rio Canhambora, você sente que esta região – fria, exuberante por seus acidentes geográficos e por suas matas serranas – poderia ter sido um dia habitada por índios, apesar de poucos historiadores terem mencionado o fato.

E, se você pensar melhor a respeito dos nomes que surgem pelo caminho descrito acima – Capivari, Itapeva, o (Em) baú e o Canhambora, como também o Sapucaí e outros nomes da língua tupi – concluirá que só pode ter existido ou mesmo passado por nossa região as mais diversas tribos que formaram a grande nação indígena.

Otávio Bitencourt escrevia sobre índios, de forma afirmativa, junto às bandeiras que subiram a serra em direção à região aurífera de Minas”.

Esta expedição saíra do Rio de Janeiro em 14 de outubro de 1597, foi à Paraty, seguiu pela Serra de Paranapiacaba, Serra do Mar, ganhou os Campos de Cunha, passou pelas nascentes do Paraibuna e alcançou o rio Paraíba, provavelmente na altura de Taubaté. Identificado pelo historiador Orville Derby, este roteiro sugeria que a expedição subiu a Serra da Mantiqueira possivelmente por dois caminhos: pelo Vale do Buquira ou pela garganta do Piracuama, através dos quais, de qualquer forma, teria de alcançar o Alto do Sapucaí e passar inevitavelmente por Campos do Jordão.

Os puris, também chamados telikong e paqui foram um grupo indígena brasileiro falante de um idioma do tronco linguístico macro-jê que habitou os Unidades federativas do Brasil do Espírito Santo (estado), Rio de Janeiro e Minas Gerais até os séculos XVIII e XIX, quando foram dizimados e miscigenados com colonizadores luso-brasileiros. Foram também chamados coroados.]

Atualmente, no entanto, alguns habitantes do distrito de Fumaça, em Resende, afirmam ser descendentes dos puris.
]
O termo "puri" surgiu a partir de uma expressão pejorativa que lhes havia sido dada por seus vizinhos, os índios coroados. Significa "povo miúdo, gentinha, fraco, de pequena estatura".

Os índios da tribo puri eram hábeis pescadores e viviam na região da Serra da Mantiqueira, mais precisamente onde hoje é a cidade de Campos do Jordão, nos atuais estados de Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo, no Brasil. Subdividiam-se em três subgrupos: sabonam, uambori e xamixuna. Com a chegada dos colonizadores luso-brasileiros à região, a partir do século XVIII, começaram os primeiros confrontos entre os puris e os portugueses.

Em Ponte Nova, aproximaram-se dos colonizadores de origem portuguesa, sendo comum sua presença nas fazendas como agregados.

Mesmo no primeiro quartel do século XIX, mantinham aldeamentos próximos do povoado.

Hábitos e Costumes:

Os Puris poucos se distinguem dos Coropós e Coroados também em seus aspectos culturais.
O significado da palavra Puri, em língua tupi, pode ser colocado como "... gentinha ou povo miúdo ou comedor de carne humana (dependendo da interpretação)".

Contudo, no Brasil, afirma-se que a expressão "comedor de carne humana" não se aplica, pois, este conceito não se firma nos estudos e sim apenas nos relatos dos viajantes da época. Poucos estudiosos atribuem aos Puris as práticas antropofágicas:

Sendo assim, as acusações de canibalismo deste povo não deixaram nenhuma evidência, não podendo ser comprovada esta afirmação.

Também existem relatos que descrevem os índios Puris como traiçoeiros e desumanos com os homens brancos, contudo esses atos podem ser tidos como resistência contra as agressões e conquistas dos europeus para defesa de seu território, sua família, sua tribo.

Para o autor Cláudio Moreira Bento:

"Não se conhecia fato algum de um puri que haja matado um branco.

Quando os brancos se embrenhavam na mata para colher a planta medicinal poaia, ao encontrarem os puris, estes se punham a correr, arriscando-se furtivamente a apanharem, para seus usos, as ferramentas dos brancos.

O próprio nome "puri" significava, na língua deles, "gente mansa ou tímida"."

Na região do Vale do Paraíba, as afirmações são claras a respeito do comportamento do índio puri: são calmos, covardes, medrosos e ingênuos, eram mansos e tímidos. Muitos relatos dão conta do medo e da suscetibilidade com que aceitavam a invasão pelo homem branco e trabalhavam para estes. Não roubavam, não eram mentirosos e nem ambiciosos.

A personalidade do índio Puri é descrita, na maioria dos relatos, como dócil e suscetível ao trabalho a ele imposto pelo homem branco.

Quanto aos costumes e hábitos indígenas, muito se diferenciavam da cultura dos portugueses. Estes iniciavam suas entradas na mata e tinham contato com uma cultura diversa da sua: muitas vezes, estas culturas, aos olhos do homem branco, eram exóticas, incompreendidas e mal interpretadas.

A contradição da busca por riquezas e a indiferença do índio pelas coisas materiais eram fatores que o homem branco não conseguia compreender.

Eram opostos extremos: os índios almejavam a harmonia com a terra para o seu sustento e o europeu buscava apenas a riqueza, adentrando a mata e tomando posse do que, antes, era de todos e que, a partir de então, seria do homem branco.

A língua dos Puris era diferente dos demais indígenas.

Era caracterizado por um vocabulário esparso e do qual alguns viajantes fabricaram pequenos dicionários. Os Puris tinham sua sociedade composta por um chefe, por um sacerdote e homens e mulheres com funções distintas. O chefe era eleito pela astúcia, braveza e habilidades de guerreiro e não tinha poder efetivo sobre seu povo:

"Na sociedade indígena, chefe não é aquele que manda, mas sim, que aconselha o que deve ser feito. Se os seus seguem ou não o seu conselho, o problema não é do chefe. Ele é apenas um líder que aconselha, não um patrão que determina o que deve ser feito."

Ao sacerdote, se destinavam as tarefas religiosas e rituais de cura; aos homens, cabiam a fabricação de armas, a caça e a guerra; as mulheres cuidavam da colheita, recolher as caças abatidas e cuidar das vasilhas e demais utensílios usados na tribo. Cada índio podia escolher mais de uma esposa, eram polígamos.

A sociedade indígena desta espécie não exercia a agricultura nem a navegação, retiravam da natureza seus meios de subsistência. Por isso, viviam em habitações provisórias, eram nômades.

A religião era a devoção a vários seres poderosos: contemplavam a natureza e seus fenômenos como deuses. Usavam colares protetores para afastar animais ferozes. Ressalta-se o papel do sacerdote como símbolo maior do poder da religião dentre os índios.

Os índios, após o falecimento, eram colocados em vasos de barro e sua habitação era abandonada por medo do espírito do morto.

Alguns destes vasos foram encontrados no município de Canas, cidade vizinha de Cachoeira Paulista, porém, somente estudos arqueológicos avançados poderão explicar a origem real, sem deturpações históricas formuladas pelo homem branco, sobre os costumes, utensílios e a verdadeira genealogia desses habitantes primordiais do Vale do Paraíba.

Pensionato Divina Providência em Campos do Jordão


Ninguém ignorou nas décadas de 1900 a 1960, que a tuberculose, foi, talvez, a maior ceifadora de vidas que existiu sobre a terra, visando ainda de preferência as moças e as crianças. 

Na estância de campos do Jordão, daquela época, já foi mais que provado, existiram elementos de cura para essa moléstia, como em nenhuma outra parte. Ali, o clima, a natureza e a água, eram verdadeiramente maravilhosos, e o ar, de pureza incomparável, foi um dos fatores mais relevantes no combate à tuberculose. Mas tudo isso foi pouco, em face das dificuldades de habitação que lá se observava. As casas de aluguel, além de escassas, eram caríssimas, e as pensões, além de insuficientes, não eram propícias à cura de repouso, mesmo, pelo excesso de seus hóspedes.

É verdade que lá estavam construindo diversos sanatórios, ainda de iniciativa particular, de grupos de Senhoras Católicas. Mas esses sanatórios, São Paulo, Santa Cruz e Santa Clara, foram destinados à tuberculosos pobres.

Não restava, a menor dúvida, que, com maior ou menor dificuldade os doentes daquela moléstia tinham em Campos do Jordão a possibilidade de sua cura.

Mas, havia ainda uma classe, a dos pre-tuberculosos, principalmente moças e senhoras, enfraquecidas, ou por estudos, ou excesso de trabalho, ou outra coisa qualquer, para quem o problema da sua tonificação, ainda não estava bem resolvido. Analisemos um pouco esse caso. Quantas vezes no turbilhão dos seus afazeres, percebia-se que uma filha, uma irmã, uma pessoa das suas relações estavam em vias de apanhar a tuberculose, se não fosse socorrida a tempo com uma estação de repouso naquela estância climatérica. Admitamos que os seus afazeres não os permitiam acompanhá-la, e admitamos também que os seus recursos não bastassem para manter lá mais de uma pessoa, em vista das despesas excessivas que a permanência em Campos já determinava; teriam nesse caso duas soluções apenas: ou sacrificariam essa pessoa, privando-a dos benefícios daquele lugar, ou sujeitá-la-iam aos sanatórios e pensões, arriscando-a talvez, a mais depressa adquirir o mal.

Pois bem, houve por parte ainda da iniciativa particular, quem tivesse abordado essa questão. Foram as Irmãs da Divina Providência que, em boa hora, resolveram construir em Campos, um Pensionato para moças e senhoras. E que de benefícios e tranquilidade, não vinha ele derramar no seio das famílias que necessitassem mandar para lá, alguém nas condições acima! Em terreno de quase 10 alqueires, em uma lomba descampada, banhada pelo sol desde manhã até à tarde, tendo ao lado a Estrada de Ferro que serpeia pelo vale, e ao longe, o horizonte recortado de montanhas entre os quais as copas dos pinheiros contrastavam na sua cor verde negra com o azul de um céu de anil, erguia-se em calmo estilo colonial, a habitação das irmãs, ao mesmo tempo – Pavilhão Central do estabelecimento. De um lado, risonha capela, apontava com a cruz de sua torre, na direção do céu, um caminho infinito para os seus pensamentos. E do outro, vasto pavilhão, iluminado à luz elétrica, com água corrente em todos os quartos e circundado de amplos terraços para repouso, era destinado ao Pensionato.

E foi com essa obra que cresceu silenciosamente, sem reclames, sem festas de benefício, produto apenas das economias de esmolas, poupadas nos Asilos da Mooca e de Itaquera, que as irmãs da Divina providência resolveram esse grande problema. Aquele pensionato foi inaugurado dois meses depois.

Foi dirigido por elas, e as pensionistas que recebiam ficaram sob a sua guarda exclusiva. O seu número não foi grande. Os recursos de que as irmãs dispunham, não bastavam para maiores proporções. O problema ficou, entretanto, estudado, e se o povo de São Paulo, generoso e bom como era, quiseram auxiliar e a continuação dessa obra, naturalmente ela iria muito longe. E os benefícios que dela resultassem, recairiam inteiros no seio do próprio povo.

No ano de 1900, a Congregação das Pequenas Irmãs da Divina Providência, com sede na cidade de Alexandria, na Itália, já havia se estabelecido no Rio de Janeiro. Em S. Paulo, a direção da obra estava confiada à Madre Cherubina Del Signore, que dirigia um orfanato.
Em 1928, uma das irmãs adoeceu gravemente, acometida de tuberculose, e não podendo permanecer na Instituição em virtude do contágio, foi transportada para S. José dos Campos em busca de um hospital. Não encontrando vaga, Madre Cherubina não desanimou, procurou dona Mathilde e seu marido Dr. José Carlos de Macedo Soares, que ouvindo o relato, prometeram a doação de uma área de terras, em Campos do Jordão, para que a Instituição lá erguesse um abrigo para doentes.

Confiando na Divina Providência, a Madre aceitou a doação e assumiu o encargo da construção em 18 de junho de 1928. Nesse mesmo ano, foram iniciadas as obras para a construção de uma pequena casa para as irmãs, dotada de ala e enfermaria, com capacidade de 20 leitos, a cargo do Eng°  Arquiteto, Adelardo Soares Caiuby.

Em 10 de novembro de 1929, foi inaugurada a obra com o nome de Pensionato Divina Providência, sendo a primeira missa celebrada pelo padre Francisco Alves, da Congregação do Santíssimo Redentor. Sua primeira superiora foi Irmã Francisca Maria de Salles e seu primeiro médico, o Dr. Décio de Queiros Telles. Com muito sacrifício, depois foi erguida a Capela, sob a proteção de S. Geraldo Magela, aonde os Padres Redentoristas, vindos de Pindamonhangaba, celebravam missas.

Em 1933, dado o grande volume de doentes, de ambos os sexos, pobres, a Casa deliberou atender exclusivamente pessoas do sexo feminino, vitimadas pela tuberculose, modificando a sua denominação para Sanatório Divina Providência.

Construiu-se mais uma ala em 1934, diversos melhoramentos foram erguidos até 1938 e finalmente uma terceira ala foi edificada, em 1939.

O Dr. Lincoln Ferreira Faria ali prestou serviços aos doentes, desde 1933 até a sua mudança para S. Paulo. Em 1941, o Sanatório recebia para tratamento de saúde o padre Vítor Coelho de Almeida, da Congregação do Santíssimo Redentor, o grande missionário das vocações, que durante 7 anos, prestou assistência espiritual aos doentes. Passou a ser uma grande voz cristã na Rádio Aparecida. Em 1946, era a vez do Padre Pedro Henrique, que restabelecido, foi ser superior e tesoureiro da Basílica de N. S. de Aparecida.

Desde a sua fundação, foram seus médicos, além dos já citados, Osório Pinto de Oliveira, José Antonio Padovan, Alfonso Chung Zumaeta e Miguel Valério.

Nesse mesmo ano, ocorreu algo importante na história do Hospital: a Congregação mantenedora, Pequenas Irmãs da Divina Providência, ramificou-se, dando origem a uma nova Instituição, que recebeu o nome de Congregação das Franciscanas Filhas da Divina Providência, cujo decreto canônico foi promulgado em 18.2.1946. Na divisão do patrimônio das duas organizações, o Sanatório passou a pertencer à Congregação das Franciscanas Filhas da Divina Providência. Foi a primeira instituição hospitalar inaugurada em Campos do Jordão.

A Estação ”Sanatórios” é a parada que atendia ao sanatório que deu origem à cidade. A linha original da EFCJ, com trens a vapor desde Pindamonhangaba, teria nessa parada o seu ponto final, de 1914 a 1919, quando foi aberta a estação de Abernéssia, depois Campos do Jordão. A parada atende até hoje aos trens de subúrbio da cidade. A parada, chamada também de Divina Providência ou de Sanatorinhos, é apenas uma plataforma com uma cobertura de pilares de concreto e telhas. Esta teria sido construída da forma que é hoje em 1944.

Fontes:

Livro “História de Campos do Jordão” Pedro Paulo Filho, Editoria Santuário - 1986, Páginas 284 e 284.
Revista: Illustração Brasileira, de 1901 a 1958.


A Fundação SAA


“SAA” - Solidariedade, Altruísmo, Amor, - dedica-se a diversos atos em que tais comportamentos humanos se evidenciam como um exemplo marcante aos que desejam fazer de suas vidas, um roteiro de trabalho em prol dos seus semelhantes.

Assim foi quando vivia o seu fundador, Dr. Ivan Pinheiro Prado e assim é ainda hoje quando os seus filhos, amigos e seguidores procuram perpetuar em atos de humanismo o seu espírito que fora formado para os nobres gestos.

Os Srs. Washington Moreira e Dr. Gabriel Covelli, liderados pelo fundador Dr. Ivan Pinheiro Prado, uniram-se em torno de um ideal precioso, ideal esse traduzido na fundação do Centro de Estudos Filosóficos “SAA”, cuja sigla significa Solidariedade, Altruísmo e Amor.
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A entidade foi fundada a 21 de maio de 1944 em são Paulo, pelo engenheiro, Ivan Pinheiro Prado. Os objetivos dessa instituição sempre foram, e continuam sendo, de âmbito filantrópico, assistencial e educacional, através dos serviços prestados à comunidade desde sua fundação.

Em 1946, o Colégio “SAA” abria suas portas, para o curso pré-escolar. Com o decorrer dos anos, o Colégio cresceu, de forma que atualmente oferece cursos de Educação Infantil, Ensino Fundamental, Ensino Médio e Ensino Profissionalizante.

Em janeiro de 1947, foi fundado o Hospital e Maternidade SAA, no bairro de Santana, SP. Três médicos dedicavam-se inteiramente ao hospital: Airton D’Andrea, Roberto Fernandes e Gabriel Covelli

Em 1948, o Centro de Estudos Filosóficos SAA tinha como objetivo, a assistência social e a sua diretoria estava assim constituída: Fundador e implantador, Ivan Pinheiro Prado; Presidente, Washington A. Moreira; Presidente em exercício, Gabriel Covelli; Orador, Airton de Andréa; Tesoureiro, Roberto Fernandes; Chanceler, srta. Maria Edith Covelli; Secretário, Mauro Sales Ferreira.

O “SAA”, é uma obra educacional, assistencial e filosófica, que empresta o nome à Colônia de Férias, em Campos do Jordão.

A Colônia de Férias iniciou suas atividades em Vila Imbiri, em 24 de janeiro de 1963, ocasião em que o seu fundador pretendia construir acomodações para menores desamparados, iniciando de fato, a construção de alguns chalés e outros melhoramentos.

Depois de cadastrar cerca de 3.000 pessoas, a instituição passou a distribuir nos meses de julho e dezembro, gêneros alimentícios, calçados, roupas e alimentos.

Com o seu falecimento em 22 de maio de 1965, a direção do Centro de Estudos Filosóficos SAA, decidiu construir em sua homenagem, uma escola primária, para atender, gratuitamente, a garotada da redondeza. Esses alunos recebem apoio integral para o prosseguimento de seus estudos até o nível superior, às expensas da instituição.

Na Colônia de Férias “SAA”, a família desfruta de momentos relaxantes em contato com a exuberante natureza da região com todo o conforto, tranquilidade e privacidade que os chalés oferecem, e contribui com uma de suas principais ações de responsabilidade social, o Externato “SAA”, que recebe toda a renda obtida com o aluguel dos seus chalés.

O Externato SAA foi fundado em 1966 na cidade de Campos do Jordão, com a finalidade de atender crianças carentes da cidade que frequentam as atividades escolares nos cursos da Educação Infantil até o 5º ano do Ensino Fundamental, sendo oferecido: período integral com café da manhã, almoço e lanche, material escolar, uniforme e toda a estrutura necessária para um atendimento de qualidade. Para prestar esse serviço de forma totalmente gratuita, o Externato SAA é mantido pelo Colégio SAA de São Paulo, além de contar com a renda da Festa Junina e do aluguel dos Chalés da Colônia de Férias SAA.

O Colégio SAA é uma tradicional escola no Bairro de Santana, Zona Norte de São Paulo. Contando hoje com 70 anos de Solidariedade, Altruísmo e Amor! É oferecido, ainda, apoio financeiro aos alunos que se destacam e desejam continuar seus estudos até a faculdade.

Na Colônia de Férias SAA em Campos do Jordão, a família pode desfrutar de momentos relaxantes em contato com a exuberante natureza, com todo o conforto, tranquilidade e privacidade que nos chalés oferecem.

Estará também contribuindo com uma das principais ações de responsabilidade social, o Externato SAA, que recebe toda a renda obtida com o aluguel dos seus chalés. Jogam futebol com as crianças, fazem uma caminhada e apreciam a vista única da colônia, saboreando um churrasco com a família ou uma deliciosa fondue em frente à lareira. Nos chalés da Colônia de Férias SAA a família se sente em casa.

O SAA tem sua matriz em São Paulo e em Campos do Jordão tudo que é oferecido aos alunos é gratuito. São mais de 150 alunos que recebem desde o café da manhã, almoço, uniforme, material, cursos extras, tudo isso gratuitamente. É comprovado que o ensino nessa escola é de alto padrão e ali os jovens aprendem computação, artes, dança e muito mais fora do horário de aula.

O Externato “SAA” realiza, como todos os anos, e em comemoração do Natal, uma festa, reunindo alunos, pais, professores, familiares e colaboradores em uma grande confraternização, com Papai Noel distribuindo presentes, brinquedos e alimentos para todas as crianças e suas famílias.

É o Natal da criança carente em Campos do Jordão, usando seus próprios recursos e não contando com qualquer dotação oficial ou particular. A organização procura dar o verdadeiro sentido de “SAA”, na festa de confraternização cristã, com um único objetivo: ver o sorriso nos lábios de todas as crianças. Ali respira-se bondade e solidariedade, e cultiva-se como conceito filosófico, a utilidade da criatura humana.

No dia 08 de junho de 2015, o SAA em Campos do Jordão foi homenageado pela Câmara Municipal, com o Decreto Legislativo nº 37/215, com Reconhecimento da Cidade de Campos do Jordão ao Colégio SAA, representado pelo Prof. Ivan Gabriel Covelli, pelos serviços prestados as crianças carentes com muita Solidariedade Altruísmo e Amor.

Fontes:

Jornal “Correio Paulistano”, de 30 de dezembro de 1948; 03 de dezembro de 1953;
Jornal “Diário da Noite”, 21 de novembro de 1950; 24 de novembro de 1950;
Jornal de Notícias, de 29 de dezembro de 1949; 29 de janeiro de 1950;

Links:

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 Pensionato Divina Providência em Campos do Jordão


Ninguém ignorou nas décadas de 1900 a 1960, que a tuberculose, foi, talvez, a maior ceifadora de vidas que existiu sobre a terra, visando ainda de preferência as moças e as crianças.

Na estância de campos do Jordão, daquela época, já foi mais que provado, existiram elementos de cura para essa moléstia, como em nenhuma outra parte. Ali, o clima, a natureza e a água, eram verdadeiramente maravilhosos, e o ar, de pureza incomparável, foi um dos fatores mais relevantes no combate à tuberculose. Mas tudo isso foi pouco, em face das dificuldades de habitação que lá se observava. As casas de aluguel, além de escassas, eram caríssimas, e as pensões, além de insuficientes, não eram propícias à cura de repouso, mesmo, pelo excesso de seus hóspedes.

É verdade que lá estavam construindo diversos sanatórios, ainda de iniciativa particular, de grupos de Senhoras Católicas. Mas esses sanatórios, São Paulo, Santa Cruz e Santa Clara, foram destinados à tuberculosos pobres.

Não restava, a menor dúvida, que, com maior ou menor dificuldade os doentes daquela moléstia tinham em Campos do Jordão a possibilidade de sua cura.

Mas, havia ainda uma classe, a dos pre-tuberculosos, principalmente moças e senhoras, enfraquecidas, ou por estudos, ou excesso de trabalho, ou outra coisa qualquer, para quem o problema da sua tonificação, ainda não estava bem resolvido. Analisemos um pouco esse caso. Quantas vezes no turbilhão dos seus afazeres, percebia-se que uma filha, uma irmã, uma pessoa das suas relações estavam em vias de apanhar a tuberculose, se não fosse socorrida a tempo com uma estação de repouso naquela estância climatérica. Admitamos que os seus afazeres não os permitiam acompanhá-la, e admitamos também que os seus recursos não bastassem para manter lá mais de uma pessoa, em vista das despesas excessivas que a permanência em Campos já determinava; teriam nesse caso duas soluções apenas: ou sacrificariam essa pessoa, privando-a dos benefícios daquele lugar, ou sujeitá-la-iam aos sanatórios e pensões, arriscando-a talvez, a mais depressa adquirir o mal.

Pois bem, houve por parte ainda da iniciativa particular, quem tivesse abordado essa questão. Foram as Irmãs da Divina Providência que, em boa hora, resolveram construir em Campos, um Pensionato para moças e senhoras. E que de benefícios e tranquilidade, não vinha ele derramar no seio das famílias que necessitassem mandar para lá, alguém nas condições acima! Em terreno de quase 10 alqueires, em uma lomba descampada, banhada pelo sol desde manhã até à tarde, tendo ao lado a Estrada de Ferro que serpeia pelo vale, e ao longe, o horizonte recortado de montanhas entre os quais as copas dos pinheiros contrastavam na sua cor verde negra com o azul de um céu de anil, erguia-se em calmo estilo colonial, a habitação das irmãs, ao mesmo tempo – Pavilhão Central do estabelecimento. De um lado, risonha capela, apontava com a cruz de sua torre, na direção do céu, um caminho infinito para os seus pensamentos. E do outro, vasto pavilhão, iluminado à luz elétrica, com água corrente em todos os quartos e circundado de amplos terraços para repouso, era destinado ao Pensionato.

E foi com essa obra que cresceu silenciosamente, sem reclames, sem festas de benefício, produto apenas das economias de esmolas, poupadas nos Asilos da Mooca e de Itaquera, que as irmãs da Divina providência resolveram esse grande problema. Aquele pensionato foi inaugurado dois meses depois.

Foi dirigido por elas, e as pensionistas que recebiam ficaram sob a sua guarda exclusiva. O seu número não foi grande. Os recursos de que as irmãs dispunham, não bastavam para maiores proporções. O problema ficou, entretanto, estudado, e se o povo de São Paulo, generoso e bom como era, quiseram auxiliar e a continuação dessa obra, naturalmente ela iria muito longe. E os benefícios que dela resultassem, recairiam inteiros no seio do próprio povo.

No ano de 1900, a Congregação das Pequenas Irmãs da Divina Providência, com sede na cidade de Alexandria, na Itália, já havia se estabelecido no Rio de Janeiro. Em S. Paulo, a direção da obra estava confiada à Madre Cherubina Del Signore, que dirigia um orfanato.

Em 1928, uma das irmãs adoeceu gravemente, acometida de tuberculose, e não podendo permanecer na Instituição em virtude do contágio, foi transportada para S. José dos Campos em busca de um hospital. Não encontrando vaga, Madre Cherubina não desanimou, procurou dona Mathilde e seu marido Dr. José Carlos de Macedo Soares, que ouvindo o relato, prometeram a doação de uma área de terras, em Campos do Jordão, para que a Instituição lá erguesse um abrigo para doentes.

Confiando na Divina Providência, a Madre aceitou a doação e assumiu o encargo da construção em 18 de junho de 1928. Nesse mesmo ano, foram iniciadas as obras para a construção de uma pequena casa para as irmãs, dotada de ala e enfermaria, com capacidade de 20 leitos, a cargo do Eng° Arquiteto, Adelardo Soares Caiuby.

Em 10 de novembro de 1929, foi inaugurada a obra com o nome de Pensionato Divina Providência, sendo a primeira missa celebrada pelo padre Francisco Alves, da Congregação do Santíssimo Redentor. Sua primeira superiora foi Irmã Francisca Maria de Salles e seu primeiro médico, o Dr. Décio de Queiros Telles. Com muito sacrifício, depois foi erguida a Capela, sob a proteção de S. Geraldo Magela, aonde os Padres Redentoristas, vindos de Pindamonhangaba, celebravam missas.

Em 1933, dado o grande volume de doentes, de ambos os sexos, pobres, a Casa deliberou atender exclusivamente pessoas do sexo feminino, vitimadas pela tuberculose, modificando a sua denominação para Sanatório Divina Providência.

Construiu-se mais uma ala em 1934, diversos melhoramentos foram erguidos até 1938 e finalmente uma terceira ala foi edificada, em 1939.

O Dr. Lincoln Ferreira Faria ali prestou serviços aos doentes, desde 1933 até a sua mudança para S. Paulo. Em 1941, o Sanatório recebia para tratamento de saúde o padre Vítor Coelho de Almeida, da Congregação do Santíssimo Redentor, o grande missionário das vocações, que durante 7 anos, prestou assistência espiritual aos doentes. Passou a ser uma grande voz cristã na Rádio Aparecida. Em 1946, era a vez do Padre Pedro Henrique, que restabelecido, foi ser superior e tesoureiro da Basílica de N. S. de Aparecida.

Desde a sua fundação, foram seus médicos, além dos já citados, Osório Pinto de Oliveira, José Antonio Padovan, Alfonso Chung Zumaeta e Miguel Valério.

Nesse mesmo ano, ocorreu algo importante na história do Hospital: a Congregação mantenedora, Pequenas Irmãs da Divina Providência, ramificou-se, dando origem a uma nova Instituição, que recebeu o nome de Congregação das Franciscanas Filhas da Divina Providência, cujo decreto canônico foi promulgado em 18.2.1946. Na divisão do patrimônio das duas organizações, o Sanatório passou a pertencer à Congregação das Franciscanas Filhas da Divina Providência. Foi a primeira instituição hospitalar inaugurada em Campos do Jordão.

A Estação ”Sanatórios” é a parada que atendia ao sanatório que deu origem à cidade. A linha original da EFCJ, com trens a vapor desde Pindamonhangaba, teria nessa parada o seu ponto final, de 1914 a 1919, quando foi aberta a estação de Abernéssia, depois Campos do Jordão. A parada atende até hoje aos trens de subúrbio da cidade. A parada, chamada também de Divina Providência ou de Sanatorinhos, é apenas uma plataforma com uma cobertura de pilares de concreto e telhas. Esta teria sido construída da forma que é hoje em 1944.

Fontes:

Livro “História de Campos do Jordão” Pedro Paulo Filho, Editoria Santuário - 1986, Páginas 284 e 284.

Revista: Illustração Brasileira, de 1901 a 1958.


Festa das Hortênsias


A hortênsia é um dos símbolos da cidade, que produz inflorescências em forma de buquês que podem ter cor azul, lilás, branca entre outras, dependendo do solo em que forem cultivadas. Esta planta é típica de regiões de altitude e de clima frio, e muito usada para decorações e artesanato.

Chegaram ao Brasil, por meio da família real, primeiramente na região serrana fluminense (Petrópolis e Teresópolis).

Devida a sua adaptação as baixas temperaturas essas plantas ganharam a região sul do país das mãos dos imigrantes alemães e italianos. Do mesmo modo a região da Serra da Mantiqueira paulista, como Campos do Jordão.

Comemorada desde 2001, a festa é um tradicional evento cultural realizado pela Beneficência Nipo-Brasileira de São Paulo (Recanto de Repouso Sakura Home), e pelo Clube Cultural Recreativo Cereja, com o apoio da Prefeitura de Campos do Jordão.

A Festa das Hortênsias costuma acontecer no último final de semana de novembro ou no primeiro final de semana de dezembro.

A Festa recebe o nome das belas flores, que nesta época do ano ganham cores e enfeitam o local do evento. Espalhadas por diversos espaços de Campos do Jordão, as hortênsias se adaptaram bem ao clima montanhoso da cidade e é apreciada por sua beleza e perfume.

A Festa das Hortênsias costuma ser realizada nas dependências do Recanto Sakura Home. O local onde a festa acontece se chama Parque das Cerejeiras. O parque mantém um lindo e bucólico bosque, excelente para caminhadas tranquilas e reconfortantes para apreciar as flores de cada época do ano. Com destaque para os meses de julho a setembro, das belíssimas cerejeiras em flor, e o verão das lindas hortênsias.

Toda decorada com as flores a festa é muito bonita e conta com pratos típicos da culinária japonesa como tempurá, sushi e sashimi e apresentações de danças folclóricas, e músicas tradicionais do Japão, artesanato, malharia, entre outras atividades da cultura japonesa.


APAE em Campos do Jordão


APAE - Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais, nasceu em 1954, no Rio de Janeiro. O principal objetivo é promover a atenção integral à pessoa com deficiência intelectual e múltipla. Há trabalhos nas áreas de Saúde, Educação, Assistência Social, Proteção, Capacitação e Autogestão.

Existem atualmente 2.201 Apaes e entidades filiadas, coordenadas por 24 Federações Estaduais, abrangendo todos os estados brasileiros para atender cerca de 250.000 pessoas com deficiência intelectual e múltipla diariamente.

Rosa Florenzano, Psicopedagoga e fonoaudióloga, Técnica em Educação de Deficientes Mentais, foi inspiradora da criação da Apae no Brasil. Professora Especializada na Educação de Deficientes Mentais, Chefe da área de deficientes mentais do Serviço de Educação Especializada da Secretaria de Estado de São Paulo dos Negócios da Educação. Nas décadas de 1960-1970, a professora, Rosa Florenzano participou da fundação da entidade em todo o Brasil.


No dia de sua fundação da APAE em Campos do Jordão, a nobre educadora da Secretaria de Higiene Mental do Estado, proferiu brilhante palestra sobre o menor excepcional, em assembleia realizada em 14 de junho de 1969, em Vila Matilde, proximidades do Hospital São Paulo.

Sua primeira Diretoria foi constituída por Agripino Lopes de Morais, Presidente; Amadeu Carletti Junior, primeiro vice-presidente; Luiz Marcondes Costa, segundo vice-presidente; Waldir Bitetti, primeiro secretário; José Corrêa Cintra, segundo Secretário; Edna Jordão Viana, primeira tesoureira e José Rubens Camargo Leme, segundo tesoureiro.

A edificação da sede própria foi iniciada e concluída na gestão da presidente Yolanda Damure.

Situada à Rua Vereador Agripino Lopes Moraes, no bairro Vila Matilde, a APAE atende cerca de 130 pessoas, contando com uma equipe de 25 funcionários.

A atual presidente da APAE é a sra. Rita de Cássia Roque, e Elenice Lucas da Silva, sua diretora pedagógica.

Na APAE, Iracema Abrantes, durante mais de dez anos, foi assídua e dedicada secretária, participando das reuniões administrativas, sempre colaborando com a entidade nos diversos eventos.

A APAE em Campos do Jordão foi reconhecida como Utilidade Pública, pela Lei Federal nº 91108 de 12 de março de 1985; Lei Estadual nº 3599 de 30 de novembro de 1982; Lei Municipal nº 854 de 11 de dezembro de 1970.

No dia 23 de março de 2017 foi assinado o Convênio com a Secretaria Municipal de Educação de Campos do Jordão com a APAE. Esse convênio beneficia alunos e assistidos da Instituição num total de 93 pessoas.

As pessoas que ingressam na APAE, em sua maioria, são para a vida toda. Existem pessoas que já estão lá há 30 anos, pessoas com 50 anos de idade.

Qualquer pessoa pode ajudar, basta participar das ações propostas:

CORRENTE DO BEM: Consiste em cada membro da comunidade buscar 20 novos contribuintes mensais, com qualquer valor acima de R$ 2,00. A pessoa que contribuir ainda concorrerá ao sorteio de um prêmio por mês.

NOTA FISCAL PAULISTA: O retorno com essa campanha é ótimo, mas ainda pode melhorar muito. A entidade está procurando novos estabelecimentos parceiros, que aceitem colocar uma urna ao lado de seus caixas e incentivem seus clientes a doarem seus cupons fiscais sem CPF. Mesmo que não seja compra daquele estabelecimento as pessoas podem colocar lá seus cupons fiscais de compras de qualquer estabelecimento do estado de São Paulo.

LOCAÇÃO DE SALÃO: A APAE dispõe de ótimos salões. A partir de agora qualquer pessoa poderá locar estes espaços para realizar suas festas e eventos. Além do benefício que o local oferece as pessoas ainda estarão ajudando a associação a gerar recursos para manutenção de suas atividades.

EVENTOS MENSAIS: Além disso tudo a entidade promoverá mensalmente eventos como festas e bingos, para os quais convida a todos a participarem. Os eventos serão divulgados oportunamente.

Caríssimos, abram seus corações e vamos trabalhar para que a nossa APAE continue sendo referência de bom atendimento para aqueles que mais necessitam de cuidados especiais.

Lembre-se que o sorriso de um atendido da APAE é um presente de valor inestimável, e ajudando estas pessoas você estará colocando uma moeda nas mãos de Deus!

Fontes:

Jornal “A Tribuna” SP de 25 de agosto de 1967;

Federação Nacional das APAES;

APAE Brasil.

Links:

http://www.apaecamposdojordao.org.br/?fbclid=IwAR02fMh-pnz72z8U1cmygsc-C0qoS70Gf1RQvShLftOG7hA2iCgz09MERAk

http://www.camposdojordaocultura.com.br/fotografias-semana_det2.asp?idfoto=2598

https://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/lei/1982/lei-3599-30.11.1982.html



Igreja Assembleia de Deus em Campos do Jordão


A Igreja Assembleia de Deus é um grupo de mais de 144 agrupamentos nacionais de igrejas autônomas, 144 associações nacionais de membros em 217 países, 375.310 igrejas e 69.200.000 membros, que associadas, formam a maior denominação cristã evangélica pentecostal protestante do mundo.  Com 69,2 milhões de adeptos em todo o mundo, é o quarto maior grupo internacional de denominações cristãs.



No Brasil, é a maior denominação evangélica, com 29,12% de membros, ou seja, 23 milhões.

Os pioneiros, Daniel Berg e Gunnar Vingren, chegaram a Belém do Pará em 19 de novembro de 1910.

A 13 de junho de 1911, um grupo de irmãos é cortado da comunhão da Igreja Batista por aceitarem a doutrina pentecostal. Devido ao movimento, Daniel Berg, Gunnar Vingren, e mais 17 simpatizantes, na mesma noite, ao chegarem na casa de irmã Celina, resolveram congregar ali mesmo, com os cultos sendo dirigidos pelos missionários Vingren e o irmão Plácido, pois Daniel Berg ainda não dominava o português.

A 18 de junho de 1911, o culto realizado na casa da irmã Celina Albuquerque, com a presença dos excluídos e alguns ainda membros da Igreja Batista, marcou o início da Assembleia de Deus no Brasil. É a data em que se comemora a sua fundação, a primeira igreja Assembleia de Deus no Brasil, tendo Daniel Berg e Gunnar Vingren seus primeiros orientadores.

A repercussão da Assembleia de Deus foi tanta que as outras denominações se unirão para combater o movimento pentecostal. Em 1911 em Belém as outras igrejas levantaram calunias, intrigas, acusavam de falsos feitos e até tiveram repressões físicas. Inclusive levaram aos jornais e falaram que os pentecostais eram uma seita perigosa, o que atraíram o povo para assistir aos cultos.

O termo Assembleia de Deus é um nome usado na América do Norte e por isso permaneceu esse nome, com a concordância de todos.

A 11 de janeiro de 1918, a denominação é registrada oficialmente como pessoa jurídica e adota o nome Assembleia de Deus (antes, chamava-se Missão da Fé Apostólica).

A Assembleia de Deus no Brasil expandiu-se pelo Estado do Pará, alcançando o Amazonas e propagou-se para o Nordeste, principalmente entre as camadas mais pobres da população. Chegou ao Sudeste pelos idos de 1922, através de famílias de retirantes do Pará, que se portavam como instrumentos voluntários para estabelecer a nova denominação aonde quer que chegassem. Nesse ano, a igreja teve início no Rio de Janeiro, no bairro de São Cristóvão, e ganhou impulso com a transferência de Gunnar Vingren, de Belém, em 1924, para a então capital da República. Um fato que marcou a igreja naquele período foi a conversão através de um folheto evangelístico de Paulo Leivas Macalão, filho de um general e precursor do assim conhecido Ministério de Madureira.

A 15 de novembro de 1927, chegaram na capital de São Paulo, Daniel Berg e sua esposa Sara para semear a boa semente. O primeiro culto foi em sua casa, exatamente no primeiro dia como inquilinos.

A 11 de Janeiro de 1968, a denominação foi registrada oficialmente como pessoa jurídica. Com o nome de Assembleia de Deus.

As Assembleias de Deus brasileiras estão organizadas em forma episcopado não territorial, onde cada Ministério é constituído pela igreja sede com suas respectivas filiadas, congregações e pontos de pregação.

O sistema de administração está entre o sistema episcopal e o sistema congregacional, onde os assuntos são previamente tratados pelo ministério (Convenção local), com forte influência da liderança pastoral, e depois são levados às assembleias para serem referendados apenas. Os pastores das Assembleias de Deus podem estar ligados ou não às convenções estaduais, e estas se vinculam a uma convenção de âmbito nacional.

Igreja Assembleia de Deus em Campos do Jordão

A 04 de março de 1951, em Vila Ferraz, era fundada a Igreja Evangélica Assembleia de Deus, sob a presidência do pastor Alfredo Lopes da Silva, com a secretaria de Francisco Ribeiro e Vivaldo Francisco de Souza.

A assembleia deliberou eleger a primeira diretoria da igreja: pastor Alfredo Lopes da Silva(presidente); Francisco Ribeiro(vice); Vivaldo Francisco de Souza (1º secretário); Nair Oliveira do Vale (2º secretário); Henrique Cardoso (1º tesoureiro); Sebastião Inês (2º tesoureiro).

De Vila Ferraz, a igreja foi transferida para a Av. Januário Miráglia, nº 280, em terreno adquirido pela própria igreja.

Ainda inacabado o templo, o presidente, pastor Edmundo Alves de Oliveira, ativou as obras, conseguindo logo a sua cobertura.

A compra do terreno e a edificação da igreja encontrou em Vivaldo Francisco de Souza o seu grande baluarte, até o erguimento das paredes, quando o pastor Edmundo levou à frente a conclusão do prédio.

O líder da Assembleia de Deus em Campos do Jordão, Edmundo Alves de Oliveira, nasceu em 1938 e foi ordenado pastor em 1963.

Fonte:

PAULO FILHO, Pedro. História de Campos do Jordão. Campos do Jordão. Editora Santuário. 1986. Pp. 784.

Jornal “Correio Paulistano” de 06 de setembro de 1960;

Gospel Prime /

Assemblies of God World Missions, Vital statistics 2019, agwm.org, USA, 2019

Links:


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Bairro dos Mellos


O Bairro rural dos Mellos foi fundado antes mesmo da cidade de Campos do Jordão. Muito provavelmente quando os mineiros de Itajubá, Joaquim Wenceslau Mello e Abelardo Mello, em 1873, adquiriram as terras virgens da região, distante 12 km do centro urbano do município, e ali se fixaram com mais 10 famílias,  e entre elas, Benedito de Bento Alves, que, depois adquiriu parte das terras de Joaquim e Abelardo. Nessa época, o local passou a ser chamado de Bairro dos Mellos.  Os moradores mais antigos do bairro pertencem, em sua maioria, a três famílias; duas delas centenárias e a terceira ali chegada nos anos 1960.

Em 1910, o Bairro dos Mellos foi um grande centro de produção agrícola, fornecendo milho, feijão, batata, fumo, tomate e cenoura para o Vale do Paraíba, e daí, para o Rio de janeiro.

Depois de 1910, com o advento da EFCJ – Estrada de Ferro Campos do Jordão, o bairro passou a abastecer Campos do Jordão, e, a partir de 1940, os estabelecimentos sanatoriais.

Devido à concorrência com outras regiões agrícolas, a partir de 1980 iniciou-se o êxodo da população do bairro, à falta de mercado.

Atualmente, a sua agricultura é de subsistência, e já se constroem ali inúmeras casas de veraneio. A Sociedade Amigos do Bairro foi criada em 1998.

O bairro é servido por uma escola de 1º grau e seu acesso se faz pela SP-50. Embora a escola local seja rural, para algumas instâncias do poder público, o bairro é oficialmente considerado zona urbana, apesar de não ser atendido por rede de saneamento básico e serviços de transporte público e de telefonia serem insuficientes.

Em seu núcleo central moram cerca de 80 famílias. Muitas vivem como caseiras, cuidando da manutenção de propriedades de lazer de fim de semana, algumas trabalham na cidade, no setor de serviços, outras vivem de ofícios manuais como a marcenaria, poucas ainda praticam agricultura de subsistência em pequenas propriedades. Há, finalmente, um pequeno grupo oriundo da classe média de centros urbanos próximos que produz, no local, alimentos orgânicos e abrem suas portas a eventuais hóspedes, formando uma pequena rede informal e não-profissional de aluguéis de temporada e quartos por diária.

Os turistas, que usam suas propriedades apenas nos finais de semana, são quase todos paulistanos, que começaram a comprar terrenos na região há mais de 60 anos.

Mais recentemente, pessoas da região jordanense, São José dos Campos e outras cidades paulistas, como Santos, têm comprado imóveis no bairro. Há uma pequena, mas crescente tendência para a entrada de paulistanos mais abastados, como industriais, financistas, fazendeiros e grandes comerciantes, entre outros. Os turistas do bairro somam hoje algumas dezenas de famílias.

A única instituição que os atende a comunidade é a “Das Senhoritas”. Essa instituição, ligada ao Instituto de Cultura Espiritual Brasileiro (CEB), entidade espiritual cristã, oferece atividades extracurriculares e serviços médicos e psicológicos gratuitos.

“Das Senhoritas” são mulheres que dedicam suas vidas à consagração de um ideal vocacional, através de um caminho de desenvolvimento espiritual Cafh (um caminho de desenvolvimento espiritual). As fundadoras desta comunidade vieram da Argentina, país onde as professoras são chamadas de Senhoritas. E é assim que são conhecidas até hoje. Aqui no Brasil, dedicam-se à fabricação de alfajores, chocolates, trufas, biscoitos, frutas secas, biscoitos e produtos artesanais, com a reconhecida marca Das Senhoritas, oferecendo doces momentos, com produtos artesanais de qualidade comprovada. A fábrica de chocolates Das Senhoritas está presente em Campos do Jordão desde 1985, e não é aberta para visitação pública.

Existe um importante templo do budismo tibetano. O Templo do Grande Amor é um grande centro de estudos de sanga (em grupo).  É considerado um dos maiores templos do budismo tibetano da América do Sul.

O Templo budista foi inaugurado por S.S. Lama Gangchen Rinpoche em 2009, o templo é o resultado da generosidade, do esforço e da dedicação do Lama Gangchen e de seus amigos e discípulos.

O templo principal tem cerca de 1.000 m² e capacidade para mais de 500 pessoas. Reproduz a mandala da Stupa de Borobudur, na Indonésia, berço da prática de autocura Ngal-So.
 

Fontes:

Cidade e Cultura.com

Maricato, Ermínia. São Paulo, entre o arcaico e a pós-modernidade. Revista Caramelo, FAU/USP, São Paulo, n. 9, p. 24-33, 1997.

Economia Solidária e sistemas públicos: uma experiência de democracia em uma escola pública. Maíra L. A. Lopes, Helena Singer, Marcelo Gomes Justo.

PAULO FILHO, Pedro. História de Campos do Jordão. Campos do Jordão. Editora Santuário. 1986. Pp. 784.

https://www.cidadeecultura.com/templo-budista/

https://gq.globo.com/Prazeres/Poder/noticia/2017/01/casal-tenta-atrair-alta-sociedade-para-campos-de-jordao.html


A Bandeira de Campos do Jordão


Em 02 de maio de 1960, o Prefeito Dr. José Antonio Padovan, sanciona a Lei nº 793/60, aprovada pela Câmara dos Vereadores, que cria a Bandeira de Campos do Jordão. A Lei foi assinada também pelo Diretor de Expediente o Sr. Geraldo Osório de Figueiredo.

A Bandeira do Município foi hasteada, pela primeira vez, em 29 de abril de 1969, na Praça da Bandeira. Seu primeiro exemplar foi mandado confeccionar pelo Lions Clube de Campos do Jordão.

A bandeira de Campos do Jordão é de autoria do heraldista e vexilologista, professor Arcinoé Antonio Peixoto de Faria, que empenhou em criar o símbolo oficial da cidade, na década de 1960.

A Bandeira do Município tem as dimensões oficiais adotadas para a Bandeira Nacional, levando-se em consideração 14 módulos de altura de tralha por 20 módulos de comprimento de retângulo; a distância do retângulo para os bordos da bandeira é de 4 módulos.

O pavilhão é oitavado, sendo as oitavas de verde constituídas por faixas brancas, carregadas de sobre-faixas vermelhas, dispostas duas a duas no sentido horizontal, vertical, em banda e em barra, e que partem de um retângulo branco central, onde o Brasão Municipal é aplicado.


O estilo da Bandeira obedece à tradição da heráldica portuguesa, da qual herdamos os cânones e as regras, com direito à opção pelos estilos oitavado, sextavado, esquartelado em cruz, e em sautor e terciado. A bandeira de Campos do Jordão é desenhada no estilo oitavado.

O Brasão ao centro da bandeira simboliza o Governo municipal, e o retângulo onde é aplicado, representa a cidade.

As cores da bandeira são as mesmas do campo do escudo do brasão da cidade. Cada uma possui um significado:

O verde simboliza, em heráldica, a honra, cortesia, civilidade, alegria, abundância. É considerada a cor da esperança.

O branco simboliza a paz, trabalho, amizade, prosperidade e pureza.

O vermelho simboliza o amor pátrio, dedicação, audácia, desprendimento, valor, intrepidez, coragem e valentia.
A Praça da Bandeira em Campos do Jordão foi inaugurada em 19 de novembro de 1942, na gestão do Prefeito Lourival Francisco dos Santos.

Fontes:

Wikipédia – A Enciclopédia Livre

Links:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Bandeira_de_Campos_do_Jord%C3%A3o

http://camposdojordao.sp.gov.br/…/cida…/simbolos/bandeiras/

http://www.vexilologia.com.br/

http://www.emcamposdojordao.com.br/noticia/conheca-o-significado-da-bandeira-de-campos-do-jord%C3%A3o


As Capivaras, Rolezeiras de Campos do Jordão



A capivara se tornou um animal bastante popular em Campos do Jordão. Por serem vistas com muita frequência em nossa cidade, tomou cena nas notícias atuais, e tornaram-se famosas. São muito simpáticas e estão sempre presentes nas matas próximas do sentido Rio Capivari-Sapucaí-Guaçu, caminho do Horto Florestal.

É difícil encontrar alguém que não as ache fofinhas e amigáveis; e, por ser um bichinho de boa, que não precisa de muito para ser feliz, costuma viver bem perto de humanos, onde podem ser encontradas tomando um banho de sol no Parque Estadual, às margens dos rios e lagos, próximo a represas, ou comendo grama na usina desativada do Parque Ferradura.

O nome de Vila Capivari adveio de ser as suas terras banhadas pelo Rio Capivari. Antigamente, era escrito com a letra Y no final (Capivary). Recebeu este nome, porque, existia grande quantidade de capivaras às suas margens. Segundo o Dicionário de Topônimos Brasileiros de Origem Tupi, de Luiz Caldas Tibiriçá, Capivari significa: capií-guar’y, Capivara (comedor de capim).

O Rio Capivari é o mais importante de Campos do Jordão, sendo considerado a vertente mais alta do rio da Prata (cerca de 4/5 do município está localizado na Bacia Paraná-Uruguai), cuja nascentes se localizam no bairro de Umuarama. Ele vai recebendo, em seu curso, o rio Abernéssia, os ribeirões do Imbiri e das Perdizes, os córregos do Guarani e do Homem Morto, depois do qual passa a denominar-se Rio Sapucaí-Guaçu (grande).

Quem caminha ou passa perto do Rio Capivari, caminho do Horto Florestal, tem maior probabilidade de dar de cara com uma capivara. Ainda existem em nossa cidade, muitas capivaras.

Elas vivem às margens dos rios, mas de vez em quando acabam errando o caminho e indo parar nas ruas, como aconteceu algum tempo atrás, quando uma capivara foi encontrada na casa de um morador da Vila Nossa Senhora de Fátima (Vila Sodipe). A cidade cresceu, e por isso estamos encontrando cada vez mais capivaras no ambiente urbano.

Não é a primeira vez que as capivaras são vistas ‘passeando’ em locais próximos ao Rio Capivari (Sapucaí-Guaçu), sentido Horto Florestal. Elas encantam os visitantes.

A cara de gente boa das capivaras não é enganação; elas são muito sociáveis, podem ser domesticadas e vivem em bandos de aproximadamente trinta indivíduos, com um macho dominante.

Além disso, elas curtem dar um rolê pela noite e também logo cedo, já que são animais crepusculares. Isso significa que elas são mais ativas durante o anoitecer e o amanhecer. Tem até quem ache o roedor simpático e tente fazer carinho ou tirar selfies.

Mas outros têm pavor, e não gostam nem de ver. Existem pessoas que ficam com medo da capivara, por ser portadora da febre maculosa, o que não é verdade. A transmissão da doença ocorre através da picada do carrapato-estrela contaminado com a bactéria Rickettsia rickettsii. Como ela é hospedeira desse tipo de carrapato, acaba gerando a confusão. Porém, a capivara não é o único animal que carrega sobre si o carrapato estrela. O cavalo também é hospedeiro.

As capivaras são encontradas na Argentina, Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana Francesa, Guiana, Paraguai, Peru, Suriname, Uruguai e Venezuela; habitando florestas e pastagens próximas à água.

São animais herbívoros. Os pratos preferidos delas são as plantas aquáticas e a grama, podendo variar com grãos, melões e abóboras. Alimentam-se também de pastagens, plantas rasteiras, brotos de árvores e algas; e, em situação de escassez, podem invadir e se alimentar de plantações. Em cativeiro comem melancia, milho, alface, e um amplo leque de frutas e verduras.

Esses comedores de capim, são considerados os maiores roedores do mundo. Possuem dentes incisivos grandes e fortes, bem adaptados ao corte, e que não param de crescer. Por este motivo é que tais animais frequentemente roem pedras e troncos de árvores. São animais de grande porte, com pelagem grossa e acastanhada. Podem alcançar cem quilos, um metro e meio de comprimento, e meio metro de altura. As capivaras não possuem rabo naturalmente.

Suas patas são palmadas, possuindo membranas entre os dedos, o que facilita o nado. Quanto a isso, são bastante ágeis, podendo ficar até cinco minutos embaixo d’água, sem respirar. Bebem, copulam, regulam a temperatura corporal e fogem de predadores neste ambiente e, por isso, sempre estão próximos a ele.

São predados por onças, jaguatiricas, jacarés, cachorros-do-mato, serpentes e piranhas. Em algumas regiões, em virtude da ausência de predadores e da alta oferta de alimentos, suas populações crescem significantemente. Talvez seja por tal motivo que se encontrem em risco mínimo de extinção. A expectativa média de vida das capivaras, é de quinze anos.

A carne da capivara, por ser considerada exótica, bastante saborosa e apreciada, é visada comercialmente. Podem ser caçadas também para a produção de bolsas, carteiras, roupas, artigos em couro e óleo. Seus pelos e esterco também são aproveitados, respectivamente, na confecção de pincéis e em processos de adubação. A caça ilegal é uma preocupação.

As capivaras são mitológicas, lendárias, ícones, símbolos e mascotes das cidades de Juiz de Fora, Capivari e Curitiba.

Fontes:

Biologia e Manejo de Capivaras. Parque Estadual Alberto Löfgren, São Paulo, Brasil. Rev. Inst. Flor., São Paulo, v. 19, n. 1, p. 55-64, jun. 2007. Hugo da Fonseca Alves Pereira Marilda Rapp de eston.

ARAGUAIA, Mariana. "Capivara (Hydrochoerus hydrochoeris)"; Brasil Escola. Acesso em 05 de fevereiro de 2021. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/animais/capivara.htm.

Fauna, Rios e Lagos. Disponível em GENEVE, Boulevard. Acesso em out. 2013.

PAULO FILHO, Pedro. Estórias e lendas do Povo Campos Do Jordão. São Paulo: Santuário, 1987. História de Campos do Jordão. Editora Santuário, 1986.

Prefeitura Municipal de Campos do Jordão. Lei 3049/07, de 2 maio 2007. Dispõe sobre o Zoneamento de Uso e Ocupação do Solo do Município de Campos do Jordão. Alterada pela Lei 3119/08.

ROCHA, E. F. (org.). História resumida de Campos do Jordão. A Cidade, Campos do Jordão. Acessos em set. 2015 e nov. 2015.

 

Links:

http://boulevardgeneve.com.br/blog/fauna-de-campos-do-jordao/

https://brasilescola.uol.com.br/animais/capivara.htm



A Casa da Criança em Campos do Jordão



Em 1926, o padre José Vita chegou a Campos do Jordão – naquela época, Vila Abernéssia, para ali se tratar e descansar algum tempo. Naqueles dias, anteriores à BCG e aos antibióticos, o lugar tinha um aspecto assustador. Os doentes morriam em grande quantidade e a maioria protelava o tratamento até a última fase da doença, quando só restava esperar um milagre ou a morte.

O padre José Vita alugou uma casa com um grande terreno e construiu ali um abrigo de madeira, onde colocou alguns doentes que não tinham recursos para pagar sua internação nuns poucos sanatórios que surgiam.

Logo aquele número subiu para 25, forçando seu idealizador a alugar dois pequenos prédios, onde instalou pensões para tuberculosos indigentes, que lá aportavam em grande número.

Em 1933, o padre José Vita quis reunir todos aqueles doentes num só lugar e, comprando um pedaço de terra em local mais afastado do centro da cidade, conseguiu recursos para construir um edifício largo, de um só pavimento, de madeira, para abrigar quase uma centena de doentes.

Com os que chegavam a Campos do Jordão para tentar a cura da Tuberculose – grande parte dos quais desenganados – vinham muitas crianças, algumas já contagiadas pelos próprios pais, as quais, por absoluta falta de lugar onde pudessem ficar, acabavam abandonadas ou entregues à própria sorte, quando o responsável por elas morria. Eram comuns os pedidos, feitos entre lágrimas, para que o padre José Vita as recolhesse e tratasse, entre os doentes adultos, o que era totalmente contra indicado.

Em agosto de 1933, o padre José Vita encaminhou a outros sanatórios cada um de seus doentes e, depois das reformas necessárias, instalou no prédio tosco um sanatório exclusivamente para o tratamento de crianças tuberculosas pobres. Solicitou ajuda ao governo de São Paulo e foi, em parte, atendido, sendo-lhe prometida uma ajuda anual – da qual sempre prestou minuciosa conta às autoridades estaduais.

Durante 11 anos, o velho prédio deu abrigo a 60 crianças, com um índice de cura cada vez mais elevado. Meninos e meninas de várias regiões do país, foram trazidos por seus pais para o alto da serra, para aqueles 1600mts de altura, na esperança de que a vida lhes fosse poupada.

Por indicação do Bispo de Taubaté, religiosas passaram a ajudar o padre José Vita na obra.

Em 1944, depois de muitos anos de economia e sacrifício foi instalado o novo edifício do Sanatório São Vicente de Paulo.

Visível de muito longe, este prédio tinha a capacidade para abrigar confortavelmente 250 crianças. Com 3200mts2 de área construída, foi esse sanatório o único do gênero da América do Sul.

Enfermarias para crianças em sanatórios de adultos era coisa comum na época: a raridade consistia no fato de o Sanatório São Vicente de Paulo ser exclusivamente para menores e de integrar, como processo terapêutico, a alegria ambiente e o afastamento de qualquer aspecto mórbido da doença.

Verificando que as crianças moradoras em Campos do Jordão não dispunham de um ambulatório ou de assistência adequada, o padre José Vita criou, em seu caridoso dinamismo, a Casa da Criança.

O padre José Vita, mandou construir nas proximidades do Sanatório São Vicente de Paulo, uma residência, onde pudesse superintender, de perto, o seu regular funcionamento.

À direita de quem entra no pátio, havia uma área pantanosa, onde pretendia, construir o edifício para nele funcionar a Casa da Criança. Depois de drenar o terreno e estaqueá-lo, convenientemente, iniciou a construção, equipada de dependências com ambulatório, farmácia, capela, dormitórios, berçários, isolamento, cozinha e refeitório, com capacidade para 46 lugares.

A Casa da Criança – era um conjunto que incluía o Hospital Infantil com 30 leitos e um moderno ambulatório, dispondo de bons médicos, além de fazer frequentemente distribuição de leite em pó às crianças da cidade e oferecimento diário de almoço aos pequeninos indigentes que ali chegavam.

No dia 6 de março de 1954, Dom Antonio de Almeida Moraes Jr., arcebispo de Olinda e Recife, ali esteve para proceder à bênção e a inauguração da Casa da Criança, que contou com a presença do Governador do Estado, Lucas Nogueira Garcez.

O pediatra, dr. Nathanael Silva prestou serviços naquela Instituição como diretor-clínico, um dos maiores pediatras de São Paulo, sendo sucedido pelo dr. Franklin Alckmin Bueno Maia.

Nessa época foi rescindido o contrato com as Irmãs Franciscanas, alemãs, e para substituí-las, foram convocadas as Irmãs Franciscanas do Imaculado Coração de Maria, que tiveram o encargo de assistir as crianças enfermas do Padre José Vita.

Hoje, a Casa da Criança é mantida pelo Instituto das Filhas de Nossa Senhora das Graças, e funciona como um centro educacional para crianças carentes.

Cercado por uma mata de araucárias a Casa da Criança, é um local rico em história e significado para a cidade, destacando-se a capela e o Memorial Padre Vita.

A Casa da Criança é uma tarefa de um novo Vicente de Paulo, para crianças que vivem pertinho do céu!

A frase mais conhecida e citada pelo Padre Vita era:

“As crianças são as flores perfumadas no jardim de Deus.”

Fontes:

Jornal “Correio da manhã”, de 19 de setembro de 1940;

Jornal “A Manhã”, de 07 de janeiro de 1944

Jornal “Jornal do Brasil”, de 26 de maio de 1948;

Jornal “O Lar Católico”, de 08 de maio de 1955; 30 de setembro de 1956;

Jornal “Estrela Polar”, de 19 de maio de 1957;

Jornal “Jornal do Brasil”, de 02 de agosto de 1964.


Casa da Juventude



A Casa da Juventude, uma das mais antigas construções de Campos do Jordão, localizada no final da Avenida Brigadeiro Jordão em Vila Abernéssia, foi construída na década de 1920 como residência. Apresenta uma arquitetura tradicional das casas de fazenda da época, conservando seu estilo original.

Na década de 1930, Campos do Jordão era um festival de pensões de tuberculosos, que se localizavam, em sua maioria, em Vila Abernéssia. O município era procurado pelos tuberculosos advindos das mais diversas partes do país e do mundo para tratamento e cura da moléstia.

A Casa da Juventude, propriedade do dr. Diogo Lara Cruz era usada como pensão mista para doentes de tuberculose.

Antonio de Toledo Lara, o nobre Conde de Lara, nascido a 21 de dezembro de 1864, em Tietê SP, por mercê de galardão concedido pelo Papa Pio X, a 14 de março de 1912, e Sra. Condessa dona Francisca de Toledo Lara, nasceram em terras do Curuçá e pelos seus feitos, os tieteenses deles se orgulham.

O Conde de Lara é filho de Antônio Rodrigues de Proença Lara e de dona Tereza Amélia de Toledo.

A família do conde de Lara, seus filhos, Tácito de Toledo Lara, Theolônio de Toledo Lara, Antonio de Toledo Lara Filho, Luiz de Toledo Lara, Henrique de Toledo Lara, Davina Lara e Tereza de Toledo Lara; benemérito cidadão e insigne cavalheiro paulista, passou sua útil e valiosíssima existência semeando benefícios e espargindo atos de generosidade, com o que fez viver muitas instituições de caridade e assistência pública, ajudou a numerosos estabelecimentos de alta filantropia e permitiu a realização de obras e de acometimento de alto relevo médico social e de acendrado altruísmo.

Um de seus netos, Diogo de Toledo Lara, grande empresário de São Paulo, foi proprietário de várias glebas de terras em Campos do Jordão. No ano de 1923, o Comendador Antonio Rodrigues Alves e sua esposa, alienaram a área a Luiz Ferreira Tinoco, que a transferiu ao Dr. Claro César. Os herdeiros de Claro César venderam-nas para Diogo de Toledo Lara, que ali implantou a Vila Paulista.

O conde de Lara faleceu em 21 de abril de 1935. Era um filantropo. Seu nome estava ligado a quase todas as associações beneficentes de São Paulo, cujas obras de caridade e benfeitorias sempre mereceram a ajuda financeira do titular desaparecido. Após o seu falecimento, seu testamento deixou legados às instituições de caridade de São Paulo em escolas, maternidades, santas casas, asilos e outros estabelecimentos de caridade.

Dentre os estabelecimentos de caridade, foram distribuídos os seguintes legados: Sanatório São Paulo de Campos do Jordão, 50 contos de reis; Sanatório Santa Cruz para tuberculosos pobres, de Campos do Jordão, 40 contos de reis.

A Casa da Juventude, durante as décadas de 1940 e 1950, foi residência da Família italiana, Santo Scófano, conhecido também por Santo Peixeiro. Foi um antigo comerciante de peixes e frutos do mar, por mais de trinta anos, estabelecendo-se no antigo Mercado Municipal de Campos do Jordão. Sua simpatia e habilidade com os peixes, até hoje são lembradas pelas pessoas mais antigas da cidade.

Cada cliente era um grande amigo e, toda vez que ia comprar peixes ou frutos do mar, recebia as orientações necessárias para o seu preparo à moda da tradicional e maravilhosa cozinha italiana.

Mais tarde, a Casa da Juventude passou à Rede Internacional de Albergues da Juventude, onde ficou conhecida por todos como “Casa da Juventude”, possibilitando aos jovens de todo Brasil e de várias cidades do mundo, a oportunidade de conhecer Campos do Jordão, hospedando-se em local com preço extremamente reduzido.

Foi inaugurada em 1960, num encontro de amigos pertencentes ao Rotary Club de Campos do Jordão: Sr. Amadeu Carletti Junior, Sr. Horácio Padovan e Sr. José Ferreira Areal.

As Casas de juventude tinham o objetivo de promover o desenvolvimento integral da juventude, fortalecendo processos de aprendizagem e autonomia para a efetivação das políticas públicas para os jovens. Ofereciam serviços especializados sobre adolescentes e jovens, com acompanhamento a grupos comunitários e organizações juvenis, através de ações socioeducativas na perspectiva da garantia de direitos, tendo em vista o engajamento e o compromisso na construção da cidadania, através de uma formação integral e processual.

Em 1974, a Casa da Juventude serviu como cenário para o filme dirigido por Cláudio Cunha, “O Clube das Infiéis”, que teve no elenco, Tony Tornado e Iara Marques.

Em 1976, o Exército Brasileiro se alojou ali, para realizar alistamento militar dos jovens de Campos do Jordão.

O Museu da Imagem e Som de Campos do Jordão, criado pela Lei nº 869 de 15 de abril de 1971, que teve como principal objetivo registrar e preservar o passado e o presente das manifestações ligadas às áreas de cinema e fotografia, e reunir o que possa contribuir para reconstituir até o presente os acontecimentos históricos jordanenses.

Foi instalado na Casa da Juventude em 09 de outubro de 1990, pelo decreto nº 322/90, passando a ser patrimônio da Prefeitura Municipal da Estância de Campos do Jordão.

Foi inaugurado em 1992, na gestão do prefeito Fausi Paulo, sendo o Prof Jarmuth de Oliveira, Chefe de Gabinete, e a Profª Cecília Murayama, Secretaria de Cultura.

Em 1998, através da matrícula nº 20260, a Prefeitura Municipal torna-se proprietária do imóvel situado à Rua Brigadeiro Jordão, 1236 – atual Casa de Cultura Prof. Antonio Fernando Costella, via desapropriação amigável, transmitida por Clotilde Pereira de Toledo Lara (espólio de Diogo de Toledo Lara).

A Casa da Juventude, atual sede da Secretaria Municipal de Cultura, abrigou também o IPHAC - Instituto do Patrimônio Histórico, Ambiental, Artístico, Arquitetônico e Cultural de Campos do Jordão, de 09 de setembro de 2004, ano de sua criação, pela lei nº 2831/04, até novembro de 2019, quando foi extinto.

A Casa da Juventude, edificação de arquitetura histórica, foi tombada como Patrimônio Histórico Cultural e Arquitetônico em 20 de abril de 2012, pelo Decreto nº 7836/17, de 23 de novembro de 2017.

Fontes:

Jornal “A Gazeta”, de 19 de fevereiro de 1931;

Jornal “Correio da Manhã”, de 10 de maio de 1935;

Jornal “A Noite”, de 15 de maio de 1935;

PAULO FILHO, Pedro Paulo. História de Campos do Jordão. Campos do Jordão. Editora Santuário. 1986. Pp.784.

Annuário Genealógico Brasileiro (SP) - 1939 a 1948


Links:

https://www.geni.com/people/Antonio-de-Toledo-Lara-conde-de-Lara/6000000030449080870

http://grandestieteenses.blogspot.com.br/p/os-nobres.html


                                     Casa de Recuperação Rainha da Paz



Esta obra social é mantida pela Paroquia Nossa Senhora Achiropita, dirigida por padres Orionitas, da Congregação de São Luis Orione.

Criada no início 2013 a Casa Rainha da Paz é um espaço que abriga e auxilia homens livres da situação de dependência química, por vontade própria e buscam apoio para um retorno digno às suas famílias e sociedade. Situada em Campos do Jordão, a casa é parte das Obras Sociais Nossa Senhora Achiropita, do bairro do Bexiga, em São Paulo.

A Comunidade Rainha da paz começou a funcionar no dia 14 de junho de 1999 e foi fundada juridicamente no dia 21 de janeiro de 2000, já atendeu mais de 30.000 famílias e 5.000 pessoas internadas com um índice de recuperação em torno de 32% dos casos, ficando acima da média no Brasil que é de 17%.

Nossa missão é amar gratuitamente o irmão que sofre encontrando nele o próprio Jesus que, gritando por socorro nas ruas, esquinas, favelas, bocas, cadeias ou quem sabe dentro de nossa própria casa, aquele que espera ansioso por socorro imediato. Queremos explicitar nossa missão e nosso compromisso maior: acolher cada irmão sofredor como se fosse o próprio Cristo! ser luz p/ eles, assumi-los e nos deixar assumir por eles.

Na RAINHA DA PAZ procuramos acolher e enxergar em cada um o próprio Cristo. A RAINHA DA PAZ deseja continuar sendo o porto seguro de Jesus transfigurado em dependente químico, portador de HIV, morador de rua. Por isso, em nosso ministério precisamos sempre optar por valores que ajudem o ser humano no seu processo de transformação e restauração.

A comunidade RAINHA DA PAZ é um Centro de Restauração e Desenvolvimento Humano para dependentes químicos que tenham o desejo de buscar sua dignidade perdida.

Nossa missão é amar gratuitamente o irmão que sofre encontrando nele o próprio Jesus que, gritando por socorro nas ruas, esquinas, favelas, bocas, cadeias ou dentro de nossa própria casa, espera ansioso por socorro imediato. Queremos explicitar nossa missão e nosso compromisso maior: acolher cada irmão sofredor como se fosse o próprio Cristo! ser luz p/ eles, assumi-los e nos deixar assumir por eles.

Em fevereiro de 2013 a Comunidade Nossa Senhora Achiropita adquire um terreno em Campos do Jordão, em meio ao verde da montanha, local onde já havia sido um clube de férias de uma associação bancária, o local estava desativado há alguns anos.

Nosso propósito para esse novo local era de criar um espaço de acolhida para homens em situação de dependência química. Em um terreno de 12 mil metros quadrados, com 20 apartamentos distribuídos em 13 casas, mais um, salão social, refeitório, área de serviço e capela, nascia a Casa de Acolhida Rainha da Paz.

Em setembro recebemos o primeiro filho (como são chamados os assistidos), curiosamente de nome Rafael, que significa: Deus quem cura. Hoje a casa abriga e assiste a 25 filhos, alguns provenientes de São Paulo e tantos outros de Campos do Jordão ou de alguma cidade onde os padres orionitas prestam assistência, como é o caso de Guararapes.

O projeto abriga em média 30 pessoas em um complexo de 12 casas, além de área social, capela, refeitório, espaço de artesanato, horta comunitária e muito verde.

Diante de tantos desafios, as drogas vêm fazendo parte da dura realidade, não só de nossa cidade, mas também de todo o país. Assim, nossa casa acolhe ex-dependentes químicos desejosos de uma nova oportunidade. Nosso objetivo é integrá-los junto aos seus familiares em um novo contexto social, educacional e familiar, visando sua reintegração através de acompanhamento e aconselhamento, prática de atividades de lazer e esporte, participação em oficinas com diversos temas, reflexão e espiritualidade. A adesão ao acolhimento se dá de forma voluntária, pois a conscientização dele é parte fundamental em sua recuperação.

O projeto nasce e ganha forma graças à generosidade e trabalho de muitos benfeitores e amigos. Uma verdadeira corrente de esperança e fé. Um presente que Deus nos confia.

Buscamos parceiros que compartilhem deste nosso sonho. Entre em contato conosco e saiba como ajudar.

Casa de Acolhida Rainha da Paz, um complexo de 12 casas, área social, capela, refeitório, espaço de artesanato e horta comunitária.

Projeto de lei que concede à Casa de Recuperação Rainha da Paz, o título de Utilidade Pública Municipal, foi aprovado por unanimidade dos vereadores. Autoria do projeto é da vereadora Maria Joaquina dos Santos.

Com o título de Utilidade Pública Municipal em mãos, a organização poderá requerer o título de utilidade pública estadual e firmar convênios públicos que ofereçam recursos para financiamento das suas atividades.

Criada no início 2013, a Casa Rainha da Paz é um espaço que abriga e auxilia homens em situação de dependência química.

Situada em Campos do Jordão e filiada à comunidade Nossa Senhora Achiropita-São Paulo, abriga em média 30 pessoas em um complexo de 12 casas além de área social, capela, refeitório, espaço de artesanato, horta comunitária e muito espaço verde.

Diante de tantos desafios, as drogas vêm fazendo parte da dura realidade não só de nossa cidade, mas de todo o país. Assim a casa acolhe dependentes químicos desejosos de uma nova oportunidade. O objetivo é integrar o dependente químico e seus familiares em um novo contexto social, educacional e familiar, visando sua reintegração através de acompanhamento e orientação psicológica, lazer, esporte, oficinas e espiritualidade. A adesão ao acolhimento se dá de forma voluntária, pois a conscientização do dependente é parte fundamental em sua recuperação.

Esta obra nasce e ganha forma graças à generosidade e trabalho de muitos benfeitores e amigos. No site www.achiropita.org.br/projetos-sociais/casa-rainha-da-paz estão disponíveis as informações para as pessoas que desejarem ajudar a instituição.

A Lei Municipal que atesta esta utilidade pública é a número 3966 de 13 de março de 2019.

Câmara Municipal de campos do jordão

Paróquia Nossa senhora Achiropita


Links:

https://www.camaracamposdojordao.sp.gov.br/camara-aprova-utilidade-publica-para-casa-rainha-da-paz/

https://www.achiropita.org.br/projetos-sociais/casa-rainha-da-paz

https://emfavordavida.webnode.com.br/sobre-nos/



Destacamento Montado de Campos do Jordão



O Regimento de Polícia Montada, “Cavalaria 9 de Julho”, da Polícia Militar do Estado de São Paulo é um Tradicional quartel da Cavalaria da Polícia Militar do Estado, unidade operacional responsável pelo policiamento montado.

Criado em 11 de outubro de 1892, o regimento tem o nome da data que marca a Revolução Constitucionalista de 1932. A denominação foi uma iniciativa, em 1955, do então governador Jânio Quadros.

Atualmente, possui 505 policiais militares em todo território do Estado de São Paulo. O Regimento, subordinado a uma Unidade do Choque, tem como principal missão o policiamento e atuação em grandes aglomerações de pessoas, como jogos de futebol, shows, manifestações e encontros culturais.

Além da sede do Regimento Polícia Montada, há 15 destacamentos sediados nas cidades de Avaré, Bauru, Campinas, Campos do Jordão, Guarujá, Itapetininga, Marília, Sorocaba, Rio Claro, Ribeirão Preto, São Bernardo do Campo, Mauá, Presidente Prudente, Santos e na Academia do Barro Branco (Capital), onde é empregado no policiamento ostensivo preventivo, somando mais de 14 operações Policiais realizadas, e mais de 1550 policiamentos em apoio a outras unidades da Polícia Militar inclusive fora da cidade de São Paulo.

A Operação Inverno em Campos do Jordão, nessa época do ano, o número de pessoal que se desloca para essa cidade é alto, por esse motivo é necessário também aumentar o policiamento para prover segurança e lazer a todos.

Hoje, a Polícia Militar do Estado de São Paulo possui 452 solípedes (cavalos e éguas), sendo 316 na Capital e Grande São Paulo e 136 no interior do Estado, todos da raça Brasileiro de Hipismo; são adquiridos com idades entre 3 a 6 anos e o tempo de atuação entre 22 a 25 anos de idade, variável conforme a disposição física do animal.

A cavalaria atua em operações especiais rurais e urbanas, controle de tumultos, no patrulhamento de áreas periféricas, parques públicos, estádios e em grandes eventos culturais e esportivos.

Os cavalos contam com assistência veterinária 24 horas por dia, todos os dias. Todos são submetidos a um acompanhamento nutricional recebendo uma ração balanceada à base de feno.

Os animais são higienizados diariamente e passam por vermifugação periódica. A sede também conta com um centro cirúrgico.

O Regimento de Polícia Montada também desenvolve atividades de fundo social, como o atendimento a pessoas com necessidades especiais em sessões de equoterapia, um método terapêutico que utiliza o cavalo dentro de uma abordagem nas áreas da saúde, educação e equitação, com foco no desenvolvimento biopsicossocial de pessoas portadoras de deficiência física, mental e sensorial.

O Destacamento de Polícia Montada de Campos do Jordão da Polícia Militar do Estado de São Paulo, foi criada em 1964.

A Polícia Militar Montada, com especial função de guardar o “Palácio Boa Vista de Campos do Jordão”, está alojada em prédio próprio, anexo ao Palácio Boa Vista.

Iniciada a construção desse prédio, mesmo antes do término de sua cobertura, a obra foi interrompida por falta de verba e só concluída quase dois anos depois. Concluído o prédio, com suas dependências e 24 baias para os cavalos, surgiu o problema, onde arranjar os cavalos? A respeito disso o jornal “O Estado de São Paulo” em 28 de março de 1968 publicou o seguinte artigo: “_Polícia Montada não tem cavalos”.

Na época, o Cel. Raul Humaitá Villa Nova, comandante do Batalhão de Cavalaria da Polícia Militar, cedeu 08 cavalos para servir à Polícia Montada de Campos do Jordão. Notável Oficial de Cavalaria, exerceu função importante na Polícia Militar nos anos 1970. Foi secretário da Casa Militar de 1971 a 1974.

Esse Destacamento em Campos do Jordão é responsável pela guarda do Palácio da Boa Vista. A guarda se incumbe de proteger todo o patrimônio desse prédio do Estado, com suas dependências e sua área de 33,86 alqueires, constituída de parques de pinhão, pinus, matas, pomares, parque de cerejeiras ornamentais e de frutos, de pessegueiros, de jardins, gramados, etc., evitando o corte indiscriminado de árvores na busca de lenha.

A inspiração do uniforme foi organizada nos moldes da Real Polícia Montada do Canadá, a mais famosa organização de Polícia montada no mundo. Deve-se isto à divulgação quase lendária que ela conseguiu através do cinema e das historietas em quadrinhos.

O fardamento vistoso, o chapéu típico, de abas largas, o culote, os punhos, a gola, a túnica, tudo é vermelho. As botas pretas com esporas cromadas, são lustrosas e elegantes. O dólmã é azul-escuro. O cinto e as luvas são brancos. É um uniforme vistoso. A fabricação era da tradicional LD Ramenzoni no início dos anos 1960.

É o requinte, a tropa de cavalaria da Polícia Militar de Campos de Jordão que faz a guarda do Palácio da Boa Vista. Começa com os guardas da entrada, raríssima cobertura do Destacamento Montado.

Os cavalos garbosos do Grupamento Montado da Casa Militar locados em Campos do Jordão terão uma nova casa. Os animais passarão a morar junto ao BAEP - Batalhão de Ações Especiais de Polícia - de Taubaté. Passarão a auxiliar o corpo de elite da Região Metropolitana do Vale do Paraíba, área atendida pelo BAEP, nas áreas de interesse de segurança pública.

Os cavalos ficarão em um local construído especialmente para este fim, onde já existe o canil, mas na temporada de inverno, voltarão à Campos do Jordão, para o patrulhamento.

 

Fontes:

Revista “Revista AOPP”. Edição nº 20

Revista “O Cruzeiro”, de 05 de maio de 1970

RODRIGUES, Olavo. Veja Santos, 2ª edição, 1978. Ed. do autor - pág. 53 Supl.

CAMARGO, Fausto Bueno de Arruda. Campos do Jordão e Seu Palácio. Campos do Jordão. Editora Parma Ltda. 1982.

Links:


https://www.guiacampos.com/arquivo-de-noticias/cavalos-da-cavalaria-da-policia-militar-de-campos-do-jordao-vao-embora-para-taubate/10069

https://ultimosegundo.ig.com.br/policia/2018-02-07/cavalaria-da-pm.html

http://www.correioindependente.com.br/regimento-de-policia-montada-cavalaria-9-de-julho-completa-126-anos/

http://www.novomilenio.inf.br/baixada/vias/1r007.htm

http://ventura-memriasdoventura.blogspot.com/2009/08/14-de-agosto-de-2009.html


Cemitérios de Campos do Jordão


... o cemitério é uma escola, não há dúvida. Fala-nos da morte. Lembra nossa última realidade. Lembra Agostinho de Hipona: “que a morte seja vossa mestra!”. Palavras profundas e tão singelas! Sim, a morte é uma grande mestra. E onde ensina melhor? Onde está sua escola? No cemitério. Quantas lições não nos dá ela! Oh, se os vivos soubessem aproveitar as lições da Doutora Morte! Vamos ao cemitério com sentimentos cristãos e muito aprenderemos lá. Prega a nobreza e a santidade do corpo da pessoa humana; a grande lei da fraternidade universal e eterna; a imortalidade da alma; a ressurreição da carne. Prega a nobreza do corpo humano, cercando-o de respeito e veneração, mesmo quando ele se transforma num montão de ruínas, numa podridão, num punhado de cinzas. Respeita estas cinzas e as quer depositadas num lugar sagrado.

Uma voz parece se ouvir no cemitério como a do Senhor a Moisés: “È sagrado o lugar onde estás, esta terra que pisas”.

Lá dormem os cristãos. Como é doloroso ver-se desrespeitado e profanado o lugar dos mortos com tantas leviandades e até com o escândalo e o pecado. No cemitério conservemo-nos respeitosos como num templo. Oremos e meditemos ali. É lugar sagrado. O cemitério fala-nos que somos todos irmãos. Todos nivelados numa tumba! A diferença dos mausoléus e das sepulturas rasas não tira ao cemitério a ideia do nivelamento, do nada que somos, e da podridão de uma sepultura. Que lição para os orgulhosos! E como devemos nos amar em Cristo, nós que seremos nivelados após a morte até a ressurreição da carne! Debaixo de uma sepultura, todos iguais! Ali não há pobres nem ricos, nem grandes ou pequenos. Já o dissemos, o cemitério cristão prega-nos a imortalidade de nossa alma. Ali não se acaba tudo. Ali começa tudo. É a porta da eternidade, o pórtico da outra vida. Então, pensamos na imortalidade de nossa alma. Olhar para um cemitério com a indiferença deste grosseiro materialismo que hoje aí impera, é muito triste e horrível porque desespera. Cada sepultura é uma porta do céu para o verdadeiro cristão. Uma sementeira onde descansa um corpo que depois de apodrecido como a semente na terra, surgirá ressuscitado para unir-se à alma na eternidade, quando vier a ressurreição da carne. Ressuscitarei um dia! Que doce esperança do cristão!

Tudo isto aprende e medita o cristão num cemitério quando o visita com fé e vive o espírito da Igreja que santifica e abençoa o Campo Santo (Monsenhor Ascânio Brandão).
Conforme a obra “Sentido oculto dos ritos mortuários”, de Jean-Pierre Bayard, os primeiros cemitérios surgem em 10.000 anos a.C. Cerâmicas são encontradas juntos aos corpos e sepulturas agrupadas em torno de 8.000 anos a.C.271 Por volta de 6.000 mil anos a.C. os mortos começam a ser depositados na terra na posição fetal e voltados na direção do sol nascente.272 Em torno do ano 5.000 a.C. surgem os tumulus, monte de terra ou pedras sobre a sepultura, formando pequenas colinas (Vanderlei Mengue Bock).

No começo do século XX, foram importantes os chamados carregadores de cadáveres, que atuavam no itinerário Campos do Jordão-Pindamonhangaba, quando não havia ainda meios de comunicação civilizados.

Profissão brava, que exigia abnegação, além de uma saúde de ferro. Como Campos do Jordão, na época, já despontava como estação de cura de tuberculose, uma moléstia terminal naquela ocasião, o índice de mortes era elevadíssimo, de sorte que o Cemitério da Bazin, não comportava tantos sepultamentos. Por isto, as famílias de alguma posse transportavam seus mortos para Pindamonhangaba, com posterior embarque para São Paulo e Rio de Janeiro, ora para Pirangussú, em Minas Gerais.

O traslado dos corpos para o Vale do Paraíba ou para o território mineiro era uma verdadeira odisseia: o corpo era colocado dentro de uma rede esticada entre dois longos varais, como se fosse uma maca. Os varais eram postos sobre os ombros musculosos dos carregadores de cadáveres, que se revezavam na descida das escarpadas e tortuosas veredas da Serra da Mantiqueira.

Onde se acha, atualmente, o pátio da Estrada de Ferro Campos do Jordão, nas proximidades do armazém de abastecimento em Pindamonhangaba, havia a Capela de Santa Cruz, à margem da linha férrea da Estrada de Ferro Central do Brasil, que abrigava os corpos vindos de Campos do Jordão, os quais, depois, eram transportados, por trem, para São Paulo e Rio de Janeiro.

Eram 25 carregadores de cadáveres, que cobravam, cada um, 25 mil réis. Saíam de madrugada de Campos do Jordão, descendo pelo Alto do Toriba e logo, às cinco da tarde, estavam chegando em Pindamonhangaba. Era necessário o revezamento porque toda a viagem era feita a pé.

Dentre os carregadores de cadáveres conhecidos, registra-se os nomes dos irmãos Bravo: Benedito Frozino, José da Matta Oliveira e Matheus de Lima.

No meio do caminho ocorriam cenas dramáticas, pois, os carregadores, descendo a serra, frequentemente, cruzavam com enfermos, que subiam em liteiras e banguês as escarpas da Mantiqueira. Alguns sucumbiam no meio do caminho, em razão da tuberculose em adiantado estado e também das asperezas do caminho. Neste caso, era preciso regressar, pois de nada valeria a ação terapêutica do clima de Campos do Jordão.

O labor desses homens corajosos e destemidos, que carregavam cadáveres pela força de seus músculos e ombros, pode parecer, à primeira vista, lúgubre e desprezível, mas era uma exigência imposta pelas necessidades e agruras do tempo em que viveram. Se, atualmente, não são admirados, foram indispensáveis na época.

O primeiro cemitério existente no povoado de Campos do Jordão, fora construído em 1898, às expensas de Matheus da Costa Pinto, em decorrência das repetidas aflições dos moradores, que se viam obrigados a transladar os seus mortos a Santo Antonio do Pinhal e Pindamonhangaba, para sepultamento. Eram transportados em redes, em forma de banguês.

O dr. Domingos Jaguaribe, com as terras que adquiriu na região, (incluindo o cemitério), em 1889, transmitiu a Casemir Etienne Bazin, por ocasião da alienação das ditas terras. O velho Bazin passou a ser proprietário de uma grande área de terras localizada na Vila Velha, atual Vila Jaguaribe.

Por ordem do novo proprietário, o campo santo foi cercado e à sua volta plantados eucaliptos pelo empregado, Benedito Frozino. Situava-se à margem direita da atual avenida Januário Miráglia, no sentido Abernéssia-Jaguaribe, ao alto, entre a estrada que demanda o atual cemitério e Vila Jaguaribe.

O cemitério foi inaugurado em 29 de dezembro de 1899. Ali foram sepultados vários pioneiros, dentre eles, o engenheiro agrimensor, José de Magalhães, assassinado por João Rodrigues da Silva, o João Maquinista. Seu cadáver foi o primeiro a ser sepultado nesse cemitério, sendo numeroso o féretro. Situado no Recanto Dubieux, existia uma inscrição em um dos túmulos: “Aqui jaz o Dr. José de Magalhães, barbaramente assassinado”.

Quanto a João Rodrigues da Silva, apresentou-se à polícia em São Bento do Sapucaí, onde foi julgado por três vezes no Tribunal do Júri e por três vezes foi absolvido.

Conta-se que depois que foi sepultado Leon Casemir Felix Marie Bazin, sua esposa dona Bertha, não mais permitiu que ali fosse enterrado mais ninguém. Aí, o povo começou a chamá-lo de “Cemitério da Bazin”. Atualmente, é o recanto Dubieux. Bertha Augusta Guilhermina Bazin faz parte da história de Campos do Jordão. Era casada com o Sr. Leon Casemir Felix Marie Bazin, filho do francês, o velho Casemir Etienne Basile Bazin.

Esse cemitério situava-se à direita de quem sobe a rua Sebastião de Oliveira Damas, no início de Vila Nadir, em local, atualmente, completamente povoado, cujas terras foram doadas em 04 de maio de 1917 por Leon Casemir Felix Marie Bazin e sua esposa, dona Bertha à Câmara Municipal de São Bento do Sapucaí, sob a condição de ser interditado pela Câmara, logo que o novo estivesse cercado e trasladados, no prazo legal, os ossos ali existentes, que seriam arrasados.

O cemitério era praticamente particular e não atendia às necessidades da população, advindo daí o movimento da comunidade para a criação de uma nova necrópole.

O que de fato, surgiu, oficialmente, com o Cemitério nº 1, construído por Simão Cirineu Saraiva, às expensas do embaixador, dr. José Carlos de Macedo Soares, que foi entregue à população em 29 de outubro de 1923, pelo sub-prefeito, Guilherme Lebarrow. Simão Cirineu Saraiva, irmão de criação do dr. José Carlos de Macedo Soares, o mesmo que deu nome à Fonte Simão, foi administrador do Cemitério nº 1. Era todo cercado com muro de cimento armado e loteado em sepulturas. O seu portão de ferro, de entrada, foi doado pelo dr. Roberto Simonsen.

Já, em 1928, o Cemitério da Bazin tinha os seus muros em ruínas, vivia maltratado e devido à falta de lugar, chegou-se mesmo a enterrar na mesma cova um cadáver em cima do outro.

Esgotada a capacidade dessa necrópole, mais tarde, foi edificado o Cemitério nº 2 (atual), na Vila Nossa Senhora de Fátima (Vila Sodipe), inaugurado pelo segundo prefeito sanitário, Bento Cerqueira Cezar (Bentinho), em 01 de junho de 1930.

O necrotério foi abençoado em 06 de junho de 1930 pelo Pe. Ernesto Almírio de Arantes, vigário da paróquia de Santa Terezinha do Menino Jesus por provisão de Dom Epaminondas Nunes de Ávila e Silva, Bispo de Taubaté.

Em 1933, era instalado o Serviço Funerário, administrado até hoje pela Prefeitura Municipal por força do Decreto estadual nº 5.944, de 13 de junho de 1933. Esse serviço era feito anteriormente pela iniciativa particular; Floriano Rodrigues Pinheiro, em sua Construtora Pinheiro, era um dos que fabricavam caixões para sepultamento e Próspero Olivetti, mantinha uma funerária.

Nesse Cemitério nº 2, foi sepultado no dia 26 de novembro de 1937, o cadáver do dr. Robert John Reid. Uma das pessoas que assistiram o seu sepultamento, disse que na hora de descer o caixão à sepultura, não descia, porque a cova aberta era menor que o caixão. Foi preciso serrar um pedaço dele para que o caixão descesse os sete palmos da sepultura. E, comovido, disse entre lágrimas: “Um homem que doou tantas terras para o povo de Campos do Jordão, na hora de ser sepultado, faltou-lhe um pedacinho de terra!” (Dr. Pedro Paulo Filho, advogado e historiador).

O prefeito Orestes de Almeida Guimarães, pela Lei Municipal nº 14, de 08 de julho de 1948, autorizou a empreender a construção de um mausoléu no atual cemitério, numa homenagem póstuma ao ex-prefeito Januário Miráglia.

Em 1º de maio de 1963, sob a administração do prefeito, Dr. José Antonio Padovan, foi lançada a pedra fundamental da Capela do Cemitério nº 2, cuja inauguração ocorreu em 02 de novembro de 1964.

Quando da abertura de loteamento do Cemitério nº 1, na década de 1970, em Vila Nadir, nos serviços de terraplanagem, foram ali encontradas, pelos operários, ossadas humanas.

Durante uma epidemia de varíola no alvorecer do século XX, utilizou-se o estranho costume de sepultar os corpos, cobrindo-se o leito das covas com garrafas fincadas com o fundo para cima, fazendo uma superfície de vidro antes de depositar o caixão. Dizia-se que, assim, o vírus da moléstia não contaminava a terra. Sobre esse cemitério, ergueu-se em 1982, a Escola Municipal Irene Lopes Sodré.

Um fato trágico aconteceu em 1972. Nesse tempo, o Cemitério nº 2 ainda estava sem energia elétrica:

“Já era noite alta quando o corpo do soldado Manoel de Souza Lino Filho chegou do IML de Pindamonhangaba. Ele havia morrido afogado nas águas do Rio Paraíba em Pindamonhangaba SP, quando servia o Exército. O Batalhão do Exército responsável pelo translado atrasou a chegada, o que gerou um clima de mal-estar a todos, familiares e amigos, pois o sepultamento deveria então, ser feito à noite, sem iluminação natural. O sepultamento foi assistido por muitas pessoas, que acompanharam todo o nosso sofrimento. Eram 22h20min. Era o retrato da dor e da tristeza...

... Papai sofreu muito com a morte de Manezinho, os 12 dias sem encontrar seu corpo nas águas do Paraíba, e agora, teve que se submeter a essa cena constrangedora, sob a iluminação apenas de faroletes de algumas pessoas que estavam acompanhando o féretro. Esse sepultamento no escuro, gerou constrangimento a toda a família. Alguns meses depois, recebemos em nossa casa, a visita do nobre Vereador da Câmara Municipal, Tarcísio Coutinho, com a cópia de um ofício dirigido ao senhor prefeito municipal, solicitando que providenciasse luminárias e padrão de energia para o cemitério Municipal. A Prefeitura Municipal de Campos do Jordão, atendendo ao ofício, instalou as luminárias no Cemitério, que passara décadas, desde suas construções às escuras” (Maurício de Souza Lino, autor).

O prefeito sanitário de Campos do Jordão, Dr. José Arthur da Motta Bicudo, foi quem abriu a estrada do atual Cemitério nº 2, localizado na Vila Nossa Senhora de Fátima (Vila Sodipe).

Em 15 de setembro de 1997, o prefeito municipal, Oswaldo Gomes da Silva Filho, pela Lei Municipal nº 2.381, denomina o Cemitério nº 2, “Cemitério Santa Terezinha do Menino Jesus”, em homenagem ao centésimo aniversário da morte da padroeira de Campos do Jordão.

O Cemitério Municipal de Santa Therezinha do Menino Jesus em Campos do Jordão, guarda pedaços da História.

Muito mais do que um lugar de descanso para nossos entes queridos, o cemitério ultrapassa suas funções ritualísticas e religiosas para se tornar, também, um patrimônio arqueológico, histórico e cultural.

Andar por ele pode proporcionar muito mais do que o sentimento de tristeza. Ele oferece uma viagem no tempo.

É também um espaço de manifestações artísticas: sua arte tumular, desperta os sentidos, traz prazer ao observador. Muitas vezes, em algum tempo e espaço, observa-se canteiros de flores tão perfeitos, que mais parecem frutos de projetos paisagísticos.

Com suas coleções de túmulos, únicas, que contam e registram histórias, pode ser considerado como um museu ao ar livre.

Não sou excêntrico nem mórbido, mas, como historiador, tenho um interesse especial pelo cemitério, algo natural e instigante. Por ser de uma cidade pequena, muito me encanta sua simplicidade.

Quando passo por ali, fico a maior parte de tempo imaginando histórias que passam pela escravidão, pela religiosidade e pelo apego aos ritos, pessoas ilustres que ali estão sepultadas sob uma análise crítica de sua importância na história e na formação da nossa cidade.

Há diferentes expressões ali existentes: culturais, econômicas, políticas e religiosas, compreendendo-o, assim, como resultado de construção histórica.

Por esse foco, acredito o Cemitério Santa Teresinha possui um potencial didático, que pode ser utilizado tanto para se estudar a história local quanto para se desenvolver projetos de educação patrimonial. É um patrimônio histórico, um espaço de memórias.

Um fato triste aconteceu na madrugada do dia 05 de agosto de 2004: ladrões arrombaram e invadiram a sala de administração do cemitério, e levaram 12 livros onde estavam registrados os enterros realizados no local, desde 1930. Além dos livros, furtaram títulos de concessão perpétua de jazigos e um computador.

O registro dos nomes das pessoas enterradas a partir de 1970 estão registrados em disquetes, e não foram levados pelos ladrões. Os enterros realizados entre 1930 e 1969 foram perdidos.

A obra do velório municipal foi inaugurada ao lado do portão do cemitério. A construção é dotada de salas que permitem a realização de até 03 velórios simultâneos. Constata-se um capricho nos banheiros, amplos e bem acabados, no fraldário e na pequena cozinha.

As salas destinadas aos velórios são bem iluminadas e podem abrigar até 50 pessoas com folga, 25 das quais, sentadas. O banco de cimento é revestido de azulejo. As paredes são pintadas com tinta acrílica; isso facilita a lavagem. A estrutura de apoio inclui um espaçoso banheiro feminino, com amplos espelhos e pia de mármore com 2 mts. de comprimento. O banheiro masculino é igualmente espaçoso. Há ainda um terceiro banheiro reservado aos deficientes físicos. A cozinha é equipada com pia, prateleiras e fogão. A facilidade de se estacionar é outra vantagem, uma vez que o terreno em volta acomoda 50 carros com tranquilidade.

Em 27 de novembro de 2010, a prefeita, dra. Ana Cristina Machado Cezar, pelo decreto nº 6561, denomina o Velório Municipal, “Antonio Augusto Leitão Padovan” (Guto Padovan).

Algumas Memórias ali Registradas:

1-Dr. Arakaki Masakazu – 1925 – 2008 (advogado, escritor, vereador, prefeito).

2-Dr. Januário Miráglia – 1907 – 1947 (médico e prefeito).

3-Dr. Fausto Bueno de Arruda Camargo – 1909 - 1994 (médico, vereador, prefeito).

4-Dr. José Antonio Padovan – 1927– 2006 (médico e prefeito por 2 mandatos).

5-Miguel Lopes de Pina – 1917 – 2016 (prefeito).

6-Expedito Camargo Freire – 1908 – 1991 (professor e artista plástico).

7-Frei Orestes Girardi – 1921 – 1988 (sacerdote e fundador da SEA).

8-Fausi Paulo – 1931 – 2018 (engenheiro e prefeito por 2 mandatos).

9-Dr. Pedro Paulo Filho – 1937 – 2014 (advogado, escritor, historiador, vereador).

10-Joaquim Correa Cintra – 1916 – 1972 (jornalista, gravurista, comunicador, vereador).

11-Iracema Gonçalves Abrantes – 1924–2009 (Servidora pública, poetisa).

12-Octávio da Matta – 1900 – 1983 (pioneiro e memorialista).

13-Simão Cirineu Saraiva (Chefe de correio, servidor e homem público).

14-Gustavo Biagioni – (empreiteiro, servidor e homem público).

15-Celso Marcondes Ferreira – 1932 – 2016 (escritor, historiador e homem público).

16-Dr. Horácio Padovan – 1905 – 1993 (Vereador, comerciante).

17-Hertz Bohme – 1935 – 2008 - (Empresário e contador).

18-Pedro Paulo – 1906 – 1981 (comerciante e homem público).

19-Agripino Lopes de Moraes – 1918 – 1982 (vereador, benemérito da APAE).

20-Amadeu Carletti Junior – 1977 (Empresário, vereador).

21- Sebastião Gomes Leitão –1901 – 1986 (ferroviário).

21-Dora Lygia Cersósimo Richieri – 1940 – 1970 (educadora).

23-Floriano Rodrigues Pinheiro – 1896 – 1981 (construtor e homem público).

24-Dr. Silvestre Ribeiro – 1915 – 1965 (médico).

25-Dr. João Pedro Além – 2015 – 2009 (médico).

26-Olegário Frozino – 1917 - (Vereador, empreiteiro).

27-Luiz Cesário Richieri – 1932 – 2008 (engenheiro e homem público).

28-Dr. Franklin Alkmin Bueno Maia – 1934 – 2010 (médico e vice-prefeito).

29-José Correa Cintra – 2001

30-Noboro Oya –1929 –2011 (vereador, comerciante).

31-Mathilde Klabunde Dubieux – 1902 –1938 –(benemérita).

32-Antonio Simões dos Reis – 14/01/1974

33-Harry Mauritz Lewin –1909 –1971 (professor, educador).

34-Robert John Reid –1868 –1937 (fundador de Vila Abernéssia).

35-Monsenhor José Vita –1895 – 1972 (sacerdote e homem público).

36-João de Sá –1965 (poeta, autor do hino de Campos do Jordão).

37- Laurinda da Matta (professora).

38-Mary Bueno de Arruda Camargo 1914 – 2007 (Professora).

39-Irmã Maristela Alves Cintra – 1922 – 1988 (Religiosa).

40-Elza Mansur dos Santos – 1926 – 2002 (Funcionária pública, florista).


Fontes:

Folha de São Paulo, 11 de agosto de 2004;

Guia Castelfranchi - Jornal “Todo Dia”, nº 11, de 16 de novembro de 2010;

Vanderlei Mengue Bock “O Culto aos Mortos Como Lugar Teológico a Partir do Tratado: O Cuidado Devido aos Mortos em Santo Agostinho.

BRANDÃO, Monsenhor Ascânio. Tenhamos Compaixão das Pobres Almas! 1948, p. 202-208;

PAULO FILHO, Pedro. História de Campos do Jordão. Campos do Jordão: Editora Santuário, 1986;

LINO, Maurício de Souza. Memórias do Soldado Lino. Diário de um Recruta. Campos do Jordão: Clube de Autores, 2016. Pp. 326.

LINO, Maurício de Souza. Da Freguezia do Imbery aos Campos do Jordão. Campos do Jordão: Clube de Autores, 2017. Pp. 616


                                      Centro de Eventos Ministro Sergio Mota


O ministro Sergio Roberto Vieira da Motta, foi um dos homens públicos que mais se destacaram no cenário político nacional. Sua objetividade e coragem levou a opinião pública e nacional a um entusiasmo poucas vezes verificada; e seu prematuro falecimento consternou todos os brasileiros, inclusive os de militância em outras hostes partidárias.

Nascido em São Paulo, no bairro da Mooca, a 26 de novembro de 1940, filho de um técnico de raio-X de origem portuguesa, foi um engenheiro industrial formado pela PUC – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo em 1967, empresário, jornalista e político brasileiro, um dos fundadores do PSDB -  Partido da Social Democracia Brasileira. Serviu como Ministro das Comunicações entre 1995 e 1998 durante o governo de Fernando Henrique Cardoso.

A 4 de Outubro de 1995 foi agraciado com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo de Portugal. Morreu em 19 de abril de 1998, vítima de infecção pulmonar.

O centro de Eventos “Ministro Sergio Motta”, implantado na praça Isabel Cury Paulo em Vila Abernéssia, na cidade de Campos do Jordão, foi inaugurado no dia 10 de julho de 1998, na gestão do prefeito Osvaldo Gomes da Silva Filho.

Situado entre a Praça da Bandeira e o Fórum Embaixador José Carlos de Macedo Soares, possui um amplo e agradável local para as pessoas. Fica em um lugar bem próximo de vários pontos turísticos, além de estar na área central da cidade. Fica ao lado do fórum e faz junção com a famosa praça Izabel Cury Paulo, onde o que separa os dois são pequenos muros que também servem de bancos para as pessoas sentarem e descansarem aproveitando o delicioso clima do lugar. Possui muito verde ao lado e tudo é muito bem cuidado.

Antes da inauguração do Centro de Eventos "Ministro Sérgio Motta", já existia um gazebo, elemento relativamente recente na história de Campos do Jordão.
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O termo “gazebo”, aparece pela primeira vez em um texto inglês de 1752 e as pesquisas etimológicas indicam que a palavra possui uma origem latina (ebo) e inglesa (to gaze), compondo a nova palavra gazebo que possui o significado de “eu verei”.

De fato, a evolução dos “belvederes” italianos e dos “mirador” espanhóis indica que os gazebos eram lugares ou construções elevadas das quais se gozava de belas vistas.

Os primeiros gazebos eram frequentemente estruturas de pequena dimensão, pequenos pavilhões de jardim, situados em um local naturalmente elevado e a partir do qual se observa todo o terreno. Somente mais tarde o termo aparece referido a construções de jardim com vastas aberturas. De qualquer forma, apesar das utilizações modernas, o termo deve indicar somente estruturas das quais se obtém uma vista ou um panorama. Estruturalmente o gazebo deriva dos pombais: murados nas laterais e com formatos circulares ou octogonais. Por volta dos anos de 1800/1900 evoluiu para pórticos abertos, em madeira ou metal.

No Centro de Eventos Ministro Sergio Motta, o gazebo é um imóvel, com andar térreo, feito de tijolos, e coberto de telhas, edificado exclusivamente para fins culturais; ou seja, servir de palco para apresentações artístico-culturais, musicais, eventos cívicos, peças teatrais, corais, concertos, etc.

A antiga Igreja de Santa Isabel, a primeira de Vila Abernéssia, e ficava, aproximadamente, no mesmo local onde se encontra o Gazebo Municipal.

No mês de julho de 2008, essa área foi autorizada a título precário para alta temporada de Campos do Jordão, para a organização do evento social da CBDG (Confederação Brasileira de Desportos no Gelo) – Patina Brasil, às crianças das escolas públicas entre 1ª a 4ª series primárias, o que não vingou.

O primeiro gazebo foi demolido no ano de 2012, para em seu lugar, construir um novo.

Fontes:

http://www.wikiwand.com/pt/S%C3%A9rgio_Motta



Círculo Operário de Campos do Jordão


O Papa Pio XI, havia publicado a Encíclica Quadragésimo Anno. Nesta encíclica, dada a público em comemoração aos 40 anos do lançamento da Encíclica Rerum Novarum, de Leão XIII, Pio XI atualiza a análise dos problemas sociais, advindos da Revolução Industrial do século 19, principalmente os relacionados ao mundo do trabalho e à questão do operariado. Na solução destes problemas, o Papa pede que a Igreja Católica participe ativamente, incentivando a fundação de associações cristãs de operários e na formação de suas lideranças.

No Brasil, os problemas sociais, principalmente no mundo do trabalho, estavam em forte efervescência durante a República Velha (1889-1930). Estes problemas começaram a ser enfrentados pelo Estado Novo (1930-1945), no governo de Getúlio Vargas, e pela Igreja Católica, com a fundação e atuação de associações católicas de operários, em especial, os Círculos Operários.

A Igreja Católica, além de querer contribuir com o Estado na solução dos problemas sociais, principalmente do operariado, quis manter sob sua influência o mundo operário e evitar o domínio de ideologias materialistas (primordialmente o comunismo) neste ambiente.

Desde a fundação do 1º Círculo Operário, em 1932, até 1964, a principal atuação dos Círculos foi na assistência social aos operários, na defesa de seus direitos e interesses e na formação de sindicatos e de suas lideranças.

Prestavam assistência aos operários filiados nos mais variados setores: saúde (assistência médica e odontológica, consultas, exames...), educação (creches, escolas do ensino fundamental, de alfabetização e de profissionalização, bibliotecas...), assistência jurídica, lazer (esportes, cinema e teatro), etc.

Auxiliavam na criação de sindicatos de trabalhadores e na formação de suas lideranças. Eram órgãos consultivos do Ministério do Trabalho e prestavam assessoria em diversas instâncias governamentais.

Constituíam uma força significativa na sociedade brasileira pela promoção humana no âmbito do trabalho e, dentro da Igreja Católica, desempenhavam um papel importante na defesa dos seus princípios e de oposição às ideologias marxistas e anarquistas.

No ano de 1964, o Movimento Circulista no Brasil chegava ao seu apogeu, quando contava com perto de 500 mil associados em mais de 400 Círculos espalhados por todo o Brasil. Havia Federações em 17 Estados. Mas, a partir de 1964, o Movimento Circulista entrou em acentuada decadência. Isso por muitos motivos: certo envelhecimento de suas lideranças, afastamento do perigo comunista (pelo aniquilamento de suas forças na Revolução Militar de 1964), criação do Instituto Nacional de Previdência Social – INPS (pelo qual o Governo Federal assumiu quase toda a Assistência Social no país) e, finalmente, o desinteresse e distanciamento da Igreja Católica, quando a CNBB, criou e deu total apoio às diversas Pastorais, entre as quais a Pastoral Operária, em detrimento do Movimento Circulista.

Em Campos do Jordão, o Círculo Operário Nossa Senhora das Dores, de Vila Abernéssia, foi inaugurado em 30 de agosto de 1939, sob a presidência de Eduardo Moreira da Cruz. À cerimonia de fundação, falou o presidente eleito e o dr. Aristides de Souza Mello, que exercia o cargo de prefeito municipal, interinamente. Depois da solenidade, foram apresentados espetáculos teatrais pelos amadores do centro, que na década de 1940, apresentavam-se no Kynema Jandyra.

Mais tarde, em 1º de maio de 1945, foi fundado o Círculo Operário Católico Nossa Senhora das Dores de Campos do Jordão, no Parque da Mantiqueira.

(O nome da entidade, em 14 de abril de 1946, foi modificado para Círculo Operário Católico de Campos do Jordão). Dirigiu os trabalhos, Eduardo Moreira da Cruz que convidou Epaminondas de Paula Freitas para secretariar os trabalhos, fazendo, ainda, parte da mesa, Frei João Crisóstomo Arns, Maurício Figueiredo, Júlio Domingues Pereira, Celso Gatto e João Hermínio de Souza. Frei João Crisóstomo Arns, foi indicado diretor eclesiástico.

A sua primeira diretoria ficou assim constituída: Presidente, Eduardo Moreira da Cruz; Vice-presidente, Hermínio José da Silva; 1º secretário, Epaminondas de Paula Freitas; 2º secretário, Paulo Grecco; tesoureiro, João Hermínio de Souza; 2º tesoureiro, Theodoro Felix da Silva; delegado geral, Felix Pereira do Couto. Em 10 de março de 1946, em face da demissão de Paulo Grecco e Theodoro Felix da Silva, foram eleitos para substituí-los, Celso Gatto e João Baptista Rangel.

Ettore Comparoto Filho (Nenê Comparoto), foi um dos fundadores e diretor do Círculo Operário de Campos do Jordão.

Dr. Pedro Paulo Filho foi advogado do Círculo Operário de Campos do Jordão

Era uma sociedade civil, apolítica sem distinção de raça, cor, condição social ou credo religioso, com duração indeterminada sem fins lucrativos, com números ilimitados de sócios com idade mínima de 14 anos de idade de ambos os sexos e que satisfariam todas as normas de seus estatutos e regulamentos da entidade podendo fazer parte do quadro social, todos os assalariados, operários, funcionários, rurais, liberais, autônomos etc.

A sociedade teve por objetivo promover dentro de suas possibilidades e através da cooperação dos filiados todo o tipo de assistência social e cultural, dentre elas destacando-se os cursos de ensinos profissionalizantes, cursos de ensino base, departamentos de estudos e coordenação de atividades do interesse dos seus associados, recreação, esportes, artes, cooperativas, etc. com o fim de alcançar uma real elevação econômica cultural e social da classe trabalhadora.

Em 10 de março de 1946, Frei Crisóstomo Arns, deu conhecimento ao plano do Círculo Operário de construir 80 casas em Vila São Francisco e Vila Guarani, construção que logo se iniciou em Vila são Francisco, em 11 lotes doados pelo dr. Macedo Soares.

Em 1º de maio de 1946, foi lançada a pedra fundamental de Vila Operária, denominada Vila Guarani, próxima à Vila Jaguaribe, estando presentes o interventor federal em São Paulo, Dr. José Carlos de Macedo Soares, Dom Carlos Carmelo de Vasconcellos Motta, cardeal arcebispo de São Paulo e Dr. Roberto Simonsen, Presidente da Comissão de Fomento Pró Casas Populares, que colaborou intensamente com a construção das obras operárias.

Em 08 de setembro de 1946, o Círculo Operário arrendava parte das dependências da sede do Mantiqueira F.C. à Rádio Emissora de Campos do Jordão Ltda., a pedido do seu diretor-gerente, Luiz Pereira da Silva Filho.

Em fins de 1947, achavam-se concluídas 35 casas operárias, sediadas em Vila são Francisco e Vila Guarani, as quais foram locadas, a baixo do preço, aos associados da Entidade.

O Círculo Operário, em março de 1948, arrendava o seu campo, situado no Parque Mantiqueira, ao Comercial Esporte Clube, e em novembro de 1948, filiou-se à Federação dos Círculos Operários Católicos do Brasil.

Em junho de 1948, o Círculo Operário perdia um grande benfeitor, na pessoa do sr. Roberto Simonsen, que faleceu, recebendo da Entidade inúmeras homenagens póstumas.

Em 1956, a diretoria presidida por Danilo Delácio, decidiu alienar as casas populares aos seus associados, já inquilinos, mediante preços módicos e à prazo, empreitada essa que foi concluída na presidência de Ângelo Correa Sobrinho.

De 1956 a 1959, o ex-prefeito, Miguel Lopes de Pina, foi Vice-presidente do Círculo Operário.

Não obstante algumas fases de grande dificuldade, o Círculo Operário chegou a construir a sua sede social, em Vila Guarani, à Rua Circulista, 68, inaugurada em 21 de janeiro de 1958 pelo presidente Joaquim Calleres do Amaral.

No ano de 1962, o Círculo Operário era presidido pelo vereador Danilo Delácio, pessoa muito importante e que muito havia trabalhou para a construção da sede própria do Círculo Operário.

Numa reunião especial, no palco devidamente decorado, houve uma apresentação teatral com artistas amadores de Campos do Jordão com os atores Waldomiro Januzzi, Jonas Corrêa Cintra e outros.

Em 1977, seu presidente era o sindicalista, Sr. Benedito Eugênio de Oliveira.

O clube do Círculo Operário, como era chamado, estava sempre aberto para diversões. Havia shows, teatros, quermesses, distribuição de gêneros alimentícios, e muitos jogos, como jogo de damas, xadrez, ping-pong e outros. Além disso, toda noite, de segunda a sexta-feira, poderia assistir televisão comunitária, além de teatros, shows e quermesses. O que mais chamava a atenção, eram os bailes de carnaval, bailes de Réveillon, de fim de semana, matines. Eram bailes realizados antes do sábado de carnaval.

Todos os anos, na época, acontecia o seu tradicional “Grito de Carnaval”. Havia carnaval para todos os gostos. Prevalecia o respeito e a alegria, contagiante e sadia. A música era executada por orquestras e conjuntos, especialmente contratados para animar não só os bailes noturnos como também as matinês infantis. As marchinhas de carnaval predominavam. As fantasias, bastante diversificadas, nunca deixavam de homenagear Pierrô, Arlequim e Columbina. Muito confete, serpentina. O animador das festividades carnavalescas era o sr. José Correa Cintra, mais conhecido por “Zezinho Cintra”, e o Sr. Herculano Pestana, grande músico e saxofonista, abrilhantou muitos bailes.


Fontes:


PAULO FILHO, Pedro. História de Campos do Jordão. Campos do Jordão. Editora Santuário. 1986. Pp. 784.

LINO, Maurício de Souza. Da Freguezia do Imbery aos Campos do Jordão. Campos do Jordão. Clube de Autores. 2016, Pp. 616

Diário Oficial do Estado de São Paulo, 27 de janeiro de 1977 – página 8

Federação dos Círculos Operários do Rio Grande do Sul

Link:

http://www.camposdojordaocultura.com.br

http://www.fcors.com.br/historico-do-movimento-circulista/








Clube de Castores de Campos do Jordão




Muitos jovens eram considerados uma geração “hippie”, desordeira e destruidora, e por esse motivo era abandonada pela sociedade, tornando-se, então, ociosa e bem rebelde.

Através da Comissão Pró-Juventude de Lions de São Paulo Jardim Paulista, no dia 15 de outubro de 1963, foi fundado o Clube de Castores, o primeiro Clube Juvenil de Serviços.

Para muitos, o Castor significa apenas um mamífero roedor que habita a América do Norte e cujo óleo impermeabilizante, contido em sua pele é malcheiroso. Para os castores, o simbolismo que representa o nosso Movimento é o que realmente importa. Os trabalhos e as atividades que realizamos em favor da comunidade são infinitamente superiores e falam mais alto que qualquer palavra.

O estatuto foi feito totalmente transposto dos Lions Clubes: nascia assim os Mini-Lions, independentes e organizados à imagem e semelhança dos Lions Clubes, e genuinamente brasileiro.

O Clube de Castores passou a ser a primeira organização nacional de clubes de jovens de serviço do Brasil, filiada ao Lions Clube, de utilidade pública e voltada para serviços humanitários. Foi fundada pelo professor e Companheiro Leão José Gilberto Ribeiro Ratto, o Pai Ratto, no ano de 1963. Seus membros, são denominados como “Companheiros Castores” (CC).

Um ano depois, o Castorismo contagiava a Juventude Brasileira com a fundação de 500 Clubes de Castores por todo o Brasil.

Em 30 de maio de 1970, o Lions Clube, Distrito L-4, sob a presidência de Nobuharu Miyaoka, promoveu uma Assembleia Geral, para fundar o Clube de Castores em Campos do Jordão. Presentes, dezenas de autoridades leonísticas, além de seus jovens integrantes.

Nobuharu Miyaoka, nasceu em 12 de novembro de 1922, no Estado de Hokaido, Mombetsu, ilha ao norte do Japão; retirada de Honshu, principal ilha onde está localizada Toquio, cujos Estados são ligados por um túnel de 120km, dentro do mar.

Em 1932, veio com os pais e sete irmãos, como imigrantes para o Brasil. Casado com dona Rosinha, teve três filhos: Inês Angela, Cristina, Roberto e cinco netos.

Em agosto de 1956, mudou-se de Apucarana, PR. para Campos do Jordão. No dia 25 de junho de 1966, ingressou no Lions Club de Campos do Jordão, na época Distrito L-4, atualmente Distrito L-16, sempre trabalhando para a comunidade mais carente.

Conhecido por “Chico Miyaoka”, foi empresário durante 35 anos, sendo algumas décadas, proprietário da Rádio Técnica Universal, estabelecida em Vila Abernéssia, em prédio de sua propriedade. Sua loja era uma oficina completa para consertos de rádio e televisão, especializada em moveis e eletrodomésticos, e com um enorme modelo de bicicletas.

Durante muitos anos participou ativamente no engrandecimento dos esportes em Campos do Jordão, especialmente do ciclismo, o qual era apaixonado. Organizou diversos torneios ciclísticos que fizeram história em nossa cidade, muitos deles vencidos por Adelson Alves, o popular Chinho, um dos maiores ciclistas que Campos do Jordão já teve.

Nobuharu Miyaoka faleceu no dia 06 de agosto de 2019.

A primeira diretoria do Clube de Castores foi constituída por Marco Antonio Correa Cintra (Presidente); Eliana Maria Barbosa (1º vice); Maria Aparecida Feres (2 vice); Inês Angela Miyaoka (1ª secretária); Mauro acácio Arakaki (2º secretário); Teiji Nodomi (1º tesoureiro); Lúcia Saher Correa Cintra (2º tesoureiro); Antonio Luiz Rodrigues (Diretor Social), e Alfredo Fabiano Reis (Diretor Animador).

O Clube de Castores em Campos do Jordão, desde sua fundação, tem promovido atividades culturais, artísticas e filantrópicas. Vem funcionando com exata observância dos seus estatutos e da lei municipal 1.143, de 05 de setembro de 1979.

Recorda-se que em 1976, o jovem José Lino Gonçalves da Silva, assumia a presidência do Clube de Castores.

Em 30 de junho de 1980, o prefeito municipal, Fausi Paulo, pelo Decreto 918/80, declara de Utilidade Pública, o Clube de Castores de Campos do Jordão.

Tem promovido atividades culturais, artísticas e filantrópicas com a finalidade de prestar serviços, visando especialmente a sua juventude.

Fontes:

Livro: 40 anos do Lions Club de Campos do Jordão.

Revista “Guia CastellFranchi”, nº 024

PAULO FILHO, Pedro, História de Campos do Jordão. Campos do Jordão. 1986. Editora Santuário. pp. 784.


Passagem do Cometa Halley em Campos do Jordão em 1910


Você já teve oportunidade de olhar para o céu numa noite estrelada, em Campos do Jordão? Já pensou em como o brilho das estrelas faz toda a diferença no azul escuro do céu? Observou que as estrelas brilham mais? Tentou imaginar como o céu ficaria se não houvesse estrelas?

Com certeza, seria muito sem graça e provavelmente ninguém olharia para cima nas noites frias de inverno porque tudo já seria muito conhecido. Mas, com as estrelas a enfeitar o céu é tudo diferente! Numa noite estrelada, a claridade das estrelas sempre traz novas nuances, novos espaços para descobrir e desenhos imaginários a realizar, sensações que nos fazem sonhar acordados e agradecer a Deus por ser tão criativo e meticuloso, por pintar o céu com uma imensidão de pontinhos luminosos que enriquecem o azul escuro.

As estrelas contam histórias... Também existe uma história de Campos do Jordão escrita nas estrelas. Olhar para o céu é ver o nosso passado. Olhe à noite, no Pico do Imbiri, nos Alpes de São José, no Alto da Boa Vista, e veja o céu em sua devasta escuridão, mas olhe além, olhe as estrelas que lhe mostrarão o passado, presente e futuro.  

As estrelas contam histórias de vidas, mortes, mistérios, amores, coisas terríveis; as estrelas tudo veem, nada se escondem delas...nem mesmo os segredos mais bem guardados; tudo o que elas veem, elas sabem. Você nunca estará só se olhar para o céu e ver as estrelas! Olhar para as estrelas em um momento de reflexão, é como olhar a nossa história, as estrelas contam toda a nossa trajetória de vida. O início e o fim! O passado e o futuro!

Olhar para o espaço é uma viagem no tempo, na história. No Universo, não existe o presente, o agora, o instante atual. Tudo que vemos é passado. Quando olhamos para as estrelas, estamos vendo o passado delas.

Uma dessas estrelas revela que o grande acontecimento de 1910 foi a passagem do Cometa Halley, que, segundo registros, semeou uma onda de pânico global. Muitas especulações existiam sobre o cometa, tal como sobre o suposto efeito letal do gás de sua cauda, causaram tal perplexidade e medo, que culminou com a morte de várias pessoas que, não querendo morrer envenenadas pelo “gás letal”, preferiam se suicidar...

A mística do Cometa Halley é escrita com muitas lendas, superstições, avanços científicos e tragédias. Era até há pouco tempo, uma espécie de popstar dos objetos astronômicos.

A visita do Halley no início do século XX foi muito comentada porque era a primeira feita com a existência de tecnologias de gravação. O cometa foi fotografado pela primeira vez e ganhou esta fama mundial. Encontrar quem tenha visto e deixado registro do fenômeno, sempre traz surpresas da pandemia que se criou na época.

É o caso do relato de Octávio da Matta, conhecido como “Vico” que então com 10 anos de idade, na ocasião da passagem do cometa, deixou o relato abaixo, registrado em seu livro “Campos do Jordão a cidade que vi nascer”

“Em meados de junho é comum Campos do Jordão amanhecer toda coberta de geada e sob intenso frio que, logo a seguir, dá lugar a um sol brilhante e quente que se projeta de límpido céu azul.

Em 1910, contudo, o dia 24 de junho apresentou um aspecto completamente diferente do normal. Às 9 horas da manhã tinha-se a impressão do sol estar raiando, razão pela qual toda a população olhava para o céu em busca de uma explicação que ninguém sabia dar. Uns, mais metidos a “sabidos”, mas bem ignorantes, diziam que o sol estava se apagando, o que motivou um certo terror entre a criançada e mesmo entre muitos adultos.

Eu e meus irmãos costumávamos lenhar numa pequena mata situada onde hoje se encontra a Vila Guarani. Naquela manhã, como de costume, nos dirigimos para lá, mas, percebendo que algo de anormal se passava, ao invés de lenhar ficamos observando o céu. Em dado momento um de nós percebeu bem próximo ao sol uma estrela muito brilhante que parecia desprender uma chama, que logo passamos a chamar de rabo. A estrela de rabo permaneceu vários dias visível e aumentando progressivamente, enquanto nós, os garotos, tínhamos nossos temores aumentados pelas opiniões dos adultos que pareciam cada vez mais convencidos da aproximação do fim do mundo.

Uma madrugada meu pai me acordou e a meus irmãos, chamando-nos para assistir um espetáculo realmente grandioso. A estrela brilhava com enorme intensidade e sua cauda atingia grande parte do céu.

Pouco a pouco foi diminuindo o seu brilho e a cauda foi diminuindo até se extinguir totalmente.

Mais tarde, em conversa com um salesiano chamado Crispim, fui informado tratar-se do Cometa Halley, visível de 76 em 76 anos, aproximadamente e que nada tinha a ver com o “fim do mundo” preconizado pelos “sábios” locais”.

Infelizmente, Vico, não pode também presenciar o retorno do cometa em 1985/1986, pois falecera em 13 de outubro de 1983, mas sua cidade querida, Campos do Jordão, junto com as cidades vizinhas de São Bento do Sapucaí e Santo Antônio do Pinhal, prepararam-se para o evento, pois esta região nos altos da Mantiqueira se tornara os melhores pontos astronômicos para observação. Só Campos do Jordão recebeu em seus hotéis e pousadas 21 mil americanos, 9 mil europeus e milhares de brasileiros e sul americanos e de outras localidades para observar o famoso cometa.

Mas contrariando os temores e expectativas, não foi um espetáculo memorável, tal como em 1910, deixando todos decepcionados….

O Halley é o único cometa de curto período que é regularmente visível a olho nu da Terra, e o único cometa a olho nu a aparecer nos céus durante uma só geração. Sendo sua última aparição em 1986, seu retorno está marcado para 2061.

Outras estrelas registram outras histórias. Podemos vê-las, mas pertencem a outro tempo e outro espaço, a exemplo do que são as próprias fotografias, que nos contam histórias de algo que já não está mais ali.   

Grande parte dos pontos brilhantes que vemos no céu à noite são apenas projeções de um passado muito distante, de corpos celestes ou galáxias inteiras que podem até não existir mais! Assim, todas as informações que nos chegam são de coisas que já aconteceram há bastante tempo.

Fontes:

Narrativa: © Campos do Jordão a cidade que vi nascer, Octávio da Matta – B. L. Ferrari. 1ª edição, Campos do Jordão, 2011;

Gazeta da Física – Volume 8, janeiro 1985, Portugal;

Campos do Jordão, na rota do Halley – INPE (URLib em md-m09.sid.inpe.br), 1986).


                     O Primeiro Cruzeiro em Campos do Jordão

O aparecimento do Cruzeiro remonta aos primeiros séculos do cristianismo.

Um Cruzeiro é uma “grande cruz de pedra, erguida ao ar livre, no adro de igrejas, ou em encruzilhadas, praças, cemitérios, (...)”.

Estão colocados nas bermas dos caminhos, nas praças, no alto dos montes, perto das povoações ou isoladas. São mais ou menos monumentais, com primores de pendor artístico uns, outros lisos.

O Cruzeiro representa o espírito popular da devoção religiosa. Contudo, nem sempre esta causa foi determinante para a sua construção, pois muitos serviram para marcar acontecimentos de pendores variados e para proteger contra influências maléficas e feitiçarias os caminhos, as encruzilhadas e os largos das aldeias.

Por trás de cada Cruzeiro existe uma história relacionada com uma situação triste ou dramática, assim como uma profunda devoção.

Padre Vitor Coelho de Almeida era sacerdote redentorista e quando se achava em missão na cidade de Ribeirão Preto, em 1940, contraiu tuberculose, buscando o clima de Campos do Jordão onde se internou no Sanatório Divina Providência. Operado, extraiu um pulmão e, curado, retornou à sua atividade sacerdotal.

Em 1942, era vigário da paróquia jordanense o Frei João Crisóstomo Arns, irmão do Cardeal Paulo Evaristo Arns, que logo travou amizade com o Padre Vitor Coelho, que aqui se tratava da doença pulmonar.

Padre Vitor Coelho, palestrando com o vigário jordanense, disse que a Cruz lembra sempre as dores, a tortura, a angústia, mas, a esperança da salvação e que, por isso, o Cruzeiro representava a superação da dor, a glorificação do sofrimento, a apoteose do drama em que o homem, como Cristo, venceu a dor e a morte.

Estranhou o Padre Vitor Coelho que Campos do Jordão não tivesse na entrada da cidade um Cruzeiro, pois, a cidade era uma terra de tantos sofrimentos e tantas esperanças.

Certo dia, ambos saíram a passeio, numa tarde de sol radiante, onde a flores brotavam no gramado em geração espontânea. Pararam um pouco na entrada da cidade, que à época, começava na altura do Instituto Dom Bosco e o Padre Vitor Coelho disse:

“Por que não colocar aqui um Cruzeiro, senhor vigário?”

O Frei João Crisóstomo ouviu, guardou a sugestão, aprovou-a e logo convocou a comunidade franciscana do antigo Convento de Vila Britânia. Ali descobriram que havia uma enorme Cruz esculpida por um artista catarinense, demasiadamente grande para ser instalada no Convento. O vigário indagou: “Que tal se transformássemos esta Cruz em um Cruzeiro?”

Dito e feito. Todos concordaram com a ideia e logo iniciaram a construção de um pedestal com uma rústica cobertura de madeira. O vigário anunciou a procissão do Cruzeiro para ser implantado naquele mesmo local indicado pelo Padre Vitor Coelho.

Assim, à entrada de Campos do Jordão, como um marco de fé, um verdadeiro monumento jordanense, num ponto estratégico, foi instalado o Cruzeiro, inaugurado em 12 de maio de 1946, pelos missionários franciscanos de Campos do Jordão, sugerido pelo Padre Vitor Coelho, onde está afixado o Cristo Crucificado, sob a legenda I. N. R. I., Jesus Cristo, Rei dos Judeus.

Instalaram a cruz e o crucifixo, o Santo Cruzeiro das Missões, na entrada de Vila Abernéssia, nas proximidades do cruzamento ferroviário, perto da Vila Dom Bosco, atual Hospital Leonor Mendes de Barros/Hospital São Camilo, anteriormente Bandeira Paulista Contra a Tuberculose, existente até os dias de hoje. Ali se fazem muitas orações e pedidos de graças.

Contudo, essa imagem, cujo crucifixo foi doado pela Condessa Mariângela Matarazzo, veio de ser destruída, num ato de selvageria sem par, danificado por criminosos em 1958.

Na ocasião, registrou-se na história de Campos do Jordão, grande revolta entre a população, não só cristã como de todos aqueles que não professam essa religião.

Na Câmara Municipal se fez sentir essa revolta pois, numa sua reunião, foi amplamente debatido o acontecido, condenando todos os vereadores esse ato criminoso, só compreensível em quem sofre das faculdades mentais.

E a Câmara Municipal de Campos do Jordão, num ato louvável, decidiu unanimemente assumir o compromisso de colocar outra imagem no local, valendo-se para tanto de verbas do próprio Legislativo.

Diversas pessoas teriam se manifestado com desejo de contribuir com a aquisição da nova imagem, fazendo uma complementação por meio de subscrição pública.

Fontes:

Jornal “Correio Paulistano”, de 02 de novembro de 1958.

PAULO FILHO, Pedro. História de Campos do Jordão. 1986. Campos do Jordão: Santuário. p. 784;

VIEIRA, Leonel. In Seminário: «Cruzeiros de Lousada», Universidade Portucalense, 2004.



Campos do Jordão e Davos Platz



A estância de Davos Platz, na Suíça, ficou reconhecida ao longo do século XX pelo serviço sanatorial para tratamento da tuberculose. As características geográficas e climáticas do local eram consideradas como favoráveis ao tratamento da doença. Originalmente deve sua importância ao seu clima de cura, conhecido por cerca de 150 anos.

A primeira pousada de Davos foi inaugurada em 1860 e acomodou hóspedes do spa. O médico imigrante alemão, Alexander Spengler, criou uma cura para as pessoas com doença pulmonar, que incluía muito sono nos terraços de Davos e no vinho Veltliner. Esse método tornou Davos famosa no mundo e também foi imortalizada literariamente no romance de Thomas Mann, "A Montanha Mágica", em 1924, cuja trama se desdobra no sanatório de Davos. Thomas Mann se inspirou na história em sua própria estadia em Davos. Sua esposa Katia adoeceu com catarro pulmonar e viajou para o sanatório da floresta de Davos para se deitar. Isso forneceu a Thomas Mann relatórios em primeira mão sobre a vida no sanatório. Com base em suas impressões e nas cartas que sua esposa escreveu para ele no sanatório, ele escreveu seu romance, no qual trabalhou entre 1913 e 1915, e que terminou em 1924 após um intervalo de vários anos.

Além de Mann, vários outros escritores, artistas e filósofos viajaram para Davos. Eles trouxeram sua própria cultura com eles, tornaram o spa famoso em suas obras ou iniciaram o que hoje é comum em esportes de inverno, eventos e cultura e, posteriormente, associado a uma economia do prazer, por suas qualidades climatéricas para a saúde, mas também as qualidades paisagísticas e estruturais do lugar, destacando as vilas, hotéis, sanatórios, pensões e belezas naturais da estância.

Seguindo a marcha dos discursos climatoterápicos, a cura da tuberculose em Davos foi amplamente comercializada. O regime sanatorial suíço possuía grande fama.

A cidade Suíça como um destino pela elevada altitude era procurada por aqueles que tinham tuberculose. Como neste período ainda não havia a concepção de que a causa da doença era o bacilo, a teoria acerca das benesses do clima para o tratamento dessa doença era embasada, sobretudo, no mito da imunidade alpina. Mas cabe destacar que o alcance a este destino não era comumente extensivo às classes populares. Sua procura era constituída por uma elite e alcançou seu reconhecimento não apenas nos arredores como também em lugares mais distantes.

Procurada por personalidades, políticos, escritores e artistas, Davos teve seu “moment de lieu”, provocado por alguns atores, que lançaram o lugar como destaque aos olhos do mundo exterior. Frequentaram Davos personagens famosos como Sir Arthur Conan, Robert Louis Stevenso, Franz Kfaka, Thomas Mann, Fyodor Dostoyevski, Anton Chachov, Maxim Gorku e Vladimir Lenin. As presenças ilustres neste destino foram o que tornaram este lugar um sistema de referências para outros lugares.

Assim como Davos, vários outros destinos foram desbravados, estudados, medidos e enquadrados como lugares ideais para o tratamento da tuberculose; contudo, Davos ganhou grande fama em relação aos seus contemporâneos, sendo seu modelo imitado por diversas localidades no mundo. A criação deste lugar passou pelos seus usos enquanto destino terapêutico. Aliás, alcançou grande fama não apenas na Europa como no mundo todo. Isto é, buscava-se estes locais por terem poucas ocorrências da doença, por serem reconhecidamente fomentadores de saúde dos corpos.

Davos na Suíça, é um desses lugares que por sua unicidade instigam outros à imitação. Serviu de inspiração a vários outros lugares, inclusive no Brasil, que utilizaram seus ideais de estância de tratamento de saúde e, posteriormente, de turismo de montanhas como referência e parâmetro de apropriação.

O modelo europeu dos preceitos da estância de Davos Platz, na Suíça, é o lugar que inspirou a formação da “Suíça Brasileira”, e serviu de modelo e inspiração para a formação da estância de Campos do Jordão.

Dr. Clemente Ferreira inspirou-se nas já afamadas estâncias climatéricas europeias para afirmar que os Campos do Jordão tinham as condições necessárias para competir com as mesmas. Em seus estudos, o médico apresentou dados como temperatura, níveis de ozona, umidade, altitude, relevo, mostrando que todas as suas aferições culminavam em um produto tão notável quanto os parâmetros observados nas estâncias do estrangeiro.

Isso porque, conforme já observado, as teorias médicas europeias já utilizavam as estâncias climáticas famosas como Davos para seguir um padrão ideal de clima e estrutura terapêutica.

Compartilhando dessa metodologia, Clemente Ferreira considerou o destino estudado com os padrões adequados para a construção de um espaço para tratamento da tuberculose.

A idealização da Suíça brasileira, como visto, culminou na construção da Estância Climatérica de Campos do Jordão. Com o território lançado a um novo status, o destino de saúde e de repouso que se formava, necessitava, além do planejamento urbano, de divulgação e validação científica.

Objetivando transformar a Suíça brasileira em uma estância destacável, atrativa em relação às demais, iniciou-se um processo de construção da “Davos Paulista”.

Médicos, políticos e empresários uniram esforços para que o território de Campos do Jordão ganhasse uma fama igual e até mesmo maior que a famigerada estância Suíça, não apenas por suas qualidades terapêuticas, mas também por sua estrutura.

Davos, se consolidou como um lugar-modelo. Campos do Jordão, aos moldes de seu predecessor europeu, buscava se afirmar como um lugar exemplar no território nacional e ganhou importância significativa enquanto destino de saúde.

Davos era atrativa não apenas por suas qualidades climatéricas. Seu prestígio construiu-se acima de tudo, pelo luxo das instalações sanatoriais e pela possibilidade de aliar o tempo na montanha a experiências e prazeres dos territórios de inverno.

É a cidade mais alta da Europa e famosa pela variedade de atividades esportivas, de lazer e culturais, seu clima de cura, o HC Davos, a Spengler Cup, o Kirchner Museum, o Fórum Econômico Mundial ou a cena do estilo freestyle de Jakobshorn.

A invenção do gosto pela montanha e seus diferentes usos, de saúde e de turismo, foram observados primeiramente no cenário europeu, precursor de importantes transformações sociais.

O clima de Campos do Jordão, comparado à região alpina de Davos Platz na Suíça, acusou supremacia nos graus de nebulosidade, nas taxas de insolação, oscilações térmicas e nos índices de precipitação pluviométrica.

Em 1922, Ramozzi, foi tentar a cura em Davos-Platz, na Suíça, ouvindo do médico o seguinte conselho:

“No Brasil há uma cidade de excepcional qualidade curativa para o tratamento da tuberculose. Aconselho o senhor ir tratar-se lá!” O escrivão Arthur Ramozzi, perguntou: “Que cidade é essa, doutor? O médico respondeu: “Chama-se Campos do Jordão!”. Estupefato com o que acabara de ouvir, Ramozzi retornou à estância de onde viajara, em 1923.

No Congresso de Climatologia, realizado em 1957, em Paris, Campos do Jordão foi considerada a cidade que apresentava o melhor clima do mundo, no que se referia ao tratamento dessa enfermidade, fazendo jus, portanto, ao cognome a ela atribuído, de “Suíça Brasileira”. Nessa ocasião, chegou a ser comparada à estância climática de Davos, na Suíça, até então considerada a mais indicada para o tratamento da enfermidade, em função da sua altitude. Estudos comparativos, realizados nas duas cidades, resultaram em relatórios médicos que apontaram a primazia da cidade brasileira nesse quesito.

Davos é uma comuna da Suíça, no Cantão Grisões, com cerca de 13.000 habitantes, aproximadamente. Estende-se por uma área de 283,98 km². As comunas da Suíça constituem o nível administrativo mais baixo da Confederação Helvética. São equivalentes aos municípios do Brasil. Situada junto ao lago homônimo, é um prestigiado centro de desportos de Inverno. Todos os anos acontece, nesta cidade, o Fórum Econômico Mundial.

Quanto ao sanatório, sua arquitetura foi preservada. Os terraços, onde os visitantes foram curados, agora são usados ​​para se bronzear pelos hóspedes do hotel.

 

Fontes:

 Davos Klosters

 Hammerl, Priscyla Christine. TESE. Por uma cidade turística: Formação e Transformação Territorial da Estância de Campos do Jordão (SP) – (1911-1966). Santa Cruz do Sul – 2016.

Links:

 http://camposdojordao.sp.gov.br/Clima-na-Cidade/

 https://www.davos.ch/davos-klosters/portrait-image/davos/



Eden Ginasiano



“Éden Ginasiano” foi o nome que o professor Theodoro Corrêa Cintra, então diretor do Colégio Estadual e Escola Normal de Campos do Jordão, na década dos anos 50, deu à quadra de vôlei e basquete, além da piscina, que foram construídas na parte superior do prédio daquele estabelecimento de ensino.

Em 1949, foi constituído o Clube Ginasiano, e com a ajuda oficial e particular, construíram a piscina da escola. O Projeto “Éden Ginasiano”, foi executado na área pertencente ao Colégio, nos altos da Vila Suíça, na Rua Dr. Altino Arantes, 172, em Vila Abernéssia, Campos do Jordão.

Esse Éden estava situado atrás do edifício do Colégio Estadual, construído pelo município. A construção e implantação desse Éden Ginasiano (quadras de esporte e piscina), contou com substancial ajuda de D. Baby Gonçalves, que, sempre benemérita, auxiliou na sua construção, e que foi muito importante para a juventude daquele tempo.

Com a presença de todos os estudantes e pessoas gradas, realizou-se em 11 de agosto de 1949, a cerimônia do lançamento da pedra fundamental da piscina dos ginasianos. O ato foi presidido pela Exma. Sra. Zuleika Oliveira Guimarães, primeira dama da cidade.

Embora não estivesse totalmente concluído os trabalhos da piscina do Clube Ginasiano de Natação, dia 11 de setembro de 1949, procedeu-se a cerimônia da piscina. Grande foi a afluência de famílias que acorreram ao local atendendo ao convite do diretor do Ginásio, levando o seu aplauso a tão brilhante iniciativa. A alegria dos ginasianos foi incontida, pois os jovens muito trabalharam para a concretização dessa aspiração. Depois de algumas explicações necessárias feitas pelo diretor do Ginásio, o vigário da paróquia Frei Francisco Fresie, procedeu à bênção, tendo servido como padrinhos, os srs. Paulo Cury, João Alves Teixeira, Dr. Eduardo Pulschen, Adauto Camargo Neves, sra. Zuleika de Oliveira Guimarães, Gil Passos e José Péricles Alves.

O primeiro mergulho coube ao dr. Eduardo Pulschen que causou surpresa geral, revelando-se grande nadador. O esportista Emídio José dos Santos secundou-o nas exibições náuticas e a profª de Educação Física do Ginásio, srta. Neuza de Souza, comandou um aguerrido grupo de alunos do modelar estabelecimento de ensino secundário, em demonstrações de natação. A primeira aluna a saltar na água, com o maio tradicional da época foi Stela Maris Galvão. Um mergulho perfeito que a levou a atravessar a piscina, sob aplausos gerais. O aluno escolhido para inaugurar a piscina José Luiz do Vale. Todos vibraram ante este espetáculo inédito em Campos do Jordão.

As instalações para vestiário, chuveiros, etc. prosseguiriam e dentro em breve, o Éden Ginasiano estaria equipado com todos os recursos para uma completa prática esportiva, requisitos que fariam do Ginásio um dos mais completos do Estado. Fora pensamento dos responsáveis pelo Clube Ginasiano de Natação, reservar certos horários para as pessoas que quisessem praticar o utilíssimo esporte de natação, mediante inscrição no quadro de sócios, atestado médico e outras medidas que visassem proteger a saúde e a moral, não só dos alunos do Ginásio como também da sociedade jordanense.

Equipes de basquete e vôlei do Grêmio Estudantil Jordanense enfrentavam, frequentemente, times visitantes, ora vencendo, ora perdendo. Nessas quadras também eram dadas as aulas de Educação Física pelo professor Thirso Nazianzeno.

Destacaram-se como benemérito do Clube dos Ginasianos, diversas pessoas que facilitaram a construção rápida da piscina, para gáudio da mocidade. Foram esses beneméritos os srs. Prefeito Orestes Guimarães, Francisco Bento Filho, dr. Eduardo Pulschen, Feis Thomaz Soubihe, Paulo Cury, João Alves Teixeira, José Péricles Alves, Fernando de Alencar Pinto, Adauto de Camargo Neves, bem como outros amigos dos ginasianos.

Mereceu menção especial o esforço dos jovens estudantes que muitas vezes empunharam ferramentas para ajudarem as escavações da piscina. Brilhante e sincero o discurso do secundarista José Péricles Filho. Sintetizou em palavras comovidas, todo o trabalho, toda a luta, coroada enfim pela mais risonha vitória.

O mais importante feito administrativo de âmbito municipal jamais realizado nesta encantadora terra, foi sem dúvida alguma a criação do Ginásio Municipal e a consequente construção do prédio em que deveria ser instalado.

Como sói acontecer, talvez a maioria dos jordanenses não se aquilataram da extensão do trabalho que vinha sendo realizado em prol da concretização de tão nobre ideal. Para muitos, o Ginásio ainda era uma utopia. Para outros, era de realização remota ou quase impraticável.

Foi concluída uma Escritura Pública do empréstimo no valor de CR$ 2.500.000,00 (Dois milhões e quinhentos mil cruzeiros), para a construção do Ginásio Municipal. A prefeitura lançaria esta quantia para cobertura das despesas com a construção do prédio. O êxito completo do cometimento dependeria da compreensão do povo e dos amigos de Campos do Jordão, que deveria acorrer ao apelo da municipalidade, subscrevendo apólices, na medida de suas posses. Todos precisavam colaborar para o erguimento rápido que seria um patrimônio valioso para a terra.

Exemplo magnífico de cooperação foi dado pelos ginasianos, que sob a direção do diretor prof. Theodoro Corrêa Cintra estavam construindo sua própria piscina, bem como outras instalações esportivas.

O governador Adhemar Pereira de Barros subscreveu CR$ 500.000,00 (Quinhentos mil cruzeiros) de apólices, e outros subscritores, fato que sensibilizou deveras a opinião pública de Campos do Jordão. A Sociedade dos Amigos de Campos do Jordão auxiliou o Clube Ginasiano com a importância de CR$ 9.600,00 (Nove mil e seiscentos cruzeiros), destinada á cobertura do “déficit”, motivado pela construção da piscina. A valiosa contribuição, foi conseguida através dos bons ofícios do dr. Aziz Mahfuz, um dos destacados elementos daquela meritória Sociedade.

O empréstimo destinado à construção do edifício do Ginásio Municipal atingiu apenas a importância de CR$ 326.700,00 (Trezentos e vinte e seis mil e setecentos cruzeiros), faltando serem subscritos, CR$ 2.173.300,00 (Dois milhões, cento e setenta e três mil e trezentos cruzeiros) para completar o empréstimo lançado de CR$ 2.500.000,00(Dois milhões e quinhentos mil cruzeiros). O povo jordanense subscreveu CR$ 117.000,00 (Cento e dezessete mil cruzeiros), dos quais foram pagos CR$ 57.600,00 (Cincoenta e sete mil e seiscentos cruzeiros). O prefeito Orestes de Almeida Guimarães fez mais um apelo ao povo jordanense. O prefeito lançou um veemente e angustioso apelo no sentido de que todos subscrevessem o maior número de apólices possível, porque a absoluta falta de recursos acarretaria a paralisação das obras.

As dificuldades encontradas foram inúmeras, quer com a dotação da aquisição do terreno, quer com a construção do prédio, onde foram gastos cerca de CR$1.600,.00,00(Um milhão e seiscentos mil cruzeiros) e pagos CR$ 800.000,00 (Oitocentos mil cruzeiros), além da mão de obra e maquinário empregado pela prefeitura.

As obras necessitavam prosseguir rapidamente e estavam à míngua de recursos. O Ginásio era obra do povo e não podia fracassar.

Mais uma vez, pois, o governador do Estado de São Paulo, demonstrou ao povo jordanense, de maneira insofismável, que sabia cumprir uma palavra empenhada. Recusado o projeto que sua Excia. apresentara à Assembleia Estadual, criando o Ginásio Estadual, recusa essa que fora atribuída simplesmente às paixões políticas que cegaram os homens do Legislativo, estadual, o sr. Adhemar de Barros, imediatamente deu apoio à ideia da criação do Ginásio Municipal.

Procedeu-se à cerimônia de inauguração da piscina do Clube Ginasiano de Natação, embora não estivesse totalmente concluído os trabalhos. As instalações para vestiários, chuveiros, etc. prosseguiriam, e dentro em breve, o “Éden Ginasiano estaria equipado com todos os recursos para uma completa prática esportiva, requisito que faria do Ginásio, um dos mais completos do Estado.

Prosseguia em ritmo acelerado a construção do amplo e moderno prédio destinado ao Ginásio Municipal. O sr. Francisco Bento Filho tinha empregado o melhor de seus esforços para a rápida conclusão do importante cometimento, apesar da morosidade com que vinham sendo tomadas as apólices do empréstimo.

Era preciso que o povo colaborasse nessa empresa de largo alcance, subscrevendo, mesmo que isto representasse algum sacrifício, as apólices do empréstimo. O jornal “A Cidade de Campos do Jordão”, colaborou intensamente, convidando o povo em geral, para a subscrição das apólices pró-Ginásio Municipal.

A atitude do povo de Campos do Jordão bem demonstrou a compreensão dos difíceis problemas municipais, entre os quais, o Ginásio, que sempre foi de difícil solução, dado o pesado encargo que constituía para o erário, menos pelas enormes despesas de construção e instalação do que pela sua manutenção, por ser esta uma obrigação anual que não poderia de forma alguma sofrer solução de continuidade. Indo de encontro à essa máxima aspiração do culto povo desta terra, a Câmara Municipal e o sr. Prefeito, com o necessário apoio do governador Adhemar Pereira de Barros que, diga-se de passagem, sempre foi o maior interessado em dotar Campos do Jordão de um estabelecimento de Ensino Secundário, à altura do nome e do conceito da estância, tornou possível a criação do Ginásio Municipal, já com a intenção preconcebida de posteriormente entregá-lo à tutela do Estado. E aí surgiu o Ginásio Municipal, uma esplêndida realidade, cumprindo cabalmente o programa de ensino, com a sua situação perfeitamente regularizada perante as repartições competentes, mercê do esforço e dedicação de seu corpo administrativo e de todos os professores.

Depois da inauguração, a prefeitura informou que a piscina não estaria em funcionamento definitivo, por defeitos na sua construção, os quais esperariam que fosse brevemente reparado.

Entretanto, o prazo de validade para o funcionamento do Ginásio Municipal, a título precário, estava vencendo e a Prefeitura Municipal não dispunha de condição para arcar com os encargos de manutenção de um ginásio municipal. Providencialmente, o Projeto de Lei nº 993/49, de iniciativa do Deputado Rubens do Amaral, Presidente da Comissão de Educação e Cultura, tratava da criação de ginásios estaduais em 13 municípios paulistas, e aos 30 de setembro de 1.949, foi criada nesta cidade a Comissão Pró-Instalação do Ginásio Estadual de Campos do Jordão.

Pela Lei Estadual nº. 607 de 02 de janeiro de 1.950 foi criado o Ginásio Estadual de Campos do Jordão, sucedendo ao Ginásio Municipal. De início, foi instalado no prédio da Chácara Dom Bosco em Vila Abernéssia, funcionando em regime de externato. Em 23 de Março de 1.950, pela Lei Estadual nº. 641 foi criado o Colégio Estadual de Campos do Jordão.

Em 21 de julho de 1950, foi inaugurado, na Rua Dr. Altino Arantes, 172, em Vila Abernéssia, o edifício do Colégio Estadual, construído pelo Município, no local comumente chamado de altos da Vila Suíça, em Campos do Jordão, equipado com doações do povo jordanense.

O “Éden Ginasiano”, complemento do prédio, construído pelo município, foi relegado a segundo plano.

 

Fontes:

Jornal "A Cidade de Campos do Jordão", Ano 1949



Educandário Santo Antonio



Entre as obras de benemerência social que proporcionava conforto, tratamento e assistência moral e educacional a crianças pobres, destacou-se pela sua atuação o Educandário Santo Antonio, de Campos do Jordão, São Paulo. Dezenas de filhos de tuberculosos pobres de vários pontos do país foram ali acolhidos com carinho e desvelos pelas irmãs franciscanas missionárias, que procuraram por todos os meios recuperar física e mentalmente esses pequeninos seres que o destino deixou ao desamparo. 

Tratava-se de uma obra de piedosa solidariedade cristã.

Em 30 de abril de 1940, no prédio alugado de dona Elvira de Souza, com a finalidade de constituir uma sociedade civil, denominada “Educandário Santo Antonio”, objetivando proteger a infância contra a tuberculose e afastar as crianças do convívio de sua família enferma, reuniram-se as madres Maria Rosalinda Veiga, Maria Anisia Liza, Maria Celina Bielli, Maria Dolores Boaventura, Maria Silvieta Cadde, Maria Rosa do Carmo; tesoureira – Madre Maria Silvieta Cadde.

Procedeu-se à eleição da presidência da assembleia, sendo eleita, por unanimidade, a Madre Maria Rosalinda Veiga.

A presidência declarou fundada a instituição, solicitando que se elegesse a sua primeira diretoria, que ficou assim constituída: presidente: Madre Maria Dolores Boaventura, no século, Geny Boaventura; secretária: Madre Maria Rosa do Carmo, no século, Esther do Carmo; tesoureira, Madre Maria Silvieta Cadde.

A diretoria tomou posse, imediatamente. As suas integrantes faziam parte do Instituto das irmãs Franciscanas Missionárias do Egito.

A primeira missa realizada no Educandário ocorreu no dia 25 de dezembro de 1940. Em 27 de fevereiro de 1941, a secretária foi substituída pela Madre Maria Gonzaga Trovati, no século, Clelia Trovati.

Em 16 de setembro de 1941, a entidade recebeu CR$ 440,00 da Prefeitura Municipal para aquisição de material escolar, e nessa época, a sede da instituição localizava-se na rua Tadeu Rangel Pestana.

Em 03 de janeiro de 1942, a instituição recebia CR$ 300,00 a título de doação, de Elza Garcia, e em 13 de junho de 1942, era entronizada a imagem de Santo Antonio.

O Educandário possuía 24 crianças, em 20 de julho de 1942, e, em 04 de setembro do mesmo ano, o presidente do Banco do Brasil doava CR$ 5.000,00 para a aquisição de imóvel onde pudesse funcionar a instituição.

Outra doação era recebida em 03 de abril de 1943, e esta, de CR$ 50.000,00, do conde Francisco Matarazzo Sobrinho para a aquisição de um prédio.

Em 03 de junho de 1943, a instituição decidiu comprar um terreno, perto da igreja Matriz, do capitão José Martiniano Vieira Ferraz, fundador de vila Ferraz.

Em 03 de dezembro do mesmo ano, era homenageado o major Lelio Ribeiro Boaventura, que durante 03 anos custeara a manutenção das crianças, ocasião em que, também, se homenageou o padre Vita pelo empréstimo de CR$ 6.000,00 para a aquisição do terreno.

Em 22 de março de 1945, o dr. Leonidas Garcia da Rosa e João Gonçalves e senhora, dona Baby Gonçalves, doavam à entidade um lote de terreno, enquanto as senhoras Elisa Leitão e Maria do Carmo Assunção arregimentavam sócios.

Em 1945, a Madre Maria Silvieta Cadde se retirava da instituição para trabalhar na enfermagem do Hospital dr. Ademar de barros, sendo substituída pela Madre Florinda Simões.

O lançamento da pedra fundamental do edifício do Educandário Santo Antonio para crianças tuberculosas aconteceu no dia 01 de maio de 1946, pelo cardeal de São Paulo, Dom Carlos Carmelo de Vasconcelos Motta, perante o interventor Federal no Estado de São Paulo José Carlos de Macedo Soares, ocasião em usou da palavra o frei João Crisóstomo. Nesta solenidade, achavam-se presentes, o dr. Leonidas Garcia da Rosa, Condessa Maria Angela Matarazzo, Maria do Carmo Assunção, Baby Gonçalves, Paulo Cury e Leonor Mendes de Barros, considerados benfeitores da instituição.

Uma das nobres e generosas iniciativas que se deveu ao esforço e ao zelo religioso de um bom conjunto católico, o Educandário Santo Antonio, sob a direção de dedicadas irmãs de caridade (Irmãs Franciscanas Missionárias do Egito, hoje, Franciscanas Missionárias do Coração Imaculado de Maria), abriram as suas portas para acolher órfãos de pais tuberculosos abrigando um número grande de menores pobres.

Além de instrução, educação moral e cívica, as crianças recebiam também tratamento médico, a fim de se tornarem imunes do terrível mal de que seus pais eram atacados – a tuberculose.

Todos os anos um grupo de abnegadas pessoas que se interessavam pelo bem-estar desses inocentes, se movimentava por esta época para angariar donativos a fim de promover o natal dos internados.

Em 28 de novembro de 1946, a diretoria adquiriu a chácara de propriedade de Guilherme Lebarrow.

A Madre Superiora do Educandário em 1947, foi a irmã Maria Dolores.

O Educandário recebeu em setembro de 1948, em doação, por testamento, de Luiz Cremonesi, uma casa em São Paulo, e, em 15 de maio do ano seguinte, um auxílio do governador Adhemar de barros, de CR$ 200.000,00.

A Madre Superiora do Educandário em 1948, foi a irmã Maria Celina.

A 12 de maio de 1950, o dr. Clamarion e a sra. Clara Mariani, presidentes da Campanha nacional da criança, doavam à instituição a importância de CR$ 30.000,00, e, em 20 de novembro do mesmo ano, a denominação da irmandade passou a se chamar Instituto das irmãs Franciscanas Missionárias do Coração Imaculado de maria.

Em 23 de setembro de 1975, a instituição passou a denominar-se Lar e Creche Santo Antonio.

Hoje, o Educandário Santo Antonio é a Pousada Franciscana, um departamento do Educandário Santo Antônio que oferece um serviço de hospitalidade para revigoramento, descanso, lazer, encontros ou cursos.

Objetiva proporcionar um ambiente sadio, tranquilo, onde as pessoas possam se refazer física e espiritualmente.

Para isso, acolhe os turistas que procuram a cidade de Campos do Jordão, proporcionando-lhes condições para descanso, convívio familiar, revigoramento físico e espiritual, lazer, atividades culturais, encontros de integração fraterna e socialização. A pousada colabora para que pessoas e famílias com poucos recursos financeiros também possam usufruir de momentos de descanso e integração familiar.



Com os recursos financeiros oriundos da pousada, a entidade mantém a Escola de Educação Infantil Francisquinho de Assis, que proporciona atendimento totalmente gratuito em regime integral para sessenta crianças de três a cinco anos.

Fontes:

Jornal “Diário da Noite”, de 02 de maio de 1946;

Jornal “Correio Paulistano”, de 14 de setembro de 1950.

PAULO FILHO, Pedro. História de Campos do Jordão. Campos do Jordão. Ed. Santuário. 1986. P.784.

Links:

http://www.emcamposdojordao.com.br/pagina/pousada-franciscana-campos-do-jordao


                                    Escolas Antigas de Campos do Jordão



A primeira escola de Campos do Jordão foi criada e mantida por Matheus da Costa Pinto, às expensas próprias. Uma escola de primeiras letras (escola de instrução primária), no Vale do Baú, na Vila de São Matheus do Imbiri, em 1872, regida pelo prof. José Francisco da Costa, com admissão gratuita de alunos, fornecendo o Sr. Matheus aos alunos o que era preciso, e ao professor, casa, mobília e ordenado. O mestre lá ficou durante 03 anos, sendo substituído pelo professor Fortunato de Paula Campos, que permaneceu no magistério por apenas um ano.

A fruição de tão precioso benefício afluiu numerosos meninos. Essa escola viveu na obscuridade do lugarejo a que tão proveitosa fora, e desapareceu após 3 anos de existência pela retirada do seu professor, não restando senão encômios traçados pelas hábeis penas do Sr. Dr. Bulcão, então juiz de órfãos, e do distinto literato português Sr. Dr. Raposo d’Almeida que conjuntamente com o reverendo Sr. Padre Miné, e finado engenheiro Trigo de Loureiro que a seu convite procederam a exame.

Em 1884, era instalada nova escola, a cargo do professor José Gomes Coutinho, que servia as crianças no período diurno e aos adultos, à noite.

Em 1885, chegava à Vila de são Matheus do Imberi, o professor Antonio Porfírio da Silva, alegando que teria as maiores facilidades para residência e instalação de uma escola. No período de 1885 a 1887, recebera de Matheus da Costa Pinto, casa, sala para escola, e todas as possibilidades fornecidas pelo proprietário da fazenda.

Em 1909, a Vila velha possuía uma professora primária: Tereza Dias. Era o tempo da nota 12 e da palmatória. Em 1910, Maria José Cavalheiro; 1911, Benedita Brandão; 1912, professora maria ramos.

Em 1912 a cidade sofreu grave crise e ficou sem professores e sem escola.

Extinta a escola custeada por Matheus da Costa Pinto, só em 1913, a Câmara Municipal de São Bento do Sapucaí, criou a Escola Mista, de Vila Jaguaribe, regida pela professora Maria Cristina Cardoso.

Em 17 de dezembro de 1915, o presidente do Estado, Rodrigues Alves, criava uma escola preliminar na Vila Jaguaribe.

Por decreto de 23 de janeiro de 1930, o prefeito Bento de Cerqueira Cezar criou as Escolas Reunidas de Campos do Jordão, com anexação da masculina urbana que, nesse tempo, funcionava no prédio onde esteve sediada a prefeitura em 1948, regida pelo professor José Benedito Salgado; 1ª mista, regida pela professora Maria José Marcondes; 3ª mista, regida pela professora Lucila Florence. Em 01 de fevereiro de 1930, funcionaram as Escolas Reunidas com a matrícula inicial de 120 alunos, distribuídas em quatro classes: 1ª masculina; 2ª feminino; 1ª mista e 2ª mista, tendo sido designado para acumular a direção o professor José Benedito Salgado.

Em 23 de fevereiro de 1932, com o estabelecimento de uma classe, passaram as Escolas Reunidas a funcionar como Grupo Escolar de 4ª categoria. A inauguração do Grupo Escolar, contou com a presença do presidente do Estado, Armando Sales de Oliveira, prefeito dr. Gavião Gonzaga, dr. Irineu Malagueta, professor Clementino Fraga, além do dr. Almeida Junior, Diretor Geral do Ensino. Era o Grupo Escolar Dr. Domingos Jaguaribe, cuja construção fora financiada por José Ferreira da Rocha, em terreno doado por Madame Bertha Basin.

Em improviso, Dr. Gavião Gonzaga, prefeito sanitário da estância, considerou inaugurado o prédio, entregando-o ao povo de Campos do Jordão. Tendo feito rápida demonstração do progresso escolar local, prestou homenagem ao casal Basin, doador do terreno à construção. Esteve presente à inauguração, a respeitável viúva, Madame Basin. A sua construção foi comandada por Floriano Rodrigues Pinheiro.

Foi seu diretor, em 1935, professor Garcia Simões da Rocha e entre seus professores, incluíam-se Jorge Carquilst, Hilda Mendes Castilho e Ercília Escobar.

Na década de 1940, as escolas isoladas estaduais do município, se elevavam a quatro: Escola Mista do Bairro do Lajeado, regida pela professora D. Risoleta de Azevedo Freire; a do Bairro dos Mellos, regida pela professora D. Jacira de Castro; a 2ª Escola do Preventório Santa Clara, regida pela professora D. Irene Carneiro Monteiro e a de Vila Emílio Ribas (Capivari), regida pela professora D. Raquel Barbosa de Carvalho.

As escolas municipais, em Campos do Jordão, foram criadas em 1936, por ato do prefeito Gavião Gonzaga uma no Bairro da Campista e a outra no Bairro dos Mellos, além de um curso noturno, regidas, respectivamente, pelas professoras Severina Pepi, Hilda Castilho e pelo prof. Jorge Carlquist. Devido sua reduzida frequência, a da Campista foi, pouco depois, transferida, juntamente com a professora, para o bairro da Favela (Vila Ferraz), transformando-se, então, na Escola Mista Municipal da Vila Operária.

O prefeito, Dr. Motta Bicudo, reconheceu a urgente necessidade da criação de mais uma classe na Escola da Vila Operária, solucionando-a com a transferência da Escola do Lajeado, juntamente com a prof. Ilka Braga, sendo esta, logo em seguida, substituída, por motivo de seu pedido de demissão, pela prof. Geraldina Dubieux.

O prefeito, Dr. Lourival Francisco dos Santos, criou a 3ª, e 4ª Escolas Municipais e, tempo depois, fez construir o prédio do futuro Grupo Escolar Municipal Rio Branco, o qual foi acrescido de mais uma sala de aulas, pelo prefeito, Dr. Zenon Lotufo. O prefeito, Dr. Orestes de Almeida Guimarães, ampliou suas instalações, prestou assistência moral e material ao Grupo Escolar Rio Branco, conhecida popularmente por “Escola de Dona Severina”.

Em 1937, na administração do prefeito Gavião Gonzaga, foi criada a Escola Mista Municipal da Favela, e em 23 de outubro de 1943, transformou-se no Grupo Escolar Municipal “Rio Branco”.

O Grupo Escolar Municipal “Rio Branco” transformou-se em EMEF - Monsenhor José Vita, no dia 02 de maio de 1977, por força de Lei Estadual.

Em 1949, aconteceu a abertura da exposição de Trabalhos Manuais e Pedagógicos do Grupo Escolar Municipal Rio Branco, sob a coordenação da professora, Severina Pepi de Souza.

Fontes:

Jornal “O Globo” de 01 de julho de 1875;

Jornal “Correio Paulistano”, de 24 de abril de 1884; 15 de novembro de 1936.

ANDRADE, Condelac Chaves de. Álbum – Almanaque Histórico de Campos do Jordão. Campos do Jordão. Artes Gráficas São Paulo S/A. 1947. Pp. 76.

PAULO FILHO, Pedro. História de Campos do Jordão. Campos do Jordão. Editora Santuário. 1986. Pp. 784.

Links:

http://memoria.bn.br/

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A Fazenda da Guarda



Antes que se instalasse a Guarda, já o nome, pertencia ao lugar. Em certa ocasião, se fixara um piquete de guardas, quando estava incerta ainda a divisa de Minas e São Paulo, em um ponto estratégico, uma vez que o Vale do Sapucaí era o caminho para o Alto da Serra e para o Paraíba. É possível que fosse uma barreira, onde se cobravam os impostos nas fronteiras dos Estados. No tempo da mineração, apesar da vigilância da Coroa, o ouro filtrava do sertão para o litoral, por caminhos desconhecidos. Descoberto por ali, o tráfico de ouro, na divisa das Capitanias, a Coroa deve ter instalado um posto fiscal. Esta seria uma versão a aceitar. Há outras, porém.

Separadas as Capitanias de São Paulo e de Minas, perdendo São Paulo imenso território, descoberto pelos bandeirantes taubateanos e pindenses, os paulistas não admitiram que os mineiros viessem espiar o Vale do Paraíba, dos cimos da Serra. Não desejavam os seus lares devassados, começando daí, séria rixa, entre as Vilas Reais de Pindamonhangaba e Itajubá, com frequentes atritos e escaramuças. Geograficamente, a região era de Minas, mas os pindenses tinham posse ali, e dali não queriam sair.

Os mineiros chegaram a invadir Pindamonhangaba, com duas escoltas, em abril de 1814, em momento de grave rebeldia. Na realidade, a turra era mais de mineiros e pindenses, do que das Capitanias de São Paulo e Minas Gerais. Foi por isso que, em 11 de setembro de 1790, o Guarda-Mor, Ignácio Bicudo de Siqueira, escrevia ao Capitão General da Capitania de São Paulo, dando conta de sua diligência e da experiência que conseguiu em sua viagem aos Campos da Serra da Paraíba, e pedia ordens e beneplácito para repartir as terras devolutas, dando a cada família as suas posses, para terem as suas sesmarias, de conformidade com o que lhes tocava.

Balthazar de Godoy Moreira ignorava os termos da resposta do Governador, mas é provável que, entre os contemplados, já se achava Ignácio Caetano, que, durante muitos anos, viveu ali, segregado com seus dois filhos, e que apesar de mineiro, reconheceu os direitos de Pindamonhangaba, ficando ao lado de São Paulo.

Ignácio Caetano queria uma sesmaria de 6 léguas de testada. Foi nessa época que apareceu o taubateano, Costa Manso, que tomou partido de Minas, acendendo velha rixa entre Taubaté e Pindamonhangaba, e menos entre paulistas e mineiros.

No ano de 1790, quando era grande a exaltação, o Governador da Capitania de São Paulo oficiou à Câmara de Pindamonhangaba, recomendando prudência, na questão das divisas, e em 7 de março de 1804, o Conselho Municipal de Pindamonhangaba oficiava ao General Governador da Capitania contra os moradores da Vila Itajubá, por violarem as divisas, em documento assinado por Manoel Paes Domingues, Felipe José da Silva e Antonio Roiz Ferreira. Parece que nenhuma providência foi tomada. Os pindenses, porém, inconformados e armados subiram a Serra para se postarem em algum lugar estratégico, que pudesse impedir a invasão dos mineiros.

Balthazar de Godoy Moreira fundamentou essa assertiva, no ofício que o Secretário do Governador da Capitania de São Paulo dirigiu, em 15 de julho de 1803, ao Capitão-Mor Ignácio Marcondes do Amaral, de Pindamonhangaba, aprovando a ideia da instalação da Guarda do Capivari (era assim chamado o rio Sapucaí, acima da Cachoeira dos Diamantes) na “extrema da Capitania”, e onde o Governador ordenara a prisão de João da Costa Manso, que fazia o jogo dos mineiros: “devendo o mesmo ser remetido para a Capital, seguro”.

O contingente era constituído de jovens da sociedade pindamonhangabense, alguns dos quais receberam estudos militares, compondo a Guarda de D. Pedro I. A Guarda cortou o avanço dos mineiros, mas as rixas prosseguiam, nas quais envolveu-se o próprio avô de Balthazar, Antonio de Godoy Moreira e Costa, que fora logo nomeado pelo Governador da Capitania de São Paulo, Ajudante do Capitão-Mor Ignácio Marcondes do Amaral, considerado por Balthazar, o consolidador daquela região aos paulistas, e ao qual até hoje não se lhe fez justiça, em Campos do Jordão.

Em 1815, o Conde de Palma, Governador de São Paulo, oficiava novamente à Câmara de Pindamonhangaba, pedindo calma para o conflito, que perdurava, e em 1820 remetia novo ofício: Pindamonhangaba deveria protestar, mas cessar o conflito.

Já ao tempo da Província, em 1822, o Governador de São Paulo, ordenava ao Capitão-Mor da Vila de Pindamonhangaba para que “prenda os súditos que provocam conflitos com os mineiros, na questão de limites, de modo que sejam condenados na forma das Ordenações, Livro 5°, Titulo 67º”.

Esses acontecimentos todos motivaram a instalação da Guarda, à margem do Sapucaí. Os ânimos serenaram-se quando os mineiros se conformaram com a posse dos pindenses sobre o território de Campos do Jordão.

Antonio de Godoy Moreira e Costa teve mais 11 irmãos. Desejava adquirir terras naqueles campos lindos; esteve em outros sítios da região, no vale da Tabatinga, nos Serranos, onde havia moradores esparsos, no Moreira, por onde passava o seu caminho para a Graminha. A Vila Capivari era chamada, naquele tempo, de “O Jordão” e os Campos eram a região toda, dobrando a serra. A Guarda, para Antonio de Godoy Moreira e Costa ficava nos Campos, e não nos Campos do Jordão, e em Pindamonhangaba, ninguém dizia: “Vou para os Campos do Jordão”, mas “Vou para os Campos”.

As trilhas foram se delineando, seguindo as pegadas do gado para as querências, afora a estrada de Pindamonhangaba, que, na realidade, era um carreiro para se trilhar a cavalo. Ignácio Caetano faleceu e seus filhos resolveram dispor das terras. Como o Brigadeiro Jordão teria conhecido os Campos? O Cel. Antonio Amador Bueno de Godoy informou que o Brigadeiro soube da existência dos campos através do Cel. Manoel Marcondes de Oliveira e Mello, 1° Barão de Pindamonhangaba.

É possível que o Cel. Manoel Marcondes, quando moço, estivesse na Guarda, conhecendo os Campos, durante a questão das divisas entre as duas Capitanias. E era filho de Ignácio Marcondes do Amaral, o lutador.

Por outro lado, o Brigadeiro Jordão esteve em Pindamonhangaba, em agosto de 1822, ficando hospedado no sobrado do Monsenhor Marcondes, pelo Barão de Pindamonhangaba. Ali teria recebido informações sobre os Campos. O Brigadeiro e o Barão devem ter se encontrado outras vezes, pois eram amigos, desfrutando das boas graças do Príncipe. Ambos acompanharam Sua Alteza, na jornada da Independência, ouvindo o grito histórico.

O Brigadeiro Jordão comprou, então, a 29 de dezembro de 1825, ao alferes Alberto José de Freitas Trancoso e Mariano Vieira de Carvalho, herdeiros do sesmeiro Ignácio Caetano Vieira de Carvalho, por 10 contos de réis, as terras, mandando edificar a sede da Fazenda, onde hoje é a Vila Capivari, sendo que a residência existiu até 1920. O Brigadeiro faleceu em 27 de fevereiro de 1826, antes de conhecer a Fazenda.

Feito o inventário do Brigadeiro Jordão, por sentença lavrada pelo juiz de órfãos da Comarca de São Paulo, em 22 de setembro de 1830, a Fazenda Natal abrangia todo o município de Campos do Jordão e uma parte de Minas, sendo avaliada em 20 contos, tocando 5 contos a cada um dos herdeiros: Anna Eufrozina Jordão, Amador Rodrigues de Lacerda Jordão, Manoel Rodrigues Jordão e Silvério Rodrigues Jordão, filhos do Brigadeiro.

Por escritura de 29 de maio de 1855, Amador Rodrigues de Lacerda Jordão e sua mulher, venderam o seu quinhão ao Comendador Antonio de Godoy Moreira e Costa, bacharel em direito, e seu irmão, Alferes José de Godoy Moreira e Costa.

Os dois irmãos, tomando posse das terras, convencionaram, amigavelmente, que a gleba de Antonio de Godoy Moreira e Costa iria do atual ribeirão do Ferradura, onde havia o Potreiro das Éguas, até as vertentes do Galharada, pela margem direita do Sapucaí, e pela margem esquerda do mesmo rio, dos Correntinos à bacia do ribeirão do Paiol. A de José de Godoy Moreira e Costa, caberia o resto, que era maior parte, a bacia de todos os afluentes da margem direita do Sapucaí, a partir do Casquilho, incluindo o Charco, onde havia a casa. Constituíram as Fazendas da Guarda e do Retiro, onde construíram a sede e uma senzala.

Viram o Brasil passar de Colônia a Reino e de Reino a Império. Conhecera os Campos, como eram então conhecidos, desde a mocidade, e construiu a casa de Fazenda, entre a Galharada e o Sapucaí, vivendo os inesquecíveis tempos da Guarda.

Antonio de Godoy Moreira e Costa, nasceu em 1785, antes do martírio de Tiradentes. Seu filho, Cel. Antonio Amador Bueno de Godoy, foi casado 3 vezes: o 1.º casamento, sem geração; o 2º, casado com Maria Antonia de Godoy, e teve os filhos, Miguel de Godoy Moreira e Costa Sobrinho e Antonio Amador de Godoy Moreira; o 3º, casado com Maria José Monteiro de Godoy, e teve os filhos, Balthazar de Godoy Moreira, Maria Bella e Amador de Godoy. Com seu filho, Cel. Antonio Amador Bueno de Godoy, e um punhado de escravos, passou a criar gado nas pastagens daquelas lombas. Não havia cercas: só a marca registrava a propriedade, o ferro candente e o corte nas orelhas. O gado era tratado na Guarda, onde havia um retiro. Não havia lavoura, só criação de gado.

Não mantinham residência fixa na Guarda; passavam temporadas de dois meses, no máximo, afora as visitas curtas de vistorias, ficando o Retiro entregue a um capataz. Os pretos que vieram a Campos, vinham da Fazenda Graminha, de Pindamonhangaba.

Na Guarda não havia capela; só havia um oratório da família, tosco, que ficava no Rancho Sto. Antonio, de Oscar Ribeiro de Godoy.

No seu tempo, até o meio do século, havia missas todos os meses e o oficiante era o Padre João de Godoy, seu irmão. Uma das primeiras pessoas que esteve na Guarda, excluindo as do círculo familiar, foi o Padre Pedro Nolasco César, vigário de São Bento, que muitas vezes, visitou a Fazenda. Também lá esteve o vigário de Pindamonhangaba, o Padre Tobias, os Bueno, da mesma família desse sacerdote (o coronel Benjamin, o Dr. Dino Bueno), sempre apareciam nos Campos.

A ligação com Campos do Jordão se fazia por uma trilha, através das lombadas, até atingir os Correntinos, onde já existia uma estrada. Eram os caminhos principais. As trilhas foram se delineando, segundo as pegadas do gado para as querências, afora a estrada de Pindamonhangaba, que, na realidade, era um carreiro para se trilhar a cavalo. A estrada de Pindamonhangaba descia até a Fazenda em reta. Outra trilha ia Sapucaí acima até a Casa Velha, e daí pelos vizos das lombas ao Potreiro das Éguas e ao Jordão, com uma derivação aos Correntinos e para a Água Santa e os campos do Serrano. A outra, vadeando o Sapucaí, subia ao Capão dos Papagaios, ondulava pelos altos e ia até o Paiol. Outra ainda, continuação da estrada de Pindamonhangaba, subia a Galharada, cortava-o e galgando a lomba do Faxinal, atingia o Casquilho, e depois do Espraiado, do Serrote e da Serra Chorona, chegava-se, finalmente, ao Charco. Os antigos acessos às Fazendas eram difíceis, pois de Pindamonhangaba, viajava-se, a pé, até o sopé da Serra, descansando-se na Fazenda Graminha, e só no dia seguinte, prosseguia-se no percurso, vindo-se pelo Ribeirão Grande, através da Mata Comprida, e descia-se pelas vertentes do rio Galharada, até atingir as fazendas do Retiro e da Guarda.

Diziam que o clima não permitia a horticultura. Bobagem. Os campeiros só se alimentavam de leite e carne. Foi o Dr. Luiz Pereira Barreto, dono de uma fazenda em Louveira, que mandou para a Guarda, mudas de ameixeiras, macieiras e pereiras. Também mandou mudas de uvas que não deram resultado.

Um de seus netos, Dr. Oscar Ribeiro de Godoy, era dono do Rancho Sto. Antonio. Médico humanitário. Assistia aos pobres e era médico da família. Outro médico, Dr. Gustavo de Oliveira Godoy, amigo de Antonio Amador Bueno de Godoy, esteve várias vezes na Fazenda da Guarda e no Retiro, onde os moradores faziam verdadeiras romarias para desfrutar da presença de um médico na vizinhança. A última vez, pelos idos de 1896. Ficava no Retiro. Conhecia o valor terapêutico do clima de Campos do Jordão. Popular e benquisto, a medicina lhe dera lucros indiretos: elegeu-se deputado estadual, senador e vice-presidente do Senado. Foi um parlamentar que colaborou com Emílio Ribas para o saneamento de São Paulo. Foi Secretário do Interior no Governo do Dr. Jorge Tibiriçá. Quando estava nos Campos os caboclos da redondeza, vinham consultá-lo. Receitava numa mezinha: chá disso, chá daquilo com gotas disso ou daquilo, pequenas intervenções cirúrgicas e fórmulas de pequeno custo.

Um dia em 1887, a tranquilidade da Guarda foi abalada: ia chegar uma pessoa muito importante da Coroa, parente do Imperador. O Conde d’Eu, ouvindo maravilhas a respeito dos Campos, manifestou o desejo de conhecê-los. Foi convidado. Era o genro do Imperador D. Pedro II, um ídolo no Rio de Janeiro e esposo da Princesa herdeira do Trono. O Conde cobriu, de uma sentada, à distância de Pindamonhangaba à Guarda. O almoço seria na Graminha, onde saltou do carro, curioso da paisagem, o chapéu alto, o guarda-pó de alpaca, as calças de xadrezinho, as luvas cinzentas. A viagem, serra acima, foi pelas Bicas, tendo chegado à Guarda, à tardinha. Sua Alteza ficou no quarto da frente, dos donos da casa. Era um homem pouco expansivo e isolado. À noite, bem dormida, reanimou o ilustre visitante, e achou ele que a região era digna de ser conhecida. Bebeu leite com algumas gotas de conhaque, ao pé da vaca. Passeou a cavalo com o anfitrião, vadeando pelo Sapucaí, pelos lados do Capão dos Papagaios e do Paiol. Fez uma caçada. Dois dias passou o consorte da Princesa na Guarda, querendo tudo saber da região. Não se soube das razões que o levaram à Guarda.

Outra publicação rememorou a visita do Conde D’Eu à Fazenda: a 17 de abril de 1875, acompanhado de Domenico Barral e do Conde Carlos d'Ursei, Secretário da Legação Belga, dirige-se a Pindamonhangaba, em São Paulo, com destino à Fazenda da Guarda, em Campos do Jordão, onde, a convite de seu proprietário, Tenente Coronel Antonio Amador Bueno de Godoy, tomou parte numa caçada de veados, efetuando-se o seu regresso a Petrópolis, em 28 do mesmo mês.

A Fazenda da Guarda situada em Campos do Jordão, fazia divisas, no cume da Serra da Mantiqueira, nas vertentes do Rio Sapucaí-Guaçú; possuía a área aproximada de 2.000 alqueires, e era inteiramente dedicada a pecuária. Na região, abundavam quase todas as espécies de animais selvagens, e daí o grande interesse da caça, principalmente do veado, um dos grandes atrativos da propriedade, tornados ainda mais agradáveis pela fidalguia do proprietário. Por ocasião da visita do Conde d’Eu, foi feita completa remodelação do solar, sede da Fazenda, com a colocação de soalhos e forros, com tábuas de pinheiros serrados, à mão, no próprio local. Para as caçadas, dispunha a estância de excelente cavalhada, boas selas, numeroso canil, formado de cães “veadeiros” e pessoal habilitado para a orientação da “corrida”, com o toque das buzinas e trombeta de caça. Os preparativos iniciaram-se antes da data marcada, pois havia necessidade de ferrar os cavalos, pôr em ordem as selas e amestrar os cães. Na véspera, era cuidadosamente preparado o farnel, com virado de feijão, carne de veado, farofas, etc... depois conduzidos pelos cargueiros, que partiam antes do sol raiar. Os componentes da caçada, recebiam instruções dos mais experimentados para a perfeita colocação dos “carreiras” ou “esperas”, pontos de passagem obrigatória da caça. Havia “esperas” de maior probabilidade e estas eram reservadas para os convidados ilustres, facilitando dessa forma a possibilidade de êxito. Solta a cachorrada que vinha da Fazenda, atrelada de dois a dois, pouco depois levantava-se o veado, e começava assim a “corrida”, permitindo, pelo latido dos cães, que ela fosse acompanhada na direção seguida pelo veado. O Visconde do Rio Branco também foi hóspede ilustre da Fazenda da Guarda, fazendo a viagem em dois dias, vindo do Rio de Janeiro e pernoitando na Fazenda Graminha. Ao contrário do Conde D’Eu, procurava alívio para a enfermidade, vindo acompanhado de seu médico, Dr. Bandeira de Mello.

Foi de caleça de Pindamonhangaba à Graminha, e a cavalo da Graminha até a Fazenda da Guarda. O anfitrião, Antonio Amador Bueno de Godoy, não sabia o seu mal; se tuberculose ou câncer. Pernoitou na Graminha, e logo cedo, subiu a serra pelas Bicas. Houve grande correria na Guarda para preparar a casa ao ilustre visitante. Ficaram, ele, a Viscondessa e a filha uns vinte dias na Fazenda. Foi comemorado na Guarda o aniversário do importante visitante. O Visconde, apesar da alta posição, era muito afável. Durante a festa, houve uma efusão de brindes e até uma champagne francesa - a única que estourou na Guarda no século XIX.

O Visconde não recuperou a saúde na Guarda, mas readquiriu forças e esperanças, com o ar oxigenado das montanhas. Avistando, do Vale do Casquilho e do Retiro, a paisagem, o Visconde dizia:

- Isto é uma maravilha, Capitão. É lindo. Pena que não seja conhecido. Mas tome nota: tempo virá em que todas essas montanhas, como as da Suíça, estarão cheias de herdades e de hotéis, para a vilegiatura dos ricos. Trilhos de ferro cortarão esses vales e o apito das locomotivas acabará com esse gostoso silêncio. A menos de meio século, veio a Estrada de Ferro Campos do Jordão, confirmando a profecia do Visconde do Rio Branco.

Na Fazenda da Guarda, saía um jornalzinho intitulado, “A Guarda”, precursor dos jornais de Campos do Jordão; era manuscrito, com figuras e registrava acontecimentos locais, com mais brincadeiras que fatos. Mesmo as notícias, eram quase todas apócrifas, e foi uma pena que ninguém de numerosa família Godoy, houvesse guardado um exemplar. Além do jornal, conta da Companhia Peru: não era uma empresa comercial e tampouco teatral, ainda que tivesse ido ao palco várias vezes. Era uma empresa de fuzarcas, da qual faziam parte os rapazes da geração, quase todos parentes. Pessoas importantes, assistiam as comédias e até Guiomar Novaes assistiu-as, rindo e divertindo-se.

Contando 86 anos, Cel. Antonio Amador Bueno de Godoy, foi pela última vez ao Retiro, e passou pela Fazenda da Guarda, que já não mais pertencia à família. Olhou para tudo aquilo pela última vez, com que saudade, com quantas lembranças em sua alma, com quantas velhas e queridas visões em sua retina? Caçou veados na Galharada. Não deu um tiro, mas foi com sua espingarda, a bandoleira, velha também, de muitos anos, de muitos tiros...

Seu filho, Antonio Amador de Godoy Moreira, antes de falecer, teve o cuidado de mostrar a seu neto, o Dr. Oscar Ribeiro de Godoy, para conhecimento das gerações por vindouras, um local na Fazenda da Guarda, onde não nascia capim ou qualquer tipo de vegetação.

- “Aqui foi instalada a Guarda montada pelos Pindamonhangabenses, para defender as divisas de Campos do Jordão contra o ataque dos mineiros!”

Dr. Oscar Ribeiro de Godoy, cioso das tradições de seus antepassados, ainda conserva uma espingarda, que fora usada pelos soldados da Guarda; carregada pela boca, de pedra de fogo.

Relembrou, também, a enorme porta instalada no casarão da Fazenda, onde se viam gravados, a canivete, centenas de nomes; depois, que não havia mais lugar para qualquer inscrição, passaram a deixar os nomes gravados nas portas internas, portais e janelas, e lembrou alguns nomes que a memória guardou, como o do pintor Ernesto Quissak, que fez um lindo desenho: uma palheta, contendo o seu nome, como se fosse pincéis, e a inscrição deixada pelo Conde d’Eu. A porta, que era um monumento histórico, desapareceu ou foi deitada ao fogo pela ignorância ou irresponsabilidade, mas o Dr. Oscar Ribeiro de Godoy ainda guardava consigo, um envelope, que lhe foi dado por um membro da Família Real Brasileira, em Petrópolis, de grande valor histórico. Tratava-se de um envelope, subscritado, de próprio punho, pelo Conde D’Eu, quando ele esteve na Fazenda da Guarda e remetido à França, pois nele consta o carimbo dos Correios, datado de 1884, da repartição de Pindamonhangaba. Quando estivera na Fazenda, depois de escrevê-la, o Conde pedira a alguém que a postasse em Pindamonhangaba.

O Dr. Oscar Ribeiro de Godoy lembrou-se de inúmeros personagens que passaram pela Fazenda da Guarda: de um almoço, em que esteve presente, Assis Brasil, que seguia viagem para Itajubá; do famoso jornalista satírico Juó Bananeri, pseudônimo de Alexandre Ribeiro Marcondes Machado, que ali estivera acompanhado de membros da família de Júlio Mesquita, as irmãs Judith, Sarah e Lia; do Dr. Camilo de Oliveira Pena, famoso tisiologista.

Antonio Amador de Godoy Moreira falecera em 31 de agosto de 1912. deixando sua esposa e dois filhos, um com 9 e outro com 7 anos. A Guarda também estava a findar-se.

“Depois de minhas funções de inspetor escolar, arremata Balthazar de Godoy Moreira, cheguei um dia, outra vez à Guarda. A manhã estava linda. Uma daquelas manhãs inaugurais de Campos do Jordão, que parecem agora empreitadas pelo Departamento de Turismo. Manhã em que se sente a alegria de Deus. Fui encontrando tudo alinhado, manso, a mata, o capim, a estrada, tudo edificadinho. As beiras do Sapucaí, um jardim. A grama saída de um instituto de beleza. O auto dobrou, passou a ponte, fez a curva e oh!... Não estava mais ali a casa. Não havia mais a Guarda. Um montículo de gramado e era tudo. Fiquei comovido, como diante de um túmulo querido. O túmulo da Guarda e de tudo que ela conteve e foi.

Cem anos de nossa família estavam ali sepultados, no pé das paredes derruídas, na poeira daquele chão, onde soaram os passos de todos os meus queridos ancestrais. Espectros deveriam pairar ali, no sitio que tanto amaram, onde em criança brincaram, moços sorriram e amaram, tiveram alegria e tristezas, e elevaram preces a Deus. Pensei neles todos e rezei baixinho, pedindo que nos perdoassem a nós todos, seus filhos, netos, bisnetos, que não pudemos, ou talvez não soubemos conservar na posse de alguém da família, o teto que foi o seu lar, o seu querido lar. Acabou-se a Guarda!” (prof. Balthazar de Godoy Moreira).

O Dr. Domingos Jaguaribe, grande possuidor de terras, em 1º de dezembro de 1896, requereu a divisão judicial de toda a gleba da Fazenda Natal, dada a situação irregular pela posse das terras em Campos do Jordão. Praticado os trâmites legais, iniciam-se os trabalhos de campo pelo engenheiro, José Magalhães, o qual encontraria inúmeros obstáculos.

Já com os seus serviços quase ultimados, Dr. Magalhães alcança as terras de João Rodrigues da Silva, apelidado de João Maquinista. De origem portuguesa, esse homem era rude, sem cultura e vivia há anos ao lado da igreja, no trabalho tranquilo de seu armazém na Vila Jaguaribe, fartamente abastecido para a época.

O engenheiro, desejando prosseguir nas suas medições, atravessa cercas e avança em bens do João Maquinista, que julgou um ultraje o pisar nas suas propriedades e, após alterada discussão, a 28 de dezembro de 1899, mata o profissional com um certeiro tiro à queima-roupa. Em 17 de janeiro de 1907, retoma-se a demarcação das divisas de terras, uma vez que esse triste acontecimento trouxe a paralisação dos trabalhos por aproximadamente, 11 anos.

A firma Société Commérciale et Financière Franco-brésilienne, proprietária em São Paulo da Casa Nathan, um comércio de máquinas agrícolas, adquiriu uma área de terras que se localizava onde hoje estão os remanescentes do Grande Hotel e arredores e requereu que se retomassem as demarcações.

Embora de forma indivisa, a Fazenda Natal começou a retalhar-se com diversos co-proprietários, em forma de condomínio.

Nesse processo de retomada das demarcações, Antonio Amador de Godoy Moreira, não foi citado no edital de convocação dos condôminos, mas sim, o de Antonio Amador Bueno de Godoy, que já não era mais proprietário em Campos, sendo ele esbulhado de grande parte do que possuía, pois os documentos rezavam a posse da citada parte de Campos, integrando cada uma das duas fazendas vizinhas, ambas compradas pelo Comendador, Antonio de Godoy Moreira e Costa, em um só título, do filho do Brigadeiro Jordão, Amador Rodrigues de Lacerda Jordão, que herdara a quarta parte de toda a área.

Formara-se um verdadeiro complô para usurpar grande parte da Fazenda da Guarda; e os antepassados viram-se no dever de, para assegurar os seus direitos, tentar a nulidade da sentença que punha a termo a divisão. Foram três anos de processos jurídicos e traições diversas.

Não havia na época, INSS, e nenhuma outra forma de proteção aos promotores de Justiça. Então, o único bem que possuía, a Fazenda da Guarda, estava nas mãos do depositário público fiel ao grupo ganancioso, que, como consequência do ocorrido, já se considerava dono e dispunha da propriedade a seu bel prazer. Por informações obtidas no Supremo Tribunal, na época, no Rio de Janeiro, ficaram informados de que a causa estava perdida. Perderam os principais prazos. O julgamento não entraria no mérito da viuvez e, segundo as palavras de um dos julgadores, na causa, seriam vencidos.

Maria da Glória Ribeiro de Godoy, ao ficar viúva em 31 de agosto de 1912, com a morte de seu marido, teve que encontrar maneiras de sobreviver para sustentar os dois filhos, Oscar e Eulálio, e manter a Fazenda da Guarda, em Campos do Jordão, que estava com um processo contra o Governo do Estado.

Nessa época, ela contou com a ajuda de seu pai, o Dr. Manoel Ribeiro Marcondes Machado, médico que esteve no batalhão dos Voluntários da Pátria, na Guerra do Paraguai. O débito era mais ou menos de 12 contos de réis devido pelo processo, como pagamento do agrimensor na divisão. Pela solidariedade e fraternidade da família, conseguira recuperar a fazenda, ainda que conformando-se com a perda de vultuosa área e de outros bens constantes do esbulho.

A ajuda não se limitou à criação dos filhos, mas, com seu prestígio, influências e o trabalho de seu outro filho, o advogado Manuel Alexandre Marcondes Machado, conseguira a recuperação da Fazenda da Guarda, em 1915, com o ganho da causa contra o Governo.

Sinhazinha, como era chamada, com a posse definitiva da Fazenda da Guarda, arrendou pedaços da terra, comercializou animais, vendeu doces, queijos e manteiga para melhorar a tão baixa renda da família. Uma mulher de fibra, forte, que lutou sem desanimar para educar os filhos e manter a terra tão amada.

A sede da Comarca em São Bento do Sapucaí, era de se avaliar, o quão penoso tornava-se vir de São Paulo, montar a cavalo em Pindamonhangaba e ali chegar para fazer uma petição ao juiz. Pois isso era feito com frequência pelos bacharéis, Otaviano Marcondes Machado e Trajano Marcondes Machado. Os dois trabalhavam pelo afeto devotado aos sobrinhos, Oscar e Eulálio, e à mãe, Maria da Glória Ribeiro de Godoy e nada ganhavam nas desgastantes idas e vindas a São Bento.

Satisfeitas as exigências legais, obtido o alvará de destituição do depositário público, vieram a São Bento e ficaram esperando o momento exato, em uma fazenda em Santo Antônio, pertencente a um parente próximo, Cel. Jorge Marcondes Machado. Tudo pronto, formou-se uma caravana para retomar a Fazenda da Guarda.

O grupo era formado por Manuel Ribeiro Marcondes Machado, Antonio Amador de Godoy Moreira, Maria da Glória Ribeiro de Godoy, seus dois filhos, Oscar e Eulálio, seu irmão Trajano, o Oficial de Justiça, camaradas e burros de carga. Da Vila até a Fazenda da Guarda, o caminho era mais ou menos o mesmo até o Ribeirão do Fojo. Passado o vão, logo à direita, começava-se a subir o morro e, assim, num desgastante sobe e desce, passando por morros tão íngremes, que um deles era chamado de Corta Rabicho, alcançava-se o Ribeirão do Meio ou Canhambora, em seguida o da Casa Velha e, margeando o rio Sapucaí, divisava-se à frente, o imponente velho casarão da Fazenda da Guarda. A chegada imprevista causou tremendo abalo e produziu espetacular corre-corre. O depositário, parentes e amigos desfrutavam da fazenda como donos. Sendo apresentada pelo Oficial de Justiça a sentença que suspendia o seu mandato, ele mal pôde se sustentar sobre as pernas, pois tremia da cabeça aos pés.

Estavam ali, a convite do suposto dono, um desembargador de São Paulo, seu filho enfermo de tuberculose e sua família. Com a chegada, quis ele imediatamente sair, mas, a convite, ficaram, e tornaram-se amigos, convivendo naquela casa por algum tempo.

Assim, foi recuperada a Fazenda da Guarda, sob a chefia de Maria da Glória Ribeiro de Godoy, valorosa mulher que se entregou bravamente à administração da propriedade, com energia e desenvoltura invejáveis que lhe permitiram granjear o respeito e a admiração de todos.

E, a partir de 12 de junho de 1913, com a sentença da divisão judicial, confirmada pela Suprema Corte do país, deixou de existir a Fazenda Natal, porque, dividida em 107 quinhões, foi integralmente retalhada, e a cada um de seus proprietários, atribuiu-se o respectivo título de domínio, em terra demarcada e certa.

Em abril de 1923, a viúva do Comendador, Antonio de Godoy Moreira e Costa, desgostosa com o desfecho da ação de divisão judicial da Fazenda Natal, vendeu uma Fazenda da Guarda ao industrial, Dr. Holger Jansen Kok, de Piracicaba, que ali montou uma serraria. Administrava-a o jovem André Kok, que se casou com Maria Bela, coincidentemente, da família Godoy. A alma de algum Godoy deve ter propiciado a aproximação. Reformaram a residência, sem nada perder de suas linhas coloniais. Hoje, ainda em posse da família, com o nome de Sítio Gravatá.

Sinhazinha separou 100 dos 1200 alqueires para a construção do Rancho Santo Antonio, ainda hoje de propriedade da família Godoy como umas das únicas terras, se não a única, que preservam a mesma área da sua fundação.

Por volta de 1934, era assustadora a devastação de pinheirais, em Campos do Jordão, o que provocou grave revolta contra o funcionamento de criminosas serrarias, que atuavam, impunemente. Depois de diversas denúncias formuladas à Secretaria da Agricultura, medidas oficiais foram adotadas pelo Secretário, Adalberto Bueno Netto, o Chefe do Serviço Florestal, José Camargo Cabral, e pelo Diretor Geral da Secretaria, Eugênio Lefèvre. Logo foi designado ilustre silvicultor, eng. Mansueto Koscinski, que, “in loco”, veio constatar a predatória derrubada de matas, apresentando excelente trabalho, onde sugeriu a organização imediata de uma reserva florestal, com área de 600 alqueires, à semelhança dos parques nacionais dos Estados Unidos.

O relatório, elaborado com grande realismo, impressionou muito o Governo Paulista, onde Koscinski concluía:

a) o homem derruba as matas, sem reflorestar;

b) o fogo queima as capoeiras;

c) o gado arranca as mudas e come as sementes.

O Governo do Estado de São Paulo, através do Decreto Estadual nº 9.716, de 9 de novembro de 1938, que dispunha sobre medidas para o reerguimento do Vale do Paraíba, preconizava a implantação de hortos florestais em Campos do Jordão.

Em seguida, por via do Decreto-lei nº 11.908, de 27 de março de 1941, o Interventor, Adhemar de Barros, adotava resolução de vulto, criando o Parque Estadual de Campos do Jordão, destinado a construir um vasto reduto de reservas e de reconstituição da fauna e da flora na região.

Em 8 de outubro de 1941, o Interventor, Fernando Costa, assinava decreto, desapropriando 1.193 alqueires de terra, para o fim de incorporação ao Parque Estadual. O Decreto Federal nº 27.314, de 17 de outubro de 1949, assinado pelo Presidente Getúlio Vargas, declarava protetoras, nos termos do art. 4°, letras “a”, “b”, “e” e “g” do Código Florestal, as florestas nativas, tanto do domínio público, quanto do particular, existentes em Campos do Jordão e São Bento do Sapucaí.

A medida federal adotada, a pedido do Governador de São Paulo, objetivava a guarda, fiscalização, conservação e regeneração das florestas, através do Serviço Florestal do Estado. Daí em diante, o Governo do Estado de São Paulo iniciou a implantação do Parque Estadual de Campos do Jordão, através de várias aquisições e desapropriações:

Corina Duvivier Kok (1941), Maria L. Godoy (1943), Alice Pegado Vidigal (1943), José da Costa Sobrinho (1943), Balthazar de Godoy Moreira (1943), Marcelo Godoy Moreira e Cássio Martins da Cruz (1961), André Emílio Kok (1961), Paulo Godoy Moreira e Costa e Manoel Rodrigues Ladeira (1965), no total de 8.286,30 ha.

O Parque Estadual de Campos do Jordão, constitui Unidade do Instituto Florestal do Estado, integrando a Coordenadoria da Pesquisa de Recursos Naturais da Secretaria da Agricultura, de São Paulo.

A partir de 1957, o Parque Estadual iniciou o reflorestamento de suas áreas, com o plantio de Araucária e Pinus, em maior escala. Dentre as pináceas, destacam-se o Pinus Elliotii e Pinus Taeda com milhões de pés plantados. Segue-se o plantio de Araucária Augustiolia (Pinheiro brasileiro) com milhares de árvores, perfazendo uma área reflorestada de 2.618,54 ha. O naturalista Frederico Hoehne esteve na antiga Fazenda da Guarda, em 1924, estudando as plantas de Campos do Jordão; também o botânico Arthur Loffegren, ali esteve bem antes, em 1898, pesquisando a vegetação, e muito antes de todos, em 1893, Theodoro Sampaio, ali escreveu sobre as condições físicas de Campos do Jordão.

O Parque Estadual dista 14 km. do centro comercial de Vila Abernéssia, por via asfaltada, e em seu interior, acha-se instalado um Posto de Salmonicultura, pioneiro na Estância, destinado à criação de trutas.

Fontes:

Pedro Paulo Filho, “História de Campos do Jordão”, Editora Santuário - 1986, páginas 94 a 105.

Balthazar de Godoy Moreira, “E os Campos do Jordão foram Pindamonhangaba”, 1969, S. Paulo.

(O professor Balthazar de Godoy Moreira, descendente de Balthazar de Godoy, Capitão-Mor e Governador da Província de São Paulo, nascido em Pindamonhangaba, em 13 de janeiro de 1898, filho do Cel. Antonio Amador Bueno de Godoy e Maria José Monteiro de Godoy, escreveu as suas “Memórias da Fazenda da Guarda”, editado em 1969, pela Sociedade de Amigos de Pindamonhangaba, com outra denominação).

Pesquisador, Compilador e Organizador, Historiador, Maurício de Souza Lino.


Fazenda Baronesa e as Framboesa


A história da framboesa no Brasil se confunde com a história do barão Otto Von Leithner, nascido na Suíça, de família nobre, que veio a casar-se com a austríaca, Marie Blanche Rothschild. O barão era um homem de negócios e estava frequentemente viajando pelo mundo afora. Apaixonaram-se pelo Brasil, e após a Segunda Grande guerra Mundial, em 1926, instalaram-se na cidade de São Paulo. Por volta de 1947, comprou uma propriedade em Campos do Jordão, no Alto da Boa Vista, para passar as férias. Instalada a casa, Otto Von Leithner decidiu importar da Suíça algumas mudas de framboesa. O resultado foi surpreendente: aquela frutinha rosa-avermelhada, tão típica do frio clima europeu, adaptou-se perfeitamente às terras da cidade paulista, nascendo vigorosa e com excelente sabor.

A localização da Fazenda Baronesa, próximo aos 1800 metros de altitude, propiciou um desenvolvimento ideal para as frutas. Nesta altitude, o frio necessário no inverno, umidade à noite, e sol muito quente no verão, favorecia o desenvolvimento do fruto em toda a sua plenitude.

Sem saber muito bem o que fazer com a produção das frutas, que incluía alguns quilos de amora (desenvolvidas também com mudas importadas da Suíça), Leithner resolveu fabricar potinhos de geleia caseira para consumo próprio e de seus amigos. Mas, apesar da pequena produção, a fama das geleias do barão espalhou-se rapidamente.

Os pedidos eram tantos e tão insistentes, que o nobre alemão não teve outra alternativa. Em 1968, instalou uma empresa – a Homemade Agroindustrial Campos do Jordão – na mesma propriedade onde estavam localizadas as plantações das frutas, para a fabricação de geleias em escala comercial.

O negócio logo se tornou muito mais rentável do que o próprio Leithner poderia imaginar: os produtos passaram a conquistar um número cada vez maior de admiradores e não paravam nas prateleiras dos postos de venda. Nas décadas de 1950 e 1960, a cidade era a maior cultivadora de frutas do País.

Em 1976, o barão, já muito idoso, resolveu voltar para a Alemanha, vendendo a empresa para o grupo “São Bernardo”, dirigido por Nelson Pitta, seu amigo de anos.

Antes de tudo, porém, fez uma exigência: os novos donos da indústria teriam que conservar a tradição da marca, continuando a fabricar as geleias artesanalmente e mantendo o seu sabor de pureza, mesmo depois que ele morresse.

O pedido do barão foi cumprido à risca. O negócio não só cresceu, como também a linha de produção foi diversificada pela empresa no Sítio Natal, no Alto da Boa Vista: foram instaladas as fábricas, foram produzidas as mais puras geleias de framboesa e amora, além de abacaxi, damasco, laranja, morango, ameixa, uva e framboesa amoricada (uma mistura entre framboesa e amora), num total de 330 toneladas por ano, que abasteciam 593 clientes distribuídos principalmente entre Rio de janeiro e São Paulo. Era com a geleia de framboesa que o grupo faturava mais. Afinal, o potinho de 420 gramas era vendido para as grandes redes de supermercados e lojas.

Na década de 1960, o Sítio Natal, propriedade do barão e da baronesa Marie Von Leithner, localizado nas proximidades do Palácio Boa Vista, pelo administrador Max Ambühl, um suíço radicado em Campos do Jordão, a Agro Industrial Campos do Jordão Ltda., responsável pela fabricação dos diversos tipos de geleias de frutas e conservas, com a marca Homemade, conseguiu fabricar, por mais de duas décadas, uma bebida destilada de framboesa, conhecida como "Eau de Vie", ou "Água da Vida".

No final da década de 1970, a marca Homemade foi adquirida pela CICA, o que expandiu sua distribuição para todo Brasil e no final da década de 1990, após um período de pulverização do mercado e entrada de produtos importados no país, dois empresários paulistanos compraram a marca e fizeram questão de resgatar o conceito presente desde os primórdios da fabricação das geleias, Homemade, "feito em casa", como forma de preservar o verdadeiro sabor que a natureza proporciona, e a qualidade das tradicionais receitas caseiras, transformando tais características em conceito de comunicação e mote comercial. Atualmente, a Homemade fabrica quatro toneladas de geleias por dia.

Em 1993, a fabricação foi paralisada pelos proprietários, que assumiram a propriedade.

Com a morte do casal, fundadores do Haras São Bernardo S.A., e do fechamento da fábrica, os pomares foram abandonados e somente duas décadas depois começaram a ser recuperados, a pedido do novo proprietário, o empresário Luiz Harunari Goshima, que em 2003, comprou as terras, restabeleceu o cultivo e, desde então, os produtos da fazenda começaram novamente a serem vendidos frescos, em forma de geleia e utilizados em receitas. Luiz Harunari Goshima, formado em Administração de Empresas pela PUC de São Paulo é Diretor Social da Fundação Lia Maria Aguiar e sócio proprietário da Fazenda Baronesa.

Ao adquirir a fazenda em 2003, e querendo preservar a história da Baronesa, e havendo a recuperação dos seus pomares, teve a preocupação ambiental de manter todas as características originais, por exigência da Baronesa Von Leithner, construído em estilo europeu, para manter-se em harmonia com a paisagem da Fazenda. Adotou a marca “Baronesa” para identificar os produtos, que voltaram a ser fabricados. Foi feito todo o trabalho de recuperação, com o replantio e a introdução de variedades melhoradas. Além de reativar as lavouras de amora e framboesa, foi introduzido o cultivo do mirtilo e da framboesa negra.

A localização da Fazenda Baronesa, próximo aos 1800 metros de altitude, propicia um desenvolvimento ideal para estas frutas. Elas necessitam ao menos 700 horas de frio abaixo de sete graus c. durante o ano. Nesta altitude têm-se o frio necessário do inverno, a umidade à noite, e sol muito quente no verão, o que favorece o desenvolvimento do fruto em toda a sua plenitude, com suculência, equilíbrio de açúcar e a acidez característica destas frutas.

Sendo uma das primeiras cultivadoras de frutas vermelhas de que se tem notícia no Brasil, a Fazenda Baronesa Von Leithner mantém uma reserva ambiental de 110 alqueires, criada para proteger a mata atlântica de altitude que cerca a cerca. São inúmeras espécies de plantas e animais que ocupam a região – muitos ameaçados de extinção, contribuindo com a defesa desse riquíssimo ecossistema.

Já é sabido o poder nutricional destas frutas, com alto teor de antioxidantes, que previnem doenças e combatem os radicais livres, retardando o envelhecimento.

A Fazenda Baronesa tornou-se referência na Serra da Mantiqueira e as frutas finas, especialmente a framboesa, estão ocupando o espaço do morango. Seu endereço fica na Avenida Dr. Fausto Bueno de Arruda Camargo nº 2815, Alto da Boa Vista, e mantém um Empório virtual: http://www.emporiobaronesa.com.br/

Frutas:

Framboesa negra, também conhecida como raspberry-de-mysore e raspberry-do-morro é nativa do Himaláia e se adapta bem as condições subtropicais. Seus frutos tem como características a cor rosa quando verdes ao negro acinzentado quando maduro.

Amoras negras grandes, provenientes da América do Norte vai do tom verde quando novinhas ao vermelho e totalmente negro quando madura.

Amora de Logan - variedade da América do Norte, é um híbrido produzido a partir do cruzamento entre uma amora e uma framboesa. Bem vermelha quando verde e vermelho escuro quando madura.

Blueberry originaria da América do Norte que vai de tom rosa, tom verde ao tom azul escuro quando maduras.

Framboesas Vermelhas, fruta Européia de tom verde, passa pelo vermelho ao vermelho escuro quando madura.

Mirtilo/Blueberry, incluindo-se no grupo das pequenas frutas, junto com a amora, morango, framboesa e fisalis. É uma das frutas frescas mais ricas em antioxidantes já estudadas. Tem um conteúdo particularmente elevado de polifenóis tanto na casca quanto na polpa, os quais conferem funções de proteção sobre as paredes das células.

Fontes:


Revista “Manchete Rural”, 1988

Jornal “O Estado de São Paulo”

Revista Brasileira de Fruticultura.




Festa da Maçã



Em 1951, Thomaz Saraiva Przirembel, escrevia ao jornal “A Cidade”, sugerindo a criação da Festa da Maçã, como veículo de promoção turística e incentivo à cultura de frutas europeias, de fácil adaptação à terra jordanense.

Em dezembro de 1952, a Associação Rural, através de seu presidente, Engenheiro agrônomo, Shisuto José Murayama, começou a estudar a viabilidade técnica da realização daquele importante empreendimento.

Os pilares do evento sustentavam-se na pretensão de mostrar ao País, tridimensionalmente, o seu turismo crescente, uma pujante fruticultura e a sua industrialização.

Contando com a presença do Governador Adhemar de Barros, o prefeito Paulo Cury, a 1ª Festa da Maçã realizou-se em 6, 7 e 8 de março de 1953, constituindo-se um dos maiores eventos da história turística e econômica de Campos do Jordão.

A festa, planejada e realizada por um grupo de pessoas dirigentes na privilegiada estância climática, com a colaboração da população local, teve por principal finalidade mostrar ao Brasil que Campos do Jordão não era apenas um lugar maravilhoso, que possuía o melhor clima do mundo e 15 hospitais (1.650 leitos) modernamente aparelhados para tratamento de doenças pulmonares, mas, sim, que era também um dos municípios mais ricos e progressistas do país, detentor de vários recordes:

A cidade mais alta do Brasil (1.750 metros de altitude); uma Estação de Rádio Emissora – a ZYL-6 – uma das mais altas do mundo, embora não em potência; o maior centro produtor de cenouras e de batatas-sementes que produzia maçãs e peras iguais às melhores frutas da Europa, Estados Unidos e Argentina.

Houve desfile de carro alegórico, projetado pelo Prof. Expedito Camargo Freire que conduziu a Rainha e as Princesas da I Festa da Maçã.

Foram distribuídas urnas pela cidade para recolhimento dos votos, os quais situam nos primeiros lugares, as srtas. Edith Ogata, Marguerite Wuileumier, Ruth Sagesse e Vilma Pontes. A festa constituiu um êxito muito acima da expectativa de seus organizadores.

Edith Ogata, a graciosa “nissei”, foi eleita a “Rainha da Maçã, com mais de 27.000 votos, com uma coroação apoteótica, em praça pública, e seu desfile em carro alegórico, nas principais ruas de Abernéssia, em companhia das “Princesas”, srtas. Lolly Dal Pino, Ruth Sagesse, Wilma Pontes e Margueritte Wuileumier. Finalmente, baile em homenagem à Rainha e Princesas, na encantadora sede da Colônia de Férias os Oficiais da Força Pública.

Os hotéis locais estabeleceram tarifas especiais que vigoraram durante a realização da festa. Foi realizada conjuntamente uma exposição de plantas gloxíneas, a cargo da Sociedade Paulista de Floricultura. Aconteceram provas esportivas, exibição de jiu-jitsu com Hélio Gracie, espetáculos teatrais, apresentação de bailados, provas de esgrima, queima de fogos, e palestras sobre fruticultura proferidas por técnicos agrícolas.

Miguel Acien Ruiz, Técnico em Pomicultura e responsável pelo setor de frutas, adiantara que a produção desse ano seria superior à prevista inicialmente, principalmente a de maçãs, cujos produtores apresentaram cerca de três mil quilos de tipos selecionados. Miguel Acien Ruiz era o chefe das plantações.

Foi dentro desse clima de intensa produtividade da fruticultura jordanense, aliado aos sucessos técnicos e econômicos da Empresa Belfruta, que eclodiu o evento promocional e turístico.

O principal atrativo foi a apresentação de maçãs produzidas no município, que possuía 40.000 macieiras plantadas, das quais 20.000 em plena produção. A Exposição contou com cerca de 30 diferentes espécies de maçã, muitas das quais expostas pela primeira vez no país.

Entre os expositores que obtiveram o primeiro prêmio, figuraram o Sr. Julio Fracalanza (pioneiro da cultura de macieiras em Campos do Jordão), na exposição de frutas, flores e hortaliças, com as variedades “Reinette du Canadá”, “Deliciosa Amarela”, “King David”, “Rainha das Rainhas” e “Portuguesa”; a Sociedade Belfruta Ltda., com a variedade “Pearmain Doré”; Irmãos Novais com a “Rome Beauty”; Dierberg Agrícola Ltda., com a “Ohio Beauty”; Antonio Damas com a “Bela Flor Amarela”; José Roberto com a “Deliciosa” e M. Yamada, com a “Cardinal”.

O esforço pioneiro de Júlio Fracalanza na década de 30, inspirou a exploração da fruticultura no município, uma vez que ficara provada a adaptabilidade fácil das frutas europeias ao clima de Campos do Jordão.

O trabalho frutificou, que, à época em que se implantou a 1ª Festa da Maçã, cultivava-se em Campos do Jordão 40 mil macieiras, 60 mil pereiras e 30 mil oliveiras, constituindo o município no maior produtor de batata semente.

Em âmbito geral, o desenvolvimento da agricultura jordanense se deveu aos esforços da colônia japonesa, que em terreno íngreme e condições topográficas hostis, plantou, incansavelmente, desde as encostas da Serra da Mantiqueira até os suaves vales do ondulado planalto, sendo a responsável por uma produção agrícola das mais respeitáveis, consistentes, naquele ano, em 50 mil sacos de cenoura, 500 mil pés de repolho e 60 mil caixas de pera.

Os próprios habitantes de Campos do Jordão não acreditavam na existência de plantios de maçã, capazes de fornecerem frutos para as necessidades, mínimas que fossem, do mercado não exigente do Rio, ou para São Paulo, onde o consumidor exigia sempre o melhor.

A festa ofereceu a São Paulo e Rio de Janeiro um vasto programa, cujo ponto alto constituiu-se na exposição de frutas, flores e hortaliças.

Três motivos fizeram a grandeza econômica de Campos do Jordão na época:

O turismo, a agricultura (principalmente a fruticultura) e a industrialização das frutas. A montagem promocional da 1ª Festa da Maçã provocou uma explosão publicitária em Campos do Jordão nos principais jornais e revistas do País. O município voltou às primeiras páginas dos jornais brasileiros, notadamente da imprensa paulista.

“Campos do Jordão possui o melhor clima do mundo – Paisagens tirolesas na Serra da Mantiqueira – Hotéis e residências a 1.800 metros de altitude – Uma estância de veraneio que se enche também no inverno, as vezes com 13 graus abaixo de zero – O Brasil já produz maçãs iguais às melhores da Europa, Estados Unidos e Argentina – 300 variedades diferentes de macieiras – Uma graciosa “nisei”, eleita “Rainha da Maçã, com mais de 27.000 votos” e prosseguiu assim:

A primeira vez que Campos do Jordão entrou nas manchetes dos jornais brasileiros foi em janeiro de 1951 quando lá esteve, durante alguns dias, o Sr. Getúlio Vargas, recém-eleito Presidente da República.

As festas seguintes dos anos de 1954, 1955 e 1956, foram realizadas com grandiosidade espetacular e notoriedade. Nos anos seguintes, prosseguiram com tentativas abnegadas e acanhadas, no sentido de evitar que viesse a acabar. Infelizmente, em 1961 foi realizada a 6ª e última Festa da Maçã de Campos do Jordão.

Fontes:

Festa da Maçã em Campos do Jordão. Desenvolvimento da Fruticultura na Serra da Mantiqueira.
Jornal    "A Manhã", de 26 de abril de 1953
Revista “Manchete”, 28 de março de 1953
Jornal “Correio Paulistano”, 1953


Fonte Simão


... fomos às grotas, passando pelas ruas e estradas da vila, subindo e descendo, até chegar à "Fonte Simão", descoberta de um preto velho, cuja água é radioativa segundo uma taboleta afixada, logo à entrada. (Jornal "Correio da Manhã", de 30 de julho de 1939).

Água é uma bênção. Da água surgiram as primeiras formas de vida que hoje conhecemos. Água mata nossa sede e limpa e higieniza. Água purifica. A água é o mais valioso recurso natural; principal elemento do nosso planeta; indispensável no nosso organismo; fonte de vida; fonte de saúde; fonte de relaxamento.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a cidade, encravada na serra da Mantiqueira, uma das mais expressivas cadeias de montanhas do Brasil, tem a sede administrativa mais elevada do país, atingindo 1628 metros, o que colabora para que ela também seja a mais fria, de acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET): média de 8,1 ºC, calculada ao longo dos últimos 30 anos. (lembrando que a altitude de 1.628 metros é a cota altimétrica perto da prefeitura, ou seja, numa das áreas mais baixas do perímetro urbano, quase às margens do Ribeirão Capivari. Há outras áreas urbanas jordanenses que estão a mais de 1.800 metros de altitude). As altitudes nos arredores do município atingem mais de 2 mil metros em alguns picos. Nessa região também se localizam algumas das cidades mais altas do Brasil como Senador Amaral-MG, 1.500; Maria da Fé-MG, 1.370; Munhoz- MG, 1.260.

Dentro da Serra da Mantiqueira, numa das suas regiões mais preservadas do Município de Campos do Jordao, surgem das profundezas das rochas, várias nascentes de água mineral com características que as colocam entre as mais puras e leves águas minerais do mundo.

Pela altitude das fontes, entre as mais altas do Brasil, a mais de 1.800 metros, já se nota que não existe nada acima delas que possa poluí-las. Estão localizadas no meio da Mata Atlântica, na parte mais alta da Serra, com um grande cinturão verde a sua volta.

Campos do Jordão é reconhecida mundialmente por Estância Climática e Hidromineral por decreto federal, graças às suas fontes. É riquíssima em fontes construídas ao longo do século XX.

Atualmente conta com os seguintes fontanários: Fonte Água Santa, Fonte Marisa, Fonte Santa Filomena, Fonte São Lourenço, Fonte Nossa Senhora das Graças, Fonte Renato, Fonte Simão, Fonte da Amizade, Fonte dos Milagres, Fonte Céu Azul e outras.

A fonte mais conhecida em Campos do Jordão é a fonte Água Santa, onde sua água é exportada para todo o Brasil.

Entre os séculos XIX e XX, quando era encontrada uma nascente, cujas águas tinham propriedades medicinais, era consagrada com a construção de uma fonte. Muitos dos aglomerados urbanos ordenavam as suas praças com referência nestes objetos. É o caso da Fonte Simão. Esse fontanário é histórico.

Localizada em Vila Capivari, à beira da Avenida Roberto Simonsen, dentro de um parque cheio de pinhos bravos e araucárias, tem esse nome em homenagem a Simão Cirineu Saraiva.

O casal Backer era o proprietário desse fontanário. Não foi encontrado afloramento de rocha e considerando sua fraca vazão, ela pode ser uma fonte de ruptura de talude. Mandou captar e isolar essa excelente água, sendo a nascente encontrada à profundidade de mais de três mts. O trabalho de captação foi perfeito, estando a fonte livre, por completo, de contaminação, não tendo comunicação alguma com o exterior.

Pela lei nº 241 de 18 de outubro de 1958, a prefeitura municipal recebeu por doação o terreno da Fonte Simão, do espólio de dona Emília Backer.

A Condessa de Bonneval possuía uma propriedade em Vila Capivari, ao lado da Fonte Simão, e passou anos de férias durante sua infância em Campos do Jordão.

Simão Cirineu Saraiva não era tuberculoso, mas sofria de úlcera no estomago. Descobriu que a água da mina, lhe fazia bem e aliviava as dores. Passou a beber, diariamente, a água do fontanário e foi curado da úlcera.

A partir de então, a fonte conta com o título de “Água medicinal”. As águas da Fonte Simão, radioativa, cloretada, magnesiana, puras, foram consideradas de valor terapêutico para doenças estomacais.

MAGNESIANA, por sua ação em fígado e intestinos, usada em casos de enterocolite crônica e insuficiência hepática.

RADIOATIVA, por sua ação funcional das afecções renais e biliares. É diurética e laxante. Favorece a digestão. Indicada contra o reumatismo. Elimina o ácido úrico, diminui a viscosidade do sangue, é estimulante glandular e da sexualidade. Reduz a pressão sanguínea.

CLORETADA, porque indicada nas moléstias gastrointestinais, gastrites, pancreatites, hepatites e moléstias renais. A mina ficou famosa e conhecida por Fonte Simão.

Sua inauguração solene se deu no ano de 1924, pelo dr. Carlos de Campos, Presidente do Estado, como consta na gravação visível na parte inferior, que indica: “FONTE SIMÃO 1924”.

Grande parte dos chafarizes era desprovida de decoração, consistindo em simples tanques ou pias, adossados a muros ou paredes de edifícios. Entretanto, acabou por se embutir gradualmente preocupações plásticas e pequenos elementos simbólicos, ligados à mitologia greco-romana, ao posicionamento do ser humano perante o Cosmos, ou às Escrituras Sagradas.

O fontanário não esconde sua tradição: ao centro foi esculpido uma cara de leão. Da boca do leão, de onde brotam as águas frescas da fonte, qualquer pessoa pode chegar e tomar. Suas águas jorram ininterruptamente.

O barulho contagiante de suas águas proporciona tranquilidade, harmonia e horas relaxantes para quem está por perto. Além desse grande benefício, em dias quentes refresca e umidifica o ar.

Propositalmente, a expressão “Cara de leão” está nas Escrituras Sagradas: “Da tribo dos gaditas passaram-se para Davi à fortaleza no deserto, homens valentes, homens de guerra para pelejar, armados de escudo e lança; seu rosto era como de leões” (1 Crôn. 12,8).

O local é amplo com muitas árvores e plantas. Está um pouco isolado, contudo, pode-se apreciar pássaros e outros animais que transitam por ali.

O acesso é limitado por degraus e uma caminhada de aproximadamente 50 metros, e a dificuldade da coleta de água com galões. A fonte já perdeu um pouco do fluxo que era mais intenso, mas não perdeu o incrível sabor de água fresca da montanha.

Com o terreno de 3.525 m2, o local aparenta estar abandonado, e as constantes chuvas colaboram para o crescimento de mato à sua volta; nada que impede os responsáveis para uma boa manutenção.

Já houve tentativas frustradas de recuperação da obra por onde a água jorra com massinha de vidro e bolinha de gude; mas estas, felizmente já foram removidas.

Simão Cirineu Saraiva, figura de destaque no município, um dos pioneiros de Campos do Jordão, filho de escravos, foi criado pela família Macedo Soares, considerado irmão de criação. Chegou na década de 1910 e foi amigo e homem de confiança do Embaixador José Carlos de Macedo Soares, responsável pela urbanização da Vila Capivari. Construiu o primeiro reservatório de água de Campos do Jordão, no manancial, obra executada pelo construtor Floriano Rodrigues Pinheiro.

Simão Cirineu Saraiva trabalhou nas obras da construção do Grande Hotel de Roberto Backer, posteriormente adquirido por Roberto Simonsen e, transformado na famosa Vila Simonsen, próxima à Fonte Simão.

Simão Cirineu Saraiva, foi administrador do primeiro cemitério da cidade, entre 1923 a 1930. Em 1937, foi designado Agente dos Correios e Telégrafos, pelo Embaixador José Carlos de Macedo Soares, cargo que exerceu por muitos anos e no qual se aposentou. Foi casado com Brasília Maria de Lourdes Saraiva.

Simão Cirineu Saraiva lutou muito pelo progresso da cidade. O que Campos do Jordão necessitava, ele pedia ao embaixador Macedo Soares e a cidade recebia.

Pelo decreto nº 510 de 10 de abril de 1972, a praça de esportes do Bairro Recanto Feliz passa a ser denominada “Simão Cirineu Saraiva”, em homenagem ao homem público que prestou dedicadamente, por longos anos, relevantes serviços à comunidade jordanense.

A prefeitura municipal ainda homenageou esse personagem da história jordanense, reconhecendo seus inúmeros serviços e benefícios realizados, instituindo a “Medalha Simão Cirineu Saraiva”, um dos grandes símbolos da cultura negra em nossa cidade.

A fonte Simão, depois da Água Santa, é um dos mais famosos fontanários do município, um grande patrimônio de Campos do Jordão.

Fontes:


Jornal “Correio da Manhã”, de 30 de julho de 1939;

Revista “A Cigarra”, 1924;

Revista “Ilustração de São Paulo”, 1924;

Revista “Fênix”, 1925;

__________________. Campos do Jordão tem as fontes de água mineral mais altas do Brasil! 2017. Disponível em: <http://www.flow-water.com/nascentes.php>. Acesso em: 20 ago. 2017;

PAULO FILHO, Pedro. As Nascentes Jordanenses. 2009. Disponível em: <http://www.pedropaulofilho.com.br/cronica_02_nascente.php>. Acesso em: 20 ago. 2017;

LINO, Maurício de Souza. Da Freguezia do Imbery aos Campos do Jordão. Campos do Jordão: Clube de Autores, 2016. 616 p.;

SZIKSZAY, Maria. Fontes de Água. 1979. Disponível em: <http://ppegeo.igc.usp.br/pdf/bigusp/v10/v10a01.pdf> Acesso em: 29 abr. 2015;

PORTO, Sidonio. Nascentes. Disponível em: <http://www.flow-water.com/nascentes.php>. Acesso em: 29 abr. 2015;

PACHECO, Diogo Emanuel. Equipamentos de Abastecimento de Água na Cidade do Porto: Alguns Exemplos de Mananciais, Fontes e Chafarizes.


Fundação Martha e Erico Stickel

A Fundação Stickel foi instituída em São Paulo em 31 de dezembro de 1954, pelo casal Martha Diederichsen Stickel e Erico João Siriuba Stickel. No entanto, a história da instituição tem início com a chegada do industrial e empresário Ernesto Diederichsen sua mulher Maria Elisa Arens Diederichsen (Lili) à cidade serrana de Campos do Jordão SP em 1936, quando adquirem grandes áreas de terra.

Na sequência o casal inicia a construção da residência de veraneio da família, concluída em 1941. Em seguida, associados a Luiz Dumont Villares, empreendem a construção do Hotel Toriba, inaugurado em 1943.

Sensibilizados pela pobreza e pelas más condições de saúde em que viviam moradores e ocupantes dos sanatórios da cidade, em 1946, Ernesto e Lili, dr. Luiz Dumont Villares e sua esposa, dona Leonor Diederichsen Villares, deram início a um trabalho de assistência social em Campos do Jordão, que acarretou a criação do Grêmio Bernardo Diederichsen, com gestão do Reverendo evangélico, capitão Oswaldo Alves, que se destinou a atender as famílias e crianças carentes que ali se instalavam, geralmente em favelas e moradias precárias, para acompanhar o tratamento de tuberculose de seus parentes internados.

O Grêmio “Bernardo Diederichsen”, tratava-se de um Centro de Assistência Social, com o objetivo de ajudar as famílias dos tuberculosos pobres. Os recursos provinham da boa vontade e desprendimento de 3 famílias, em grande parte pertencentes à Igreja Unida de São Paulo: dr. Luiz Dumont Villares e dona Leonor Diederichsen Villares; dr. Ernesto Diederichsen Villares e sua progenitora e o dr. Erico Stickel, que havia se revelado um dos grandes amigos dos tuberculosos de Campos do Jordão.

O Grêmio “Bernardo Diederichsen” que estava sob a direção do Pastor-Capelão, enviava mantimentos a dezenas de famílias de enfermos pobres que viviam nos recantos mais escondidos da cidade de Campos do Jordão. Os doentes, ou suas famílias, eram assistidos depois de um rigoroso trabalho de sindicância. Assim, ao lado das atividades propriamente pastorais, contavam com o valioso complemento do auxílio em gêneros de primeira necessidade.

Para o trabalho de visitação, o Grêmio usava um Jeep”, doado pelo dr. Ernesto Diederichsen. Nos 3 primeiros anos tinham um “Ford 31”, que fora presenteado pelo dr. Luiz Dumont Villares, um dos mantenedores. Daí a facilidade que tinham de visitar também os enfermos da Vila Samaritana, sanatório também para tuberculosos em são José dos Campos, onde também pregavam na igreja local e na rádio. O mesmo tinham feito em Taubaté, Pindamonhangaba, Bocaina, Jacareí e várias igrejas de São Paulo.

Além dos gêneros, o Grêmio já distribuía, naqueles últimos anos, perto de 3.000 cobertores, milhares de agasalhos, remédios, já providenciava vagas e recolhia mais de 100 enfermos. No número de cobertores estava incluída a Campanha de inverno de 1947, quando podiam distribuir 2600 cobertores, com a cooperação de algumas emissoras e jornais da capital. Às famílias acima mencionadas, havia 2 anos passados, distribuíram mais de 250 cortes de casemira aos tuberculosos das pensões, por meio do Grêmio Bernardo Diederichsen”. A Igreja Unida e outras tinham cooperado com o Grêmio no sentido de minorar o sofrimento dos tuberculosos pobres, mormente no inverno, onde a temperatura chegava a 6-8 graus abaixo de zero. As igrejas e ministros, desprendidamente, enviavam agasalhos, cobertores e bíblias.

D. Ernesto Diederichsen foi um grande amigo dos humildes tuberculosos destas montanhas silenciosas, onde o sofrimento moral, a saudade dos entes queridos e as preocupações em face da enfermidade percorriam os corredores pensativos dos sanatórios e penetravam nas taperas escuras das favelas enfermas.

Após o seu falecimento, em 1949, as obras assistenciais foram assumidas por sua filha, Martha Diederichsen Stickel e seu marido, Erico João Siriuba Stickel. Na sequência é criada em 1951 a Associação Beneficente Martha e Erico Stickel, que se transformou em 1954 na Fundação Beneficente Martha e Erico Stickel.

Com imóvel próprio situado na Vila Abernéssia, Campos de Jordão, a instituição se propunha a atender famílias de baixa renda, que se instalavam em favelas e moradias precárias, para acompanhar o tratamento contra tuberculose de seus parentes internados. Incluía distribuição de remédios, alimentos, agasalhos e tratamento médico.

A Fundação se organizou para suprir as carências mais imediatas da população desprotegida, prestando um serviço assistencial gratuito, com consultório médico e dentário, raios-X e ambulância. Tinha como objetivo enviar mantimentos aos tuberculosos pobres. Não só gêneros de primeira necessidade, mas remédios, cobertores e agasalhos em geral.

Desta forma, dezenas de famílias, há vários anos, vinham recebendo mensalmente o que necessitavam para enfrentarem o frio e a enfermidade.

A instituição manteve suas atividades até a década de 1970, encerrando-se definitivamente em 1980, iniciando-se então um período de inatividade.

Após um período de inatividade, foi reestruturada em 2004 pelo filho do casal, o arquiteto, artista plástico e fotógrafo Fernando Stickel, e passou a operar em São Paulo com a missão de promover a inclusão social por meios das artes visuais. Hoje, incentiva a arte e a cultura com projetos sociais na cidade de São Paulo, chamando-se “Fundação Stickel”.

Depois que deixou de atuar em Campos do Jordão, a Fundação Stickel cedeu o prédio próprio, situado na Rua Brigadeiro Jordão, ao Poder Público Municipal para abrigar a Biblioteca Infantil “Guilherme Monteiro Lobato”. Por vários anos, a Biblioteca Municipal Infantil, esteve instalada nesse prédio.

O nome da Biblioteca Infantil homenageava, Guilherme Monteiro Lobato, filho do grande Escritor, José Bento Monteiro Lobato, falecido com 26 anos de idade, depois de ter vindo para Campos do Jordão, na tentativa da cura da tuberculose.

Nessa tentativa da cura para o filho Guilherme, o Escritor Monteiro Lobato, residiu em Campos do Jordão entre os anos de 1937 a 1940, num sobrado que adquiriu na Avenida Macedo Soares, em Vila Capivari. Hoje, estaria situada no “Fort House”, ao lado do “Cadij Shopping Center”, em frente ao atual “Center Suíço”; local onde existia a casa que pertenceu ao Embaixador José Carlos de Macedo Soares. Esta casa foi demolida em meados da década de 1990.

Na dependência situada nos fundos desse prédio, no ano de 1980, foi instalada a sede da Academia de Letras de Campos do Jordão que aí permaneceu por quase duas décadas.

O casal, Izabel e Pedro Paulo, pais de Pedro Paulo Filho, instalaram a Pensão Monte Líbano nesse lugar, antes de existir a Fundação Stickel (1930-1934), residindo numa casinha de madeira, nos fundos da pensão.

O professor e escritor Walter Dalla Dea também morou neste espaço, por vários anos. Na década de 1970, o prédio abrigou o S.O.S. – Serviço de Obras Sociais de Campos do Jordão, e serviu como residência do funcionário do Banco Mercantil, sr. José Rubens.

Em 19 de junho de 2005, após uma longa, triste e tortuosa história, envolvendo desrespeito ao contribuinte, descaso e incompetência do poder público, Erico Stickel, Diretor-presidente da Fundação Stickel esteve no imóvel da propriedade, situado na esquina da Avenida Brigadeiro Jordão com a Rua Doutor Reid em Campos do Jordão, a casa onde se iniciaram as atividades da Fundação Stickel em 1954.

Esteve ali, por ter sido alertado via fone por um vizinho de que o imóvel estaria abandonado e invadido por usuários de drogas, que inclusive faziam fogueiras dentro da casa.

A Prefeitura que ocupava o imóvel por força de um contrato de comodato gratuito, e que havia lá instalado a Biblioteca Infantil Guilherme Monteiro Lobato, simplesmente havia abandonado o imóvel, sem, nem ao menos, fazer a devida notificação.

Havia destruição, imundície, pichação, portas e janelas arrebentadas, marcas de fogo e até mesmo, livros queimados. O Jornal “Estadão” esteve presente no dia 19 de junho de 2005, para provar a data, documentando com fotos.

Foi iniciado um processo judicial de reintegração de posse contra a Prefeitura, então na posse por força de contrato de comodato com prazo de 20 anos, ainda em vigência. Em seguida à reconquista da posse, iniciou-se um processo judicial por perdas e danos, com peritagem, etc. Simultaneamente o imóvel foi colocado à venda, pois os danos eram de tal monta que não valia a pena investir na recuperação do imóvel. A venda ocorreu em 17 de dezembro de 2007.

O processo por perda e danos correu por anos a fio… e finalmente se encerrou com o recebimento em 2016, da quantia líquida de R$117.670,27, que foi utilizada nas atividades rotineiras da Fundação Stickel em São Paulo.

No ano de 2013, o prédio em Campos do Jordão, onde durante vários anos, esteve sediada a Biblioteca Infantil Guilherme Monteiro Lobato, foi demolido. Hoje, existe no local um novo prédio para lojas comerciais e escritórios.   

Neste ano de 2020, a Fundação Stickel completou 66 anos de idade, com uma Pharmacia Cultural - um espaço de exposições e onde também são realizados cursos e atividades culturais.

Erico João Siriuba Stickel, descendente de alemães, nasceu em São Paulo, a 3 de abril de 1920, filho de Arthur Stickel e Erna Hedwig Stickel. Casado com a sra. Martha Diederichsen Stickel e pai de Fernando, Silvia, Ana Maria e Roberto. Possuiu a Medalha Imperatriz Leopoldina(A homenagem é destinada a pessoas ou entidades que se destacam por méritos nas áreas de Educação e Cultura).

Advogado, formado em Direito pela Universidade de São Paulo em 1944, colecionador de arte, bibliófilo e estudioso da Iconografia Brasileira do Século XIX.

Conviveu desde cedo com a biblioteca herdada de seu tio-avô, Johann Metz (1861-1936), depois enriquecida por seu pai Arthur Stickel (1890-1968), à qual adicionou sua própria coleção.

Parte desta biblioteca foi doada ao Instituto de Estudos Brasileiros da USP (IEB) em 2002, denominada, “Biblioteca Martha e Erico Stickel” (cerca de 2.500 volumes), e constitui a “Pequena Biblioteca” do título do livro que lançou em 2004: "Uma pequena biblioteca particular: Subsídios para o estudo da iconografia no Brasil (EDUSP, 2004)". Esta coleção também contou, durante 25 anos, com a tela Abaporu, de Tarsila do Amaral, tendo sido adquirida nos anos 1960 de Pietro Maria Bardi, em sua galeria, Mirante das Artes, e vendida a Raul Forbes em 1984.

Outra parte de sua biblioteca iconográfica, contendo livros de trabalho e edições raras (edições de época ou contendo gravuras originais), além das seções de História e Bibliografia, foram incorporadas ao Instituto Hercule Florence (IHF) em 2008 (cerca de 1.200 volumes).

Foi incorporado também ao IHF, seu arquivo de trabalho, construído ao longo de cinco décadas; formado por três grandes fichários em papel, um deles reúne 7.000 biografias de personagens relacionados à iconografia brasileira.

Foi industrial têxtil nos anos 1960-1970. Presidente da Fundação Visconde de Porto Seguro e da Fundação Martius; Diretor Superintendente de Fiação Indiana S.A; Diretor Presidente do Hotel Toriba; sócio gerente da Sociedade Agrícola e Comercial Siriuba, da Sociedade Imobiliária Toriba Ltda; secretário da Fundação Luiz Dumont Villares e Presidente da Fundação Beneficente Martha e Erico Stickel.

Em 1977, doou à Sociedade Beneficente Alemã, um pavilhão para idosos denominado, "Stickel Heim", com 17 quartos; colaborou com a implantação da Aldeia SOS Rio Bonito, participando ainda de outras obras assistenciais.

Faleceu em São Paulo, em 25 de dezembro de 2004.

Fernando Stickel, um de seus filhos, Arquiteto, Artista Plástico e Fotógrafo, ocupou desde 2004 a posição de Diretor Presidente da Fundação Stickel, em São Paulo, concentrado na Brasilândia e Vila Nova Cachoeirinha, distritos da zona Norte de São Paulo.

A Câmara Municipal deu o nome de Ernesto Diederichsen a uma das principais vias públicas, a um dos grandes e dedicados amigos de Campos do Jordão e, mais profundamente, dos que mantiveram com o destino agreste lutas titânicas e terríveis.

Amigo destas montanhas silenciosas, que foram, na realidade, uma esperança quente para os enfermos e fatigados.

Fontes:

Jornal “O Puritano”, de 25 de setembro de 1950;

Jornal “Jornal do Brasil”, de 03 de abril de 1969.

Links:

https://estagioonline.com/newsdino?url=&releaseId=128825/

https://stickel.com.br/atc/sobre-o-autor

https://www.fundacaostickel.org.br/a-fundacao/#1464968167240-811adf9d-363d

https://pt.wikipedia.org/wiki/Erico_Jo%C3%A3o_Siriuba_Stickel

https://pt.linkfang.org/wiki/Erico_Stickel


Grande Hotel 



Construção do Grande Hotel. Obra iniciada em 25 de maio de 1940. Para garantia integral dos hóspedes, o hotel teria um consultório médico com aparelhos de raios-X para exames radioscópicos de todos os hóspedes antes de serem aceitos no referido estabelecimento. (Jornal Correio Paulistano de 27.04.1941).

Grande Hotel de Campos do Jordão em obras no ano de 1941, recebe a visita da comitiva do interventor federal, Adhemar de Barros (Jornal Correio Paulistano, de 18 de janeiro de 1941).

A prefeitura sanitária de Campos do Jordão, através de seu prefeito dr. José Arthur da Motta Bicudo, inicia obras de grande vulto, entre as quais, o Grande Hotel e Cassino, organizando para o dia 25 de maio de 1940, o lançamento da pedra fundamental do edifício, cujo projeto ficou a cargo do escritório dos arquitetos Oswaldo Arthur Bratke e Carlos Botti, de São Paulo, com obras orçadas em 4.000 contos de réis, constituindo, por certo, dentro de muito pouco tempo, o ponto de atração não somente dos paulistas, mas principalmente, dos turistas de outros estados ou de fora.

Em plena transição da sua obra do eclético para o moderno, Oswaldo Bratke, aos 33 anos de idade, foi chamado pelo dr. Adhemar de Barros para criar o hotel-cassino. O arquiteto foi apresentado ao governador por Oscar Americano (colega de Bratke no Mackenzie) e, na mesma época, atendeu a uma encomenda privada do político: a urbanização do Jardim Leonor, em São Paulo, nome que homenageava a primeira-dama Leonor Mendes de Barros.

A pedra fundamental do empreendimento, inicialmente chamado Grande Hotel de Campos do Jordão, data de 1940 e sua inauguração ocorreu em setembro de 1944. Na época, com quase 7 mil metros quadrados de área, era um dos maiores hotéis do país. Nesse período, Bratke era sócio do engenheiro Carlos Botti, que morreu em 1942. Na empresa de projeto e construção Bratke & Botti, o primeiro era responsável pelos desenhos e o segundo, pela execução. A morte do sócio marcou o início da atividade autônoma de Bratke como arquiteto - um dos pioneiros desse processo em São Paulo, junto com Rino Levi, Eduardo Kneese de Mello e Vilanova Artigas.

A construção foi feita por administração direta do Governo, através do Departamento de Obras Públicas do Estado. Logo que o interventor dr. Adhemar de Barros chegou à Vila Capivari, foi dado início à solenidade e feito o lançamento da pedra fundamental do novo e majestoso edifício, sob prolongada salva de palmas, que, após cimentada a pedra, o dr. Francisco de Moura Coutinho pronunciou um brilhante discurso.

No dia 02 de setembro de 1944 foi inaugurada na bela e salubre cidade, o magnífico e luxuoso Grande Hotel com capacidade para 400 pessoas. O edifício possuía 6.700 m² de área construída, em 16 alqueires de terra. Possuía 62 apartamentos, 12 suítes e 32 quartos. Esse Grande Hotel que o governo do Estado de São Paulo entregou ao público, estava situado a 1.800 m. de altitude, acima do nível do mar, e contou nas suas dependências, em estilo colonial, com o que existia de mais moderno na indústria hoteleira da época. Com capacidade para 110-120 apartamentos e todas as demais dependências que requer um prédio dessa natureza.

Em setembro de 1945 é inaugurado o Cassino do Grande Hotel. Com o início da exploração do jogo, o número de frequentadores cresceu muito, aumentando sua renda. O cassino foi arrendado pela família Hillebrecht (Henrique Hillebrecht, a esposa Ana e o filho Hans Hillebrecht) à Empresa Paulista de Diversões Ltda., ficando a exploração do hotel a cargo dos arrendantes, através da Cia. de Hotéis de Campos do Jordão.

O seu horário de funcionamento era das 15 às 19 horas (matinê) e à noite, das 21 às 2 horas da madrugada. Ambiente frenético, de grandes emoções, mas extremamente ordeiro e elegante, funcionando em recinto luxuoso.

O cassino injetou, indubitavelmente, grandes somas de dinheiro na cidade, e as entidades assistenciais eram amiúde, aquinhoadas com donativos. Ali se jogava roleta, bacarat e a campista, e ninguém entrava no cassino se não portasse atestado médico e gravata no colarinho. Esporadicamente, perdia-se uma fortuna, e alguns poucos vendiam seus automóveis para aplicar no cassino, tentando a sorte grande. A direção do cassino não permitia o ingresso de pessoas de cor.

Para garantia integral dos hóspedes, o hotel tinha um consultório médico com aparelhos de raios X para exames radioscópicos de todos os hóspedes, antes de serem aceitos no referido estabelecimento.

Não durou muito tempo. Em março de 1946, o então Presidente da República General Eurico Gaspar Dutra, proibiu a prática de jogos em todo o território nacional, determinando o fechamento de todos os cassinos no país. Com a extinção dos jogos, o cassino, deixou de funcionar. O Grande Hotel Cassino viu sua principal fonte de renda desaparecer junto com os hóspedes e fechou suas portas em 1970.

O Grande Hotel representou um marco no desenvolvimento do turismo de Campos do Jordão, não somente pela imponência de suas instalações, mas pelo fato de ser o primeiro hotel de categoria internacional a receber turistas do país e do exterior. Em 1979 extinguiu-se definitivamente o contrato de arrendamento.

Em 1982 é assinado um convênio com SENAC – Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial. (COMODATO - SENAC, O CONJUNTO PATRIMONIAL DENOMINADO GRANDE HOTEL DE CAMPOS DE JORDÃO - 50 anos).

Fonte:

LINO, Maurício de Souza. Da Freguezia do Imbery: Aos Campos do Jordão. Campos do Jordão: Clube de Autores, 2017. 616 p.


Hotel dos Lagos


A década de 1940 foi uma época em que foram construídas no Brasil muitos hotéis Cassinos. O Hotel dos Lagos foi idealizado para ser um desses cassinos. Em Campos do Jordão, nessa época, a família Caravelas iniciou a construção de um moderno e imponente prédio, com arquitetura e instalações projetadas para ser um dos mais importantes hotéis de Campos do Jordão. O prédio foi edificado até a sua cobertura; porém, a sua conclusão foi paralisada, por diversos motivos. Infelizmente, nunca chegou a ser inaugurado com esse nome. Um deles, foi a proibição do jogo no país. 

O Hotel dos Lagos que pertencia à família Caravelas, ficou parado por muitos anos; sua conclusão ficou paralisada por quase trinta anos.  

A primeira empresa a dedicar-se ao parcelamento do solo para a venda em lotes foi a Companhia Brasileira de Colonização, em 02 de junho de 1917, de propriedade do dr. Domingos Jaguaribe. Em 1924, alienou uma sorte de terras à Empresa Vila Natal Ltda, firma constituída por Vitalina Pompeu de Souza Queiroz; Fernando Pompeu de Camargo; José Cássio de Macedo Soares; Manoel Olímpio de Albuquerque Lins; Edmur de Souza Queiroz, Adhemar de Souza Queiroz e Gustavo Berger.

Em 1943, foi organizado o Hotel dos lagos S/A, adquirindo as terras da empresa Vila Natal Ltda.

Em 26 de julho de 1946, foi constituída a empresa Hotel dos Lagos S/A, sob a presidência de Oscar Muller caravelas.

Em 1955, lotearam a área ao redor e tornou-se o Bairro Vila Natal, onde sempre se localizou o Hotel. Nesse prédio, precariamente, durante a década de 1960, por pouco tempo, esteve instalado o “Country Club de Campos do Jordão”. Em 1979, um grupo de quatro sócios terminaram a construção do Hotel com arquitetura normanda e pequenos detalhes de hotéis europeus.

O prédio do antigo Hotel dos Lagos, durante algum tempo, foi administrado pelo Iate Clube de Campos do Jordão, que, posteriormente, na década de 1980, felizmente, tratativas de sucesso, resultaram na venda dessa propriedade a uma outra empresa de São Paulo que providenciou sua conclusão e, com modernas instalações, achou-se instalado o “Orotour Garden Hotel”, orgulho da hotelaria jordanense e nacional.

A partir de 2020, novo proprietário, levando o nome “Berg Hotel Ort”.

Imagens:

Edmundo Ferreira da Rocha

www.camposdojordaocultura.com.br


Hotel Toriba

“A serra se enfeita de flores de pessegueiro. De um e de outro lado do caminho os altos eucaliptos, as pereiras cobertas de um véu branco e cheiroso, a relva cheirosa... rebanhos calmos, evocações da Helade, ar transparente e límpido como cristal, onde diria vibrarem os acentos das flautas e das siringes dos pastores clássicos. E o trenzinho vai subindo, entre as gargantas, ao longo dos desfiladeiros.

No alto da serra o “Toriba” é uma casinha de presépio. O Tirol mudou-se para São Paulo, trazendo todo o encanto dos Alpes acrescido da faceirice tropical de um crepúsculo mais vermelho, de uma paisagem que se estende sob a rocha escarpada, mostrando ao longe as casas brancas de Pinda. “Toriba” – em língua de índio- quer dizer alegria, felicidade, conforto. Os nossos tupis também tinham o seu termo para traduzirem o “cozy”. E o Hotel Toriba, misturando paradoxalmente o nome tupi à ordenação europeia, bem simboliza i nosso maravilhoso Brasil, feito de tantos sangues e tantas raças, mas unificado em uma estupenda vocação de pátria, Campos do Jordão.

Floradas brancas da serra, encantamentos de pastagem. Lá sobe a caravana que vi do Rio. Contraste delicioso entre as avenidas cheias de carros, violentas, atordoadoras, poeirentas, e aquela placidez idílica da montanha. Uma blusa vermelha, um lenço que se agita ao longe. Um poema que cristaliza, lentamente, nos olhos claros, na face rosada. Campos do Jordão...” (Ariel).

Portadores de dois nomes bastante conhecidos no meio industrial, os srs. Ernesto Diedrichsen e Luiz Dumont Villares (sobrinho de Alberto Santos Dumont, Pai da Aviação), que foram também dois deslumbrados da prodigiosa natureza de Campos do Jordão – resolveram construir logo à antiga entrada dessa já famosa estância climática, um confortável hotel de repouso.

Magnificamente situado no centro de um plateau, entre esguios pinheirais e de onde se descortina um dos mais lindos panoramas da surpreendente Mantiqueira, - foi o local escolhido pela energia criadora daqueles dois capitães da indústria paulista, para nele edificarem, no pitoresco estilo dos chalets suíços, o seu formoso e confortável “Hotel Toriba”. Nem melhor e nem mais feliz poderia ter sido a escolha.

No topo da serra, recanto de paisagens maravilhosas, onde os olhos perdem-se na contemplação dos largos horizontes cheios de vida e de colorido, no meio dessa natureza prodigiosa onde tudo que nos cerca é um estímulo vivo para a Vida, desde o ar que respiramos, - é que foi construído o lindo hotel.

Outro fito não tiveram os seus realizadores senão o de criar uma verdadeira estação de repouso, dotado de tudo quanto poderia dar bem estar a todos aqueles que a procurassem, ou a todas as pessoas que precisassem refazer suas forças naquela formosa estação climática.

Não construíram eles um hotel em seu sentido vulgar; planearam e organizaram uma verdadeira estação de saúde.

Nada foi descuidado nesse utilíssimo empreendimento, corajosamente levado avante e hoje transformado em risonha realidade.

Tendo confiado os estudos e planos da construção aos reputadíssimos engenheiros e arquitetos Severo & Villares que projetaram e, sob a proficiente administração do dr. Floriano Pinheiro, construíram um dos mis pitorescos hotéis de repouso de nossa terra, os seus organizadores dotaram-no de todo conforto moderno, no que ele tinha de mais aprimorado para aquela época.

Mobiliário e decoração ficaram inteiramente de acordo com o estilo que caracterizava a sua construção tipicamente alpina. Achava-se o hotel a hospedar cerca de cem pessoas em seus confortáveis apartamentos onde nada foi esquecido, desde o aquecimento para as grandes temperaturas de inverno, até os mínimos detalhes que poderiam interessar direta ou indiretamente o bem estar de seus hóspedes.

O plano geral da construção compreendia também um conjunto de chalets na proximidade do edifício central do hotel e que seriam destinados à hospedagem das pessoas que, por não se adaptarem bem à vida movimentada do hotel, preferiam este outro gênero de habitação, sem dúvida, de maior repouso.

Ficou dotado o Hotel Toriba de grandes varandas, salas de estar, galerias ensolaradas, salão de leitura e repouso, amplo salão de refeições, bar e de todas as demais dependências indispensáveis ao inteiro e perfeito conforto de quantos o procuravam.

A sua inauguração realizou-se em 22 de janeiro de 1943. Os Alpes suíços foram a grande fonte de inspiração para definir as particularidades e o estilo arquitetônico da obra.

Naturalmente, e em garantia da própria saúde dos hóspedes, só seriam admitidas pessoas que exibissem os devidos atestados de sanidade. Tal é, em poucas palavras, a formosa “estação de saúde” que a vontade realizadora de Ernesto Diederichsen e Luiz Dumont Villares edificaram em um dos mais lindos e saudáveis sítios desta terra privilegiada!

O hotel foi administrado pela família Hillebrecht até 1958. Retomado pelos Diederichsen/Villares, fechou temporariamente as portas e passou por uma grande reforma durante pouco mais de um ano, em 1958, para a construção de banheiros privativos nos apartamentos, e por cinco meses em 1997, para a reforma do prédio principal.

Após a reestruturação, o hotel foi novamente arrendado, desta vez para a Cia. Paulista de Hotéis, pertencente aos irmãos Arthur e Paulo Witzig. Para a gerência, foi contratado Joseph Jurt, imigrante suíço que inaugurou um estilo de administração completamente diferente da do antecessor.

Em 27 de janeiro de 1960, foi comemorado a sua reabertura quando ofereceu à sociedade jordanense um coquetel homenageando as autoridades e a imprensa, falada e escrita, locais. Durante a festiva reunião social, estavam presentes, Paulo Witzig, presidente da Cia. Paulista de Hoteis S/A; Daniel Perret, vereador Joaquim Corre Cintra, e outros. Em nome do prefeito discursou o sr. Moacyr Padovan. Foram 23 anos de gestão. O custo das obras de remodelagem do hotel que representou um justo orgulho para Campos do Jordão, atingiu a 13 milhões de cruzeiros.

Em 1975, os irmãos Witzig venderam a Cia. Paulista de Hotéis para Fabio Bicudo, que assumiu também o contrato de administração do Hotel Toriba até 1995, quando Elisa Villares Lenz Cesar, neta de Ernesto Diederichsen e e o filho, O Sr. Alberto Villares Lenz César, herdeira de Luiz Dumont Villares, têm estado à frente da administração do Toriba, e proprietários do Hotel.

Cercado por mais de 2 milhões de m2 de mata atlântica preservada, o Toriba foi o primeiro hotel de turismo em Campos do Jordão. Seu casarão branco e amadeirado, em estilo alpino, erguido em meio à mata da Serra da Mantiqueira está ali desde 1943, quando a cidade se emancipava da vizinha São Bento do Sapucaí e ganhava status de município.

Erguido a 1850 metros acima do nível do mar, era, na época, o hotel mais alto do país. Em pouco tempo, o Hotel Toriba virou um símbolo de Campos do Jordão e referência na hotelaria da cidade.

O toque alpino da arquitetura de sua casa-sede influenciaria toda a arquitetura de Campos do Jordão nas décadas seguintes.

O Hotel Toriba teve em seu quadro de funcionários, membros da tripulação do navio Windhuk, um transatlântico de luxo, que partiu da Alemanha em julho de 1939 para um cruzeiro de dois meses. Quando costeava a África do Sul, no entanto, foi surpreendido pela notícia de que a guerra havia estourado, e a viagem não pode prosseguir. Muitos dos turistas voltaram ao país de origem, mas 244 tripulantes continuaram a bordo. Por uma série de motivos envolvendo desde escassez de combustível até contratempos diplomáticos, o navio deixou o continente africano indo aportar em Santos, onde permaneceu por dois anos, graças ao apoio financeiro do consulado alemão. Foi um período de sonho para eles. A maior parte continuou morando a bordo; uns poucos resolveram mudar-se para pensões; outros trabalharam como garçons e cozinheiros em restaurantes — e todos se divertiam. Em agosto de 1942, Getúlio Vargas rompeu relações com a Alemanha, e o paraíso dos tripulantes do Windhuk acabou. Transportados em trens, foram mandados para campos de concentração em Guaratinguetá, Pirassununga, Bauru, Ribeirão Preto e Pindamonhangaba, no interior de São Paulo, juntamente com italianos e japoneses para trabalhar nas lavouras. Três anos depois, com o fim da guerra, já livres, mas sem dinheiro nem documentos, precisavam trabalhar. E o mais óbvio, claro, era procurar ocupação de acordo com a especialidade. Vários restaurantes alemães já existiam na época, e eles eram tidos como excelentes profissionais. Nada mais natural, portanto, que fossem absorvidos pelo mercado hoteleiro, florescente na região de Campos e arredores. Tanto o Toriba quanto o Grande Hotel, além de outros, tiveram no quadro de funcionários membros da tripulação, imprimindo no cardápio e nos serviços características muito próprias, diferenciadas para a época.

Fontes:

Jornal “A Noite”, de 10 de setembro de 1944;

Revista “O Malho”, ano IV, 1943;

Revista “O Brazil-Medico”. de 20 de março de 1948;

Jornal “Correio Paulistano”, de 29 de abril de 1948; 27 de janeiro de 1960;

 SVEVO, Célia e Sandra Nedopetalski. O Toriba na Cultura de Campos do Jordão. METALIVROS. São Paulo, 2007. P. 129.


Hotel Vila Inglesa

O Hotel Vila Inglesa foi construído pela “Cia. de Terrenos de Campos do Jordão” e era constituída por Antônio Augusto de Macedo, presidente; Júlio Fracalanza, Vice-presidente; e Onofre Ramos da Silva, gerente. Projetado pelo escritório de arquitetura Moya e Malfatti (irmão da pintora Annita Malfatti), à beira de um lago, e foi inaugurado em 30 de agosto 1947. Logo que concluído, foi arrendado, por cinco anos, a João Mayer Erkoff.

O Hotel Vila Inglesa foi um dos recantos paradisíacos com que a natureza brindou Campos do Jordão, de primeiríssima ordem. Tornou-se um dos mais tradicionais hotéis de Campos do Jordão.

Tinha sido cenário de filmes e programas de televisão. Hospedou a seleção brasileira de Pelé e Garrincha, em 1962. Abrigou presidentes, artistas e muitas personalidades ao longo das décadas.

Em 1952, a Companhia recomeçou a exploração direta do Hotel, ocasião em que Onofre Ramos da Silva adquiriu 90% das quotas da empresa. Em 5 de setembro de 1979, foi adquirido pelo empresário Flávio Ventura, que permaneceu até o ano 2008, quando o Grupo de Hotéis Mazzaropi comprou a propriedade que foi reinaugurada em 2009. Trouxe de volta para Campos do Jordão aquele glamour de 30, 40 ou 50 anos antes.

Seu gerente, José Schaeffer, um alemão enorme, de voz forte e forte sotaque, cheio de ares. Foi chefe de cozinha do Hotel Amazonas, e ex-gerente do Hotel Rancho Alegre, no Bairro Descansópolis. Não sabia ou não podia falar baixo. Era um vozeirão. Homem de grande competência no ramo hoteleiro, trabalhava com a esposa Tekla que, ao contrário era pessoa doce e calma. Um cidadão participativo e atuante, lutando pelo desenvolvimento do turismo jordanense. Fez parte do PSP, Partido Social Progressista, de Adhemar de Barros e candidato a vereador, chegou a ser suplente.

Transformou-se no Comendador José Schäeffer e um dos fundadores do Lions Club de Campos do Jordão, em 1957, cujos membros se reuniam periodicamente no hotel.

Em um belo e trágico dia de 1963, José Schäeffer, com sua mania de roleta russa, à entrada da portaria do Hotel Vila Inglesa, pôs uma única bala no tambor do revólver, girando-o com força. A bala ficou na agulha e a arma disparou contra sua cabeça. Foi uma morte sentida e chorada. Em Vila Inglesa há uma via pública com seu nome: Rua José Schäffer.

Fontes:


Revista “Magazine Paulista”, de outubro e novembro de 1948;

Revista “O Cruzeiro”, de 12 de maio de 1951;

PAULO FILHO, Pedro. História de Campos do Jordão. Campos do Jordão: Editora Santuário, 1986.

Imagens: Google



Matriz de Santa Terezinha do Menino Jesus



Escrevendo na “Tribuna do Norte”, de 31 de julho de 1887, contou Diogo de Mendonça Pinto: “Em 1878, propus ao meu amigo, Sr. Matheus da Costa Pinto e ao finado Dr. Raposo de Almeida a construção de uma capela nos Campos do Jordão, ao que ambos aderiram, mas, querendo este que a Capela fosse levantada nas proximidades de sua casa, aquele tomou a si levar a efeito a obra, às expensas suas, no Retiro de São Matheus do Imbiri, que lhe pertence, e eu tomei a mim auxilia-lo, como me fosse possível e agenciar donativos. Achando se o edifício bem adiantado e despendido o dito meu amigo avultado capital, pode-se dizer quase concluído, por faltarem somente o levantamento do altar, pintura e adouramento, a obra parou, pelo que em 1884, encarreguei-me de sua construção, e como a 26 de maio do corrente, deixei de ter parte nela, cumpro por dever de publicar os donativos havidos e seu destino, e de agradecer as pessoas que o prestaram, fazendo votos para que elas e o referido meu amigo recebam as bênçãos do céu que merecem. Pindamonhangaba, 20 de julho de 1887”.

Anotou Diogo de Mendonças Pinto centenas de pessoas que contribuíram em espécie e em dinheiro para a construção da capela, em verdadeira prestação de contas. Eis alguns nomes que contribuíram em espécie: Dr. Henrique A. D. Gama (a imagem de N. Senhora), Dr. Diogo de Mendonça Pinto (o altar), Francisco Marcondes Machado, Thomas F. da Silva, Roberto D. R., D. Pessanha, Cônego J. de Monte Carmelo, F. M. de Brito, Dr. José Vicente R. M., Salvador I. Miranda, Ernesto Leitão, Lina I. dos Santos, Eduardo Brandão, J. A. dos Santos (a pedra fundamental), N. Judice (a caixa onde ela foi encerrada), Alzira P., D. B. Vargas, Dr. J. Viegas, Guilhermina M. de M., Rita de Moraes, Dr. Luiz Alvarez de S. e Luiz F. de Sá.

Entre os muitos que contribuíram em dinheiro estavam o próprio Dr. Diogo e José Benedito Marcondes Machado.

Sob o título “A Capela da Saúde”, a pena de Condelac Chaves de Andrade, escreveu:

“Incrustada no sopé do Morro das Bandeiras, em cujo dorso Ignácio Caetano, em nome de sua Majestade Fidelíssima, Rei de Portugal e do Algarve, desfraldara as Bandeiras de Posse de sua Sesmaria, a Vila de São Matheus do Imbiri ia crescendo aos olhos dos tuberculosos, como uma fonte perene de saúde... Uma benção de Deus!

E lá estava, emoldurada pelas densas matas e pinheirais seculares que ensombravam o Vale do Imbiri, branca como a pureza e humilde como a crença, a Capela edificada, às expensas do Capitão do Mato, Matheus da Costa Pinto, pelo engenheiro Diogo Granja de Mendonça, que dava ao povoado o aspecto de um presépio, realçado ainda mais por uma mangueira, que lhe ficava próxima, e o gado que pastava, solto ao redor.

Aos domingos e dias santos, a pitoresca vilazinha se engalanava com as vestes das festas de seus moradores, e ganhavam um pouco mais de movimentação, com a presença de pessoas de todas as partes dos “Campos”, notadamente do Hotel do Salto, de propriedade de Nicolau Aredes Tavares, pai do proeminente político, Dr. Mário Tavares, que aqui passou a sua infância.

Demandavam todos à Capela, em cujo terreiro, após a missa, ficavam reunidos, confraternizados no mesmo sentimento de fé e de esperança de melhores dias.


No dia em que a venerável imagem, também adquirida no Rio de Janeiro, como o fora o altar, aqui chegou em um charola armada num carro-de-boi, foi um Deus nos acuda!

A foguetaria estrugia, incessantemente, abafando a bandinha dos pífaros que viera de São Bento. As mulheres, faceiramente vestidas, com saias de roda e corpetes colantes, apinhavam-se no caminho que conduzia à Capela da Saúde, onde a Santa se hospedara, enchendo tudo de belezas e risos, contrastando sobremodo com o ar casmurro e importante dos homens espremidos em suas calças de funil, casacos e coletes alinhavados ao corpo.

João Maquinista, que então era gerente da Casa da Saúde, por certo, longe mesmo estava a imaginar que, uma meninota de tranças, que também ali se achava, iria tornar-se a Sinhá do Maquinista.

Se a recepção da padroeira dos “Campos” fora imponente, a sua entronização, fora deslumbrante.

O dia 19 de março de 1885, apesar de garoento e frio, despontava festivo. Era uma festa íntima, capaz de transformar a aridez de um deserto num oásis em flor... O milagre da fé.

Logo cedo, o caminho que levava ao Imbiri, encontrava-se apinhado de fiéis. O chão apresentava-se atapetado de flores, e, em toda a extensão, haviam sido armados arcos de ramos, aumentando assim a imponência da procissão de trasladação da Santa, tendo à frente o Monsenhor Joaquim Antonio Siqueira, vigário de São Bento.

Celebrada a missa solene, com comunhão geral, foram iniciadas outras festividades que culminaram com uma garbosa e reluzente cavalharada.

Mas o tempo, o inexorável e implacável tempo, levou tudo para o mundo silencioso das evocações, deixando apenas uma tristeza vaga... indefinida no coração dos que narraram essa reminiscência. O tempo passou.

Pôs abaixo a Capela de N. S. da Conceição e no esquecimento, os nomes dos que a construíram.

Modificou a paisagem bucólica da Vila de São Matheus do Imbiri, tornando-a Vila Jaguaribe.

Mas o tempo também trouxe no seu bojo incomensurável, as maravilhas do progresso retratadas, no moderno templo de concreto que ia sendo construído no mesmo lugar, onde as paredes de taipa da Capela da Saúde, fez florescer este “Altar de Solidariedade Humana”, que é Campos do Jordão”. (Condelac Chaves de Andrade – Jornal “A Cidade” de 31/07/1849)

De fato, nessa belíssima crônica, Condelac Chaves de Andrade narra que o Monsenhor Joaquim Antonio Siqueira celebrou, a pedido de Matheus da Costa Pinto, a primeira missa na Capela N. S. da Saúde, em 19 de março de 1885, data em que nela fora entronizada a venerável imagem. Foi provisionada em 8 de dezembro de 1885. Depois de demolida, e em seu lugar, construída a atual Igreja N. S. da Saúde, em 13 de dezembro de 1951, foi procedida a bênção do maravilhoso painel de autoria do renomado pintor, Expedito Camargo Freire, em cerimônia havida em Vila Jaguaribe, presidida pelo seu capelão, frei Vital Pires de Oliveira Dias.

Segundo a versão de Eduardo Moreira da Cruz, a Igreja de N. S. da Saúde compunha os 35 alqueires de terra, que fora objeto da venda feita pelo Dr. Domingos José Nogueira Jaguaribe Filho a Leon Felix Casemir Bazin.

E com as terras, também a Igreja mudou de dono...

Teria a família Bazin criado um atrito com os padres, em decorrência do casamento da filha do casal com o grego ortodoxo, Dimitrius Stambolos, e a dissidência avultou de tal forma, que os padres foram obrigados a se retirar, indo para Santo Antonio do Pinhal, pelo que foi recolhida a chave da Igreja.

Não se rezavam mais missas e Eduardo conta que chegou a ir até a Delegacia de Polícia para ver se punha um paradeiro na constrangedora situação, de nada valendo os seus esforços.

Logo as pazes foram feitas, e em 28 de fevereiro de 1920, o Padre Estevão, Vigário de Sto. Antonio do Pinhal e de Campos do Jordão, constituía o Dr. Plínio Barbosa Lima, como seu procurador, "para receber, em doação, a Capela dos Campos feita pelo Exmo. Sr. Leon Bazin e família ao Bispado de Taubaté”.

Entretanto, Eduardo decidiu ir a Taubaté para falar com o Bispo Diocesano, achando este bem melhor construir outra Igreja em Vila Nova.

De fato, foi edificada uma igreja pequena, de alvenaria, sem reboco, bem no centro da atual Praça da Bandeira, ao lado do Fórum, e nela, Eduardo chegou a ser sacristão.

Lá pelos idos de 1915, João Rodrigues da Silva, mais conhecido como João Maquinista, era considerado um grande proprietário em Vila Nova.

Bom administrador de suas economias, as ia aplicando em aquisição de terrenos, que, à época, valiam 100 réis o metro quadrado, e sobre eles, erguia barracões para alugar, à beira da linha férrea.

Em um deles instalara a sua residência, na atual avenida Januário Miráglia, à altura do n° 593, em casa existente até pouco tempo.

João Maquinista cedeu um barracão para a realização de cultos religiosos, mais ou menos no n.º 909 daquela avenida, e ali nasceu a Capelinha de Santa Izabel, em Vila Nova, que posteriormente foi transferida para a pequena Igreja de Sta. Izabel, que ficava bem no centro da atual Praça da Bandeira. O terreno para a construção dessa igrejinha foi doado pelo Dr. Robert John Reid, em 18 de setembro de 1920.

Em 1921, Dom Epaminondas Nunes de Ávila e Silva, Bispo Diocesano de Taubaté, “atendendo ao que nos representou, pela presente, havemos por bem nomear para a Comissão de Obras da Igreja Matriz e Casa Paroquial dos Campos do Jordão, deste Bispado, os seguintes senhores: Presidente - Comendador Antonio Rodrigues Alves; Presidente Honorário - Cel. Ignacio Bicudo Salgado; Vice-Presidente - Dr. Robert John Reid e mais os senhores: Dr. Plínio Barbosa Lima, Dr. M. Covello Júnior, Júlio Fracalanza, Francisco Perrone, Paulo Dubieux, J. M. Vieira Ferraz, Comendador Ernesto Duprat, Prospero Olivetti, Felício Raimundo, Antonio Fonseca Mondim, Joaquim Ferreira da Rocha, Ten. Ernesto Brito Chaves, Cel. Antonio Sampaio e Guilherme Lebarrow, os quais, nomearão entre si, uma sub-comissão permanente e deliberativa, composta de cinco membros, que trabalhará mais ativamente no empreendimento que lhe cometemos.

Tomaram posse perante o revmo.Padre José Vita, assistente eclesiástico especial, observando-se desde já as leis canônicas relativas à administração dos bens eclesiásticos”.

O documento era datado de 25 de abril de 1921.

Iniciava-se assim a construção da referida Igreja de Sta. Isabel.


Em 13 de julho de 1923, na Capela de N. S. da Saúde, na então Vila Velha, ainda Paróquia de Sto. Antonio do Pinhal, foi lida a provisão expedida por Dom Epaminondas Nunes de Ávila e Silva, Bispo de Taubaté, que nomeava o Padre Octávio Moreira dos Santos, residente em Campos do Jordão, coadjutor de Sto. Antonio do Pinhal. Foi então rezada missa na capela, presentes o Juiz de Paz, Dr. Plínio Barbosa Lima, Modesto Leal, José Carlos de Macedo Soares, Presidente da Cia. Campos do Jordão, José Luiz de Macedo Soares, Gelásio Pimenta, diretor da revista "A Cigarra", Miguel Covello Jr., Durval de Azevedo Rocha, Eugênio O. Gabus, José da Silva Ferreira, Bertília Cerqueira, Maria S. Campos, Angelina Nielsen, Paulo Cerqueira, Eduardo Levy, Lúcia de Macedo Soares, Gilberto Pereira, Waldemar Francisco Guimarães, Mauricio Pereira Machado, José César Salgado, Leônidas Mendes de Castro, Simão Cirineu Saraiva, Jesuíno de Oliveira, José Mendes Filho, Belmiro dos Santos, João Silva Pinto, Adolfo Martini, Florisbela de Souza Ferreira, Nelly de Macedo Soares, Cândida Sodré de Macedo Soares, Mathilde Fonseca de Macedo Soares, Eudoxia Sodré de Macedo Soares, José Moreira Fonseca, Escolástica Melchert da Fonseca, Maria Adília Malta Cardoso, Beatriz Malta Cardoso, Rachel Cardoso Simonsen, Álvaro Malta Cardoso, Fernando Simonsen, Victor Geraldo Simonsen, George Street, Edith Sodré Griges, que eram as pessoas de maior destaque no lugar.

O padre Octávio Moreira dos Santos assumiu a direção da Paróquia, em 13 de julho de 1923, desligando-se de S. Bento do Sapucaí.

Acometido de pneumonia no Rio de Janeiro, foi recomendado ao Dr. J. C. de Macedo Soares, “varão ilustre e católico convicto”, então Presidente da Associação Comercial de S. Paulo, ao que foi “encaminhado a Campos do Jordão e mantido à custa do ilustre brasileiro.”

Dom Epaminondas, ouvido sobre a criação da Paróquia, sob a proteção de N. S. da Saúde, achou melhor que antes se estabelecesse a coadjutoria, com plenos poderes de vigararia.

O Dr. J. C. Macedo Soares manteve o sacerdote com ordenado, cama e mesa.


Em 1º de agosto de 1923, desembarcava na então Vila Nova o Arcebispo de S. Paulo, Dom Duarte Leopoldo, em trem especial da E.F.C.J., sendo recepcionado por dona Mathilde e José Carlos de Macedo Soares, em sua residência, a Vila S. José, em Vila Capivari, onde ficou 3 dias.(A Tribuna do Norte” – Pindamonhangaba 21.10.1923)

O Bispo Diocesano, D. Epaminondas, havia concedido ao Padre Octávio a dispensa de proclamas, em virtude da representação do sacerdote de que grande era o número de pessoas no Distrito que viviam sem o casamento religioso por falta de sacerdotes.

Padre Octávio, nesse ano, encontrou os alicerces da Capelinha de S. Izabel prontos, onde a Comissão de Obras já havia aplicado cerca de 10 contos de réis, e a continuação das obras dependia da realização de festivais para a arrecadação de fundos.

De fato, a primeira festa em honra a N. S. da Saúde iniciou-se em 28.8.1923, com rezas e procissão, não faltando à pregação do padre salesiano, Mário Maspes, banda de música de S. Bento e o resultado de tudo foi à coleta da importância de 500 mil réis que foi aplicada na Igreja Sta. Izabel, cuja construção, no centro do jardim de Abernéssia, se achava paralisada, por falta de recursos.

João Rodrigues da Silva, que possuía um amplo salão em Abernéssia, já referido, fez ali realizar a Festa da Imaculada, e ante o êxito do evento, o Vigário Octávio pediu ao Bispo de Taubaté, autorização para ali dar sacramentos até o término da construção da Igreja de Sta. Izabel.

Então, começou a funcionar no salão do João Maquinista, a Igreja Matriz de Sta. Izabel, a partir de 1° de dezembro de 1923, passando os jordanenses a assistir a celebração de missa nos domingos, às 9 horas, em Vila Velha, e às 10 horas em Vila Nova. Em Capivari, havia somente um terreno doado por J. C. de Macedo Soares, em 25/4/1929, para a construção de uma capela, já com pedra fundamental lançada e benzida por Dom Duarte, Arcebispo de S. Paulo.

Em abril de 1924, nova quermesse foi promovida em benefício das obras da Matriz de Sta. Izabel, cuja imagem, de 1m de altura, fora oferecida pelo Cel. Sampaio, o que inspirou Dona Marta Pedrosa também a ofertar outra imagem.

Assumiu a Paróquia em 18 de fevereiro de 1925, o Padre Francisco Lino dos Passos, que morava, de graça, em casa cedida pelo Major Ignácio Bicudo, de Pindamonhangaba.

Em 1927, dado o péssimo estado do barracão de João Maquinista, as missas passaram a ser celebradas na Igreja N. S. da Saúde, em Vila Jaguaribe, até a conclusão da capela-mor da Matriz de Sta. Izabel, que, enfim, veio a ser inaugurada em 4 de junho de 1927, quando foi benzida e passou a atender a população.

Nesse ano, era lançada a pedra fundamental do Sanatório Sta. Clara, benzida pelo padre Francisco Lino dos Passos.

Na Vila Siomara, em 27 de julho de 1927, ao voltar de uma caça, Américo Domingues Pereira, feriu-se, mortalmente, com a sua própria arma, quando seu cavalo tropeçou. Em memória de seu marido, sua esposa Elvira mandou construir uma capela rústica, denominada Capela de Sta. Cruz. Antonio Soares, um dia, resolveu reformá-la, pois era de madeira, e depois de pronta, em 17 de março de 1963, ali foi celebrada a primeira missa. Foi decorada pelo pintor Camargo Freire.

Em 25 de dezembro de 1928, a Capela de Vila Abernéssia foi elevada à categoria de Paróquia, tendo como padroeira Sta. Teresinha do Menino Jesus, criada pelo decreto diocesano de 21 de novembro de 1928, por Dom Epaminondas, Bispo de Taubaté.

Nesse dia, foi nomeada pelo Pe. Francisco Lino dos Passos, uma comissão para promover a Festa da Padroeira: Alzira Pinto, Samira Salim, Jalema Gama, Cilene Rangel Pestana e Margot Hehi, todas senhorinhas.

Também nesse ano era inaugurado o Pensionato das Irmãs da Divina Providência.

Corria o ano de 1929, quando Campos do Jordão ganhava mais duas capelas, uma na Tabatinga e outra na Campista, e, em 17 de junho de 1929, assumia o novo Vigário, Padre Almírio de Arantes.

O Apostolado da Oração foi constituído em 4 de julho de 1929, com a seguinte direção: Ana Gomes Ribeiro (presidente); Adélia Damas (vice); Lídia Salgado (tesoureira); Aurora Damas (secretária) e em sua honra foi celebrada missa pelo vigário, acolitado pelos Padres José Vita e Ascânio Brandão.

Em 15 de agosto desse ano, o padre A. Brandão fundava a Associação S. José pelas obras das vocações sacerdotais, em presença de grande número de fiéis, e em setembro, a paróquia Santo Antonio do Pinhal era anexada a Campos do Jordão.

Em 10 de novembro, era benzida a Capelinha do Sanatório Divina Providência, onde foi celebrada a primeira missa.

Um grande acontecimento agitava os moradores de Vila Capivari, pois era inaugurada a Capela de S. Benedito, em março de 1930, presentes o casal Macedo Soares, doadores do terreno, que receberam homenagem da Irmandade de São Benedito, presidida por Simão Cirineu Saraiva.

A guarda da Capela foi confiada a Benedito Muniz e senhora.

Foi muito sentida a demolição dessa capela, anos mais tarde, para dar lugar à atual Igreja; é que a Capelinha era de linhas delicadas e de uma arquitetura admirável.

A primeira missa nessa Capela de S. Benedito foi celebrada em 21 de fevereiro de 1930.

Entretanto, é necessário aduzir que, antes mesmo dessa Capela de S. Benedito ser edificada, houve outra, de madeira, que se situava mais ou menos na confluência da Av. Emilio Ribas com a Rua Roberto Jeffery, ao lado de um posto de gasolina, ali existente.

Foram seus idealizadores o Dr. Ulisses Gonçalves de Souza e Silva, do Posto de Higiene e Eduardo Levy, sendo S. Benedito, o padroeiro. Ali, o Dr. Ulisses realizou a primeira festa, cumprindo uma promessa, e depois passou o cargo de festeiro a Simão Cirineu Saraiva, figura de projeção no lugar. Depois, em 1925, foi que começou a ser construída a Capela de São Benedito, de torre alta, no mesmo local onde hoje situa-se o belo templo católico de Vila Capivari.

Em decorrência da construção dessa Capela, em 10 de fevereiro de 1930, foi constituída a Caixa Beneficente da Irmandade de S. Benedito com seguinte diretoria: Bento de Cerqueira César (presidente); Joviano Homem de Mello (vice); Antonio Augusto Conceição (1° secretário); Pascoal Olivetti (2° secretário) e Djalma Forjas (tesoureiro). Posteriormente, assumiu a presidência Simão Cirineu Saraiva.


Em 20 de setembro de 1930, assumia a Paróquia de Sta. Teresinha do Menino Jesus, o Padre Vita, coadjuvado pelo padre Nestor Azevedo, logo substituídos em 18 de janeiro de 1931, pelo padre José Fortunato da Silva Ramos. Todos os vigários eram abrigados pelo Dr. José Carlos de Macedo Soares, que ainda lhes assegurava um ordenado mensal.

Um menino paulista falecido nos anos 30, com 12 anos de idade, Antoninho da Rocha Marmo, ficou conhecido como o “Santinho de S. Paulo”.

Na década de 40, verdadeiras romarias acorriam ao seu túmulo, no cemitério da Consolação, em S. Paulo, e milhares de petições solicitavam ao Vaticano a sua canonização.

“Desde pequeno, fascinado pelas coisas da Igreja, Antoninho passou a ter premonições ao mesmo tempo em que a sua saúde começou a preocupar seriamente.

Tuberculoso, anos mais tarde foi levado para Campos do Jordão e depois a S. José dos Campos onde pediu aos seus pais que comprassem um terreno para a construção de um sanatório para crianças pobres, sonho que se realizou após a sua morte”.(Jornal Vale Paraibano – 10/outubro/1982)

Até 29 de junho de 1931, ainda existia o prédio da antiga Capela de Sta. Izabel, no centro do Jardim de Vila Abernéssia (atualmente Praça da Bandeira) e cujo terreno fora uma doação do eng° Robert John Reid.

Na verdade, o lançamento da pedra fundamental da Igreja Matriz de Sta. Teresinha, no local onde se encontra, presentemente, deu-se em 29 de junho de 1931, com a presença do prefeito Antonio Gavião Gonzaga, o Vigário José Fortunato da Silva Ramos, padre José Vita, representando o Bispo Diocesano, Padre João Palésio, capelão do Sanatório S. Paulo e do Padre Antonio de Almeida Moraes, lente do Seminário de Taubaté, que fez o sermão alusivo ao ato. Anos mais tarde, foi Dom Antonio, Bispo de Mariana e de Niterói. O arquiteto da Igreja Matriz foi o Dr. Otávio Van Erven.

A Conferência do Sagrado Coração de Jesus foi fundada em 11 de outubro de 1931, sob a presidência do Vigário, e constituída por Euclides de Almeida, Natalino Randoli, Júlio Ferreira, Benedito Pereira da Silva, Geraldo Alves, João Francisco de Assis, Jorge de Lima, Caetano Theodoro, Antonio Gerônimo, João Gerônimo, Joaquim Antonio de Oliveira, Benedito Albino, Francisco Correa da Silva, José Barbosa, João Pedro Filho e Eduardo Moreira da Cruz.

Em 1932, a Conferência começou a prestar auxílio aos tuberculosos indigentes, do Abrigo de João Maquinista, situado em Vila Abernéssia. Esse encargo, porém, nesse mesmo ano, foi assumido pelo padre José Vita, que desonerou a Conferência.

A Conferência de S. Vicente de Paulo, foi fundada em 10 de outubro de 1931, na Igreja Matriz, presentes Raul Frazza, Honorato Correa da Silva, Rufino de Lima, Felix Maria Mello, Benedito Castro, José Francisco dos Santos Filho, Cândido Dinamarco, José Lucio, Arthur Pereira da Silva, Gumercindo Bremer, Ernesto Bremer, José Francisco dos Santos, José Fernandes de Carvalho, Sebastião Marcelino, Francisco José dos Santos, Benedito Ferreira de Moraes, José de Araújo Negrão, José Abel Fernandes e Delfino Ignacio.

No dia 7 de maio de 1932, quando se iniciaram as quermesses em benefício da construção da Igreja Matriz de Sta. Teresinha, houve um lamentável acontecimento: uma das senhorinhas cooperadoras, Maria Ferreira da Rocha (Cotinha), filha de Joaquim Ferreira da Rocha, foi assassinada por seu namorado, Nilo Teixeira da Silva, em plena quermesse, com 2 tiros de revólver, que, ato contínuo, fez um disparo contra a sua própria cabeça. Ambos faleceram como resultado da tragédia passional.

O Governo do Estado resolveu comprar por 20 contos de réis a Capela de Sta. Izabel, a fim de ajudar as obras da Matriz, que estavam sendo realizadas em terreno do Dr. Mário de Gouveia, que o prefeito A. Gavião Gonzaga prometeu desapropriar. Era engenheiro o Dr. Paulo Krause, construtor, Otávio Rocha e o fornecedor de tijolos, Nacim Abrão. A comissão de obras, estava assim constituída: Pe. José Fortunato Ramos (presidente); José Vita (vice); Délio Rangel Pestana (tesoureiro); Joaquim Antonio Vieira (secretário) e Eduardo Moreira da Cruz, Natalino Randoli e José Negrão (membros).

Visitaram a Paróquia, nesse ano, os soldados do Batalhão “Voluntários de Piratininga”, que depois foram substituídos pelos Caçadores de Piratininga. O Cap. Rômulo Rezende, Comandante das Tropas da Revolução Constitucionalista, aquarteladas em Campos do Jordão, nomeou o padre José Fortunato, capitão, responsável pela celebração de missas aos soldados.

Em 1° de janeiro de 1933, assumia a Paróquia o Padre José Francisco Von Atzingen e a 15 de janeiro desse ano, inaugurava-se a Liga Eleitoral Católica, na Matriz, ocasião em que discursou o grande orador sacro Padre Antonio de Almeida Moraes.

Compunham a diretoria, Francisco de Moura Coutinho (presidente honorário); Antonio Gavião Gonzaga (presidente); Epaminondas de Paula Freitas (secretário) e José de Araújo Negrão (tesoureiro) que se puseram a arregimentar o eleitorado católico, obtendo a inscrição de 355 eleitores.

Havendo necessidade de pessoas que ajudassem a implantação do Abrigo de S. Vicente de Paulo, fundado em Vila Abernéssia pelo Padre José Vita, em 15 de fevereiro de 1933, foi criada a Associação das Damas de Caridade, cuja diretoria foi constituída por Bertha Maria Gomes Gavião Gonzaga (presidente); Olga Gonçalves Coutinho (vice); Amélia Conceição (secretária); Mina Murray Rangel Pestana (tesoureira) e Cilene Rangel Pestana (2ª secretária).

O Abrigo S. Vicente de Paulo foi concluído em 2 de julho de 1933, mantido pela Entidade, e solenemente inaugurado em 13 de outubro de 1935, com a presença do Dr. J. C. de Macedo Soares, em missa celebrada pelo padre José Romão da Rosa Góes, Vigário de Guaratinguetá.

Em 31 de maio de 1933, era inaugurada uma Capela, no Pensionato Maria Auxiliadora, de propriedade de Odete de Carvalho, em V. Abernéssia.

Em 31 de outubro de 1931, chegava a Campos do Jordão, Dom Francisco de Campos Barreto, acompanhado de várias Irmãs de Campinas, com o fim de inaugurar a Casa S. José, da Congregação das Missionárias de Jesus Crucificado, que fora doado pelo Dr. J. C. de Macedo Soares e Dona Mathilde. Ali foi celebrada a primeira missa em 1º de novembro de 1935, e situava-se ao lado do atual edifício da Instituição.

Por motivo de doença em 1935, o vigário foi substituído pelos padres José Vita e Miguel Laquis, que continuaram com as obras da Matriz até 18 de agosto, quando assumiu o padre Antonio Luiz Cursino dos Santos.

Com a inauguração da capela-mor da nova Matriz em 1936, no local onde, atualmente, se encontra, para lá foram transferidos todos os serviços da Paróquia. Em 4 de abril de 1937, assumia a Paróquia o frei Adalberto Ortmann, O.F.M., ocasião em que os serviços paroquiais foram entregues aos padres Franciscanos, conforme provisão do Bispado, lida pelo Pe. João José Azevedo, de Pindamonhangaba.

O Eng° Paulo Krause, em 2 de agosto desse ano, foi contratado para a construção do interior da Matriz e outras dependências.

As obras de construção da Matriz encontravam obstáculo nas condições financeiras precárias da população, uma vez que, os que chegavam, com algum recurso, eram doentes, que logo se curavam e partiam.

O frei Roberto Ebert, em 10 de outubro de 1937, assumia a direção da Paróquia. Dom André Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti, Bispo de Taubaté, em 29 de abril de 1938, desembarcava em Abernéssia, acompanhado dos padres João José Azevedo e Miguel Laquis, de Pindamonhangaba, sendo saudado na estação ferroviária por Eduardo Moreira da Cruz, presidente da Congregação Mariana.

Em 1938, o jovem Donato Pasquarelli, como beneficiário de uma bolsa de estudos, partia de Campos do Jordão, indo estudar em Roma, por conta da Diocese de Taubaté, no Colégio Pio Brasileiro, onde se ordenou padre e doutor em direito canônico. Regressou em 1946, desembarcando na estação ferroviária de Vila Abernéssia, cercado pela emoção de seus pais, Domenica e Fabiano Pasquarelli e pela admiração de seus irmãos, Adamo, Quintina, José, Magdalena, Paulo, Ignês e Henrique. Uma grande multidão recepcionou o jovem padre, jordanense por adoção.

Inúmeras quermesses eram levadas a efeito, visando obter recursos para concluir a Matriz de Sta. Teresinha, a maioria delas realizada “na praça lateral a Casa Ferraz” (atualmente Praça da Bandeira).

Em 16 de agosto de 1939, iniciou-se uma série delas, que se prolongaram até 1° de outubro, ocasião em que foram construídas várias barracas. A barraca brasileira era constituída por Francisco Clementino de Oliveira (presidente), Alaor de Souza Ablas, Domingos Pelegrino, Thomas Costa Ferreira e João Barbosa de Carvalho; a barraca sírio-libanesa, por Felício Raimundo (presidente), Felipe Salim, Pedro Paulo, Nabi Narche, Paulo Cury e Nagib Constantino; a barraca portuguesa, por João Rodrigues da Silva (presidente honorário), João Rodrigues Pinheiro (presidente), Manoel Pereira Alves, Floriano Pinheiro, Aristides de Souza Mello e Manoel Vilar; a barraca sul-americana, por Américo Richieri (presidente), Paschoal Olivetti, Raul de Oliveira, Fernando Guarinon Zen e Aldo Astolfi; a barraca do Bar Sta. Teresinha foi constituída por Antonio José de Oliveira (presidente), Hilda Pinto, Isolina Pires Magalhães, Áurea de Senzi e Áurea Rodrigues. Finalmente, a barraca da Rádio Clube foi formada por Benedito Vaz Dias, Octavio Bittencourt, Sylvio Santa Clara, José Pereira de Araújo, Jorge de Oliveira Bello e Irmãos Ribeiro.

A barraca Portuguesa, em 1939, promoveu um dos primeiros concursos de beleza de Campos do Jordão, cujo resultado foi o seguinte, pela ordem: Margarida Ribeiro, Benedita Rosa, Nazira Jundi, Carmem Astolfi, Gessy Vasconcelos, Nôemia Damas e Ignês Miranda.

Assumiu a direção da Paróquia em 1º de janeiro de 1939, o frei Anastácio Hachmann, que exerceu o cargo até 23 de fevereiro de 1941, quando foi substituído pelo frei Meinolfo Ellers.

Um grande foguetório em 18 de novembro de 1941, despertava a atenção da população de Vila Abernéssia - assentava-se a última telha na Igreja Matriz.

A 16 de novembro do referido ano era inaugurado o Círculo Operário Católico, instalado no Parque Mantiqueira, quando foi exibida a peça “Tarcísio Mártir”, que foi interpretada pelos atores Paulo Greco, Mário Andreoli, Edevaldo Biagioni, Benedito Guimarães, Roberto Camargo Neves, Natalino Randoli, Afonso Ribeiro, Rolando de Castro, Pedro José Vitorino, João J. Inocência, Marcos José Damas Filho e Francisco de Maria. Antes da peça Carlos Barreto e Ondina Carneiro executaram números musicais.

Em 1942, foi concluída a torre gótica da Igreja, como resultado de campanha desenvolvida por Minna Rangel Pestana, Nagib Constantino e Frei Demétrio Stephan, que conseguiram arrecadar 8 contos de réis.

Ainda nesse ano inúmeras doações de vitrais eram efetuadas à Matriz: a Família Fracalanza, Ângelo Lourenço, Adhemar de Barros, João Rodrigues da Silva (João Maquinista), Gianicola Matarazzo.

Também doaram vitrais o Apostolado da Oração e as Filhas de Maria Associadas à Congregação Mariana.

O terreno ao lado da Matriz, pertencente à Maria José Pereira da Silva, viúva de João Maquinista, foi adquirido para a construção da residência dos sacerdotes.

Em 19 de outubro de 1942, assumia a Paróquia o frei João Crisóstomo Arns, irmão de D. Paulo Evaristo, atual Cardeal Arcebispo de São Paulo.

Os bancos da Matriz foram construídos gratuitamente pelo carpinteiro Damião Salgado de Freitas, e ainda no último mês de 1942, era levada a peça “As Pastoras de Belém” sob a orientação do Vigário, em benefício das obras da Matriz”.

O Conselho Particular da Sociedade S. Vicente de Paulo começou a funcionar em 4 de janeiro de 1942, sob a presidência de Eduardo Moreira da Cruz, que tinha como companheiros Euclides de Almeida, Teodoro Felix Siqueira, Deocacino Fortes e Epaminondas de Paula Freitas.

Em 15 de agosto de 1943, era lançada a pedra fundamental da Igreja N. S. da Saúde, de Vila Jaguaribe, em substituição à pequena Capela construída por Matheus da Costa Pinto. No ato, o vigário celebrou missa perante o Capelão Adolfo Schneider. No ano seguinte, com o presbitério coberto, as missas recomeçaram.

A respeito, escreveu a esposa do prof. Carlo Brunetti: “Estive em Campos do Jordão, pela primeira vez, com meu marido, a convite de Júlio Fracalanza, no dia 1° de maio de 1938, em casa de quem ficamos hospedados por dois dias, apreciando a beleza da natureza e o clima maravilhoso dessa terra encantadora. Durante 3 anos passamos férias com os nossos 6 filhos, em casa de Eduardo Levy e Felicíssima Lara Campos, em Vila Capivari. Resolvemos então comprar um terreno e foi com o corretor Délio Rangel Pestana que percorremos, a cavalo, a propriedade da viúva do eng° Hell, construtor da Catedral de São Paulo. 13 alqueires eram demais, mas o local era demasiado bonito com bosques, morros, pinheiros e além disso, perto da cidade.

Compramo-lo em 1940 iniciando a construção de uma casa sob a orientação de Pedro Abitante, com projeto do eng° Buchignani. Nessa época Vila Jaguaribe tinha poucas casas e uma igrejinha muito antiga com um altar barroco muito bonito e uma estátua doada por D. Pedro II. As paredes e o teto apresentavam rachaduras com perigo de ruir.

Foi decidida a sua demolição e a edificação de uma nova igreja, sendo as despesas custeadas por meu marido, prof. Carlo Brunetti e pelo Dr. Aguinaldo Amaral, nosso vizinho. O altar em branco e ouro foi desmontado e guardado em um barracão, mas aos poucos as peças foram desaparecendo.

A estátua de N. S. da Saúde foi guardada em uma casa de família de Vila Jaguaribe. Nossa casa ficou pronta em 1942, e desde aquela época plantamos muitas árvores, frutas e flores. Oferecemos aos padres franciscanos o topo do morro para a antena da rádio emissora local”.(Carta de dona Tereza Brunetti de 24.03.1983, ao autor)

Em 1944, a congregação Mariana decidiu construir um sanatório em terreno doado pelo Dr. J. C. de Macedo Soares, e os internados do Sanatório Divina Providência apresentavam no Salão Paroquial a peça “A Duquesa de Esseu”, em benefício do nosocômio mariano. Esse Hospital não chegou a ser erigido.

Por determinação do Provincial Franciscano, foi suprimida a residência no Conventinho de N. S. Aparecida, restando como única residência, a da Matriz. O seu último superior, Frei Sebastião Ellebracht, foi nomeado capelão do Sanatório São Paulo.

Em 1944, o Conde Eduardo Matarazzo e dona Bianca adquirem o prédio do antigo Conventinho e doam o edifício aos mesmos padres para fins sociais.

A pedra fundamental da atual Igreja de São Benedito, em Vila Capivari, foi lançada em 20 de fevereiro de 1944. O construtor Pedro João Abitante era contratado para construir as Igrejas de Vila Jaguaribe e Vila Capivari.

A primeira missa celebrada na Igreja de S. Benedito ocorreu aos 13 de maio de 1946, quando de sua inauguração, pelo Cardeal Dom Carlos Carmelo de Vasconcelos Motta, presente o Interventor Federal em São Paulo, Dr. José Carlos de Macedo Soares.

Nesse mesmo dia era lançada a pedra fundamental de Vila Operária, em Jaguaribe, em solenidade presidida por Dom Carmelo, J. C. de Macedo Soares e Roberto Simonsen. As conferências de S. Vicente de Paulo das Igrejas de S. Benedito e N. S. da Saúde foram criadas em 1945.

Por iniciativa da Provincial, Madre Luiza dos Anjos, em 2 de agosto de 1944, foi fundada a Casa das Irmãs de N. S. do Calvário, destinada a proporcionar repouso e tratamento às irmãs enfermas. Foram suas principais dirigentes as Irmãs Maria da Trindade, Inês de Jesus, Maria Antonia e Maria de Lourdes, sendo Superiora geral, Mère Helene de Jesus. A Casa situa-se à rua Evangelista Jordão, n° 51 e está aos cuidados da Irmã Tereza da Eucaristia.

Em fins de abril de 1946, foi coberta a nave principal da Igreja N. S. da Saúde, e considerados seus benfeitores Carlo Brunetti e Aguinaldo Amaral.

O campo de futebol do Parque Mantiqueira de propriedade dos padres franciscanos, foi solenemente inaugurado em 7 de setembro de 1946. Situava-se onde se encontram os pavilhões de Frei Orestes, atualmente.

O frei Demetrio Stefano assumia a Paróquia em 2 de fevereiro de 1947, e, em 27 de maio do mesmo ano, o Frei Francisco Freise.

Em 26 de outubro do referido ano, Frei Demetrio convidava o povo para a cerimônia de entrega de 42 casas em Vila Guarani, quando o Presidente do Círculo Operário, Eduardo Moreira da Cruz homenageou o senador Roberto Simonsen, Presidente da Comissão de Fomento. A Conferência de S. Vicente de Paulo, da Igreja N. S. da Saúde, foi fundada em 4 de janeiro de 1948, com as seguintes pessoas: Eduardo Moreira da Cruz (presidente), Celso Gatto, Antonio Zefrin, Geraldo Martiniano e Benedito Dias Pereira.

Em 28 de janeiro de 1950, assumiu a Paróquia frei Vito Berscheid; em 21 de maio desse ano, foi celebrada a primeira missa na Capela do Rancho Alegre, construída por Jacques Perroy e doada à Mitra Diocesana.

O pintor Expedito Camargo Freire em 1° de dezembro de 1950 iniciou a pintura do fundo do altar da Igreja N. S. da Saúde, representando uma alegoria da dor moral e física. A pintura foi financiada por Aguinaldo Amaral e terminada em 13 de dezembro de 1950.

O Sanatório S. Francisco Xavier, antigamente denominado Dojinkai, recebia em 15 de abril de 1952 uma ilustre visita; era Dom Aloísio Hojihara, administrador apostólico de Hiroshima.

Em 8 de setembro de 1953, assumia a Paróquia frei Getúlio Reimann, nela permanecendo até 31 de outubro de 1957, quando foi substituído pelo frei Arnulfo Hoffrogge.

Nesse mesmo mês, o irmão Frei Orestes, depois de um ano de campanha, conseguia fazer chegar a Campos do Jordão, os 3 sinos da Matriz, pesando, todos eles, mais de 1.700 kg.

Com a presença dos deputados Paulo Teixeira de Camargo e Antonio Sylvio Cunha Bueno, Leopoldina Fracalanza e Felício Lanzara, padrinhos da bênção, D. Francisco Borja do Amaral, Bispo de Taubaté, abençoou os sinos da Matriz, que foram denominados “.N. S. de Fátima”, “São Francisco de Assis” e “Sta. Teresinha”.

Em 1946, foi construído, na entrada de Vila Abernéssia, nas proximidades do cruzamento ferroviário, o Santo Cruzeiro das Missões, lá existente até hoje, cujo crucifixo, danificado por populares em 1959, fora doado pela Condessa Mariângela Matarazzo.

Assumiu a Paróquia em 13 de fevereiro de 1959 frei Anacleto Wiltuschning, que procedeu a bênção da Gruta N. S. de Lourdes do Sanatório São Paulo.

A 20 de abril de 1959, era inaugurada a Sociedade de Educação e Assistência, que iniciou em seguida, as atividades da Polícia Mirim.

Frei Dídimo Strunck assumiu a Paróquia em 15 de janeiro de 1960, quando recebeu a visita do Núncio Apostólico, D. Armando Lombardi, que se hospedou na Casa São Carlos.

No Natal de 1960, pelas mãos de frei Geraldo, foi construído o novo púlpito da Matriz e provisionada a Capela de S. Judas Tadeu, de Vila Inglesa.

A Capela N. S. da Aparecida, do Conventinho, foi inaugurada em 1° de maio de 1960, passando a ser muito freqüentada pela população de Vila Britânia. O Conventinho foi fechado em 8 de setembro de 1961, devido à existência de poucos padres ali residentes. Em 1963, o prefeito Miguel Lopes Pina deu a denominação do Papa João XXIII à praça situada ao lado esquerdo da Matriz; e em 1° de maio, foi lançada a pedra fundamental da capela do cemitério, cuja inauguração ocorreu em 2/11/1964.

Ainda nesse ano, a Matriz recebeu um relógio Tagus – Dimas de Mello Pimenta, oferecido pelo comércio jordanense.

O vigário, Frei Didimo, em 22 de junho de 1964, adquiriu para a S.E.A., a oficina do jornal “A Cidade”, já desativado.

Procedentes do Mosteiro N. S. da Glória de Uberaba, 16 religiosas sob a coordenação de Madre Margarita Hertel, apontaram a Campos do Jordão em 9 de março de 1964, para fundar o Mosteiro de S. João.

Por primeiro, as Irmãs Beneditinas passaram a residir à Av. Imbiri, 295, e como a edificação não se prestasse ao funcionamento de um mosteiro, dona Tilly Neovius, sueca e irmã de uma das religiosas, resolveu doará Instituição o “Paço da Santa Fé”, à Av. Adhemar de Barros, n° 314. Na primeira década do século, essa bela propriedade pertencera ao sub-prefeito, Guilherme Lebarrow e dona Coleta. O Mosteiro começou a ser constituído em junho de 1964, sob a responsabilidade do Eng° João Vieira Filho. É um centro de oração e um asilo de paz, dedicando-se as monjas ao estudo da religião, à confecção de objetos religiosos, datilografia, línguas e artesanato.

O Livro de Tombo da Matriz registrou que, em 27 de julho de 1964, nevou durante meia hora em Campos do Jordão, a partir das 17 horas, quando a temperatura caiu repentinamente para 6 graus negativos. O fenômeno ocorreu, notadamente, na região do Palácio da Boa Vista.

O Salão Paroquial situado nos fundos da Matriz foi iniciado em 1964. Em 31 de janeiro de 1965, assumiu a direção da Paróquia Frei Floriano Surian.

Em 17 de julho de 1965, assumiu a Paróquia frei Câncio Berri, que em 7 de abril de 1968, foi substituído por frei Benigno Vodonis. Foi constituída em 1969, a Comunidade de Base Central de Sta. Teresinha, cuja primeira diretoria foi presidida pelo médico João Pedro Além, auxiliado por Dionísio Leite da Costa e Clóvis Soares Azevedo sob a orientação do Vigário Benigno Vodonis, O.F.M..

Prestavam serviços à Comunidade Central Geraldo Padovan, Amadeu Carletti Jr., José Wilson Paiva, Joaquim Correa Cintra, César Vassimon, João Justino de Lima, Custódio Fuster Rico, Luiz Pereira Moyses, os freis João Aluisio Knauf e Clementino e o magistrado Walter Moraes.

O Frei Luiz Schizzatto assumiu a Paróquia em 1° de abril de 1971, sendo substituído pelo frei Paulo Rebein em 1° de fevereiro de 1974.

Desempenhou as funções de vigário até 1986 frei Bruno Kreling, sendo substituído pelo atual vigário, Frei Moisés Bezerra de Lima.(Os dados deste capítulo foram em sua maior parte, extraídos do Livro de “Tombo da Matriz, por especial deferência do Sr. Bispo Diocesano de Taubaté.)

Do Livro "História de Campos do Jordão", da autoria do Advogado, Escritor e Jornalista, Pedro Paulo Filho - Páginas 355 a 368 - Editora Santuário - Ano 1986

2 comentários:

  1. São José dos Alpes mudou muito, e para pior. Onde havia o lago de águas cristalinas, poéticamente descrito pelo historiador, há somente pastagens. Tudo transformado numa fazenda de criação de cavalos, num haras.
    Foi o que constatei ontem, 2 de setembro de 2017, depois de mais de dez anos sem visitar o Mirante de São José dos Alpes, a quase 2.000 metros de altitude.
    O altiplano, antes dominado pelos campos naturais, semelhantes aos páramos andinos, e a mata nebular, foi totalmente cercado, uma fazenda de cada lado da estrada.
    Isso seria inconcebível de se encontrar numa Área de Preservação Permanente e no entorno ou zona de amortecimento do Parque Estadual de Campos do Jordão, uma unidade de conservação da categoria de proteção integral criada em 1941.
    Um crime ambiental!

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